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terça-feira, 9 de junho de 2015

JOSÉ MENDES PEREIRA ENTREVISTA O POETA, ESCRITOR, PESQUISADOR DO CANGAÇO E GONZAGUIANO, EX-PRESIDENTE DA SBEC - SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO KYDELMIR DANTAS


Entrevistador: José Mendeshttp://blogdomendesemendes.blogspot.com.br
Entrevistado: Kydelmir Dantas

1. Quando a SBEC foi fundada, com qual finalidade e quem foram os mentores da instituição?  Quem são os membros da SBEC e quais os critérios para nela ingressar? Durante esses anos todos de sua existência, que eventos e publicações a SBEC tem realizado?

KD. A SBEC foi fundada em 13 de junho de 1993, data aniversário que lembra a entrada de Lampião e seu bando na cidade de Mossoró-RN. É uma entidade sem fins lucrativos que coordena um maior entrosamento entre os pesquisadores, escritores e artistas brasileiros que estudam e divulgam o Nordeste. Assuntos como Cangaço, Coluna Prestes, Canudos, revoltas: Praieira, Balaiada, Cabanagem, Quebra-Quilos, Juazeiro, Padre Cícero, Delmiro Gouveia e o progresso do nordeste, Quilombos, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e a Música Popular Nordestina; a Cultura e a Arte nordestinas são prioridades nos estatutos da SBEC para debatermos e divulgá-los em eventos, no Brasil e no exterior.

Quem e quantos são os integrantes?

Escritores, Pesquisadores, Poetas, intelectuais e alunos que se interessam pela pesquisa histórico-sociológica do Nordeste e do Brasil.
Qual a abrangência dessa entidade?

Inúmeros segmentos da sociedade cultural, no âmbito das pesquisas em vários Estados do Brasil, com sócios espalhados por este País continental.

O quê é necessário para se tornar sócio da SBEC?

Precisa ter trabalhos apresentados, artigos e/ou livros publicados, dentro dos diversos temas que permeiam a mesma. O pretendente deverá ser apresentado por um sócio efetivo e seu nome aprovado por, pelo menos, cinco outros sócios.

2. Há outras instituições e núcleos de estudos do cangaço no Brasil?

KD. Acredito que há. Não conheço uma com a abrangência da SBEC. O que sei é que há muitos pesquisadores e escritores do tema Cangaço espalhados por este Brasil todo. Há grupos criados na Paraíba, Ceará, Pernambuco e RN. Além de um grande evento formatado no Ceará, pelo sócio e pesquisador Manoel Severo, que é o Cariri Cangaço, hoje abrangendo CE, PB e PE.

3. Ainda há ex-cangaceiros de Lampião, vivos?

KD. Até pouco tempo, sim. Conhecemos Candeeiro, em  PE; Aristéia e Antonia de Gato, na BA; Moreno e Durvinha, em MG; Vinte e Cinco, em AL e Dulce, em SP. Do nosso conhecimento, Dulce é a última cangaceira viva, e foi companheira do cangaceiro Criança.

4. Quais são os livros e documentários outros fundamentais para se conhecer o cangaço?

KD. Muitos livros são produzidos. Poucos são criteriosos e imparciais. Destacamos uma lista pessoal, que indicamos para quem quer conhecer mais a fundo o Cangaço no Nordeste brasileiro: O Cabeleira de Franklin Távora; Sinhô Pereira, o Comandante de Lampião de Nertan Macedo; Gente de Lampião: Corisco e Dadá de Antônio Amaury Corrêa de Araújo; Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro Romântico de Raimundo Nonato; Lampião, o Rei dos Cangaceiros de Billy Jaynes Chandler; Guerreiros do Sol e A Estética do Cangaço, do Frederico Pernambucano de Mello; Lampião na Bahia de Oleone Coelho Fontes; Nas Garras de Lampião de Antônio Gurgel & Raimundo Soares de Brito; O Cangaço de Maria Isaura Pereira de Queiroz; Antônio Silvino: o cangaceiro, o homem, o mito de Sérgio Augusto de Souza; Vingança não do Pe. Pereira Nóbrega. Lampião, sua história do Érico de Almeida; Massilon, do Honório de Medeiros; Lampião em Mossoró de Raimundo Nonato; A marcha de Lampião: assalto a Mossoró de Raul Fernandes; Flor dos Romances Trágicos de Luís da Câmara Cascudo; Lampião, senhor do sertão: vidas e mortes de um cangaceiro de Èlise Gruspan-Jasmin; A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão de Luitgarde Barros; Os Cangaceiros – ensaio de interpretação histórica, do Luiz Bernardo Pericás; O Incrível Mundo do Cangaço. Vol. 1 e 2, do Antonio Vilela de Souza; Cangaço, uma ampla bibliografia comentada, do Melquíades Pinto Paiva. Considero os principais.

5. Que avaliação você faz das produções no cinema e na televisão, abordando o cangaço?

KD. Que nem os livros também há muitos filmes realizados. Poucos, ou quase nenhum, seguem à risca os fatos históricos. Há produções dentro dos diversos gêneros no cinema: Documentários, comédias, seriados e pornôs. Destacamos, como principais: Lampeão, imagens reais, de Benjamin Abrahão (1936); O Cangaceiro, de Lima Barreto (1953); Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), de Glauber Rocha; Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry (1996); O Baile Perfumado de Paulo Caldas e Lírio Ferreira (1996). No final dos anos 90 e início do novo século foram produzidos vários vídeos documentários através da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço). Entre eles podemos destacar: Sila, Ilda Ribeiro de Sousa (1999), Candeeiro de 2004, e Vinte e Cinco, Um Cangaceiro de Lampião de 2005, todos eles produzidos por Aderbal Nogueira, de Fortaleza – CE.

6. Lampião hoje é visto com certa simpatia no meio universitário dos estudos sociológicos, como fruta da sociedade de seu tempo. Enfim, ele é bandido ou herói?

KD. Veja bem. Virgolino Ferreira e uma boa parte de homens de seu tempo, entraram no cangaço se dizendo injustiçados. Acontece que Virgolino - que ganhou a alcunha de Lampião - transformou o cangaço em meio de vida. Para seus amigos, era um herói; para os inimigos e perseguidores, um bandido. Para os pesquisadores do tema cangaço, seu capitão-mor e para os nordestinos, um mito!

7. Por que há certo fascínio pela figura do cangaceiro nordestino?

KD. O cangaço foi um movimento social daquela época. Alguns entraram nele para fazer justiça com as próprias mãos; outros por espírito de aventura e outros por ter como se proteger da Polícia fazendo parte de um grupo. Estes últimos eram bandidos consumados, sem retorno nem perdão. O fascínio, certamente, vinha da maneira de viver daqueles homens. Sem patrão, nômades e donos de seu próprio destino.

8. O que aconteceu de significativo com Lampião e seu bando em Mossoró e o que a cidade faz para cultuar essa memória?

KD. A 13 de Junho de 1927, Lampião e seus cabras, juntamente com mais 3 sub-grupos (os de Sabino, Jararaca e Massilon) tentaram invadir Mossoró e foram rechaçados pela população desta urbe, devidamente comandada pelo seu prefeito, Rodolpho Fernandes de Oliveira Martins. Este homem reuniu seus amigos, parentes e correligionários, juntamente com a pequena guarnição comandada pelo Tenente Laurentino de Morais, e obteve o que se considera, nas pesquisas do cangaço, a maior derrota de Lampião no Nordeste, (afora sua morte, claro!). Hoje, 88 anos após este feito, a cidade comemora a resistência, com um belo espetáculo denominado Chuva de Bala no País de Mossoró. Além disto, há no Museu Histórico fotos e peças relacionados à resistência e a presença da SBEC, desde 1993, que plantou esta semente da Resistência, já que antes da criação desta entidade só se falava no ataque de Lampião a Mossoró. Também, é claro, o Memorial da Resistência, que é um espaço dedicado à vitória de Mossoró e seus heróicos defensores, sem deixar de mostrar o Cangaço, representado pelos seus nomes principais e as imagens daqueles que combateram o cangaço, as Volantes policiais dos estados do Nordeste brasileiro.

9. Você é um dos paraibanos mais norte-rio-grandenses que conhecemos. Como se deu essa sua familiaridade com o Estado potiguar vizinho?

KD. Nascido a 6 de setembro de 1958. Agrônomo, pesquisador e poeta de Nova Floresta - PB, filho da professora Angelita Dantas de Oliveira (paraibana) e do agricultor Manoel Batista de Oliveira (potiguar). Fiz o Curso Primário em Nova Floresta (PB), continuando os estudos no Ginásio Agrícola de Currais Novos (RN) e no Colégio Agrícola de Jundiaí, em Macaíba (RN). Conclui o curso de Agronomia na UFPB/CCA/Campus III – Areia (PB). Sou pai de Joaquim Adelino e João Daniel e companheiro de Cecília Monte (segunda esposa e potiguar). Portanto, pelo meu currículo já dá pra perceber que a maior parte da minha vida foi no Rio Grande do Norte, sem deixar de preservar o amor e a paixão pela Paraíba, como nos versos de Genival Macedo. “morena brasileira do meu coração”.

10. Que cargo o sr. ocupa na Petrobras e o que essa instituição tem feito em prol do fomento a Cultura no Rio Grande do Norte?

KD. Desde abril de 1987, sou funcionário da PETROBRAS, como técnico, trabalhando em Mossoró - RN, onde resido e já tenho o título de cidadania, o que muito me orgulha. Então, há 28 anos estou na capital do oeste potiguar.

Com relação a esta grande empresa, é uma das maiores fomentadoras culturais deste estado, investido em teatro, literatura e música; há poucos dias encerrou-se o convênio com a Fundação Vingt-un Rosado/Coleção Mossoroense, quando finalizou-se o projeto Rota Batida, com a publicação de 12 títulos de livros de autores potiguares.

11. Quais entidades culturais você faz parte e as suas considerações finais...

Somos sócios do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN;

Poetas e Prosadores de Mossoró – POEMA; Academia Norteriograndense de Literatura de Cordel – ANLINC; Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC e da União Nacional de Estudos Históricos e Sociais – UNEHS.

Agradecemos a oportunidade e o apoio de sempre.

Mossoró – RN, junho de 2015.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

6 comentários:

  1. Anônimo18:14:00

    Nobre Pesquisador Mendes:Excelente entrevista realizada com o Escritor Kydelmir Dantas. Parabéns para você como entrevistador, e grato ao Kydelmir por conceder a importante entrevista.
    Abraços,
    Antonio Oliveira - Serrinha

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  2. Grande Pesquisador Antonio de Oliveira:

    O Kydelmir é uma figura valiosa, amigo, dos que estão ao seu lado. Das suas mãos recebi livros sobre "Cangaço" e muito tenho aprendido com ele. Qualquer dúvida eu recorro a sua sapiência no que diz respeito a cangaço de modo geral. Eu ainda não sei se eu sou vizinho dele ou ele é meu vizinho. Moramos no mesmo bairro. Ele já foi presidente da SBEC, é escritor, poeta, pesquisador do cangaço e gonzaguiano.

    Felicidade e paz.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O Kydelmir Dantas é uma figura valiosa, amigo dos que estão ao seu lado. Das suas mãos recebi livros sobre "Cangaço", fotos, jornais e muito mais. E muito tenho aprendido com ele. Qualquer dúvida eu recorro ao seu conhecimento no que diz respeito a cangaço de modo geral. Eu ainda não sei se eu sou vizinho dele ou ele é meu vizinho. Moramos no mesmo bairro. Ele já foi presidente da SBEC, é escritor, poeta, pesquisador do cangaço e gonzaguiano.

    Felicidade e paz.

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  5. Anônimo19:47:00

    É muito importante companheiro Mendes quando temos com quem aprender e encontramos tal disposição e disponibilidade dos companheiros. É o que acontece quando estou sempre aprendendo com você que estar sempre disposto a cooperar. E ótimo também é você residir nas proximidades do Pesquisador Kydelmir. Além de tudo, Mossoró é uma Terra abençoada de pessoas que amam a cultura. GRANDE MOSSORÓ DE MAIS DE 300 MIL HABITANTES, SE NÃO ESTOU EQUIVOCADO.
    Grato,
    Antonio Oliveira

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  6. Parabéns pelo a entrevista, e ao Kyldemir, pelos excelentes esclarecimentos sobre o cangaço e a cultura nordestina.
    Saudações cordiais,
    Hélio Santa Rosa.

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