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domingo, 2 de setembro de 2012

João Bezerra

Volante alagoana posando ao lado dos corpos
dos cangaceiros mortos

Durante vinte anos, foram várias as investidas realizadas pelas polícias de Alagoas, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará sem êxito, até o dia 28 de Julho do ano de 1938, quando uma volante composta por 49 homens, comandado pelo Tenente PM João Bezerra da Silva, na época, delegado e morador do município de Piranhas/AL, auxiliado pelo Aspirante a oficial PM Francisco Ferreira de Melo e o Sargento Aniceto Rodrigues e mais quarenta e seis homens que faziam parte de um contingente de verdadeiros heróis, entre eles: Cabo Bertoldo, Cabo Juvêncio (irmão do afamado rastejador Gervásio da volante de Zé Rufino), Soldado Elias Marques Alencar (último membro da Volante a falecer), Soldado Panta de Godoy (matador de Maria Bonita), Soldado Zé Gomes, Soldado Noratinho, Soldado Abdon, e o destemido Soldado Manoel Marques da Silva (matador do cangaceiro Luis Pedro) famosamente conhecido pelas alcunhas de Mané Véio e Antonio Jacó. Todos munidos de fuzis e metralhadoras conseguiram acabar de vez com Lampião e seu bando.

Tenente João Bezerra à esquerda, Aspirante Ferreira de Melo ao centro e Sargento Aniceto Rodrigues à direita

Obs.: Os três militares acima após Angico foram promovidos ao próximo posto e graduação, como forma de reconhecimento pelo grandioso feito. João Bezerra da Silva: De 1º Tenente a Capitão, Francisco Ferreira de Melo: De Aspirante a Oficial à 1º Tenente e Aniceto Rodrigues dos Santos: De 3º Sargento a Aspirante a Oficial, conforme Boletim Regimental nº 179, de 12/08/1938.

Soldado Manoel Marques da Silva conhecido como Mané Véio e Antonio Jacó
(matador do cangaceiro Luis Pedro)

Após dias no encalço e com informações detalhadas sobre a localização dos cangaceiros, colhidas quando o sargento Aniceto Rodrigues recebeu a informação do coiteiro Joca Bernardo e de um cidadão chamado Pedro Cândido, sobre a presença de Lampião na fazenda Angico, imediatamente telegrafa ao seu superior imediato, o Tenente João Bezerra, transmitindo a mensagem de forma ‘cifrada’, a fim de não levantar qualquer suspeita. Naquele fim de manhã, o oficial estaria com sua tropa estacionada em Pedra (hoje Delmiro Gouveia, alto sertão de Alagoas), descansando de uma ‘batida’ policial realizada em possíveis esconderijos de cangaceiros na região de Mata Grande. 

Mantido o contato com o seu comandante, o sargento requisita um caminhão e parte de imediato até um local predeterminado por Bezerra, o sítio Riacho Seco, fincado entre a cidade de Piranhas e a antiga Vila de Pedra, onde de lá saíram em duas canoas com destino à grota de angicos, no outro lado do Rio São Francisco, no antigo distrito de Porto da Folha, hoje município de Poço Redondo, Estado de Sergipe, à cerca de 15 Km de Piranhas.

A Volante da PMAL fez então o cerco e, durante às quatro horas daquela madrugada de quinta-feira, começa a batalha que põe fim à vida de Lampião, sua companheira Maria Bonita e mais nove cangaceiros, deixando ainda o militar Adrião Pedro de Souza morto e o Tenente João Bezerra ferido com um tiro que transfixou a mão e um outro na coxa, que ficou alojada no seu quadril. 

Após o combate, que durou cerca de 20 minutos, como de costume na época, para provarem o grandioso feito, os cangaceiros tiveram suas cabeças decepadas, salgadas e colocadas em latas de querosene, contendo aguardente e cal para conservá-las, para que pudessem ser expostas em várias cidades de Alagoas; sendo levadas em seguida para Salvador/BA e de lá para o Rio de Janeiro, de onde retornou à capital baiana para a realização de estudos científicos, e onde permaneceram no Museu Antropológico do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues por mais de trinta anos, até que seus sepultamentos fossem autorizados pelo governo.

Os corpos mutilados e ensanguentados foram deixados a céu aberto, atraindo urubus, para evitar a disseminação de doenças. Dias depois foi colocada creolina sobre os corpos.

Tenente João Bezerra à esquerda, Aspirante Ferreira de Melo ao centro
e Sargento Aniceto Rodrigues à direita

O enterro dos restos mortais dos cangaceiros (cabeças) só ocorreu depois do Projeto de Lei nº 2.867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), após o reforço das pressões de suas famílias e da igreja. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969.

Em 22 de dezembro de 1939, João Bezerra recebeu do interventor federal em Alagoas, um prêmio instituído referente à coluna que extinguiu “Lampião”, assim distribuído: pelo estado de Alagoas – 5:000$000 (Cinco contos de réis), pelo estado da Bahia – 20:000$000 (Vinte contos de réis), somando ao todo 25:000$000 (Vinte e cinco contos de réis). Conforme Boletim nº 289, da Polícia Militar de Alagoas.

Após a morte de Lampião, o cangaceiro Corisco, que era natural de Água Branca/AL, assumiu o posto de vingador, mesmo não sabendo quem realmente havia informado a localização do bando. A vingança caiu sobre o vaqueiro Domingos Ventura (avô da esposa de João Bezerra) que foi assassinado pelo "Diabo Louro" com outras duas mulheres, que também foram decapitadas e suas cabeças enviadas em um saco para o comandante da Volante.

Mais ou menos trinta dias depois do massacre de Angicos, a maioria dos cangaceiros remanescentes de outros bandos já haviam se rendido ou sido capturados, permanecendo na ativa apenas os grupos de Labareda e de Corisco, mas sem realizarem grandes ações, sendo este último morto em 25 de maio de 1940, fechando então o ciclo do cangaço no Nordeste.

http://www.terceirobpm.com.br/p/ten-joao-bezerra.html