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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

VAMOS COMBATER O BOM COMBATE!

Por Raquel Morais

Há pouco tempo o desembargador do TJ Cláudio Santos, em entrevista na TV Cabugi, sugeriu a privatização da UERN como forma de economia para o estado do RN. Disse q o custo mensal da UERN é de 20 milhões. Valor esse que seria economizado, e bastaria se dar uma bolsa mensal de 1,5 mil por aluno...

Nas minhas contas não há economia nessa proposta... Digo porquê...

Dos 20 milhões, 18,5 são folha de pessoal. Despesa q não sairia do estado, afinal são servidores públicos que teriam q serem lotados em algum lugar... Os outros 1,5 milhões seriam para as bolsas... hoje a UERN conta com uma média de 12 mil alunos, entre graduação e pós- graduação... Pensando no princípio da isonomia, todos teriam que receber bolsa... então 12 mil vezes uma bolsa de 1,5 mil daria um custo mensal de 18 milhões, quase o mesmo valor da folha de servidores... Ou seja... Sairia dos 20 milhões mês para algo em torno de 36 milhões mês, acréscimo superior a 70% dos gastos que o estado tem com a nossa Universidade UERN!!!


Posicionamentos desse tipo muito me inquietam... É preocupação mesmo com o estado? Ou há outras intenções nessa boa "intenção" de apontar soluções para as questões econômicas dos Estados?

Questiono ainda: pessoas com posicionamentos desse tipo, conhecem a UERN? Sabem o valor da nossa instituição? Conhecem a sua importância? Sabem o que ela fez e faz para inúmeras pessoas e famílias no interior do RN?

Vamos combater o bom combate... valorizando o que temos de bom e vendo os problemas reais que assolam nosso RN... Se trabalharmos juntos conseguiremos mais e seremos melhores...

Raquel Morais é Professora da UERN.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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GUERRA DE PAU DE COLHER OCORRIDA ENTRE OS MUNICÍPIOS DE CASA NOVA (BA) E SÃO RAIMUNDO NONATO (PI) 1937-1938

Por Leonencio Nossa e Celso Júnior

Mar de sangue no sertão 

Documentos do Arquivo Histórico de Pernambuco revelam que a ditadura Vargas mobilizou o Exército e policiais de quatro Estados para massacrar mil sertanejos comandados por Quinzeiro, líder messiânico do arraial de Pau de Colher (BA). A ofensiva rendeu a mais sangrenta chacina do Estado Novo e uma das maiores violações de direitos humanos por forças legais do Brasil no século 20. As crianças sobreviventes foram entregues a famílias abastadas de Salvador.



Testemunhas da ofensiva lançada em dezembro de 1937 contam que as mulheres do arraial corriam em direção aos canos dos fuzis dos soldados na tentativa de impedir com lençóis e anáguas a visão dos atiradores, que disparavam com as armas um pouco inclinadas. Era para não acertar as crianças, mas, em meio ao fogo cruzado, ninguém foi poupado.


Horas depois do tiroteio, sob a fumaceira dos tiros que cobria a caatinga, o pistoleiro Norberto Pereira, guia da polícia, retirou dos braços de uma mulher ensanguentada a menina Ana Rita Pereira Neta da Silva, de 3 anos. A mãe da criança morreu. O pai, José Rodrigues de Souza, o Zé Caboclo, foi preso e torturado.

A menina não entrou em uma das “carroças salvadoras” que levaram os órfãos da guerra para o porto de Casa Nova, na divisa com o Piauí. Dali, embarcariam de vapor para Juazeiro e depois um trem até Salvador – onde seriam entregues a famílias abastadas como empregados domésticos e, em muitos casos, escravos. A sobrevivente de Pau de Colher foi escondida por Norberto para não ser levada.

Hoje com 76 anos, Ana Rita vive num sítio em Riacho do Meio, no sopé da Serra Vermelha, no semiárido piauiense. Para se chegar até lá, a pouco mais de 100 quilômetros do município de São Raimundo Nonato, é preciso enfrentar uma estrada de terra quase intransitável. É o caminho que liga a civilização ao remoto lugar, isolado pela serra tomada de angicos e canafístulas. Ali percebe-se uma diferença de fuso histórico. O sertão de hoje está distante da realidade nos grandes centros e parece acordar e dormir num tempo não muito distante do da época do massacre de Pau de Colher. Faltam energia elétrica, escolas, saneamento básico, água encanada, serviço de carteiros.


O Estado contou com a ajuda do pesquisador Marcos Damasceno, 28 anos, que escreve livros sobre o sertão piauiense. Na companhia dele, a reportagem esteve em programas de rádio de São Raimundo Nonato. Radialistas informaram aos ouvintes sobre a presença da equipe e pediram informações para localizar testemunhas da revolta que vivem na vasta região que abrange partes do Piauí, da Bahia e de Pernambuco. Foi assim que se chegou a Ana Rita.


Rodeada de filhos, netos e bisnetos, a sertaneja de olhos castanhos e cabelos compridos lembra de Norberto, o pistoleiro que a salvou, um “matador” que andava com bornal de bala pendurado no peito. Da mãe, Maria Inácia Pereira, ouviu dizer que era “bonita”, “fortona”, “branca e de olhos azuis”.


“Pelejei nestes anos todos para me lembrar da minha mãe. Não consegui. Dizem que quebraram as pernas dela. O Norberto entrou no arraial para ver quem estava vivo. Ele me encontrou no fogo”, conta. “Mamãe ainda estava viva; pediu um pouco d”água e que me tirassem dali”, completa. “A polícia terminou de matar quem ficou vivo lá.”

Os pais de Ana Rita trabalhavam numa fazenda de gado quando souberam da formação de um arraial por Joaquim Bezerra, o Quinzeiro, um líder religioso que vinha de Casa Nova. “A mãe mais meu pai foram para lá, se fanatizaram. Eles me levaram”, diz. “Quem foi, morreu; mas meu pai escapou e passou seis meses preso em Salvador. Morreu em 1979. Depois da guerra, fui para São José, morar com a madrinha Nenzinha.”

Numa das trincheiras de Pau de Colher estavam fazendeiros piauienses e baianos, a Igreja Católica, o governo de Getúlio Vargas, os interventores da Bahia, do Piauí e de Pernambuco. Na outra, meia dúzia de religiosos primitivos e pequenos agricultores armados com cacetes de marmeleiro – árvore típica da caatinga, como o arbusto pau-de-colher, que deu nome ao povoado. Os caceteiros, como os pequenos agricultores foram descritos nos relatórios oficiais, estavam agrupados em um vilarejo, uma espécie de Canudos do Estado Novo, acusados de assaltar propriedades e impedir o transporte de gado e cabras pelas estradas da região.

Um dos relatórios analisados foi escrito por Optato Gueiros, capitão da Polícia Militar de Pernambuco que chefiou, entre 19 e 21 de janeiro de 1938, um total de 97 homens da brigada pernambucana, integrante da terceira e última campanha contra os caceteiros. Ele entrou no povoado antes da hora combinada com o comando central da operação, chefiado pelo tenente-coronel Augusto Maynard Gomes, homem de confiança de Vargas que tinha sido interventor de Sergipe, de 1930 a 1935. A operação contava ainda com efetivos de batalhões do Exército em Salvador e Aracaju e das polícias da Bahia e do Piauí.

Resistência.

O documento comprova que a brutalidade da ditadura Vargas não se limitou à repressão de focos da classe média, organizados por partidos políticos nas grandes cidades. Por meio de sua rede de polícias estaduais, Vargas recorreu à violência para controlar focos de resistência também na área rural.

No relatório, Gueiros aponta 157 mortos no centro de Pau de Colher e 40 rebeldes atacados por uma patrulha do Piauí. Há ainda a lista de 20 mortos na fazenda do Janjão, em São Raimundo Nonato, num suposto ataque à propriedade. Um livro esgotado escrito pelo ex-prefeito de Casa Nova Raimundo Estrela, Pau de Colher, uma pequena Canudos, ajuda a compor a história. Médico dos militares durante o conflito, Estrela escreveu que 12 pessoas da fazenda de Janjão, incluindo 2 crianças, foram mortas pelos caceteiros. A origem desse ataque, ocorrido a 5 de janeiro de 1938, é uma incógnita da história do conflito.

Uma testemunha do ataque à fazenda de Janjão vive no sopé da Serra Vermelha. Floriana Gomes Ferreira, a Santa, de 84 anos, prima do fazendeiro Janjão, diz se lembrar da chegada dos caceteiros à propriedade. “Gente da fazenda chegou gritando:  

“Lá vem o pessoal dos caceteiros…” Nesse dia, Janjão tinha matado uma vaca. Os caceteiros mataram dez capangas. Tocaram fogo em tudo. Quem podia, correu. Rodei oito dias no mato, chupando água de caroá, comendo umbu”, conta. “Depois, veio a polícia atrás deles. Quando foi à noite, no alto da serra, vi o fogão. Morreu muita gente.”

Isolamento.

Santa mora numa casa de tijolo e telha sem energia elétrica com o irmão Rubem, de 87 anos (outra testemunha do conflito), o sobrinho Leonardo, 37 anos, a mulher dele, Ana Maria, 38, e duas crianças. A família vive do plantio de milho e feijão e da aplicação de agrotóxico nas lavouras dos vizinhos. Ana Maria reclama que a escola municipal em que os dois filhos menores, Gilmara e Amilton, estudavam, a 6 quilômetros, fechou. A prefeitura de Dom Damasceno não deu explicação. Estão isolados e esquecidos pelo Estado brasileiro, como na época dos caceteiros.

Ao longo do tempo, representantes dos dois lados da guerra disseram em depoimentos que o conflito resultou na morte de mais de 400 pessoas. Até o momento, não há documentos oficiais que confirmem esse número, bastante citado em depoimentos orais colhidos pelo Estado. O palco da guerra se estendeu por um raio de 400 quilômetros quadrados, envolvendo os povoados vizinhos de São José, Proeza, Minadouro, Cachoeirinha e Olho D”Água – que pertenciam a São Raimundo Nonato, no Piauí -, e Lagoa do Alegre, São Bento e Ouricuri, distritos de Casa Nova, na Bahia.

Memória preservada.

Depois de dois dias percorrendo estradas de chão, a equipe do Estado chega ao campo onde se localizava o arraial de Pau de Colher. O agricultor Gregório Manoel Rodrigues, 65 anos, aparece. É o guardião do território dos caceteiros. Ele e a família capinaram toda a área e colocaram plaquinhas para identificar as trincheiras, uma cova coletiva, as casas dos líderes dos caceteiros e os pontos onde chefes rebeldes mataram e foram mortos.

Quando é informado que os visitantes são de um jornal de São Paulo, Gregório se emociona. Corre para debaixo de um umbuzeiro e chora. É surpreendente encontrar no meio do nada alguém preocupado com a memória do País. “Eu sabia que alguém viria para cá contar a história do Pau de Colher. Isso foi tudo escondido, gente! Ninguém sabe disso”, diz, gritando. “Tenho fé em Deus que essa história vai ficar conhecida.”

Gregório guarda fragmentos de ossos, que diz terem sido encontrados durante a capinação, balas de fuzis, cachimbos, pedaços de cerâmica, garfos e antigas garrafas. Ele leva a equipe por uma trilha até um pé de faveira, arbusto muito comum em Canudos. Embaixo da árvore há uma cruz de aroeira. “Aqui morreu Ângelo Cabaço, um dos líderes dos caceteiros”, informa o agricultor.

Próximo à cruz, ficava a casa de José Senhorinho, outro líder e fundador do arraial. Restam apenas pedaços de telhas. Depois, Gregório leva ao local onde Senhorinho e Ângelo Cabaço foram enterrados.  

“Depois da guerra de 38, o pessoal veio aqui arrancar os ossos, que foram queimados para os dois não virarem bicho”, diz. “A coisa que eu mais queria era fazer uma estátua do Senhorinho. Ninguém sabe o que ele pensava, porque reuniu tanta gente e enfrentou a polícia. É um filho daqui. Eu queria olhar para a estátua e entender o que ele pensava”, diz. “Ninguém sabe o que Senhorinho queria.”

O juazeiro onde os caceteiros subiam para ficar mais perto do céu não existe mais. Um outro, frondoso, onde havia a feira do arraial, mais abaixo do acampamento, serve de proteção para carneiros e bodes contra o sol abrasador do meio-dia. A caatinga está verde neste mês de fevereiro. Asas brancas e juritis dão voos rasantes por cima dos xique-xiques, favelas, muçambês e umbuzeiros.

Gregório reclama que as autoridades do município de Casa Nova tentam esconder a história de Pau de Colher. O agricultor demarcou a área do antigo acampamento para evitar que algum vizinho ocupe o lugar. Ele fez questão de colocar limites no próprio sítio, onde cultiva milho e mandioca. No povoado vivem ao todo 28 famílias de sitiantes.

O filho de Gregório, Dirceu Nunes Rodrigues, 31 anos, ajuda na preservação da memória das ruínas do antigo arraial. Dirceu era vocal da banda de forró Souzinha dos Teclados, de Casa Nova. Há pouco tempo, montou o Mercadinho Pau de Colher, que atende famílias da região.

Como o pai, ele trata os líderes de Pau de Colher como heróis. “Boto fé que o Quinzeiro não era um homem à toa. Era um homem inteligente”, diz, referindo-se ao principal líder religioso de Pau de Colher. Quando o pai se afasta, Dirceu aproveita para contar que ouviu pessoas mais velhas dizerem que Quinzeiro era sedutor. “Se aparecesse uma mulher, não tinha para ninguém.”

O sertão dos caceteiros apresenta algumas mudanças sociais. O fuso histórico daqui, agora, dá mostras de que se aproxima do das cidades. As famílias deixaram de ser numerosas. Atualmente, na região, um casal tem no máximo três filhos. Desde o começo dos anos 1990, a motocicleta substituiu o jumento. O benefício do programa Bolsa-Família complementa a renda de parte das famílias, o ensino continua uma tragédia e a palavra “São Paulo” – nome da grande metrópole – não fascina tanto quanto antes. Não há mais o sonho enlouquecido de partir para o Sul. Em quase toda velha casa, agora com cisterna, há alguém que já trabalhou ou morou em São Paulo, um mundo distante, porém, já conhecido.

Por falta de hotéis e pousadas na região, a equipe do Estado pernoitou na casa de Maria Aparecida, 42 anos, filha de Ana Rita – a sobrevivente de Pau de Colher salva pelo pistoleiro Norberto de ser colocada num trem para Salvador.

A casa tem três quartos, uma sala onde os visitantes amarram as redes, uma cozinha e um banheiro. A família conseguiu entrar num programa de uma ONG e instalou uma placa de energia solar. Maria Aparecida, o marido Waldemar, 48, e três filhos menores podem assistir à televisão até as 20 horas. Depois, a energia é desligada. Waldemar é neto de João Damasceno, um dos fazendeiros que ajudaram a combater os caceteiros.

Hospitaleiros, os Rodrigues oferecem bode, cuscuz e tapioca de jantar. Na mesa, Waldemar conta que trabalhou em uma metalúrgica e em um supermercado em São Paulo nos anos 1980. Foi lá que, em 1982, votou pela primeira vez em Lula, para governador. “Depois achei que o PT não era uma boa opção. Votei no Collor de Mello e duas vezes no Fernando Henrique para presidente. Um dia resolvi dar outra chance para o Lula”, diz.

No ano passado, Waldemar pegou um financiamento de R$ 5 mil do Pronaf para comprar 20 ovelhas e fazer uma cerca. Começará a pagar em 2012, cerca de R$ 900 por ano até 2016. A família vive de criação de animais e plantio de feijão e milho. Maria Aparecida recebe R$ 145 do Bolsa-Família, que ajuda a complementar a renda.

Maria Aparecida reclama da falta de médicos. Todos os dez mil moradores de Dom Inocêncio contam com apenas um profissional, que trabalha três dias na semana. Também reclama que a escola mais próxima está na sede do município, a 26 quilômetros.

É numa moto que Waldemar leva os três filhos para a escola. As crianças passam a semana numa pequena casa da família para frequentar a escola. Emanoel Charles, 17 anos, o filho mais velho do casal, gosta de roupas coloridas, bonés e músicas estrangeiras. Tem uma conta no site de relacionamento Orkut. “Sou um descendente de caceteiros”, diz, com ironia. “Isto não é legal.”

No rastro das “carroças salvadoras”.

O Estado viajou para Salvador em busca de uma das crianças órfãs de Pau de Colher. A equipe de reportagem encontrou no bairro de Matatu, a poucos quilômetros do Pelourinho, uma das menores levadas pelos militares para a capital da Bahia. Maria da Conceição Andreza Pinto, agora uma simpática e alegre senhora de aproximadamente 78 anos – no conflito, ela perdeu os documentos -, conta os horrores da guerra no semiárido baiano com uma surpreendente riqueza de detalhes. No início do ano, ela procurou jornais e rádios da Bahia para contar sua história e tentar localizar uma irmã desaparecida desde o começo da guerra.

A chegada da equipe ao apartamento de Cristina, uma das filhas de Maria, em abril, virou momento de festa. Aqui estão três orgulhos filhos da matriarca. Silvio, Cristina e Fernando pesquisam há 20 anos a história da mãe. As netas Clara e Talyta também estão na sala. Estudante de comunicação da Universidade Federal da Bahia, Talyta pretende fazer um documentário. “Eu queria voltar no tempo para não ter deixado minha mãe passar por isso”, diz Fernando.

Filha de Pedro de Andreza, um dos líderes do movimento, e de Justina, Maria tinha sete irmãos quando a tropa de Optato Gueiros chegou ao arraial. Pelo menos cinco deles morreram no tiroteio. A avó Andreza e mãe Justina também caíram mortas. O pai foi preso. Na capital baiana, Maria serviu de escrava até o final da adolescência em casas de famílias da elite.

Por Leonencio Nossa e Celso Júnior
JORNAL O ESTADO DE S. PAULO
Especial ● Guerras desconhecidas do Brasil
19 de Dezembro de 2010.


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CANGAÇO E MISTICISMO

Por Ângelo Osmiro Barreto (*)

Cangaço e misticismo são temas genuinamente ligados às coisas nordestinas, ao sertão. O homem sertanejo que viveu no final do século XIX e início do século XX conviveu sobremaneira com místicos e cangaceiros. Produtos da mesma cultura, vítimas de igual opressão.

A fome e a miséria, que aumentavam com as secas, faziam com que se manifestassem dois tipos de reação: a formação de grupos de cangaceiros com armas nas mãos, assaltando fazendas, saqueando comboios, cidades e vilas; e seitas de místicos, geralmente em torno de um beato ou conselheiro, para implorar dádivas aos céus e pedir perdão pelos pecados. O fanático, em geral, era um homem que aprendeu a respeitar os santos, temer a Deus, praticar a virtude, ser justo, portanto não era um alienado, como alguns possam vir a pensar.

Paulo Dantas em seu prefácio para a segunda edição do livro “Lampião” de Ranulfo Prata, diz com bastante propriedade: “Os beatos pertencem ao chamado folclore mágico, já os cangaceiros ao folclore heroico”.

O sertanejo vê no cangaceiro o anseio de justiça contra o poder político e as ordens dos coronéis. O cangaço acaba sendo uma forma de vingança. Lampião mata, depreda, incendeia, mas depois de alguns momentos reza, tira terço, ajoelha-se ao raiar do dia e ao final da tarde. A religiosidade arcaica do sertanejo é proporcional a sua valentia. O místico anda ao lado com o cangaço.

Não podemos falar em misticismo sem citar Padre Ibiapina, Antonio Conselheiro, beato José Lourenço e padre Cícero, (para citarmos os mais importantes), todos cearenses, exceto José Lourenço, nascido nas Alagoas.

Porém o acontecimento místico que talvez esteja mais ligado a nós, principalmente pelo legado que nos deixou, seja o do venerável padre Cícero Romão Batista, ao qual daremos destaque.

Cearense nascido no Crato, ordenou-se no seminário da Prainha, em Fortaleza no Ceará. Voltando a seu torrão natal, instalou-se em um povoado chamado Joazeiro, até então distrito do Crato. Naquela ocasião Joazeiro era um pequeno arruado com algumas poucas choupanas e uma pequenina capela.

No ano de 1889, na primeira sexta feira de março, a beata Maria de Araújo caiu em transe ao receber a hóstia das mãos do padre Cícero, fato repetido várias vezes. É dito também que as hóstias sangraram. A notícia se espalha, não só no Cariri, mas em todo sertão nordestino. Multidões acorrem a Joazeiro para presenciar o milagre. A Igreja interpreta a situação como uma ameaça a seu poder.

Anos depois o padre é acusado de acoitar cangaceiros. Uma das maiores polêmicas envolvendo o famoso reverendo do Juazeiro se deu no ano de 1926. Em maio daquele ano, Lampião e seu bando adentraram ao Juazeiro. O convite havia partido do Dr. Floro Bartolomeu da Costa, médico baiano radicado em Juazeiro e uma espécie de braço político do Padre Cícero. O motivo seria que Lampião e seu grupo dessem combate a Coluna Prestes. Para tal, Lampião receberia uma patente de Capitão do Batalhão Patriótico. O Dr. Floro Bartolomeu é acometido de doença grave e é levado ao Rio de Janeiro, vindo a falecer.

O padre recebe o cangaceiro, e para outorgar as patentes prometidas, de forma até bizarra, convoca o Sr. Pedro Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal do lugar, e manda redigir e assinar as patentes de capitão para Virgulino e de tenentes para Sabino Gomes, seu braço direito, e Antonio Ferreira, seu irmão. Pedro Albuquerque, depois chamado para se justificar no comando Militar do Recife, teria dito que naquela hora, com aquelas feras a seu lado assinaria até a deposição do presidente Arthur Bernardes, quanto mais uma patente de capitão para Lampião.

O padre Cícero iria ainda viver muitos anos, aumentando seu prestígio perante a população carente do nordeste. Quando de sua morte em 1934, Juazeiro já havia crescido muito, continuando a crescer depois dela, sempre na sombra daquele reverendo tão amado pelo povo humilde do sertão. Pediu para que os romeiros não deixassem de vir ao Juazeiro, mesmo depois de sua morte, e a prova está aí, hoje Juazeiro do Norte é uma das cidades brasileiras mais procuradas, quando o assunto é romaria.

Durante a perseguição que sofreu de alguns setores da Igreja, após os pretensos milagres, profetizou: “Chegará o tempo em que a própria Igreja vai me defender”, e esse tempo já chegou, como vimos a poucos dias uma comissão de clérigos, autoridades e políticos, dentre eles o governador do Ceará, foi ao vaticano reivindicar a reabilitação do padre Cícero.

Cangaceiros e beatos são as duas faces da mesma moeda, habitantes de um sertão carente de tudo, principalmente de justiça. Com armas nas mãos, os cangaceiros. Com terços, os beatos. Cada um a sua maneira lutava contra as intempéries sofridas, contra secas periódicas que arrastavam consigo a miséria e a fome, além dos poderosos coronéis com suas leis impostas através da força e do trabuco. Como forma de resistência tinha duas opções: lutar, tornando-se um cangaceiro, ou ainda orar por dias melhores tornando-se um beato, conselheiro ou simples seguidor de um deles.


(*) Escritor e pesquisador do Cangaço. Membro efetivo da SBEC.
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COLORIDO

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ANGICO É UM LOCAL QUE PERTENCE A HISTÓRIA DO BRASIL

Por Aderbal Nogueira

Queria ressaltar minha opinião sobre a placa em homenagem a Adrião na grota de Angico. Angico é um local que pertence à história do Brasil, e nada mais além do fato histórico deve existir naquele local. Local onde tombaram mortalmente cangaceiros e um volante. 

Adrião está sendo apontado pela seta

Aqueles que ali morreram merecem ser nomeados e reconhecidos por todos que visitam o lugar. Centenas tombaram em outros combates, mas Angico foi a derrocada do cangaço e por isso é um dos lugares mais visitados dessa história de sangue, suor e lágrimas. 

Grota do Angico

Ali não era para ser admitido fanatismos, políticas, opiniões pessoais e nem qualquer outra forma que possa impedir a divulgação histórica. 


Angico é, e vai continuar sendo, o marco principal dessa guerra chamada cangaço e daqui a 1000 anos o dia 28 de julho continuará sendo visitado por milhões de pessoas que tenham interesse em conhecer o local onde tombou 


Lampião e mais 11 pessoas naquela manhã fria e sangrenta que fechou o "reinado" Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião.


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NOSSA MOSSOROENSE HERMELINDA LOPES NO FORRÓ PRA DERRETER


Pra fechar com chave de ouro a programação do Forró Pra Derreter 2017, confirmamos o super show da Hermelinda Lopes, cantando todos os grandes sucessos do Trio Mossoró!

Chega logo Janeiro!!!


Nossa grande atração mais que especial, confirmadíssima no Forró Pra Derreter 2017, a matriarca do histórico Trio Mossoró, Hermelinda Lopes!

Ninguém vai ficar de fora desta!

Garanta seu ingresso o quanto antes e confirme presença neste grande festival!

Mais informações...
Ingressos:
1° lote:
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O BOM E O PÉSSIMO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 31 de outubro de 2016 - Escritor Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.582

Dizem lá no Sertão que o mundo é composto do bom e do ruim. E, como em novela passada, dizia um coronel da região: “de fato é mesmo, compadre!”. Existe uma espécie de medo ou alergia médica em relação ao interior. Antes o doutor não queria sair da capital por causa das  oportunidades de aperfeiçoamento, congressos, seminários, cursos e outras coisas mais. Essas justificativas não se concebem mais porque a rede asfáltica cobre o estado inteiro. Vai-se ao lugar mais distante de Maceió dentro de pouco tempo e se retorna da mesma maneira. Aliás, em Alagoas, as distâncias são modestas não passando dos 300 quilômetros de Maceió ao lugar mais distante como Pariconha.

Comércio de Maceió - Foto Clerisvaldo B, Chagas

Por outro lado, não existe um incentivo constitucional, obrigatório e compensador que conduza o jovem médico aos lugares da periferia. 

A retirada dos postos de atendimento do IPASEAL SAÚDE das principais cidades interioranas de Alagoas foi muito grave. Essa maldade sem precedente foi realizada no governo estadual do governador banana, anterior. Carimbada a decisão pelo atual, permanece o absurdo em que o servidor não pode sentir uma dor de cabeça que não tenha que vir à capital. Todos os postos do interior foram extintos e um só médico não atende pelo IPASEAL SAÚDE. Como é que ninguém é preso por uma barbaridade dessas! 

O bom são as novas vias rodoviárias que estão sendo construídas paralelas a Fernandes Lima, para desafogar o principal corredor de trânsito. Louve-se o mérito incontestável do ato governamental. 

Todavia, os usuários do plano de saúde do Ipaseal do interior, continuam a peregrinação infame pela capital em busca de médico para os seus males, encontrando muitas vezes portas fechadas do plano. A Justiça do estado deveria obrigar ao governo reabrir todos os postos fechados e seus credenciamentos médicos que atendam com dignidade os funcionários ligados ao plano IPASEAL SAÚDE. Só quem adoece não é gente de Maceió. IPASEAL é do estado e não particularmente da capital e nem dos amigos desse que está aí. Bem que um dos candidatos a governador havia advertido antes... Ô peste!


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LIVRO: O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO.



O LIVRO "O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO" do escritor Luiz Serra você pode adquiri-lo através deste e-mail:

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ou através do professor Pereira: 

franpelima@bol.com.br

pelo valor de R$ 55,00 (Cinquenta e cinco Reais) com frete incluso para qualquer localidade do país.

Não fica sem ele! 
Livros publicados sobre o tema "cangaço" são arrebatados pelos leitores e colecionadores. 

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LAMPIÃO MANDA RECADO DESAFORADO PARA ELIAS MARQUES


"DIGA A ELIAS MARQUES QUE QUANDO EU PEGAR ELE, VOU ARRANCAR AS TRIPAS DELE PELAS COSTAS ".

Elias Marques teve sua Fazenda atacada por Lampião e pelo seu bando. Foi saqueada, incendiada, toda criação morta, e ainda levou uma pisa com seus familiares. 

Elias procurou o Tenente Liberato de Carvalho, e junto com o filho e sobrinho, foram contratados pelo Governo do Estado da Bahia. 

Lampião quando soube que Elias Marques havia pegado em armas contra ele, mandou esse desaforado recado.

ADENDO: http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Excelente informação, mas faltou o que mais o estudante do cangaço pretende saber em qualquer artigo sobre cangaço: 
Em que Estado do Nordeste isso aconteceu? 
Em que cidade ou sítio vilarejo isso aconteceu? 
Mas nem por faltarem estas informações, 
não deixa de ser importante 
para os nossos estudos. 

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O DIA EM QUE LAMPIÃO COMETEU A CHACINA DE QUEIMADAS

Lampião, em 1929 - (Foto: Google Imagens)

Lampião à frente de um numeroso grupo de cangaceiros, perpetrou uma das maiores barbaridades de sua história de crimes

Na  tarde do dia 22 de dezembro de 1929 a cidade de Queimadas, no interior da Bahia, foi palco de uma tragédia de grandes proporções. Seguindo sua trajetória errante nos sertões, o bandido Lampião, à frente de um numeroso grupo de cangaceiros, invadiu a sede do município para perpetrar uma das maiores barbaridades de sua história recheada de crimes sanguinários.


Utilizando-se dos mesmos métodos empregados em centenas de cidades do interior dos sete estados que atormentou durante quase três décadas, Lampião cortou as linhas de transmissão do telégrafo da cidade, único meio de comunicação com o mundo externo à época. A seguir, dirigiu-se à sede do destacamento da Força Pública, atual Polícia Militar da Bahia, situado na Praça da Bandeira, no Centro da cidade.

O prédio a esquerda é a delegacia onde Lampião matou sete soldados

Lá, surpreendeu o efetivo de serviço, libertando os presos e trancafiando os policiais militares. O sargento Evaristo Carlos da Costa, comandante do destacamento, atraído pelo silvo de um apito, expediente utilizado para convocar os policiais militares ao quartel, também foi preso pela quadrilha.

Com a aterrorizada cidade sob seu domínio, Lampião passou a saquear aqueles que possuíam algum recurso financeiro, exigindo quantias pré-estipuladas de acordo com suas próprias impressões. O sargento Evaristo foi colocado entre o bando e obrigado a percorrer as ruas da cidade durante o saque, desarmado, sem chance de esboçar qualquer reação.

Terminada a operação criminosa, Lampião e seu bando passaram a se dedicar a mais odiosa das ações encetadas naquele fatídico domingo: retornaram ao destacamento, posicionaram-se em frente à sede e retiraram, um a um, os soldados presos. Ao saírem, foram baleados e, com requintes de crueldades, friamente abatidos a golpes de punhal.

Neste casarão funcionava a cadeia pública, local onde o bando de Lampião matou sete soldados, no dia 22 de dezembro de 1929 (Foto: Google Imagens)

Mesmo diante de tão trágicos destinos, registraram-se cenas da mais enraizada coragem, a exemplo do soldado Aristides Gabriel de Souza que desafiou o chefe dos criminosos a encará-lo sem a cobertura dos demais cangaceiros. Por esse ato de bravura, sofreu uma morte mais dolorosa que os outros, sendo executado com redobrada intensidade.

Sargento Evaristo Costa já em idade avançada - (Foto: Rubens Antonio)

Poupado em razão de um pedido feito a Lampião por uma moradora da cidade, D. Santinha, esposa do coletor federal, Sr. Anfilófio Teixeira, o sargento Evaristo não conseguiu assistir à chacina pedindo para morrer primeiro ou se retirar do local, tendo o líder da súcia lhe ordenado a retirada imediata.

O pedido de Dona Santinha ao famigerado bandido ocorreu em função da admiração que esta nutria pelo policial, haja vista a identificação positiva que este construiu junto a comunidade.

Encerrado o trucidamento dos policiais militares, Lampião, como prova do seu completo desprezo à vida, ainda permaneceu na cidade até a madrugada, promovendo, inclusive, um baile para o qual forçou o comparecimento de inúmeras famílias, em que pese o estado de choque que tomou conta dos moradores de Queimadas diante dos acontecimentos.

Por fim, abandonou a cidade deixando para trás uma população traumatizada pelas barbaridades presenciadas, profundamente enlutada pelo infeliz destino daqueles que a protegiam.


Notícias de Santa Luz

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HOSPITAL MATERNIDADE SINHÁ CARNEIRO.

Por Verneck Abrantes

Construção iniciada por padre Vicente de Freitas em 1956, e concluída em 1959, por Cônego Luiz Gualberto. Liberação de recursos federais por intermédio do pombalense e deputado federal, Dr. Janduhy Carneiro. 


Na época, o Hospital Maternidade era um dos maiores e mais estruturado do sertão paraibano.

Verneck Abrantes

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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domingo, 30 de outubro de 2016

AFIRMAM QUE LAMPIÃO TERIA DITO:


" EU VOU ENFIAR O CORONEL PETRO EM UMA GARRAFA, MAS ANTES VOU CAPÁ-LO". 
Lampião disse ao saber da traição do Coronel Petronilo Reis.

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VIVER E MORRER NO MUNDO CORONELISTA

*Rangel Alves da Costa

Depois de tanto tempo de compromisso e submissão, eis que de repente o cabra, por um motivo ou outro, passava a não ter mais serventia. E ia morrer pelas mãos dos capangas daquele mesmo coronel que um dia lhe garantiu proteção.

E protegia mesmo. Mas até onde o cabra lhe tivesse serventia. Até onde fosse útil à tocaia, à emboscada, ao recado melindroso, ao segredo guardado, a tudo que saiba e que não podia revelar. Mas sempre chegava um tempo de desconfiança, quando o desacreditado tinha de forçosamente silenciar debaixo do chão. 

Assim, a segurança coronelista ia até o momento que este precisasse se livrar da ameaça do protegido. Muitas vezes, este conhecia tanto do lamaçal sangrento, de mando e perseguição, que podia se tornar em perigo. Passava a conhecer tramas e segredos que não podiam ser revelados. Então o coronel lhe dava o último sorriso já sabendo de sua sina.

Já dizia o velho Leontino - e com razão - que coronel nordestino nunca gostou de quem quer que fosse. Toda sua amizade era construída por interesse, num jogo de mando e poder, que tanto podia perdurar por mais tempo ou acabar num instante.

Prosseguia dizendo que coronel nunca confiou nem nele mesmo, muito menos em qualquer outro. Sua maldade e perversidade chegavam a tal ponto que parecia viver assombrado, vendo inimigo em tudo e por todo lugar. Numa situação assim, qualquer um podia pagar pela desconfiança.

Talvez fosse o poder acastelado no feudo rodeado de proteção, como num pedestal inacessível, que o tornava tão solitário e tão explosivo. Tramando ter mais poder, tecendo a vida e a morte, ao abrir a boca ou bater o cajado, outra coisa não fazia senão ordenar. E ordem de fogo e sangue a ser cumprida antes que a cusparada secasse.

Numa simples ordem, e uma sentença de vida e de morte. Ora, para ele tanto fazia a vida ou a morte do outro, do inimigo, do litigante ou mesmo do inocente. Mandava matar pai de família empobrecido que não quisesse se desfazer de seu pedacinho de terra nas vizinhanças do latifúndio.


Qualquer um poderia ser sua vítima. Decidia sempre em proveito próprio e contra quem quer que fosse. O coronel de verdade, aquele de latifúndio, poder e capangagem, jamais tomou qualquer decisão que não fosse em seu único e exclusivo benefício. Até mesmo quando abria as portas do curral para eleger um candidato estava trocando o voto por mais poder.

Quando se comprometia a acolher nas suas hostes e dar proteção a foragidos e perseguidos da justiça e da polícia, outra coisa não fazia senão aumentar seu regimento de jagunços, capangas e assassinos. E assim porque todos passavam a lhe dever cega obediência.

A desobediência ou o serviço malfeito, quando o jagunço errava a tocaia ou não trazia a orelha como troféu, era sentença de morte. Ou o cabra fugia ou logo receberia como troco o trato que deixou de cumprir. E se fugisse era derrubado do mesmo jeito. Não havia escapatória. O jagunço ia matar jagunço onde o fugitivo estivesse.

Certa feita, um ex-cangaceiro de Lampião se viu forçado a pedir proteção a um coronel após a chacina de Angico, onde o cangaço teve fim. Temia ser morto pela volante caçadora de fugitivos. Então se debandou para o feudo coronelista e lá foi acolhido com segurança.

No reduto coronelista, logo encontrou outros na mesma situação. Não eram capangas nem jagunços, pois recebendo proteção especial pela fama, linhagem familiar ou a mando de outros amigos influentes. Mas cada um tinha o seu tempo de estadia e de retorno.

Contudo, gente existia que jamais deixava de dever obediência ao poderoso, pois de vez em quando retornando pela reincidência nas práticas virulentas. Mas todos sabiam que jamais, mesmo já estando distantes daquele feudo, poderiam contrariar o coronel.

E o ex-cangaceiro, mesmo já tendo saído do reduto coronelista e alcançado voo próprio, começou a agir de modo não desejado pelo seu ex-protetor. E uma vez contrariado o mando, a sina do subvertido não era outra senão ser alcançado pela poderosa fúria.

Então foi morto pelas mãos de homens que creditava grande confiança e amizade. E eram realmente amigos e de confiança. Contudo, muito mais do coronel. E a este não podiam faltar de jeito nenhum, sob pena de terem o mesmo destino. O que, aliás, acabaram tendo mais tarde.

Escritor
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