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sábado, 9 de julho de 2016

BIDECA: O SILÊNCIO DE UM BANDOLIM

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

As ondas do Rio Piancó chicoteando as pedras ali na panela, Araçá ou na Oiticica de Ana. Uma criança que grita de alegria ao pescar uma piaba. O cheiro gotoso de Arrubacão em uma panela de barro e a garrafa de Pitu que era passada de mão em mão. E depois o silêncio... O resto era o silêncio... O silêncio que se fazia para ouvir os acordes harmoniosos do bandolim de Bideca. 


Não se pode falar em Bideca e não se lembrar do rio Piancó, de Biró de Onofre, Vicente Candeia, Negro Panela, Negro Adelson, Tuzinho, Pedoca e de muitos outros que emprestaram suas vozes desafinadas ao afinadíssimo bandolim do Bideca. Naquele tempo nós éramos "alegres como um rio, um bicho, um bando de pardais como um galo quando havia galos noites e quintais”. 

As manhãs de domingos a beira do rio tinham uma trilha sonora como se fora uma matinê no Cine Lux. Estivéssemos onde estivéssemos o vento fazia questão de levar aos nossos ouvidos o som das cordas dedilhadas pelo maestro: o vento era seu maior fã.


Bedeca fora sinônimo de música boa, de alegria e de boas conversas. Mesmo quando se mudou para João Pessoa, a sua casa foi a extensão da beira do rio, com os mesmo amigos de outrora lhes cobrando um bom solo das suas cordas. 

Ali frequentavam os mesmos saudosos amigos, já envelhecidos ou expostos em memoriais como fotografias amareladas e desgastada pelo cruel e imperdoável tempo em busca de reviver sua juventude nos braços daquele violão que tantos corações acalentou nas noites e madrugadas frias de Pombal.


Vicente Candeia costumava falar de Bideca como que se referisse ao gênio clássico, o maior entre os maiores. Contava histórias do tempo deles rapazes nas ruas de Pombal; das serenatas encomendadas a janela da amada como se ainda fosse possível hoje ser assim.

As tardes de domingo em Pombal hoje são tão diferentes. Não tem mais o Jeeps e Rurais Cruzando as ruas, levando a noiva à delegacia para selar o casamento; não tem mais "padoriel" e seus sermões engraçados; e os jovens de hoje sequer sabem quem foi Bideca. Nem um registro em mídia deve ter ficado. 

A Pombal de hoje é uma cidade pobre, banhada por um rio assoreado, poluído e lutando numa crise de identidade entre saber se se trata apenas de um esgoto, um riacho ou de um simples sangradouro. Os domingos são tristes reclamam a volta da rapaziada que vinha dos Arrubacões a beira do rio; reclamam sirenes de fábricas anunciando "onze horas”, reclamam um vesperal e uma matinê no Cine Lux e uma Ave Maria num final de tarde nas Difusoras do Lord Amplificador.

Para Pombal o silêncio do bandolim de Bideca já se havia feito há muitos anos, existindo apenas na memória indelével e inextinguível de pessoas como Dona Cessar que escreveu: 

" Bideca era um cidadão de caráter espirituoso, gênio da música, maestro que executava mais de sete instrumentos de corda, compositor de sambas e chorinhos, brilhante intérprete da música, talentoso anedotista e brincalhão nas horas de lazer". 

Nessas palavras sábias da nossa eterna professora para sempre existirá o nosso Bideca.

Outro dia, isso tem uns seis anos, eu encontrei com Bideca e ele me agradeceu por ter se lembrado dele em uns textos e poesias da minha lavra.

― “Não fui tudo isso que você escreveu a meu respeito, mas, de qualquer forma, obrigado!”. 

E eu respondi: 

― Não sou ninguém para escrever sob você, mas, de qualquer forma obrigado, pelas vezes que parei para ouvir as melodias vinda destes dedos mágicos. “Naquele tempo tudo era mesmo divino tudo era maravilhoso, mas... tudo muda e com toda razão.”

O que pouca gente sabe e que entre os fãs tínhamos ninguém menos do que o cantor Nelson Gonçalves, para quem Bideca emprestou o seu talento em algumas turnês pelo nordeste.

Mas seu palco maior foram as oiticicas e ingazeiras do rio Piancó.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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MORENO E DURVINHA - SANGUE, AMOR E FUGA NO CANGAÇO (DOCUMENTÁRIO)

Por Geraldo Júnior

Publicado em 4 de março de 2015
A história do último casal cangaceiro.

Este documentário apresenta a história de Moreno e Durvinha que foram cangaceiros pertencentes ao bando de Lampião.

Após a morte de Lampião o casal decidiu abandonar o cangaço e fugiram para outras terras em busca da liberdade e de um novo recomeço para suas vidas.

Durante sessenta e seis anos o casal cangaceiro permaneceu escondido, até que no ano de 2205, após adoecer, Moreno resolve contar para sua família quem eles realmente foram no passado.

E o mundo toma conhecimento de suas existências e de suas histórias.

Simplesmente uma das grandes e fantásticas histórias do cangaço.

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"Se Eu Soubesse" por Volta Sêca ( • )

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QUEM COMEU PÃO COM CREME NA BODEGA DE TOINHO?

Por Jerdivan Nóbrega de Araujo

Bença Padim Toin... Me dê um dinheiro...

Então ele virava as costas para o moleque, ia até um balaio de vime cheio de pão, fazia a volta por entre a mesa onde fica a gaveta do dinheiro e as prateleiras de frios, pegava uma enorme espátula já desgastada pelo uso, enfiava num barril cheio de creme de nata e o entregava ao seu afilhado, que saia saltitante pela rua do Comércio, até virar a esquina que vai chegar à Rua de Baixo. 

― Este moleque bem que poderia ser eu...

A cena se repetia todos os dias entre 14 e 15 horas, momento em que a Rural chegava carregada de pão feito lá na padaria de seu Luiz Barbosa, na Rua do Rio. O moleque sempre ficava a espreita e não perdia um bote.


Quem foi menino nas ruas de Pombal entre as décadas de 1960 e 1970(a Bodega foi aberta em 1960) sabe do que eu estou falando. O pão com creme da Bodega de “Toinho da Bodega” nunca achou concorrente na cidade. Sentir o creme escorrer pelos cantos da boca, o pão ainda quente sendo mastigado: não dava sequer vontade de engolir para podermos eternizar aquele momento. 

Houve um tempo que era assim! De tão famoso, era comum quando dois jovens estavam discutindo, e um deles ter a certeza da sua convicção, fazer seguinte desafio: “que apostar um pão com creme da bodega de Toinho?” ou as vezes: “não faço isso nem por um pão com creme da bodega de Toinho”.

Toinho, dona Durce, sua esposa e Geraldo, seu ajudante, ou o nosso inesquecível, Lairton que vinha ajudar a Toinho a dar conta da freguesia nos dias de sábados, aonde os moradores dos sítios, principalmente da Cambôa, vinham fazer a feira e tomar um gole de Pitu com tira gosto de bolacha peteca ou carne de charque crua, para depois cuspir da porta acertando quem passava na rua. 


Ao voltarmos a Pombal fazíamos questão de entrar naquele estabelecimento comercial, nem que fosse para sentir que o tempo parou em algum momento da década de 1970, deixando que seguíssemos o nosso caminho: os mesmos móveis, as mesmas prateleiras, a balança de dois pratos e a forma do atendimento de há trinta anos, o fiado na caderneta encardida, o papel de embrulhar com um peso em cima para não ser levado pelo vento, a faca de corta o sabão em barra mais embaixo, o fumo de rolo e o fardo de carne de charque ali ao alcance das mãos e Toinho sempre com um riso nos lábios a nos receber.

Na única sombra a frente da bodega, a velha Rural verde e branca estacionada ali desde 1978 disputava a sombra com os jumentos dos fregueses que faziam suas compras.

Todo filho de Pombal fala de Toinho da Bodega com muito carinho. A Bodega atravessou a linha do tempo das nossas memórias, ao ponto de ao passarmos em frente do prédio já sem vida, ainda sentirmos o cheiro e o sabor do tão famoso pão com creme da Bodega de Toinho. 

São poucos os estabelecimentos comerciais em cidades do interior que viram marca de fantasia ou que não precisam de uma “ferramenta” para ser lembrada. A bodega de Toinho é simplesmente a Bodega de Toinho, uma referência na marcação da passagem do tempo de nós jovens de Pombal, que vivemos as décadas de 1960 e 1970 e hoje carregamos nas costa o peso da idade, mas, deixando para trás uma vida muito bem vivida.

A Bodega de Toinho foi também o “armazém”, o “barracão” que sustentou muitas famílias de Pombal, através do “fiado” que só era quitado quando o trem pagador da ”refesa”, passava para pagar os proventos dos empregados da Rede Ferroviária, da Brasil Oiticica ou da Usina de Paulo Pereira. Antes disto não havia dinheiro circulando na cidade. 

Era, portanto, a caderneta da Bodega de Toinho que sustentava o tranco.

- Zé ta faltando açúcar...

- Mande o menino pegar na Bodega de Toinho...

E o menino não voltava sem o açúcar, café ou o pão.

Era assim!

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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CANGAÇO É CULTURA

Sinhô Pereira no ano de 1970

Sinhô Pereira foi a maior influência na vida de Lampião e por ele nutria o maior respeito, aprendeu muito sobre a vida e o que significava ser um cangaceiro, certa vez depois de alguns anos e já conhecido como Lampião o maior cangaceiro da história declarou que se um dia Sinhô Pereira voltasse ao cangaço ele, Lampião teria o maior prazer de servir novamente como seu cabra. 


Jornalista e pesquisadora Vera Ferreira, neta de Virgulino Ferreira da Silva - Lampião e Maria Bonita, Vera Ferreira, que é jornalista e pesquisadora, com larga experiência em produção de filmes e televisões, fez um relato daquilo que ela, como membro da família de Lampião e Maria Bonita, próxima e conhecedora de alguns membros do bando de cangaceiros e cangaceiras de Lampião, conseguiu colher em depoimentos e relatos de pessoas que viveram e assistiram os acontecimentos da saga contada de várias maneiras por inúmeras gerações de brasileiros, em casa, na escola, na Universidade e em vários centros de cultura do país.

http://verdade-queliberta.blogspot.com.br/2012/03/lampiao-virgulino-cangaco-fora-da-lei.html

“Lembro-me perfeitamente quando eu e minha mãe nos encontramos com os primeiros cangaceiros em São Paulo. Dadá, Criança, Zé Sereno, Cida e Dulce, estavam todos numa sala e mostraram-se muito respeito pela minha mãe. Todos eles choraram quando viram minha mãe. Aquilo ficou marcado e a partir daquele dia, eu disse em uma entrevista para o jornal Folha de S. Paulo que faria um trabalho sobre meus avós”, complementou a palestrante.


Na foto: Benjamin Abrahão, Maria Bonita e Lampião  1936. As fotos feitas por Benjamim  levantaram grande suspeita do estado novo contra o Benjamin Abrahão. Morreu de forma misteriosa levando 42 sangradas ou punhaladas em 1938 com 37 anos.

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OUTROS DOMINGOS NAS RUAS DE POMBAL

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo


O banho no Rio os saltos dos galhos das ingazeiras, o arrubacão e a cachaça a nos areias do Piancó, era uma instituição que o povo de Pombal não abria mão.

Pela manhã a procissão de meninos e adolescentes e homens-feitos, carregando câmaras de ar de caminhão, panelas para fazer arrubacão, garrafas de cachaça, violões e varas de pescar, passavam de frete a minha casa, viravam a direita na esquina da casa de seu Godô e a esquerda na casa de seu e Joaquim, pegavam o grande corredor que ia dá no rio Piancó, só voltando no final à tarde, em procissão de trôpegos: - era a lazer, o divertimento e a forma de se preparar para a dura semana que começava.


Vida ruim de menino pobre, já com doze anos, viciado nas Matinês de Tarzan do Cine Lux e nos brinquedos da Festa do Rosário que se aproximava, observava aquele movimento de pessoas de vida simples e difícil que dependia, para sobreviver ou para se divertir das águas do velho Piancó.


Eram agricultores, vendedores de areia para construção civil, de água potável e ainda uns poucos que tiravam o seu sustento através da pesca dos parcos peixes que ainda se podia encontrar por ali.


O meu sonho era bem menor: esperar a chegada do mês de outubro que trazia a nós a Festa do Rosário com ela o Parque Maia e seus Carrosséis com suas luzes coloridas, a Montanha Russa e os jogos de azar os Carroseis e Monga: a mulher que vira macaco.


Jogar uma moeda entre as pernas da boneca "Terezão", e ouvi-la cantar "Baile da Gabriela" e "Como tem Zé na Paraíba"; acertar um tiro com a espingarda de chumbinho bem no umbigo do Pelé, para fazê-lo chutar a bola, e assim ganhar um prêmio, era um sonho sonhado durante todo o ano.

Tudo isso era tão perto e ao mesmo tempo tão distante já que, para tanto, tínhamos que ter dinheiro.

Mas, eu nunca me dei por vencido. Pedi ao meu pai que fizesse um carrinho de mão para eu pegar feira. A incumbência de fazer ficou por conta de mestre Lauro, que era carpinteiro e tinha uma marcenaria no prédio que foi do meu avô, vizinho ao Edifício Maringá. A marcenaria também era um lugar dos desocupados jogar conversa fora, enquanto mestre Lauro trabalhava.


Quinha, filho de Zuza Nicácio dono do Imperador das Novidades, local onde se realizavam, nos anos sessenta, bingos de utilidades domésticos, observava o trabalho de mestre Lauro, quando ele percebeu que estava escrito na caixa que o mestre desmanchava para fazer o carrinho, a seguinte frase – Maçã: Made In Argentine – Pergentine, 15 dúzias. Ele enfiou a mão no bolso, pegou uma moeda e falou:

- Caba de Félix, vá ali no Barraco de Zé de Lau e jogue tudo no Jacaré. Se acertar, a metade é seu para você rodar na Roda Gigante até vomitar os bofes.


Olhei para o meu pai, como não houve censura da sua parte, o que não era comum em se tratando de jogo de azar, fiz o mandado.

Naquela mesma tarde meu pai me informou o resultado do bicho.

- Jacaré!

Sai nas carreias, encontrei Quinha no Imperador das Novidades, muito bem sentado. Cobrei a minha parte do prêmio, como ele havia prometido na naquela manhã. Mas ele não cumpriu com a sua palavra e, mais uma vez o meu sonho de brincar nos Parque Maia se transformou em poeira ao vento.

E como na música, “Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei, mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo”.

Eu tive que montar outros cavalos imaginários senão o do carrossel do parque Maia e quando volto a Pombal, já homem-feito, não mais encontro o Parque Maia com seus Carrosséis, Terezão, Muler que Vira Macaco e a Rodas Gigantes, onde eu possa rodar até vomitar os bofes, como disse Quinha de Zuza Nicácio.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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HISTÓRIA VIVA: MULHER AGREDIDA PELO BANDO DE LAMPIÃO EM “SERRINHA” COMPLETA HOJE 102 ANOS

Por Júnior Almeida
Dona Branca7

Quando Maria Gracinda da Conceição (foto) nasceu em 24 de junho de 1914 ainda não tinha começado a primeira grande guerra. Ainda não existia copa do mundo e o Brasil era governado pelo Marechal Hermes da Fonseca. Quem governava Pernambuco era o general Dantas Barreto, nascido em Bom Conselho de Papa Caça.

Branca, como Maria Gracinda é chamada desde pequena, casou-se em 1935 com o filho do seu padrinho Francisco Basílio, o agricultor José Basílio, passando a se chamar Maria Gracinda Basílio. Viveram juntos por quase 67 anos, até quando ele faleceu em 2002 com mais de 100 anos de vida. Da união do casal nasceram 14 filhos, sendo 8 mulheres e 6 homens. Desses vieram 50 netos, 63 bisnetos e 9 tetranetos.

Dona Branca está completando hoje, dia de São João, 102 anos, e uma missa será celebrada por tão importante data. Depois da celebração, será realizada uma festa em sua residência, no Sítio Azevém em Paranatama, para familiares e convidados.

Dona Branca já viu e viveu muita coisa em mais de um século de vida. Ela já passou pelo mandato de 34 presidentes da república, e mais as juntas provisórias, a de 1930 e a de 1969. No Estado, 48 governadores já ocuparam o cargo desde o seu nascimento. Branca já viu os golpes de 1930, o de 1964 e o recente, parlamentar/midiático, de 2016. Ela viu surgir o Rei do Baião, viu chegar a “luz de Paulo Afonso”, os automóveis, o rádio, a televisão, e várias outras coisas da vida moderna.

Era pequena quando aconteceu a hecatombe de Garanhuns, episódio que assombrou não só a região, como todo o país. Branca viu surgir o banditismo rural, o cangaço, que apavorou todo o interior do Nordeste. Não só soube por ouvi dizer, soube por que foi uma das vítimas do maior de todos os cangaceiros, Virgulino Ferreira, o famigerado Lampião.

Foi assim: No 19 de julho de 1935, por volta das 10 da noite, no Sítio Azevém, em Serrinha do Catimbau, hoje Paranatama (foto acima), na época distrito de Garanhuns, bateram à porta do casal Zé Basílio e Branca. Do lado de fora da casa uma voz dizia ser Lampião, que abrissem logo, sem demora. As pessoas dentro da casa ainda pensaram em se tratar de um trote, mas a voz de um conhecido feito refém do bando confirmou a má notícia.

Zé Basílio de pronto foi ameaçado pelo punhal do “Cego de Vila Bela” em seu peito. Faziam parte do bando o próprio Virgulino Ferreira, o Lampião, sua companheira Maria Bonita, Maria Ema, Medalha, Fortaleza, Juriti, Moita Braba e Gato.

A casa se encheu de gente. Além dos bandidos, alguns homens acompanhavam a horda como reféns do grupo. A caterva tratou de exigir dinheiro e ouro dos donos da casa, sempre com ameaças. Branca em outro cômodo da residência ainda escondeu algum dinheiro da bodega do seu marido em uns sacos de feijão, mas os cangaceiros descobriram, derramando um saco de feijão branco e um preto, misturando os dois.

Todas as jóias dentro de casa também foram entregues aos cangaceiros, mas Branca ficou com Maria Bonita e Maria Ema, sendo torturada, apanhando de coronha de rifle, para dar conta de mais ouro, o qual não tinha. A sessão de tortura física e psicológica fez Branca, na época com 21 anos, ficar toda roxa de tanta pancada.

Ao final, a horda maldita deixou o casal arrasado financeiramente e psicologicamente, seguindo para casa do pai de Zé Basílio, onde os cabras de Lampião saquearam o que podiam e estupraram duas moças.

Na madrugada do dia 20, Lampião seguiu para Serrinha, passando antes na localidade Queimada do André, onde com seus homens assassinou o agricultor José Gomes Bezerra.

Seguiram para a vila, onde um grupo de resistência liderado por João Caxeado e Oséias Correia travou uma intensa fuzilaria com o Rei do Cangaço e seu bando. O saldo da refrega foi positivo para o povo de Serrinha do Catimbau, pois pelo lado dos cangaceiros ficaram feridas as bandidas Maria Bonita e Maria Ema, além de um cachorro do bando de nome Dourado, que morreu em meio ao fogo cruzado, deixando para algum sortudo uma coleira ornada com moedas de ouro e prata. De Serrinha, ninguém se feriu.

Maria Gracinda Basílio estará daqui a muitos anos com seu nome nos livros sobre o cangaço, como já está hoje, citada por grandes pesquisadores, dentre eles João de Souza Lima, de Paulo Afonso na Bahia, terra de Maria Bonita, Antônio Vilela, aqui de Garanhuns e Paulo Gastão, de Mossoró no Rio Grande do Norte, terra que se orgulha de ter vencido Lampião numa batalha épica em 13 de junho de 1927, em que morreram os cangaceiros Jararaca e Colchete, desmantelando o bando de Lampião, fazendo com que ele fugisse pra Bahia com apenas cinco cangaceiros.

Dona Branca é História do Brasil, do Nordeste, da nossa região. É a nossa História.

Parabéns Dona Branca pelos seus 102 anos de vida e parabéns a todos os seus descendentes por tão importante figura, memória viva do nosso país.

Júnior Almeida. Escritor e bodegueiro.


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VAMOS ESQUENTAR UM POUCO O AMBIENTE: SABINO DAS ABÓBORAS.

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Leiam o que três autores de livros, registraram sobre esse perigoso cangaceiro. Existem desencontro de informações. Qual deles aproxima-se mais da vida real de Sabino?

Nas páginas 56-58 do livro ENSAIO CONTRA VERSÕES ROMANESCAS – CEL. JOSÉ PEREIRA de Roberto Sávio de Carvalho Soares ele nos diz:

"Há livros afirmando que Sabino das Abóboras, conhecido cangaceiro, nasceu nas Abóboras, zona rural de Serra Talhada/PE, enquanto outras obras informam que foi na cidade de Princesa Isabel. Disseram ainda que ele era filho do Cel. Marçal Fiorentino Diniz, fora do casamento, e que tinha sido o seu vaqueiro. O certo, porém, é que o cangaceiro Sabino era natural de Olho D'água, Estado da Paraíba, região do Piancó. Era da família Gore. Na cidade natal, morava com o pai, a mãe e os irmãos. Tinha dois tios que trabalhavam como vaqueiros do Cel. Marçal, na Fazenda "Abóboras", sendo que um deles era muito conhecido por causa da surdez. Assim, com aproximadamente 11 anos de idade Sabino foi acolhido por esses tios na citada propriedade e, em especial, pelo Cel. Marçal, sua mulher e filhos. Chegando lá, a esposa de Marçal observou que ele era bastante inteligente e resolveu colocá-lo na escola. 

Já rapaz, tornou-se uma espécie de homem de confiança, gerente e contador de Marçal, mas nunca foi seu vaqueiro. Era o responsável pelas contas, pagamento do gado e negócios. Posteriormente, foi trabalhar com Marcolino, filho de Marçal e sobrinho de José Pereira, no primeiro Jornal de Cajazeiras/PB, "a cidade que ensinou a Paraíba a ler", frase divulgada pela população. Ressalte-se: o aludido jornal era editado por Praxedes Pitanga, um dos maiores advogados da Paraíba que, fora promotor, deputado estadual e federal. Em Cajazeiras, na condição de administrador do jornal, era bem relacionado na sociedade, chegando a jogar baralho com pessoas importantes da cidade. No entanto, impressionado com as histórias de Lampião que lhe eram contadas por Marcolino, resolveu engajar-se a esse bando de cangaceiros, tornando-se um dos mais esclarecidos do grupo. No entanto, sem sombra de dúvida, essa versão autêntica não vai alterar a trajetória de Sabino das Abóboras no cangaço. Dois registros: havia uma ligação do Major Floro Diniz (sogro de Marcolino e pai de Xanduzinha da música) com "Senhor Pereira". O Cel. Marçal também se relacionava com esse antigo cangaceiro. Certamente daí surgiu o elo de Lampião com o Cel. Marcolino Diniz, filho de Marçal. Certo dia, o Cel. Marçal teve uma refrega com Marcolino, pelo fato de o seu filho ter destratado José Pereira, quando este o criticara pela estreita ligação com cangaceiros."

Já na página 138 do livro “Lampião a Raposa das Caatingas” de José Bezerra Lima Irmão, ele registra:

SABINO DAS ABÓBORAS

"Fazenda Abóboras, covil de jagunços Não há como contar a história do cangaço sem falir na formidável fazenda Abóboras, do coronel Marçal Florentino Diniz, um dos maiores latifúndios do sertão pernambucano daquela época. Muitos autores do cangaço dizem que essa fazenda ficaria na Paraíba, mas na verdade ela fica em Pernambuco, embora a poucos quilômetros da divisa. Situa-se no município de Serra Talhada. antiga Vila Bela, à esquerda da estrada que vai para Triunfo, antes de Jatiúca. No passado, o coronel Marçal, homem corpulento e simpático, amigo da família Pereira, acolhia em sua fazenda os cabras de Sinhô Pereira. Quando menos se esperava, chegava a cabroeira para comer, descansar, cuidar de feridos. O próprio Marçal encarregava-se de ir buscar médicos em Triunfo e Princesa para tratar dos casos graves. Foi assim que Marçal conheceu Lampião — como simples cabra de Sinhô Pereira. Depois que Lampião se mudou para a Bahia, Marçal pensou que estava livre de cangaceiros em sua propriedade. Mas foi então que seu genro, José Pereira Lima, inventou aquela rr aluquice sem fim — a Guerra de Princesa. Em suma, a fazenda Abóboras parecia predestinada a acoitar valentões. 448

O filho bastardo do coronel Marçal

Foi justamente ali que nasceu e viveu sua infância o terrível Sabino Gomes de Melo, um dos mais destacados nomes da história cangaceira, mais audacioso do que o próprio Lampião. Por ser da família dos Gregório, palavra dificil de pronunciar, quando menino era chamado de Sabino Gore, o que levou alguns autores a supor que ele se chamava "Sabino Góis". Tendo trabalhado algum tempo como ajudante de vaqueiro na fazenda Goa, na Paraíba, era por isto também conhecido como Sabino Goa, a mesma razão pela qual era igualmente chamado de Sabino das Abóboras. 449

Frederico Pernambucano de Mello faz uma revelação assombrosa, que não consta nos textos dos autores da época: Sabino era filho natural do coronel Marçal com uma negra cozinheira de sua casa. Sabino, mal completou 18 anos, tornou-se autoridade, ao ser nomeado comissário das Abóboras. Em uma festa que houve num daqueles pés de serra, ele se envolveu numa briga, e em virtude disso se mudou para o município paraibano de Princesa, sob o amparo de seu meio-irmão Marcolino Pereira Diniz, filho legítimo de Marçal. Quando se iniciou a construção do açude Boqueirão de Piranhas, em Cajazeiras, Marcolino, que era homem influente ali, onde era presidente do Clube Centenário, empregou o irmão nas obras da barragem, executadas pela empreiteira norte-americana Dwight P. Robinson & Co. Inc. Depois, aí pelo ano de 1921, como Marcolino precisasse de um sujeito de confiança para sua proteção pessoal, Sabino passou a ser seu guarda-costas.

Na companhia de Marcolino, o futuro cangaceiro teve oportunidade de conhecer as mais destacadas figuras da sociedade de Cajazeiras e da própria capital paraibana. Foi por esse tempo que, em alguns casos por conta própria e noutros instigado por Marcolino a fim de perseguir seus desafetos, Sabino começou a fazer certos "trabalhos" nas horas vagas: à frente de um grupo de malfeitores, passou a pilhar pequenas localidades das vizinhanças de Cajazeiras. Andava pelas ruas equipado com duas cartucheiras peitorais cruzadas em "X" e outra na cintura, um rifle Winchester, uma pistola Colt e dois punhais embainhados, com um lenço ao pescoço e chapéu de couro quebrado na frente e atrás. 450

Rodrigues de Carvalho traz uma versão diferente. Diz ele que Sabino Gore era natural de Pedra do Fumo, município de Misericórdia (atual Itaporanga), na Paraíba. Na grande seca de 1915, Sabino e seus irmãos, Gregório e Elói, mudaram-se para Pernambuco. Ao passarem pela fazenda Abóboras, os retirantes encontraram guarida e ficaram trabalhando para o coronel Marçal. Gregório e Elói trabalhavam na lavoura, enquanto que Sabino era vaqueiro, mas na calada da noite fazia roubos nas redondezas. Quando foi descoberto, assumiu abertamente a profissão de cangaceiro, mas os irmãos não o acompanharam. Sabino já era cangaceiro famoso — o temido Sabino das Abóboras — quando seus irmãos, aí por volta de 1925 ou 1926, foram assassinados de forma misteriosa: Gregário viajava sozinho por uma estrada e foi encontrado morto com uma bala na cabeça; Elói foi morto por uma bala "perdida" em um tiroteio num dia de feira em Afogados da Ingazeira. Comentou-se que ambos foram mortos por engano — como os três irmãos eram muito parecidos, quem os matou pensou que estava matando Sabino 451

Esse autor, que é da região e foi contemporâneo desses fatos, descreve Sabino como sendo um sujeito de "estatura acima de mediana, compleição robusta, pele sarará pulverizada de sardas, cabelos foveiros e agastados". No convívio com os companheiros, Sabino Gomes era um sujeito muito falante. Como cangaceiro, era um dos mais perversos do bando. Não provocava ninguém, e quando tinha de discutir alguma coisa baixava tanto a voz que parecia humilhar-se, como se pedisse ao outro para não lhe bater, chegando a parecer covarde, mas ninguém se enganasse: como uma cobra que se enrodilha para atacar, quanto mais Sabino se encolhia, maior era o bote. 452

Erico de Almeida diz que o conheceu antes de ele se tornar cangaceiro, dispondo de crédito bastante em Princesa e Triunfo como vaqueiro e agricultor de escala média. 453 

Até 1923, Sabino Gore, ou Sabino das Abóboras, atuou como "cangaceiro manso" com seu próprio bando nas serras que separam Pernambuco da Paraíba. Sempre que preciso, agia como o braço armado da família Diniz. No fim daquele ano, conheceu Lampião e fez amizade com ele, mas continuou com seu grupo independente. Depois do ataque à cidade de Sousa, em julho de ano seguinte, Sabino passou a fazer parte do bando de Virgulino, como o quarto homem na hierarquia do grupo, abaixo de Antônio e Livino."

NOTAS do RAPOSA DAS CAATINGAS:

448 Coordenadas geográficas da casa-grande da fazenda Abóboras: 07° 52' 41.80" S, 38° 14' 51.70" W. - A fazenda Abóboras fazia parte das terras arrendadas da Casa da Torre por Agostinho Nunes de Magalhães sob a denominação de fazenda Serra Talhada, da qual foram desmembradas depois as fazendas Saco e Abóboras, por força de sucessão hereditária. A fazenda Abóboras foi fundada por seu neto, Braz Nunes de Magalhães. Depois a herdade foi vendida a Marçal Florentino Diniz, de Princesa Isabel. Com a morte de Marçal, a fazenda ficou para sua filha Alexandrina (Xandu), casada com o coronel José Pereira Lima, de Princesa. 

449 Alguns autores se referem a ele como Sabino Barbosa de Melo ou Sabino Gomes de Góis. 
453 Erico de Almeida, ob. cit.,, p. 95/97.
450 Frederico Pernambucano de Mello, Guerreiros do Sol, p. 125-126, 243/246 e 363-364. 451 Rodrigues de Carvalho, Serrote Preto, p. 1561167. 452 Idem, ob. cit., p. 156-157.

Nas páginas 289-291 do Dicionário Biográfico CANGACEIROS & Jagunços de Renato Luís Bandeira

Sabino - Sabino Gomes de Góes

Nasceu no lugar Serra do Fumo, município de Misericórdia (PB), mudando-se para Triunfo (PE) em 1915, onde se tornou afilhado do poderoso coronel Marçal Florentino Diniz, chefe político da Fazenda Abóbora no Pajeú pernambucano. Era chefe dos jagunços de Marcolino Pereira Diniz, rico coronel e comerciante em Triunfo. Passou muitos anos tendo vida dupla: durante o dia era vaqueiro e trabalhador, mas na calada da noite salteador e cangaceiro, dando apoio ao bando de Lampião, a partir de 1923. Tem Sabino, extensa ficha criminal em dezenas de investidas na prática criminosa (...). De 1923 a 1927, cometeu as mais importantes ações deliquentes no bando de Lampião (...). Fonte: Bismarck Martins de Oliveira. (Nota do autor): Bismarck informa que Sabino Gomes de Góes também era conhecido por Sabino Goré, Sabino Goa ou Sabino das Abóboras. Este cangaceiro estava com Lampião e mais de 100 companheiros, no ataque à cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte. Sabino fez parte do grupo de Lampião, composto de 70 cangaceiros, que visitou o padre Cícero Romão Batista em 12 de abril de 1926. Entre outros estavam: Sabino, Luis Pedro, Jararaca, Ponto Fino, Juriti, Zé Baiano, Mormaço, Jurema, Andorinha, Pintado, Criança, Trovão, Gato Brabo, Fogueira, Vicente Marinho, Beija-Flor, Delicadeza, Lavandeira, Cícero Costa, Cajueiro, Cigano, José Marinho, Antônio Marinheiro, Arvoredo, Cambaio, Moreno, Português, Moita Braba, Algodão, Lagartixa, Cavanhaque, Ângelo Roque, Beleza, Cravo Roxo, Fidalgo, Damião, Zé Venâncio, Linguarudo, Sete Léguas, Ananias, Porqueira e Zé Baião. Fonte: Luiz Luna. (Nota do autor): Possivelmente este Sabíno seja o citado a seguir.

Sabino das Abóboras

Era vaqueiro e agricultor. Contava 35 anos de idade quando acompanhou Lampião. De estatura média, gordo cabelos crespos e era bastante supersticioso. Nasceu em Vila Bela, Estado de Pernambuco. Chefiou subgrupo de Lampião. Ocupou, por vários anos, posto de destaque no bando. No seu fardamento via-se um galão. Era 29 tenente promovido em Juazeiro, em 1926. Fez parte do grupo, quando da visita do Rei do Cangaço ao Padre Cícero Romão Batista, em 9 de abril de 1926, na cidade de Juazeiro, Ceará. Sabino teve morte horrível na Piçarra. Ferido, ocultou-se nos matos e faleceu devorado pelos bichos, dentro de um valado. Gostava de viver cantando. Tinha ótima voz. Fonte: Aglae Lima de Oliveira. (Nota do autor): Muitas vezes citado simplesmente, Sabíno. Cangaceiro do bando de Lampião. Esteve em Limoeiro do Norte, Ceará. Aparece na foto com todo o grupo do Rei do Cangaço. Fonte: Ricardo Albuquerque, apud Iconografia do Cangaço. Sabino Goré ou Sabino Goa. Seu nome Sabino Gomes de Góis, era pernambucano da localidade Abóboras, município de Serra Talhada. Era chefe dos jagunços de Marculino Pereira Diniz, rico coronel comerciante em Triunfo, Pernambuco que era casado com a filha do coronel Zé Pereira, de Princesa Isabel. Era vaqueiro e cangaceiro e dava apoio a Lampião quando passava por lá. Há uma versão que Sabino saiu ferido gravemente num tiroteio em Piçarra, ficando definitivamente imprestável para empunhar armas, assim teria fugido para um estado longínquo, para viver as custa da fortuna que acumulou no tempo do cangaço. Fonte: Bismarck Martins de Oliveira. Sabino das Abóboras morreu em combate a noite, ao pé da Serra do Araripe, perto de Porteiras, quando o bando de Lampião foi surpreendido pela Força comandada pelo sargento Manoel Noto e David Jurubeba. Fonte: Optato Gueíros. Sabino. Gomes de Melo ou Goré, Goa ou ainda Sabino Gomes de Góes é o mesmo sabino das Abóboras, chefe do subgrupo que atacou Cajazeiras na Paraíba em 28 de setembro de 1926. Fonte: Diversas obras copiladas por Kydelmir Dantas.

Sabino Gomes

Cangaceiro de Lampião morto em combate na Fazenda Piçarra, em março de 1928. Fonte: Alcino Alves Costa. Sabino Gomes. Este afamado cangaceiro chamava-se Sabino Gomes de Melo. Fonte: João Gomes de Lira. Numa refrega com a polícia durante a noite chuvosa, Lampião e os cabras fugiram agachados. O esgotamento da munição forçou a retirada. Sabino Gomes foi baleado. Ocultou-se. Dias depois foi encontrado morto num valado. Fonte: Aglae Lima de Oliveira. (Nota do autor): É provável que se trate do precedente.

Sabino Goré

Do bando de Lampião. O famigerado Sabino, no dia 6 de junho de 1926, assaltou com seu grupo a cidade de Triunfo, matando um policial e incendiando diversos estabelecimentos comerciais. Fonte: Érico de Almeida. (Nota do autor): É provável que este, seja os mesmos acima descritos. Vale ressaltar, que Sabino Goré até 1921, era um agricultor honesto e bem conhecido nas praças de Princesa e Triunfo.

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PEDRO MOTTA POPOFF RECEBE LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS" DO PESQUISADOR DE SERRINHA-BAHIA ANTONIO JOSÉ DE OLIVEIRA

Por Carla Mota

Amigo José Mendes Pereira, com muita emoção que recebemos um lindo presente, o livro "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS" escrito por 

Os escritores José Bezerra Lima Irmão e João de Sousa Lima

JOSÉ BEZERRA LIMA IRMÃO e presenteado ao meu filho Pedro Motta Popoff pelo HISTORIADOR ANTONIO JOSÉ DE OLIVEIRA do Estado da Bahia.

Com grande honra ter um exemplar desses e para nosso menino oportunidade de pesquisa e aprendizado.
  
 
Nélson Gonçalves da TV Câmara de Itaberá

As entrevistas da revista AZ, e do Jornalista Nelson Itaberá pela TV Câmara, tiveram grande repercussão no Nordeste do país, citados em vários Blogs sobre o assunto, Pedro aparece como pesquisador mirim e divulgador da arte e cultura nordestina.

https://www.youtube.com/watch?v=FKOrnrHqrEs

Através de palestras em escolas de Bauru e região, ele tem mostrado a sua paixão e respeito pelo Brasil.

Em nome do Pedro, nosso muito obrigado!

Carla Motta

http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br/2016/01/pedro-motta-popoff-recebe-livro-lampiao.html

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, NERTAN MACEDO, PUBLICOU EM LIVRO O POEMA “CANCIONEIRO DE LAMPIÃO”

Por Antonio Corrêa Sobrinho
Foto do perfil de Antônio Corrêa Sobrinho

No ano que eu nasci, 1959, o valoroso escritor do cangaço, Nertan Macedo, publicou em livro o poema “Cancioneiro de Lampião”, que, pelo seu reconhecido valor literário, mereceu o rico comentário do escritor Antônio Olinto (1919-2009), publicado nas páginas do jornal carioca O Globo, de 26 de dezembro de 1959. Coube a mim a prazerosa obrigação de trazê-lo ao conhecimento da contemporaneidade. 

Capa do livro extraída da internet


“CANCIONEIRO DE LAMPIÃO”

EM ENSAIO publicado há três anos – e recentemente incluído num “Caderno de Críticas” – aludi à importância da obra dos poetas populares do Nordeste. Dizia que os cantadores são donos de uma pujança de expressão que, mal comparando, e em geral sem o tom diretamente lírico, se assemelha à dos trovadores da Idade Média. Além disto, embora não se possa, no momento, separar inteiramente a língua falada no Brasil da que se usa em Portugal, a verdade é que estamos procurando formas de expressão bem pessoais, que refletem, desta ou daquela maneira, a linguagem do povo, num movimento semelhante ao da transformação do latim em línguas românticas. Há cerca de oito anos, Jorge de Lima dava um passo importante nesse reconhecimento, através de sua “Vidinha de Castro Alves”, escrita à maneira da literatura de cordel do Nordeste. Agora, é Nertan Macedo quem lança um “Cancioneiro de Lampião”.

* Devo, em primeiro lugar, dizer que Nertan Macedo está em bom caminho. Foi às fontes de um setor da poesia brasileira. Quando lançou seu “Waste Land”, declarou T. S. Eliot que se inspirara, tanto no tema geral como em simbolismos particulares, no livro de Jessie L. Weston, “From Ritual to Romance”, sobre a lenda de Santo Gral. Um dos mais belos estudos de poesia publicados neste século – o “The White Goddess”, de Robert Graves – defende a tese de que o conteúdo mítico da obra poética, anterior ao primado do raciocínio estabelecido pelos gregos, perdeu muito de sua força quando foi atingido pela tendência lógica da filosofia eleática. Embora nos pareça que a predominância da lógica só se impôs mesmo a partir de Aristóteles, acha Graves que à época de Parmenidos já se revelara eminentemente antimítica. E, por estranho que isso seja para muita gente, Robert Graves coloca-se contra a poesia de Ezra Pound por acha-la demasiadamente fabricada, lógica) já Eliot, influenciado por Pound, dedicara ao autor dos “Cantos” o poema “The Waste Land”, dando a Pound o título de “il miglior fabbro”, o mesmo que Dante dera a Arnault Daniel).

* Desejo, com essas aproximações de poemas e teses, afirmar a importância de um poeta buscar o seu poema nos mitos do povo (o mítico não é o contrário do real); a figura de Lampião, o Lampião que de fato existiu, entrou para a lenda e faz hoje parte das reivindicações poéticas do homem comum do Nordeste brasileiro). Nertan Macedo faz a louvação de Lampião, e, para isso, utiliza o metro, a rima e o jeito normais da poesia nordestina:

“Nestes autos vou narrar
a vida de Lampião,
quem tiver oiças, escute
e faça do coração
a via do entendimento,
pois nada vale a razão,
sangue e terra se misturava
em perfeita comunhão,
na linguagem do mistério
dou a minha tradução,
o demônio sobrevive
no descendente de Adão,
quem de si não o afugenta
apodrece na prisão,
o homem não nasce bom,
já nasce na expiação,
se o anjo prevalecesse
já teria morto o cão.”

* O processo poético de Nertan Macedo é absolutamente válido. O verso de sete sílabas, usado pelo povo, é por causa mesmo de sua simplicidade, mais difícil do que muito rebuscamento verbal e métrico. Suas rimas – em “ão”, em “ia”, em “eiró” ou “eira” – são banais no idioma, e qualquer cantador de improviso faz inesperadas variações com essas desinências. Há sempre um motivo para que um certo número de sufixos se implante numa língua. Seguindo a tese de se empregar o acusativo latino como o denominador comum do espírito das desinências, diríamos que o “ationem”, o “tutem” (“tribulationem”, “virtutem”, por exemplo) dão, ao latim, uma força fora do comum, ao ponto de o primeiro continuar hoje no “ation” do francês e do inglês, no “ação” do português e em tantos outros sufixos do italiano, do espanhol, do romeno, do galego e mesmo do catalão e do provençal. As palavras se formam por uma necessidade interior de transformar em som comunicável aquilo que sacode o homem por dentro. A escolha de determinados sons corresponde a uma constância de imagens e pensamentos aliada às limitações fônicas a voz humana. Se a criança aprende a dizer, primeiro, “mamãe”, “papai”, “babá”, é porque as consoantes “m”, “p” e “b”, sendo labiais, são as mais fáceis de dizer. Encontro, no “ão” português – e, principalmente, no “ão” brasileiro, tal como o usa o cantor nordestino – uma força significativa que não está de acordo com a atitude de desprezo que muita falsa elite tem para com ele. É preciso que se conquiste, na poesia, um plano de simplicidade, inclusive quanto ao aspecto cotidianamente vocabular. O “ão” de Nertan Macedo adquire, com o decorrer do poema, extraordinária beleza. Nas diversas descrições de Lampião, consegue ele dar, a esse cancioneiro, uma constante de ritmo narrativo digno de atenção:

“Seu cavalo era um fidalgo
Com narinas de trovão,
Rufava como um tambor
Na frente de um batalhão,
Uma pancada do casco
Fendia a terra do chão,
Nas cores do meio dia
Era cinzento e cardão,
Era de prata azulada,
Era vermelho alazão,
Ancas de ouro e negro,
Rompe-nuvem de algodão.”

* Costumo, de vez em quando, deixar a obra examinada, para falar de aspectos que nela não se encontram. No caso do “Cancioneiro de Lampião”, preferiria que ele fosse um “Romanceiro” e não um “Cancioneiro”. Embora alguns dicionários também considerem sinônimas essas duas palavras, o “Romanceiro” está mais próximo da narrativa de acontecimentos, de relato normal, com começo, meio e fim. “Vidinha de Castro Alves”, de Jorge de Lima, é pequena biografia em versos, de modo que conta mesmo uma história. Os poemas populares do Nordeste – de um João Martins de Ataíde, de um Rodolfo Coelho Cavalcanti – costumam, na maioria das vezes, aproveitar histórias conhecidas ou casos conhecidos na cidade, no país ou no mundo, e que tenham chamado a atenção do povo (sob este aspecto, o poeta popular faz jornalismo poético, já que comenta as notícias do momento, como é o hábito de Cuíca de Santo Amaro, na Bahia). Nertan Macedo, porém, não quis contar propriamente uma história. E estava no seu direito. Achou melhor o “Cancioneiro”. Mas creio que uma história correntia, em que Lampião aparecesse à frente de acontecimentos, ou por eles cercado, estaria mais de acordo com o espírito de forma poética utilizada por Nertan Macedo.

De qualquer modo, “Cancioneiro de Lampião” é um dos bons poemas brasileiros do momento. Nele, retoma Nertan Macedo uma fala poética que é do povo, e nele infunde novos ritmos e novos significados.


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