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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Corisco, o compadre de Lampião



Aí estão Corisco e o tenente José Rufino. 

Após a morte de Lampião, em 28 de julho 1938, Corisco matou uma família inteira que supostamente relatou o esconderijo do amigo, e durante mais dois anos ainda espalhou terror pela Bahia. 


Porém não tinha mais o apoio de tantos coiteiros e o próprio bando estava se dizimando, com muitos se entregando à polícia.

Em 25 de maio de 1940, escondido numa casa em Barra do Mendes, na Bahia, foi descoberto pelo tenente José Rufino, que deu-lhe a chance de se entregar. 


Preferiu, contudo, a troca de tiros, que tirou-lhe a vida e quase decepou um dos pés de Dada. 


Esta, porém, teve a vida poupada e foi capturada. Com a morte de Corisco o cangaço terminou completamente no nordeste.

Por Cristino Gomes da
Silva Cleto batizado,
por Alemão conhecido,
por Diabo Louro chamado,
por Louro de Fogo tido,
por Corisco apelidado.

Tão somente doze anos
mais novo que o capitão
pois em mil e novecentos
e dez, em pleno sertão
nasceu Corisco o temível
sucessor de Lampião.

Fraternalmente porém
o capitão Virgulino
sentado em torno das trempes
dava ao cruel assassino
café, enquanto o chamava
de meu compadre Cristino.

Trecho do livro “Lampião, a Força de um Líder”
de Gonçalo Ferreira da Silva

http://www.jvicttor.com.br/liquidificordel/?p=45 

Maria Bonita

Por: José Nêumanne Pinto
Rainha do cangaço, a companheira de Lampião ganhou um estudo da neta, Vera Ferreira


Trecho: “Tentamos ressaltar um olhar sobre Maria que nos conduz ao significado de uma mulher em um determinado contexto e período na história do Brasil”
Legenda: Aventura 

Ela tinha 19 anos quando saiu de casa para percorrer o sertão. Nascida e criada na Malhada da Caiçara, no sertão baiano, Maria de Déa foi destinada ao casamento, celebrado em plena adolescência, e a uma vida pacata. Aos 16 anos, casaram-na com o sapateiro Zé de Nenê, mas o lar do casal, que foi morar no povoado de Santa Brígida, ali perto, logo desmoronou, segundo as más línguas porque o varão era pacato demais para a inquietação fabril da mulher. Além do mais, o marido era estéril e a diferença de temperamento gerou conflitos que levavam o par a se separar e se reconciliar até o dia em que, no final de 1929, cruzou a soleira dos pais dela, Zé Filipe e Dona Déa, o temível Rei do Cangaço no sertão, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, aos 32 anos.


O chefe de bando era vingativo, cruel e destemido, mas também tinha lá seus laivos de herói romântico. Dos saques das fazendas dos ricaços do sertão furtava perfumes franceses de boa cepa e o melhor uísque escocês. Ao relento nos acampamentos no zigue-zague das fugas para escapar da perseguição policial, puxava um fole de oito baixos e a ele foi atribuída a autoria de um dos maiores sucessos do cancioneiro sertanejo e nacional, Muié rendeira, de cuja autoria se apropriaria, no Rio, o malandro Zé do Norte. Não era de estranhar que fizesse corte à morena e começou por lhe encomendar que bordasse suas iniciais CL (Capitão Lampião) em 15 lenços de seda, o que permitiu a abordagem e, depois, serviu de pretexto a novo encontro, que terminou com a retirada da morena separada do marido da casa dos pais. Foi, então, que a beleza da escolhida do Rei lhe deu a alcunha com que morreu na Grota do Angico, Sergipe, ao lado do amante, e que se fixou na memória do povo: Maria Bonita.

Expedita, filha do casal real da caatinga, criada no Estado em que os pais morreram, Sergipe, sobreviveu à carnificina e gerou, entre outros filhos, Vera Ferreira, que, professora universitária em Aracaju, tem mantido viva a memória dos avós e empreendeu obra de vulto para comemorar o centenário da avó. Bonita Maria do Capitão, livro trazido a lume pela Editora da Universidade do Estado da Bahia, lançado em São Paulo na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915), por R$ 100, é obra de fôlego O volume de 328 páginas, organizado pela neta, jornalista e escritora, com a cumplicidade da desenhista paraibana Germana Gonçalves de Araújo, reproduz o legado da personagem lembrada pelos caprichos e vontades, mas também pelo bom humor e descontração quase infantil, com esmero e bom gosto.

A aventura da menina que saiu de casa aos 19 anos para percorrer o sertão nordestino a pé num bando de cangaceiros até tombar, aos 27, humilhada a ponto de ter a cabeça, decepada quando ainda vivia, exposta à curiosidade popular, tem sido narrada em prosa, verso, imagem e som.
O casal, evidentemente, foi tema de muitos romances de cordel. Num deles, Sabóia, chamado de Marechal de Cordel do Cangaço, registrou: “Cupido fez passatempo / com Maria e Lampião/ ela Rainha ele Rei / governou nosso sertão / cangaço e amor viveu / não foi uma ilustração”. Rouxinol do Rinaré e Antônio Klévisson Viana versejaram: “Maria Gomes de Oliveira / amou muito a Lampião / decidiu ser a primeira / cangaceira do sertão / ignorando o destino / acompanhou Virgolino / pela força da paixão”. O livro reproduziu a capa de um cordel de Sávio Pinheiro sob título O arranca-rabo de Yoko Ono com Maria Bonita ou A desaventura de John Lennon e Lampião, editado em 2008.

Seu apelido famoso também foi muito cantado. “Acorda, Maria Bonita, / levanta pra fazer café, / que o dia já vem raiando / e a polícia já está de pé” - esta é uma estrofe de Muié Rendeira, que ou foi acrescentada depois ou se tornou, como mofou Bráulio Tavares em seu texto registrado no livro, o caso de premonição mais espetacular da história da música popular, de vez que o casal foi morto, de fato, ao amanhecer.

Seu nome também foi muitas vezes lembrado em funções de repentistas pelo sertão afora. Certa vez, Otacílio Batista glosou: “Virgolino Ferreira, o Lampião, / bandoleiro das selvas nordestinas / sem temer a perigo nem ruínas / foi o rei do cangaço no sertão, / mas um dia sentiu no coração / o feitiço atrativo do amor / a mulata da terra do condor / dominava uma fera perigosa. / Mulher nova, bonita e carinhosa / faz o homem gemer sem sentir dor”. Zé Ramalho pôs música nos versos e a canção virou tema da minissérie Lampião e Maria Bonita, na Rede Globo.

A beleza de Maria, mostrada em foto e cinema por Benjamin Abrahão, fascinou artistas plásticos como Mino e virou tema obrigatório de xilogravadores como J. Borges, Mestre Noza, J. Miguel e Marcelo Soares. Suas peças de vestuário e as joias que usava foram reproduzidas no livro, que também se refere à peça de Rachel de Queiroz sobre ela e a filmes do gênero dito nordestern que a adotaram como personagem. Como resumiu Maria Lúcia Dal Farra em poema: “Maria de Déa, Maria Bonita, minha Santinha! / Mulher de tantos nomes / tão poucos para contê-la”.

Jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde
Recriações
Artes plásticas

A permanência de Maria Bonita como personagem emblemática se fez presente nas diversas recriações feitas por artistas, reproduzidas no livro, como a retratada na xilografia de Humberto Araújo.
Cinema
A cantora Vanja Orico de Maria Clódia caracterizada como Maria Bonita no filme Lampião, o Rei do Cangaço , de 1964, dirigido por Carlos Coimbra, uma das muitas adaptações de sua história para a tela grande.
Teatro
Croqui do “vestido de caatinga”, feito pelo artista plástico Aldemir Martins em 2006 para a montagem da peça Lampião , escrita nos anos 50 por Rachel de Queiroz, encenada no Teatro Leopoldo Fróes, em São Paulo.

JOSÉ NÊUMANNE PINTO 

http://blocoson.blogspot.com.br/2012/04/maria-bonita.html

JUQUINHA: UM AMIGO QUE SE FOI, UM EXEMPLO QUE FICA

Por: João Paulo História

Ainda criança conheci um dos mais importantes personagens da história de Nossa Senhora das Dores. Naqueles idos da década de 1990, ouvia atentamente meu avô - o senhor Orestes Souza de Carvalho - falar de um homem que, na opinião dele e da maioria dos de sua geração, havia sido o maior administrador público que a cidade, criada em 1920, conheceu.

O argumento usado por meu avô para convencer-me de sua versão era o fato de que ninguém, até então, tinha calçado tantas ruas, construído tantas escolas e, o mais importante para ele, demonstrado tanto zelo pela coisa pública. Afinal, afirmava (e continua afirmando ainda hoje) que o então prefeito Antônio Cardoso de Oliveira se fazia presente no canteiro de obras a fiscalizar e orientar os operários para que os recursos fossem aplicados sem desperdício e com a mais alta qualidade na matéria-prima implementada. Além do mais, chamava sua atenção o fato de que o prefeito fiscalizava, pessoalmente, inclusive aplicando multas que irritavam alguns, a limpeza e a organização das ruas da cidade e do município.

Após conhecer S. Juquinha por meio da memória de meu avô, tive a oportunidade de pessoalmente ser apresentado a ele. O jovem daquela época, então, passou a chamá-lo de “general”, pois, na mente daquela criança de menos de 10 anos de idade, aquela figura de fala e fisionomia firmes só podia ser um “general”. E o “general” logo nomeou-me “capitão”.

Essa imagem, do exemplo de homem público que havia conhecido a partir do meu avô e depois nas idas e vindas pelo calçadão da Getúlio Vargas, ficou durante muito tempo em minha mente.

Ao tornar-me um catador de histórias passei a mergulhar ainda mais na trajetória desse personagem cuja história confunde-se com a da própria cidade. E essas pesquisas solidificaram ainda mais em minha mente a imagem construída na infância, a de um homem sério, honesto e zeloso pela coisa pública, querido, admirado e respeitado pelos familiares, amigos e adversários políticos.

Ele nasceu no dia 15 de novembro de 1922, na fazenda Poço dos Paus, município de Capela. Filho de Francisco Cardoso de Oliveira e dona Maria Clarice de Oliveira, aos quatro anos de idade mudou-se com a família para N. Sra.das Dores, onde seu pai havia adquirido, dois anos antes, a fazenda Riacho da Areia. Passaram, então, a residir no povoado Volta onde o menino Juquinha conheceu suas primeiras letras pelas mãos da professora Maria da Glória Santos, a mesma que se tornou patrona da escola do povoado Gentil—construída pelo prefeito Antônio Cardoso.

Ingressou na vida política em 1951, quando foi eleito vereador pelo PSD para o quadriênio 1951-1955, tendo recebido mais de 400 votos (algo expressivo tendo em vista o pequeno eleitorado da época). Em 1967, assumiu o cargo de Prefeito de N. Sra. das Dores pela ARENA-2. Exerceu o cargo durante os anos 1967 e 1971, tendo tido o apoio do Governo do Estado, na pessoa de Lourival Baptista (1967-1970), com quem a Prefeitura fez diversas parcerias com vistas à realização de benfeitorias na cidade.

Dentre as principais obras de sua administração vale destacar: construção de um Matadouro Modelo, o mais moderno do Estado na época, no bairro “Cruzeiro Velho”; reforma da Pç. da Matriz; calçamento na Av. Lourival Batista, Pç. Joel Nascimento, Rua Edézio Vieira de Melo, Pç. José Barreto de Souza, Av. Augusto Franco, dentre outras; construção do Centro de Supervisão Escolar, hoje DRE´05; reforma do Estádio “Lourival Baptista”, atual “Ariston Azevedo”; construção de escolas nos povoados Sapé, Ascenso, Gentio, Bravo Urubu e outros; e a mais importante delas, a construção do prédio do Ginásio “Tertuliano Pereira de Azevedo”, hoje Colégio Cenecista Regional “Francisco Porto”, que proporcionou a muitas gerações de dorenses o acesso ao ensino secundário, antes somente possível aos ricos que podiam pagar para seus filhos estudarem em Aracaju. Juquinha, eu sou um dos frutos dessa sua ação, pois, sou ex-aluno desta escola que você não deixou ser extinta.

Devido a essa destacada atuação como prefeito de N. Sra. das Dores foi homenageado, em 1969, no Iate Clube de Aracaju, como o melhor administrador público do Estado de Sergipe naquele ano. Sua simplicidade não o envaideceu por causa deste reconhecimento, que ele dizia ser “coisa de Lourival”. Não Juquinha, não foi “coisa de Lourival”, você mereceu esta justa homenagem.

Ele nasceu Antônio Cardoso de Oliveira, mas ficará imortalizado em nossa memória como Juquinha, simplesmente Juquinha, pois, simplicidade era uma de suas marcas, exemplo de amigo e de homem público, exemplo de honestidade. Afinal, como ele mesmo dizia: “Eu cumpri com o meu dever. E quem cumpre com seu dever merece ter valor.” E é com esta certeza de dever cumprido que até hoje Juquinha é reverenciado por todos os dorenses, independente de idade e filiação político-partidária, pois, mesmo aqueles que não vivenciaram sua administração, como eu, podem acompanhá-la por meio da memória dos mais velhos que o apontam como um dos maiores homens públicos que Dores já viu surgir, um homem leal, honesto e zeloso com a coisa publica, um homem com muitos predicados. Predicados reconhecidos até mesmo por seus adversários, os quais sempre foram tratados com urbanidade, com respeito.

Juquinha, você não morreu, os heróis não morrem, ficam para sempre vivos na memória dos homens de bem!

Obrigado pelo seu exemplo e pela sua amizade!

Descanse em Paz meu “general”, sei que neste momento você está nos braços do Pai, ao lado daqueles que você tanto amou!

Esta é uma pequena homenagem do seu amigo, o “capitão”!

N. Sra. das Dores (SE), 12 de setembro de 2012.


João Paulo Araújo de Carvalho

Enviado por:  Paulo Paulo História