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sábado, 29 de março de 2014

GAZETA DO POVO – 26/04/1926 LAMPIÃO GLORIFICADO!

Por Antonio Corrêa Sobrinho 

A glorificação de Lampião. Eis um dos fatos mais estranhos que ainda de se tem visto, na imprensa carioca.

Esse bandido devasta, há anos, vastas regiões do Brasil. A soma dos seus crimes é considerável. Ele vive pondo em sobressalto populações pacíficas. Pois bem: depois de tudo isso estamos a ver a figura sinistra desse celerado a receber loas e cânticos todos os dias.


Há dias Lampião teve a ventura de uma reprodução de sua fotografia em dois jornais do Rio. E ambos, esses jornais contavam, romanceando-a quanto podia, a história desse miserável, irmão de Antonio Silvino, pelo truanesco pavor que semeia por onde anda.

É de recear o que já tem sido prognosticado que a lenda da bondade, da ternura e da infelicidade se aposse definitivamente desse bandido, cercando a sua fronte de um esplendor augusto. 

Então teremos em Lampião a imagem bela e superior de um homem obrigado a ser mau pela iniquidade da vida.

Eis o que se arriscam a fazer os nossos confrades, que tanto excitam esse cangaceiro. 

No fundo de um sertão esse assassino, esse miserável não pode imaginar que vai crescendo a sua fama aqui no Rio, como se ele fosse um desses belos e altos heróis das canções de gesta.

(do Jornal do Brasil) 

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Págs.: Antonio Corrêa Sobrinho
Lampião, Cangaço e Nordest

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A lenda de Lampião e Maria Bonita continua.

Por Fabíola Ortiz



Antropólogos ainda não conhecem ao certo as técnicas utilizadas na mumificação do casal ou onde estão as cabeças do rei e da rainha do cangaço.

"Se, para muitos, Lampião foi um bandido sanguinário, para muitos outros foi um herói e continua a ser uma fascinante e lendária figura.” É desta forma que o rei do cangaço é descrito em reportagem publicada na revista O Cruzeiro, em 6 de junho de 1959, intitulada Justiça para Lampião. O fascínio que despertam a história do cangaço e a imagem das cabeças decepadas dos cangaceiros expostas segue intacto 76 anos após a morte de Lampião e Maria Bonita, em 28 de julho de 1938.

Em uma emboscada na madrugada daquele dia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram contra o bando de 35 cangaceiros na Grota do Angico, na margem do rio São Francisco, no município de Piranhas. Após um rápido combate, Lampião e Maria tiveram suas cabeças decepadas e, posteriormente, exibidas nas escadarias da prefeitura local, ao lado de outras de componentes do seu grupo. Depois, por 30 anos, as cabeças foram expostas no museu do Instituto Nina Rodrigues, em Salvador. Por lá passaram também as cabeças dos cangaceiros Corisco, Azulão, Zabelê e Canjica.


A preservação das cabeças embalsamadas de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria Bonita ainda gera questionamentos e discussões entre legistas, antropólogos e historiadores. Antropólogos do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, querem agora desvendar em que condições as cabeças foram manuseadas e embalsamadas.

Estácio de Lima 

O então professor da Faculdade de Medicina e diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues na década de 50, Estácio de Lima, confirmou na ocasião da matéria de O Cruzeiro que as cabeças haviam sido conservadas pelo método egípcio de mumificação. Elas representam “documentos inestimáveis” de uma época da criminalidade brasileira, comentou.

“As informações que existem é que foram usadas técnicas egípcias. É exatamente isso que queremos descobrir. Por que usar como parâmetro a técnica egípcia? Provavelmente não foi usada a técnica completa, inclusive porque ela não é conhecida detalhadamente”, contou à História Viva a antropóloga biológica Cláudia Carvalho, diretora do Museu Nacional no Rio.

Sabe-se que o processo de mumificação no antigo Egito envolvia uso de resinas, essências aromáticas, limpeza com água do Nilo, retirada do cérebro pelo nariz, dos fluidos corporais e uma cobertura de sal por um longo período.

“Acho muito difícil que tenham sido seguidas essas técnicas. As cabeças foram aparentemente salgadas num lugar e levadas para outro. A temperatura e a umidade controladas não eram uma possibilidade naquela época. Não dá para saber se o resultado da técnica foi bom ou não”, admitiu Cláudia, ao duvidar que as sofisticadas técnicas milenares tenham sido utilizada no Nordeste na década de 1930.

(...)

http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_lenda_de_lampiao_e_maria_bonita_continua.html 

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PADRE BULHÕES - Santana do Ipanema/AL ( C R Ô N I C A)





Durante anos a sua casa foi um orfanato...
 
Fonte: Luiz Nogueira Barros

Impossível esquecê-lo. Era árido como o sertão em tempos de seca. Mas tal o mandacaru, resistente planta dos sertões, tinha água e sabia doá-la para os necessitados e perdidos naquelas plagas longínquas, nas horas cruciantes. Sua casa era um porto seguro para os desamparados da sorte. E o seu olhar, por vezes severo, escondia a complacência própria dos homens de grande santidade.

Muitas vezes era visto no sítio do fundo da sua casa ao lado do Camoxinga como um homem comum a mexer com a terra, calejando as mãos, sonhando flores e frutos. Ou então na sua batina surrada, subindo a ladeira, apressado, na direção da Matriz de Senhora Santana, onde as obrigações religiosas completavam a sua modesta existência.

Abusado? Era-o, de fato. E quando precisava dar alguma lição de moral para algum herege suas palavras terminavam sempre assim:

- Compreendeu...compreendeu...compreendeu, seu safado?

Se compreendido, a sua complacência de pastor de almas mostrava, de súbito, o lado bom do seu coração. Seu passo seguinte era o de recuperar o herege.

Durante anos a sua casa foi um orfanato onde meninos e meninas desvalidas se fizeram moças e homens. Até mesmo, um dia, recebeu um bilhete de "Corisco", lugar-tenente do temido cangaceiro "Lampião", que lhe enviava um filho recém-nascido, que não podia crescer naquela vida do cangaço. Falava-se, à boca miúda, que "Lampião" e "Corisco" tinham uma devoção com Senhora Santana, além de respeitarem o seu pároco. E que por isso jamais entrariam nos domínios da santa. E o menino se fez homem à sombra daqueles domínios sagrados.
 
Mas padre Bulhões tinha um grande amigo, o "Seu" Edmundo, o chefe do Leilão da Santa. Fabricante de "gengibirre", um delicioso suco de gengibre, "Seu" Edmundo o vendia em garrafas de louça com rolhas fortemente amarradas por barbantes.Tanto que, retirados os barbantes ouvia-se um estampido semelhante aos das garrafas de champanhe e logo depois o suco borbulhante descia como cascata pela boca da garrafa enlouquecendo o apetite dos meninos.

"Seu" Edmundo, assessor de muitas viagens do padre Bulhões pelos distritos, num velho "jipe", tinha as mesmas afobações do seu inseparável amigo. E um dia, numa viagem para Cacimbinhas, os dois se esqueceram de acertar a hora dos seus relógios. Como tinham compromissos diferentes marcaram o retorno para as três da tarde. Deu quatro horas e "Seu" Edmundo não chegava. Afobado, padre Bulhões decidiu-se por voltar. Ao chegar, pela hora do seu relógio, "Seu" Edmundo não acreditou no recado que recebera. Também afobado, decidiu-se por voltar a pés. Lá na frente, arrependido, o velho pároco voltou. Avistou "Seu" Edmundo e foi ríspido:

- Suba aí! Você se atrasou!

E ouviu:

- Eu não! Seu relógio é que está errado! Prefiro ir andando, pois para isso Deus me deu os pés.

Daí por diante os dois, um no “jipe” e outro andando, foram vencendo os quilômetros com ásperas discussões. E ao final da tarde chegaram aos domínios de Senhora Santana. Antes de entrar em sua casa "Seu" Edmundo ainda ouviu do seu amigo:

- Eita homenzinho teimoso e endiabrado.

E respondeu-lhe:

- Vai-te embora Satanás, que preciso descansar. Depois a gente resolve essa questão.

Fonte:
Gazeta de Alagoas, 14.02.93


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