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sexta-feira, 20 de maio de 2016

O MAIS NOVO LIVRO DO POETA E ESCRITOR JOSÉ EDILSON DE ALBUQUERQUE GUIMARÃES SEGUNDO




O livro "NAS TRILHAS DE MEU AVÔ" pode ser adquirido: Em Mossoró na Livraria Independência. Em Natal na Livraria Nobel, da Avenida Salgado Filho.
O valor do livro é 30,00 reais.

Um grande abraço,
Edilson Segundo

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JOÃO NETO & CHICO IVO - NO TEMPO DE LAMPIÃO CABRA PISAVA MANEIRO.AVI


Enviado em 14 de janeiro de 2012
Mote em homenagem a Lampião o maior cangaceiro brasileiro.
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I FESTIVAL DE MÚSICAS DO CANGAÇO - JÚNIOR VIEIRA - LAMPIÃO REI DO CANGAÇO

https://www.youtube.com/watch?v=xLPnlO2kYRE&feature=youtu.be

Enviado em 10 de fevereiro de 2011
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MEMÓRIAS do ALTO de JOÃO PAULO (e a CANGACEIRA ADÍLIA)

Por Rangel Alves da Costa ...(crônica)

O Alto de João Paulo é uma das comunidades mais antigas de Poço Redondo. Localizado a cerca de um quilômetro após o Riacho Jacaré, com acesso por chão batido e com dificuldades de chegada quando o riachinho bota cheia. Sempre serviu de passagem daqueles que saíam da sede municipal em direção às outrora grandes propriedades, a exemplo do Morro Vermelho e Riacho Largo.

Mas outros tantos ali decidiram fincar moradia, não só pela localização privilegiada, pois num terreno elevado, como pela facilidade de criação de pequenos rebanhos e a proximidade da mata de muita caça e algum fruto. Os quintais, compridos, imensos, se misturavam aos roçados e a mataria. Em determinadas estações, o clima refrescante também se mostrava como um convite à permanência.

A comunidade do Alto nasceu quase como um núcleo familiar, vez que a maioria dos antigos moradores possuía parentesco comum. Durante muito tempo a povoação manteve a feição de sertão empobrecido, com casas rústicas, levantadas no cipó e barro, tendo o sombreado das grandes árvores como os locais de proseados dos sertanejos depois da luta do dia.

Nos arredores, as moradias das raízes dos Braz, dos Maximino, dos Mulatinho, dos Sarmento, e tantos outros. Famílias com muitos filhos, criados fortes no alimento da caça e da farinha seca, do feijão de corda e da carne de bode. Todos hábeis no trabalho da terra, da foice, da enxada, da vaqueirama, do trabalho em couro, no fole soprando a brasa para amolecer o ferro do chocalho. Ali no Alto a arte de Galego, o ofício de moldar o ferro até o chocalho tilintar bonito no pescoço da rês.

Só na família de Paulo Braz São Mateus vieram ao lume sertanejo uma filharada de perder a conta. João Paulo, Abdias, Humberto e os ex-cangaceiros Novo Tempo (Du), Mergulhão (Gumercindo), Marinheiro (Antônio) e da famosa Sila (Ilda Ribeiro de Souza), e certamente outros filhos e filhas. Não era diferente com outros troncos familiares, pois até hoje as extensas linhagens estão presentes em muitos sobrenomes da cidade.

Vida difícil, de dura sobrevivência, mas leve e remansosa o suficiente à felicidade. Ora, o povo do Alto sempre foi um povo alegre, festeiro, feliz, acolhedor. Um de seus moradores mais famosos e que acabou tendo seu nome acrescido ao nome do lugar, João Paulo, sempre parecia tomado de prazer incontido no reencontro de amigos e conhecidos. Alto, esbelto, de chapéu de couro sempre à cabeça, já despontava com uma boa palavra à boca.

João Paulo, pelo seu jeito humano e afetuoso, aos poucos foi se transformando em verdadeiro símbolo da comunidade, ainda que na povoação residisse, até 2002 (ano do seu falecimento, aos 82 anos), um símbolo vivo da história nordestina: Maria Adília de Jesus, a ex-cangaceira Adília, companheira de Zé Sereno até sua morte, pouco tempo depois do fogo de Angico em 1938.

Enquanto João Paulo e tantos outros se compraziam em brincar e bebericar aguardente com raiz de pau, de pular o riacho e ir à cidade, Adília gostava de viver recolhida na sua humilde moradia familiar, casinha de taipa, onde trouxe ao mundo os oito filhos do seu casamento após a morte de Canário e o fim do cangaço. Somente depois conseguiu levantar no tijolo outra moradia, quase ao lado da antiga. Ainda hoje se avista a casa de Adília, recentemente pintada de verde.

A cangaceira Adília

Somente a muito custo, Alcino Alves Costa, importante liderança política de Poço Redondo e pesquisador da história do cangaço, conseguia trazê-la até a cidade, onde se mantinha em proseado com Dona Peta e sendo considerada como da própria família. Mas ao entardecer retornava à sua cadeira de balanço na sua povoação e às suas memórias veladas em silêncio.

Atualmente o Alto de João Paulo vem sendo muito transformado nos seus arredores. O antigo núcleo habitacional continua o mesmo, diferenciando apenas na maioria das casas de barro que deu lugar a novas moradias, coloridas e vistosas. O grande diferencial está mesmo nas grandes construções que avançam estrada acima, até beirar ao centro da povoação. São residências potentadas, grandiosas demais para um local que continua sem asfalto, sem esgoto, sem a mínima infraestrutura.

E chegará o tempo, infelizmente, que o Alto será engolido pelo progresso. E ficará somente a história. E o nome e os sobrenomes gestados e que ainda permanecerão em muitas raízes.

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OS FILHOS DE CHICO FLOR

Material do acervo do Maelbe Nogueira

Os filhos de Chico Flôr: Maria Amélia, Ildelídia, Joaquim Flôr, Miguel e Antônio Chico. Valorosa família que muito lutaram na defesa de Nazaré. 

Abaixo, José Flôr e Lero Chico filhos de Chico Flôr

José Flôr

Quando a Força de Nazaré perseguia Lampião no município de Betânia, o coiteiro Batista Né mandou um bilhete informando a presença da Força. Lampião perguntou ao portador o nome dos soldados que vinha na Força.

Lero Chico o nazareno de grande importância na luta contra o cangaço!

O portador disse o nome de todos. Lampião disse: 

- "A Força é boa e valente" 

Só uma coisa fez Lampião ficar seriamente preocupado, olhando para o chão, foi quando soube que o compadre e amigo José Flôr vinha na força. Sem olhar pra ninguém, cortando a fala, exclamou dizendo: 

- "É isto, até o compadre José Flôr vem me perseguindo! O meu companheiro de farras, nas festas e nas pegas de boi, afamado!" 

(MEMÓRIAS DE UM SOLDADO DE VOLANTE - JOÃO GOMES DE LIRA)

Fonte: facebook
Página: Maelbe Nogueira
Link: https://www.facebook.com/groups/ocangaco/?fref=ts

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LIVROS DO GERALDO MAIA DO NASCIMENTO


ATENÇÃO: Novo livro do cangaço publicado: 

AMANTES GUERREIRAS: A Presença da Mulher no Cangaço, de Geraldo Maia do Nascimento, Natal-RN: Editora do Sebo Vermelho, 2015, 132 páginas. O pesquisador do cangaço, Geraldo Maia do Nascimento, também conhecido por GMaia, nascido em Natal e radicado em Mossoró, relança o Livro: AMANTES GUERREIRAS:..., agora em 2ª Edição, com o conteúdo ampliado, ou seja, com 132 páginas. O Autor faz uma compilação de quase 100 nomes de cangaceiras. O livro pode ser adquirido com o Professor Francisco Pereira Lima, em Cajazeiras-PB ou no Sebo Vermelho, em Natal-RN. - Carlos Alberto

No dia 17 de Agosto o professor Pereira estará  com esse excelente livro à disposição dos amigos, ao preço de R$35,00 com frete incluso. 

Pedido: franpelima@bol.com.br


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MOSSORÓ NA TRILHA DA HISTÓRIA

ANOTAÇÕES


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A CADEIA VELHA DE POMBAL

VERNECK ABRANTES (*)

A cidade de Pombal localiza-se no alto sertão da Paraíba, foi o primeiro núcleo populacional do interior sertanejo. Foi ela quem deu origem a outros núcleos habitacionais da região. Na velha cidade, entre outros marcos históricos, destaca-se a Velha Cadeia, que mantêm ainda suas linhas arquitetônicas, denunciando em nosso tempo, a introdução de um marco da era imperial no alto sertão paraibano. Desativada como presídio, a Velha Cadeia deveria ser o Museu do Cangaceiro, o que bem caracterizaria sua história, mas o projeto não foi adiante. Alicerçada no ano de 1848, famosa porque concentrava presos perigosos do Estado e cangaceiros da década de 20 e 30 do século passado, a Velha Cadeia não abriga mais presos, mas uma instituição denominada de Casa da Cultura, necessitando de mais zelo e maior identificação com sua história. Em suas celas de parede largas e piso de tijolos rústicos passaram muitos criminosos que marcaram época, a exemplo: Donária dos Anjos, que durante a seca de 1877, segundo a própria, “para não morrer de fome”, matou uma criança e comeu sua carne. O bandido “Rio Preto”, que se dizia, tinha um pacto com o diabo: “era curado de bala e faca, no seu corpo os punhais entortariam as pontas e as balas passariam de raspão”. Ferido à bala por vingança, “Rio Preto” morreu dentro da velha cadeia. Outro preso famoso foi Chico Pereira, que após a morte de seu pai se fez um dos grandes chefes do cangaço no sertão da Paraíba. Os fanáticos Pretos da “Irmandade dos Espíritos da Luz”, chefiados por Gabriel Cândido de Carvalho, depois da prática de crimes, também tiveram sua participação na história da velha cadeia. Mas entre muitos acontecimentos, um se destaca pela audácia: Jesuíno Brilhante, cangaceiro inteligente, com certa instrução educacional, foi protagonista da história, que se deu da seguinte forma: Lucas, irmão de Jesuíno, cometeu um crime em Catolé do Rocha, foi preso e remetido, havia tempo, para cadeia de Pombal, onde estavam mais de 50 presos da cidade e de outras vizinhanças. Como o julgamento estava demorando, Jesuíno tomou a decisão de libertar o irmão. Às duas horas da manhã de 19 de fevereiro de 1874, numa quinta feira, chovendo bastante, não havendo ronda noturna, Jesuíno Brilhante, seu irmão João Alves Filho, o cunhado Joaquim Monteiro e outros, perfazendo um total de oito cangaceiros, todos montados a cavalos, atacaram de surpresa a Velha Cadeia, que na época era guarnecida por um cabo, onze soldados da Guarda Nacional e um da Polícia. Despertando-os a tiros, dizendo em voz alta os nomes dos primeiros atacantes, destacados como os mais importantes do bando, dando viva a Nossa Senhora, os oitos cangaceiros conseguiram dominar todos os soldados. Enquanto isso, os presos acendiam velas e lamparinas para iluminar as celas. Os cangaceiros se apoderaram das armas e munições, distribuiriam com presos que, aos poucos, iam ganhando liberdade e ajudando no ataque. Arrebentaram cadeados, fechaduras, dobradiças, grades e saleiras com pedras, machados e outros instrumentos. Foi um verdadeiro levante, na maior algazarra. Depois se retiraram gritando pelas ruas, quando já se tinham evadido 42 presos de justiça, ficando 12 que não quiseram fugir. Os fugitivos tomaram rumos diversos, não constando nos autos a captura de um só criminoso. Nunca tantos presos deveram tanto, a tão poucos bandoleiros. Hoje, a Cadeia Velha, que resiste à passagem do tempo, é um marco da era imperial encravada no sertão da Paraíba, uma relíquia da memória pombalense, que faz parte do centro histórico da nossa querida cidade. Então, quando estiver em Pombal, visite a Cadeia Velha – A Casa da Cultura – os seus passos serão os de muitos que ali passaram e fizeram história, infelizmente, de muitos crimes. 

(*) Agrônomo, pesquisador e sócio da SBEC.

http://lentescangaceiras.blogspot.com.br/2009/01/cadeia-velha-de-pombal.html

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O ATAQUE DE LAMPIÃO A UIRAÚNA - PB

Por Sérgio Dantas

Uma vitória da inteligência sobre a força

Há meses Lampião sumira dos noticiários dos jornais. O ano de 1926 encerra-se sem grandes novidades sobre a horda do famoso cangaceiro de Vila Bela. Bem instalado e seguro no ‘coito’ da Serra do Diamante, do poderoso Coronel Isaías Arruda, Lampião sai da aparente inatividade apenas em fins de abril de 1927. Naquele fim de mês, o bandoleiro deixa o refúgio e pratica assaltos em pequenos vilarejos situados na região noroeste da Paraíba, entre os municípios de Cajazeiras e São José de Piranhas. São ataques rápidos, com vistas apenas ao saque. A proximidade desta parte da Paraíba com o valhacouto do ‘dono’ de Missão Velha facilita sobremaneira a ação do bando.

Alguns dos defensores de Uiraúna. Ao centro, de paletó escuro, Luiz Rodrigues. Na extrema direita, sentado, o Subdelegado Nelson Leite.

De fato, no dia 15 de maio daquele ano, liderando uma falange de cerca de trinta e cinco homens, Lampião se prepara para tomar de assalto a Vila de Belém do Arrojado - atual cidade paraibana de Uiraúna. Há dias que ‘olheiros’ residentes em sítios da fronteira já haviam sondado o vilarejo e o cangaceiro – decerto bem ciente das condições do lugar – crê que tem plena chance de sucesso na empreitada que pretende levar avante.

o Arruado de Belém situa-se junto à fronteira do Rio Grande do Norte e é então inexpressivo. Ali não há mais que cento e trinta casas e uma igreja singela. Comércio pobre ou quase inexistente. Também ali não está destacado sequer um contingente policial para manutenção da ordem ou para oferecimento de uma defesa – mesmo que acanhada – no caso de um eventual ataque de cangaceiros. A ‘ordem’ no povoado é garantida somente por um Subdelegado civil, o potiguar Nelson Leite. Apesar de reiteradas notícias sobre incursões de cangaceiros naquela parte da Paraíba nos últimos dias, o Governo do Estado parece ignorar os eventos propalados pelos jornais e pela boca do povo. Apesar de vários reclamos por parte de proeminentes de Belém, o Estado não enviara tropa regular para a localidade.


O início da tarde daquele dia 15 de maio, no entanto, o sertanejo Leonardo Pinheiro percebe a marcha de cangaceiros em direção a Belém. Sem demora, espora o cavalo e entra no povoado em sonoro alarde:

-“Vem cangaceiro por aí! Vem cangaceiro por aí! Parece que é Lampião e não está a mais que umas duas léguas!”

Enquanto a horda marcha em busca do vilarejo, Nelson Leite se apressa em organizar uma defesa. Sangue quente, cioso de suas obrigações, Leite parece disposto a sacrificar a própria vida na defesa da comunidade que lhe fora confiada.

Abandonados à própria sorte, os habitantes de Belém – incentivados por Nelson Leite - tratam de se armar e garantir a resistência do lugar. Civis são convocados e há mesmo os que comparecem voluntariamente para pegar em armas. Ao final do rápido recrutamento, chega-se à desanimadora soma de onze homens apenas. Um contingente ínfimo que tentará rechaçar um bando com cerca de trinta e cinco cangaceiros. Uma luta desigual – se considerarmos a proporção de três bandoleiros para cada defensor e a falta de experiência de guerrilha dos citadinos. Por volta das dezessete horas, finalmente, Lampião avizinha-se da Vila. O frágil agrupamento de casas lhe parece excessivamente frágil e torna-se ainda mais amiudado pela sombra da serra de Luís Gomes, não muito distante dali. “Um alvo fácil”, provavelmente terá pensado o poderoso cangaceiro. O desenrolar dos fatos, porém, lhe revelará um grave erro de prognóstico.

Em que pese a correria desenfreada que se seguiu ao alarma dado por Leonardo Pinheiro, os homens de Nelson Leite aprestam munição e armas. Tudo é feito com rapidez e disciplina.Ao mesmo tempo, mulheres, velhos e crianças – a seguir igualmente os apelos do Subdelegado – buscam refúgio na caatinga ou em sítios de familiares fincados nos arredores de Belém. Pequenos “tesouros” são previamente enterrados em lugares seguros. Potes de barro, caixas de papelão, latas de querosene: qualquer coisa serve como invólucro para as ‘economias’ adquiridas ao longo de anos de trabalho.

Em pouco tempo, os defensores se organizam e estão posicionados em lugares previamente definidos pelo Subdelegado. Dedos nervosos aguardam o desfecho do ataque. Uma testemunha registra os momentos iniciais do entrave:

“O ‘delegado’ Nelson Leite distribuiu uns homens nos pontos mais altos da rua principal, dois outros guarnecendo as laterais e três instalados no teto da Igreja. Quando Lampião entrou com o bando, pela ‘rua velha’, começou a fuzilaria”. (Sinforosa Claudina de Galiza, entrevista).

Nelson Leite, de fato, engendrara bom plano. Distribuíra os poucos rifles e fuzis disponíveis com os onze defensores. Repartiu com irrepreensível parcimônia a rala munição que tinha ao seu dispor. Os melhores atiradores foram destacados para pontos estratégicos. Na teto da igreja - prédio mais alto e com abrangente visão dos arredores - posicionaram-se Luís Rodrigues, Moisés Lauriano, José Teotônio e Joaquim Estevão. O tempo corre lento. Não há novidades. Até perto das oito horas nem sinal da sinistra patuléia de chapéu de couro. A espera alongada transforma as trincheiras em ninhos de ansiedade.

Matriz Jesus, Maria e José, Uiraúna atualmente.

De súbito, Luís Rodrigues dá o alarma. Alguém se aproxima. O luar denuncia vultos sorrateiros. Homens armados aproximam-se do povoado pela ‘rua da Proa’. É o início da invasão. De pronto, grande incêndio ilumina a noite na pequena Belém. Grossas labaredas passam a consumir a casa de um agricultor e espalham-se rapidamente para um antigo curral e plantação de milho já há dias quebrado. O incêndio. Método infalível para incutir terror aos sitiados.

Josefa Augusta Fernandes, bem jovem à época do evento, anota a origem do fogaréu:

"Lampião começou destruindo a propriedade do finado João Gabriel, tendo em seguida tocado fogo nos currais e nas plantações de feijão e milho. O fogo serviu para alertar os homens da cidade, sendo que eles já estavam em posição nos principais pontos daqui”. (Maria do Socorro Fernandes, entrevista).

Não havia mais o que esperar. Ao primeiro grito de comando de Nelson Leite, trava-se pesado tiroteio. Lampião, decerto, não esperava semelhante reação. A fantástica fuzilaria oriunda da Vila lhe faz recuar. De efeito, os tiros vindos da rua da Proa tornam inviável uma entrada por aqueles lados.

Sem sucesso na primeira investida, o chefe de cangaço tenta confundir os defensores entrincheirados. Sob sua batuta, os bandoleiros passam a gritar, urrar como animais e a praguejar insultos e xingamentos aos defensores e suas famílias. A permear a gritaria, grossas baterias de tiros.

O rei-do-cangaço deseja tomar Belém. Tentará de todas as maneiras penetrar no vilarejo para vilipendiar suas casas e lhes extrair até o último ‘cobre’. Sem demora, ordena aos comandados a ‘abertura’ de uma linha de fogo pela lateral, com o fito de invadir a Vila pelo flanco oposto.

Nada, entretanto, parece gerar resultado prático. A posição privilegiada dos atiradores locados no telhado da igreja permite que tiros sejam disparados em todas as direções. A resistência agiganta-se com estrondos de repercussão fantástica e de curiosa origem. Nelson Leite improvisara – no pouco tempo que dispôs antes da consecução do ataque - algumas “ronqueiras” e logo começou a fazer uso dos artefatos. Os estrondos causados pelas bombas caseiras são assustadores e surpreendentemente surtem efeito. Um simples improviso que, ao que tudo faz crer, parece realmente ser a chave para uma vitória. (1)

Em pouco, qualquer objeto metálico em formato cilíndrico - e vazado pelo menos em um dos lados - torna-se invólucro para manufatura dos pesados rojões. Joel Vieira, com dezoito anos à época do fato, registrou em depoimento:

“Os que estavam no alto da Igreja, começaram a atirar de ponto e também para dentro da igreja, causando um eco que parecia canhão. O Subdelegado também tinha improvisado umas ‘ronqueiras’, feitas com pólvora socada dentro de latas, e de quando em quando estourava uma. Já estava escuro, e aqueles tiros davam a impressão que havia um canhão com a gente”.

No alto da igreja, Luis Rodrigues - artilheiro mais aguerrido – resolve acrescentar estrondos adicionais aos estampidos das ‘ronqueiras’ improvisadas pelo Subdelegado. Dessa forma, com o intuito de causar impacto ainda maior, começa a atirar quase em paralelo à lateral da nave do prédio sagrado. Estrondos fantásticos, causados pelo eco do salão quase vazio, dão ainda mais ânimo aos outros defensores entrincheirados no teto da igreja. Decide-se que alguns deles, alternadamente, passarão a atirar também para dentro da nave.

A estratégia funciona. Os estrondos se multiplicam. De fato, para quem está do lado de fora, resta a impressão de que algum tipo de canhão está sendo utilizado. Os cangaceiros, atarantados, mantém posição de cautela e não avançam. O escuro da noite enevoada pela fumaça dos disparos os impedem de enxergar, na verdade, o tipo de “arma” adicional que ora se usa na defesa do arruado. O engodo paulatinamente funciona.

No calor da peleja, porém, passos apressados denunciam silhueta humana esgueirando-se próximo à igreja. A escuridão da noite não permite distingui-la com precisão. Da torre principal um defensor atira. O civil Antônio Correia é atingido. Confundiram-no com um cangaceiro. Correia morre pouco tempo depois em razão do profundo ferimento à altura do pulmão. É a única baixa durante o combate.

Os cangaceiros não desistem e tornam a investir contra o território inimigo por uma ruela lateral à igreja. Lampião brada ordens aos seus homens. Todos, contudo, parecem hesitar em razão dos estrondos que continuam a reverberar entre as casas da pequena Belém.

Do lado dos defensores, um voluntário prontifica-se para preparar novas ronqueiras, de forma ininterrupta, servindo-se como espécie de municiador.

Dominado pela ira, Lampião manda reacender o fogo que arde tênue na propriedade de João Gabriel. O vento rapidamente espalha as labaredas em espantosa velocidade. As chamas consomem vacas e bezerros cativos no cercado contíguo a casa. Urros de dor de animais engolidos pelas chamas desenham dantesco suplício. Poucos escapam ao bizarro holocausto.

A derradeira tentativa de conquista do povoado fracassa. Com pesar, os cangaceiros reconhecem que não conseguirão penetrar em Belém.

O desconhecimento dos pontos de defesa, o espocar das “ronqueiras”, o ribombar de tiros reverberados pelo salão da igreja, a configuração física da vila, o cansaço da longa marcha até ali. Tudo parece sugerir uma retirada. Lampião não demora em perceber o malogro da empreitada:

- Vamos sair para economizar munição! – grita furioso.

Ainda se ouvem tiros por mais um quarto de hora. Aos poucos os cangaceiros se retiram do campo de luta. Disparos tornam-se esparsos. Ao compasso da retirada, a fuzilaria regride até reinar o mais absoluto silêncio. Lampião e seus homens deixam Belém em definitivo. É ainda Joel Vieira quem destaca:

“Eles tentaram muito, mas não conseguiram entrar. Antes das sete horas da noite, já tinham ido embora. No dia seguinte, o festejo foi grande, pois todos pensavam que ia morrer muita gente, mas não. Apenas um rapaz morreu vítima de uma ‘bala doida’ e caiu ali perto da Igreja. Tirando o incêndio na propriedade de João Gabriel, o prejuízo aqui foi pouco. Com pouco recurso, a gente botou Lampião prá correr!”.

E Lampião, de fato, jamais voltou a Uiraúna. Nos dias seguintes, um telegrama é enviado para as principais cidades do sertão do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Anunciava-se a vitória de um povo contra o poderoso rei do cangaço. O Intendente local assinou o comunicado:

“Fomos atacados dia 15 famigerado Lampião. Resistimos cerrado fogo, bandoleiros recuaram. Vítima tiroteio Antônio”. (a) José Caboclo.

É a vitória inconteste de um sumário grupo de cidadãos contra quase quarenta cangaceiros. Uma vitória nascida da confiança de homens do povo; sertanejos comuns. Não houve – como aconteceu em Mossoró – um grande lapso de tempo para a preparação de uma defesa. Não houve reuniões; não se teve tempo para comprar armas modernas. Não havia sequer uma torre na igrejinha da cidade. Existia, apenas, a vontade de preservar os próprios lares.

Uiraúna se defendeu heroicamente, a exemplo da resistência mostrada pela pequena Nazaré, em Pernambuco, quatro anos antes. Uiraúna impediu a entrada dos cangaceiros de Lampião como faria a população sergipana de Capela, liderada pelo destemido Mano Rocha, três anos mais tarde.

A vitória do povo de Uiraúna foi obtida sem recursos, sem alarde e sem exploração midiática posterior. Vitória conseguida sem um ‘notável planejamento prévio’ e sem colóquios barulhentos. Vitória de um pequeno grupo de homens pegos de surpresa pelo maioral do cangaço. Vitória, porém, recheada de atos do mais real e verdadeiro heroísmo. Vitória, enfim, da inteligência sobre a força.

Sérgio Dantas

Sérgio Augusto S. Dantas é autor dos livros “Lampião no Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada” (2005), “Antônio Silvino – O Cangaceiro, o Homem, o Mito” (2006) e “Lampião: Entre a Espada e a Lei” (2008).

NOTA:
(1) s.f. – Ronqueira: “Cano de ferro, preso a uma tora de madeira e cheio de pólvora, o qual produz grande detonação quando se lhe inflama a escorva”. (Aurélio). As ronqueiras já haviam sido largamente usadas em revoltas populares, como na guerra de Canudos. N do A.

FONTES UTILIZADAS:
A União, edições de 17 e 18 de maio de 1927.
DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. LAMPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE – A HISTÓRIA DA GRANDE JORNADA. Editora Cartgraf, Natal/RN. 2005. 452 pgs.
SOUZA, Tânia Maria de. UIRAÚNA NO ROTEIRO DE LAMPIÃO, in Revista Polígono, 1997, 158 pgs.
Entrevistas concedidas ao autor por Maria do Socorro Fernandes (2003), Joel Vieira da Silva (2001), Josefa Augusta Fernandes (2000) e Sinforoza Claudina de Galiza (2000).

Matriz Jesus, Maria e José, Uiraúna atualmente.

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2009/12/o-ataque-de-lampiao-uirauna-porsergio.html

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ALCINO E O CANGAÇO

*Rangel Alves da Costa

Alcino Alves Costa, cidadão poço-redondense, só veio ao mundo depois que o último vestígio do cangaço arrefeceu. Com efeito, quando Corisco foi morto de emboscada em 25 de maio de 1940, Alcino ainda gestava em Dona Emeliana, sua mãe. Com menos de um mês é que veio ao mundo sertanejo.


Nascido a 17 de junho de 1940, um pouco menos de dois anos da chacina de Angico e a morte de Lampião, sua Maria tão bonita e mais nove cangaceiros, Alcino sequer imaginava que aquele chão que pisava ainda guardava o rastro de uma história sem fim. Eis que o fim do cangaço é o fim apenas do personagem, jamais do contexto.

Mas, sem ter vivido naqueles idos, sem ter, enquanto meninote, corrido mata adentro com medo de Lampião e seu bando, o que Alcino tem a ver com o cangaço, além de sua reconhecida escrita sobre o tema? Muito mais do que se possa imaginar. 

Ora, Alcino nasceu em Poço Redondo. E o que significa este lugar na saga cangaceira? Alcino teve o seu tio Manoel Marques, irmão de sua mãe Emeliana, arribado no cangaço como o nome de Zabelê. Alcino casou com Maria do Perpétuo, filha de China, um dos maiores amigos do Capitão Lampião. 

Quer dizer, Alcino era sobrinho de cangaceiro, genro de protetor e amigo do cangaço, vivendo num lugar que havia sido berço de mais de três dezenas de cangaceiros, bem como de renomados coiteiros. Filho de um sertão que traduzia fielmente a história e conterrâneo de muitos que ajudaram a construir suas páginas.

E quando cangaço se findou e muitos dos sobreviventes passaram a viver sobre as cortinas do esquecimento, eis que Alcino bradou pelo reconhecimento e valorização de todos aqueles sertanejos intrépidos e destemidos. E assim com o ex-cangaceiro e o ex-coiteiro.

2 cangaceiras Adília à esquerda e Sila à direita

Foi amigo cordial de Sila, a quem muito ajudou quando a ex-cangaceira e esposa de Zé Sereno descia de São Paulo para visitar os seus de imensa família. E por Adília mantinha uma profunda amizade, tornando-a como verdadeira integrante da família e a protegendo e acolhendo em muitas de suas necessidades.

 Coiteiro de Lampião Mané Félix

Foi igualmente amigo de Mané Félix, que chegava à sua residência e nem precisava pedir licença para entrar. Também de todos os irmãos Félix das beiradas do Velho Chico e personagens importantes no coiterismo da região. Alcino foi o responsável por desenterrar Zé de Julião dos escombros do esquecimento e torná-lo, merecidamente, reconhecido como o mais ilustre e enigmático filho de Poço Redondo.

Zé de Julião o Cajazeiras companheiro da Enedina

Por muito tempo, sequer a família de Zé de Julião preservou sua memória. Talvez a fama de ex-cangaceiro (Cajazeira) e de político desafortunado pela perseguição do poder, seus dramas e sua trágica morte, tivessem silenciado os seus, apagando-o também de toda memória sertaneja. Mas Alcino disse não. E apenas com a verdade fez renascer a grandiosidade de um homem.

Em tal contexto, convivendo com a própria história, então Alcino começou a rabiscar tudo com sua letra miúda. E assim nasceram “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”, “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”, que se tornaram referências necessárias na historiografia do cangaço. 


No seu mundo que era Poço Redondo, se enchia de prazer e contentamento toda vez que chegava um estudioso ou pesquisador do cangaço. E suas portas abria para Paulo Gastão, Luitgarde Cavalcanti, Ivanildo Silveira, Sabino Bassetti, Ângelo Osmiro, Manoel Severo, Juliana Pereira, João de Sousa Lima, dentre tantos outros.

Nascido em Poço Redondo, convivendo num meio assim e com gente assim, não seria outro destino de Alcino senão se apaixonar pelo cangaço e toda a sua saga e vereda. Hoje dá nome ao Conselho Consultivo do Cariri Cangaço, em homenagem póstuma. Mas quanta gratidão sei que guarda.

Sou seu filho, e sei.


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