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sexta-feira, 10 de junho de 2011

As muitas versões do cangaço

Por: Juliana Ischiara


            Caros pesquisadores do Cangaço, não é minha intenção polemizar, mesmo em se tratando de cangaço, terreno bastante fértil para debates, controvérsias e discordâncias, porém, todos nós devemos ter em mente que não existem verdades absolutas, mas, simplesmente verdades. O que é uma verdade para mim, pode não ser para o outro e assim sucessivamente, pois, em se tratando de história como ciência, podemos falar de verdades históricas, ou seja, a verdade dos vencedores, dos vencidos e daqueles que tiram suas conclusões tendo como base as duas primeiras elencadas.
           A história não é uma ciência exata, não podemos sair por aí argüindo nossos pensamentos como se fosse uma idéia absoluta do objeto pesquisado.

Frederico Pernambucano de Melo       
           
              Esta semana que passou lemos em alguns blogs e no Jornal da Cidade de Sergipe, um excelente debate entre dois grandes pesquisadores do cangaço. De um lado o acadêmico Frederico Pernambucano de Melo, autor de vários trabalhos importantes sobre a temática em tela e, do outro lado, o sergipano Alcino Alves da Costa, um exímio conhecedor do fenômeno cangaço, em particular os seus dez últimos anos tendo Lampião como líder.

Juliana e Alcindo

             Alcino é de Poço Redondo, um irmão de sua mãe foi cangaceiro, além de ter crescido em meio à história viva do cangaço, pois se em Poço Redondo, ainda nos dias de hoje, o cangaço é assunto comum nas rodas de conversa, imagine na meninice e ao longo de sua vida, com um tio cangaceiro, o sogro sendo o velho “China do Poço” amigo de Lampião. Alcino também é autor de vários livros sobre o cangaço.

O rei Lampião

           Se por um lado, um pesquisador tem como esteio de suas pesquisas o aparato acadêmico, tendo inclusive conversado como alguns sobreviventes, do outro lado temos um pesquisador que nasceu, cresceu e passou sua vida em meio a sobreviventes do cangaço como ex-cangaceiros, outros jurados de morte por cangaceiros, coiteiros e amigos de Lampião. Com isso, não estou medindo a competência dos pesquisadores, nem mesmo aceitando um pensamento em detrimento de outro, pois cabe a mim, assim como aos demais, aprender com estes dois mestres da historiografia cangaceira a arte do bom debate. Tanto um quanto outro são autoridades no assunto.
 
Da esquerda para a direita:
Vila Nova, lá nos fundos, um   cangaceiro desconhecido,
Luiz Pedro, Amoroso, Lampião, Cacheado, Maria Bonita, Juriti,
outro cangaceiro desconhecido e Quinta Feira. Foto do repórter
Benjamim Abrão em 1936. Acervo Abafilm – Fortaleza.      
          
           O bom do debate é perceber as diferentes versões acerca do mesmo objeto. Ao analisar as duas ou mais vertentes, individualmente tiramos nossas próprias conclusões.
           Um exemplo disso é que, mesmo respeitando o trabalho e os anos de pesquisa de Frederico Pernambucano de Melo, não concordo quando ele disse “... que a valentia e a capacidade de urdir planos vinham na cabeceira dessa criteriologia de ascensão hierárquica no bando, da qual passou a fazer parte, de início timidamente, e depois como concausa cada vez mais relevante, especialmente no meado dos anos 30, a habilidade com as agulhas e as linhas, assim como o domínio da máquina Singer de mesa”.
             Penso que ter habilidade em contornar situações delicadas e difíceis, capacidade de estratégia, facilidade em comandar adversidades comuns em um grupo de seres pensantes, dada a particularidade de cada um, ter pulso forte diante de eventuais divergências, fossem os critérios para ascensão hierárquica dentro do bando e não o manuseio da máquina de costura, mesmo porque, viviam e sobreviviam em meio a combates, no liame entre a vida e a morte.
          Sendo assim, não creio que ter habilidade na arte de bordar e costurar fosse de suma importância para o chefe de um subgrupo. As máquinas de costura, na famosa foto das cabeças, não sinalizam que Lampião e/ou seus comandados gostavam de relaxar, tirar o estresse dos dias difíceis no manejo da máquina de costura, mas que usavam tal ferramenta para fazer seus pertences como bornais e roupas, deixando claro que não discordo dos bordados, nem da habilidade dos mesmos nesta arte.

Casa do coiteiro Pedro de Cândido
      
            Por falar nas ditas máquinas de costura, nota-se duas delas na famosa foto das cabeças. Sabemos que a máquina de dona Guilhermina, mãe de Durval e de Pedro de Cândido foi levada para o coito por Mané Félix e Vicente – este ainda com vida,

Coiteiro Manoel Félix

– e que a mesma iria servir para Sila e Maria Bonita fazerem a roupa do sobrinho de Lampião que ali havia chegado com a finalidade de acompanhar o tio.

Sila
Maria Bonita

             Em momento algum se falou que quem iria “costurar” a roupa do rapazinho seria Lampião e, ainda, por que com uma máquina no coito, Maria Bonita (ou mesmo Lampião), mandou buscar a da senhora proprietária da fazenda Angico?
             Ainda sobre as questões levantados pelo pesquisador Frederico ao falar do divórcio cultural entre o litoral e o sertão, concordo plenamente com ele. Houve realmente uma falha no processo de colonização, processo este que sentimos o ranço ainda nos dias de hoje. Porém, não digo que este fato não tenha reflexo no surgimento do cangaço, mas, em nada tem a ver com o cangaço da geração lampiônica, pois, sem sombra de dúvida, trata-se de uma insurgência nascida de uma particularidade estendendo-se para um campo mais amplo, porém não atingindo os ideais da divisão geopolítica e cultural. Seria forçoso demais pensar o contrário.
          Quanto ao simplismo dos marxistas em considerar o cangaço filho exclusivo da luta de classes envolvendo coronéis e cangaceiros, também concordo que até então estes fenômenos, em especial o cangaço, era tratado de forma mais simplista. Existe uma complexidade bem mais faraônica envolvendo todo este período.

Lampião
          
            Lampião era bem quisto por alguns coronéis, pois se sabe que em meio à medição de força e poder entre os donos dos sertões nordestinos, Lampião foi um veículo utilizado por uns em desfavor de outros. Claro, quando digo utilizado, não estou dizendo que Lampião foi um fantoche nas mãos deste ou daquele coronel, mas que todos ganhavam, porque no acerto entre Lampião e o coronel, cada um tinha como objetivo a satisfação dos seus intentos.
           Dizer que: “... o cangaço sai à luz como uma espécie de conspiração tácita sertaneja, irmanando coronéis e cangaceiros na luta surda contra inimigo comum: o poder litorâneo, fonte de toda repressão.” Não é nem forçoso, mas é absurdo mesmo.
          Controvérsias à parte, sabemos que realmente Lampião sabia manusear a máquina de costura, bem como bordar. Percebemos que atrás daquela fera, muitas vez insana, havia um indivíduo capaz de sutilezas como costurar, mesmo em um universo tão machista. Quanto a ser um sucesso ou não, bem, sabemos que trabalhar com oralidade é complicado, dada a subjetividade de conceitos e ao fato de a memória ser seletiva. Tanto é verdade que temos depoimentos de sobreviventes que caíram em total descrédito por conta do surrealismo em demasia.

CangaçoDa esquerda para a direita
Cobra Verde, Vinte e Cinco, Peitica, Maria Jovina, Pancada,
Vila Nova, Santa Cruz, Barreira, e possivelmente um oficial
da polícia. Barreira não fazia parte deste bando
             
            Um exemplo claro de um depoimento deste é o de Barreira ao então pesquisador Frederico. Pelo visto, a memória dele é tão seletiva que esqueceu que Lampião tinha um feeling apurado, tanto que mesmo sem saber que ele seria um traidor execrável, já não gostava dele.
           No mais, parabenizo os dois pesquisadores, por serem grandes mestres e nos darem um exemplo tão bom sobre um debate, donde se pode discordar do posicionamento do outro sendo respeitoso e sem perder a admiração mútua.
            Sou uma admiradora dos dois mestres e muito tenho aprendido com ambos. Sou uma iniciante nesta seara tão complexa e, por vezes, tão árida de se transitar, mas não podemos e nem devemos desanimar, pois, se as veredas percorridas pelos cangaceiros e volantes não foram nada fáceis, não vamos querer um campo de rosas como terreno para pesquisar.
            Se todos colaborassem de alguma forma para com as pesquisas, estaríamos muito mais avançados e não teríamos o que vez por outra temos. Pessoas que usam suas pesquisas como holofotes, sem se preocupar com o futuro do conhecimento, dada a imensidão de teses mirabolantes defendidas com objetivo único de serem mercadológicas.

Saudações Canganceiras
Juliana Ischiara é Pesquisadora, sócia da SBEC.
Quixadá / CE

Extraido do blog: "Lampião Aceso" 

Amigo Leitor:

Eu sei que nos dias de hoje ninguém usa mais parágrafo,
mas eu o acho tão bonito que continuo usando. Mania de antes.

O bolero de Lindomar Castilho

   Ramiro Zwetsch, de Goiânia
  

            Conhecido como o rei do bolero na década de 70, Lindomar Castilho retorna a carreira depois de cumprir doze anos de prisão por assassinar a mulher
           Nem os boleros mais tristes teriam desfecho mais dramático. A história que envolveu os cantores Lindomar Castilho e Eliane de Grammont acabou em tragédia, abrindo uma ferida que ainda está longe de cicatrizar.
           O goiano Lindomar e a paulista Eliane se casaram no dia 10 de março de 1979, dois anos depois de se conhecerem nos corredores da antiga gravadora RCA, em São Paulo.

Ag F4/ Lucrecio Jr
Lindomar e Eliane

           O cantor, na época, já era conhecido como o rei do bolero enquanto ela ainda ensaiava os primeiros passos de sua carreira. O casal teve uma filha, Liliane de Grammont, e se separou exatamente um ano depois da data do casamento.
            “Antes de casar, os dois decidiram que ela não cantaria mais para se dedicar ao lar”, conta Helena de Grammont, 50 anos, irmã de Eliane e repórter do Fantástico.
          Depois da separação, a cantora voltou a fazer shows. Na madrugada de 30 de março de 1981, ela cantava no Café Belle Époque, em São Paulo, acompanhada pelo violão de seu novo namorado, Carlos Randall, primo de Lindomar.

Lindomar Castilho na rua e em sua casa, em Goiânia: “Carrego
um sentimento de culpa enorme”, diz o cantor, que recomeça
a carreira, ainda atormentado pelas lembranças
do crime que cometeu
          
            Enquanto cantava os versos “Agora era fatal que o faz de conta terminasse assim”, da canção “João e Maria”, de Chico Buarque, levou cinco tiros pelas costas. O autor do crime era seu ex-marido.

Chico Buarque de Holanda

           Depois de cumprir doze anos de pena – seis deles em regime semi- aberto – Lindomar Castilho ganhou liberdade em 1996 e tenta agora retomar a carreira, na esteira do sucesso de Reginaldo Rossi, outro cantor romântico que estourou nos anos 60 e voltou a ser notícia recentemente.

 
Reginaldo Rossi

           O cantor está lançando Lindomar Castilho ao Vivo, o primeiro CD por uma grande gravadora desde o cumprimento da pena. “Minha voz não é a mesma, mas continua boa”, opina.
           Desde que se encontra em liberdade, Lindomar mora em Goiânia e evita ir a São Paulo. “Eu carrego um sentimento de culpa enorme”, diz o cantor. Arrependimento, no entanto, é uma palavra que ele prefere não pronunciar. “Não é arrependimento. A tragédia aconteceu, independente do meu querer ou não querer”, diz ele, enxugando as lágrimas e tentando mudar de assunto. “Agora estou procurando ocupar minha cabeça, trabalhando dia e noite nesse disco.”
          Por ironia do destino, Lindomar saiu de Goiás para começar a carreira em São Paulo, em 1961, a convite de Paulo de Grammont, tio de Eliane e diretor artístico da Organização Vítor Costa, grupo de comunicação que detinha a concessão do canal 5. Nessa época Eliane nem era nascida. “Embora nossa família tivesse contato com Lindomar, nós só o conhecemos de verdade através de Eliane”, lembra Helena. “Conhecíamos o artista, não a pessoa”.

 violencia2.jpg
Eliane

           Ainda em 1961, o cantor lançou seu primeiro álbum, com repertório de Vicente Celestino. Daí em diante trilhou um caminho de sucesso, chegando a vender, na década de 70, 500 mil cópias de um LP, marca mais do que satisfatória para os padrões da época.

Vicente Celestino

           Com o novo disco, Lindomar pretende vender ainda mais. “Minha filha, Liliane, me fez uma grande surpresa, me procurando um dia antes do meu aniversário, em 1998”, lembra Lindomar. “Foi ela quem me sugeriu que eu retomasse a carreira”.
           Lindomar não via a filha havia 17 anos. Liliane – que não retornou o contato ao ser procurada por Gente – cresceu em São Paulo, criada pelas tias Helena e Carmen de Grammont. Ela tem hoje 20 anos, é dançarina e realizou um curso de seis meses na escola de dança Julliard School, de Nova York, financiado pelo pai.

Liliane

         Desde aquele reencontro, Lindomar e Liliane voltaram a se ver poucas vezes. “Eu não a procuro por respeito à família atingida”, argumenta o cantor que não se sente à vontade em ligar para a casa de Helena de Grammont, com quem a filha mora atualmente. “Liliane foi atrás da história de sua vida. Ela precisava conhecer o pai”, explica Helena. “Nós nunca falamos mal do pai dela, aliás nós quase nunca mencionamos sequer o nome dele.”

Lindomar Castilho
Lindomar Castilho

           Depois de ser procurado pela filha, Lindomar voltou a fazer alguns shows. Logo veio o convite da gravadora Sony, que foi aceito na hora. O repertório reúne grandes sucessos de sua carreira, incluindo composições próprias e canções de outros autores que ficaram famosas na sua interpretação. Estão no disco, entre outras, “Eu Vou Rifar Meu Coração” (que tem mais de 50 regravações mexicanas), “Você É Doida Demais” (regravada por Leandro e Leonardo) e “Cabecinha no Ombro”. 

 
Leandro & Leonardo

           Lindomar vive em Goiânia e namora a funcionária pública, Vera Cruz de Castro Lobo, 49 anos, que o cantor faz questão de manter distante da imprensa. “Ela não tem nada a dizer sobre tudo que aconteceu”, afirma Lindomar.


Copyright - Editora Três

"Os últimos cangaceiros"

COMUNICADO



           O Cineasta, escritor e pesquisador do cangaço, Aderbal Nogueira, comunica aos leitores deste blog, e dos:  "Cariri Cangaço", "Lampião Aceso", "Tok de História", "Cangaço Nordestino", que atualmente atua com o nome "Blog do Neto", e os demais que publicam o estudo "cangaço", hoje, sexta-feira, dia 10 de Junho, às 20 horas, será lançado o documentário "OS ÚLTIMOS CANGACEIROS", de Wolney Oliveira, no teatro José de Alencar em Fortaleza.

            Na madrugada de 28 de Julho de 1938, na Grota de Angico, no  Estado de Sergipe, as volantes do governo conseguiram acabar de uma vez por toda com o movimento social de cangaceiros, e lá foram  mortos 11 asseclas, entre eles os Reis do Cangaço, Lampião e Maria Bonita.

Lampião e Maria Bonita

            Como todos os asseclas que pertenciam à Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia haviam ficado órfãos de pai e mãe, a partir daquele dia em diante seria cada um por si e Deus por todos. Muitos resolveram enfrentar os horrores da polícia. Mas todos que procuraram se entregar, foram liberados pelo capitão Aníbal Ferreira, lá em Geremoabo, este em vez de usar a razão, usou o coração, liberando todos para novamente participarem da sociedade livre.

Moreno e Durvalina

          Mas na ativa segurando o sofrido e desastroso movimento social, do velho companheiro Lampião, continuavam os minúsculos bandos de Moreno e o de Corisco.

Corisco e Dadá

          No dia 2 de fevereiro de 1940, Moreno e Durvalina resolveram dependurar as indumentárias do cangaço, e dando fim as suas malditas armas e munições. Mas teimosamente continuava o bando de Corisco, que não durou muito tempo, tendo sido ele assassinado no dia 25 de maio de 1940, pelas armas do tenente Zé Rufino.

Tenente Zé Rufino

            Durante mais de meio século Durvinha  e Moreno jamais se identificaram com seus nomes próprios, até dos filhos.  Durvinha e Moreno fizeram parte do bando de Lampião, o mais controverso líder do cangaço.

João de Sousa Lima

             A verdade só foi revelada diante do escritor João de Sousa Lima, quando Moreno,  com 95 anos, resolveu dividir com os filhos o peso das lembranças e reencontrar parentes vivos.

Sobre o autor do filme


Wolney Oliveira

           WOLNEY OLIVEIRA: Diretor, roteirista e produtor. Graduado em televisão pela Escola Internacional de San Antonio de los Baños, EICTV, Cuba, com especialização em fotografia. Seus filmes têm recebido numerosos prêmios no Brasil e o exterior. Seu curta El invasor marciano foi o primeiro filme da EICTV a receber um prêmio internacional, entre muitos outros. A ideia original do curta deu origem também ao longa de ficção A ilha da morte. Wolney Oliveira dirige a própria produtora, a Bucanero Filmes, em Fortaleza.


FILMOGRAFIA

Os últimos cangaceiros (2011), longa-metragem
El cayo de la muerte (2006), longa-metragem
Borracha para a Vitória (2003), longa-metragem
Milagre em Juazeiro (1999), longa-metragem
Elementais (1994), curta-metragem
As barricadas abriram caminho (1993), curta-metragem
Sabor a mí (1992), longa-metragem
Los regalos de Don José (1990), curta-metragem
Um, dois (1989), curta-metragem
El invasor marciano (1988), curta-metragem
Sirio en quadro (1987), curta-metragem
Gilberto y Yayá (1987), curta-metragem
Un día de Tito (1982), curta-metragem

FICHA TÉCNICA:

Direção: Wolney Oliveira
Direção de fotografia e câmera: Eusélio Gadelha
Som direto: Danilo Carvalho
Montagem: Mair Tavares e Daniel Garcia
Edição de som: Simone Petrillo
Mixagem: Claudio Valdetaro
Trilha sonora: DJ Dolores
Produção: Margarita Hernández

CONTATO:

Bucanero Filmes
Av. Barão de Studart 1165 sala 804
Fortaleza CE, CEP 60120-001
Tel/fax.: (85)32610646