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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

“O GLOBO” – 13 DE OUTUBRO 1927 - FINAL

Por Antonio Corrêa Sobrinho

A PSICOLOGIA DO CANGACEIRO
O BANDITISMO NOS SERTÕES DO NORDESTE BRASILEIRO
UM ENSAIO POLÍTICO-SOCIAL
(Especial para o GLOBO)

JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO – POTÊNCIA FORA DA LEI INCRUSTADA COMO UM CANCRO NO ESTADO DO CEARÁ
AS CONCLUSÕES DE UM ENSAIO POLÍTICO-SOCIAL

CAPÍTULO VII

Compreende-se bem que, com o rompimento do Ceará ao convênio pernambucano, torna-se dificílima a captura de Lampião, de Massilon, de Sabino Gomes, dos irmãos Marcelino, e de outros facínoras, desde que as forças aliadas não podem mais atravessar o território daquele Estado em sua perseguição.

Acossados, eles internam-se nos sertões do Ceará, onde se refazem de armas, munição e mantimentos, e onde se acham garantidos pelos chefes políticos locais, seus protetores ostensivos, tais como os membros das famílias Sant’Anna, Chicote e Arruda, e, acima de todos, o padre Cícero, do Juazeiro.

Para se ter uma ideia do que é o Juazeiro e da proteção que naquele reduto gozam todos os criminosos, basta ler-se o interessante livro de Lourenço Filho – “O Juazeiro do Padre Cícero”.

O Juazeiro – diz ele à página 161 – “se tornou um Estado no Estado, sem outra lei senão a do arbítrio de seus chefes, com forças armadas próprias, justiça própria, moral e religião especialíssima; e, nessa situação fantástica, “ainda hoje permanece.”

Não há quem ignore que o presidente Artur Bernardes incumbiu o falecido deputado federal Dr. Floro Bartolomeu de organizar nos sertões do Ceará um batalhão patriótico para auxiliar o exército nacional na perseguição aos revoltosos da coluna Prestes; e o Dr. Floro, que era o alter ego do padre Cícero, chegando ao Juazeiro, não teve a menor dificuldade em organizar o referido batalhão, composto de 800 homens, em grande parte criminosos, que foram armados de fuzis Mauser e fartamente municiados.

Há quem conteste que Lampião e seu grupo de 50 cangaceiros (inclusive ele) fizesse parte do batalhão patriótico do Dr. Floro; mas, se não fez, foi porque não quis, porquanto o Dr. Júlio Ibiapina, diretor do jornal “O Ceará”, de Fortaleza, achando-se nesta capital em janeiro deste ano, deu uma entrevista ao matutino “A Manhã”, publicada no dia 7 do mesmo mês, na qual disse o seguinte (textual):

- “Quando, no meu Estado, cogitaram de organizar o célebre batalhão patriótico, Lampião foi convidado pelo “general” legalista para assumir uma posição “de comando” (!) nas hostes governistas.

Essa declaração foi feita pelo padre Cícero ao meu jornal “e pelo próprio Lampião, em entrevista que nos concedeu”! (Os grifos são nossos).

Só ultimamente é que se verificou o rompimento de relações entre esse famoso bandido e os seus protetores, desinteligência que foi até registrada pelos vates do sertão. Por mero acaso, ele não é hoje um herói nacional, depois de ter sido, durante muito tempo, um colaborador dos políticos do sertão.”

E tanto isto é verdade que, quando o batalhão patriótico estava em pé de guerra no Juazeiro, Lampião entrou na cidade à frente de seu grupo, e lá se manteve durante o tempo que entendeu, sem ser de leve incomodado.

Ouçamos o que diz Lourenço Filho a este respeito:

- “Afrontando o próprio batalhão patriótico de Floro Bartolomeu, entrou no Juazeiro ostensivamente com toda a sua gente, o temível bandoleiro Virgulino Ferreira da Silva, o celebérrimo Lampião, e estripador de crianças e incendiário, “rei do sertão”, que ainda há pouco declarou guerra oficialmente aos governos da Paraíba e Pernambuco! Os bandoleiros chegaram via Barbalha, permanecendo até às 10 horas da noite nas imediações da fazenda do deputado Floro Bartolomeu, quando se transportaram ao centro da cidade, hospedando-se em casa de um dos tipos sui generis do Juazeiro, o poeta popular João Mendes de Oliveira, que se intitula jocosamente – “Historiador brasileiro e negociante”. Vinham muito bem armados de rifle ou fuzil Mauser, revólver e punhal; à cintura traziam 3 ou 4 cartucheiras, acondicionando nelas, cada homem, um total de 400 balas!

Tendo o jornal “O Ceará” mandado alguém perguntar ao padre Cícero Romão Batista porque não mandava prender Lampião, pois que tinha ao seu dispor 800 homens armados e municiados do batalhão patriótico, ele respondeu, textualmente:

- Não, meu amiguinho, Lampião procurou o Juazeiro com intuitos patrióticos; (sic!) ele pretende alistar-se nas forças legais para dar combate aos revoltosos. Uma vez vitorioso, espera que o governo lhe perdoe os crimes.

Este homem, que veio ao Juazeiro, “confiado em minha proteção”, pretende se regenerar.

Se não for possível alistá-lo nas forças legais, eu o encaminharei para Goiás, onde levará vida honesta, como já fiz com Sinhô Pereira e Luiz Padre. Está mais ou menos demonstrado que os governos de Pernambuco e Paraíba não conseguirão prender Lampião, entregando-o, e o seu bando, à Justiça. Eu consigo que Lampião se vá embora para muito longe, e assim ficaremos livres dele.

Porém mandar prendê-lo aqui, em Juazeiro, nestas circunstâncias?! Era um ato de revoltante traição, indigno de qualquer homem, quanto mais de um sacerdote católico!

- Mas, padre Cícero, retrucou o jornalista, o governo pode perdoar criminosos comuns?

- Pode, meu amiguinho, pode...

E o historiador termina esse capítulo com as seguintes palavras: - Lampião é um expoente, apenas, da malta de celerados que têm feito do Juazeiro o seu quartel-general”.

(Lourenço Filho. Obra citada, páginas 216 e 218).

A título de curiosidade, reproduzimos aqui o fac-símile de uma carta de Lampião (que se assina O Capitão) na qual o atrevido bandido ameaça o sargento comandante do destacamento policial de Juazeiro, José Antônio do Nascimento.

Este autógrafo foi estampado pelo jornal “Correio do Ceará”, em seu número de 31 de março do corrente ano, acompanhado da seguinte apreciação: - A publicação do presente autógrafo dispensa qualquer comentário em torno das imunidades de que se julga investido o audaz e famigerado bandido.

Tiramo-lo do livro de Lourenço Filho que também o estampou. E é de notar a audácia com que o bandido escreve e a franqueza com que ele diz – “que vem chamado por homem”. Eis o texto da carta:

“Ilmo. Sr. José Antônio.

Eu lhe faço esta, até não devia me sujeitar a ti escrever, porém sempre mando te avisar pois eu soube que no dia que cheguei aí na fazenda esteve pronto para vir me voltar porem, eu sempre lhe digo que você crie juízo, e deixes de violências a pois eu venho chamado é por homem, mesmo assim, com a suada não me faz medo. Eu tenho visto, é, cousa forte, e não me assombro, por tanto deve e tratar de fazer amigos não para fazer como diz você. Sempre lhe aviso, que é para depois não se arrepender e na mais não se zangue, isto é um conselho que lhe dou.

Do capitão – Virgulino Ferreira da Silva.”

Ora, à vista de uma proteção tão escandalosa, não é de admirar, como pensam os jornais cariocas, que Lampião e outros chefes de bandos criminosos não tenham ainda sido mortos ou presos, mormente enfrentam as forças que os perseguem, e, ainda assim, somente quando surpreendidos.

Ainda recentemente, a 2 de setembro corrente, o “Globo” publicou um telegrama de Fortaleza, no qual se dizia que o tenente Manoel Firmo, comandante do destacamento policial de Juazeiro, se achava ameaçado de morte devido a sua atitude querendo perseguir Lampião. – “Esse oficial (diz o telegrama) dera uma entrevista comprometedora para o major Moisés, comandante das forças cearenses, no sertão; e tão graves foram as suas revelações, que determinaram a abertura de um inquérito.

“Houve, porém, quem tomasse as dores do major Moisés e dirigisse sérias ameaças ao tenente Firmo que, sentindo-se sem garantias de vida em Juazeiro, pois fora ameaçado de morte pelo próprio prefeito de Missão Velha, Sr. Oseias Arruda, viu-se forçado a telegrafar ao comandante do Regimento Militar, que o chamou a Fortaleza, por ordem do governador do Estado.

Cremos que não é preciso dizer mais para patentear as dificuldades quase insuportáveis com que está lutando o Dr. Eurico de Souza Leão, chefe de polícia de Pernambuco, para exterminar Lampião e os seus companheiros de crime.

Por isso foi que o Dr. Estácio Coimbra, quando o chefe de polícia do Ceará pediu a retirada das forças pernambucanas do território cearense, respondeu ao Dr. Moreira da Rocha, governador daquele Estado, com um telegrama já divulgado, no qual disse o seguinte: - “Começo a persuadir-me de que só a interferência do governo da União, sobrepondo-se nos melindres regionais e aos interesses subalternos de protetores de bandidos, poderá extirpar dos sertões do Nordeste a vilta ignominiosa do cangaceirismo”.

De fato, só com a intervenção do governo federal poder-se-á extinguir o foco de criminosos que é o – Juazeiro do padre Cícero – arraial e feira, antro e oficina, centro de orações e hospício enorme, como o qualificou Lourenço Filho.

Enquanto existir o Juazeiro atual e o grande protetor de assassinos, que é o padre Cícero Romão Batista, como ele próprio confessou quando recusou prender Lampião, o cangaceirismo continuará a devastar os sertões do Nordeste.

A cidade de Juazeiro, situada na região fertilíssima do Cariri, verdadeiro oásis no centro de desertos e que bem poderia ser o celeiro abastecedor doas zonas martirizadas pelas secas periódicas, não passa ainda hoje de um viveiro de criminosos – potência fora da lei incrustada como um cancro no estado do Ceará – reduto fortificado por trincheiras com mais de 3 léguas de extensão circundando toda a cidade, e onde não falta, como em Canudos, uma igreja que mal dissimula uma verdadeira fortaleza.

Amanhã, com o desaparecimento do padre ou por qualquer motivo político, aquilo se transformará de um momento para outro em um segundo. “Canudos”, repleto de bandidos e de fanáticos, sorvedoiro de dinheiro e de oficiais e soldados do exército nacional, sacrificados à incúria de dezenas de anos, quando os governos do Estado e da União se resolverem intervir, tarde demais, para varrer aquela vergonha do solo brasileiro.

Enquanto isto se não dá, e não obstante todos os tropeços, Dr. Eurico de Souza Leão, chefe de polícia de Pernambuco, não esmorece na campanha, para sanear, ao menos, o sertão de Pernambuco.

Os jornais cariocas, de quando em vez, inserem telegramas do Norte noticiando, ora as mortes em combates, ora as capturas de mais bandidos pelas forças pernambucanas.

Tenhamos, pois, a esperança de que afinal o terrível celerado Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e os facínoras que o cercam caíam em poder dos abnegados soldados pernambucanos, que não desfalecem na perseguição tenaz que lhes movem, chegando ao ponto (como têm salientado os jornais de Recife) de permanecerem nas caatingas, ali recebendo o soldo, ali se alimentando e dormindo ao relento, no cumprimento do dever.

Que tanto esforço seja coroado de êxito, para glória do atual governo de Pernambuco, são os votos de todos os brasileiros!

Fim
Justiniano de Alencar

Fonte: facebook

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MULHERES CANGACEIRAS: A HISTÓRIA LEVADA AOS ALUNOS DA ESCOLA OLIVEIRA BRITO

Heleno, Prof. Socorro, João Sousa Lima e Nely Conceição

Hoje, dia 12 de janeiro de 2015, realizei uma palestra tendo por tema a Mulher Cangaceira.



A palestra aconteceu na Escola Estadual Ministro Oliveira Brito, durante o projeto  VI Feira do Livro.



O convite partiu da professora e Vice-diretora Maria do Socorro Feitosa e teve na plateia a participação de Nely Conceição (filha dos cangaceiros Moreno e Durvinha).



Também marcou presença o senhor Heleno, Presidente do grupo Cultural Os Cangaceiros.

http://www.joaodesousalima.com/2015/01/mulheres-cangaceiras-historia-levada.html

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DOMINGUINHOS O NENÉM DE GARANHUNS


O livro "DOMINGUINHOS, O NENÉM DE GARANHUNS" de autoria do professor Antonio Vilela de Souza, profundo conhecedor sobre a vida e trajetória artística de DOMINGUINHOS, conterrâneo ilustre de GARANHUNS, no Estado de Pernambuco.
Adquira logo o seu através deste e-mail:
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LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS

Por José Bezerra Lima Irmão

Lampião – a Raposa das Caatingas é um livro concebido e realizado com seriedade, deixando de lado as lendas, mitos e invencionices sobre a figura do legendário guerrilheiro do Pajeú. Além da farta bibliografia sobre o cangaço, baseei-me nos jornais da época, entrevistei dezenas de personagens ligadas aos fatos.

O livro contém fotos e dezenas de mapas, indicando os lugares onde os fatos ocorreram. Indica até as coordenadas geográficas.

Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.

Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Destaca os principais precursores de Lampião.

Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço. Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.

A leitura desse livro, espero eu, fará com que o Natal da pessoa presenteada se prolongue por mais tempo, durante o Ano Novo, já que a obra tem exatamente 736 páginas.

Feliz Natal! Boas Festas! E que em 2015 e nos anos vindouros se mantenha sempre acesa a chama do interesse pela história e pela cultura do nosso querido Nordeste. A melhor forma de demonstrarmos amor à nossa terra é estudando a sua geografia e a sua história.

Um fraternal abraço.
José Bezerra

Para adquirir esta obra entre em contato com o autor através deste e-mail:

josebezerra@terra.com.br
Vendas presenciais: Livraria Saraiva; Livraria Escariz (Aracaju)

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