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quarta-feira, 15 de abril de 2015

CANGACEIRO " VILA NOVA " FALA AO CORREIO DE ARACAJU SOBRE O COMBATE DE ANGICO (Edição de 29/10/1938) LEIA, ABAIXO, A MATÉRIA COMPLETA…


CANGACEIRO " VILA NOVA " FALA AO CORREIO DE ARACAJU SOBRE O COMBATE DE ANGICO (Edição de 29/10/1938) LEIA, ABAIXO, A MATÉRIA COMPLETA…

NEM OS PRÓPRIOS BANDIDOS ACREDITAVAM NA MORTE DE LAMPIÃO! 
UMA CONTRA-OFENSIVA QUE FICOU APENAS NO PROJETO DOS CANGACEIROS SEM COMANDO SURPREENDENTES DECLARAÇÕES DE VILA NOVA SOBRE O COMBATE!

OUTRAS NOTAS CURIOSAS SOBRE A RENDIÇÃO.

MACEIÓ, ... Estão em Santana do Ipanema, de onde virão a Maceió, os bandidos Pancada, Vila Nova, Vinte e Cinco, Santa Cruz, Cobra Verde e Peitica, presos pela tropa volante alagoana sob o comando do sargento Juvêncio.

PANCADA VAI MESMO SE CASAR

O chefe de grupo Pancada, aconselhado por um sacerdote, vai se casar ainda esta semana com a sua companheira Maria Jovina, com quem vivia nas caatingas. Maria Jovina está para ser mãe.

REMEMORANDO O COMBATE DE ANGICO:

O bandido VILA NOVA rememorou o combate de Angico, em que pereceu Lampião, dizendo, na sua linguagem rude, que as 5 horas da manhã daquele dia, quando começou o combate, já Lampião havia ido ao mato. Aos primeiros tiros, o chefe estava quase equipado, faltando apenas abotoar as correias dos bornais, quando foi atingido por dois projéteis.

Houve um pequeno intervalo, mas, logo após, os que estavam perto de Lampião, acossados por fortes rajadas de metralhadora, caíram mortalmente feridos.

Foram eles: Quinta-feira, Mergulhão, Colchete, Maria Bonita e Macela. Eu corri ao encontro do meu padrinho Luiz Pedro, prostrado, em sangue e também mortalmente ferido, que me implorou que acabasse de mata-lo para terminar com seus sofrimentos. Eu não atendi, dizendo-lhe que, como seu afilhado, os meus braços não tinham força para mata-lo. Pediu então que levasse o seu mosquetão, no que foi atendido.

O tiroteio estrugia e eu pensei em organizar uma contra-ofensiva. Não conseguindo, tratei de fugir com outros companheiros, indo me reunir ao restante do grupo, em número de trinta e dois, na fazenda Cuiabá. Nessa ocasião, verificamos que faltavam onze companheiros, inclusive Lampião.

A princípio, muitos companheiros não acreditavam na morte de Lampião, depois confirmada. Desde ali, começou o arrefecimento dos bandidos, que perderam o gosto pelo cangaço.

Referindo-se ao tenente Ferreira de Melo, disse que o referido oficial, durante o combate de Angico, parecia um diabo em pessoa, tal sua violência na luta e tal a sua coragem.

Foto cortesia: Frederico Pernambucano de Melo, in Guerreiros do Sol.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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"ANTÔNIO SILVINO", DE SÉRGIO DANTAS

Por Honório de Medeiros

Em narrativa linear, atenta à lógica dos fatos históricos, Sérgio Augusto de Souza Dantas nos reapresenta a um Antônio Silvino cru, recortado do contexto mítico e inserido em sua dimensão humana, sem que restasse perdido tudo quanto o tornou um dos mais interessantes personagens da trindade básica que forjou a alma sertaneja – o cangaço, o misticismo, o coronelismo.


Louve-se a felicidade na escolha do “nome” de cada capítulo bem como o excerto que o acompanha, próprio para chamar a atenção do comprador desatento, em uma homenagem ao estilo jornalístico de outrora, e a indicar um texto enxuto, leve, de parágrafos curtos e bem encadeados. Chamam a atenção episódios trazidos a lume que por si só têm dimensão histórica, como a convivência entre Antônio Silvino e Gregório Bezerra, lendário líder comunista pernambucano, sua entrevista com Graciliano Ramos, e o assalto à Usina Santa Filonila na qual morreu Feliciana na flor da idade – crime do qual o cangaceiro jamais deixou de se arrepender. Aliás, qual teria sido o desfecho do embate entre Antônio dos Santos Dias e José Tavares de Melo, este, genro, aquele, pai de Teresa Tavares de Melo, pivô da questão? Qual teria sido o fim de cada um deles?

O Antônio Silvino que emerge do ótimo texto de Sérgio Dantas é um personagem emblemático: é o retrato nítido de uma saga que nos permite identificar e compreender os nexos causais que originam certa circunstância histórica – o período do cangaço – e até mesmo ir além, na medida em que também permite identificar o viés comum a entrelaçá-los, ou seja, a questão do Poder. Basta colocar esses retratos sobre a mesa e examiná-los com olhar crítico: Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião; Coronel Zé Pereira, Coronel Isaías Arruda, Coronel Floro Bartolomeu; Pe. Cícero, Beato Zé Lourenço, Antônio Conselheiro... Tomando distância de qualquer tentativa de apreender o fenômeno a partir de uma explicação oriunda exclusivamente de fatos alusivos à posse da terra.

É possível conjecturar se Sérgio Dantas vai aventurar-se em novos resgates ou cuidará de desbravar outras fronteiras. Sua obra tem sido, até agora, a fronteira entre um ciclo e outro no que diz respeito à literatura do cangaço. Esse ciclo por ele estudado até o momento está chegando ao fim. Já não é mais possível, até onde sabemos, ressalvada a possibilidade de documentos desconhecidos surgirem inesperadamente, prosseguir com a literatura elaborada a partir de relatos, fotos, testemunhos ou escritos, ou seja, fontes primárias. São poucos os sobreviventes e deles já se extraiu mais do que tudo. Os papéis estão virando pó, vítimas da ação inclemente do tempo e da incúria das nossas elites. Um outro ciclo está surgindo: a interpretação de todos esses dados, ou seja, uma literatura de tese, algo timidamente iniciado por Frederico Pernambucano de Mello com “Guerreiros do Sol”, através da criação do conceito de “escudo ético”.

A não ser que – e talento não lhe falta – resolva mergulhar com sua característica obstinação no jornalismo literário brindando-nos com alguma pesquisa onde sobrem indícios, mas, faltem provas – como de fato acontece nessa espécie literária - e, no entanto, seja possível povoar um texto com interrogações perturbadoras tais quais, por exemplo, as razões do estranho silêncio do Juiz e do Promotor de Mossoró em relação aos fatos que lá aconteceram em junho de 1927.


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Aziz Francisco Elihimas


Aziz Francisco Elihimas, "sobrinho" de Benjamin Abraão, ainda criança e o próprio em 1992 com Frederico Pernambucano de Mello. Aziz faleceu no Recife em 2013. 


Fonte das fotografias: Entre Anjos e Cangaceiros (Frederico Pernambucano de Mello).

Fonte:
facebook

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PAJEÚ: O GRANDE ESTRATEGISTA DA GUERRA DE CANUDOS

Por José Romero Araújo Cardoso

Como ficou conhecido nas lutas de Canudos, Pajeú era pernambucano do famoso vale imortalizado por Luiz Gonzaga décadas depois do massacre abominável que manchou indelevelmente a história do Brasil.
Escravo liberto que rumou para Canudos apostando nas promessas do Bom Jesus Conselheiro tendo achado por lá, às margens do rio Vaza-Barris, a tão sonhada liberdade que a sociedade negou, e ainda nega, de forma inadmissível e desumana, aos excluídos.


Quando da desastrosa campanha comandada pelo famigerado Coronel Moreira César, Pajeú se destacou pela impecável forma como conduziu a guerrilha da guarda católica do Conselheiro.

Dizem que foi ele quem pôs fim à arrogância de Moreira César, acertando certeiro tiro de bacamarte boca-de-sino, municiado com chifre de novilho, no sanguinário corta- cabeças. Não obstante usar colete de aço, Moreira César foi milimetricamente varado pelo disparo em local desprotegido.


O oficial responsável pela substituição do Coronel Moreira César no comando da tropa também não aguentou as táticas de guerrilha implantadas por Pajeú. Uma ordem do Coronel Tamarindo ficou famosa: “Em tempo de murici, cada um cuida de si”.

O que restou da tropa de Moreira César foi fustigada pelos guerrilheiros comandados por Pajeú. Verdadeira carnificina foi feita pelos bravos combatentes para pagar a profanação do arraial sagrado do belo Monte, pois inadvertidamente Moreira César desprezou todas as instruções do regimento do Exército Brasileiro e ordenou ataque de cavalaria a Canudos, cuja característica era a topografia extremamente íngreme, impossível de ter sucesso por parte de Moreira César através de investida com esse tipo de estratégia militar.


Para tentar coibir e amedrontar outras expedições que vieram em direção a Canudos, Pajeú ordenou que os cadáveres dos soldados e oficiais ficassem insepultos, pendurados em árvores como exposição macabra do ódio devotado pelos conselheiristas às tropas do governo federal.

Quando a quarta expedição foi enviada para destruir canudos, cujo comando ficou a cargo do General Arthur Oscar de Andrade Guimarães, foi com terror e suspense que a soldadesca encontrou o aviso dos guerrilheiros da guarda católica, na forma de corpos ressequidos pelo sol esturricante do sertão nordestino. Com certeza, aumentou o ódio do corpo militar do Exército Brasileiro contra os membros da comunidade mística de Antônio Conselheiro.


Pajeú foi responsável pelas mais significativas baixas contra as tropas federais. Acostumados a caçar para sobreviver, os guerrilheiros usaram a experiência adquirida e se tornaram franco-atiradores, pois quando algum soldado desavisado, principalmente em noite sem lua, acendia um cigarro, certeiro tiro o prostrava imediatamente. Usavam os “presentes” que Moreira César lhes deixou, ou seja, fuzis mausers de fabricação alemã do Exército Brasileiro.

Não obstante terem conseguido canhões e metralhadoras, esses não foram usados, pois os guerrilheiros do Conselheiro não souberam como manusear as mortíferas armas tomadas da expedição de Moreira César, destroçada pela genialidade incontestável das táticas do maior guerrilheiro de Canudos.


Quando a guerra de Canudos tornou-se insustentável, com sucessivas baixas e derrotas das tropas federais, o governo enviou verdadeiras máquinas de matar. Entre essas estava um canhão Withworth 32, a famosa “matadeira”, como ficou conhecido entre os habitantes de Canudos. Foi a única forma que conseguiram para pôr a baixo as torres da igreja nova do belo Monte.


Cada tiro da “matadeira” era verdadeiro massacre que a mesma proporcionava. O famoso canhão tornou-se o terror dos canudenses, razão pela qual Pajeú organizou grupo de assalto intuindo destruir a máquina destrutiva.

Onze guerrilheiros chegaram de surpresa a bem guardada arma. Nesse ataque, o bravo comandante conselheirista perdeu a vida, bem como nove companheiros, sendo que apenas um conseguiu escapar.

Com a morte de Pajeú, a guarda católica do Conselheiro ficou desfalcada do principal estrategista, abalando sensivelmente a estrutura das estratégias da guerra de guerrilha que até então vinha obtendo sucesso indiscutível.


Pajeú, o famoso negro ex-escravo que marcou de forma impressionante a guerra de guerrilhas nas batalhas em canudos, foi imortalizado por Euclides da Cunha, que, não obstante racismo e estereótipos, dedicou-lhe páginas de reconhecido mérito pela bravura indômita em “Os Sertões: Campanha de Canudos”.

In:  CARDOSO, José Romero Araújo. Notas para a História do Nordeste. João Pessoa/PB: Editora Ideia, 2015. P. 30-32.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento  de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

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