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sábado, 23 de abril de 2022

LIVRO DO ESCRITOR GUILHERME MACHADO

    Por José Mendes Pereira


Recentemente o escritor e pesquisador do cangaço Guilherme Machado lançou o seu trabalho sobre o mundo dos cangaceiros com o título "LAMPIÃO E SEUS PRINCIPAIS ALIADOS". 

O livro está recheado com mais de 50 biografias de cangaceiros que atuaram juntamente com o capitão Lampião. 

Eu já recebi o meu e não só recebi, como já o li. Além das biografias, tem fotos de cangaceiros que eu nem imaginava que existiam. São 150 páginas. Excelente narração. Conheça a boa narração que fez o autor. 

Pesquisador Geraldo Júnior

Prefaciado pelo pesquisador do cangaço Geraldo Antônio de Souza Júnior. Tem também a participação do pesquisador Robério Santos escritor e jornalista. Duas feras no que diz respeito aos estudos cangaceiros.

Jornalista Robério Santos

Não deixa de adquiri-lo. Faça o seu pedido com urgência, porque, você sabe muito bem, livros escritos sobre cangaços, são arrebatados pelos leitores e pelos colecionadores. Então cuida logo de adquirir o seu! 

Pesquisador Guilherme Machado

Adquira-o através deste e-mail: 

guilhermemachado60@hotmail.com
Ou dê um pulinho lá em Cajazeiras:

franpelima@bol.com.br

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REEDIÇÃO DE LIVROS DO CANGAÇO

   Por Francisco Pereira Lima

A  bibliografia do cangaço e temas afins é extensa e diversificada. São centenas de livros à disposição dos estudiosos, pesquisadores, colecionadores e admiradores da história e cultura nordestina.  Mas, infelizmente, dezenas destas obras não são mais encontradas nas livrarias e sebos especializados. São consideradas esgotadas e, em alguns casos, raras. Quando são colocadas à venda, estão com preços exorbitantes, totalmente fora da realidade financeira da maioria das pessoas que desejam adquiri-las.

Faço, por meio deste artigo, uma indagação pertinente e natural: por que esses livros não são reeditados? Não é o meu propósito procurar identificar  e analisar os fatores que dificultam ou impedem essas reedições, mas contribuir, positivamente, com este processo, para que o resultado seja promissor. Aproveito a oportunidade para conclamar,  solicitar aos autores, herdeiros de autores já falecidos ou quem esteja na posse do direito destes trabalhos, que procurem reeditá-los, pois são obras extraordinárias, que demandaram milhares de horas de leituras, pesquisas, viagens e entrevistas, com muito sacrifício, principalmente, em épocas mais remotas, quando os autores não dispunham de meios de transporte, comunicação, e a internet, que podemos utilizar atualmente.

Professor Pereira entre, Kydelmir Dantas e Honório de Medeiros em dia de Cariri Cangaço

Então, não se justifica a ausência destas relíquias, na bibliografia disponível  do cangaço. Faço este apelo,  em nome de milhares de pessoas que necessitam dessas obras para a efetivação das suas pesquisas, descobertas e fundamentações teóricas de monografias, dissertações e teses, no Brasil e mundo afora.Os sites, blogs e comunidades virtuais ligados ao fenômeno do Cangaço, como: SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, O Cariri Cangaço,  Lampião Aceso, Cangaço em Foco, Tokdehistória, Lampião, Rei do Cangaço  entre outros, que estão sempre focados e à disposição da expansão do estudo da história e cultura nordestina,  divulgando  os  lançamentos de edições e reedições de livros, revista e  artigos referentes ao assunto, o que facilita  o acesso deste material pelos pesquisadores, colecionadores e interessados no tema.

Como consequência natural da utilização destas ferramentas,  observo um crescimento considerável de pessoas  interessadas no estudo do Cangaço. Além do uso da Internet na distribuição eficiente  desses livros,  o que contribui e incentiva  os autores a editarem e reeditarem suas obras.  Tomo a liberdade e a iniciativa de citar algumas obras, por ordem cronológica,  que gostaria de vê-las reeditadas e espero que os leitores acrescentem, por meio de seus comentários, outros trabalhos esgotados e raros aqui não relacionados:   

Os Cangaceiros, Romances de Costumes Sertanejos 1914, Carlos Dias Fernandes;  Heróes e Bandidos 1917, Gustavo Barroso;  

Beatos e Cangaceiros 1920, Xavier de Oliveira;  

Ao Som da Viola 1921, Gustavo Barroso;  

A Sedição de Joazeiro 1922, Rodolpho Theophilo;  

Lampião, sua História 1926, Érico de Almeida;  

Lampeão no Ceará, A Verdade em Torno dos Fatos 1927, Moysés Figueiredo;

   Padre  Cícero e a População do Nordeste 1927, Simões da Silva;  Os Dramas Dolorosos do Nordeste 1930, Pedro Vergne de Abreu; 

   Almas de Lama e de Aço 1930, Gustavo Barroso; 

 O Flagello de Lampião 1931, Pedro Vergne de Abreu;  

O Exército e o Sertão 1932, Xavier de Oliveira;  Sertanejos e Cangaceiros 1934, Abelardo Parreira; 

 Como Dei Cabo de Lampeão 1940, Ten. João Bezerra;  

Lampeão, Memórias de um Oficial Ex-comandante de Forças Volantes 1952, Optato Gueiros;

  Caminhos do Pajeú 1953, Luís Cristóvão dos Santos; 

 Solos de Avena s/d, Alício Barreto;  

Cangaceiros 1959, Gustavo Augusto Lima;  

 Rosário, Rifle e Punhal 1960, Nertan Macedo;  

Serrote Preto 1961, Rodrigues de Carvalho; 

 O Mundo Estranho dos Cangaceiros 1965, Estácio de Lima;  

Lampião e Suas Façanhas 1966, Bezerra e Silva; 

 Lampião, O Último Cangaceiro 1966, Joaquim Góis;  

Sertão Perverso 19 67, José Gregório;  

Lampião, Cangaço e Nordeste 1970, Aglae Lima de Oliveira;  

Cinco Histórias Sangrentas de Lampião, Mais Cinco Histórias Sangrentas de Lampião(dois livros)1970, Nertan Macedo; 

 Vila Bela, Os Pereira e Outras Histórias 1973, Luís Wilson;  

Terra de Homens 1974, Ademar Vidal;  

Bicho do Cão, Canga, Cangaço, Cangaceiro s/d, José Cavalcanti;  Cangaço:

 Manifestação de Uma Sociedade em Crise 1975, Célia M. L. Costa;  

Figuras Legendárias 1976, José Romão de Castro;  

A Derrocada do Cangaço 1976, Felipe de Castro;  

Antônio Silvino, O Rifle de Ouro 1977, Severino Barbosa; 

 Capitão Januário, a Beata e os Cabras de Lampião 1979, José André Rodrigues(Zecandré); 

 Gota de Sangue Num Mar de Lama, Visão Histórica e Sociológica do Cangaço 1982, Gutemberg Costa;  

Volta Seca, O Menino cangaceiro 1982, Nertan Macedo;  

Prestes e Lampião s/d, Ten.  Adaucto Castelo Branco;  

Sangue, Terra e Pó 1983, José de Abrantes Gadelha;  

Lampião, as Mulheres e o Cangaço 1984, Antônio Amaury C. de Araújo; 

 Lampião e Padre Cícero 1985, Fátima Menezes;  

Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste do Brasil 1985, Frederico Pernambucano de Mello (Será lançado a 5º edição desse livro, agora em janeiro/2012);

 Lampião e a Sociologia do Cangaço s/d, Rodrigues de Carvalho;  

A Vida do Coronel Arruda, Cangaceirismo e Coluna Prestes 1989, Severino Coelho Viana;

  Lampião, Memórias de Um Soldado de Volante 1990, Ten. João Gomes de Lira;  

Nas Entrelinhas do Cangaço 1994, Fátima Menezes;   

Lampião e o Estado Maior do Cangaço 1995, Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena; 

  Cangaço: Um Certo Modo de Ver 1997, Vera Figueiredo Rocha;  

Amantes e Guerreiras: A Presença da Mulher no Cangaço 2001, Geraldo Maia; 

  Histórias do Cangaço 2001, Hilário Lucetti;   

Lampião e o Rio Grande do Norte, a História da Grande Jornada 2005, Sérgio Augusto de Souza Dantas.

Obs. Algumas dessas obras já foram reeditadas, mas, mesmo assim, estão  esgotadas.Está lançado o debate. Vamos à discussão construtiva, formando um elo de entendimento, consultoria,  convergência na direção do resultado positivo, e espero que possamos  colher os frutos num futuro próximo, com novos livros no mercado. Votos de Saúde e paz a todos.

Francisco Pereira Lima - Prof. Pereira
Advogado, Professor, Membro da UNEHS, SBEC e
Conselheiro do Cariri Cangaço
franpelima@bol.com.br
Cajazeiras - PB

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LIVRO DO ESCRITOR JOSÉ BEZERRA LIMA IRMÃO

 Por José Mendes Pereira

Diletos amigos estudiosos da saga do Cangaço.

Nos onze anos que passei pesquisando para escrever “Lampião – a Raposa das Caatingas” (que já está na 4ª edição), colhi muitas informações sobre a rica história do Nordeste. Concebi então a ideia de produzir uma trilogia que denominei NORDESTE – A TERRA DO ESPINHO.

Completando a trilogia, depois da “Raposa das Caatingas”, acabo de publicar duas obras: “Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste” e “Capítulos da História do Nordeste”.

Na segunda obra – Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste –, sistematizei, na ordem temporal dos fatos, as arrepiantes lutas de famílias, envolvendo Montes, Feitosas e Carcarás, da zona dos Inhamuns; Melos e Mourões, das faldas da Serra da Ibiapaba; Brilhantes e Limões, de Patu e Camucá; Dantas, Cavalcanti, Nóbregas e Batistas, da Serra do Teixeira; Pereiras e Carvalhos, do médio Pajeú; Arrudas e Paulinos, do Vale do Cariri; Souza Ferraz e Novaes, de Floresta do Navio; Pereiras, Barbosas, Lúcios e Marques, os sanhudos de Arapiraca; Peixotos e Maltas, de Mata Grande; Omenas e Calheiros, de Maceió.

Reservei um capítulo para narrar a saga de Delmiro Gouveia, o coronel empreendedor, e seu enigmático assassinato.

Narro as proezas cruentas dos Mendes, de Palmeira dos Índios, e de Elísio Maia, o último coronel de Alagoas.

A obra contempla ainda outros episódios tenebrosos ocorridos em Alagoas, incluindo a morte do Beato Franciscano, a Chacina de Tapera, o misterioso assassinato de Paulo César Farias e a Chacina da Gruta, tendo como principal vítima a deputada Ceci Cunha.

Narra as dolorosas pendengas entre pessedistas e udenistas em Itabaiana, no agreste sergipano; as façanhas dos pistoleiros Floro Novaes, Valderedo, Chapéu de Couro e Pititó; a rocambolesca crônica de Floro Calheiros, o “Ricardo Alagoano”, misto de comerciante, agiota, pecuarista e agenciador de pistoleiros.

......................

Completo a trilogia com Capítulos da História do Nordeste, em que busco resgatar fatos que a história oficial não conta ou conta pela metade. O livro conta a história do Nordeste desde o “descobrimento” do Brasil; a conquista da terra pelo colonizador português; o Quilombo dos Palmares.

Faz um relato minucioso e profundo dos episódios ocorridos durante as duas Invasões Holandesas, praticamente dia a dia, mês a mês.

Trata dos movimentos nativistas: a Revolta dos Beckman; a Guerra dos Mascates; os Motins do Maneta; a Revolta dos Alfaiates; a Conspiração dos Suassunas.

Descreve em alentados capítulos a Revolução Pernambucana de 1817; as Guerras da Independência, que culminaram com o episódio do 2 de Julho, quando o Brasil de fato se tornou independente; a Confederação do Equador; a Revolução Praieira; o Ronco da Abelha; a Revolta dos Quebra-Quilos; a Sabinada; a Balaiada; a Revolta de Princesa (do coronel Zé Pereira),

Tem capítulo sobre o Padre Cícero, Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, o episódio da Pedra Bonita (Pedra do Reino), Caldeirão do Beato José Lourenço, o Massacre de Pau de Colher.

A Intentona Comunista. A Sedição de Porto Calvo.

As Revoltas Tenentistas.

Quem tiver interesse nesses trabalhos, por favor peça ao Professor Pereira – ZAP (83)9911-8286. Eu gosto de escrever, mas não sei vender meus livros. Se pudesse dava todos de graça aos amigos...

Vejam aí as capas dos três livros:


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Ou com o autor através deste:


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INFORMAÇÃO MEIO DUVIDOSA.

 Por José Mendes Pereira

O ex-cangaceiro Volta Seca

No ano de 1973, o jornal "O Pasquim", entrevistou Antonio dos Santos, o famoso ex-cangaceiro Volta Seca, e esta entrevista foi publicada na edição de nº. 221 - referente aos meses de setembro e outubro.

Ziraldo Alves Pinto

Ziraldo Alves Pinto, que foi o fundador e posteriormente diretor do periódico "O Pasquim", tabloide de oposição ao regime militar, uma das prováveis razões de sua prisão, ocorrida um dia após a promulgação do AI-5.[8],  fez-lhe a seguinte pergunta:

- Qual era o repertório do Lampião que ele tocava no acordeão?

O famoso ex-cangaceiro Volta Seca respondeu-lhe:

- Bom, ele tocava qualquer negócio, "Asa Branca", Mulher Rendeira... Isso eu tirei lá mesmo, no Raso da Catarina, brincando...

Mas Antonio dos Santos, o meu amigo Volta Seca, um dos cangaceiros da minha admiração, muito embora eu não sendo nenhuma autoridade no que diz respeito ao estudo cangaceiro, afirmo que ele pisou na bola, quando disse ao repórter Ziraldo Alves Pinto, que o capitão Lampião tocava a música "Asa Branca"...

Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira - autores da música Asa Branca.

Ora, a música "Asa Branca", composta por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, realmente, foi um dos primeiros grandes sucessos nacionais do rei do baião Luiz Gonzaga do Nascimento. Mas, ela só foi gravada no dia 3 de março de 1947. Possivelmente, não foi feita a sua composição ainda no tempo de Volta Seca no cangaço. 

Vejam bem leitores, que de 1932 para 1947, se foram passados 15 anos. No seu período de cangaço, e sua prisão em 1932, Luiz Gonzaga ainda não era famoso em lugar nenhum em relação à música. Ele estava apenas com 20 anos de idade. Longe de ser o Luiz Gonzaga de ontem, de hoje e de sempre. 

Só depois foi que ele se tornou conhecido e famoso em todos os Estados brasileiros, de Norte a Sul e de Leste a Oeste do nosso amado Brasil 

Mas é assim mesmo. Cada um conta a sua história da maneira que lhe vem na mente.

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CANGAÇO E CONHECIMENTO (PRA NÃO ACREDITAR NA MENTIRA NEM SER MAIS UM MENTIROSO)

*Rangel Alves da Costa

Todo santo dia surge mais uma baboseira sobre o cangaço. Só faltam dizer que encontraram Lampião na porta do INSS para fazer prova de vida. E não sei se não dizem. Um diz que Lampião morreu em Minas, já outro assevera que sua morte ocorreu na alagoana Pão de Açúcar.

Um diz que morreu envenenado, já outro diz que nem morreu. Pelo jeito, Angico vai se tornando última opção como local de morte. Sim: dizem que aquelas cabeças eram de manequins, pois tudo armação para esconder a fuga acertada de Lampião. O sangue era tinta vermelha e os corpos degolados eram de mentirinha.

Todo santo dia surge uma história assim, sem pé nem cabeça, coisa que nem faz boi dormir. O pior é que muitos acreditam. E pior ainda que muitos escrevem sobre tais mentiras como se verdades fossem. E vão espalhando as aleivosias e os embustes de forma vergonhosa, mas sem vergonha alguma.

Por que tudo isso ocorre? Ora, só pode ser por falta de conhecimento histórico, principalmente da história do Cangaço. E conhecimento que implica em leitura, em pesquisa, em estudo de campo, em ter tempo para ouvir os antigos relatos e testemunhos, para ter capacidade suficiente de avaliar criticamente o dito e o escrito, extraindo de tudo as possíveis verdades. Ou as muitas mentiras.

Conhecimento que implica ainda em buscar diversos escritos sobre a mesma situação, de modo a tornar os múltiplos relatos em possível norte de entendimento. Para conhecer o Cangaço não se deve buscar as aparências ou basear-se somente em teorias conspiratórias. O Cangaço é uma colcha de retalhos que deve ser avistada no todo, desde suas raízes à junção de cada pedaço, pois um entremeado de ações e consequências. E num contexto que envolve injustiça, opressão, vingança, coronelismo, política e traição, dentre outros aspectos.

O acontecido permanece na história, os testemunhos ainda são muitos, mas gente ainda há que prefere o achismo ou o duvidoso. Tudo bem, mas será preciso um mínimo de atenção aos fatos, aos contextos e suas relações. Não se pode dizer apenas que não foi assim. Mas por que não foi assim? Então há que se demonstrar, com seriedade e provas, como de modo diferente aconteceu.

A maioria dos livros sobre o cangaço peca pelas ideologias e defesas próprias dos autores, sem buscar a devida isenção que todo escrito histórico precisa ter, mas ainda assim muitos escritos existem que são confiáveis e que – senão donos da verdade – ao menos traçam confiáveis percursos.

Os testemunhos gravados e que vão surgindo, igualmente devem ser vistos com ponderação, senso crítico e agudeza de discernimento. Até mesmo aqueles que estavam em Angico contam a mesma história de forma diferente e, na maioria das vezes, trazendo para si um protagonismo que nunca existiu. Volantes, coiteiros, cangaceiros, tudo contando a seu modo o que aconteceu de uma forma única. E assim fica difícil de saber quem está dizendo a verdade.

E eis a chave do problema. Apenas um livro ou dois não vai dar o conhecimento suficiente a ninguém. Apenas um testemunho ou dois não vai trazer a verdade a ninguém. Por isso mesmo será sempre preciso o descontentamento. Não se contentar com a história dada é a raiz da questão.

E assim, mesmo que jamais chegue a verdades absolutas sobre a história do Cangaço, a pessoa ao menos não vai querer nem ler ou ouvir baboseiras, mentiras, coisas de quem parece não ter o que fazer.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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SÓ COMO ARQUIVO NO NOSSO BLOG. - SUA VIDA. NOSSA HISTÓRIA - GIOVANNA MAIRA

 Por A.C.Camargo Cancer Center

A cantora e compositora Giovanna Maira conta como descobriu um câncer nos olhos, conhecido como retinoblastoma, quando tinha apenas um ano de idade. Ela conta também sobre o papel dos oncologistas em todo seu tratamento e o incentivo de sua família para que ela seguisse a carreira musical. Emocione-se com sua voz e linda história de superação. http://www.accamargo.org.br

https://www.youtube.com/watch?v=kq5y_fV-3mQ

SUA BIOGRAFIA FEITA PELO SITE WIKIPÉDIA

Giovanna Maira da Rosa Silva (Santa Cruz do Rio Pardo3 de outubro de 1986) conhecida pelo seu nome artístico Giovanna Maira, é uma cantora lírica brasileira (soprano), compositorainstrumentistaescritora e apresentadora de TV.[1] Ela é totalmente cega de retinoblastoma desde um ano de idade.

Biografia

Giovanna Maira nasceu na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo. Iniciou seus estudos de piano com 3 anos e aos 5 anos começou a estudar teclado. Aos 12 anos ingressou no Conservatório Musical Villa-Lobos onde se formou em canto popular. Em 2004, iniciou sua graduação na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), obtendo seu diploma em música especializada em canto e arte lírica. Durante o período de 2003 a 2012 foi aluna de canto do tenor Paulo Mandarino.

Como atriz, recebeu formação pela Oficina dos Menestréis de Deto Montenegro e, atualmente, integra o elenco do Teatro Cego, produzido pela Caleidoscópio Comunicação e Cultura (São Paulo), espetáculo teatral onde o público assiste a peças totalmente no escuro.[2]

Carreira

Seu primeiro álbum foi lançado de modo independente em 2008, pelo estúdio Staccatus Studio. Um Outro Olhar possui canções regravadas e quatro faixas de própria autoria. Em 2013, sob produção de Alex Gil e Jorge Durian, Giovana Maira lançou seu segundo álbum A Look Beyond, inaugurando seu ingresso no estilo crossover. "A ideia é instigar o ouvinte a olhar além como sugere o título, fechando os olhos e deixando-se ser conduzido pelo som, descobrindo, através dele, novas maneiras de ver o mundo assim como eu por toda vida tenho feito", diz a cantora.[3]

Em 2006, foi vencedora do concurso Rosemary Kennedy, promovido anualmente pela Very Special Arts. Após ter vencido a eliminatória nacional, Giovanna concorreu com 86 países até alcançar o primeiro lugar na disputa. Dessa vitória resultou o seu primeiro show internacional na capital americana Washington D.C., no teatro John F. Kennedy Center for the Performing Arts, que contou com uma platéia composta por diplomatas e diversos membros de embaixadas.[4]

Além dos inúmeros concertos realizados na Sala São Paulo (São Paulo), como solista e coralista, acompanhada pela Osusp (Orquestra Sinfônica da USP), Ocam (Orquestra de Câmara da Eca), Allegro Coral e Orquestra,[5] Giovanna Maira também já realizou shows no Mube (Museu Brasileiro da Escultura), Masp (Museu de Arte de São Paulo), Teatro Bradesco e Itaú Cultural. Realizou shows no Credicard HallVia Funchal, Citibank Hall, entre outros. Apresentou-se no Teatro Municipal de São Paulo, cujo espetáculo, envolvendo música e ballet, teve cobertura ao vivo da Rede Globo de Televisão para o Domingão do Faustão.

Como solista, à frente da Orquestra Bachiana Jovem sob regência de João Carlos Martins, realizou grandes concertos, sendo um deles a abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, interpretando a obra de Heitor Villa-Lobos "Bachiana n. 5". A cantora também participou do musical An Evening with Andrew Lloyd Weber, dirigido por Maisa Tempesta. Participou, em 2005, do programa da Rede Globo de TelevisãoCriança Esperança interpretando a canção "Music of the Night" (Andrew Lloyd Webber) acompanhada por um ballet de dançarinas com deficiência visual.

Nos anos de 2005 e 2008 cantou para o então presidente do BrasilLuiz Inácio Lula da Silva (Lula) e em 2013 para a entao presidenta Dilma Rousseff, em evento particular no Palácio do Planalto. Giovanna realizou em 2013 a turnê Bravo Pavarotti ao lado do tenor Jorge Durian e a Orquestra Monte Carlo, na Flórida, que teve seu ápice na Galeria de Romero Britto em Miami.

Desde 2012, Giovanna Maira é convidada para concertos especiais realizados em navios das empresas Msc, Royal Caribbean, Pullmantur e Allure of the Seas.

Recentemente participou do programa da Rede Globo de Televisão Encontro com Fátima Bernardes contando um pouco sobre sua infância, carreira e como lidou com sua deficiência visual.[6]

No primeiro semestre de 2016 Giovanna Maira lançou sua autobiografia, acompanhada de EP com músicas autorais interpretadas com toda a sensibilidade que lhe é característica. O livro conta com audiodescrição e versão em ebook, de forma a ser totalmente acessível.

Em 2017 Giovanna juntamente com os Tenores Jorge Durian e Armando Valsani se juntam para formar o grupo "A Bela e os Tenores" passando a partir de então a se apresentarem nos mais diversos palcos pelo país . Na sequência lançam o álbum "Hallelujah" com produção de Alex Gill onde interpretam áreas sacras e canções natalinas No ano seguinte realizam o grande sonho de se tornarem apresentadores de tv e estreiam juntos pela Rede Vida de televisão o programa " A BELLA ITÁLIA" .

Discografia

Álbuns

  • Um Outro Olhar" (2008)
Faixas
  1. "Acreditando em Você" (Giovanna Maira)
  2. "Dust in the Wind" (Kerry Livgren)
  3. "Epitáfio" (Sérgio Britto)
  4. "Mensagem a um Irmão" (Giovanna Maira)
  5. "Um Outro Olhar" (Giovanna Maira)
  6. "Deus do Impossível" (Alda Célia)
  7. "Conquistando o Impossível" (Beno César e Solange de César)
  8. "Mãe Rainha" (Giovanna Maira)
  9. "Gentileza" (Marisa Monte)
  10. "Sou Teu Anjo" (Dalvimar Gallo)
  • A Look Beyond" (2013)
Faixas
  1. "I Dreamed a Dream" (Alain Boublil)
  2. "Nessun Dorma" (Giacomo Puccini)
  3. "Nella Fantasia" (Ennio Morricone)
  4. "The Prayer" (David Foster & Carol Bayer Sager)
  5. "Angel" (Sarah Mclachlan)
  6. "Love of My Life" (Freddie Mercury)
  7. "O Mio Babbino Caro" (Giacomo Puccini)
  8. "All I Ask of You" (Andrew Lloyd Webber)
  9. "Va Pensiero" (Giuseppe Verdi)
  10. "Ave Maria" (Franz Schubert)
  • Hallelujah"(2017)

Referências

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UMA FAMOSA ENTREVISTA. EX-CANGACEIROS DE LAMPIÃO CONVERSAM COM O FAMOSO REPÓRTER JOEL SILVEIRA.

 Do acervo do Antonio Corrêa Sobrinho


O JORNAL – RIO DE JANEIRO – QUINTA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 1944

]SEIS ANTIGOS CANGACEIROS EXPLICAM O CANGAÇO

Volta Seca, Ângelo Roque, Saracura, Deus Te Guie, Cacheado e Caracol na mais movimentada e estranha de todas as “mesas-redondas”

“A primeira impressão que tive de Lampião foi o de um homem sujo” – Volta Seca: “Nunca vi Lampião brigar sozinho” – Lampião dizia: “Falar alto prejudica” – Cacheado: “Os coiteiros sempre foram a nossa perdição” – Mencionado, entre os coiteiros, o pai do Secretário de Justiça de Pernambuco – Saracura: “A gente nunca sabe como se começa” – Caracol: “O povo do sertão tinha mais confiança na gente do que nos macacos da volante” – O penitenciarista mais moço do mundo – Deus Te Guie: “Houve muita injustiça por estes sertões”

(Reportagem de JOEL SILVEIRA – Fotos de JOSÉ BRITO, da Agência Meridional)

Na Penitenciária da cidade de Salvador, o repórter Joel Silveira, da Agência Meridional, continuando a série “O Caminho do Norte”, reuniu seis antigos companheiros de Lampião na mais estranha, movimentada e pitoresca das mesas-redondas. Volta Seca, Ângelo Roque, Saracura, Deus Te Guie, Caracol e Cacheado, antigos reis das caatingas e dos cangaços, durante perto de três horas falaram ao jornalista sobre suas vidas, sobre os motivos que os levaram à vida do crime, sobre suas esperanças e tristezas. A figura do capitão Virgulino Ferreira da Silva é retratada e analisada fielmente pelos seus ex-comandados, e um dos fenômenos mais típicos do cangaço, o coiteirismo, surge aqui através de tintas novas e fortes.

À “mesa-redonda do cangaço”, na Penitenciária baiana, estiveram também presentes o diretor do estabelecimento, Sr. Paulo Barreto de Araújo, O jornalista Odorico Tavares, diretor do “Estado da Bahia” e do “Diário de Notícias”, além de dois médicos.

CIDADE DO SALVADOR, setembro – Fiz, em meio à conversa, a pergunta repentina: os antigos companheiros e comandados de Lampião, se entreolharam, silenciosos. Ângelo Roque baixou a cabeça e Saracura, com os olhos mais tristes do mundo, pôs-se a olhar pela janela aberta. Segundo depois, porém, Cacheado me encara com o seu rosto de criança, ilumina-se num sorriso cândido e me diz:

- A gente matava como uns danados.

- E acrescenta:

- Mas a culpa não era da gente.

Ângelo Roque, o ‘velho Ângelo”, aprovou com a cabeça. E Cacheado continuou:

- Se os homens educados não auxiliassem a gene com munição, a história seria outra. Não teria se dado nada do que se deu. Pensando bem, os criminosos são eles. Uma pessoa que enxerga não ajuda um bandido.

RESOLVI FAZER JUSTIÇA COM AS MINHAS MÃOS

É uma tarde de quinta-feira, e estamos aqui, num dos mais amplos salões da penitenciária do Salvador, diante de seis famosos homens do cangaço: Volta Seca, Ângelo Roque, Saracura, Cacheado, Deus Te Guie e Caracol. Deus Te Guie é quase um menino, apenas dois anos de banditismo nas caatingas, mas Ângelo já vai se aproximando dos cinquenta: tem um rosto grave, de uma tristeza séria, e o sertão deixou nele profundas marcas – as faces cortadas por rugas como talhos e um brilho de sol inclemente nos olhos. Antes do repórter haver começado a tomar os seus apontamentos, o Dr. Paulo Barreto de Araújo, diretor da Penitenciária, fizera um pequeno discurso aos seis antigos bandoleiros. Aquilo ali era uma espécie de “mesa redonda do cangaço”, na qual seria debatido, entre o jornalista e os homens da caatinga, tudo que lhe dissesse respeito. Que cada um contasse sua história, as razões que o haviam levado a deixar a existência legal e ordeira de suas roças e seus empregos para a tremenda aventura do banditismo sertanejo. E que falassem livremente, com a toda a sinceridade.

- Eu sempre falei com sinceridade.

E me conta, dando início à conversa, que entrou para o cangaço para desafrontar sua honra.

“Sempre fui um homem da ordem. Sempre vivi honestamente do meu trabalho”.

Sua história, em resumo, é simples, e a escuto na própria voz do “velho Ângelo”, uma linguagem seca e típica de sertanejo. Ângelo Roque da Costa nasceu em Jatobá, Itacaratu, em Pernambuco. Entrou para o banditismo em 1928, quando conheceu Lampião. Seu primeiro encontro com Virgulino foi na fazenda Arrasta-Pé, na margem baiana do São Francisco.

- Não me esqueço da primeira impressão que Lampião me deu: a de um homem sujo que dava nojo.

Pouco antes de 28, em Jatobá, um soldado da força local deflorou uma irmã de Ângelo, é o que ele me diz. O caso foi para a justiça, mas o soldado era protegido da política “de cima” – as queixas e revoltas de Ângelo nada conseguiram.

- Então resolvi fazer justiça com as minhas próprias mãos. Fui na casa do soldado, mas só estava lá a mulher dele. Esperei na porta até que ele chegasse. De noitinha ele apareceu, e então lhe disse que ia morrer. Atirei duas vezes. O praça caiu de bruços, mas não morreu. Me disseram depois que andou muito tempo à beira da morte, mas não morreu.

O medo da prisão jogou Ângelo Roque na caatinga; durante vários meses, andou como um seu pouso pelos áridos caminhos do sertão. Pouco aparecia nas cidades. Trabalhou em roças, fez plantações, dormia no mato. Conheceu, depois, Corisco e Arvoredo, e os dois lhe explicaram que a única maneira de viver tranquilo, longe da polícia, era entrar para o cangaço. Em 1928, quando conheceu Lampião, se decidiu. Mas ficou pouco tempo com Virgulino:

- Lampião não podia ficar parado num canto, e eu nunca fui homem viageiro. Além disso, de vez em quando a gente se encrencava. Um dia tive uma briga mais séria com ele, por causa de uma coisa sem importância. A gente estava de emboscada, na caatinga, com a polícia defronte. Uma sede medonha me queimava a garganta, e em dado momento reclamei por água em voz alta. Lampião me disse: “Se falar mais, lhe liquido”. Respondi que isto era difícil. Virgulino me respondeu: “Falar alto prejudica”. Retruquei que também ele, Lampião, gostava de falar alto e reclamar. Virgulino me respondeu que era o chefe; podia fazer o que bem entendesse. “Todo chefe deve dar o exemplo”, disse. Depois outros companheiros se meteram no meio, e tudo ficou aí. Mas compreendi logo que nunca poderia me dar bem com Lampião.

Meses depois, Ângelo falou claro ao capitão Virgulino: ia deixa-lo, formar outro bando, como Corisco. Lampião não protestou, e o “velho Ângelo”, com mais dois companheiros, ficou como residente fixo na zona baiana do São Francisco.

- Mas confesso ao senhor que a vida do crime nunca me seduziu. Eu havia entrado para o cangaço sem querer, mas sempre compreendi que aquilo não estava certo. Quando 1939 começou, eu já estava com a resolução acertada: me entregaria à polícia. Não fizera isto antes, com medo da prisão. Um sertanejo livre não gosta de viver metido entre quatro paredes. Se os doutores me prometessem a liberdade, eu me entregaria com os meus companheiros, acabaria com o bando e iria viver de meu trabalho. Entrei em negociações com os capitães Felipe Castro e Salomão Rehen, da força policial de Coité, no norte da Bahia. Os dois se entenderam com as autoridades da capital e a resposta veio depois: que eu podia me entregar com meus cabras, sob garantia oficial de liberdade. Então nos entregamos. A princípio tudo correu bem. Passei uns seis meses na Bahia sem ninguém me incomodar. Meus companheiros foram para o interior, à procura de trabalho. Com umas economias que tinha, entrei como sócio de um caminhão. Mas depois aconteceu a desgraceira.

O culpado da “desgraceira”, me explica Ângelo Roque, foi o promotor de Coité, que, em 1941, requereu da justiça estadual a prisão do “velho” e dos seus companheiros.

- Este homem sempre me quis mal, não sei porque. Nunca fiz nada com ele.

A justiça foi implacável para com os antigos reis do cangaço: Ângelo e seus amigos foram condenados, cada um, a 30 anos de prisão.

VOLTA SECA BRIGA COM LAMPIÃO

O doutor Paulo Barreto de Araújo (é o mais jovem diretor de Penitenciária de todo o mundo, me explicaram na Bahia – ele tem 25 anos de idade) me diz que, na prisão, o comportamento de Ângelo Roque tem sido exemplar. Há meses atrás, o antigo bandoleiro trabalhou numa ‘Horta da Vitória” da Legião Brasileira de Assistência, e diariamente, sem qualquer vigilância, seguia, a bonde, para o bairro de Brotas, como qualquer outro passageiro da Circular. E de todos os seis ali presentes, o único que tentou fugir foi Volta Seca. Pergunto ao famoso “cabra” de Lampião, seu lugar-tenente, o que pretendia ele fazer ao se sentir livre o seguro. Volta Seca- é o mais vivo, o mais alegre e o mais inteligente de todos – me responde num sorriso:

- Ia cuidar de minha vida.

E depois:

- Me meteria num lugar bem longe, mas tão longe que ninguém ouvisse falar de mim. Mudaria de nome e ia viver tranquilo. O que passou, passou.

Sua fuga, há pouco mais de um ano, foi um pródigo de habilidade e sangue frio: com uma lima rústica, Volta conseguiu serrar uma das grades da prisão, e seu corpo fino e elástico, corpo de menino, deslizou pela pequena abertura e, depois, por um reduzido espaço entre os fios elétricos do muro da Penitenciária.

- Em pouco mais de vinte dias, fui a pé daqui da Bahia até Santa Luzia, em Sergipe. Não fui em menos tempo, porque um companheiro meu, que também havia conseguido escapar, adoeceu no caminho.

Converso com este rapaz de 28 anos de idade (parece ter apenas vinte), e às vezes me esqueço que foi ele próprio, há dez anos atrás, que comandou uma série de horrores numa fazenda de uns parentes meus, no sul de Sergipe. Seu bom humor é contagiante, e é impossível deixar de rir quando Volta nos revela, na sua maneira dialogada, ecos de sua fuga recente:

- Uma tarde cheguei numa roça e pedi emprego. A dona da roça me olhou, perguntou depois: - “Você não é o Volta Seca? ” Dei um pulo para trás, gritei: “Deus me livre, minha senhora! Isto é coisa que se diga! ” Então a moça continuou: “Pois já vi o retrato de Volta Seca e o senhor se parece muito com ele. ” Respondi: “Pois então, dona, me pareço com o diabo! ”

Pergunto a Volta Seca sua opinião pessoal sobre Lampião, e ele me responde:

- Lampião sempre foi um homem difícil de explicar.

- Mas era valente?

- Homem, não sei. Rodeado de amigos bem armados e dispostos, todo mundo é valente... Nunca vi ele brigar sozinho. Lampião só andava rodeado, e assim qualquer trabalho é fácil.

Aponta para Ângelo Roque, afogado na sua gravidade:

- Valente era aquele ali. Isto sim. Já vi várias vezes o velho Ângelo enfrentar sozinho vários “macacos” (macacos são os soldados das volantes).

Também Volta Seca brigou, certa vez, com Lampião. Foi uma briga muito séria, me diz ele, e Deus Te Guie confirma:

- Naquele dia, eu tinha certeza que um dos dois ia acabar de viver: ou Volta ou o capitão.

O mal-entendido entre o chefe do bando e o seu cabra mais importante e famoso teve lugar em 1931, após um duro combate com a força policial. Um dos bandoleiros, Bananeira, havia sido ferido pelos “macacos” e ficara estendido na estrada. Volta Seca procurou Lampião e pediu-lhe autorização para ir buscar o amigo ferido. Virgulino achou que a empresa era perigosa e que a saída de Volta poderia facilitar aos soldados a pista do bando. Mas Volta Seca não podia deixar o companheiro morrer, me diz. Então surgiu o primeiro atrito entre os dois. Em companhia de Caracol, que também está aqui presente, com seu rosto parado, Volta conseguiu arrastar Bananeira até um lugar bem seguro. Mas Bananeira estava muito ferido, e teve que ser transportado numa rede.

- Bananeira pesava como o diabo, me dia Volta Seca.

Quando os dois chegaram, com o companheiro ferido, Lampião e o resto do bando já haviam ido embora. Voltaram depois, e Virgulino procurou Volta Seca.

- Menino, a gene tem que andar depressa. Os macacos estão por perto. Solte o ferido aí e monte no seu cavalo.

Volta Seca respondeu que não podia fazer aquilo. Bananeira iria com ele – e montou o ferido no seu próprio cavalo. Virgulino, cheio de raiva, ordenou a Volta que desmontasse Bananeira.

- Então o sangue me subiu para a cabeça. Disse que não desmontava. Lampião pegou na carabina, mas fui mais ligeiro do que ele. Apontei bem no peito, e lhe disse: “Se o senhor com as pestanas, atiro” – Lampião estava verde de raiva. Ficamos assim um tempo grande, um olhando para o outro. Depois os companheiros serenaram a coisa. De noite, no meu rancho, fui avisado por Quixabeira e Gavião que Lampião ia me matar no dia seguinte. Então dei o fora.

“QUASE TODO DONO DE FAZENDA ERA COITEIRO”

Volta Seca tinha apenas 14 anos quando entrou para o bando de Virgulino Ferreira da Silva. Nascera em Itabaiana, no centro de Sergipe, fugiu de casa e andou sozinho pelo sertão. Encontrou-se com Lampião em Guloso, no município de Bom Conselho, na Bahia. Ele me diz agora que, quando menino, apanhava quase que diariamente de Lampião. De Virgulino e dos outros:

- Todo mundo gostava de enxugar a mão em mim. Até o velho Roque. Mas depois endureci o cangote, e o primeiro que me apareceu com ares de pai, recebi com a mão no rifle.

Volta Seca me garante que metade das histórias que contam a seu respeito não são verdadeiras.

- Gostam de contar, por exemplo, que eu só matava à traição. Uma calúnia. Eu posso ser tudo, meu senhor, posso ser ruim de doer, mas uma coisa não sou: covarde e traidor. Nunca matei ninguém pelas costas, sempre em defesa própria. E sempre fui amigo dos meus amigos. Eu podia ter matado Lampião, naquele dia da briga, matar pelas costas, friamente. Mas não matei, porque era feio.

Pergunto a Volta Seca os nomes de alguns dos coiteiros mais importantes e mais chegados ao bando. Ele sorri e responde:

- O que passou, passou.

Mas Cacheado toma a palavra:

- Quase todo dono de fazenda era coiteiro. Os coiteiros sempre foram a nossa perdição. Eles nos davam dinheiro, comida e munição. E eram sempre eles que nos entregavam aos macacos.

Cacheado lembra-se de dois coiteiros importantes: Antônio Caixeiro, do noroeste de Sergipe, e do Dr. Odalio, de Pau Ferro, em Pernambuco, pai do atual secretário de Justiça do Estado de Pernambuco, no governo do interventor Agamenon Magalhães.

Volta Seca tenta inocentar os coiteiros, dizendo:

- Eles tinham que ajudar a gente. Senão a gente queimava a fazenda e matava o gado.

VOLTA SECA CONTRA O SR. BERILO NEVES

Pouco antes de iniciarmos a longa conversa de mais de três horas, Volta Seca falou baixinho ao repórter, num vão da sala:

- Lhe digo ao senhor que tenho muita raiva de jornalista.

E agora ele revela que sua raiva toda nasceu de uma calúnia que, a seu respeito, divulgou “um tal de Dr. Neves”. O doutor Neves é o cronista Berilo Neves, essa teimosa preciosidade da subliteratura nacional. Numa de suas crônicas diárias do vespertino, Berilo, comentando a fuga de Volta Seca, escreveu várias coisas que o antigo bandoleiro julga extremamente injuriosas à sua pessoa. Segundo Berilo Neves, a prisão transformara inteiramente o antigo lugar-tenente de Lampião, tornando-o um rapaz pacato e acomodado, de voz fina e gestos femininos, apenas preocupado com a ciência de tricô, que aprendera recentemente. Mas a verdade é que venho encontrar um Volta Seca viril, de fala dura. Ângelo Roque me diz:

- Foi uma maldade o que o jornalista fez com Volta. Volta sempre foi um homem.

E o próprio Volta Seca me diz:

- Um amigo me mandou o artigo e nunca mais o perderei. Está cortado, muito direitinho, e guardado no meu baú. Não sou um cabra vingativo, mas gostaria de procurar aquele doutor, quando sair da prisão, para ensinar a ele a fazer crochê. Por causa de seu Neves, tomei raiva de jornalista. Só vim aqui para esta reunião porque o Dr. Paulo pediu muito, e ele é bom para comigo. E agora que o senhor está aqui, quero lhe pedir um favor: desminta lá fora o que disseram de mim. Escreva no seu jornal que sou um homem sério. Digam que sou bandido, que sou criminoso, não há de ser nada. Mas não me chamem de cabra safado, que eu não sou.

Todos os outros companheiros de Volta ficaram também revoltados com a calúnia do cronista carioca. Caracol, um homem de poucas palavras, quebrou o seu silêncio para dizer:

- Isto não se faz. Com a honra de um homem não se brinca.

A GENTE NUNCA SABE COMO SE COMEÇA

Saracura, a pele esverdeada pelo impaludismo, o olhar distante, se perde no mundo lá de fora que a janela aberta deixa ver: o telhado comprido da estação de Calçada, as casas equilibradas no morro ao lado, a chaminé comprida da fábrica. É um rapaz calado que de vez em quando morde os lábios. Suas respostas são quase monossilábicas. Pergunto:

- Como você começou essa vida de bandoleiro, Saracura?

Ele responde:

- A gente nunca sabe como se começa.

Ângelo Roque é da mesma opinião:

- Nunca se sabe. Uma coisa digo ao senhor: ninguém nasce bandido. Vamos dizer que aquele soldado casado não tivesse feito mal à minha irmã – tudo teria sido diferente. Eu continuaria na minha rocinha, talvez tivesse hoje umas economias, talvez até já fosse dono de um sítio. Nunca fui um homem da maldade. Depois que a gente cai no caminho do crime, é que é o diabo. O medo da prisão transforma o indivíduo numa fera.

Caracol, tão calado, parece despertar, e começa a falar numa espécie de explosão:

- Por aí só se fala nas crueldades dos bandidos. Mas o senhor ande pelo sertão, converse com o povo pobre de lá – todo mundo dirá ao senhor que muito mais barbaridades do que nós, praticavam os soldados da força volante. Eu poderia aqui citar casos e mais casos de coisas horrorosas que eles praticaram por estes sertões. Bandidos como a gente. Por isto é que, em muitas cidades e povoados, nós, os cabras, éramos recebidos como salvadores. Em certos lugares, meu senhor, o povo tinha mais confiança na gente do que nos macacos da volante.

Volta Seca aparteia:

- É isto mesmo: os crimes dos macacos foram iguais aos nossos. Mas nada aconteceu com eles. E com os coiteiros? Os homens importantes e ricos do sertão, que nos ajudavam, nos davam armas e víveres, continuam ricos e importantes. Quando fui interrogado pelo júri, denunciei “seu” Petronilio, de São José da Glória, aqui na Bahia, como o maior coiteiro de todo o sertão. Mas a denúncia ficou por isso mesmo.

Cacheado volta com o seu riso de menino:

- A gente matava muito, a gente matava como uns danados. Mas a polícia matava mais.

Ângelo Roque faz um gesto com a mão, e o silêncio volta para a sala. Agora só se ouve a voz grossa do “velho Ângelo”, que diz muito sério:

- Mas não vamos falar mais nisso. O que passou, passou, já disse. O que adiante agora é que nos deem a liberdade prometida. Sou ainda um homem moço, quero ficar livre, trabalhar e cuidar de minha vida.

Volta Seca volta-se para o repórter: - Veja o que o senhor pode fazer por nós. Até agora ninguém nos ajudou. Chegam aqui uns doutores, pedem para ver a gente e saem prometendo mundos e fundos. Mas a verdade é que continuamos aqui. Já passei um tempo medonho na prisão, mais de dez anos, quero a liberdade. Fugi, há pouco tempo, porque não aguentava mais. Se eu não fugisse, ficava maluco.

Deus Te Guie acrescenta:

- “Seu” Ângelo não gosta que a gente fale, mas é preciso que se diga que houve muita injustiça por estes sertões. Por que foi que “Arvoredo” ficou criminoso? Por causa das barbaridades que os macacos fizeram com sua família.

E é Volta Seca quem me conta a história:

- O pai de Arvoredo vivia em Santo Antônio da Glória. Numas eleições, o velho deixou de voltar no chefe político do lugar. O chefe mandou os volantes no seu sítio, e eles fizeram horrores: estupraram as duas filhas e mataram os quatro filhos do velho, inclusive duas criancinhas de berço. Só escapou Arvoredo, que tratou de fazer justiça com suas mãos. Acabou bandido e o velho se tornou coiteiro. Foi preso um dia e acabou morrendo aqui nesta Penitenciária, há dois anos atrás, quase com oitenta anos.

O próprio Saracura parece, agora, sair do seu sono triste. Pede a palavra e conta:

- Posso falar também do meu caso. Peguei na espingarda quase que obrigado, para vingar as misérias que fizeram com meu pai. Um dia, no Coité, as volantes invadiram o nosso sítio. Queriam à força que meu pai desse notícia dos bandidos, como se ele fosse coiteiro. O velho não sabia de nada, e então os macacos começaram a supliciar o pobre: arrancaram as barbas dele fio por fio, arrancaram suas unhas com alicate. Se o senhor pensar que estou mentindo, vá no Coité e procure André Paulo do Nascimento, que mora nas redondezas. É o meu pai. Ele dirá ao senhor se estou ou não falando a verdade. Ele mostrará ao Sr. o estado em que ficaram seus dedos. E eu próprio, antes de pegar na espingarda, fui um dia violentamente espancado na fazenda Curral, perto de Coité. Os macacos haviam dito que eu era coiteiro, mas a verdade é que, até então, eu nunca vira um bandido na minha vida.

Saracura me revela mais que é casado e tem três filhos, que de vez em quando o visitam. A última carta que recebeu do seu pai veio com a data de 6 de agosto do ano passado.

“QUERO TIRAR UM RETRATO OLHANDO LÁ PARA FORA”

A palestra chega ao seu fim, e peço agora aos antigos companheiros de Lampião que permitam ao meu fotógrafo uma série de instantâneos, coletivos e individuais. Instintivamente, Deus Te Guie abotoa a blusa e passa a mão pelos cabelos envernizados. Volta Seca diz num sorriso:

- Só deixo tirar meu retrato se o senhor mandar uma cópia para mim.

E quando o violento magnésio do meu amigo Brito rebenta na sala, como um tiro de canhão, o ex-lugar tenente do capitão Virgulino dá um pulo da cadeira:

- Um tiro desgraçado! Parece pólvora seca.

E quando lhe peço uma pose especial, Volta chega até a janela aberta e diz:

- Quero tirar um retrato olhando lá para fora com cara triste. Para mostrar aos doutores que estou doidinho para sair daqui.

Há uma larga distribuição de charutos e, ao se despedir, o velho Ângelo aperta minha mão com força:

- Disponha aqui de um criado às ordens. Desminta as calúnias que fizeram a Volta e veja o que o senhor pode fazer por nós.

Nas imagens: Na da esquerda - Saracura, Cacheado, Volta Seca, Deus Te Guie, Caracol, e o jornalista Odorico Tavares (de perfil). Nas seguintes: Ângelo Roque (Labareda), Volta Seca e o jornalista e escritor Joel Silveira.


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