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sábado, 24 de janeiro de 2015

AUTO DA LIBERDADE - MOSSORÓ

Por Aderbal Nogueira

Quem foi para pilhar, roubar e matar virou SANTO. Quem defendeu ficou relegado ao esquecimento. Queria ver quem endeusa Lampião morando em Mossoró a época o que pensaria. 

Fonte: facebook
Página: Aderbal Nogueira

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FOTO DE DURVAL RODRIGUES ROSA


Esta foto é o irmão de Pedro de Cândido, Durval Rodrigues Rosa, quando de sua volta a Grota do Riacho Angico, junto as autoridades, volantes, delegado e jornalista, na tentativa de identificação dos corpos decapitados, dos cangaceiros ali assassinados, expostos para servirem de comida para os urubus. ”(...)

No livro “Assim morreu Lampião”, página 101, o irmão de Pedro de Cândido – Durval – disse que na terça-feira à noite levou dois sacos de balas para Lampião que João Bezerra mandava, e ainda, afirmou categoricamente que Lampião ficou um longo tempo, afastado do bando, em uma conversa sigilosa com Pedro de Cândido. “Muito novo, com uns 18 anos, num conhecia nada disso i o Pedro palestrou muito com Lampião. Até de madrugada” – asseverou convicto Durval Rodrigues Rosa que prosseguiu em seu depoimento dizendo:

 “Os dois. Dentro do mato. Us cangaceiros tudo calmo”. “Elis cunversaram, i dispois si dispidiram” – ainda testemunhou Durval(...)”.

Fonte principal:
(Postado por CARIRI CANGAÇO
Matéria “Os Labirintos de Lampião” 
Parte II 
Por: Alcino Costa
Foto ‘acervo’ Volta Seca
Material retirado do: facebook

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A Religiosidade do Capitão

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Até os homens mais bárbaros da história da humanidade tinham religiosidade. Talvez não fossem homens frequentadores de templos, mas detinham em suas mentes crença em situações com relações de causa e efeito que não se podem mostrar de forma racional ou empírica. Tinham alguma forma de superstição. Alguns estudiosos da Bíblia afirmam que a superstição infringe as leis ali descritas e está portanto em contradição com sua religião. No entanto a própria Bíblia aceita as superstições do povo judeu, uma vez que é um texto produzido por aquele ambiente cultural. Entre elas estão a questão da pureza no comportamento sexual, a recusa em consumir alimentos considerados impuros, o não contato com cadáveres, o próprio entendimento do que é pecado, a observância do sábado entre outras. Muitos destes conceitos culturais foram herdados pelo cristianismo que assimilou a crença em demônios, no juízo final, no arrebatamento ao final dos tempos.

Nesse pequeno artigo, faremos uma análise comentada das páginas 28 a 34 do livro de Nertan Macêdo “Lampião”, onde disserta sobre a religiosidade do Capitão Virgulino onde diz que tal religiosidade era a do “... sertão, a das Missões antigas, um catolicismo velho, feito de lendas, superstições, ladainhas, rosários, encomendações, ofícios de trevas, horas marianas, missões abreviadas e Lunário Perpétuo. A mesma dos seus antepassados que oravam no meio da noite e ao meio-dia, horas em que o Diabo se solta para perder o mundo. Sentimento de fundas raízes, no espaço e no tempo. No seu viver de perseguido, rezou sempre.”

A fé se manifesta de várias maneiras e pode estar vinculada a questões emocionais tais como reconforto em momentos de aflição desprovidos de sinais de futura melhora, relacionando-se com esperança e a motivos considerados moralmente nobres ou estritamente pessoais e egoístas. Pode estar direcionada a alguma razão específica que a justifique ou mesmo existir sem razão definida. E, também não carece absolutamente de qualquer tipo de argumento racional.

Em referência continuando nas palavras do escritor Nertan Macêdo "Quando o sol se empina e lhe vai em raios verticais sobre a cabeça, a sombra minguada aos pés, nos pousos, nas estradas, nos combates, ele verga os joelhos, genuflexo, no chão duro, pende a cabeça humilhada e, contrito, com a grande mão ossuda e escura a bater no peito, reza com fervor. Os companheiros, em torno, fitam-no cheios de respeito estranho. Se a cavalo perlustra erma estrada, quando o seu relógio marca as doze horas, ele se apeia e, genuflexo na areia quente do caminho, curva a cabeça a se comunicar com as misteriosas forças do Além. Mesmo no mais renhido tiroteio, abandona o fuzil e suplica a não sei que santos ou diabos lhe continuem a conservar o corpo fechado".

Era um homem cismado e mantinha suas crenças pessoais, talvez adquiridas em sua formação religiosa, assim como tantos sertanejos possuíam. Era também sectário enquanto não aceitava a religião africana. Dentre as muitas estórias do Capitão, conta-se que, numa noite, quando descansava da caminhada, ouviu toadas de candomblé no meio do mato. Não via aquela a sua religião. Aproximou-se de mansinho, surpreendendo alguns fiéis em torno de um pai-de-santo, um negro. Espantou-se, obrigando o feiticeiro a comer a galinha sacrificada, expulsou-os dos seus domínios, em nome da Virgem Maria e do Padre Cícero Romão Batista. No entanto, de uma feita, na povoação de Novo Amparo, arranchou-se numa casinha. Enquanto comia o almoço, fez arder nos cantos da sala quatro velas. Acreditava nas rezas-fortes que tornam o corpo imune às balas e perigos. Quem sabe se isso é verdade? Tantas estórias existem da vida do Capitão!

“A formação da gente sertaneja é baseada no início do descobrimento do Brasil e o Diabo veio nas caravelas de Cabral, trazendo o frade capelão Henrique de Coimbra. Com o frade desembarcou no Brasil um personagem até então desconhecido dos nativos — o Diabo — naquele longínquo ano de 1500 do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Numerosos disfarces, Lúcifer, Asmodeu ou que outro nome tenha, a réplica de Deus distribuiu-se pelos litorais da nova terra, repartindo-se, mais tarde, entre os bandos de penetração, com os quais chegou aos sertões do nordeste, nos tempos do povoamento. Conheceram-no, escamoso, repelente, indesejável, os índios e os negros, pela pregação terrificante dos missionários europeus, pela tradição verbal dos colonizadores lusitanos. Daí concluir Luiz da Câmara Cascudo: o Diabo brasileiro é o velho demônio português, "com os mesmos processos, seduções e pavores".

Oficialmente, todavia, a presença do Cão no Brasil só foi reconhecida e proclamada muitos anos depois da Descoberta. Cascudo, com razão, assinala tal reconhecimento e proclamação oficiais, no “Documentário da Visitação do Santo Ofício” — dois volumes da Bahia, um de Pernambuco —, os quais registram as comunicações do Tinhoso com amigas bruxas — "algumas sabendo até criá-los em vidrinhos, como filhinhos, tornando-se o familiar, espécie de diabinho doméstico, servo da feiticeira".

No país de Lampião, a figura clássica, a imagem tradicional do Diabo é mesmo aquela descrita pelo escritor potiguar: negra, magra, chifruda, de rabo, casco, espeto, assumindo tanto as formas de um bode, como as de um morcego, as de um porco, as de uma mosca, de um cachorro grande ou de um gato. Só não pode assumir, no universo nordestino, as formas dos animais abençoados, historicamente ligados ao nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo: o boi, o jumento, a ovelha, o galo.

Lampião sabia que a hora da aparição do Diabo era na meia-noite, pelas encruzilhadas desertas. Sabia que, para afugentá-lo, de nada valiam os rifles e punhais. As armas eram outras: a cruz, a oração, a água benta. Ruim e perverso se lhe afigurava o Tinhoso. Era ele quem procurava arrebanhar as almas do outro mundo às profundas do seu reino abismal, o que obrigava, também, a vigília constante de São Miguel Arcanjo, guardião celeste, juntamente com Nossa Senhora e todos os Santos do Céu.

Os avós de Lampião conheciam o Diabo de longa data. O Diabo que tem, em Portugal e no Brasil, tantos nomes quantas são as suas ciladas: tanso, carocho, enguiço, azango, onzoneiro, diacho, nica, careca, tição negro, coisa má, caipira, mafarrico, demo, malasartes, tatro, trado, porco sujo imundo, cão tinhoso, tisnado, sarapelho, fusco, cornudo, barzebu, satanás, mulambudo, esmulambado, cambito, dedo, moleque, fute, pé de meia, dêbo, pé prêto, pé de pato, futrico, figura, bode, capa verde, gato prêto, malino, sapucaio, pêro botelho, bicho, rapaz, tinhoso, capeta, capiroto, coxo, coisa suja, maioral, ele, maldito, demo, cafute, droga, excomungado drale, bode sujo, inimigo, mofino, maldito não sei quê diga, tição, taneco, temba, sarnento, encapetado, dianho...
Alguns títulos do Capiroto soam como apelidos de cangaceiros que as diabruras do cangaço apareciam aos olhos do povo nordestino como artes do Demo. Lampião, ele próprio, encarnava  segundo alguns sertanejos, o Demônio em figura de gente.

Gustavo Barroso sintetiza bem a imagem do Tinhoso na alma sertaneja, com as seguintes palavras:  “Geralmente, o demônio sertanejo, como o de todos os povos, é criado a sua imagem e semelhança. Anda, por isso, encourado como os vaqueiros, monta a cavalo, é especialista em velhacadas de cigano, gosta de cachaça, come picadinho de bode com jerimum, dança nos sambas, campeia o gado, faz a côrte às moças, e desaparece sempre com um estouro e um fedor terrível de enxofre ou de chifre queimado.”

O sertanejo herdou do português a velha crença nas chamadas horas abertas, meio-dia, meia-noite, fim da noite, fim do dia. Tão forte é a presença do Diabo na vida do sertão que até em sonho cangaceiro tinha mêdo dele. Assim foi o Capitão Lampião. Chei de crenças e pavores herdados nas heranças missionárias dos jesuítas, onde escreve Euclides da Cunha, mostrando que  "O povoamento do Brasil fêz-se, intenso, com dom João III, precisamente no fastígio de completo desequilíbrio mental, quando todos os terrores da Idade Média tinham cristalizado no catolicismo peninsular".

Nertan Macêdo liricamente disserta “Esse catolicismo peninsular transplantou o Diabo ao mundo da solidão sertaneja e, anjo caído nas trevas, entrou de rijo na poesia cantadoresca, com suas gestas de bichos e cangaceiros. Afirmou-se como um participante ativo da ordem moral dos confinados, do caráter mesmo daquelas gentes, de quem o cronista admirável escreveu, certa vez: "Caldeadas a índole do colono e a impulsividade do indígena, tiveram, ulteriormente, o cultivo do próprio meio que lhes propiciou, pelo insulamento, a conservação dos atributos e hábitos avoengos, ligeiramente modificados apenas consoante as novas exigências da vida. E ali estão com as suas vestes características, os seus hábitos antigos, o seu estranho aferro às tradições mais remotas, o seu sentimento religioso levado até ao fanatismo, e o seu exagerado ponto de honra, e o seu folclore belíssimo de rimas de três séculos..."

Sim, como até hoje, missionários religiosos com sua autoridade imensa, continuam agora a desenhar em países atrasados na África e continuam nos rincões sertanejos, principalmente ainda nos cafundós do nordeste brasileiro, a montar suas teses de domínio da mente humana, com seus ensinos da imaginação, a figura do Diabo.

No Brasil, as Missões Católicas no sertão — as Santas Missões, assim como se deu no estado americano do norte, a California, envolvendo os índios, a derramar suas ladainhas a respeito do diabo e sua morada o inferno de fogo.

Tudo isso veio a alucinar o sertanejo crédulo; alucina-o, deprime-o, perverte-o. Conta-nos Nertan Macêdo que o ilustre sergipano Gilberto Amado, quando menino, no tempo da Guerra de Canudos, assistiu a uma dessas Missões na sua cidadezinha de Itaporanga da Ajuda. O relato é admirável: "Os frades engrolavam um vocabulário restritíssimo. Suas guturais rasgavam os ouvidos. Dom Amando, o chefe, o maioral, esguio, o nariz adunco, as faces cavernosas, os olhos fundos, tipo de monge tenebroso, movia-se com algo de espectral e quando, ao deixar a latada na sombra, chamava o capuz sobre a cabeça e tomava o ar de uma grande ave noturna.” - Fazia mêdo. Tudo isso era para amedrontar mesmo, pois a forma de trazer o povo crédulo para os átrios das igrejas era essa e foi aprendida pelos protestantes, que agora usam esse mesmo método para trazer seus crentes à fé.

Luís Cristóvão dos Santos, cronista do sertão pernambucano, natural de Pesqueira, conta-nos que ainda menino foi morar em Custódia, para onde se mudou a família, e que em uma Missão pregada polo famoso Frei Damião, ouviu o sermão do frade e narra o fato: "A princípio o taumaturgo. descreveu as delícias do céu, os querubins tocando harpa e uma nuvem de incenso vagando no azul, entre anjos e santos.

A multidão ouvia em silêncio, maravilhada e boquiaberta. Então, de repente, o frade mudou. Sacudiu os braços e soltou a. maldição terrível: — Homens sem Deus, mergulhados na lama do pecado. Amancebados! Mentirosos! Adúlteros! Arrependei-vos de vossos pecados. E passou a descrever as torturas do inferno. labaredas subiam, tochas ardendo, um relógio marcando: Sempre! Sempre! Nunca! Nunca!, que são as horas da Eternidade. E no meio da fornalha, o suplício do fumaceiro de enxôfre sufocando tudo.

Aí a multidão se abateu, lábios ciciavam. "Eu pecador, me confesso a Deus", almas tremendo de pavor, como corpos sacudidos de maleita. Junto de mim um matuto de Quitimbu tinha os olhos esgazeados. Cheguei mesmo a ver o suor lhe empastando a fronte morena. Uma velha traçou o xale com fôrça, cobrindo a cabeça tôda, temendo a baforada do Satanás. E ao meu lado, um soldado desatou o lenço que trazia ao pescoço, como se a coisa lhe abafasse a respiração. E, voltando-se para um companheiro, avisou que ia tomar uma "bicada" pois o cheiro do enxofre estava lhe sufocando a garganta. Depois frei Damião baixou os braços, serenou a voz. Nunca, na minha vida, vi silêncio maior. A praça parada, o povo de lábios chumbados, olhos fitos no frade. Só o vento inocente agitava de leve as bandeirinhas de papel de seda, que drapejavam acima das cabeças e do fogo do inferno. Então o frade rezou. E a multidão respondeu, contrita e imóvel, como, se ao invés de milhares de vozes, ali estivesse apenas uma só pessoa, postada diante do pregador famoso, na hora aguda do juízo final, prestando contas ao Altíssimo. Aquilo não era Custódia. Era o vale de Josafá"...

Essa foi a maneira que o sertanejo nordestino foi catequisado. O Capitão Virgulino Lampião, veio desse meio, onde o domínio religioso usava o Diabo e por isso a proteção contra ele teria que ser nas fortes rezas, nos escapulários com papeis escritos e costurados, como se costurado à alma do suplicante e usuário dos mesmos, fechando seus corpos de faca e bala, doenças, pobreza, contra injustiças, contra mau-olhado e inveja. Esse foi e ainda é o sertão de Lampião.

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Celebração Eucarística em Memória do Beato José Lourenço e da então comunidade do Caldeirão


ONG Beato José Lourenço convida todos a participarem da Celebração Eucarística em Memória do Beato José Lourenço e da então comunidade do Caldeirão, que acontecerá dia 12 de fevereiro, quinta-feira, às 17h na Capela do Capela do Perpétuo Socorro em Juazeiro do Norte/CE.

Na ocasião será realizada homenagem a cinco grandes personalidades caririense, pelos serviços prestados a região.

Realização: ONG Beato José Lourenço
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ENTREVISTA DO ESCRITOR GERALDO FERRAZ


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Enviado pelo pesquisador do cangaço Capitão Alfredo Bonessi

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EM BUSCA DE LAMPIÃO

Por Antonio Corrêa Sobrinho

Demorar um pouco mais na sertaneja e progressista cidade sergipana de Nossa Senhora da Glória, antiga Borda da Mata, onde estou nestes dias, a trabalho, foi a disponibilidade de tempo que eu precisava para ir a lugares que Lampião e os asseclas Luiz Pedro, Volta Seca, Quinta Feira, Ezequiel (Ponto Fino), Virgínio (Moderno), Corisco, Arvoredo, Ângelo Roque (Labareda), Mariano, Delicado e Zé Fortaleza (Fortaleza II), no dia 20 de abril de 1929, estiveram nesta cidade em razia.


Fui ao local da feira, onde Lampião e os seus amigos cangaceiros fizeram-se presentes, até assistiram à morte de bode, ali mesmo, na feira; feira onde ele, quieto, tranquilo e bem humorado, deu esmolas, agradou a crianças, conversou com pessoas. Tirei foto onde era o salão de Zé Besouro, onde Lampião fez a barba. Também da Intendência, hoje a Prefeitura, cujo gestor João Francisco de Souza (Joãozinho), também comerciante de tecidos, tratou Lampião muito bem e atendeu a todas as reivindicações do cangaceiro: bom dinheiro, lauto almoço e animais de montaria. E a Cadeia, xadrez sujo e fedido, onde ficaram presos enquanto Lampião agia, sem antes entregarem as armas, o sargento Alfredo e os soldados Osório, João e Zé Rodrigues. 


Nada, porém, foi mais interessante do que o encontro que eu tive com a senhora Nair Aragão Feitosa, de 93 anos, viúva do ex-escrivão Pedro Alves Feitosa, ofício que ela também exerceu; dona Nair que foi uma das centenas de pessoas que naquele dia, estiveram a mercê do mais temível bandoleiro das terras sertanejas.


Dona Nair, embora convalescendo de uma cirurgia ortopédica, mas lúcida como poucos na sua idade, me disse coisas a respeito desta presença cangaceira, confirmando o que disseram os pesquisadores. Informações que, considerando a sua pouquíssima idade em 1929, ela, em boa parte, deve ter obtido de terceiros, no correr dos seus anos. 

Porém, o que eu mais queria dela, era saber se ela viu Lampião.

Quando eu lhe fiz a pergunta, ela respondeu imediatamente, sem pestanejar, que sim. 


Ela disse que naquela manhã, ela estava em casa, uma edificação situada na praça da feira, e ouviu quando seu pai disse: “Lampião entrou!” Portas foram fechadas, e de uma fresta na janela, a uns 20 metros de distância, dava pra ver claramente quatro cangaceiros juntos, em pé, parados, segurando o fuzil fora de posição, na vertical com a coronha no chão; tinham chapéus grandes na cabeça, que brilhavam muito, reluziam.


Num momento, seu pai lhe disse: “Lampião é aquele mais alto, o de óculos”.

Ela voltou a dizer, também com gestos de mãos, sem eu perguntar: Os chapéus deles brilhavam muito... 

Perguntei se seu pai teve medo. Ela disse que não.



Nossa conversa durou pouco, não quis cansá-la, em razão de sua idade e de seu estado de saúde, mas o suficiente para, atento às suas palavras, ao tom de sua voz e, principalmente, o seu olhar que parecia vivenciar aquele inesquecível instante, aquele misto de medo, apreensão, curiosidade e expectativa, eu sair transbordante de satisfação. Agora eu posso dizer que estive com alguém que, muito provavelmente, viu Lampião, o rei do cangaço, que fez dona Nair recordar e contar essa história durante toda a sua vida.


Nossa Senhora da Glória/SE, 22/01/2015.

Fotos: 1, 2 e 3 - Antiga praça da feira; 4. Local da barbearia de Zé Besouro; 5. Cadeia; 6. Intendência; 7. Local da casa de dona Nair em 1929.
Fonte: facebook

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A PRAIA DE AREIA BRANCA - 18 DE JANEIRO DE 2015

Por Geraldo Maia do Nascimento

Concluindo a série sobre as praias do Oeste potiguar, trataremos hoje da praia de Areia Branca, destino de muitos turistas atraídos pelas belas e paradisíacas praias de areias brancas, dunas e falésias, além de uma porção territorial dominada pelo sertão. 


O litoral do município já era conhecido dos navegantes desde os primórdios do descobrimento do continente americano. Há indícios de que já tinha havido desembarque e consequente exploração do rio Apodi em fins de 1499. Gabriel Soares, no seu \"Tratado Descritivo do Brasil em 1587\", descreve as costas de Areia Branca.
               
O historiador Luís da Câmara Cascudo encontrou, em seus estudos, evidências a respeito das salinas de Areia Branca, datadas de 1650. Segundo ele, os navios negreiros ao retornarem para Portugal, entravam no Rio Mossoró para abastecer essas embarcações de sal que era produzido nas gamboas naturalmente.
               
A propriedade mais antiga de que se tem notícia nessas terras é a do Cel. Gonçalo da Costa Falero, que \"a 5 de julho de 1708, é senhor de três léguas de comprimento e uma de largura, a começar no morro do Tibau, pela costa do mar para o lado do sul, até onde acabasse\".
               
Outros autores nos dão conta que por volta de 1860 encontravam-se no local Areias Brancas, na ilha da Maritacaca, alguns ranchos de pescadores e nada mais. A concentração mais ativa era no povoado Barra do Mossoró, à margem esquerda do rio. Durante a Guerra do Paraguai (1865-1870), o local serviu de refúgio para os fugitivos do recrutamento militar, enviados para lá por Chiquinho Gomes da Barra (Francisco Gomes da Silva), residente na Barra do Mossoró. E com isso outros barracos foram surgindo.
               
Nas tentativas para navegação a vapor no Rio Mossoró, foi construído um armazém na margem esquerda do rio. Em janeiro de 1866 o navio Mamanguape tentou chegar a esse ponto do rio, mas não conseguiu. Por esse motivo o presidente da Província, dr. Luís Barbosa da Silva, mandou transferir o armazém para a margem direita do rio, no sítio das Areias Brancas, aonde em abril de 1867 chegava a barca inglesa Calderbank, consignada a casa J. UlrichGraff de Mossoró e o Pirapama, navio a vapor da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira, estabelecendo, a partir daí rota normal.
               
A primeira residência de tijolos foi construída em 1867 por Gorgônio Ferreira de Carvalho, encarregado do armazém e fiscalização das mercadorias em trânsito.Dois anos depois João Gomes da Silva (João Menino) e João Francisco de Borja (Joca Soares) construíram outras, fixando-se no local em 1870. Em 1878, Joca Soares, juntamente com Joaquim Nogueira da Costa (seu cunhado) exploraram a primeira salina no local denominado Serra Vermelha.
               
Em 1872 a região denominada Areia Branca, do município de Mossoró, passou a Distrito de Paz, compreendendo Grossos, Matos Altos, Morro do Tibau, Upanema, Redonda e Meio, e tinha como primeira autoridade o Juiz de Paz João Francisco de Borja. Em 16 de fevereiro de 1892, através do decreto estadual nº 10 é elevado à categoria de vila, com a denominação de Areia Branca. Instalado em 31 de março do mesmo mês e ano.
               
Em 22 de outubro de 1927 é elevado à condição de cidade e sede municipal, com a denominação Areia Branca, pela lei estadual nº 656. Pelo decreto estadual nº 603, de 31 de outubro de 1938, foram criados os distritos de Grossos e Tibau e anexados ao município de Areia Branca. A lei estadual nº 1025, de 11 de dezembro de 1953, desmembra do município de Areia Branca os distritos de Grossos e Tibau, para formar o novo município de Grossos. Atualmente Grossos e Tibau são municípios.
               
O município faz parte do Polo Costa Branca, Associação dos Municípios da Costa Branca (Amucosta), formada pelos municípios de Caiçara do Norte, São Bento do Norte, Galinhos, São Rafael, Carnaubais, Assu, Tibau, Grossos, Itajá, Areia Branca, Mossoró, Porto do Mangue, Serra do Mel, Macau, Guamaré e Pendências. O Polo Costa Branca é uma forma de desenvolvimento do turismo na região.
               
Dessa forma chegamos ao fim da série sobre as praias do Oeste potiguar, onde abordamos os municípios de Tibau, Grossos e Areia Branca, principais destinos turísticos dos mossoroenses em período de veraneio. 

Todos os direitos reservados

É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento
Fontes: 
http://www.blogdogemaia.com/#

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O CORDEL DAS TEMERANÇAS DE LAMPIÃO

Por Rangel Alves da Costa*
 

Alguns escritos dão conta que Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião, era homem possuidor de feições pouco conhecidas. Alastrou-se espantosamente muito mais o seu lado tenaz, bravio, guerreiro e até cruel e sanguinário. Fala-se muito no bandoleiro de sangue no olho que nada temia no seu mundo catingueiro, no intrépido dos carrascais espinhentos que devolvia em dobro o estampido de fogo, no algoz de todo aquele que estivesse em seu encalço.

Muito se escreveu acerca das rixas entre vizinhos e as perdas familiares que serviram como motivações ao enfrentamento dos poderosos. A vindita particular do rapaz Virgulino se transformaria numa guerra pública do sertanejo Lampião. Os seus desafetos se transformaram em apenas alguns para serem avistados em todos aqueles que representassem o poder opressor, a submissão do homem da terra, a perseguição ao fraco e a manutenção da impiedosa balança condutora de todas as injustiças sociais. Os inimigos então passaram a responder pelo nome de Estado, governo, política e poder. Sobre tudo isso muito se escreveu.

Também muito se escreveu acerca do vaga-lume que se transmudou em perigosa tocha de fogo. E assim para mostrar o quanto Virgulino soube aproveitar os inconformismos do sertanejo de então para transformar tantas iras em respostas organizadas aos desmandos continuamente praticados. Outros grupos cangaceiros já preexistiam à sua chegada, e até fez parte do bando de Sinhô Pereira, mas nenhum orientado estrategicamente por um líder nato, nenhum que conseguisse despertar para suas fileiras tantas pessoas que se sentiam perseguidas ou necessitavam fazer ecoar suas revoltas. E Lampião foi mestre maior na condução desse levante até então apenas gestado.


Com os aparos e os recortes, o Capitão até que se ajusta nessa moldura, mas nele havia outras vertentes conhecidas de muitos, porém pouco disseminadas. A verdade é que pouco se escreveu acerca do homem Lampião, o sujeito em si, aquele de sobrenome Virgulino Ferreira da Silva. A maior parte do que foi dito e escrito - e em grande parte inventado - diz respeito ao cangaceiro, ao líder de bando, àquele retratado no meio da mata de chapéu estrelado, paramentos encourados e geralmente de arma em punho. Mas o outro Lampião, aquele que estava no homem, no seu íntimo, onde estava e como era?


Digo logo o nome do cabra que melhor assuntou sobre isso: Pelôco de Biribeira, apelido de um hoje desconhecido cordelista e repentista. Nascido na região do Mundaréu e tendo vivido até uns vinte anos após a morte de Lampião em 38, ficou conhecido de feira e feira como o mais fiel cantador dos feitos do Capitão. Não só dedilhava a história na viola como transcrevia para o cordel toda a sua saga. Contudo, o folheto que mais fez sucesso na voz e no papel foi um onde retratava o homem Lampião, ou o Virgulino em si mesmo.

“As temeranças de Lampião” foi o título consignado ao cordel que depois de pendurado no barbante em dia de feira se transformou em sucesso absoluto. O folheto artesanal, rudemente impresso e com capa de tosca xilogravura, parecia apenas mais um dos tantos escritos por aquele menestrel das proezas debaixo do sol. Onde houvesse uma feirinha em arruado e lá estava Pelôco da Biribeira levantando sua tenda de esteira e ripa e fincando seus varais de barbante. Aí pendurava seus cordéis e depois sentava num tamborete de viola em punho para cantarolar pelejas e feitos.

Mas por que o tal do “As temeranças de Lampião” fez tanto sucesso pelo mundão interiorano? Ora, simplesmente porque abordava o lado mítico do Capitão, envolvendo aspectos de sua religiosidade, suas virtudes cristãs, seus receios pelas coisas do céu, suas crenças terrenas, os seus temores enfim. Daí o termo “temeranças” no título, indicando que o livreto tratava exatamente dos medos do maior dos cangaceiros. Deixando também claro que o homem tão temido guardava consigo temores de coisas difíceis de acreditar. Aspectos, pois, bem conhecidos do sertanejo perante o seu mundo misto de fé, fanatismo e crendice.

Pelôco da Biribeira, mesmo sem o intuito da pesquisa, foi buscar na oralidade nordestina essa vertente curiosa do Capitão. Sertões adentro, de boca em boca, proseados se alongavam dando conta do imenso fervor religioso de Lampião, do seu respeito incontido às coisas sagradas, do seu devotamento. E também sobre o homem supersticioso de não acabar mais. Diz o cordelista que não havia quem fizesse o Capitão pegar em arma na sexta-feira santa, que logo arribava do coito se ouvisse uma ave agourenta piando a noite inteira.

Atualmente muito já se conhece acerca da feição religiosa de Lampião. Mesmo a luta sanguinária travada no dia a dia jamais diminuiu seu fervor místico, sua devoção às coisas sagradas e seu temor a Deus. Rezava todos os dias e levava consigo algumas orações, principalmente para manter o corpo fechado. Tinha devoção especial por Padre Cícero, a quem tinha como verdadeiro santo nordestino. Não admitia que cangaceiro de seu bando brincasse com as coisas sagradas e maldissesse qualquer aspecto da fé católica.

É famosa a passagem onde Lampião e parte de seu bando assistem missa celebrada pelo Padre Arthur Passos na igrejinha de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo. O vigário aceitou celebrar o ofício perante os cangaceiros, mas com a obrigação de deixarem as armas pesadas do lado de fora. E assim foi feito, com a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas sobre os versos de Biribeira, alguns deles serão citados depois.

Poeta e cronista
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