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terça-feira, 10 de março de 2015

A VILA DE TAVARES E A GUERRA DE PRINCESA

Por José Romero Araújo Cardoso

Cerco dos mais feroz de toda guerra de Princesa fez de Tavares miniatura do que futuramente se transformaria Stalingrado, quando da disputa entre nazista e exército vermelho no ensejo de uma das mais cruentas batalhas de toda segunda grade guerra, pois esforços inenarráveis foram olvidados de ambas as partes contendoras no sentido de garantir domínio sobre a pequena povoação perdida nos confins do planalto da Borborema.

No dia 28 de março de 1930, após ocuparem Imaculada e Água Branca, 300 militares legalistas, sob o comando do Capitão João Costa, avançavam em direção a Tavares, intuindo tomar a Princesa. Cerca de 90 defensores de Princesa interpunham a marcha da coluna militar. Tiroteio cerrado, marcado por emboscadas, resultou em seis baixas para os princesenses e 50 para as forças do governo João Pessoa.

Em 29 de março de 1930, apenas um dia antes da chegada de tropa composta de cerca de 300 militares, comandada pelo Capitão João Costa, igual número de defensores princesenses cercaram a vila, resultando em cerrado tiroteio.

Pedido de reforço, emitido via rádio, fez com que houvesse deslocamento de 150 homens comandados pelo Tenente Manuel Arruda de Assis e cerca de 400 combatentes mobilizados pelo Coronel Quinca Saldanha, chefe político de Caraúbas/RN que havia cerrado fileiras com o Presidente João Pessoa.

Livro inédito de autoria de Raimundo Soares de Brito, o qual urge publicação post mortem, intitulado O Quinca Saldanha que conheci, destaca o desprezo do velho gato vermelho por cabra de sua inteira confiança que abandonou o contingente enviado para lutar em Tavares. Não aguentou o rigor dos combates diuturnos que deixaram a povoação quase que completamente destruída.

Muitos jagunços desertaram quando tocaia montada a dois quilômetros de Tavares impediu o avanço da tropa. Reforço de 350 homens comandados pelo Capitão Irineu Rangel conseguiu romper o cerco formado pelos cabos-de-guerra princesenses Manuel Lopes Diniz (“Ronco Grosso”), Zeca Ferreira e João Paulino. Esse último era soldado desertor da Polícia Militar do Estado da Paraíba.

Durante 18 dias o cerco a Tavares foi mantido quase como questão de honra para os defensores de Princesa. Todas as tentativas do Presidente João Pessoa para romper a barreira formada pelos homens comandados por Zé Pereira se revelavam infrutíferas.

Até um feiticeiro foi colocado em cima do caminhão da vanguarda da “Coluna da Vitória”. Logo após o povoado de Água Branca, homens comandados por Marcolino Pereira Diniz, Gavião e Caixa-de-fósforo desfizeram a intenção do contingente militar. O feiticeiro foi o primeiro a ser varado de balas.

Em 19 de abril de 1930, cerca de 600 defensores de Princesa, chefiados por Manuel Carlos e José Rosas lançaram ofensiva violentíssima sobre Tavares, cuja posição estratégica, bem próxima de Princesa, tornara-se questão de honra para o governo João Pessoa manter. Nesse combate as baixas foram enormes para ambos os lados.

Todos os meio foram empregados na batalha de Tavares. Em plena seca que marcou o início dos anos trinta do século passado, os militares paraibanos tinham em uma cacimba a única fonte de abastecimento. Os defensores de Princesa jogaram sal amargo dentro. Para completar o desespero dos soldados havia o frio congelante típico de áreas montanhosas, mesmo localizadas no semiárido, aliada a um peste de pulgas que incomodava bastante. O Capitão João Costa e sua tropa passaram todo período de cerco comendo pipoca, pois milho era quase que o único alimento que dispunha, e, principalmente, pipoco de todo tamanho.

Zé Pereira não gostou da atitude de terem jogado sal amargo na cacimba onde os militares se dessedentavam. Conforme entrevistas prestadas por Zacarias Sitônio, Hermosa Goes Sitônio e Belarmino Medeiros, o chefe Princesense bradou em alto e bom tom: “Não concordo com o que fizeram. Queria que eles fossem pegos à unha!”
Na época pertencente ao Território Livre de Princesa, a vila de Tavares, cujo topônimo efetivou-se em homenagem ao Cardeal Tavares Arcoverde, viu de perto profanação e selvageria naqueles idos turbulentos de 1930, pois lances absolutamente impressionantes foram efetivados nas mais intensas batalhas ocorridas no ensejo da guerra de Princesa.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

BIBLIOGRAFIA


ENTREVISTAS

MEDEIROS, Belarmino. João Pessoa/PB. 15 de junho de 1992
SITÔNIO, Hermosa Goes. João Pessoa/PB. 18 de março de 1992

SITÔNIO, Zacarias. João Pessoa/PB. 18 de março de 1992

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso

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PRINCESA: MAIOR MANIFESTAÇÃO DE INSURGÊNCIA DO MANDONISMO LOCAL

Por: Romero Cardoso

A indicação de Epitácio Pessoa para que o sobrinho do poderoso oligarca de nome João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque presidisse o Estado da Paraíba teve raízes na faina corrupta que grassou a unidade federativa quando o renomado político assumiu a gestão executiva brasileira entre os anos de 1919 a 1921. O boom econômico originado com a demanda externa por matérias-primas após a primeira guerra mundial motivou a elaboração de políticas públicas que tinham nas obras de açudagem o principal carro-chefe.

Epitácio Pessoa

Para evitar fuga de divisas para os Estados vizinhos, Epitácio Pessoa pensou em dotar a capital paraibana de um porto com infraestrutura impecável que pudesse sanar velho problema que prejudicava inexoravelmente as finanças do Estado no qual expressava a figura maior do mandonismo local. Não conseguiu, pois o dinheiro para a construção do porto foi parar nos bolsos dos seus aliados. Nessa época, a porção setentrional paraibana mantinha laços econômicos muito fortes com Mossoró, enquanto a meridional era ligada ao Recife, onde se destacava a família Pessoa de Queiroz como principal agente econômico do processo de exportação da produção gerada no semiárido.

João Pessoa

A barreira orográfica representada pelo planalto da Borborema auxiliava bastante nas decisões dos produtores sertanejos de buscar outros pólos econômicos a fim de realizar negócios lucrativos, tendo em vista a deficiência de meios de transportes eficazes, pois geralmente os deslocamentos eram feitos com tropas de burros. Quando assumiu a presidência paraibana, João Pessoa declarou guerra tributária que atingiu frontalmente a elite sertaneja agropastoril. A taxação sobre a produção, sobretudo a cotonicultura, fez com que a margem de lucros dos produtores caísse consideravelmente. Porteiras foram colocadas em pontos estratégicos para que a taxação sobre os produtos fosse realizada. Dessa forma logo os cofres do Estado foram abarrotados de dinheiro oriundo de majorações exorbitantes.

Em contrapartida, a situação social e econômica sertaneja foi se tornando periclitante, com a alta generalizada dos preços aliada à seca que teve início em 1926 com pequeno intervalo em 1929. Nesse ano a situação tornou-se ainda mais alarmante, pois foi deflagrada a grande crise na bolsa de valores Novayorquina, onde eram comercializadas as matérias-primas indispensáveis à reconstrução européia depois da primeira guerra mundial. Na guerra sem trégua ao mandonismo local, João Pessoa passou a agir de forma impensada sobre as bases do Epitacismo. Destituía ou transferia sem a menor cerimônia pessoas importantes do esquema oligárquico, como chefes de mesas-de-renda. O Estado da Paraíba ficou conhecido como a “Suíça Brasileira”, graças à mão-de-ferro do Presidente que restabeleceu as finanças públicas, extremamente combalidas com a fase aguda de corrupção que marcou as gestões de Sólon de Lucena (1920-1924) e de João Urbano de Vasconcelos Suassuna (1924-1928).

João Pessoa foi convidado pelos governos gaúcho e mineiro para compor a chapa da Aliança Liberal, em vista que havia sido desmanchada a política do café com leite quando da indicação de Júlio Prestes para suceder Washington Luís. Dessa formas, como candidato a vice-presidente, o chefe do executivo paraibano chegou a Princesa, reduto do “Coronel” José Pereira Lima, principal município prejudicado pelas ousadas políticas públicas adotadas pelo sobrinho do poderoso Epitácio Pessoa. João Pessoa e comitiva foram bem recebidos. Princesa, localizada no cordão de serras que divisa o Estado da Paraíba do Estado de Pernambuco, estava toda enfeitada com bandeiras vermelhas, símbolo da Aliança Liberal, pois era o representante do Epitacismo que se encontrava no território que devia vassalagem à expressão maior da política de compromissos que caracterizava a República Velha.

Washington Luis

Quando João Pessoa mostrou a chapa da Aliança Liberal, a qual excluía o nome de João Suassuna, estava sendo selado o rompimento do “Coronel” José Pereira com as bases da orientação política que até então seguia. A confirmação veio quando o presidente chegou à capital e recebeu telegrama do chefe político Princesense em tom desafiador, no qual informava seguir rumo próprio em companhia de correligionários espalhados pelo Estado. Trocas de telegramas cada vez mais acintosos não deixaram margem a nenhuma dúvida, pois João Pessoa escudando-se na defesa da ordem em razão do pleito eleitoral a ser realizado em 28 de fevereiro de 1930 decidiu de forma intransigente enviar tropas para o sertão, sendo declarada neste dia a guerra de Princesa.

Conforme o brioso oficial paraibano Ademar Naziazene, em livro sobre a história da polícia militar paraibana, o número total do contingente a disposição do presidente João Pessoa era 890 combatentes. A primeira investida foi sobre a vila do Teixeira, reduto da família Dantas, invadida pela tropa comandada pelo Tenente Ascendino Feitosa que aprisionou vários membros deste clã sertanejo. À disposição do “Coronel” José Pereira foi formado verdadeiro exército composto de mais de 2.800 homens, armados e municiados principalmente com rifles winchester calibre 44. Depoimentos prestados pelo Coronel Manuel Arruda de Assis ao NDIHR/UFPB registraram que as armas estavam ainda encaixotadas com o selo da importadora Matarazzo.

João Suassuna

A Polícia Militar paraibana lutava com armas obsoletas, com munição vencida, impossível de ser usada de forma adequada. Para tentar contornar a situação dramática, o governo gaúcho montou esquema de contrabando em barris de sebo, tendo em vista que a alfândega, enquanto órgão federal, era controlada pelo perrepistas. Zé Pereira enviou cerca de 500 homens, comandados por Lindu e Luiz do Triângulo, para soltar os Dantas que se encontravam aprisionados e ameaçados de ser sangrados. O movimento armorial, liderado por Ariano Suassuna, reconheceu o gesto heróico, concedendo título de nobreza ao último comandante supracitado, em obra por título “O Romance da Pedra do Reino”.

Foram quase cinco meses de combates inenarráveis, quando se destacaram nomes como Marcolino Pereira Diniz, Manuel Lopes Diniz, Cícero Bezerra, Sinhô Salviano, João Paulino, Caixa de Fósforo, entre outros, do lado do “Coronel” José Pereira, enquanto combatentes fiéis a João Pessoa se destacaram Coronel Elísio Sobreira, Raimundo Nonato, Clementino Quelé, Jacob Franz, gaúcho que saiu do Rio Grande do Sul para servir à causa da Aliança Liberal, entre muitos outros, comandados pelo Secretário de Interior e Justiça José Américo de Almeida. Com total apoio do Palácio do Catete, Zé Pereira conseguiu que Princesa se tornasse território livre e independente, com constituição própria, hino e bandeira próprios, exército próprio, enfim, legalmente separada do Estado da Paraíba. A família Pessoa de Queiroz, com quem o chefe princesense mantinha laços econômicos e pessoais estreitos e marcantes, manteve-se impávida ao lado das oligarquias insurgentes durante toda a luta, não obstante a proximidade familiar com o Presidente João Pessoa.

Cel José Pereira e a arte de Rubens Antônio

Sobre Princesa, Ruy Facó destacou em Cangaceiros e Fanáticos que o território transformou-se em fortaleza inexpugnável s que sobre seus muros vacilavam as tropas regulares. Com certeza, pois a cidadela insurgente e seus arredores foram fortificados e defendidos com unhas e dentes na maior demonstração de rebeldia do mandonismo local na República Velha. Em 26 de julho de 1930, após constatar a ausência de ética ensejada pelas batalhas, quando diário e cartas íntimas foram publicadas na imprensa oficial paraibana, o advogado João Duarte Dantas foi à caça do Presidente João Pessoa pelas ruas do Recife, encontrando- o na companhia de amigos na confeitaria Glória. Os tiros que mataram João Pessoa puseram fim à luta e a uma era, pois em outubro de 1930 foi deflagrada a revolução que iria gradativamente cercear o poder dos “Coronéis” e instituir nova ordem abalizada na ênfase ao nacional-populismo que caracterizou o período varguista.

In: C268n Cardoso, José Romero de Araújo. Notas para a História do Nordeste / João Pessoa: Ideia, 2015. 119p. ISBN 978-85-7539-961-3 1. História – Nordeste – Brasil CDU 625 P. 71-74.

Tudo isso e muito mais com José Romero Cardoso, conferencista da noite de abertura do Cariri Cangaço Princesa 2015 !!!
Postado por CARIRI CANGAÇO 



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MUSEU FAZ EXPOSIÇÃO ITINERANTE COM ACERVO DO REI DO BAIÃO


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LUGARES ESQUECIDOS – A MEMÓRIA DE RUÍNAS ESPALHADAS NO SERTÃO NORDESTINO E NA CAPITAL PAULISTA

Por Rostand Medeiros

 – PRÓXIMO DIA 12 DE MARÇO, NA TV BRASIL, EM REDE NACIONAL –

Que histórias guardam uma casa abandonada no sertão nordestino, um antigo sanatório para doentes de tuberculose no interior paulista ou a escola para meninas na primeira vila operária de São Paulo?

Antiga Casa Grande em Patos de Irerê (PB), onde a mulher de Marcolino, protetor de Lampião, ficou refém da polícia com outras mulheres.

Hospital Matarazzo/ SP: ficou fechado durante 20 anos, reabriu em 2014 para uma exposição de artes e voltou a fechar as portas.

Em Patos de Irerê (PB) Lampião deixava o esconderijo no pé da serra para passar a noite jogando cartas na casa de Marcolino, seu “protetor”. Histórias de sequestros de mulheres, combates entre polícia e cangaceiros, a briga entre o governador da Paraíba e o coronel José Pereira, estão em patrimônios públicos e privados, conservados ou não. E por que o ser humano sente-se atraído por imagens e histórias de locais deixados sob a ação do tempo?


O Caminhos da Reportagem acompanhou fotógrafos apaixonados por ruínas no Hospital Matarazzo, fechado durante 20 anos, em São Paulo, e pernambucanos que consideram Olinda uma caixa de 

Roteiro e direção: Bianca Vasconcellos
Reportagem: Aline Beckstein, Gustavo Minari
Produção: Aline Beckstein, Carina Dourado, Luana Ibelli, Monique Amorim, Natália Keiko,Pamela Santos, Thaís Rosa, Rostand Medeiros
Imagens: Alexandre Nascimento, Eduardo Viné, Milene Nunes, William Sales
Auxiliares: Eduardo Domingues, Leandro Oliveira, Rafael Carvalho
Sonoplastia: Priscila Resende
Edição de imagens: Caio Cardenuto, Rodger Kenzo
Finalização de edição de imagens: Rodger Kenzo
Fotos: Bianca Vasconcellos

A primeira vila operária de São Paulo é locação para peças publicitárias, editoriais de moda e clipes musicais

Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.com.br/2015/03/10/lugares-esquecidos-a-memoria-de-ruinas-espalhadas-no-sertao-nordestino-e-na-capital-paulista/

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UM CÉU PARA INEZITA

Por Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2015 - Crônica Nº 1.383

Cumpriu a sua missão na terra com dignidade, brilhou a vida inteira e honrou o solo brasileiro. Tudo o que se disser sobre Ignez Magdalena Aranha de Lima (Inezita Barroso) ainda tem o que se dizer. Partiu aos 90 anos com o peito cheio de amor pela música sertaneja de raiz. Um presente real que o paraíso ganhou; uma lembrança eterna, iluminada, cheia de doçura que fica no país tropical.


“Ignez Magdalena Aranha de Lima, nome de batismo de Inezita Barroso, nasceu em 4 de março de 1925, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Filha de família tradicional paulistana, passou a infância cercada por influências musicais diversas, mas foi na fazenda da família, no interior paulista, que desenvolveu seu amor pela música caipira e pelas tradições populares. Começou a cantar e a estudar violão aos 7 anos.

Formada em Biblioteconomia na Universidade de São Paulo (USP), Inezita foi uma grande pesquisadora da música caipira brasileira. Por conta própria, percorreu o interior do Brasil resgatando histórias e canções. Reconhecida por este trabalho, foi convidada a dar aulas sobre folclore em uma universidade paulista. Pelo seu trabalho como folclorista, e por ser uma enciclopédia viva da música caipira e do folclore nacional, recebeu o título de ‘doutoraHonoris Causa em Folclore’ pela Universidade de Lisboa.

Foi a primeira mulher a gravar uma moda de viola e era considerada a grande dama da música de raiz.

Na televisão, sua carreira começou com a TV Record, onde foi a primeira cantora contratada. Depois passou pela extinta TV Tupy e outras emissoras, até chegar à TV Cultura para comandar por mais de 30 anos o Viola, Minha Viola”.

Respeitada dentro e fora do Brasil, admirada, respeitada, líder musical, humilde e valorosa, Deus deve ter dito: “Tá bom Inezita, nota dez para o seu trabalho, retorne à base, minha filha”.
Ignez era uma estrela de primeira grandeza que veio iluminar a Terra por 90 anos.

Perdi a minha musa de “Viola, Minha Viola”.
Um céu para Inezita.

NÃO PERCA QUINTA E SEXTA: POLÍTICA SANTANENSE; O QUE SE COMENTA NAS RUAS PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES.



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O CANGAÇO LONGE DA ARMADILHA DO MITO

Por José Neumanne Pinto (jornalista)

Várias circunstâncias favoreceram a divulgação da imagem romântica dos cangaceiros que infestaram o sertão nordestino no início do século 20. A sobrevivência no semiárido os forçava a usar trajes apropriados para sobreviver aos garranchos, carrapichos e espinhos da caatinga e esse costume, adotado hoje pelos artistas em cena, por exemplo, os diferenciava de bandidos comuns e lhes deu uma marca visual definida. A facilidade com que fugiam dos cercos policiais, ajudados pela topologia do terreno e da vegetação do sertão e também pela corrupção, lhes propiciava uma espécie de aura que funcionava quase como uma licença para delinquir.

Esses grupos de bandoleiros surgiram numa região remota e sem lei na qual os coronéis latifundiários reinavam sem prestar contas ao Estado e em territórios sem estradas e difíceis de serem percorridos até mesmo por animais de montaria. Deslocavam-se quase sempre a pé, guiados pelo conhecimento do terreno em que pisavam, que nem sempre os agentes da lei conheciam. Moviam-se também numa cultura peculiar que lhes facilitava a ação. O semifeudalismo vigente consagrou como legítimos e corriqueiros costumes bíblicos, como a vingança, praticada conforme a lei de talião (“olho por olho, dente por dente”), que não respeitava a justiça comum. Crimes de honra, cometidos por pais que puniam com a morte mancebos atrevidos que ousavam desvirginar suas filhas donzelas, também tidos como useiros e vezeiros, serviam de pretexto para esconder a brutalidade numa região inóspita de sol inclemente, água escassa e secas periódicas.

Logo chefes de bandos se tornaram mitos que protagonizavam notícias sensacionalistas, romances de aventura e folhetos de cordel. O Cabeleira foi imortalizado no romance de Franklin Távora, de 1876. Antônio Silvino tornou-se célebre como o inglês Robin Wood, o australiano Ned Kelly e o americano Billy the Kid. O mais famoso de todos eles foi Virgolino Ferreira da Silva, pernambucano de Serra Talhada e imortalizado nos meios de comunicação e no romanceiro literário e popular como Lampião, o Rei do Cangaço. A lenda em torno de sua saga serviu a vários senhores. Na onda do banditismo social, consagrada pelo britânico Eric Hobsbawn, sociólogos marxistas o tornaram o vingador dos pobres nos latifúndios. Cangaceiros e Fanáticos, de Rui Facó, é um exemplo dessa falácia, que chegou a extremos como a tentativa de estabelecer um paralelo entre cangaceiros e guerrilheiros de Christina Matta Machado em As Táticas de Guerra dos Cangaceiros.


Frederico Pernambucano de Mello, do Instituto Joaquim Nabuco, é fiel aos fatos e respeita as leis da lógica, da sensatez e da clareza. Com serenidade e competência, desafia a mitologia do cangaço social, desfazendo "verdades" inventadas por biógrafos oficiais e analistas de esquerda. Quem lê seus livros vê-se tem acesso a relato e análises de fatos e não de lendas. O pretexto de Lampião se juntar ao grupo de Sinhô Pereira, em cujo comando depois ganharia fama, era vingar-se de um inimigo malvado de sua família. Pernambucano lembra que a vingança nunca foi consumada e, no fim, o cangaceiro e os desafetos de sua grei se reconciliaram. Em Guerreiros do Sol, livro em muito boa hora reeditado pela Girafa Editora, o especialista desarma a armadilha do banditismo social, mostrando sua face violenta e nada solidária. Os cabras de Lampião roubavam em proveito próprio e nunca dividiram seu butim com os pobres.

Até tombar na gruta de Angico, no sertão de Sergipe, o Rei do Cangaço sobreviveu graças à cumplicidade dos "coiteiros" que o abrigavam, protegiam e informavam a peso de ouro e recorrendo a estratagemas de esperteza incomum. Recebeu a patente fajuta de capitão das mãos do Padre Cícero Romão Batista, o Padim Ciço de Juazeiro do Norte, Ceará, outro mito popular sertanejo, para perseguir a Coluna Prestes, que ziguezagueava pelo sertão que seu bando percorria. Espertamente, tanto os militares rebelados quanto os rudes bandoleiros se evitavam pelas veredas do semiárido para não terem de se confrontar.

O autor mostra também como a vida aventureira, ao ar livre, enfrentando volantes das polícias estaduais, atraiu muitos jovens de famílias abastadas, que, a exemplo do que ocorre hoje, nas metrópoles do século 21, se tornavam criminosos profissionais em busca de fortuna e emoção. Este foi o caso do paraibano Chico Pereira, pai do padre, professor e escritor do mesmo nome, que escreveu um dos mais precisos e sensíveis textos sobre esse aspecto romanesco do cangaço, Vingança, não, cujo título revela a decisão da família de não fazer o que mandava o figurino da honra sertaneja: vingar a morte do ascendente morto. Em Guerreiros do Sol reluz a luz do sol do semiárido para dissipar as névoas de lenda e fantasia sobre o falso cangaço social.

José Nêumanne
Jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde
Fonte principal: Publicado na Pág. S06 do Sabático do Estado de S. Paulo, sábado 16 de junho de 2012)Cortesia do Envio: Luitgarde Cavalcante Barros
Postado por CARIRI CANGAÇO
Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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A Vila Justa - 08 de Março de 2015

Por Geraldo Maia do Nascimento

Era a residência do Cel. Antônio Soares do Couto, industrial, sócio da empresa local M. F. do Monte & Cia., ex-Presidente da Intendência com cargo executivo em 1908, que ali residiu até sua morte na década de 20. O nome da mansão foi em homenagem a sua esposa, Justa Nogueira do Couto, que teve uma existência mais longa, falecendo nos idos de 1950. 
               
Foi construída em 1915, em terra virgem, dentro do mato, numa área onde existiam apenas frondosas árvores seculares. O acesso era feito através de uma vereda no matagal que se iniciava na linha de ferro. A obra foi iniciada em 1915 e teve como chefe de construção o italiano Campitelli, arquiteto trazido para o Brasil como um dos maiores artistas do gênero que havia pisado em nossa capital. Foi ele o responsável pela introdução do “radier”, o que era novidade no sistema de amarração de prédios. 
               
A “Vila Justa” foi inaugurada solenemente a 15 de março de 1917, com a presença de autoridades, convidados especiais e familiares. Ali estiveram os Dres. Almeida Castro, Soares Júnior e Enéas Couto, os dois últimos sobrinhos do anfitrião, Manuel Benício de Melo, Cunha da Mota, Presidente da Intendência, Miguel Faustino do Monte, José Pedro do Monte, Antônio Florêncio de Almeida, jornalista Martins de Vasconcelos e outros. Houve missa e bênção do edifício, oficiados pelo Padre Manuel Barreto, vigário da paróquia e diretor do Colégio Santa Luzia, além da cerimônia de batismo de duas crianças, sobrinhas do Cel. Totô. O padre Barreto proferiu eloquentes palavras congratulatórias ao evento e ao proprietário. A festa culminou com um lauto jantar oferecido aos presentes em regozijo pela inauguração da “Vila Justa”. 
               
Uma história interessante envolvendo a mansão é que quando surgiu à ideia da aquisição de um imóvel, por parte da Diocese de Mossoró, para sede episcopal, chegou-se a conclusão que o prédio ideal seria a “Vila Justa”, que era considerado um solar de boas virtudes. E coube ao Padre Mota a responsabilidade da conversa inicial com os herdeiros da família. Acontece que o Padre Mota tinha tido um desentendimento com a proprietária, por tê-la reprimido durante uma missa, quando a mesma tentou furar a fila de comunhão. E o padre procurou explicar ao Bispo a situação, que estavam de relações cortadas com a viúva que nem mais o cumprimentava e que certamente não ia querer negociar com ele. Mas dada persistência do Sr. Bispo, padre Mota arriscou intermediar os entendimentos. E prometeu ao mesmo que falaria com a viúva quando houvesse oportunidade. E esta se ofereceu na própria Catedral, momento em que Justa, ajoelhada, contrita, fazia suas preces, rezava suas orações. Aproximando-se, cumprimentou-a. A mesma respondeu ao cumprimento com satisfação, demonstrando que não havia mais ressentimento pelo ocorrido. E começaram a partir daquele momento as negociações para aquisição da “Vila Justa” e todo o seu vasto terreno, para a instalação do Palácio Episcopal.
               
O referido prédio está localizado na Praça Padre Mota, popularmente conhecida como Praça das Caixas d’Água. O prédio permanece com suas fachadas inalteradas, e já abrigou seis Bispos de nossa Diocese: Dom Jaime de Barros Câmara, Dom João Batista Portocarrero Costa, Dom Eliseu Simões, Dom Gentil Diniz Barreto, Dom José Freire de Oliveira Neto e Dom Mariano Manzana.

Geraldo Maia do Nascimento

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