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terça-feira, 15 de maio de 2012

Um Pouco mais de história cangaceira...

Corisco - O diabo Loiro
Corisco: "o cangaceiro que era um diabo"

Certa ocasião, em relação à defesa da honra masculina, o Diabo Louro adotou uma postura que, muitos anos depois, se tornou bastante conhecida no país: tratou-se do desfecho do relacionamento amoroso entre Cristina e Português. Ela o havia traído com um integrante do bando de Corisco - o cangaceiro Gitirana - e Português contratara Catingueira para limpar sua honra maculada.

Português é o primeiro da esquerda

Quando Catingueira chegou ao acampamento de Corisco, chamou logo Gitirana para uma conversa particular.


Naquele momento, Maria Bonita e Lampião estavam no mesmo acampamento e, por acaso, se aproximaram deles. Maria Bonita adiantou-se, sugerindo a Catingueira que a pessoa a ser eliminada deveria ser Cristina (a verdadeira culpada, segundo ela) e, não, Gitirana. Naquela hora, Corisco retrucou: "Ela deu o que era dela! Ninguém tem nada com isso!"

Insatisfeita com a resposta, Maria Bonita continuou defendendo a contrapartida masculina: "É, mas Português vai ficar desmoralizado!"
Já impaciente com aquele confronto, o Diabo Louro deu um basta à discussão:

"Ele que cuide da mulher dele! Do meu rapaz, cuido eu!"

Desde esse dia, tais palavras ficaram célebres e essa expressão vem sendo utilizada até o presente, inclusive, por muitos políticos brasileiros. Parafraseando Corisco, os parlamentares costumam dizer: Cuidem do que é seu porque, do que é meu, cuido eu!

Em relação àquele desenlace amoroso, Lampião deu total apoio a Corisco. Cristina permaneceu com o bando, escondida durante alguns meses. Todavia, como era de se esperar, ela foi morta quando ia para a casa de familiares, já que Português contratara outros cangaceiros para matá-la. Neste sentido, não restava dúvidas: o adultério 
feminino não era tolerado nos bandos do Nordeste.


LEIA MAIS EM:

Mais um Jararaca?

Por: Marilene Araujo de Barros
O policial Luiz e o possível ex-cangaceiro Jararaca

Este senhor será mesmo um dos jararacas?

Sou Marilene Araújo de Barros, professora aposentada da Rede Pública de Ensino Estadual de Sergipe, graduada em História e pós-graduada em Gestão Escolar. Resido na cidade de Poço Redondo-SE, desde 1983. Sou natural de Pernambuco, lá do sertão de Águas Belas, nas vizinhanças da Fazenda Nova, do lendário Audálio Tenório. Apesar da proximidade existente entre os dois estados, as atribuições no trabalho, à correria do dia-a-dia, juntamente a outros fatores pessoais, me levaram a ficar por vários anos sem rever o lugar onde nasci e vivi grande parte de minha vida, e que apesar das dificuldades existentes naquela época, a seca como exemplo, viver uma vida totalmente interiorana era tarefa bastante difícil, mas confesso, fui muito feliz naquele solo pernambucano, especialmente durante a minha saudosa infância, é que o viver naquele sertão era regado de um patrimônio cultural que não mais existe nos dias atuais e certamente nos futuros. Sou grata a Deus por ter tido o privilégio e a ventura de nascer naquele mundo, naquela época, e naquele lugar.

Com o passar dos anos chega a minha aposentadoria e com ela a disponibilidade de tempo. Bateu-me uma vontade louca de realizar algumas viagens, especialmente para as terras de Pernambuco, priorizando as localidades em que outrora eu e minha família residimos, e foram tantas que prefiro citar em outra ocasião.

Em dezembro de 2010, eu, meu irmão Luiz (policial civil), minha irmã Ana, minha sobrinha Lara, filha de Luiz, seguimos para Pernambuco, iriamos rever nossas antigas moradias, além de visitar velhos amigos e parentes. Confesso ter sido uma viagem deveras emocionante. Foi comovente ver a velha casa da fazenda Riacho Fundo, local de meu nascimento. Ditosa e antiga moradia sertaneja, patrimônio de meu avô Manoel de César, e posteriormente, herdade de meu pai, o saudoso e amado Zé de César.

O Riacho Fundo, quando pertencia a meu avô, foi atacado por Lampião que desejava justiçar Manoel de César devido o mesmo ser um fiel aliado do governo de Pernambuco. Em minha meninice eu via nas portas do armazém, ao lado da casa-grande, os furos causados pelas balas cangaceiras. Após visitar a velha fazenda Riacho Fundo seguimos até a povoação Garanhunszinho, mais uma de nossas antigas moradias. Naquela localidade que parece não ter avançado e nem retraído no tempo, encontramos algo que nos chamou atenção. Em uma humilde casinha, ao lado de um armazém, nos deparamos com um senhor de provecta idade. A ele nos dirigimos e curiosos dispusemos em fazer-lhe perguntas. Surpresos, notamos que aquele ancião possuía uma memória elogiável.

Em suas respostas o mesmo disse ter nascido no dia 13 de outubro de 1913 e se chamava Aristides Lins Maranhão, nascido lá pras banda de Bom Conselho, também em Pernambuco. Segundo suas palavras, ainda jovem, veio trabalhar na Fazenda Nova, onde tinha a proteção do Dr. Audálio. De repente, aquele velhinho fez uma declaração bombástica que nos deixou admirados e perplexos. Ele asseverou ter sido cangaceiro de Lampião, com o nome de Jararaca.

Discorrendo sobre esta novidade, seu Aristides contou que: em uma das visitas de Lampião a Fazenda Nova, o mesmo simpatizou com ele, surpreendendo ao poderoso homem daquele sertão. O rei cangaceiro pediu que aquele rapaz o acompanhasse, pois havia simpatizado com ele, pedindo assim, permissão ao Dr. Audálio para levar consigo o seu trabalhador.

Lara, filha do policial Luiz, ao lado do senhor Aristides, o possível Jararaca


Após grande insistência, o fazendeiro permitiu a ida de seu agregado para a companhia de seu grande e fiel amigo. No entanto, disse a Lampião que a permissão seria de cinco anos e assim que terminasse esse prazo o mesmo fosse devolvido a sua companhia. Lampião concordou e lá se foi Aristides para se tornar mais um dos Jararacas. Segundo os dizeres do ancião, este acontecimento se deu por volta dos anos 30. A promessa foi cumprida. Cinco anos depois Aristides estava de volta e foi viver por muitos anos ao lado de seu tão respeitado e temido patrão. Em fevereiro de 2011 voltei a visitá-lo por mais duas vezes e a sua versão sobre ter sido o cangaceiro Jararaca não havia mudado uma vírgula sequer.

É verdade? Não sei. Com a palavra os pesquisadores e estudiosos do cangaço.

Marilene Araújo de Barros
Poço Redondo - SE

Curiosidades - Após a morte de Lampião Corisco tentou assumiu o bando


Cristino Gomes da Silva Cleto, "Corisco", ou "diabo louro", ainda tentou por 2 anos, mas teve o braço decepado, não teve condições de continuar e foi assassinado em 25 de maio de 1940. Sua companheira Sérgia Ribeiro da Silva, a "Dadá", "Suçuarana", sobreviveu e faleceu somente em 1994 com problemas de saúde inclusive diabetes, que lhe causou amputação de uma das pernas, mesmo assim, em precárias condições de saúde, assistiu em 1972 a exumação dos ossos de Corisco. Com Lampião, em 1938, havia morrido o cangaço, fato social que se tornou fato histórico e revelou qual a cultura do povo Nordestino do Brasil.

O cangaceiro Volta Seca

Dos cangaceiros que sobreviveram, muitos ficaram mutilados, alguns a mídia os procurava para entrevistas, uma das vezes ao ser convidado pelo diretor a assitir cenas do filme sobre o cangaço, Volta Seca não gostou quando um "polícia" bateu na cara do cangaceiro, então indignado Volta Seca disse: "Home num se bate na cara, se mata!"

Cinema e cangaço na terra do sol

Por: Fernando Monteiro

A saga do cineasta amador Benjamin Abrahão, o único a filmar Lampião e seu bando de cangaceiros, antes do massacre de Angicos.

Dentre os jovens libaneses que, durante a Primeira Guerra Mundial, deixaram vilas e cidades até hoje obscuras entre as montanhas de cedros, estava um rapaz de Zahelh (a das tâmaras doces) chamado Benjamin Abrahão. Ele seguiu o impulso de evasão, mas em vez do destino preferencial, a América do Norte, foi para o borrão dos edens do hemisfério sul e suas estranhezas: selvas, sertões e sertanejos parecidos com alguns dos imigrantes da sua terra. Abrahão deu adeus às tâmaras em busca dos frutos tropicais ácidos e barrocos no aspecto, naqueles lugares de sol refulgindo em nomes inesperados como "Pernambuco" - com a sua sugestão de oco do mundo e porto de ventos entre fáceis riquezas. Abrahão chegou, assim, a um Recife ainda sereno, cortado por um rio lento. O rapaz dos jardins orientais viu o Derby elegante, os jogos de times de futebol e regatas, os cinemas Royal e o Glória às vezes exibindofilmes locais, cujos letreiros ajudavam a aprender a língua.

No melodramático Filho sem mãe, de Edson Chagas, o imigrante veria, pela primeira vez, a figura de um cangaceiro, ao mesmo tempo mítica e pobre, injuriada e condenada a morrer, no futuro imediato, pela chegada do progresso. Nessa altura, Abrahão vendia tecidos, como um mascate entre os muitos que percorriam as ruas de casas com varais coloridos de roupas ao vento. Passado um tempo, as ofertas do libanês se ampliaram também para farinha, fubá de milho, rapadura e carne do sertão. Esta 
palavra - "sertão" - viria a fazer parte fundamental da sua vida, embalaria seus sonhos e selaria, um dia, o seu destino. Ele era um montanhês, e sentia falta dos espaços mais livres das pontes graciosas sobre o Capibaribe. Um dia, Benjamin comprou dois burros - Assanhado e Buril -, o cavalo Sultão e um segundo estoque de mercadorias. Em seguida, partiu para Juazeiro do Norte (CE), o antigo arraial "inchado" pelos romeiros do padre Cícero Romão Batista. Começava a aventura cinematográfica do mascate vindo dos sertões do Líbano.

No staff do Padim
Estrangeiro jeitoso e falante, Benjamin Abrahão conheceu logo o Padim Padre Ciço dos cangaceiros e coronéis, e se tornou, com o tempo, nada menos que o seu "secretário para assuntos internacionais". Na louca Juazeiro das fanáticas multidões, passava pela cabeça do padre a possibilidade de ter assuntos de "relações exteriores" para tratar. Foi nessa condição que o nosso peregrino da sorte pôde testemunhar, na verdade, as relações conflitadas no próprio sertão, quando, numa clara manhã de março de 1926, o cangaceiro Lampião e mais 49 cabras triunfalmente entraram na cidade das rezas. Dizem que Abrahão já alcançara 
statussuficiente, naquela "corte", para estar presente à reunião na qual o "primeiro-ministro" do padre Cícero - o deputado Floro Bartolomeu - concedeu a patente de "Capitão" ao controverso "afilhado" do religioso, a fim de atraí-lo para a luta contra a Coluna Prestes, inimiga do governo do presidente Artur Bernardes.

Virgulino Ferreira da Silva desde o primeiro momento impressionou o assessor juazeirense para assuntos das "estranjas". Ali estava uma espécie de guerreiro de Saladino, agarrando o seu punhal de 48 centímetros com dedos morenos enfeitados dos anéis de pedras duvidosas. Tinha senso da cena, nas suas chegadas e ataques: vestia-se com uma roupa de campanha atravessada de bandoleiras que lembravam mexicanos revoltosos, sem perder nada do exame de uns óculos de finos aros de ouro a lhe darem certa distinção equívoca, feita de segurança e ameaça. Desfilando pela rua, pisava forte como um príncipe tisnado, e dava entrevistas, era fotografado pelos repórteres (Lauro Cabral e Pedro Maia) convidados do "Dr. Floro".

historiaviva/reportagens/cinema_e_cangaco_na_terra_do_sol.html

A pantera negra dos sertões


Natal pelo que todos sabem, cai no dia 25 de dezembro, data máxima da cristandade comemorada em todo mundo. Mas quando eu era criança, não perdia a festa de natal de Alagadiço que acontecia lá para o dia 7 de janeiro. Alagadiço é um povoado de Frei Paulo muito famoso pela sua estreita ligação com o cangaço. Terra do sertão brabo de homens destemidos, foram eles que deram cabo ao cangaceiro Zé Baiano, o terrível facínora que por décadas aterrorizou os sergipanos daquela região. Ele era conhecido como “A pantera negra dos sertões”, seu tipo físico lembra um antropóide. Era um sujeito mau, traiçoeiro e desalmado, sempre disposto a agir covardemente atacando os comerciantes locais, caixeiros viajantes, matando-os impiedosamente. Ele foi morto por um grupo liderado por Tonho de Chiquinho, coiteiro de Lampião que armou uma emboscada para liquidar o bandido e seus comparsas. Lampião ainda voltou a Frei Paulo para vingar a morte do amigo, mas preferiu fugir para a Bahia, ao saber que havia uma barricada com homens fortemente armados para impedir sua entrada na cidade.

O Padre Madeira, pároco que tinha muita coragem e até estoicismo, colocou na igreja um caixão vazio, e por isso Lampião não invadiu a cidade naquela noite, tempo suficiente para armar os homens e entrincheirar para rechaçar um possível ataque dos cangaceiros; eles logo souberam que tinha até uma ronqueira (pequeno canhão). Muitas vezes o padre Madeira cruzou com Zé Baiano e seu bando. Numa ocasião, foi abordado pelo facínora na porteira de uma fazenda. O padre foi logo dizendo: “Será que não se pode mais pregar o evangelho neste sertão?” O bandido abriu a porteira e beijou a sua mão, “Sua abenção, Padre Madeira”. Ele não respondeu, tirou do alforje um lenço e limpou a baba do maldito e seguiu montado no seu jegue , ao se distanciar um pouco resmungos: “ Vai para os diabos”
Zé Baiano era um sujeito perverso, conhecido como o ferrador de mulheres, muitas foram cruelmente ferradas no rosto com a marca JB, ele trazia um ódio profundo no peito e raiva das mulheres por conta de uma traição que recebeu de uma de suas namoradas. O seu nome era Lídia, flagrada em adultério foi morta por ele a pauladas.

Em Alagadiço, existe um museu, onde objetos pessoais dos cangaceiros são expostos ao público. Foi criado pelo escritor Antônio Porfírio, que inclusive já publicou um livro onde relata a vida de Zé Baiano. Na hora de sua morte ainda tentou negociar, oferecendo vinte contos de reis para que seus vingadores o deixassem ir embora, mas estes, lembrando-se de suas atrocidades; praticadas contra homens de bem da região desferiram contra o bandido, vários golpes de punhal. “Matou-me agora” disse Zé Baiano ao sentir a terceira punhalada e completou:” morreu o homi de Sergipe”. Isso aconteceu em 7 de julho de 1936, ao fim da ação quatro cangaceiros estavam aniquilados ali na caatinga de Lagoa Nova em Alagadiço. Morreram além de Zé Baiano, Demudato, Chico Peste e Acelino.

A temerosa invasão de Lampião


Ao saber da morte do seu mais respeitado cangaceiro,


Zé Baiano, morto em emboscada ardilosamente planejada pelo coiteiro


Antônio de Chiquinho, na Lagoa Nova em Alagadiço. Tendo o corpo do cangaceiro sido jogado em um formigueiro, o seu líder, Virgulino Ferreira da Silva, reuniu seu bando e partiu com destino a Frei Paulo para por em prática um sórdido plano de vingança. Ele planejara uma sangrenta invasão de nossa cidade. Isso ocorreu nos anos 30, durante a famosa seca que assolou o sertão sergipano. Além das aflições causadas pela longa estiagem, a população vivia apreensiva com a eminência desse ataque. O interventor federal Eronildes Ferreira de Carvalho, proprietários da Fazenda Jaramatáia, determinou a criação de uma “Força Volante” que permaneceu acampada por meses na antiga praça do mercado, atualmente Praça Capitão João Tavares. O grupo dormia em dezenas de redes armadas e os mantimentos eram cozinhados em panelões.

O povo de Frei Paulo ainda hoje acredita que foi a espada do padroeiro São Paulo que impediu a entrada do bando de Lampião. Segundo uma lenda contada em prosa e versos pelos mais antigos, toda vez que o cangaceiro tentava entrar em Frei Paulo, era acometido de uma terrível dor nos olhos e nos ouvidos e uma caganeira que o deixava muito debilitado. O Padre Madeira mandou virar para cima a espada da imagem de São Paulo, que era voltada para baixo. Foram tempos difíceis e o medo imperava. 
Meu pai relata que viu Lampião e seu bando na feira de Ribeirópolis no anos de 1927, como ele era uma criança, passou por baixo das pernas dos adultos que se aglomeravam para ver de perto o rei do cangaço, imponente, com suas indumentárias, olhar de mau, taciturno e sério. Armado de punhais, parabelo nos quartos, ostensivas cartucheiras em forma de xis e em uma das mãos um rifle papo amarelo. Era a lenda viva dos sertões bem ali na sua frente, cercado de outros cangaceiros e sua mulher Maria Bonita.

Mas em Frei Paulo ele jamais pisou os pés, graça a bravura de seus habitantes que voluntariamente se juntavam à "Força Volante" para enfrentar os cangaceiros. Logo os rumores de atrocidades praticadas pelo bandoleiro começaram a chegar. Ele já teria invadido fazendas em Carira, Cipó de Leite e Mocambo, sua chegada a Frei Paulo seria uma questão de tempo. Lampião mandou um bilhete para o intendente Maurício Ettinger com o seguinte teor: “Quando menos isperá nois invade sua cidade; num vai iscapá nem menino de 9 mês, a cabeça do delegado Germino vai rolar”
Germino Góes era o pai de Antônio de Germino, dono do Alambique da Imbira, que fabricava a Ibiracema, a melhor cachaça da região. Ele teve que fugir para o sul da Bahia para não ser morto, pois sua fazenda fora diversas vezes saqueada pelos bandos de Lampião e Zé Baiano. Fez isso porque se recusava a ser coiteiro de Lampião. O seu neto, Germino Neto é casado com minha irmã Selma. A morte de Zé Baiano, planejada por Antônio de Chiquinho não trouxe paz, pelo contrario, deu início a uma guerra que por pouco não se consumou.

Lampião e seu bando ainda ficaram alguns dias acampados às portas de Frei Paulo, o local onde ele se preparava para a invasão era ali, onde fica hoje o Curral do Açougue, no pé da ladeira que dá acesso à cidade. Felizmente o bandido bateu em retirada, ao saber que teria uma resistência à altura. Rumou para a Bahia e tempos depois foi morto numa troca de tiros com a volante na gruta de Angicos, próximo de Propriá.

Lampião e seus cangaceiros no sertão de Araci

Foto por: Fernando Tito

Marcionília Pinho da Silva esposa que enfrentou o bando de Lampião.

Germinia Pinho da Silva Góes
Nascida em 23 de junho de 1928
Mora em Araci-Bahia
Relato feito em dezembro de 2007 por Fernando Tito
Foi visitada na infância pelo bando de Lampião.

Sabendo dos rumores que Lampião estava nas redondezas, meu pai José Tibúrcio da Silva, ao viajar para Queimadas mandou que minha mãe, Marcionília Pinho da Silva, fosse dormir na casa do cunhado (Martinho Pereira da Silva) que ficava perto, eu Germinia Pinho da Silva tinha apenas seis meses de idade. José Tiburcio da Silva como proprietário da Fazenda Paraíba, transportava daqui peles de ovinos, bovinos e caprinos que levava para Queimadas pois lá havia um curtume que era do Coronel Vicente Ferreira da Silva, que era primo de José Tiburcio da Silva. Ao chegar lá ele deixava as peles para serem curtidas e as que já estavam curtidas ele pegava para trazer, completando a carga com sacas de café que vinham de Jacobina para Queimadas. Meu pai era dono de uma tropa de oito burros, sendo seu tropeiro o Senhor Higino morador da Fazenda Roda, ao chegar aqui na Vila do Raso, como era conhecido na época, meu pai tinha que ir prestar contas ao Coronel Vicente Ferreira da Silva, pois era ele que dava os fretes para meu pai conduzir. Foi no período desta viagem que Lampião chegou em João Vieira arraial de Araci, no mês de dezembro de 1928, procurou saber quem era fazendeiro e quem tinha tropas de burros, alguém que se dizia ser amigo de meu pai informou a Lampião sobre meu pai e Lampião mandou o cangaceiro Curisco ir até a Fazenda Paraíba guiado por esta pessoa, pois não sabiam onde era a Fazenda, ao chegar não encontrando ninguém colocaram fogo na casa.

Quando foram cinco horas da manhã, pois eu acordava muito cedo 
para comer, minha mãe chamou as meninas para ir tirar leite das cabras, pois eu só tomava leite de cabra, ela me levava nos braços, ao chegar na malhada ela avistou o fogo em cima da casa e logo viram os cangaceiros com os fuzis, os burros amarrados e etc.

Ela respeitando os cangaceiros não seguiu, pediu que uma das meninas que ela criava que voltasse na casa do meu tio Martinho para chama-lo para poder encorajá-la, pois ele ia enfrentar eles, ao chegar trazendo consigo nos braços o garoto José Brígido da Silva (Zeles) que tinha apenas dois anos e dois meses de idade, ele se reuniu com minha mãe que estava comigo nos braços, ao se aproximar da fazenda ela avista a fumaça em cima do telhado, pois eles já tinham arrombado a porta e entrado, pegado 
dinheiro, peças de tecido de seda, saquearam a casa e depois pegaram querosene, que na época meu pai comprava querosene em lata, destelharam a cumeeira da casa ensoparam com o querosene e puseram fogo.

Então minha mãe disse:

- Bom dia meus senhores! Com que autoridade vocês fizeram isso?
Eles responderam:

-A ordem que nós temos é quando chegarmos a uma fazenda e encontrar fechada colocar fogo na casa
.
Ela respondendo disse:

- Fez muito errado.

Eles perguntaram:

- Cadê seu marido? Por que ele correu?

Ela disse:

- Ele não correu, está viajando, está em Queimadas.

Eles disseram:

- Nós soubemos em João Vieira que ele tem uma tropa de burros.

Ela respondeu:

- Ele está viajando com essa tropa de burros, pois ele é cargueiro.

Eles retrucaram dizendo:

- Por que a senhora correu?

Respondeu ela:

- Eu não corri apenas fui dormir na casa do meu cunhado, se eu estivesse corrido não estava aqui com um curral apartado com as cabras e o outro com o gado. Estou vindo agora porque a minha filha que carrego nos braços chorou para comer, então vir tirar leite das cabras para fazer mingau para dar a ela.

O cangaceiro disse:

- Pois, então rodei e apague o fogo, que lá nos potes tem água.

Ela falou:

- Tem mesmo, porque quem botou não foram vocês, fomos nós que botamos água nos potes.

Minha mãe entrou e apagaram o fogo.

Curisco disse:

-Viemos porque o meu chefe mandou e se encontrasse seu marido era para arrancar o caco da cabeça dele e levarmos como prova que ele estivesse morto.

Ela disse:

- Pois não vai arrancar porque ele não correu e nem está aqui, está viajando.

Então eles se despediram e voltaram para o arraial João Vieira.

  
Web site: 

Extraído do blog: "O Cangaço em Foco", do Dr. Archimedes Marques
e+seus+cangaceiros+no+sertao+de+araci

A SECA DE 2012,

Por: José Romero Araújo Cardoso*

Secas, fenômeno climático que aterroriza as populações interioranas há tempos imemoriais, vetoras de catástrofes, inimiga pungente da qualidade de vida, artifício vergonhoso de uma indústria mais que secular.

A história das secas no nordeste brasileiro é antiga. Inúmeros registros descreveram com linhas fortes a ação inexorável da natureza sobre o homem do semiarido, pois diversas trouxeram o signo de tragédias indescritíveis.


A calamidade que atingiu o nordeste brasileiro quando da grande e inesquecível seca de 1877-1879, a qual na definição de Rodolfo Teófilo caracterizou-se por ter sido um dos mais castigante fenômeno de estiagem que atingiu a região nordestina, responsabilizou-se só no Ceará pela morte ou pela emigração de mais de 300 mil pessoas.

O ano de 2012 iniciou-se com uma incógnita: chuvas cairão para alento do heróico povo do semiarido? Poucos milímetros estão sendo registrados, mesmo assim impossíveis de garantir que a agricultura de subsistência abasteça com o excedente os centros urbanos, tendo em vista que o agrobusiness impera de forma avassaladora visando o mercado externo, com toda tecnologia de primeiro mundo que desdenha a necessidade da maioria da população que depende da química dos céus a fim de garantir o sucesso do plantio.

Seca lastimável, providências tétricas e patéticas que nem sempre cumprem papel democrático em assistir o imenso somatório de desafortunados que em um passado distante comoveram Jesuíno Brilhante, fazendo-o agir de forma Robinhoodiana nos sertões potiguares e paraibanos à base da força coercitiva dos seus bacamartes que ousaram com coragem a apontar bem no coração dos agentes a serviço da indústria das secas.

A calamidade que se agiganta, trazendo dia após dia agruras à população, provocadas com a seca de 2012, está sendo comparada ao que foi observado há trinta anos quando da indescritível estiagem que teve inicio em 1979 e adentrou de forma intolerável, desumana e horripilante até meados da década seguinte do século passado.

Dramático observar que a poesia de Patativa do Assaré, imortalizada pelo expoente maior da música regional nordestina, continua atualíssima. A fuga em direção a centros mais hospitaleiros do ponto de vista socioeconômico, de geração de emprego e renda, embora eivado de preconceitos, ainda continua a afligir mentes e corações daqueles que são por natureza apegados à terra, possuidores de relação telúrica extraordinária com o meio. 

Cotidianamente milhares de nordestinos desembarcam na porção mais rica da nação em busca de melhores condições de vida. Em inúmeros casos encontram condições de existência piores do que deixou em seu torrão natal. Subemprego e marginalidade passam a integrar de forma corriqueira as paisagens nas quais se inserem.

Triste constatar em nossas feiras que a lei da oferta e da procura rege as relações comerciais. O feijão, símbolo da agricultura familiar, alcança preços estratosféricos a cada dia que passa, frutos da indisponibilidade do produto em razão da ausência de chuvas.

Penoso é saber que a falta de critérios e de humanismo com a região nordeste em tempos de crises provocadas pelo drama climatérico ainda são constantes e tidos como naturais por aquela minoria que usurpou o poder e todas as benesses enquanto legados meticulosamente trabalhados desde a nossa formação socioeconomica.

*José Romero Araújo Cardoso, geógrafo, professor-adjunto do departamento de geografia do Campus Central da UERN.

Enviado pelo autor deste artigo

O HIPOTÁLAMO DO HIPOPÓTAMO HIPOCONDRÍACO (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa 

O hipopótamo está um com enorme problema, um imenso transtorno pra resolver.  E muita gente está na mesma situação e não diz a ninguém. Talvez tenha medo ou vergonha de revelar, mas pela magnitude da situação não haverá mesmo jeito.

O hipopótamo tenta fingir sua enrascada mergulhando na água, deixando, às vezes, somente parte da cabeça de fora. Mas não tem jeito. Mamífero grande e rechonchudo com é, de cabeça enorme e truncada num focinho largo e arredondado, não é todo lugar que lhe aceita como esconderijo.

Certos seres humanos são maiores ainda, mas não porque sejam gordos demais ou de estrutura física fora dos padrões normais, e sim pelo tamanho que a cabeça alcança de vez em quando. Problemas e mais problemas, situações que surgem e vão logo provocando a síndrome de hipopótamo: o tamanho do problema impede que seja escondido.

No mamífero, a situação complicada começa quando o hipotálamo está hipocondríaco, ou seja, quando parte do cérebro – onde há controle funções importantes como o sono, a temperatura corporal, o apetite etc. – entra em pleno estado de morbidez. E haja tristeza, melancolia, vontade de sair dessa para uma melhor. Ou pior, como geralmente acontece.

Explicando melhor, sendo o hipotálamo o centro regulador de várias funções orgânicas, ao surgirem problemas de hipocondria - depressão mórbida do espírito; afecção mental caracterizada por pensamento e preocupações voltados para o próprio estado pessoal sem razão real para que isso ocorra – tudo parece desabar.

E o hipopótamo procura desabar exatamente nas profundezas da água, como forma de fugir da cruel realidade. Mas não consegue, nunca consegue, eis que toda vez que sobe para respirar é avistado por um gaiato que logo grita que ali está o medroso, o que tem medo da realidade, o que não tem coragem de enfrentar as situações.

Diz isso sem saber nada sobre o pobre do hipopótamo, sobre os reais motivos de querer estar assim fugindo do mundo e de tudo. Zomba, faz gritaria, escarnece, porém sem saber que aquele bicho enorme, de pele dura e parecendo almofadado, na verdade não passa de um pobre coitado, de um injustiçado na vida.

Por cima daquele corpão descomunal existe um ser frágil e por dentro daquele barril mora um sentimentalismo tamanho que é até difícil descrever. Podem até achar ridículo, mas muitas vezes o imenso mamífero já foi visto ajoelhado aos prantos, chorando copiosamente e dizendo palavras amorosas animalescas.

Outras vezes foi avistado todo saltitante, fazendo corrupios no ar e tendo à mão um buquê de flores. Não era outro não, mas ele mesmo pisando todo mansinho, devagarzinho, jogando pedrinhas lá pelos lados do reduto da hipopótama. Mas que ser cruel essa hipopótama. Foi ela a causadora de toda hipocondria que num abalo terrível afetou o hipotálamo do coitado.

Animal sofre, e muito. E o homem também, por mais que queira fingir. A síndrome do hipopótamo traído, achincalhado na alma, envergonhado no espírito, corneado por quem tanto amava, possui consequencias imediatas no ser humano. É por isso que quando é afetado pela desonra da mulher ou por qualquer besteira que o próprio fez, a primeira coisa que pensa é seguir o mesmo caminho do hipopótamo: procurar um lugar pra se esconder.

Contudo, há uma sutil diferença entre os dois. O hipopótamo se esconde não por vergonha dos outros, não porque queira fugir dos olhares e comentários, e sim para se ausentar do mundo visível em si e ali, debaixo da água, reencontrar forças para emergir mais forte ainda. Já com o homem é um pouco diferente.

Por mais valente e com jeito de violento e agressivo que seja, o ser humano se dobra em si mesmo todas as vezes que se vê afetado na honra, na sua macheza. A coisa que mais teme na vida é saber que está sendo traído e que os outros conhecem tal fato. E como não pode acabar com o mundo nem dar fim à mulher que continua amando, corre a se esconder, a fugir dos olhares e das bocas. A ser um corno escondido.

Daí a hipocondria mórbida se instalando no hipotálamo em forma de vergonha. Mas é também usual que a hipocondria se instale na parte exterior da cabeça, em forma de chifres. Aí já tem outro nome.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Silêncio que diz (Poesia)

Silêncio que diz

Por: Rangel Alves da Costa*



Silêncio que diz
não corra
não fuja
a vida não está
por um triz
silêncio que diz

silêncio que diz
abra os olhos
se erga
se sinta feliz
silêncio que diz

silêncio que diz
venha logo
corra agora
traga flor-de-lis
silêncio que diz

silêncio que diz
a boca abrindo
o lábio querendo
o beijo e o bis
silêncio que diz

silêncio que diz
amar o amor
agradar coração
fazer o que fiz
silêncio que diz

silêncio que diz
manter o silêncio
o corpo falar
a vida bendiz
silêncio que quis.



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com