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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

João de Sousa Lima em entrevista para o Site ACERTE PAULO AFONSO

Por João de Sousa Lima

Exploração do cangaço em Paulo Afonso - grande potencial
18 de fevereiro de 2014

Na última quinta feira conversamos com o escritor João de Sousa Lima, um pesquisador do cangaço que reside aqui na cidade e está com 10 anos que publicou seu primeiro livro relacionado ao tema: Lampião em Paulo Afonso. Esse livro foi republicado no ano passado juntamente com o livro de Angiquinho: 100 anos de História (o Rio São Francisco, Delmiro Gouveia e a CHESf), esse em parceria com Antonio Galdino.

João nos falou que o esse interesse na pesquisa foi iniciado a partir de uma provocação do professor Edson Barreto que lecionava na zona rural e ouvia sempre relatos da passagem de lampião e outros cangaceiros na região. Depois Gloria  Lira, diretora da biblioteca, montou uma equipe para pesquisar e registrar a pesquisa para que servisse aos alunos da cidade, pois na biblioteca haviam poucos fatos a respeito do cangaço, as pessoas procuravam e não encontravam material para pesquisa. A partir daí, formaram um grupo e foram em busca dos cangaceiros ainda vivos e, segundo ele, com sua moto, percorreu mais de 12 mil quilômetros em busca dessas informações. Essas viagens lhe renderam um material riquíssimo em histórias gravadas tanto em áudio quanto em vídeo e fotografias.

Um dos focos principais do escritor é a história de Maria Bonita e a entrada da mulher no cangaço o qual já publicou 3 livros com esse tema.


 

O trabalho que mais lhe rendeu popularidade foi o livro Moreno e Durvinha: Sangue, amor e fuga no cangaço. Esse trabalho de pesquisa foi transformado em longa metragem e ganhou diversos prêmios tanto no Brasil como no Canadá, EUA, Venezuela, Chile. É uma história de amor iniciada no cangaço que resistiu as dificuldades de se andar à margem da lei. O casal de cangaceiros foi encontrado por João de Sousa Lima depois de ficarem 66 anos escondidos em Minas Gerais. Eles guardaram o segredo por muitos anos, mas que foi revelado a tempo de ser registrado da maneira como a história merece, ouvindo os relatos dos próprios participantes.

João já publicou 12 livros sendo 06 relacionados ao cangaço. Um tema que tem possibilidades de gerar muita receita para quem explora a atividade. Tanto no que se refere ao turismo, à dança, à arte, xilogravura, cordel, cinema, artesanato, quanto a própria história que tem sua marca no nordeste e uma boa parte dela aconteceu na cidade de Paulo Afonso.



João de Sousa Lima apresentou em São Paulo, no Salão de Turismo, os Roteiros do Cangaço.  Infelizmente esses roteiros não são explorados como deveriam. Aqui na nossa cidade existem 05 roteiros exploráveis (em um mesmo roteiro, existe 2 possibilidades), de fácil acesso e apenas um deles é reconhecido e explorado. São eles:

CASA DE MARIA BONITA - A casa fica situada no povoado Malhada da Caiçara, distante da sede do município 37 km. No trajeto, na altura do km 18, no povoado Baixa do Boi, encontra-se o ponto conhecido como Lagoa do Mel, local onde morreu Ezequiel Ferreira, irmão mais novo de Lampião e ainda à esquerda da Serra do Umbuzeiro, encontra-se a Casa de Dona Generosa, sendo ela uma das maiores coiteiras de Lampião e dona de um magnífico patrimônio com 04 casas e uma capela, local onde Lampião realizava os famosos bailes. Em frente à casa de Generosa pode-se ver ainda a cruz de Zé Pretinho, coiteiro assassinado pela volante policial.

POVOADO VÁRZEA – No povoado Nambebé onde nasceram os cangaceiros Bananeira e Medalha e foi um dos grandes coitos de Lampião, o povoado Macambira onde aconteceu a prisão do cangaceiro Passarinho, o povoado Alagadiço, o povoado Serrote local onde Lampião matou o jovem João de Clemente, o povoado Lagoa do Rancho local onde Lampião matou o cangaceiro Sabiá depois que esse estuprou uma moça chamada Rita de 15 anos de idade, por último chega-se na Várzea povoado que é entrada pro Raso da Catarina. A Várzea foi um dos maiores coitos de Lampião e a casa de Aristeia, onde os cangaceiros realizavam os bailes, ainda encontra-se em pé e o coiteiro Arlindo Grande é uma das fontes de informações das histórias daquele tempo.

CASA DA CANGACEIRA LIDIA -  No povoado Salgadinho encontrando-se a casa onde nasceu a cangaceira mais bonita do cangaço, a Lídia, de Zé Baiano e ainda a casa do coiteiro João Garrafinha, no povoado Juá, local onde houve o maior contingente de jovens para o cangaço, na região, podendo se ver ainda os escombros da casa de João Lima, morto a pauladas, pela volante policial, como sendo coiteiro de Lampião.

CASA DA CANGACEIRA DURVINHA - No povoado Arrasta pé, local onde foi um dos maiores coitos de Lampião e seus seguidores e de onde saiu uma das cangaceiras mais famosas, a Durvalina Gomes de Sá, conhecida pela alcunha de Durvinha e que veio a falecer em junho de 2008. no povoado Santo Antonio, onde se encontra a casa do senhor Argemiro, local onde Lampião almoçou por quatro vezes, existindo ainda, na frente da residência, um frondoso tamarindeiro que serviu de abrigo para os cangaceiros. o povoado São José onde foi também um dos grandes coitos de cangaceiros, o povoado Riacho onde se pode desfrutar da gastronomia típica nordestina, saboreando a famosa carne de bode.



O projeto de João é publicar mais 02 livros para encerrar a parte literária de pesquisa sobre o cangaço na região. Lançará em breve um livro que abordará a ligação de Lampião e os coronéis baianos, focando nos coronéis Petronilio de Alcântara Reis ( Santo Antonio da Glória)  e João Sá (Jeremoabo). O outro será uma viagem fotográfica pelo cangaço, mostrando fotografias dos coitos, coiteiros, vestimentas, armamentos, cangaceiros, soldados de volantes. “Esses 2 livros que  trabalho no momento deixará minha contribuição nessa área, mais confesso que  já estou ficando triste desde agora por ter que acabar, mas tenho em torno de 80 à 120 horas de depoimentos filmados.... isso dá uns 20 documentários. Pretendo ainda contar a passagem de Lampião por nossa cidade em um desses vídeos. ” Afirma o historiador João de Sousa Lima.

Sua trajetória de pesquisas no cangaço contou em certos momentos com a colaboração e participação de vários amigos como o Professor Edson Barreto, Gilmar Teixeira, Rubinho Lima, Marcus Vinicius, Juracy Marques, Antonio Lira, Paulo Antonio,  Felipe Marques, Marcos Passos, Haroldo Santos, Osvalny lima, Antunes “Gaúcho”, Ivan Caetano e Luiz Rubens.

Por Ana Paula Araujo
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Fotos: Klycinha nascimento 

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Despedida do último trem de passageiros que atuava em Mossoró

Por José Mendes Pereira


Quem passeou de trem indo para Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas e outras cidades do Rio Grande do Norte, com certeza ainda sente saudades do balanço e da descontrolada zoada que fazia o  velho transporte.

O último trem com passageiro que ainda permanecia rodando sobre os trilhos, foi desativado de uma vez por toda, em um sábado, às 15:30, do dia 30 de Janeiro de 1988, ordem federal, e que muito fez falta às cidades do médio e Alto Oeste do Rio Grande do Norte.

A sua desativação, deixou muita saudade encravada no coração de cada mossoroense, ao saber que aquele trem que tanto colaborou pelo desenvolvimento de Mossoró, fora condenado a não mais pisar nas terras mossoroenses, e nunca mais colocaria as  suas rodas sobre os  trilhos.

Já bem próximo da sua ida sem volta, na Rua Melo Franco, muitos mossoroenses estavam atentos em suas casas, esperando o trem segui, e para verem-no pela última vez.


Os que trabalhavam na linha férrea das cidades como: Mossoró, Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas, Jordão, Patu, Almino Afono, Mumbaça Demétrio Lemos Ulrick Graff, Alexandria, Santa Cruz, São Pedro, Sousa, sentiam um incômodo dentro do peito, em saber que durante muitos anos viveram em prol daquela máquina, e por último, só restava saber para onde iriam, já que o trem, infelizmente seguia para um lugar que nunca mais sairia de lá.

Faltavam poucos minutos para que o condutor levantasse a bandeira verde, ordenando que o maquinista partisse com o trem para o destino combinado pelos superiores da rede ferroviária; talvez iria gozar de sua aposentadoria em Sousa, na Paraíba; e os corações humanos aumentavam as suas batidas. Alguns deles nervosos, encostados às portas das suas casas, aguardavam-no, para levantarem as mãos e dizerem: "-Adeus nosso trem querido! Você muito nos serviu por várias décadas, agora chegou a vez de ir embora para nunca mais voltar!".


Pouco tempo, o trem foi ligado a sua máquina. Os vagões encarrilhados, um a um, também estavam proibidos de voltarem a esta terra que tanto os acolheu por anos e anos.

O maquinista posicionado à cabine, não dava nenhuma palavra, apenas olhava firme em direção aos trilhos que iriam aparecendo. O seu ajudante, permanecia  ao seu lado, com o olhar ao piso da máquina. O mecânico aproximou-se com uma mala cheia de chaves, e lá, a agasalhou em um vagão. E antes que descesse, bateu-lhe uma crise de choro. Os companheiros de trabalho acalentavam-no, pedindo-lhe que  tentasse controlar  a sua emoção. Mas o mecânico chorava descontrolado.

Finalmente, o trem que tanto rodou, deu o primeiro deslocamento sobre os trilhos, e partiu vagarosamente, recebendo o adeus de todos, que ao lado dos trilhos, esperavam a sua partida, e que nunca mais voltaria a esta terra.

A ponte da estrada de ferro no Rio Mossoró-RN, foi concluída no dia 7 de fevereiro de 1915, um dia de domingo e oficialmente em 19 de março de 1915 (sexta-feira), idealizada pelo suíço JOHAN ULRICH GRAFF. comerciante que fixou-se em Mossoró, em 1866, com seus companheiros Henrique Burly, Rodolfo Guyane e Conrado Meyer, este, também, suíço. Em 1868, Johan Ulrich abriu, na praça mossoroense, a Casa Graff, voltada ao comércio de importação e exportação. Na época da inauguração o prefeito de Mossoró era FRANCISCO VICENTE CUNHA DA MOTA (1914 - 1916). http://joatamaria-mossorovenezarn.blogspot.com.br/  

O trem foi desaparecendo, e apenas se ouvia o seu apito sanfonado, como um choro de quem está partindo para bem distante de seus familiares. E a fumaça cobria um pouco a visão de quem o olhava.

Os que permaneciam ao lado da linha férrea, baixaram  os seus olhares, como se tivessem perdidos um  dos seus entes queridos. Mas mesmo assim, não paravam de acenar para ele.

Estação Ferroviária de Mossoró - Hoje, Estação das Artes 

O trem seguia lentamente, porque era um desejo do maquinista demorar mais um pouco, já que nunca mais iria manobrar aquela máquina tão importante na sua vida. As lágrimas deslizavam sobre a sua face magra e quente, provocado pelo o calor da temperatura da máquina.

Em um momento, o ajudante percebeu que o maquinista lacrimejava, e perguntou-lhe:

- Você Está chorando?

- Um pouco. Sinto um forte arrocho no meu coração, devido a  saudade que já estou sentindo, por quem não voltará comigo, deixou-me doente. Foram décadas que passamos juntos. Mais momentos bons do que ruins.

Infelizmente, o trem que tanto rodou sobre o chão de nossa cidade, que a engrandeceu, prestando os seus serviços, desapareceu dos trilhos e dos olhares mossoroenses. E alguns que haviam acompanhado a sua partida, no silêncio,  também lacrimejavam.

O trem se foi. Em todos os momentos de metros rodados, os olhares dos sertanejos que residiam próximo à linha férrea, acompanhavam-no. Animais, pássaros, árvores, todos estavam com os seus holofotes virados em sua direção, para despedirem-se do trem que nunca mais voltará a nossa querida Mossoró.

O adeus dos mossoroenses dirigidos a você, trem, ficou registrado na mente de cada um. Você se foi, e com certeza, está guardado sob um galpão, sujo empoeirado, e coberto por malditas crostas ferrugentas.

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

Fonte: 

http://minhasimpleshistorias.blogspot.com

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Busca insólita - Filho procura mãe raptada por cangaceiro

Por Marici Capitelli
 

Uma decisão tomada em 1939 por um cangaceiro no interior da Bahia reflete ainda hoje na vida de uma família de Capão Redondo, na zona sul de São Paulo. Aos 78 anos, José Grigório de Jesus procura pela mãe que foi raptada por Angelo Roque, o Labareda, um dos chefes do bando de Lampião. Entre as muitas ações nos últimos 40 anos para ter notícias da mãe, ele gravou depoimentos na internet, colocou anúncios em jornais, participou de programas de TV e rádios, visitou asilos, conversou com estudiosos do cangaço e cangaceiros realizou viagem ao Nordeste em busca de pistas da mãe, que se estiver viva tem cerca de 92 anos.

Durante essas quatro décadas de buscas, José Grigório acabou encontrando uma tia e uma irmã, filha de sua mãe com o cangaceiro. Mas isso não é suficiente. “O que quero mesmo é encontrar a minha mãe, ou pelo menos saber onde ela foi enterrada. Ninguém desaparece da terra dessa maneira”, diz o idoso que chora enquanto conta a sua história. “Isso ainda me dói muito”, justifica ele, que é líder comunitário no Capão Redondo e dedica todo o tempo para melhorar a vida da comunidade local.


A baiana Ana Senhora de Jesus era dona de casa, mãe de quatro filhos e morava em um sítio em uma cidade que é chamada atualmente de Coronel João de Sá. José Grigório tinha três anos e era o segundo da prole quando o cangaceiro Angelo Roque chegou com seu bando numa tarde na propriedade da família, que tinha bom poder aquisitivo. “Meus parentes sempre contaram que ele estava armado e perguntou ao meu pai se ela era mulher dele.”

Diante da resposta positiva, Labareda teria dito que ela não era mais mulher dele a partir daquele momento. Ana, segundo o marido e os parentes, foi autorizada a pegar algumas roupas, foi colocada num cavalo e nunca mais ninguém da família teve nenhuma notícia dela.




Aos 13 anos, José Grigório (Foto) deixou a Bahia para nunca mais voltar e se mudou para São Paulo. Foi metalúrgico, líder sindical e acabou preso em algumas greves na época da repressão política. 

Tinha vergonha de contar o passado da mãe e dizia para todo mundo que ela havia morrido. Não contou nem mesmo para a sua mulher Maria, com quem se casou em 1963. Mas, na década de 1970, quando ela assistia a um programa popular de TV viu uma mulher que procurava pelos filhos e citava o nome de José Grigório. Como ela era muito parecida com a sua cunhada, Maria pressionou o marido até ele confessar a verdade. “Foi só aí que ele admitiu que a mãe tinha sido raptada”, conta Maria que se tornou aliada na busca pela sogra. 

O casal chegou a ir até a emissora de TV, mas não conseguiu contato com a mulher. A partir daí, as buscas por Ana Senhora nunca mais pararam. Algum tempo depois, José Grigório colocou anúncio em um jornal em busca da mãe. Um leitor disse que ela vivia em Itaquera, na zona leste. Maria fez várias buscas na região. “Também procurei em asilos por toda a cidade”, conta a mulher. 

O idoso gravou depoimentos para uma webTV . “A história dele sensibilizou muito os ouvintes”, lembrou o apresentador Nilo March, que fez uma campanha durante três meses à procura de Ana Senhora. Receberam uma informação que ela estaria vivendo em Santo Amaro, na zona sul, mas não foi possível confirmar. 

Outros filhos e parentes 

Dos quatro filhos de Ana Senhora de Jesus, só restam três. A mais velha, Joana, morreu há 17 anos. A caçula Maria José da Silva, de 73, compartilha do sonho do irmão em saber o paradeiro da mãe. Quando Ana foi levada, ela tinha 1 ano e 5 meses e estava nos braços dela. “Fui criada pelos padrinhos e só com 11 anos soube da verdade. Fiquei muito triste”, recorda. 

O outro filho de Ana, José André dos Santos, de 76 anos, não tem vontade de rever a mãe nem de saber notícias. “Ela podia ter voltado.” Anita, filha de Ana com Ângelo Roque, também disse aos irmãos ter mágoa da mãe por ter sido abandonada ainda bebê. 

Ângelo Roque raptou Ana Senhora em 1939, mas em 1940 ele se entregou à polícia. Solto, foi segurança no IML da Bahia e morreu no início da década de 1970.  Quando Ana foi levada, sua irmã Maria Senhora de Jesus nem tinha nascido. “Toda a minha família procurou muito por ela”. Os irmãos chegaram a ir a outros estados em busca de notícias. “Nunca conseguimos nada. Nossa mãe morreu falando dessa filha raptada.” 

Aos 69 anos, Maria sonha em encontrar ou ter notícias da irmã. “Pelo menos a gente resolveria esse assunto.” Dos sete irmãos, além de Ana, só ela e a irmã mais velha estão vivas. “Uma das maiores alegrias da minha vida foi ter reencontrado meus sobrinhos filhos da Ana.” 

Mulheres no cangaço 

Antonio Amaury Correa de Araújo, estudioso do assunto cangaço, conhece um pouco a história de Ana Senhora de Jesus. “Quando Labareda se entregou à polícia, ela o acompanhou e aparece nas fotos ao lado dele.” Ele conta que a família de Ana era coiteira - oferecia algum tipo de ajuda aos cangaceiros, que ia desde oferecer alimento até a conivência dos grandes latifundiários.


Ana aparece atrás do companheiro "Labareda" no dia das entregas. 

A historiadora Ana Paula Saraiva de Freitas, autora de uma tese sobre a presença feminina no cangaço, conta que as mulheres, depois que integravam os bandos, não tinham como sair. “Ou sofriam retaliações do próprio grupo ou da sociedade que também as via como bandidas.”
Pescado no Jornal da Tarde

1ª e 2ª Fotos print de imagens de Francisco Paz (Portal: R7) 

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6. Visita de Lampião


Já se tinha notícias da presença do maior cangaceiro do século XX, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, considerado o rei do cangaço - 1927/1940 - à Bahia no ano de 1928. A possibilidade de ter levado Lampião a cruzar o Rio São Francisco rumo aos Sertões da Bahia, seria, a que tudo indica, a falta de opção. Em todo o Nordeste só restavam Bahia, Sergipe e Piauí, onde poderia hospedar-se com o resto dos seus cabras.

O ataque a grandes centros urbanos, acirrou os ânimos das policias de alguns estados nordestinos, visto que houve repercussão nacional dos episódios. Daí por diante, Lampião não teria trégua; o jeito era dispensar muitos de seus cabras. Para facilitar a É fuga da furiosa perseguição policial, quanto menos gente, melhor.

Nessa altura, coligaram-se as policias de Pernambuco, Ceará, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte e durante vários meses investiram numa perseguição implacável a todo o bando. Não existia outra alternativa senão um dos três estados restantes do nordeste.

Para Piauí, Lampião jamais iria, primeiro porque lhe era terra desconhecida e segundo porque era o estado mais pobre, entre os pobres do nordeste. O bandoleiro sabia por experiência que na Bahia iria encontrar condições favoráveis.

Se o Capitão Virgulino não tivesse tentado ocupar Mossoró pela força, então o maior município do interior do Rio Grande do Norte, ou tivesse conseguido, provavelmente a Bahia jamais o tivesse hospedado em seu território.

Quando desembarcou aqui na Bahia, em 21 de agosto de1928, Lampião se quisesse, poderia ter tentado reconquistar a sua condição outrora de homem livre, trabalhador, honesto, produtivo. Não o fez. A índole de bandido calava mais forte.

Ao pisar em terras baianas, Virgulino Ferreira da Silva, já tinha 31 anos de idade, ostentava a patente de capitão, título de que muito se orgulhava e fazia alarde. Além de Mossoró (1927), assaltara, em lance de grande atrevimento, Água Branca (1922) em Alagoas, quando saqueou a baronesa Joana Viana de Siqueira Torres, despojando-a de joias e moedas de ouro do Império, com as quais passou a enfeitar-se. Esse episódio, somado ao frustrado assalto a Mossoró, à patente de Oficial do Exército e às inúmeras batalhas em que se envolvera (Baixa Grande, junho de 1924; Serrote Preto, fevereiro de e 1925; Serra Grande, novembro de 1926), bem como ao saldo de mortes que lhe vinha no rastro, davam-lhe prestigioso renome em todo o Brasil e até no exterior.

Um dos primeiros contatos de Lampião em terras baianas foi em Santo Antônio da Glória. Lampião partira da Serra Negra (em Floresta, Pernambuco, seu estado Natal), ladeou riacho dos Mandantes de onde passou para as margens do Rio São Francisco. Em seguida avançou pelas propriedades Sabiuçá e Roque, cruzou o velho Chico e ganhou as terras baianas. Aqui seu itinerário foi o seguinte: Serra Tona, Fazenda Salgado e o povoado Várzea da Ema, município de Glória.

Após várias andanças e as notícias ocultas, somente em dezembro é que Lampião ressurge no cenário baiano, exatamente no dia 15 de dezembro de 1928, na vila do Cumbe (atual cidade de Euclides da Cunha). de lá partiram rumo a Tucano, onde concede uma entrevista a um jornalista da terra e recebe a notícia que mandaram buscar reforço policial na cidade de Serrinha, o que apressou a saída do bando do município. Partiram de lá às onze horas da noite, aproximadamente, em destino a Pombal.

Desde aqueles sábado, 15 de setembro de 1928, que já se sabia que Lampião encontrava-se no município de Tucano, pois todos os viajantes, que lá procediam, noticiavam aos habitantes de Pombal da visita do então cangaceiro.

Lampião e mais sete cabras do seu bando chegaram à vila de Pombal por volta das seis horas da manhã, um domingo do dia 16 de dezembro de 1928.

O Sr. Paulo Cardoso de Oliveira Brito, mais conhecido como "Seu Cardoso", narrou, detalhadamente, como foi a visita de Lampião na Vila de Pombal:

"Eu era intendente, na época. Desde o sábado à noite se corria o boato na rua que Lampião estava na cidade de Tucano, mas de paz.

Eles chegaram de manhã, bem cedinho, eu estava deitado e o empregado estava varrendo o terreiro da casa (o velho sobrado dos Britto), abordaram o empregado e mandaram me chamar. Com certeza eles já haviam se informado quem era o administrador da vila. O empregado subiu e me avisou, mas não soube dizer quem era; fui até a porta às presas e perguntei a ele o que queria. Ele se identificou por Coronel Virgulino.

Tomei um susto ao perceber que estava diante do mais temido bandido do sertão. Eram oito homens, sete ficaram encostados no carro e só o capitão tinha se aproximado.

Disse que queria tomar café. Mandei logo providenciar. Perguntou quantos soldados havia na vila; respondi que apenas três; mandou avisá-los para não reagir, pois estaria ali apenas de passagem ".

O próprio empregado foi até o quartel levar a tranquilizadora notícia, transmitindo-a ao cabo Esmeraldo, comandante e chefe do destacamento.

Lampião e seus cabras de deliciaram com o café com cuscuz que lhe ofereceu o anfitrião. Mas tarde, o bando chegou até o quartel, desarmaram os militares, intimando-os a acompanhá-los até a cidade mais próxima para onde iam. Lampião disse em tom sarcástico: “... Assim vou mais garantido porque estou com a força".

Antes de saírem, Lampião e seus cangaceiros foram conhecer a Vila Alegre com a boa hospitalidade a eles oferecida. Para deixar uma ótima impressão de sua visita à Vila de Pombal, perguntou se havia um fotógrafo; mandaram chamar Alcides Franco, alfaiate e maestro da Filarmônica XV de outubro, que possuía uma máquina fotográfica. Pediu que batesse uma chapa do bando para ali ficar de recordação (essa foto é uma das mais nobres no acervo sobre o cangaceiro, presente em quase todos os livros, sobre o bandoleiro).

Por volta de oito horas da manhã o bando saiu da vila, partindo espalhafatosamente com destino a Bom Conselho (atual cidade de Cícero Dantas).

A partir daí Lampião continua suas andanças por terras baianas. Em 22 de dezembro de 1929, vindo de Capela, interior do Estado de Sergipe, passando por Cansanção, interior da Bahia, o Capitão Virgulino chega a Queimadas, cidade próxima a Monte Santo. No cumprimento de mais uma de suas façanhas, Lampião, nessa cidade, realizou um dos maiores saques cometidos na Bahia, acompanhado de gravíssimos crimes e orgias de sangue.

Após sair de Queimadas, tem-se notícias do bando dos cangaceiros no arraial de Triunfo (atual cidade de Quijingue), onde festejaram e saquearam o pequeno comércio local.

Ao amanhecer do dia 25 de dezembro de 1929, portanto três dias após o acontecido na cidade de Queimadas, mais uma vez Lampião e seus cabras chegam às redondezas de Pombal.

Nesta mesma manhã, o Sr. Cardoso recebeu um bilhete, mandado por Lampião, pedindo uma quantia exorbitante de dinheiro. A quantia era tão grande que se reunisse todo dinheiro da Vila, não pagava.



O Sr Cardoso temendo uma represália por parte do cangaceiro, se não enviasse pelo menos uma boa parte de dinheiro e uma desculpa bem, convincente, conseguiu o equivalente à metade do pedido, mandando pelo mesmo portador que trouxe o bilhete.

Não se registrou nenhuma agressão ou tentativa de saque na Vila de Pombal, certamente o Capitão Virgulino aceitou as desculpas do administrador local ou imaginou outra hipótese, como por exemplo, a essa altura, talvez já se encontrasse ali reforço policial e o bilhete que enviara dava testemunho de sua presença nas imediações. Dava tempo muito bem da força preparar uma emboscada caso ele tentasse invadir a vila. O certo é que Lampião dotado de muita astúcia e arquiteto das mais engenhosas proezas, sem dúvida tivesse pensado inúmeras desvantagens em tomar a Vila de Pombal para assalto.

Na mesma manhã do Natal de 1929, o bandoleiro chega ao distrito de Mirandela. Foi previamente informado que o destacamento era constituído de apenas cinco praças e um comandante; envia então uma intimação ao sargento, com os seguintes termos:

"Sargento arretire daí levando sua pessoa que preciso intra neste arraiá agora se você não sai ajusta conta com eu Capitão Virgulino vurgo Lampião".

Certamente o comandante do destacamento ignorava o recente acontecimento de Queimadas, onde Lampião enfrentou muito mais soldados do que os ali existentes. O sargento Francisco Guedes de Assis demonstrou disposição e evitou acatar ao intimato, contrariando ao desejo do cangaceiro, mandou-lhe resposta num outro escrito, com os seguintes dizeres:

"Bandido Lampião, estou aqui com a edificante missão de defender a população do Arraial contra a sua incursão e do seu bando. Se você entrar lhe receberemos a bala".

Pouca gente sabe desse episódio que aconteceu em Mirandela, porém, não só foi contado por moradores que vivenciaram o caso, como também foi encontrado um registro escrito por um dos cangaceiros, por nome de Ângelo Roque, confirmando o fato. O registro manualmente escrito dizia:

"Seguimo para Mirandela. Mandemo dizer ao sargento, qui tava distacado lá, que nóis, ia passa ali, sem arteração. Ele arrespondeu pelo portado qui nóis pudia passa pru fora da rua que ele num botam persiga atraiz. Mais si nóis intrasse dento da rua levava tiro. Isso foi num dia vinte i cinco di dezembro. Nóis arrezorveu ataca.

Um pade tava na igreja dizeno missa. Era um sargento Guedes. Disparemo as arma pra dento da rua qui istrondô i avanecemo pra frente".

O destacamento de seis militares, recebeu espontaneamente, a adesão de dois civis: Manoel Amaral do Nascimento e Jeremias de Souza Dantas.

Guedes divide sua pequena tropa em três grupos, colocando-os em três pontos diferentes e estratégicos. Eram dezessete bandidos contra seis militares e dois civis. Os bandidos invadem o arraial, atirando em todas as direções; Mirandela é heroicamente defendida.

A luta dura duas horas e meia, aproximadamente, apesar da desvantagem dos defensores. Em determinado momento, o fogo dos sitiados começa a decrescer. Os bandoleiros sentiram que estavam ganhando a batalha e acirraram o ataque.

Manoel Amaral do Nascimento foi ferido e, enquanto era conduzido pelo sargento para o interior de uma casa, é morto à queima-roupa por um bandido que se presume ter sido Alvoredo. Guedes ainda atira no cangaceiro, que pede socorro aos companheiros. Ao notar que os cangaceiros atendem ao apelo de socorro, Assis corre e se refugia no mato. Jeremias de Souza Dantas, popular Neco, o outro civil, também é assassinado.

Depois do acontecido, um cangaceiro por nome de Labareda, documenta o fato em uma folha de papel, reproduzindo o que se passou no local:

"Lampião entro pulo cento da rua, junto com Zé Baiano, Luiz Pedo e outros. Zé Baiano tinha sumido de nóis dois dia só i tomo partido das disgracera de Queimada. Us macaco de mirandela inda brigam muito mais porem terminaro debandano. I si escondero pru perto cum pirigo pra nóis di tiro imboscados. Morreu nessa brigada um camarada pru nomi Manoé de Mara. Matemo uns dento di casa i um macaco materno pruquê pidiu paiz cum lenço branco na boca du fuzi i ninguém intendeu ou num quis intendê. Tamem cangacero num tinha esse negoço di faze as paiz nu meio das brigada. Ele teve di morre pois teve brigano. Tumemo us dinhero pussive nu começo i nas casa”.

O saldo da guerra: morreram os dois civis, um dos militares, sendo que os outros, inclusive o sargento Guedes, fugiram, embrenhando-se no mato; também foi ferido um cangaceiro por nome de Luiz Pedro.

O bando sai de Mirandela, carregando o cangaceiro ferido, e vitoriosos, ganham o mato, como sempre, sem destino. Tem-se notícias do bando, mais tarde, de que estariam num esconderijo, perto de Pinhões, povoado de Euclides da Cunha, em um sítio é denominado Olho D'água.

Fonte:
http://rdopombal.blogspot.com.br/2009/05/6-visita-de-lampiao.html 

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