Por
Marici Capitelli
Uma decisão tomada em 1939 por um cangaceiro no interior da Bahia reflete ainda
hoje na vida de uma família de Capão Redondo, na zona sul de São Paulo. Aos 78
anos, José Grigório de Jesus procura pela mãe que foi raptada por Angelo Roque,
o Labareda, um dos chefes do bando de Lampião. Entre as muitas ações nos
últimos 40 anos para ter notícias da mãe, ele gravou depoimentos na internet,
colocou anúncios em jornais, participou de programas de TV e rádios, visitou
asilos, conversou com estudiosos do cangaço e cangaceiros realizou viagem ao
Nordeste em busca de pistas da mãe, que se estiver viva tem cerca de 92 anos.
Durante essas quatro décadas de buscas, José Grigório acabou encontrando uma
tia e uma irmã, filha de sua mãe com o cangaceiro. Mas isso não é suficiente. “O
que quero mesmo é encontrar a minha mãe, ou pelo menos saber onde ela foi
enterrada. Ninguém desaparece da terra dessa maneira”, diz o idoso que chora
enquanto conta a sua história. “Isso ainda me dói muito”, justifica ele, que é
líder comunitário no Capão Redondo e dedica todo o tempo para melhorar a vida
da comunidade local.
A baiana Ana
Senhora de Jesus era dona de casa, mãe de quatro filhos e morava em um sítio em
uma cidade que é chamada atualmente de Coronel João de Sá. José Grigório tinha
três anos e era o segundo da prole quando o cangaceiro Angelo Roque chegou com
seu bando numa tarde na propriedade da família, que tinha bom poder aquisitivo.
“Meus parentes sempre contaram que ele estava armado e perguntou ao meu pai se
ela era mulher dele.”
Diante da resposta positiva, Labareda teria dito que ela não era mais mulher
dele a partir daquele momento. Ana, segundo o marido e os parentes, foi
autorizada a pegar algumas roupas, foi colocada num cavalo e nunca mais ninguém
da família teve nenhuma notícia dela.
Aos 13 anos,
José Grigório (Foto) deixou a Bahia para nunca mais voltar e se mudou para São
Paulo. Foi metalúrgico, líder sindical e acabou preso em algumas greves na
época da repressão política.
Tinha vergonha de contar o passado da mãe e dizia para todo mundo que ela havia
morrido. Não contou nem mesmo para a sua mulher Maria, com quem se casou em
1963. Mas, na década de 1970, quando ela assistia a um programa popular de TV
viu uma mulher que procurava pelos filhos e citava o nome de José Grigório.
Como ela era muito parecida com a sua cunhada, Maria pressionou o marido até
ele confessar a verdade. “Foi só aí que ele admitiu que a mãe tinha sido
raptada”, conta Maria que se tornou aliada na busca pela sogra.
O casal chegou a ir até a emissora de TV, mas não conseguiu contato com a
mulher. A partir daí, as buscas por Ana Senhora nunca mais pararam. Algum tempo
depois, José Grigório colocou anúncio em um jornal em busca da mãe. Um leitor
disse que ela vivia em Itaquera, na zona leste. Maria fez várias buscas na
região. “Também procurei em asilos por toda a cidade”, conta a mulher.
O idoso gravou depoimentos para uma webTV . “A história dele sensibilizou muito
os ouvintes”, lembrou o apresentador Nilo March, que fez uma campanha durante
três meses à procura de Ana Senhora. Receberam uma informação que ela estaria
vivendo em Santo Amaro, na zona sul, mas não foi possível confirmar.
Outros filhos e parentes
Dos quatro filhos de Ana Senhora de Jesus, só restam três. A mais velha, Joana,
morreu há 17 anos. A caçula Maria José da Silva, de 73, compartilha do sonho do
irmão em saber o paradeiro da mãe. Quando Ana foi levada, ela tinha 1 ano e 5
meses e estava nos braços dela. “Fui criada pelos padrinhos e só com 11 anos
soube da verdade. Fiquei muito triste”, recorda.
O outro filho de Ana, José André dos Santos, de 76 anos, não tem vontade de
rever a mãe nem de saber notícias. “Ela podia ter voltado.” Anita, filha de Ana
com Ângelo Roque, também disse aos irmãos ter mágoa da mãe por ter sido
abandonada ainda bebê.
Ângelo Roque raptou Ana Senhora em 1939, mas em 1940 ele se entregou à polícia.
Solto, foi segurança no IML da Bahia e morreu no início da década de
1970. Quando Ana foi levada, sua irmã Maria Senhora de Jesus nem tinha
nascido. “Toda a minha família procurou muito por ela”. Os irmãos chegaram a ir
a outros estados em busca de notícias. “Nunca conseguimos nada. Nossa mãe
morreu falando dessa filha raptada.”
Aos 69 anos, Maria sonha em encontrar ou ter notícias da irmã. “Pelo menos a
gente resolveria esse assunto.” Dos sete irmãos, além de Ana, só ela e a irmã
mais velha estão vivas. “Uma das maiores alegrias da minha vida foi ter
reencontrado meus sobrinhos filhos da Ana.”
Mulheres no cangaço
Antonio Amaury Correa de Araújo, estudioso do assunto cangaço, conhece um pouco
a história de Ana Senhora de Jesus. “Quando Labareda se entregou à polícia, ela
o acompanhou e aparece nas fotos ao lado dele.” Ele conta que a família de Ana
era coiteira - oferecia algum tipo de ajuda aos cangaceiros, que ia desde
oferecer alimento até a conivência dos grandes latifundiários.
Ana aparece atrás do companheiro "Labareda" no dia das entregas.
A historiadora Ana Paula Saraiva de Freitas, autora de uma tese sobre a
presença feminina no cangaço, conta que as mulheres, depois que integravam os
bandos, não tinham como sair. “Ou sofriam retaliações do próprio grupo ou da
sociedade que também as via como bandidas.”
Pescado no Jornal da Tarde
Pescado no Jornal da Tarde
1ª e 2ª Fotos print de imagens de Francisco Paz (Portal: R7)
http://lampiaoaceso.blogspot.com.br
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nossa !!! Conheço Sr. José Grigorio ele sempre falou deste epsodio só que nunca dei muita importância sempre pensei que fosse mais uma estória de pessoas antigas, mas é muito serio isto mesmo, que Deus o ajude nesta trajetória que ele luta há muitos anos.
ResponderExcluir