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domingo, 14 de julho de 2013

O Brasil dos anos 30, um país tão gentil

Por Milton Ribeiro

Não pretendo discutir a justiça da morte de Lampião e seu grupo, mas dar uma olhada na forma com que as autoridades policiais agiam nos anos 30. Faroeste total. Os adversários políticos de Getúlio Vargas o pressionavam por permitir a existência de Lampião. Então, Getúlio fez uma pressãozinha sobre o interventor de Alagoas, Osman Loureiro. Este prometeu promover ao posto imediato da hierarquia o militar que trouxesse a cabeça de um cangaceiro. Antes, o governo baiano já tinha tentado ajudar o ditador gaúcho, apesar da polícia saber que o grupo encontrava-se entre Alagoas e Sergipe.

Porém, na verdade, Lampião e a maior parte de seus comandados encontravam-se acampados em Sergipe, na fazenda Angicos, no município de Poço Redondo. As forças de Alagoas — sim, dentro de Sergipe — agiram guiadas pelo coiteiro Pedro de Cândido e os cangaceiros não tiveram tempo de esboçar qualquer reação. Eles chegaram às 5h30 da manhã de 28 de julho de 1938. Ao todo foram 11 cangaceiros mortos, entre eles Lampião e Maria Bonita. Foram decapitados e depois houve uma verdadeira caçada ao “patrimônio” dos cangaceiros. Joias, dinheiro, perfumes e tudo mais que tinha valor foi alvo da rapinagem promovida pela polícia.

As cabeças dos 11 cangaceiros do grupo de Lampião estiveram embelezando as escadarias da Prefeitura de Piranhas (Clique para ampliar)
A exposição acima ainda seguiu para Santana do Ipanema e depois para Maceió, onde os políticos puderam tirar proveito dela. Acima, Lampião, Maria Bonita, Luiz Pedro, Quinta-feira, Elétrico, Mergulhão, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela.

http://miltonribeiro.sul21.com.br/2012/09/10/o-brasil-dos-anos-30-um-pais-tao-gentil

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A cangaceira Dadá

A cangaceira Dadá - esposa de Corisco

Sérgia Ribeiro da Silva, mais conhecida como Dadá (Belém de São Francisco, 25 de abril de 1915 — Salvador, fevereiro de 1994), foi uma cangaceira - única mulher a pegar em armas no bando de Lampião.

Biografia violenta

Nasceu em Belém de São Francisco, onde viveu seus primeiros anos de vida e teve algum contato com índios. A família muda-se para a Bahia onde, aos treze anos, é raptada por Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto) - o "Diabo Loiro", de quem seria prima.

O cangaceiro Corisco

Cabocla bonita, esbelta, conheceu o homem da sua vida de forma violenta, em meio a caatinga árida por onde vivia errante o bando de cangaceiros. Consta que seu defloramento provocara-lhe tanta hemorragia que por pouco não faleceu.

A relação, que começara instintiva, transforma-se com o tempo. A vida nômade, seguindo o companheiro, que era o segundo homem, na hierarquia do bando, a chegada dos filhos, fez com que mais que uma amante Dadá se tornou a companheira de Corisco, com quem, ainda no meio das lutas veio a se casar.

Tiveram sete filhos, que eram ocultamente deixados em casas de parentes para serem criados. Destes, apenas três sobreviveram.

O bando de Lampíão dividia-se, como forma de defesa, em partes menores, a mais importante delas era justamente a chefiada por Corisco. A esposa tinha uma pistola, que ele dera, para sua defesa pessoal, e também lhe ensinou a ler, escrever e contar.

Num dos ataques feitos pelas volantes (em outubro de 1939, na fazenda Lagoa da Serra em Sergipe), o Diabo Louro é ferido em ambas as mãos, perdendo a capacidade para atirar. Dadá, então, torna-se a primeira e única mulher a tomar parte ativa - e não meramente defensiva - nas lutas do cangaço.

Se o marido era temido como um dos mais violentos bandoleiros, consta que muitas pessoas tiveram sua vida poupada graças à intervenção de sua companheira. Dada também era chamado "Sussuarana do Cangaço"

Trágico final

Tendo Lampião sido executado em 1938, Corisco, que estava em Alagoas com parte do bando, empreendeu feroz vingança. Como seus companheiros tiveram as cabeças decepadas, e expostas no Museu Nina Rodrigues de criminologia, na capital baiana, Corisco também cortou a cabeça de muitas vítimas, então.

Vídeo produzido pela Laser Vídeo - Aderbal Nogueira

O cangaço definhava, sobretudo pela disparidade de armamentos: os volantes tinham uma arma que os cangaceiros nunca conseguiram obter: a metralhadora. A própria Justiça passa a oferecer vantagens para os bandoleiros que se rendessem.

A 25 de maio de 1940 Corisco e seu bando é cercado em Brotas de Macaúbas, pela volante do tenente Zé Rufino. Dissolvera o bando, e abandonara as vestes típicas, procurando passar por simples retirantes.

Uma rajada da metralhadora rompe os intestinos de Corisco. Dadá é ferida na perna direita.

O último líder do cangaço morre dez horas depois do ataque, sendo enterrado em Jeremoabo e, dez dias após, exumado e a cabeça decepada é enviada ao Museu, junto às demais do bando.

Dadá, colocada em condições infectas, tem seu ferimento agravado para uma gangrena, que restou-lhe, na prisão, à amputação quase total da perna. Por essa situação, o célebre rábula baiano Cosme de Farias, representa Dadá na Justiça, pleiteando sua libertação, em 1942.

Luta por direitos

Dadá passou a viver em Salvador, lutando para ver a legislação que assegura o respeito aos mortos fosse cumprida - e a tétrica exposição do Museu Antropológico Estácio de Lima, localizado no prédio do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues tivesse fim. Só a 6 de fevereiro de 1969, no governo Luiz Viana Filho, foi que os restos mortais dos cangaceiros puderam ser inumados definitivamente - tendo, porém, o museu feito moldes para expor, em substituição.

Por sua luta e representatividade feminina, Dadá foi, na década de 1980, homenageada pela Câmara Municipal de Salvador. Na Bahia, que tivera Gláuber Rocha e tantos outros a retratar o cangaço nas artes, Dadá era a última prova viva a testemunhar o cotidiano de lutas, dificuldades e, também, de alegrias e divertimentos. Deu muitas entrevistas, demonstrando sua inteligência e desenvoltura.

Dadá morreu na capital baiana, em 1994.

http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgia_Ribeiro_da_Silva

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Informações

Por: Dr. Ivanildo Alves da Silveira
Manoel Severo, Dr. Napoleão Neves e Dr. Ivanildo Alves da Silveira

Amigo Mendes,

Sou leitor assíduo do seu importante BLOG, e, parabenizo-o por esse valioso instrumento de divulgação da cultura nordestina...

Escritor Kydelmir Dantas

Através de Kydelmir, de vez enquanto tenho notícias do amigo...

Não sei se é do seu conhecimento, administro uma COMUNIDADE DO ORKUT, denominada "LAMPIÃO GRANDE REI DO CANGAÇO ", onde tratamos de matérias relativas ao cangaço, e, especialmente sobre 

Maria Bonita e Lampião

Lampião, cangaceiros, coiteiros, coronéis...etc.. Sempre tentando divulgar  o fato histórico, o mais próximo da verdade, sem utilizar ideologias, fanatismo, radicalismo...etc..

Essa minha Comunidade, fará 10 anos de existência no próximo ano... Lá você encontrará centenas de ARTIGOS, MATÉRIAS, FOTOS, etc...

Quando você tiver um tempinho, dê uma passadinha lá...E, se tiver interesse, pode COPIAR alguma matéria e postar no seu Blog, bastando, apenas, citar a fonte...

Um abraço e, aqui em Natal disponha do amigo.

Abraço no Kydelmir.

Natal - Rio Grande do Norte
IVANILDO  SILVEIRA

Colecionador e pesquisador do cangaço

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Programação Cariri Cangaço Piranhas !

Avante-Première 2013


Dia 26 de Julho de 2013
 
Sexta-feira – Piranhas / Alagoas
Local : Centro Cultural Miguel Arcanjo
16:00 h – Abertura da Semana do Cangaço
Homenagem ao escritor Alcino Alves Costa


16:20 h – Palestra : Roteiros Integrados do Cangaço
Palestrante: João de Souza Lima – Pesquisador ,Escritor e Biografo de Maria Bonita ligado a Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
17:00 H – Intervalo


17:10 h – Palestra : O Amor no Cangaço
Palestrante : Juliana Ischiara – pesquisadora do Cangaço
17:40 h – Debate
18:20 h – Exibição do documentário de Aderbal Nogueira .
18:40 h – Apresentação cultural
19:20 h – Encerramento 


Dia 27 de Julho de 2010


Sábado
MANHÃ LIVRE PARA VISITASPALESTRAS
Local : Centro Cultural Miguel Arcanjo - Piranhas / AL
15:00 h – Palestra : Caminhos do São Francisco : De Pedro II a Lampião
Palestrante: Jairo Luiz Oliveira
Pesquisador do Cangaço, idealizador da Rota do Cangaço Xingó e do Roteiro Turístico Integrado Caminhos do Imperador
15:40 h – Intervalo


15:50 h – Palestra : A Polêmica e Intrigante Genialidade de
Virgulino Lampião
Palestrante : Manoel Severo
Pesquisador e Curador do Cariri Cangaço
16:20 h – Debates
17:00 h – Exibição do filme “ Gato : Um Cangaceiro de Lampião”
de João de Souza Lima

17:30 h – Apresentação cultural : Peça de teatro
“ A invasão de Gato em Piranhas” pelo grupo
Estrelas do Sertão
18:00 h – Encerramento


Dia 28 de Julho de 2010


Domingo
08:00 h – Saída para Angico – Missa do Cangaço
Local de embarque : Porto de Piranhas/AL
11:00 h – Apresentação da peça teatral “ Lampião Moderno” com grupo Estrelas do Sertão
11:30 h –Forró pé de serra com Trio Canoa de Tolda.
13:00 h – Retorno

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Anotações para a história de Mossoró - 14 de Julho de 2013

Por: Geraldo Maia do Nascimento

No início, era apenas a capela e algumas casas que formavam a quadra da rua, como nos informa os nossos primeiros cronistas. Henry Koster, um aventureiro inglês que por aqui passou em 7 de dezembro de 1810, descreve o povoado dizendo constar de “200 ou 300 habitantes, edificado num quadrângulo, tendo uma igreja e casas pequenas e baixas”. Existiam apenas quatro ruas, que Francisco Fausto de Souza, nosso primeiro historiador, identificou como sendo: Rua do Desterro, que era a que ficava ao lado direito da capela, tendo em vista a frente da mesma voltada para o centro do quadro; Rua do Cotovelo que correspondia a atual parte da frente do Banco do Brasil, correndo, portanto, ao lado esquerdo da capela, para quem estivesse olhando para frente do quadro; Rua Domingos da Costa, que era a que ficava por detrás da capela e a Rua Padre Longino, que correspondia ao prolongamento atual da Rua 30 de setembro. No centro do quadro, surgiu a nossa primeira praça.

 
             
Era a Praça da Matriz, atual Praça Vigário Antônio Joaquim, que ocupa todo o largo do velho quadro da capela, numa área de aproximadamente 2.100m². Esta praça é marco de grandes concentrações culturais e religiosas, principalmente durante os festejos de Santa Luzia, quando a praça é totalmente tomada pelo povo.
               
O povoado cresceu, tornou-se vila e depois cidade, e as casas se multiplicaram, fazendo surgir outras praças. A Praça da Redenção, que Raimundo Nonato nos informa ser a antiga Praça da Independência, que teria perdido esse nome depois do feito da abolição em Mossoró foi, ao que se sabe, a Segunda praça da cidade. No início, era ponto de tradição comercial, pois daí se expandiu às primeiras grandes firmas comerciais, principalmente as dos capitalistas estrangeiros. 
               
Essa praça serviu de palco a acontecimentos importantes, que culminaram com o feito histórico da abolição dos escravos, realizada a 30 de setembro de 1883. Atualmente sua denominação é “Praça da Redenção Dorian Jorge Freire”, em homenagem póstuma ao grande jornalista mossoroense.

             
Outras praças vão surgindo como a Praça da Ibueira, depois chamada de Praça Coração de Jesus. A dita praça ficava pelos fundos da atual Coração de Jesus, em terreno onde o comerciante Miguel Faustino do Monte mandou construir um convento, ligado à igreja, para os homens que fariam à adoração noturna ao Santíssimo Sacramento, atendendo ao desejo do então Bispo Diocesano D. Jaime de Barros Câmara. Tinha a Praça Pedro Velho, que era o antigo Paço Municipal (Praça da Cadeia), hoje Praça Antônio Gomes. Tinha a Praça São Vicente, que era um local amplo, de frente para a igreja. Depois, pessoas importantes tiveram autorização da Prefeitura para construir casas na praça. E a praça acabou... Tinha ainda a Praça Redonda ou Praça do Poço, construída na chamada “cidade nova”, ao lado sul da “Vila Justa”, hoje Palácio Episcopal, residência do Bispo Diocesano. Nela foram construídas duas caixas d’água, ainda hoje existente. 
               
Praça Bento Praxedes, mais conhecida como “Praça do Codó”. No começo era só um quadro coberto de um cerrado de pereiros. De início, foi denominada de Padre Antônio Joaquim, conforme registrado numa planta da cidade. Depois Bento Praxedes, em homenagem a um cidadão que prestou relevantes serviços à cidade, tendo nela publicado um jornal por mais de 10 anos consecutivos.
               
Em 10 de janeiro de 1904, por proposta do intendente (vereador) Francisco Tavares Cavalcanti a Câmara Municipal, por unanimidade, passa a denominar Praça dos Fernandes o antigo logradouro que tinha o nome de Barão de Ibiapaba, antes também chamada Praça Chico Tertuliano e Praça da República e desde 1953 denominada Praça Rafael Fernandes.
               
Muitas outras praças surgiram na cidade, tornando mais alegre e agradável a vida dos habitantes da terra de Santa Luzia do Mossoró.
               
Para conhecer mais sobre a história de Mossoró, visite o blog: www.blogdogemaia.com.
               

Fonte:
http://www.blogdogemaia.com

Autor:
Geraldo Maia do Nascimentohttp://www.blogdogemaia.com/imagens/seta.jpg

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O SERTANEJO ANTES DE SE TORNAR CANGACEIRO - III

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

O SERTANEJO ANTES DE SE TORNAR CANGACEIRO - III 

O sertanejo de então já tinha conhecimento de homens - e caboclos iguais a ele - que se embrenharam pelas caatingas, armados e perigosos, confrontando os poderosos e sendo perseguidos pela polícia. Do mesmo modo sabia o que havia acontecido para que resolvessem resolver os problemas a partir da revolta armada. E, fato importante, mesmo conhecendo a inglória daquela luta, achava justificada e corajosa aquela ação. Ele também, na proporção do seu sofrimento, era vítima da mesma motivação cangaceira.

Que se diga, entretanto, que a hoste cangaceira foi quase a única opção para muitos de conturbada vivência em sociedade. A ilusão daquela vida de coragem e destemor, aliada aos problemas íntimos surgidos, fez com que muitos se embrenhassem nas matas em busca de refúgio e de suporte para seus sentimentos revoltosos e vingativos. Desse modo, também uma leva de malfeitores, bandidos cruéis e fugitivos passou a fazer parte dos primitivos bandos cangaceiros.


Mas os bandos não eram formados apenas por gente da pior estirpe. Ao menos mais tarde não foi visto assim. Lógico que continuaram presentes aqueles que haviam acabado de sair de refregas sangrentas pessoais ou familiares, mas não de modo generalizado. Tome-se como exemplo aqueles meninos e meninas que arregimentaram as forças de Lampião. Como será visto mais adiante, muitas vezes não tinham nem idade para já entrar no bando com qualquer mácula. Diferentemente ocorreu em ocasiões passadas, com outros grupos cangaceiros.

Os primeiros cangaceiros foram homens arregimentados no próprio meio sertanejo mais sofrido e miserável e dentre aqueles que não suportaram mais a situação vigente. Primeiro através de homens destemidos, de cabras com “sangue no olho”, e estes acompanhados por aqueles jagunços que saíram das tocaias coronelistas - trazendo consigo as experiências do gatilho, da atrocidade e da frieza para matar - para, na maioria das vezes, lutar contra o sistema que brutalmente haviam alimentado.

Entretanto, não demorou para que outros cabras da pior reputação também adentrassem no mundo cangaceiro. Impossível se pensar em antecedentes criminais num sertão tomado por rixas, vinganças, violências de toda ordem. De modo diverso do que acontecia no bando de Lampião, onde não era qualquer um que recebia aceitação, os grupos  primitivos não faziam uma avaliação mais aprofundada daqueles que fossem chegando e se mostrando dispostos à luta.

A derrocada desses bandos primitivos deve-se muito às desorganizações dentro do próprio grupo, e tendo essa mistura de homens valentes com bandidos comuns e reles homicidas uma das causas de sua desestruturação e esfacelamento. Mas a luta continuava protagonizada por aqueles que sabiam o que queriam com aquela guerra sertaneja. Neste sentido é a afirmação de que Lampião, como verdadeiro e capacitado discípulo, levou adiante a luta iniciada por Antônio Silvino. Contudo, em causa própria.

Talvez fossem a magnitude e fama alcançada pelo seu grupo, que tornou o Capitão cuidadoso com a chegada de novos integrantes. Não podia descuidar e infiltrar qualquer um no seu meio. Ora, se a morte já rondava pelos arredores, descabido seria chamá-la para o coito. Se as desconfianças já eram existentes diante de determinadas ações de alguns cangaceiros, de coiteiros e outros colaboradores, mais ainda quando se tratava de acolher gente nova. Mas nem tudo podia ser controlado como deveria. Impossível diante de situações inusitadas.

Era difícil dizer não quando alguém procurava o bando por indicação de um conhecido. E Lampião tinha amigos que não podia deixar de atender. Desse modo, se um cabra chegasse desejoso de entrar naquela vida e levando consigo um bilhete rabiscado por um valoroso conhecido, outra coisa não restava a fazer senão, em primeiro lugar, tentar dissuadi-lo a não optar por aquela vida de tanto sofrimento e dor. Mas, se ainda assim, o postulante se mostrasse disposto a ficar, então era iniciado nos segredos da vivência e luta cangaceira.


Situação também inusitada ocorria quando um cangaceiro despontava na vereda ou saía de dentro do mato trazendo consigo uma bela sertaneja. E assim aconteceu  muitas vezes. Famosos, idolatrados e desejados por muitas das mocinhas caboclas, os rebeldes catingueiros não perdiam tempo quando se engraçavam de uma ou outra. Algumas delas simplesmente resolveram fugir de casa e seguir seu escolhido; outras foram praticamente retiradas dos braços das famílias, ainda que as mocinhas não se mostrassem contrárias ao rapto. Mocinhas não, muitas ainda meninas, adolescentes de doze ou treze anos.

Lampião não via com bons olhos essa ação de seus cabras. Achava uma crueldade que aquelas verdadeiras meninas tivessem deixado suas bonecas de pano pelos cantos dos casebres e levadas para um meio difícil de ser suportado até pelos mais valentes e corajosos. Mas acabava reconhecendo que não havia jeito a dar. Principalmente porque sabia que nenhuma estava ali à força, ainda que não tivessem nem idade para raciocinar sobre a decisão tomada e muito menos sobre os sofrimentos que teriam de suportar dali em diante.

Continua...

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
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