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quarta-feira, 6 de julho de 2016

NOVO DESAFIO CARIRI CANGAÇO: EXU !

Por Manoel Severo

Quando se fala em Nordeste, em nordestinidade e em seus principais personagens, sem dúvidas temos que nos curvar diante de uma unanimidade: Luiz Gonzaga do Nascimento ou Luiz Lua Gonzaga, o Rei do Baião. 

Pois bem, Luiz Gonzaga o Rei do Baião será o convidado mais que especial no mais novo desafio do Cariri Cangaço: Pernambuco se torna de vez nossa casa, depois da grande realização que foi a edição em Floresta e Nazaré do Pico, em maio de 2016, estamos chegando de uma só vez a Exu, Serrita e Granito. Sejam bem vindos ao Cariri Cangaço Exu.

Por enquanto as equipes de colaboradores já começam a esboçar as linhas principais do esperado evento. "Estamos reunindo esforços para fincar de vez a bandeira do Cariri Cangaço em Pernambuco, desta vez unindo a força de Exu e ainda os município de Serrita e Granito, cada um desses com sua memória e história, pontuada de episódios marcantes como o Fogo da Ipueira dos Xavier, uma das mais famosas resistências a Lampião da historia, e teremos sim como grande convidado especial o maior ícone da cultura de nosso sertão:Luiz Gonzaga"! Reforça Manoel  Severo, curador do Cariri Cangaço.

Eimar Xavier, Manoel Severo e Nemézio Barbosa em visita a Ipueira dos Xavier

As conversas para a realização do Cariri Cangaço Exu-Serrita tiveram seu inicio ainda em 2011 quando o curador do evento esteve em visita a Serrita e à fazenda Ipueira dos Xavier, Manoel Severo ao lado de Nemézio Barbosa foram recebidos por Eimar Xavier, um dos descendentes dos defensores da vila no famoso episodio de fevereiro de 1927 que teve a frente Pedro Xavier. "Para nós da Ipueira dos Xavier será uma grande honra realizar o Cariri Cangaço aqui em Serrita, sem dúvidas o maior evento de cangaço do Brasil" comenta Eimar Xavier.

O tempo passou e mais uma vez o destino foi generoso com o empreendimento. Bibi Saraiva, pesquisador, escritor e memorialista de Exu, Ex-Secretário de Cultura e atualmente Secretário de Obras de Exu, entusiasta da ideia de realizarmos o Cariri Cangaço lá pelos lado pernambucanos da Chapada do Araripe comenta: "Severo vamos sim realizar um grande evento e vamos unir: Exu, Serrita e Granito, neste grande Cariri Cangaço Exu !" 
  

Dentro do Cariri Cangaço Piranhas 2016, nos próximos dias 28 a 30 de Julho, teremos o lançamento do livro de Bibi Saraiva, sobre o conflito das famílias Saraiva e Alencar em Exu: O Império dos Rifles; além de uma reunião de trabalho quando o Conselho Consultivo Alcino Alves Costa do Cariri Cangaço,  juntamente com a equipe de Exu, definirão os próximos passos para a realização de mais esse empreendimento com a marca Cariri Cangaço.

Cariri Cangaço

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A ORIGEM DO MUNDO OU A GENITÁLIA DE COURBET

*Rangel Alves da Costa

Por merecimento ou não, a arte, através de seus críticos, de uma hora pra outra pode cair no desprezo ou ser elevada ao mais alto reconhecimento. Depende sempre da visão que se tenha da escultura, da música ou da pintura, só para citar alguns nomes. Com esta última, que é uma arte visual por excelência, de apreciação pelo próprio olho, muitas vezes a crítica feita chega a espantar.

E espanta principalmente quando a obra em si não parece merecer a glorificação obtida. Daí se indagar: seria a arte o nome do artista, a sua fama, aquilo que o crítico deseja que seja, ou seria o que verdadeiramente expressa? Tenha-se, neste sentido, que o nu na pintura sempre tende a ser vulgarizado acaso não seja obra de um famoso. Então a crítica logo carimba de arte pornográfica, de mera erotização ou mesmo de chinfrim criação artística.

E quando a nudez vai além da mera retratação para adentrar no próprio íntimo da sexualidade? Deveras um caminho muito perigoso ao artista, pela crítica e pela aceitação social. Desse modo, quem haveria de imaginar que em pleno século XIX, na efervescência de pinturas com cenas bíblicas, históricas e mitológicas, um pintor famoso se atrevesse a retratar uma mulher de pernas abertas, deixando à mostra sua genitália? Ademais, com cores fortes e pinceladas firmes, num realismo que deixaria boquiaberto qualquer crítico de gravatinha.

A classe burguesa de então, com suas madamas fingindo envergonhamento, certamente tapava os olhos ou tremulava freneticamente os abanos. E as enrubescidas matronas diziam: Isso não é pintura, é uma imoralidade explícita. Uma arte pequena e indigna de qualquer apreciação e destinada ao lixo ou aos folhetins mais indecorosos. Deveria ser expressamente proibido que tamanha obscenidade chegasse aos olhos da casta sociedade.

Logicamente que as alusões acima remetem à pintura do pintor francês Gustave Courbet (1819-1877) e suas obras O Sono e A Origem do Mundo. Na primeira, duas mulheres nuas, deitadas numa cama, adormecem com os corpos entrelaçados, insinuando lesbianismo. A segunda, a mais famosa, retrata uma mulher nua dos seios acima, deixando à mostra, e explicitamente, sua genitália. O nome criação do mundo indica que é a partir dali, da vagina, que o mundo é criado.

Certamente um espanto à época, como ainda hoje ocorre perante muitos. Mas enquanto isso, enquanto sua arte servia muito mais como sobressalto que admiração, o artista simplesmente lavava suas mãos. Ora, apenas uma pintura. Os grandes mestres da pintura mundial foram também exímios em retratar corpos nus, mostrando suas intimidades, e sem por isso serem diminuídos. Da Vinci, Rubens, Tiziano, Giorgio Vasari, Magritte, Modigliani, Goya, Cranach e tantos outros, não recobriram com vestes muitas de suas criações.

Cita-se, por exemplo, os quadros de nudez mais famosos como sendo as Vênus, de Giorgione e Ticiano; Nascimento de Vênus, de Boticelli; A Banhista de Valpinçon e Odalisca, ambas de Ingres; As Banhistas, de Renoir; Três Banhistas, de Cézanne; Nu no Ateliê, de Matisse; Olympia, de Manet; Retrato de Mulher, de Rodolfo Amoedo; Mulher Nua, de Trutat. Não se pode esquecer a nudez total do Davi esculpido por Donatello.

Modigliani especializou-se em nus, na nudez de mulheres esbeltas, belas, sempre deitadas, e todas com cores quentes, em tons alaranjados, como se pretendesse da maior expressividade à pele. Suas mulheres são eróticas, de um erotismo nas formas e traços, como se emancipadas no seu tempo e graciosamente posando para a perpetuação dos seus corpos, sexos e desejos.

Mas nada igual à genitália de Courbet. Óleo sobre tela de 1866, realizada por encomenda de um diplomata que desejava ter uma obra de arte que fielmente retratasse a nudez e o erotismo feminino, alcançou sua glória pelo realismo na retratação. E tão fiel é a pintura que grande parte da tela mostra exatamente uma vagina peluda, de uma mulher de pernas abertas em cima de uma cama, com as vestes brancas levantadas além dos seios. Além da sexualidade explícita, um erotismo com toda a crueza na expressão. Mas por que impressionar tanto se apenas uma genitália em sua exata forma?

O conservadorismo falsamente puritano sempre cuidou de menosprezar esta obra de Coubet. A explicitude do corpo daquela forma, tão realista e tão nua, foi costumeiramente vista como um verdadeiro atentado à moral social. Contudo, apenas uma tela retratando parte do corpo de uma mulher deitada e o seu sexo na sua forma íntegra e real. Um gesto de qualquer mulher nua, uma vagina de qualquer mulher que não se depile com frequência.

Courbet disse apenas que é do sexo feminino, de sua genitália, que nasce a vida humana. E por isso mesmo retratou essa porta sem quaisquer disfarces, com lábios genitais e tudo o mais. Erótica, apelativa, explícita? Sim. Mas não pornográfica, pois apenas arte. Ademais, o que é a pornografia senão uma arte do corpo, ainda que muitas vezes corrompida pela perversão?

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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O CANTO DO ACAUÃ (Livro de Marilourdes Ferraz)) O CANTO DA ACAUÃ

De: Marilourdes Ferraz

EM TODA HISTÓRIA EXISTEM DOIS LADOS, DUAS VERSÕES, E AMBAS DEVEM SER CONHECIDAS, PESQUISADAS, EXAMINADAS E CONFRONTADAS, PARA SE TER UMA NOÇÃO SOBRE A VERDADE RELACIONADA AOS FATOS HISTÓRICOS.

Manoel de Souza Ferraz

O Livro "O CANTO DA ACAUÃ" (Foto) de Marilourdes Ferraz trás em suas páginas as memórias do Coronel Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor) relacionadas ao combate das Forças Policiais Volantes no enfrentamento ao cangaceirismo/banditismo que imperava nos Sertões Nordestinos entre meados do século dezenove e as primeiras décadas do século vinte. Uma das maiores obras já escritas sobre o tema cangaço de todos os tempos.

O CANTO DA ACAUÃ...

Para adquirir o livro entrem em contato com o Professor Pereira (Francisco Pereira Lima) (Cajazeiras/PB), através do e-mail:

franpelima@bol.com.br

Entrega garantida em qualquer localidade do país.
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo)


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Nota do Blog do Inharé: esta postagem estar sendo reproduzida pelo fato do Blogdoinhare ter divulgado aqui a vida e luta do Coronel  Manoel Neto, extraídos os relatos  deste livro:O Canto do Acauã ( Giovani Costa).

Pajeú, O MAIOR ESTRATEGISTA DAS GUERRILHAS DA GUARDA CATÓLICA DE ANTÔNIO CONSELHEIRO

Por José Romero Araújo Cardoso (*)

Como ficou conhecido nas lutas de Canudos, Pajeú era pernambucano do famoso vale imortalizado por Luiz Gonzaga décadas depois do massacre abominável que manchou indelevelmente a história do Brasil.

Escravo liberto que rumou para Canudos apostando nas promessas do Bom Jesus Conselheiro tendo achado por lá, às margens do rio Vaza-Barris, a tão sonhada liberdade que a sociedade negou, e ainda nega de forma inadmissível e desumana, aos excluídos.

Quando da desastrosa campanha comandada pelo famigerado Coronel Moreira César, Pajeú se destacou pela impecável forma como conduziu a guerrilha da guarda católica do Conselheiro.

Dizem que foi ele quem pôs fim à arrogância de Moreira César, acertando certeiro tiro de bacamarte boca-de-sino, municiado com chifre de novilho, no sanguinário corta-cabeças. Não obstante usar colete de aço, Moreira César foi milimetricamente varado pelo disparo em local desprotegido.

O oficial responsável pela substituição do Coronel Moreira César no comando da tropa também não aguentou as táticas de guerrilha implementada por Pajeú. Uma ordem do Coronel Tamarindo ficou famosa: “Em tempo de murici, cada um cuida de si”.

O que restou da tropa de Moreira César foi fustigada pelos guerrilheiros comandados por Pajeú. Verdadeira carnificina foi feita pelos bravos combatentes para pagar a profanação do arraial sagrado do belo Monte, pois inadvertidamente Moreira César desprezou todas instruções do regimento do Exército Brasileiro e ordenou ataque de cavalaria a Canudos, cuja característica era a topografia extremamente íngreme, impossível de ter sucesso por parte de Moreira César através de investida com esse tipo de estratégia militar. Para tentar coibir e amedrontar outras expedições que vieram em direção a Canudos, Pajeú ordenou que os cadáveres dos soldados e oficiais ficassem insepultos, pendurados em árvores como exposição macabra do ódio devotado pelos conselheiristas às tropas do governo federal.

Quando a quarta expedição foi enviada para destruir canudos, cujo comando ficou a cargo do General Arthur Oscar de Andrade Guimarães, foi com terror e suspense que a soldadesca encontrou o aviso dos guerrilheiros da guarda católica, na forma de corpos ressequidos pelo sol esturricante do sertão nordestino. Com certeza, aumentou o ódio do corpo militar do Exército Brasileiro contra os membros da comunidade mística de Antônio Conselheiro.

Pajeú foi responsável pelas mais significativas baixas contra as tropas federais. Acostumados a caçar para sobreviver, os guerrilheiros usaram a experiência adquirida e se tornaram franco-atiradores, pois quando algum soldado desavisado, principalmente em noite sem lua, acendia um cigarro, certeiro tiro o prostrava imediatamente. Usavam os “presentes” que Moreira César lhes deixou, ou seja, fuzis mausers de fabricação alemã do Exército Brasileiro.

Não obstante terem conseguido canhões e metralhadoras, esses não foram usados, pois os guerrilheiros do Conselheiro não souberam como manusear as mortíferas armas tomadas da expedição de Moreira César, destroçada pela genialidade incontestável das táticas do maior guerrilheiro de Canudos.

Quando a guerra de Canudos se tornou insustentável, com sucessivas baixas e derrotas das tropas federais, o governo enviou verdadeiras máquinas de matar. Entre essas estava um canhão Withworth 32, a famosa “matadeira”, como ficou conhecido entre os habitantes de Canudos. Foi a única forma que conseguiram para pôr a baixo as torres da igreja nova do belo Monte.

Cada tiro da “matadeira” era verdadeiro massacre que a mesma proporcionava. O famoso canhão tornou-se o terror dos canudenses, razão pela qual Pajeú organizou grupo de assalto intuindo destruir a máquina destrutiva.

Onze guerrilheiros chegaram de surpresa a bem guardada arma. Nesse ataque, o bravo comandante conselheirista perdeu a vida, bem como nove companheiros, sendo que apenas um conseguiu escapar.

Com a morte de Pajeú, a guarda católica do Conselheiro ficou desfalcada do principal estrategista, abalando sensivelmente a estrutura das estratégias da guerra de guerrilha que até então vinha obtendo sucesso indiscutível.

Pajeú, o famoso negro ex-escravo que marcou de forma impressionante a guerra de guerrilhas nas batalhas em canudos, foi imortalizado por Euclides da Cunha, que não obstante racismo e estereótipos, dedicou-lhe páginas de reconhecido mérito pela bravura indômita em “Os Sertões: Campanha de Canudos”.


(*) Geógrafo. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

http://lentescangaceiras.blogspot.com.br/2010/07/pajeu-o-estratagista.html

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CEMITÉRIO DA SERRA VERMELHA (SERRA TALHADA/PE)


Local em que está sepultado Zé Saturnino, primeiro inimigo nº 1 de Lampião. 

Foto: Ferreira Anjos 

Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo O Cangaço)

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PROTEÇÃO E OSTENTAÇÃO

Os punhais do cangaço
Conferência do colecionador e especialista Dênis Artur Carvalho, feita especialmente para o Cariri Cangaço Floresta 2016.

Os punhais nordestinos, juntamente ao chapéu de aba “quebrada”, sem sombra de dúvidas são os principais símbolos iconográficos do cangaço. Não podemos, contudo, falar das facas nordestinas sem que antes façamos uma explanação sobre os diferentes tipos de lâminas que foram fabricadas no Brasil.

 

De uma forma genérica, podemos afirmar que a cutelaria brasileira divide-se em cinco linhas de produção.

A primeira delas é a chamada “faca sorocabana”. Era a faca usada pelos bandeirantes paulista e pelos tropeiros que transitavam entre as regiões sul e sudeste
 "A Sorocabana"

Um outro tipo de fabricação foi desenvolvida na região das Minas Gerais; a chamada “faca mineira”, com uma lâmina triangular, bastante semelhante às peças produzidas na cidade espanhola de Albacete.
 "Mineiras"

A “franqueira”, também desenvolvida na região centro oeste, era uma faca claramente voltada à defesa pessoal. Tinha quase sempre uma lâmina esguia e excelente trabalho de prataria no cabo. 
 A “franqueira”

Na região sul do país, devido á forte influência castelhana desde os primórdios da colonização e ao isolamento das demais capitanias, respeitando o tratado de Tordesilhas, que determinava ser aquela área possessão espanhola, temos um outro tipo de manufatura, a chamada “faca gaúcha” ou “faca dos pampas”, com design bastante fiel às suas ancestrais mediterrâneas.
"As Gaúchas"

Por fim, chegamos à ferrageria do nordeste; as ”facas nordestinas”, ou “facas do cangaço”; tema central da nossa conferência.

Esse tipo surgiu na extinta cidade de Pasmado, no litoral de Pernambuco, por volta do século XVIII, claramente inspirada nas antigas facas mediterrâneas e empunhadura que remete às antigas adagas árabes, introduzidas na Península Ibérica durante a invasão muçulmana.
 Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem do Pasmado

 
"Faca de Pasmado"

O cronista português Henry Koster narra que mesmo à certa distância de Pasmado, já era possível ouvir o intenso e marcante som do martelar na bigorna, tamanho era o número de ferreiros que ali existia.

Mas foi no sertão do Pajeú que o uso e fabricação desses instrumentos tomaram maior proporção. Talvez devido à cultura do sertanejo, voltada à valentia, aos paradoxos morais que faziam da vingança um legítimo direito do ofendido, abraçando a “teoria do escudo ético” proposta pelo eminente autor Frederico Pernambucano de Melo.

Era quase que um núcleo de produção voltada à fabricação e Lâminas, concentrado nas imediações da Serra da Baixa Verde, abrangendo cidades de Pernambuco, Paraíba e Ceará, comparável a região de Solingen na Alemanha, uma das primeiras concentrações ferrageiras da história.

Contudo, apesar da proximidade dos centros produtores, as facas guardam variações e peculiaridades próprias. No sertão, a faca geralmente era nomeada e acordo com a cidade onde fora produzida.

A “Pajeuzeira” era a faca produzida em Pajeú das Flores, hoje a cidade de Flores. Tinha lâmina larga, geralmente lisa, bastante primitiva.
 A “Pajeuzeira”

A Santa Luzia era feita na cidade de mesmo nome, no estado da Paraíba, com lâmina geralmente afilada nos dois dorsos, pelo qual também era chamada “lambedeira”.
 A "lambedeira"

A baixa Verde provinha de Triunfo, cidade que outrora chamou-se Baixa verde. Tinham lâminas estreitas, encavadas e dotadas de maior requinte.
 "Baixa Verde"

Um outro tipo de faca que cabe fazer menção é a “Parnaíba” ou “faca de arrasto”. Trata-se de uma variante da faca nordestina, mas com lâmina exageradamente longa; tão longa que levava um certo tempo para ser sacada ou “arrastada” a bainha, daí a sua designação: “faca de arrasto”. Uma outra versão para o nome é de que as facas eram tão longas que chegavam a arrastar a ponta no chão. 
 Faca "Parnaíba"

Da macrorregião da Baixa Verde, migraram artífices para diversas localidades do nordeste. 

Na região do Cariri, mais especificamente na cidade de Jardim, uma família de ferreiros que fizeram escola na região de Baixa Verde ficaram muito afamados. Era a “faca jardineira”, que despertou a paixão até mesmo de Lampião no ano de 1926.
 Faca "Jardineira"

Uma outra família conhecida por “Caroca” saiu de Santa Luzia para firmar tenda na cidade de Campina Grande na Paraíba. Lá, atingiram tamanha fama que suas facas e punhais eram encomendados para presentear políticos e pessoas de prestígio. 

Homens do coronel José Pereira, revolução de princesa usando facas “carocas” produzidas ainda na região de Santa Luzia

O auge da produção dos Carocas foi em meados da década de 40, onde até mesmo os americanos instalados na base aérea de Parnamirim dirigiam-se à Campina grande para adquirir a tão cobiçada “faca caroca”. 
 
Caroca "Bowie" feita por encomenda para algum militar americano instalado na base de Parnamirim, RN, ao estilo das facas norte-americanas.

As Lâminas do Cangaço


Os punhais, facas e facões estavam entre as mais caras possessões dos cangaceiros e este apreço por lâminas existia tanto por questões culturais da região Nordeste da época, onde a honra masculina determinava que as questões entre homens deveriam ser resolvidas na ponta e no corte de uma lâmina.

Eram sempre carregados de forma ostensiva, transversalmente ao abdome, que lhes servia de perfeita moldura, sustentados pelo cinturão de balas. 

 Corisco ostentando punhal com cabo em marfim.

A vaidade de cada um se manifestava de diversas maneiras: pelo material com que era produzida sua lâmina, a composição de sua empunhadura e sua bainha, o cuteleiro que o confeccionou, seu comprimento e a habilidade que cada um possuía ao manejá-lo.

O material para as lâminas era quase sempre importado: espadas quebradas, ferramentas agrícolas e especialmente pedaços de trilhos de ferrovias. A forja e montagem desses punhais eram feitas em locais denominados tendas, que nada mais eram que rústicas cutelarias bastante disseminadas pelo Nordeste, em especial nos Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará, onde a movimentação de cangaceiros era intensa. 

A estética e características gerais de forma, tipo de cabo, comprimento de lâmina e material e modelo da bainha era função da criatividade do cuteleiro e dos recursos de quem encomendava o produto. De maneira geral, o punhal tinha forma bastante esguia, longa e fina. 
As bainhas também eram caprichosamente elaboradas, quase sempre por terceiros, podendo ser de couro ou metal. 

Quando metálicas, por vezes eram forradas de couro ou veludo e podiam possuir uma ou duas articulações, ao logo de seu comprimento, como delicadas dobradiças, de forma a facilitar o andar e o montar de quem as usasse.

O fato de Lampião e alguns outros integrantes de seu bando terem sido fotografados quase sempre portando punhais cujas lâminas tinham mais de 60 cm de comprimento, não significa que o uso de versões extremamente longas fosse uma constante absoluta por parte de todos os cangaceiros. 

Outras fotos de seu bando e também de integrantes das volantes (principalmente a de nazarenos) mostram que o tipo de punhal mais habitualmente portado tinha lâmina entre 30 e 40 cm de comprimento. 

O punhal de Maria Bonita, manufatura de José Pereira de Jardim, em ouro e marfim.


Pela cuidadosa análise de antigas fotos do bando de Lampião, é possível observar que – de maneira comprovada– somente outros dois líderes de seu grupo portavam habitualmente  punhais extremamente longos, os cangaceiros Juriti e Corisco.
 Corisco

É também especialmente digno de nota o fato de que numa das fotos em que figuram "Juriti"...
 O longo punhal parece ser idêntico àquele portado pelo primeiro numa outra imagem.

O cangaceiro Zé Baiano, provavelmente, demonstra ser a única exceção a essa regra. Seu punhal, de dimensões exageradas, superava em tamanho até mesmo aquele portado pelo seu chefe. 


Estas constatações levam à hipótese provável de que os punhais de lâminas extra longas também servissem como uma espécie de símbolo de “status” e de liderança dentro dos bandos, não sendo, entretanto os de maior uso, pois – do estrito ponto de vista da praticidade - portar uma lâmina co
m mais de 60 cm de comprimento não devia ser algo confortável nas andanças pela caatinga.

Contudo, parece não ter havido uma relação direta entre o tipo de punhal e faca utilizados e a hierarquia interna do grupo.  Tudo era exatamente uma questão de gosto, vaidade e dinheiro. 

Embora nem fosse de uso mais frequente, os punhais longos exerciam especial fascínio entre os cangaceiros, sendo curioso reproduzir aqui parte do “Inventário dos objetos apreendidos, pertencentes ao famigerado “Lampeão””, produzido pelo Regimento Policial Militar de Maceió, em 26 de novembro de 1938:

FACA: de folha de aço, com 67 cm de dimensão, com cabo e terço de níquel, adornado o cabo com três anéis de ouro, notando-se na lâmina, uma mossa produzida naturalmente por bala; bainha toda de níquel, com forro interno de couro, notando-se também na parte interna superior o estrago produzido por bala. 
Sabe-se pela literatura a respeito do tema que aos 67 cm de lâmina são acrescidos 15 cm de cabo, perfazendo um comprimento total de 82 cm.

O tamanho exagerado dos punhais do grupo não tinham nenhuma utilidade prática, exceto manifestar poder e vaidade. Muito embora este relato se refira aos despojos particulares de Lampião, outros membros do bando também possuíam punhais igualmente longos, o que é visível na famosa “foto das cabeças” e que viria reforçar a tese da inexistência de vínculo entre o comprimento dos punhais e a posição hierárquica do indivíduo no grupo.

Os famosos punhais de lâmina longa não eram uma prerrogativa conferida apenas aos bandos de cangaceiros. Há inúmeros registros de tropas volantes portando peças dotadas de lâminas extraordinariamente compridas. 
Volante baiana portando punhais longos. Foto de Benjamim Abraão (1936).

 Temos também registros de Manoel de Souza Neto, o “Mané Neto”...

 ... E até mesmo do Major Teóphanes Ferraz, portando longos punhais.

O Ritual de Sangria

Como sabemos, a maior parte das execuções sumárias feitas pelos cangaceiros se dava através da chamada “sangria”, a qual era a técnica de desferir um único golpe de punhal longo na clavícula esquerda (na região popularmente conhecida por “saboneteira”), que atingia coração e pulmão e causava morte lenta e agonizante.
O escritor Frederico Pernambucano em demonstração de sangria

Vale ressaltar que muito provavelmente existia um aspecto psicológico, mórbido e doentio quando se considera o significado que o sangramento tinha, e tem, para o homem rústico do sertão nordestino. 

Ao usar sua arma esteticamente mais expressiva para esse fim, o indivíduo manifestava, a um só tempo, sua vaidade em relação ao punhal, e também um importante poder sobre a vítima, não apenas porque esta sempre se encontrava subjugada pelo grupo, mas também porque sangrar era, e é, ato de extrema ofensa para quem o sofria, extensiva a toda a família da vítima. Ou seja, para o sertanejo, o drama não estava em morrer, mas sim em ser sangrado. Ofensa inadmissível, sangrar era para porco, cabrito, boi – não para o homem.


OS Punhais de Lampião
Imagem retirada do filme de Benjamim Abraão, onde Lampião, segundo especialistas em leitura labial, em referência à seu punhal, diz: "Esse é pra furar todo mundo. Muitas pessoas. Fura até o chifrudo!".

É fato bem conhecido entre os estudiosos do cangaço que os integrantes do bando de Lampião (e o próprio) tinham especial predileção por lâminas produzidas pela família Pereira, da cidade de Jardim, no Ceará, que chegou a ficar conhecida, pelo menos regionalmente, como “os cuteleiros de Lampião”.

Estes punhais eram feitos pelo ferreiro José Pereira, (Foto abaixo) que residia na cidade de Jardim, ponto de passagem de viajantes de Pernambuco para o Cariri.
(Acervo do autor)

Foi ali, na localidade chamada de Barra do Jardim, que Lampião se arranchou com seus cangaceiros para comprar e encomendar os punhais feitos por Zé Pereira. 

De lá, Virgulino Ferreira, com cerca de 50 cangaceiros, seguiram para Juazeiro, de onde saiu com a patente de Capitão. De volta a Pernambuco, passaram por Jardim, onde receberam os punhais encomendados.” 
De fato, a mais icônica e pomposa fotografia de Lampião, tirada em Juazeiro, mostra ele portando um punhal com cabo prateado, com características de Baixa Verde.

Logo mais, podemos ver o facínora em fotografia tirada quando do retorno do bando, ainda dentro do estado do Ceará, ao lado do seu irmão Antônio Ferreira, portando uma faca longa e com o cabo de embuá, bastante característica da ferrageria de Jardim
https://tokdehistoria.files.wordpress.com/2014/09/antonio-e-lampic3a3o.jpg



As criações atribuídas a José Pereira são de boa qualidade e embora não tenham acabamento superlativo, grande parte delas apresenta empunhaduras do clássico tipo “embuá”, por assemelhar-se ao inseto também conhecido como piolho de cobra. 

 

 

Entretanto, segundo o escritor e pesquisador do cangaço Frederico Pernambucano de Melo, a tenda que atingiu o “mais alto prodígio”, provendo o bando de Lampião por toda década de 30, inclusive na fase final do cangaço, foi a de João Jorge, em Itaíba-PE. 

A lâmina, de aço fino, de espada da velha Guarda Nacional, mede exatamente 67 cm, segundo relatório do Regimento Policial Militar de Maceió. 
 O cabo, medindo 15 centímetros, é adornado com três anéis de ouro: um no pomo, um no centro e outro na guarda. 


No total, a peça contava com 82 cm de comprimento.

A bainha é de metal, articulada, forrada internamente com couro. A articulação seria, em tese, muito importante para o tamanho da peça, dando a esta uma maior flexibilidade e impedindo maiores danos à própria bainha. Possui desenhos requintados, feitos com buril, em toda sua extensão, revelando uma verdadeira jóia da cutelaria nordestina.


Dênis Carvalho e parte de sua coleção.
Com a morte de Lampião em 1938 e o consequente fim do cangaço, os punhais de lâminas muito longas foram perdendo sua aura de arma famosa e a demanda diminuiu muito. Especialistas acreditam que já na década de 1950 sua produção normal teria sido interrompida pela maioria dos artesãos.

E foi por meados da década de 60 que se iniciou a decadência da faca de ponta no nordeste. Sobreviveram algumas cutelarias, mas não mais fabricava, com o objetivo inicial (defesa/arma). Eram agora peças que visavam o turismo. Era a época do cinema brasileiro, filmes sobre o cangaço estava em destaque, eram compradas como lembrança do nordeste, “Souvenir”, peças para adorno. E com isso começou a cair a qualidade das peças.

A têmpera das peças fabricadas em Caruaru – PE e Juazeiro do Norte – CE eram péssimas, uma simples mudança de pressão era suficiente para entortar a lâmina. Os cabos também não tinham mais o requinte das antigas nordestinas. Era a moda do acrílico, do alumínio. Fatores que juntos foram responsáveis pela decadência e o quase esquecimento desse tipo.


Estão inteiramente liberadas para uso em publicações as postagens deste blog, devendo–se primeiramente realizar a formal gentileza de citá–lo como referência primária.

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2016/07/protecao-e-ostentacao.html

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