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domingo, 14 de dezembro de 2014

Lampião e Antônio do arroz


Lampião teve um encontro com o senhor "Antônio do arroz", pai do senhor "Chiquinho do arroz", lá da fazenda arroz.

Na ocasião o senhor Antônio do arroz perguntou:


- Lampião, sua questão com Zé Saturnino já está acabada?

Lampião respondeu:

- Ô Antônio do arroz, tú já viu falar que a pessoa morrendo e não fazendo o que quer, vai do inferno pra dentro, três dias de viagem?

Antônio do arroz disse:

- O povo fala isso.

Lampião respondeu:

- Pois se eu morrer e não matar Zé Saturnino vou para o inferno...

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A histórias é muito interessante, mas o nobre pesquisador Virgulino Ferreira DA Silva esqueceu de colocar o Estado, cidade ou sítio que moravam os senhores Antônio e Chiquinho da família "arroz", e o lugar onde isto se passou, pois é muito importante para  nós estudantes do cangaço, sabermos em qual Estado do Nordeste isto aconteceu. Mas mesmo sem esta informação, é muito interessante o que aconteceu com Lampião e Antônio do arroz.

Agora veja como o Antônio do arroz era corajoso. Fazer esta pergunta ao sanguinário Lampião, que geralmente intriga é uma ferida que não se deve descascá-la diante dos ofendidos, imagine sendo esta do jovem guerreiro Lampião. 

Fonte: facebook

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LUIZ GONZAGA E A MÚSICA POTIGUAR: UMA RELAÇÃO ÍNTIMA DE MEIO SÉCULO

Por Sergio Vilar

A relação de Luiz Gonzaga com o Rio Grande do Norte tem fatos que talvez o próprio Gonzaga desconheça. E são marcantes para a história musical potiguar e também do Rei do Baião. Troca de amizades, favores e experiências incalculáveis ao acervo do cancioneiro nacional. Desde a composição Ovo de Codorna, em parceria com o potiguar Severino Ramos, à reascensão de “Seu Lua” ao mercado com a produção de seus discos na década de 1980 pelas mãos do mossoroense Carlos André. Também a relação afetuosa com o músico Paulo Tito. Parcerias de composição também com Janduhy Finizola. Gravação do clássico de Chico Elion, Ranchinho de Páia. E nada menos que a última apresentação pública de Gonzagão, em Natal, meses antes de sua morte.

Gonzaga, padrinho de casamento de Carlos André, em 1963

Estes são apenas alguns dos laços arrochados de Gonzaga com o RN anotados pela pesquisadora Leide Câmara, no livro ‘Luiz Gonzaga e a Música Potiguar’. A obra é o título 36 da coleção Cultura Potiguar, editada pela Secretaria Extraordinária de Cultura do RN e Fundação José Augusto, através da Gráfica Manimbu. Será lançada hoje, na Pinacoteca do Estado (Praça 7 de Setembro, Cidade Alta). A sessão de autógrafos começa às 19 h. São quase 200 páginas de um minucioso levantamento das relações entre Gonzaga e os músicos potiguares, todo ilustrado e com informações de cada uma das canções de potiguares gravadas por Gonzaga, e vice-versa. E essa história começou já na década de 1940, quando o rei do baião não passava de um retirante.

Leide Câmara lembra que Gonzagão gravou a música Queixumes, do potiguar Henrique Brito ainda em 1945. “A música era toda instrumental, feita para o Gonzaga sanfoneiro. Naquela época, a voz nordestina dele ainda era pouco aceita”, conta a pesquisadora. Entre os potiguares que gravaram Gonzaga, Ademilde Fonseca foi a primeira, ainda em 1951. Depois, as Irmãs Ferreira. Depois, o Trio Irakitan e na sequência foram mais de 200 canções do repertório de Luiz Gonzaga gravadas por 54 cantores ou grupos potiguares. Segundo Leide Câmara, quem mais gravou foi João Mossoró. Por outro lado foram 24 canções de autoria de artistas potiguares gravadas por Gonzaga.

Composições potiguares na voz de Gonzagão

O compositor caicoense Severino Ramos foi o principal parceiro musical  potiguar de Luiz Gonzaga. Os dois assinaram nada menos que doze parcerias, entre as quais uma das mais conhecidas músicas do repertório final de Gonzaga: Ovo de Codorna, que enfrentou problemas com a censura durante a ditadura militar, mas foi gravada três vezes (1971, 1978 e 1979) pelo Rei do Baião. As duas primeiras composições, ambas em parceria, foram ainda em 1964: Aquilo Bom e Se Não Fosse Esse Meu Fole.

Leide desconhece quando os dois se conheceram. Nem mesmo a família de Severino soube informar. “A probabilidade é que tenha sido em Campina Grande. Severino Ramos, embora nascido em Caicó, foi registrado como filho de Campina Grande. Lá era o celeiro da música nordestina. E Severino era amigo de Jackson do Pandeiro, que foi padrinho do filho dele. Então havia laços que podem ter levado ao encontro dos dois”, acredita Leide Câmara.

Gonzaga, Jorge Ben e o jornalista Toinho, nos jardins da casa do ex-governador Geraldo Melo – andanças pelo solo potiguar

O outro grande parceiro potiguar de Gonzaga foi o médico Janduhy Finizola. Ele morava em Campina Grande; era fã do rei do baião. Em dia plantão, aparece Gonzaga no hospital para ser atendido. Surgiu daí a amizade recíproca, seguida da parceria em oito músicas. Entre elas, Missa do Vaqueiro, quando ambos foram assistir a missa e Gonzaga sugeriu a Finizola escrever a respeito. No livro de Leide há a foto dos dois nessa ocasião. Outras duas: Cavalo Criolo (1974) e Os Bacamateiros (1981).

Além das 12 músicas com Severino Ramos, das 8 com Janduhy Finizola, e da instrumental de Henrique Brito, Gonzaga gravou outras três canções de potiguares: Meu Padrin (1960), de Frei Marcelino e considerada a primeira música dedicada a Frei Damião; Ranchinho de Páia, de Chico Elion; e Renascença, do poeta potiguar Celso da Silveira em parceria com Onildo Almeida. “Esta foi a única música de Gonzaga gravada em CD. Todas as outras foram lançadas em disco e depois remasterizadas”.

‘Luiz Gonzaga e a Música Potiguar’ documenta ainda as andanças do velho Lua por todo o Rio Grande do Norte, ao longo de várias décadas. O livro registra homenagens fora da música — seminários, publicações em livro e folheto de cordel, eventos oficiais, e uma vasta iconografia que ilustra a presença de Gonzaga na cena artística potiguar, incluindo a primeira biografia escrita sobre Gonzagão, em 1951, por uma potiguar: Zé Praxedes, conhecido como “o poeta vaqueiro” e amigo íntimo do rei do baião.

Última aparição em público, em Natal

O primeiro encontro de Roberto do Acordeon com Luiz Gonzaga se deu na rádio Jornal do Comércio, em 1958. Nos anos de Jovem Guarda, Roberto e Luiz tocaram várias vezes em circos montados em interiores de Pernambuco. Trocavam uma ideia, acenavam um para o outro e mantinham o coleguismo saudável dos sanfoneiros. Somente em 1976, as antigas Casas Régio fizeram contrato com os dois para temporada de quatro shows no Rio Grande do Norte: um em Natal (Praça Gentil Ferreira, no Alecrim), em Mossoró (Festa de Santa Luzia), em Currais Novos e outro em Caicó.

“A época tava boa pra Gonzaga. O jornalista Carlos Imperial inventou de divulgar que um dos ex-Beatles tinha gravado Asa branca. Isso deu uma levantada na carreira dele. E fomos os dois para esses shows”, lembra Roberto. E sentencia: “Verdade é que o forró nunca morreu. E Seu Luiz era perseverante, teimoso. Nunca teve essa de período de baixa, não”. Mas lembra quando, em abril de 1989, a mulher com quem Gonzaga viveu seus últimos anos ligou para o sanfoneiro: “Roberto, é Edelzuíta. Gonzaga pediu para eu ligar pra você. Ele está precisando dos amigos agora. Tem data para ele por aí?”.

Gonzaga e Roberto do Acordeon – década de 1980

Roberto era dono do Forró do Sanfoneiro. O espaço marcou época em Natal, localizado na Roberto Freire, onde hoje funciona o supermercado Favoritos. A inauguração foi em 1985, com presença de Gonzaga. “Liguei convidando. Atendeu o sobrinho, Piloto. Gonzaga tava dormindo. Acordaram e ele atendeu todo animado. Era sempre assim: perguntava como a pessoa estava, se a família tava boa de saúde, sobre a política local. Aí fiz o convite. Ele disse: ‘Vou e faço um acordo bom pra você: eu toco dois dias e você me paga um’. E esse um ainda foi barato”.

Quatro anos depois seria o último show da vida de Luiz Gonzaga, também em Natal. “Edelzuíte me ligou de novo. Nem sabia que ele estava doente. Aceitei logo e pedido e marquei o show na semana seguinte. E ele repetiu a mesma proposta: fez duas apresentações e só cobrou uma”. Desta vez, o empresário hoteleiro Sami Elali soube de sua vinda e cedeu hospedagem. “Fomos ao hotel pegá-lo para o show. Quando chegamos, ele de cadeira de roda. Quem estava lá chorou. Ele dizia que estava tudo bem e que o show seria um dos maiores. E de fato superlotou de novo os dois dias”.

O show foi em maio. Luiz Gonzaga se locomovia em cadeira de rodas decorrente de osteoporose. Morreria três meses depois, em 2 de agosto de 1989, vítima de parada cardiorrespiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. O Forró do Sanfoneiro fecharia um ano depois, quando “o dono do terreno cresceu o olho no lugar”. Ainda saudoso, Roberto se conforma com a frase do amigo Gonzaga: “Ele me dizia: ‘Roberto, se esses forrós fossem bom pra negócio eu tinha uns quatro ou cinco lá no Rio e São Paulo, porque fui eu quem levou o forró pra lá”.

Leide Câmara

A autora é uma das mais importantes pesquisadoras musicais do estado e criadora do Instituto Leide Câmara Acervo da Música Potiguar (AMP). É autora de obras referenciais sobre o tema, como o ‘Dicionário de Música do Rio Grande do Norte’, com cerca de 600 verbetes que cobrem mais de um século de história, e de estudo sobre o pioneirismo bossanovista do compositor macauense Hianto de Almeida.

Mostras na Pinacoteca

O lançamento do livro de Leide Morais é parte de uma ampla programação na Pinacoteca do Estado nesta terça-feira, a partir das 19h. Serão abertas duas mostras de fotografia — Ser-Tão Seridó, de Paula Geórgia Fernandes, e Ecos Híbridos, de Eustáquio Neves, Alexandre Siqueira e Pedro David. As duas ficam abertas até o dia 21 de junho. A programação inclui ainda a exposição Obras-primas da Gravura, com parte do acervo da própria Pinacoteca, e o lançamento do edital do III Salão de Arte Popular Chico Santeiro.

Atualizado em 21 de maio de 2013

http://portalnoar.com/luiz-gonzaga-e-a-musica-potiguar-uma-relacao-intima-de-meio-seculo/

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Por Benedito Vasconcelos Mendes

Prezado José Mendes, ontem recebi o Diploma de Sócio da Divine Académie Française des Arts, Lettres et Culture, por ocasião do Salão Internacional do Livro do Ceará, que ocorreu nas dependências do Centro de Eventos de Fortaleza. 

A Presidente da Divine Académie, Doutora Diva Pavesi fez a entrega da Comenda aos agraciados.

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“O GLOBO” – 19/09/1927 A PSICOLOGIA DO CANGACEIRO

Material do acervo do pesquisador  Antônio Corrêa Sobrinho

O BANDITISMO NOS SERTÕES DO NORDESTE BRASILEIRO
UM ENSAIO POLÍTICO-SOCIAL
(Especial para o GLOBO)

CAPÍTULO III

Dos nossos dois artigos anteriores, evidencia-se que duas providências se impõem aos governos para os sertões do Nordeste: - “Instrução” e “Justiça”; - escolas e magistrados íntegros, desligados dos chefes políticos locais e dispondo de força policial disciplinada para o cumprimento de suas ordens.

Enquanto não levarmos ao sertanejo a certeza de que ele não será mais o vassalo dos potentados da terra, de que todas as garantias lhe serão dadas pelos poderes públicos, de que o seu direito será respeitado pelas autoridades e os seus delitos punidos de acordo com as leis e não de conformidade com a vontade dos políticos situacionistas – tudo quanto se fizer será inútil para modificar lhe o caráter e tirar-lhe esse pendor para a vingança particular, que herdou dos seus antepassados, e que leva ao crime. Será este o único meio de se evitar que novos bandos de cangaceiros se formem, arrastados por aquele instinto sanguinário que já analisamos.

Estas mesmas considerações lemos em um discurso proferido na Câmara dos Deputados de Pernambuco pelo deputado Arruda Falcão, o transcrito aqui no Jornal “A Manhã”, de 9 de agosto findo. Infelizmente, o inteligente orador, com a preocupação de fazer obra de oposição ao governo, subordinou as suas patrióticas aspirações, que são as de todos os bons pernambucanos, a conclusões verdadeiramente contraproducentes.

Combatendo a proposta orçamentária do governo para 1928, na qual o Dr. Estácio Coimbra pedia um aumento na dotação da verba destinada à força pública, o ilustre deputado, citando Alberto Rangel, disse o seguinte:

- “O cangaceiro é uma expressão da terra que habita, como o jangadeiro o é do mar. A sua moral tem as irregularidades de infrações devidas ao olvido e ao desleixo com que o fulminou a organização política do país.

O banditismo é uma endemia do sertão, mas é a hipertrofia da coragem. Tipo estupendo da originalidade, o Brasil não produziu nenhum mais interessante. Com a educação conveniente, o sertanejo abandonaria a crueza de desvios sociais e seria um fator de trabalho e de riqueza.”

Destes conceitos, que não sofrem contestação, tirou o Dr. Arruda Falcão as seguintes conclusões:

- “Precisamos manter no sertão excelente justiça ‘e nada de polícia’ para solução de problemas de ordem social e econômica que ela nunca poderia resolver. ‘O sertão não espera policiamento” para desenvolver-se. Precisa desde tempos imemoriais colocar-se ao abrigo da lei moral e do pão quotidiano. Melhoramentos materiais, melhoramento moral. Eis os benefícios que ao sertão nunca os governos enviaram.

Em vez de “reforçar a eficiência numérica dos batalhões policiais”, olhemos com especial cuidado para o serviço da Justiça.”

Não são outras as ideias que vimos emitindo neste trabalho sobre o caráter do sertanejo nordestino e a necessidade de se lhe dar instrução e justiça.

Mas isto leva tempo e necessita muito trabalho e muita perseverança por parte dos governos, “PORQUE NÃO SE ACA FACILMENTE COM HÁBITOS, FORMANDO O CARÁTER DE UM POVO”; de medo que, concomitantemente com as providências que todos aconselham, ou melhor, para que elas possam surtir o efeito desejado, torna-se imprescindível extinguir desde já os bandos de criminosos que infestam atualmente os sertões do Nordeste, mesmo porque não é possível a aplicação serena da Justiça quando os seus representantes vivem sob a ameaça constante de morto desses bandos sinistros, para os quais já não servem aquelas providências.

E como extingui-los sem uma força numerosa, pelos motivos que deixamos apontados em nosso primeiro artigo? Basta dizer-se que, não obstante se acharem atualmente nos sertões o Nordeste, em perseguição aos bandidos, “AS MILÍCIAS DE SEIS ESTADOS coligadas pelo convênio de dezembro de 1926, em primeiro talvez superior a 2.000 SOLDADOS, ainda não foi possível a captura de “Lampião”, de “Massilon” e de outros celerados que destes chefes se desligaram, constituindo novos bandos.

Foi, pois, uma verdadeira heresia a afirmativa do deputado pernambucano – “de que precisamos manter no sertão excelente justiça E NADA DE POLÍCIA” – pois sem polícia é que a justiça não pode ser exercida.

E, tanto assim, que o próprio autor dessa frase, “no mesmo discurso” que citamos, disse também o seguinte, em completo antagonismo com aquela afirmativa e com a sua oposição ao aumento da força pública (textual):

- “COMO MEDIDA DE EMERGÊNCIA, A CAPTURA DOS CELERADOS CERTAMENTE SE IMPÕE AOS BONS DESÍGNIOS DA ADMINISTRAÇÃO.”

Ora, não há de ser com pequenos contingentes policiais que o governo pernambucano poderá conseguir este resultado PRELIMINAR, para chegar então ao FIM, por todos almejado. O grande erro dos governos tem sido justamente manter nos sertões pequena força policial em perseguição aos criminosos. Com a tática dos cangaceiros e a facilidade de locomoção que eles têm, como conhecedores do terreno e dos seus esconderijos, em pouco tempo os soldados ficam extenuados, tornando-se impossível a perseguição e sacrificando-se inutilmente homens e dinheiro.

Por consequência, “se a captura dos acelerados se impõe ao governo” (como disse o deputado Falcão), o aumento da força pública é uma necessidade indiscutível e urgente.

Para estes cangaceiros, que estão depredando o Nordeste e tornando impossível a vida do sertanejo honesto e trabalhador, todos os rigores são poucos, tanto mais quanto eles se afastam inteiramente de alguns dos seus antecessores que, em meio de sua vida de crimes, conservavam algumas virtudes primitivas, como a probidade, a proteção para os fracos e o respeito pelas mulheres; de sorte que não é de admirar que quase todos os historiadores da nossa vida sertaneja se refiram a cangaceiros, qualificando-os de – homens valentes e “honestos.”

De “Jesuíno Brilhante”, bandido famoso dos sertões do Ceará, terror dos seus inimigos e um tigre sanguinário quando se defrontava com a polícia e a tropa de linha que o perseguiam, conta Rodolfo Teófilo que por ocasião de uma seca tremenda que assolou aquele Estado, ele se tornara uma Providência para a gente humilde, salvando da morte centenas de famintos, aos quais distribuía mantimentos e roupas.

Xavier de Oliveira, no seu livro – “Beatos e Cangaceiros” – que tem o mérito incontestável de ter sido escrito por um filho do sertão do Ceará, e no qual ele narra as façanhas de 13 cangaceiros “que conheceu pessoalmente” – traça o perfil de diversos como de indivíduos trabalhadores, e “nobres”. Do cangaceiro “Beato da Cruz”, diz que – “a sua memória e as suas virtudes jamais deixarão de ser veneradas, enquanto houver um romeiro crédulo na Jerusalém Brasileira (o Juazeiro do Padre Cícero).” Referindo-se a “Quintino”, outro cangaceiro de Pajeú de Flores, que foi ter no Juazeiro perseguido pela polícia pernambucana, diz: - “era um homem bom, nobre e pacato; um amigo leal, embora um inimigo temível e terrível”. – De “Antônio Vaqueiro” e “Antônio Godé”, bandidos de incrível audácia, diz: - “eram homens honestos em quem a nobreza reclamava a primazia à coragem; incapazes de uma traição como de uma covardia”. – E, para demonstrar a probidade e honradez de alguns desses cangaceiros, conta o seguinte, referente a um deles: - “Canuto Reis” nunca roubou de ninguém um alfinete sequer; mas também nunca levou para casa um desaforo, por pequenino que fosse. Quando o coronel Franco Rabelo, que se apossou violentamente do governo do Ceará, entendeu acabar com o prestígio do padre Cícero, Canuto Reis foi um dos heróis da jornada de 14 de janeiro de 1914, em que as forças do governo foram completamente derrotadas pelos romeiros do padre. Vitoriosos, os sertanejos e “os chefes” revolucionários começaram a saquear a cidade do Crato, onde se ferira o combate, enquanto Canuto se dirigiu a um de nome Pedrinho, pedindo-lhe dez tostões emprestados, para matar a fome, pois não comia desde que começara a luta. Lendo na fisionomia de seu interlocutor a surpresa que lhe causara um tal pedido naquela ocasião, disse-lhe o bandido: - “Seu Pedrinho, me empreste dez tostão. Tou vendo que vosmincê se admira deu não tá também robando; mas um cabra de vergonha, como eu, tem corage pra mata cem homes de uma veiz, mas não tem pra robar um vintém, nem que seja do bispo. Isso faz vergonha.”

Do mesmo modo, Xavier de Oliveira se refere a outros dos seus 13 biografados, salientando lhes às vezes a perversidade, mas sempre abandonando lhes algumas virtudes.

Um perfil de cangaceiro que se arroga, como chefe de um grupo, o papel de – “juiz” – à moda sertaneja traça o Dr. Raul Azedo, narrando o que lhe contou uma velhinha, em cuja choupana ele e um companheiro de viagem se hospedaram, quando atravessavam a zona quase deserta do riacho do Navio, em Pernambuco, sobre as façanhas do terrível bandido Casimiro Honório: - “Se furtam um bode da gente (disse a velhinha na simplicidade do estilo sertanejo), a gente corre onde está Casimiro e basta o ladrão saber disso para o bode logo aparecer. Se alguma cousa ruim faz mal a qualquer moça solteira e não casar com ela, a mãe da moça vai se valer de Casimiro, que manda um recado ao sem-vergonha e ele mais que depressa trata de casar com a moça.”

O célebre cangaceiro Antônio Silvino entrou para o “cangaço” par a vingar o assassinato do pai, quando ele ainda menino, por não ter a justiça punido o criminoso. Quando cresceu, vingou-se matando o assassino e mais quatro irmãos deste. Depois, correu o sertão espalhando o terror, roubando nas estradas, incendiando fazendas e saqueando o comércio nas cidades e vilas. Mas, como distribuía com a pobreza uma parte dos roubos, e se constituiu o protetor da honra das moças, captou a simpatia da gente humilde, ao ponto dos menestréis sertanejos contarem nas suas “décimas” as proezas d’ “O Capitão”, como apelidaram-no. Pôde assim dominar nos sertões do Nordeste durante 20 anos, zombando da polícia pernambucana que o perseguia tenazmente, porque os pobres acoitavam-no em suas casas. Afinal, ferido de um encontro com a força pública, foi preso e se acha recolhido à Casa de Detenção de Recife, onde tem um comportamento exemplar.

Em suma, Gustavo Barroso, no seu livro “Heróis e Bandidos”, não deixou igualmente de salientar o chocante contraste daquelas almas sertanejas de outrora, onde as maiores personalidades se aliavam a uma nobreza de caráter inexplicável, conforme a ocasião e o meio em que agiam.

Mas, até nesse ponto, aquela raça degenerou. O lado heroico, que provocava a admiração dos historiadores do “cangaço”, pela sua parceria com os instintos ferozes, desapareceu.

Os atuais bandos de criminosos que infestam o Nordeste brasileiro são compostos de facínoras da pior espécie, sem a menor sombra de uma qualidade indômita, da b
“Lampião”, “Massilon”, “Sabino Gomes” e seus sequazes são apenas tipos de ladrões sanguinários e de assassinos covardes. Nos assaltos que deram à vila de algodões e à cidade de Triunfo, em abril de 1926, esses bandidos não encontraram a menor resistência, por terem fugido covardemente os destacamentos policiais que guarneciam aquelas localidades. Pois bem, não obstante a passividade com que os recebeu a população atemorizada, os perversos não se contentaram em saquear as principais casas comerciais; assassinaram friamente diversas pessoas, incendiaram fazendas, mataram o gado e atiraram-se como canibais contra infelizes moças solteiras que não tiveram tempo de fugir, maculando-as em sua honra, e, para cúmulo da malvadez, surraram desapiedadamente aquelas que ainda procuraram resistir aos seus instintos bestiais.

Urge, pois, o extermínio dessas bestas-feras, custe o que custar. Os governos nortistas têm o dever inadiável de dar caça a esses bandos ferozes, numa perseguição tenaz, sem tréguas, a fim de que possa ser iniciada a regeneração dos costumes sertanejos pela “Instrução” e pela “Justiça”.

Só então poder-se-á conseguir que o sertanejo nortista abandone a sua vida de aventuras criminosas para se tornar um fator de trabalho e de riqueza.
Justiniano de Alencar.

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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CANGAÇO X

Material do acervo do pesquisador do cangaço Antonio Morais

Diabruras dos malfeitores.

Boa Esperança, fora o lugar, no Estado do Rio Grande do Norte, onde os cangaceiros deram expansão ao gênio e entregaram-se a grosseiros folgares. Beberam e cantaram ao som da sanfona. Divertiram-se numa ambiência galhofeira, torturando pacatos sertanejos, sem levarem em conta o mal que causavam. 

A comunidade assistia, constrangida, às práticas abomináveis misturadas com visos de comicidade. Dos infames folguedos, alguns episódios são lembrados com certo humorismo pelos filhos da região. 


O velho Joaquim Justino de Souza vinha pela rua, tangendo um burro com uma carga de melancia. Satisfeito, trazia da sitioca, o produto de seu suor. Calculava o bom apurado nos festejos do padroeiro. De súbito, achou-se cercado. Em meio a confusão, arremessaram-lhe uma fruta na cabeça. Cambaleia. Seguram-no para não cair. Atordoado, vê o algoz apanhando outra do caçuá. Roga-lhe, Então: 

- Escolha uma madura! 

O bandido, esboçando um sorriso, o atende. Repete a troça com rudeza. Desta vez Justino vai ao chão. Cai sentado. 

- Está satisfeito agora? Pergunta, desdenhosamente, o marginal. Saindo do estupor, o bem humorado camponês retruca: 

- Estou sim senhor! Podia ser pior se a carga fosse de jerimum! 

Os malfeitores romperam em estrepitosas gargalhadas, enquanto saboreavam deliciosas talhadas de melancia.

Raul Fernandes.

CONTINUA...

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