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sábado, 14 de setembro de 2013

Show... De Graça!

Contribuição: Compadre Luiz Lemos
www.vejajuazeiro.com.br

Esta, quem me contou foi o meu Compadre Jesuíno Barbeiro, lá de Vitória da Conquista - BA.

Diz ele que é verdade:

Em junho de 1.972 Luiz Gonzaga foi contratado ( verbalmente! ) por um tal Duda Mathias, dono de um grande forró, para animar, com sua sanfona e seu talento, uma festa junina, naquela cidade.

Festa grande, quadrilha, bares, barracas de comida e bebida, um som "estrondoso" para a época, um palco imenso! E a atração principal, claro, Luiz Gonzaga!

Pois bom...

Terminado o Show, sucesso total, o povo ao delírio... Gonzaga ficou esperando o promotor da festa, para receber o cachê, verbalmente combinado.

E não é que o homem sumiu com o dinheiro? Cadê o Seu Duda? Sei não... sumiu de novo!!!

Comentaram que ele tinha esse estranho costume.

Lua esperou, esperou, e... nada!

Lá pelas tantas, muita gente ainda na festa, o forró comendo solto, com a banda do meu Compadre Arnaldo Peron.

E Gonzaga, cansado de esperar, tomou uma súbita decisão:

- Quer saber? Vou resolver isso é agora! Do meu jeito!

Voltou ao palco, pegou o microfone, parou a banda e disse:

- Gente, eu fiz um cumbinado cum Seu Duda Mathias, o dono da festa. Não vou cobrar nada dele! Cantei de graça, pra vocês. E ele, pra compensar, disse que, de agora em diante, TUDO AQUI É DE GRAÇA!!! Nos bares, nas barracas, tudo. É de vocês. Pode invadi, môs fi!!! É DI GRÁTIS!!!

E viva São João!!!

Disse isso, desceu do palco, entrou no carro e foi embora, tranquilo e satisfeito!...

Foi uma confusão dos diabos. O povo invadiu e não sobrou nada!

Diz o meu Compadre Jesuíno Barbeiro que o tal "dono da festa" até hoje está trabalhando para pagar o prejuízo!!!

Eitha Gonzaga!!! Ô véi macho!!!

Se eu tenho provas? Sei não... Só sei que foi assim!!!
Contribuição: Compadre Luiz Lemos


http://www.luizluagonzaga.mus.br

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RETALHOS SERTANEJOS (AS PEQUENAS COISAS DE UM IMENSO MUNDO)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

RETALHOS SERTANEJOS (AS PEQUENAS COISAS DE UM IMENSO MUNDO)

A vida e o cotidiano do povo sertanejo possuem uma significação verdadeiramente difícil de ser explicada ao citadino. Dificilmente o sulista irá compreender porque ações tão simples, tão corriqueiras e desprovidas de intencionalidades outras, se tornam na essencialidade da existência de um povo.

Desde o anoitecer ao amanhecer, no percurso do dia e em quase tudo que se faça, o sertanejo vai juntando pedacinhos de coisas, juntando pequenas ações, costurando o simples com a simplicidade, até formar a grande colcha de sua existência. E bordada com as maiores significações. Seja na fé, no alimento, na religiosidade, no fazer cotidiano mais simples, em tudo um jeito diferenciado de graciosa realização.

O preparo de um simples café exige um percurso de adoração. Aprontar o pilão, despejar os grãos, bater demoradamente, ver tudo esfarelado e sentir o negrume do pó depois de peneirado. Ajeitar o fogão de lenha, providenciar o bule, despejar a quantidade certa de água, levar ao fogo por cima do braseiro em chamas. Derramar o pó, mexer, tampar e esperar a fervura. Não demora muito e a moradia e arredores já estão tomados pelo melado negro e aromatizado do saboroso café. E depois é só agradecer a Deus pela dádiva daquele incomparável saborear.

A gestação de um autêntico cuscuz de milho ralado se assemelha a um ato de fé. Primeiro escolher o milho, preferindo as espigas que estejam entre o verdor e a secura, de modo que os caroços não se transformem em papa. Depois colocar o ralo em cima do banquinho apropriado e então começar o vai e vem com a espiga, sentindo que o farelo amarelado vai se juntando abaixo do ralo. Quando o milho ralado já é suficiente para encher um cuscuzeiro grande, então tudo é cuidadosamente colocado no utensílio, coberto com pano limpo e colocado no fogão de lenha. Uns cinco minutos depois e uma névoa cheirosa desponta do pano, vai subindo pelos ares e toda a vizinhança fica sabendo que ali vai ser apreciada comida sem igual no sertão.


O cuscuz de milho ralado fica melhor ainda se for acompanhado de ovos de galinha de capoeira. Não há nada melhor no mundo, segundo afirmam meus conterrâneos. E tenho prova disso, pois várias vezes já repeti o prato e ainda fiquei com uma vontade danada. Gulodice sim, mas justificada, e pelas razões já expostas. Mas até o preparo dos ovos exige um procedimento todo especial. Ovos de galinha de quintal, de capoeira, dos terrenos pelos arredores. Logo cedinho dá-se o seu recolhimento e a colocação das preciosidades numa cesta acima da mesa da cozinha, e próximo às panelas, pois sempre mais fácil lançar mão de dois ou três quando na presença de cuscuz, de feijão de corda verde ou de macaxeira ou inhame.

Também não é raro o preparo de doces, cocadas e outras guloseimas deliciosas. Tudo parecendo abençoado pelos deuses sertanejos, pois inegável a festa dos olhos diante daquelas cores e sabores. Doce de leite com bola, deixando o leite açucarado, temperado com cravo da índia e cascas de limão, ferver à vontade. Pela quantidade de ovos é que se tem o tamanho das bolas. Quando as nuvens açucaradas tomam um amarelo mais forte e a calda engrossa, então já está no ponto, como se diz por lá. O doce de coco, talvez por ser muito trabalhoso, pois exige não só o coco ralado como também leite de vaca e até ovos, acaba valorizado e apreciado mais ainda.

Sem falar na verdadeira trabalheira que dá o preparo da cocada de frade, pois exige não só a retirada de todos aqueles espinhos, a remoção da casca grossa verdosa até a obtenção da polpa esbranquiçada, para somente depois proceder como uma cocada normal, inclusive com seus ingredientes. E ainda os bolos, o queijo de coalho, a coalhada, o melão do mato batido no garfo. E que Deus grandioso esse Deus sertanejo, que colocou a maestria no preparo dos melhores pratos naquelas mãos rudes e tão sábias.

Quem quiser comprovar o que digo faça o favor de ir até o sertão e procurar saber em qual cozinha está sendo preparado um sarapatel, uma buchada, uma feijoada matuta, uma carne assada, um cozido com verdura, uma galinha caipira, um capão de mulher parida. Infelizmente não há mais cozinheiras de feira como Jarde de João Lameu. Duvido alguém preparar uma panelada de fígado ou de carne de gado como ela fazia. Logo cedinho, com tudo fresquinho, e o seu pequeno ambiente já tomado de sertanejos se empanturrando com tantas fervuras encantadoras.

Contudo, não há rotina mais fascinante que aquela onde toda a fé sertaneja é demonstrada. O benzimento na chegada e na saída, o respeito pelos retratos santos logo à entrada da casa, o coração comovido e devotado diante do oratório, o pequeno livreto santo aberto em cima de um móvel, as fitas dos santos e imagens sacras guardando os ambientes. A fé e a religiosidade desde o primeiro instante do dia, as preces e orações, a divina gratidão por tudo que a vida oferece. Somente o sertanejo para ser assim, grato e devotado demais até mesmo no sofrimento, pois a crença que o dia seguinte será sempre melhor.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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Seu Galdino enfrenta onça branca

Por: José Mendes Pereira

As vacas leiteiras já estavam presas ao curral, e a bezerrada corria no enorme campo em frente à fazenda do seu Galdino. A bicharada miúda ainda se encontrava fora dos chiqueiros.

Seu Galdino apoderou-se de uma bacia, pôs água e caminhou para o alpendre, dando início a uma geral limpeza nos seus pés sujos de barro avermelhado.

Lá dentro do casarão Dona Dionísia cuidava do jantar, fabricando umas pamonhas do milho verde que seu Galdino quebrara no seu roçado.

 
www.fotosearch.com.br

Montado em um cavalo aproximava-se do casarão um homem em disparada carreira. Era o seu Leodoro, que tangia uma novilha do seu rebanho mascarada. E ao pisar no terreiro da fazenda do seu Galdino, ela tomou rumo á sua propriedade. E ali ele resolveu dar um dedinho de conversa com o seu compadre. 

- Vem a trazendo de onde compadre Leodoro, esta sua novilha? - Perguntou seu Galdino.

- De muito longe, meu compadre! – Respondeu seu Leodoro. Ela havia desaparecido da minha vista, e informaram-me que ela estava amoitada nos fundos das terras de seu Chico Néo.

 Foto
Manoel Francisco Pereira = Chico Néo

Com medo que ela passasse para a Favela, devido às cercas não serem boas, fui obrigado campeá-la com urgência.

- Andei muito naquelas matas, compadre! – falava seu Galdino - ali eu conheço metro por metro, quando eu procurava abelhas, e até mesmo quando eu campeava bois bravos..., e certa vez eu fui surpreendido por uma onça branca naqueles atoleiros.

 Onça Branca

- Sim senhor! – fez seu Leodoro.

- Eu tinha saído acompanhado com o vaqueiro de seu Zé Reis, o Solon. Para mim compadre, não existiu, Deus o tenha em um bom lugar, um homem mais corajoso do que aquele. Quando ele perseguia uma rês, ou a derrubava montado no seu cavalo, ou a pegava a pé, isto na carreira, e pouco tempo o homem estava com a bicha mascarada. O bicho era um verdadeiro animal.  Nasceu para ser pegador de gado.

- Eu não o conheci, mas tive informação da bravura desse vaqueiro afamado por estas terras. – Disse seu Leodoro reforçando o que dissera seu Galdino.

- Pois sim, ele precisava chegar cedo em casa, porque estava negociando uns novilhos para o corte, e não querendo voltar com ele, fiquei na mata, tentando pegar um touro da irmã Aparecida, filha de Chico Duarte.

 
Letícia Rodrigues Duarte - Irmã Aparecida

- Já lá para às dez horas do dia, continuava seu Galdino, passando entre uns riachos que nascem no Pai Antonio, propriedade de Francisco Souto, vi um branco, como se fosse algodão. Querendo ter a certeza o que seria aquilo, aproximei-me.

 
Francisco Souto - unicredmossoro.blogspot.com

- O senhor estava a pé? – Perguntou seu Leodoro.

- Não senhor. Eu estava montado no cavalo..., e olhando cuidadosamente, vi que era uma onça branca, que ainda dormia. Mas o cavalo impaciente, ficou bufando, e com isso fez com que o felino acordasse. E vendo que nós estávamos invadindo o seu território, levantou-se e partiu para cima da gente.

- Meu Deus! Que perigo, hein compadre? – Lamentou se Leodoro.

- O cavalo ficou se pisando todo, e a danada partia para cima de nós com gosto de gás, e dava cada esturro que os meus cabelos arrepiaram-se todos. Em um momento, eu vendo que a danada tinha força para me vencer, se eu ficasse em cima do cavalo, resolvi descer e enfrentá-la com o meu chicote três pernas, um dos melhores que já comprei até hoje..., pois bem, aí compadre, foi quando eu vi que eu sou mesmo corajoso. Desci do cavalo e fui lutar contra a onça. E com o meu chicote, tome peia, e tome peia. Eu só batia por cima dos seus olhos, porque eu estava tentando cegá-la. A minha intenção era matá-la de peia... mas ela não queria abri não senhor! A nossa luta foi grande, e eu calculo que durou de 50 minutos a uma hora.

- Que onça valente, hein compadre!? – Atalhou seu Leodoro.

- E bote valente nisso, compadre Leodoro..., tiveram momentos que ela vinha para cima de mim, e eu recuava, mas eu fazia o mesmo. Eu ia para cima dela com o chicote em uma das mãos, e logo ela estava recuando. Foi uma luta que nunca tinha acontecido comigo. A bicha era escaldada, calculista, e me parece que já era veterana em atacar humanos, porque ela fazia tudo àquilo como se fosse uma verdadeira guerreira.

- E o cavalo compadre, onde ele permanecia no momento da luta do senhor como a onça?

 www.seupost.net

- Só olhando. Mas eu vi que ele ficou parado, esperando uma oportunidade para atacá-la,  ali, ele já estava ciscando o chão, mas de olho nela. Talvez imaginando que se ela de uma forma ou de outra me abocanhasse, isto é, me atingisse com seus caninos,  ele iria fazer qualquer coisa em meu favor.

- Cavalo que quer bem ao seu dono compadre, o defende mesmo na hora do perigo.

- É Verdade compadre! É Verdade! A onça levou boas chicotadas dadas por mim. Mas em um momento ela tentou resolver a nossa luta de uma vez por toda. Partiu para me agarrar pelo pescoço. Mas o cavalo que já pressentia que ela iria mesmo me matar, deu-lhe uma cabeçada tão grande, mas tão grande, pegando por baixo do vazio, jogando-a longe, e acredito que ela caiu com uns dez metros de distância, longe de mim. Ao cair  e ao se levantar, saiu grunhindo de mata adentro. Ou onça lutadora!

- Graças ao seu cavalo, compadre! – Fez seu Leodoro.

Sim senhor! Se não fosse o meu cavalo eu hoje estaria enterrado lá no cemitério.

- É, compadre, a conversa está boa, mesmo assim eu tenho que ir embora. Preciso alimentar aquela novilha. Eu sei que a Gertrudes já a trancou. Mas ainda tenho que separar os bezerros das vacas.

E montando no seu cavalo, disse:

- Até amanhã, compadre!

Despediu-se seu Leodoro com um sorriso meio duvidoso, da conversa do seu Galdino, sobre a onça branca.

Seu Galdino repetiu a saudação do seu compadre, e ficou resmungando baixinho:

- Eu sei que a Gertrudes já trancou a novilha, e eu qualquer dia irei trancá-la dentro do seu quarto, e alimentá-la com o meu perverso gavião.


Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

Fonte:
http://minhasimpleshistorias.blogspot.com

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Artigo: A vida e a fortuna do exibicionista cangaceiro Mariano Laurindo Granja

Por: Nilo Sérgio Pinheiro
Foto
O cangaceiro Mariano - lampiaoaceso.blogspot.com

Desde o princípio dos anos trinta era comum existiram tropas legais ou ilegais a procura de cangaceiros para matá-los e ficar com o que eles possuíam, já  que era do conhecimento público, o tesouro que eles carregavam e que viviam ostentando por onde passavam, especialmente em tempos de festas, com doações generosas às igrejas e à população mais do que carente, na miséria mesmo. Geralmente quem matasse cangaceiros e conseguisse ficar com tudo que eles tivessem já poderia pensar numa aposentadoria confortável. Em Pernambuco, destacaram-se os nazarenos, que roubavam sem distinção ou escolha, tratando-se de fazendeiro, citadino ou cangaceiro.

Tenente Zé Rufino - tokdehistoria.wordpress.com

Quem aparecesse pelo caminho era morto ou assaltado. Na Bahia, a tropa liderada pelo tenente José Rufino, vivia sonhando em pegar um cangaceiro privilegiado, isso aos olhos da macacada fardada era uma verdadeira fortuna perambulando pelos sertões nordestinos. Tenente Rufino era um policial ao gosto do governo baiano, cruel, sem remorsos e odiava a popularidade que cangaceiros tinham, angariando tudo o que fosse de simpatia e amizade. Sua coleção de cabeças era bastante extensa ao ponto da imprensa baiana perguntar se com tantas cabeças cortadas o tenente não poderia deixar algumas penduradas em cada poste da cidade de Salvador. Pelas contas do tenente José Refino ele teria decapitado cerca de quatrocentos e quarenta e oito cangaceiros nos Estados de Sergipe, Alagoas, Bahia e Pernambuco, isso num período de dezoito anos de uma perseguição tresloucada e quase desnecessária.

Somando que cada cangaceiro levava consigo uma pequena fortuna em ouro, brilhante e dinheiro, Rufino já poderia ser um homem bastante rico. O policial que liderava uma volante com cerca de sessenta e oito soldados, iniciou a sua peregrinação no começo dos anos vinte, quando pela primeira vez conseguiu cercar um grupo de vinte e oito cangaceiros liderados pelo conhecido Quinta Feira, no interior de Sergipe. Naquele tempo, ainda não havia o acordo realizado pelos governadores que facilitou a entrada de volantes nos Estados da região que bem entendesse. Quinta Feira às duras penas conseguiu safar-se juntamente com Navalha. Mas o restante do grupo foi degolado por Rufino, que não deixou ninguém prá contar história. Logo depois se soube que a volante de Rufino foi reforçada com adesão de trinta e oito novos recrutas, todos enfeitiçados pela fortuna que o tenente deu de presente ao secretário de segurança da Bahia. No Estado de Sergipe os cangaceiros viviam deitando e rolando, participando de tudo que fosse de festa, homenagens, desfiles e procissão, eram os ídolos aclamados dos sergipanos.

José Rufino tinha todas as informações sobre as regalias dos bandoleiros errantes naquele pequeno Estado. Entrar ali com sua volante simplesmente não dava. Teria que se vestir como cangaceiro fosse. E assim foi feito. Por onde passava a população pensando tratar-se dos comandados de Lampião lhes rendia homenagens, oferecendo tudo o que fosse possível. Foi durante esse período que apareceu um jovem cangaceiro chamado Mariano Laurindo Granja, filho de um fazendeiro, com uma formação diferenciada, que tinha entrado no cangaço por razões idênticas a que levaram quase todos a viver como bandoleiros. Queria pegar os cinco policiais que tinham estuprado suas três irmãs.

Naquela época a polícia militar de quase todos os Estados nordestinos era formada, diferentemente de hoje, por gente da pior espécie. Qualquer um, independente de sua formação, podia dar baixa como policial militar, chegando até mesmo ao ponto da própria polícia desconhecer a origem e o próprio nome daquele que queria sentar praça. E muitos entraram na polícia porque não tinham as mínimas condições de se tornar cangaceiros, já que tinham sido barrados por suas péssimas condutas ou sendo famigerados criminosos. Quando esses rejeitados se tornavam policiais e se juntavam às volantes devotavam um terrível ódio aos cangaceiros. Mariano entrou inicialmente no grupo comandado por Quinta Feira, tempo depois se separou criando seu próprio grupo, perfazendo um universo de doze grupos que viviam no Estado de Sergipe.

Sua fama desde começo no comando do grupo de vinte três cangaceiros foi crescendo, lhe proporcionando vantagens às mais diversas. Cidades, povoados, fazendas, engenhos e vilelas, por onde andava era recebido com galhardia e consideração. 

 O cangaceiro Zepelim - www.terceirobpm.com.br

Seu lugar tenente Zepelim era seu fiel escudeiro capaz de dar à sua vida sempre que o momento o colocasse em perigo. Galante e extrovertido, era sempre admirado pelas jovens interioranas que se encantavam com o seu porte atlético, com uma altura muito além da normal do homem sertanejo. Tinha o costume de em solenidades festivas vestir-se a caráter, com uma roupa impecável cheia de adereços chamativos, diferentemente daquelas que usava em combate.

Seu cavalo preto de nome azulão, sempre nessas ocasiões era enfeitado com alfaias cheias de prata e sela incrustada em ouro. Seu fuzil bastante ornamentado era o que de melhor tinha como armamento de última geração, podendo suportar sucessivos tiros em um longo período de combate. Era considerado um juiz para todas as ocasiões, e gostava de resolver inúmeros embates e conflitos conjugais. Certa vez enamorou-se de uma jovem e ela queria de qualquer maneira juntar-se ao grupo, e virar cangaceira. Não podendo levar a jovem consigo prometeu buscá-la assim que houvesse oportunidade, deixando-a na esperança dessa busca. Passado algum tempo Mariano soube que José Rufino descobrindo que ela era namorada de cangaceiro, torturou a moça para que ela dissesse onde estava o seu namorado.

O pai dela inconformado e obstaculizado teve um ataque do coração e morreu. Em decorrência disso, a moça com desgosto pelo passamento do pai, também morreu. Mariano ficou enlouquecido, e a partir daquele momento, prometeu perseguir Rufino até as portas do inferno. Ai começava o ódio de Mariano pelo tenente José Rufino. Inúmeras volantes perambulavam por todo o Nordeste, a procura de cangaceiros, esquecidas de que também tinham a obrigação de perseguir a bandidagem propriamente dita e os criminosos de aluguel que infestavam a região. Agora, tudo o que fosse de bandido andava vestido de cangaceiro, aumentando ainda mais a fama de criminosos e ladrões contumazes que eles nunca conseguiram desvencilhar. Rufino não parava de cortar cabeças dos cangaceiros que aprisionava. Mariano, apreciador de um bom romance, carregava com ele alguns livros que presenteava as jovens que às vezes ficavam interessadas. Escuro, mas com uma aparência, de branco bem nutrido, vivia fazendo justiça em lugares esquecidos e abandonados dos sertões nordestinos. Carregava consigo uma palmatória, com a finalidade de dar bolos nas mulheres que traíssem seus maridos, que abandonados lhe pediam ajuda para recolocar nos trilhos as ingratas que fugiam com outro homem e do juramento matrimonial. Houve um determinado dia que um marido o procurou desesperadamente porque a sua mulher o tinha abandonado, enfeitiçada por outro homem, deixando também os seus três filhos pequenos, chorando. Procurando tomar pé da situação soube que a mulher do infeliz tinha lhe trocado por um mascate que vivia pelos sertões nordestinos vendendo tudo o que fosse de bugiganga.

Descobrindo o paradeiro da traidora mulher e do mascate gavião, Mariano soube que ele além de destruidor de matrimônio, ele era casado e tinha uma grande quantidade de filhos. Em vez de dar bolos na ingrata rainha do lar, o cangaceiro aplicou dez bolos em cada mão do mascate. Após promover a devida justiça divina, levou de volta a mulher, fazendo, ela prometer que nunca mais pensaria em homem algum a não ser em seu próprio marido e nos pequeninos inocentes que choravam a ausência da mãe. Havia também outro cangaceiro conhecido como Baiano que tinha a fama de justiceiro, ferrando no rosto qualquer mulher que traísse o marido. Para eles isso era um crime sem perdão, e seguia criteriosamente os mandamentos bíblicos. Mariano era festeiro e andava encima do seu cavalo azulão bem vestido, e geralmente perfumado.

Seu grupo era seguido por inúmeros cachorros, que partiam com ele ao perceber a sua bondade em lhes dar alimentos assim que chegava e vendo que eles perambulavam pelas ruas esfomeados. Em todos os lugares que passava sempre era coberto de presentes, entre os quais muitas jóias raras talvez como pagamento pela proteção prometida. Mariano, ao contrário da polícia, sempre que encontrava criminosos que tinham realizado desatinos como assalto e outros crimes graves, fuzilava-os, limpando a região infestada de bandidos. Conta à história que também fuzilou o pai de um soldado acusado de vários crimes. Esse soldado jurou matá-lo na primeira oportunidade. Talvez em todo o cangaço não houvesse quem mais mostrasse riqueza do que o infeliz Mariano. Por isso foi aconselhado a ser mais discreto, não procurando mostrar o que possuía. Mas ao contrário, ofertava robustas somas as igrejas que ele encontrava vivendo pior do que a vida miserável de franciscano. Desde o começo de sua carreira no cangaço, deixou de participar de ataques contra cidades que prometiam resistência, e que também proibiam a entrada de cangaceiro. Quando os cangaceiros queriam entrar numa cidade geralmente os chefes desses subgrupos mandavam um bilhete para saber como seriam recebidos. Muitas localidades e povoados lhes abriam às portas, outras prometiam mandar balas caso insistisse na visita, o que de fato acontecia. Mariano ainda não sabia que havia inúmeras volantes a sua procura em busca de sua cabeça e da riqueza que carregava. Avisado, entregou parte de seu tesouro a um sacerdote de uma importante cidade sergipana, que tempo depois entregou tudo a um irmão do cangaceiro de nome Juvenal, quando ele foi morto. Mariano vivia percorrendo todo o sertão sergipano e alagoano, como se fosse o paladino da justiça, combatendo tudo o que fosse de coisa ruim.

A Pedofilia e o crime de estupro ele considerava inconcebíveis. Assentou o punhal em vários criminosos que aliciavam crianças e tinham tido relações sexuais a força com jovens donzelas ou mulheres casadas. Quanto aos homossexuais tinha um respeito enorme por achá-los frágeis e dignos do maior respeito, proibindo qualquer tipo de gracejos com àqueles a quem denominava criaturas esquecidas por Deus. Mariano teve um dia à oportunidade de provar a sua conduta em relação a esse grupo de pessoas. Certa vez chegou um rapaz lhe procurando dizendo que sua família o tinha expulsado de casa.

Cheio de gestos diferenciados Mariano logo desconfiou o porquê dos motivos. Ouvindo atentamente as suas argumentações, decidiu ir até a sua residência conversar com a sua família. Quando chegou às proximidades da casa, pediu o rapaz que esperasse enquanto ele se entendesse com os seus parentes. Entrando, disse para todos que “pelo caminho tinha encontrado um jovem que passava chorando, procurou saber os motivos, e ele contou que a sua família o tinha mandado embora por ter se tornado uma coisa condenável. Retrucando disse – vou até a sua casa e mato todo mundo. Apavorado, o rapaz disse que não matasse a sua família, pois o único que deveria morrer era ele. E não queria que os seus não fossem assassinados simplesmente por tê-lo expulsado de casa. Foi então que ele acrescentou, agora vou matá-lo aqui mesmo, e o jovem ajoelhou-se e começou a rezar para que Deus protegesse os pais e seus irmãos.

E Mariano para espanto de todos, finalizou, e o matei ali mesmo”, o que fez toda família desabar aos prantos, movida pelo remorso. Para surpresa de todos, Mariano mandou buscar o jovem que foi abraçado e chamado de volta ao convívio familiar. Assim era o cangaceiro Mariano Laurindo Granja. Quando uma vez reunido com o alto comando do cangaço, em Águas Belas, recebeu de Lampião uma repreensão de “a qualquer momento poderia ter a cabeça cortada se não atendesse as recomendações da previdência e da cautela no sentido máximo de sua segurança pessoal e a de seus comandados”. 

Bando de Lampião

Lampião também recomendou que os cangaceiros, embora vaidosos, não poderiam andar feito Oxossi em dia de festa. Pediu que quando participasse de alguma comemoração procurasse sempre andar vestido de modo que não mais chamasse à atenção de ninguém. O que fosse de jóias e prata teria que esconder com alguém de confiança. Mariano partiu sem saber que aquela seria a última vez que via Lampião. Depois de muitas andanças pelos sertões nordestinos, Mariano achou por bem fazer uma visita a Pai Velho em Porto da Folha, no Estado de Sergipe, um curandeiro muito procurado e respeitado pelos cangaceiros.

Na verdade, Pai Velho, já tinha salvado da morte até soldados carregados entre a vida e a morte pelas volantes à sua procura. Deixando sua tropa em Garuru, povoado próximo, foi somente com Pavão visitar o curandeiro. José Rufino foi informado dessa visita, armou uma emboscada. Mariano acompanhado de apenas um homem, não tinha nenhuma chance. Assim que chegou foi fuzilado juntamente com pavão. Para completar o selvagem ato, Rufino também fuzilou Pai Velho, deixando o sertão sergipano sem o famoso curandeiro. O que Mariano levava de tesouro assombrou não apenas o tenente José Rufino, mas toda coluna que exigiu do comandante a divisão quantitativa daquela riqueza. Como sempre, ele dizia que aquilo pertencia ao governo baiano. 

Os cangaceiros Mariano Pai Velho e Pavão

Cortou as cabeças de Mariano, Pavão e Pai Velho. Depois descobriu que tinha cometido um terrível engano, matando um curandeiro importante. Para cortar a cabeça de Mariano Rufino foi obrigado a matar quatro cachorros que não deixavam que ninguém chegasse perto do cadáver do cangaceiro. Era 10 de outubro de l936.

http://www.conexaopenedo.com.br/2013/06/artigo-a-vida-e-a-fortuna-do-exibicionista-cangaceiro-mariano-laurindo-granja/

Blog do Mendes e Mendes: Na foto o cangaceiro da direita para a esquerda aparece gravado o nome de Zepelim, mas segundo Dr. Ivanildo Alves da Silveira informou-me que se trata do cangaceiro Pavão. Pela lógica, Zepelim foi abatido em data diferente dos cangaceiros que aparecem na foto acima. 

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