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quinta-feira, 16 de abril de 2015

D. MOCINHA (irmã de Lampião), EM FOTO MARAVILHOSA...!


D. MOCINHA (irmã de Lampião), EM FOTO MARAVILHOSA...!
Ela era a última irmã de Lampião. Morava em São Paulo-SP, e, morreu no dia 10 de fevereiro de  2012. Ela era a única irmã viva de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião. Segundo a família, ela foi internada horas antes de falecer com problemas pulmonares, mas não resistiu.

Foto: Revista Diário Popular - julho/98


Fonte: facebook

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A MODERNA SAUDADE DO CANGAÇO

Por Carlos Alberto Dória
Maria Bonita fotografada por Benjamin Abrahão, imagem da mostra "Cangaceiros", no MIS
Divulgação

Mostra de fotos revela Lampião como um hábil manipulador da comunicação moderna

Em tempos resignados há lugar também para o fascínio pela rebeldia. É intrigante que, caminhando pela rua que reúne as lojas dos carros mais sofisticados do planeta (Jaguar, Ferrari etc.), se possa entrar num lugar onde estão expostas fotos horríveis; brasileiros decapitados porque um dia se rebelaram contra decrépitos coronéis sertanejos como se colaborassem, sem querer, para o triunfo dessas incríveis máquinas milionárias que hoje emolduram sua memória.

A mostra “Cangaceiros”, que o Museu da Imagem e do Som realiza, possibilita a ocasião única de visitação a um dos temas mais caros do nosso velho “cinema novo” - e não só dele, visto que as melhores cenas do cangaço, captadas pelo mascate Benjamin Abrahão, em 1936, foram incorporadas ao filme “Baile Perfumado” (1997).

Em “Baile Perfumado”, como na mostra do MIS, o cangaço se apresenta através de cenas domésticas e posadas para a câmara, como se aqueles homens e mulheres soubessem que a história os absorveria, mesmo que não os absolvesse.

Benjamin Abrahão conheceu Lampião no Ceará e imaginou transformar esse conhecimento em negócio. Propôs-se a fazer um filme sobre o cangaço, para a produtora Abafilm, com o objetivo de divulgar mundialmente as imagens. Fez filme e fotos, mas Abrahão foi assassinado dois anos após o fim do cangaço, e seu filme, confiscado pela política, não foi exigido comercialmente antes de integrar “Baile Perfumado”. Eram imagens que incomodavam o Estado Novo de Getúlio Vargas.

No filme de Abrahão, a normalidade da vida sob o cangaço diante das câmaras é impressionante. Os cangaceiros riem, brincam, se divertem, cozinhar, comem, leem, dançam, fazem vaquejadas, bebem água como pessoas normais. Vestem-se esplendorosamente para os padrões da época. Parece o “making of” de uma banda de rock.

As fotos mostram mais coisas. Uma das melhores é a de Maria Bonita, cabelos arrumados, sentada num banco, de pernas cruzadas, chapéu sobre o joelho, mão direita sobre o chapéu, exibindo vários anéis, como a modelo moderna orgulhosa por envergar trajes de uma etiqueta de vanguarda. Não à toa que é a sua foto mais famosa, aparecida à época em “O Cruzeiro”. São impressionantes também as vestimentas das cangaceiras Moça e Inhacinha, assim como as bolsas e adereços de quase todos, bordados com flores geométricas e arabescos decorativos. Essa estética reforça o espectro perene e contraditório de uma sociedade que, rigorosamente, desapareceu.

A pose de Maria Bonita sugere o papel das mulheres no cangaço. Deve-se a elas o adoçamento dos costumes dos cangaceiros. Nessa fase de quase sedentarismo do grupo nômade, Lampião entrava nas cidades e dizia: “É Lampião que vem chegando, amando, gozando e querendo bem”. Enunciava o oposto da fama terrorista do bando.

Talvez fosse esse o objetivo de Lampião ao admiti-las no grupo. Segundo interpretações de especialistas, elas facilitavam a comunicação com a população e impunham alguns limites à violência do cangaço. Diante das câmaras, dão o ar de normalidade, de “família”, à condição sublevada dos cangaceiros.

Numa das fotos, aparece à esquerda um cangaceiro em posição de sentido, ao lado do chefe, em posição mais descansada; em seguida, sua mulher com a cabeça recostada em seu ombro, e outra mulher ainda brincando com a primeira. Por fim, na extrema direita da foto, um outro sentinela, não em posição de sentido, mas acariciando um cão. É nítida a sensação de um dominó onde vai se quebrando a rigidez e hierarquia do grupo.

Em meados dos anos 20, Lampião fez sua primeira foto. Diante do pedido do fotógrafo, pensou alguns dias, mandou fazer uma nova roupa e aceitou ser fotografado. Sobre uma foto dessa época, escreveu de próprio punho: “Lampião (legítimo)”. Quando foi morto, trazia no corpo várias fotos de família, além da foto do militar responsável pela sua morte. Tinha ideias claras sobre o valor da fotografia.

O filme e as fotos de Abrahão correspondem a um plano publicitário de Lampião. Em muitas, o próprio Abrahão aparece, mostrando que o cangaço filmava e fotografava a si mesmo. Têm-se a sensação de que Lampião intuíra que a guerra moderna também se trava na mídia. Fazia-se fotografar para ser mostrado na capital, sem dúvida. Ao Estado Novo incomodava muito o cangaço, a “barbárie” do sertão que sempre repercutia na imprensa da capital como um escândalo. O golpe das fotos foi sentido. Tanto é que os perseguidores de Lampião -especialmente as “volantes” (grupos de mercenários e vingadores) - passam também a promover fotos e a divulgá-las, introduzindo, através delas, o espetáculo do horror como forma intransigente de combate.

Cabeças decepadas, fotos de prisioneiros executados, tinham o claro propósito de intimidar. Senão aos cangaceiros, à população civil que lhes dava suporte, além de mostrar à opinião pública a presença do Estado no sertão. Curioso que não haja, da parte de Lampião, uma só foto de inimigo morto ou profanado. Na única foto onde aparecem prisioneiros de Lampião estes estão misturados, quase indistintos, como se fosse uma só família.

O cangaço é algo que pode ser desdobrado em várias camadas, como uma cebola. A casca, que se joga fora, sugere que se tratava de meros bandidos assassinos, que espalharam o terror pelo sertão por mais de meio século, e que o seu fim expressa o desejado triunfo da ordem e da modernidade naquele Brasil longínquo. Também foi assim com Antonio Conselheiro, mas quando lemos “Os Sertões” nunca recuperamos a inocência.

A segunda camada é composta por aqueles que vivem da memória do cangaço. Descendentes dos cangaceiros, fãs e admiradores da coragem, colecionadores de objetos do cangaço; e uma certa sociologia que tem nostalgia de um Nordeste que já não há, mas nos brinda com velhas interpretações em torno de minúsculos “novos fatos” descobertos, ameaçando-nos sempre com a “verdade definitiva”. Constroem um Nordeste emblemático, nunca problemático. Mas a mostra do MIS deve-se em parte a eles. Além disso, cumprem um papel: humanizam os personagens que, de outra forma, talvez fossem recordados apenas como uns degenerados. Sim, porque as fotos das cabeças decepadas nos dizem exatamente isso.

Ao serem surpreendidos e fuzilados, os cangaceiros tiveram as cabeças cortadas e mandadas para Salvador, para serem analisadas “cientificamente” no Instituto Nina Rodrigues, do mesmo modo como, no final do século 19, o cientista Cesare Lombroso estudava o crânio dos criminosos sicilianos à busca de alguma anomalia que pudesse ser compreendida e extirpada. Mumificadas, as cabeças dos cangaceiros levaram décadas para serem enterradas (1969) -tempo em que ficaram acusando os rebeldes de, no fundo, serem lelés da cuca.

Depois da morte de Lampião assiste-se a um festival de traições, defecções e rendições. Em pé só sobrou Corisco, que deambulou pelo sertão por mais dois anos, até encerrar com chave de ouro o ciclo do cangaço. Só se entregou à morte, de parabélum na mão, conforme a canção de Sergio Ricardo no filme de Glauber Rocha.

Finalmente temos, na nossa cebola histórica, várias camadas que nos mostram ecos de uma humanidade surpreendente, vindos dos confins do mundo. Nesse núcleo, situa-se o problema que a curadoria de Émile Jasmin sugere, que é a relação de Lampião e seu bando com a fotografia, ou com a comunicação moderna.

Em quatro fotos, Lampião aparece envolvido com a cultura letrada: numa segura o jornal “O Globo”, noutra a revista “O Cruzeiro”; numa terceira lê um livro de Edgar Wallace (o autor de novelas policias e de suspense mais popular dos anos 20) e, noutra, escreve uma carta. Talvez estivesse a nos dizer que ali, no fim do mundo, também era Brasil letrado.

Pouquíssima gente contemporânea conseguiu compreendê-lo de forma útil para nós, que vivemos há quase 70 anos do seu fim. Graciliano Ramos foi o mais lúcido. Para ele (“Viventes das Alagoas”), o cangaço foi expressão de uma sociedade em crise onde os valores tradicionais não encontravam mais condições de se reproduzir, impondo um modo de vida aventureiro e avulso.

Gramsci, em 1934, teorizou sobre essas formas de luta social onde falta a “unidade” de propósitos que só o Estado confere. Assim, numa história que se esfacela sempre, é fundamental recolher todo vestígio de vida autônoma. Como nestas fotos privilegiadas.

O historiador Eric Hobsbawm escreveu, em 1959, o livro “Rebeldes Primitivos”. Nele, mostra o cangaço como uma forma de reação camponesa contra o advento do capitalismo no mundo rural. O milenarismo, o banditismo, as greves messiânicas, certas formas de anarquismo -tudo expressa o grito final da ordem que desmoronava, evidenciando a inadequação dos homens e mulheres que ainda não haviam compreendido as novas linguagens políticas, como a ação organizada em partidos. Por isso Hobsbawm chamou-os, indistintamente, de movimentos “pré-políticos”.

Entre nós, nos anos 60 do século passado, os cangaceiros foram representados como vanguardeiros políticos, profetas de uma nova ordem. Rui Facó1 e Glauber Rocha os viram como “o prólogo da luta armada” que haveria de vencer o latifúndio e encaminhar a revolução brasileira. Esta, como não veio, congelou os filmes de Glauber na mesma galeria das profecias irrealizadas onde se guardam as imagens do cangaço. Verdade e imaginação.

São todas visões que ressaltam o arcaísmo das formas de luta. Mas o uso publicitário da fotografia sugere mais a integração com a modernidade do que a apartação dela. O exibicionismo cangaceiro, projetando a existência para além do seu fim, mostra um Lampião que compreendeu claramente o papel da imagem, libertando-se do confinamento do espaço e do tempo.

A cultura brasileira está sempre mastigando esta história, conferindo-lhe uma espécie de eternidade que as fotos reunidas no MIS confirmam largamente; e hoje, quando vivemos a “pós-política”, isto é, o esgarçamento da política partidária como instrumento de transformação, não deixa de ser surpreendente esse reencontro com a “pré-política”. Certamente as cabeças cortadas encerram lições imorredouras.

A exposição:

“Cangaceiros”, com curadoria de Émile Jasmin. No MIS - Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, São Paulo). Até 4/3/2007.

(Publicado em 18/12/2006)

Carlos Alberto Dória

É sociólogo, doutorando em sociologia no IFCH-Unicamp e autor de "Ensaios Enveredados", "Bordado da Fama" e "Os Federais da Cultura", entre outros livros. Acaba de publicar "Estrelas no Céu da Boca - Escritos Sobre Culinária e Gastronomia" (ed. Senac).

1 - Rui Facó, “Cangaceiros e Fanáticos”, São Paulo, Bertrand, 1991.

http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/2815,1.shl

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FALECEU EM MOSSORÓ ANA MARIA ROSADO DE SOUZA, ANINHA

Por Lúcia Rocha
Na foto, Aninha está com sua mãe, Dalvinha Rosado e irmãos: Kiko, Toninho, Dalton e Délio Rosado

Lamento informar que faleceu na noite de ontem, Ana Maria Rosado de Souza, Aninha, cujo velório aconteceu no Centro de Velório Sempre, à Rua Melo Franco, próximo ao Tiro de Guerra. O enterro foi às  10 horas. Na foto, Aninha está com sua mãe, Dalvinha Rosado e irmãos: Kiko, Toninho, Dalton e Délio Rosado

Fonte: facebook
Página: Lúcia Rocha

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PRIMEIRA CAVALGADA-“CAMINHOS DA FORÇA VOLANTE: NO RASTRO DE LAMPIÃO”


A comunidade de Nazaré do Pico e a Associação Tenente João Gomes de Lira, tem a honra e a alegria de convidar todos os amantes das cavalgadas e apaixonados pelo cangaço, para a PRIMEIRA CAVALGADA-“CAMINHOS DA FORÇA VOLANTE: NO RASTRO DE LAMPIÃO”,que será realizada no dia 2 de maio de 2015, no distrito de Nazaré do Pico/Floresta – PE.

PROGRAMAÇÃO -Data: 02 de maio de 2015
Local: Nazaré do Pico/Floresta – PE
6:00 às 7:30 – Concentração e café da manhã (Praça de Nazaré);
7:30 às 8:00 – Bênção e entrega da Bandeira de Nazaré e da Bandeira da cavalgada (em frente à Igreja de Nossa Senhora da Saúde);
8:10 – Saída : Caminhos da Força Volante: No Rastro de Lampião;
10:00 – Fazenda Jenipapo - Apresentação de Grupos Culturais;
10:40 - Caminhos até a Serra do Pico;
11:30 às 12:00 – Chegada da comitiva ao pé da Serra do Pico 
Almoço;
14:00 – Retorno a Nazaré do Pico;
15:30 – Tempo Livre;
16:00 às 19:00 – Lançamento dos livros dos escritores: 
José Alves, Manoel Alves e Benedito Vasconcelos;
19:30 - Jantar;
20:30 – Missa em memória ao Coronel Manoel Neto;
21:30 – Inauguração do Busto do Coronel Manoel Neto;
22:30 – Festa na Praça
Apresentações de Grupos Culturais e Forró Pé de Serra.

IMPORTANTE
Taxa de inscrição: R$ 25,00 por pessoa; o que dará direito a café da manhã, almoço e jantar.
As inscrições deveram ser feitas até o dia 20 de abril de 2015, por e-mail, no endereço:nazaredopico.atjgl@gmail.com
No ato de inscrição precisa especificar:
Nome, RG, idade, se levará seu cavalo, eventuais exigências e especificar, e-mail, telefone para contato.Os participantes que não levarem seus cavalos, deveram alugar seu cavalo no local da cavalgada.
OBS: A modalidade de pagamento será comunicada aos inscritos
por E-mail
Realização:Associação Tenente João Gomes de Lira - Cristina Amaral
Comunidade de Nazaré do Pico
Apoio
SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará
GPEC - Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço
CARIRI CANGAÇO
Veja mais em:


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Carnaval, Cangaço e Sociedade

Por: Professor Verônica Daniel Kobs

O Cangaço, em nossa História, tem função fundamentalmente social. Movimento de lutas, o “exército informal” de Lampião tinha vestimenta específica: “Certa vez Lampião chegou em uma cidade sergipana, entrou em um armazém e aceitou a proposta do dono do local para pesar toda a roupa e equipamentos que ele tinha pelo corpo. Chegou a quase 30 quilos, isto que ele tirou o fuzil e os depósitos [cantis] de água” (MELLO[1], citado em MILAN, 2014).

A arte de Aldemir Martins

Inúmeras são as referências dos críticos e historiadores ao fato de a roupa dos cangaceiros servir como espécie de farda ou armadura, o que enfatiza a importância da roupa como artefato bélico. Consequentemente, é possível ampliar a valorização dos cangaceiros, que não apenas lutavam e combatiam. Mais do que isso, eles eram protagonistas de duelos ritualísticos, nos quais a roupa era um acessório essencial e de importância estratégica.

São vários os estudos que, partindo da indumentária típica do Cangaço, associam os cangaceiros aos cavaleiros da Idade Média e até aos samurais. Sem dúvida, a comparação baseia-se nas batalhas incessantes e sangrentas e ao espírito guerreiro dos combatentes. Entretanto, muito além do aspecto bélico, está o social, que reforça a relação do Cangaço com os movimentos insurgentes (Canudos, Contestado, Balaiada...). E é exatamente nesse ponto, entre o combate e o social, que o movimento protagonizado por Lampião se amplia e se torna sinônimo de “luta social”. Os cangaceiros assumem a voz dos marginalizados[2] e lutam contra a injustiça. Contemporaneamente, as favelas reúnem essas características, que são como verdadeiros estigmas para boa parte da população. Evidente que isso remonta ao passado, com ênfase às décadas de 1930 e 1960: “No auge da ditadura militar, o Governo Federal criou um órgão chamado Coordenação da Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do Grande Rio (Chisam), que tinha como objetivo principal acabar com todas as favelas da cidade num prazo máximo de dez anos” (MONTEIRO, 2008, p. 1).

O processo de remoção, longe de ser uma novidade da década de 1960, tinha um histórico anterior bastante considerável. Christina da Cunha, no estudo Histórias e memórias das favelas, lembra, por exemplo, a destruição do cortiço Cabeça de porco, já em 1893, e identifica o início da ação remocionista em 1937, na Era Vargas. O que ocorre, a partir de 1960, é a retomada do projeto político, sinal claro de adesão à concepção que orientou vários governantes, os quais encaravam as favelas como “aberrações”: “Segundo relatório oficial da Fundação Leão XIII, de 1968, as favelas eram ‘uma aglomeração irregular de subproletários sem capacitação profissional, baixos padrões de vida, analfabetismo, messianismo, promiscuidade, alcoolismo... refúgio para elementos criminosos e marginais, foco de parasitas e doenças contagiosas’” (MONTEIRO, 2008, p. 4).


Favelas por Marcio Torosi

Esse processo expõe o antagonismo e a dualidade social. A oposição é acirrada, maniqueísta e, justamente por isso, remete ao Marxismo, segundo o qual a sociedade é dividida em dois vastos campos inimigos, em duas grandes classes diametralmente opostas: “a burguesia e o proletariado” (MARX; ENGELS, 2008). “Ao esboçar em traços gerais as fases do desenvolvimento do proletariado, descrevemos a história da guerra civil, mais ou menos oculta, que se desenvolve no seio da sociedade existente, até ao momento em que esta guerra se transforma numa revolução aberta e o proletariado, derrubando pela violência a burguesia, implanta a sua dominação” (MARX; ENGELS, 2008).

Geograficamente, e também socialmente, o espaço favela concretiza essa divisão marxista, sobretudo se for levado em conta o fato de sua origem, já que o Governo buscava tirar os pobres do centro e transferi-los para os arredores, preconizando um processo de assepsia social nas grandes cidades. Dessa forma, em territórios completamente distintos, bem marcados e delimitados, grupos diametralmente opostos representam o poder hegemônico e os marginalizados. A partir do momento em que o Cangaço ganhou espaço, na mídia e na História, a revolução social (e também política e cultural) passou a contar com um poderoso aliado. O movimento exigia que o povo tivesse vez e voz, em consonância aos ideais do Modernismo, que, naquela época, repercutiram na Literatura, nas Artes Plásticas e também no Cinema (nesse caso, pelo projeto ainda embrionário e que, mais tarde, daria início ao Cinema Novo).

Glauber Rocha

Glauber Rocha, precursor do Cinema Novo, em Estética da fome, escreveu sobre os famintos e, nas palavras do artista, ecoaram as ideologias do Marxismo e também do Cangaço:

A fome latina, por isto, não é somente um sistema alarmante: é o nervo da sua própria sociedade. Aí que reside a trágica originalidade do Cinema Novo diante do cinema mundial: nossa originalidade é nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida.(De Aruanda a Vida Secas, o Cinema Novo narrou, descreveu, poetizou, discursou, analisou, excitou os temas da fome: personagens comendo terra, personagens matando para comer, personagens fugindo para comer, personagens sujas, feias, escuras; foi esta galeria de famintos que identificou o Cinema Novo com o miserabilismo hoje tão condenado pelo Governo do Estado da Guanabara, (...).). (ROCHA, 2014)

É intrínseca a relação do texto de Glauber Rocha com a ideologia revolucionária, já que até mesmo a estratégia anti-humana e antissocial do governo carioca é denunciada por ele. Porém, as semelhanças vão muito mais além, porque associam a fome dos marginalizados à violência:

(...) o comportamento exato de um faminto é a violência e a violência de um faminto não é primitivismo. Fabiano é primitivo? Corisco é primitivo? A mulher de Porto das Caixas é primitiva?

(...) uma estética da violência antes de ser primitiva é revolucionária, eis o ponto inicial para que o colonizador compreenda a existência do colonizado: somente conscientizada sua possibilidade única, a violência, o colonizador pode compreender, pelo o horror, a força da cultura que ele explora. Enquanto não ergue as armas, o colonizado é um escravo: foi preciso um primeiro policial morto para que o francês percebesse um argelino.O amor que esta violência encerra é tão brutal quanto a própria violência, porque não é um amor de complacência ou de contemplação, mas um amor de ação e transformação. (ROCHA, 2014)

De acordo com o cineasta, a violência é necessária, assim como é, também, proporcional à injustiça e à exclusão que a originaram. Para muitos, tal princípio é pessimista e desumano. No entanto, considerando a História, as características inerentes à humanidade e a divisão de classes, as palavras de Glauber Rocha servem apenas como constatação e é nesse sentido que o Cangaço pode ser considerado um movimento de luta pela transformação.


E foi justamente essa associação que deu a base para o samba-enredo da Escola carioca São Clemente, que levou para a Avenida, em 2014, o universo da favela e também um pouco da História do Cangaço. Na sinopse do enredo, de autoria de Andre Diniz e Wladimir Corrêa, há referências que explicitam a comparação entre os cangaceiros e os moradores das favelas:

(...) seja bem vindo à favela da São Clemente, e conheça toda a dimensão da audácia humana! (SÃO CLEMENTE, 2014)

Quem somos nós? Herança do olhar de esperança dos negros enfim livres.A fé dos pobres soldados que foram a Canudos vencer o próprio espelho dos sem cortiço, excluídos da cidade que limpava-se... (SÃO CLEMENTE, 2014)

Como fizemos? Da necessidade! (SÃO CLEMENTE, 2014)

Exige mudança, refaz a esperança.E protagoniza teu próprio destino (SÃO CLEMENTE, 2014)

Nos trechos do argumento do samba-enredo, são vários os pontos de contato entre a favela e o Cangaço: “a audácia humana”, a exclusão causada pelos governos de Vargas e Lacerda, a referência aos insurgentes de Canudos e até mesmo a violência necessária e reativa (tal como apresentada por Glauber Rocha, em Estética da fome). Coerente com a sinopse, a letra da música faz menção à “gangorra da vida” (SÃO CLEMENTE, 2014), com a pergunta “De que lado está?” (SÃO CLEMENTE, 2014). A metáfora é bastante adequada, porque representa muito bem a dualidade e a diferença social, evidenciando a desigualdade como motivo para a injustiça e para a exclusão.


Comissão de Frente da Escola de Samba São Clemente

A estilização do cangaço pela Escola São Clemente atualiza o movimento e enfatiza o aspecto social dos cangaceiros. Sem dúvida, essa leitura não é a mesma que foi repercutida pelo discurso hegemônico e “oficial”, ao longo das décadas. A marginalização e a injustiça, que levaram muitas pessoas a buscarem no Cangaço um modo ilegítimo e paralelo de luta e transformação, foram ocultadas pelos fatos que a mídia enfatizava, na época de Lampião: invasões, saques, estupros e castrações (no melhor estilo maniqueísta, em que os cangaceiros representavam o Mal e o Governo e os militares representavam o Bem). Quase um século depois, essa concepção é confrontada e o Cangaço é lembrado e reverenciado pelo povo, que se identifica com várias coisas que verdadeiramente fizeram parte da formação ideológica de muitos cangaceiros, dos quais Lampião foi um dos mais célebres, e do movimento do Cangaço como um todo. E, nessa retomada, o traje típico do Cangaço foi escolhido para representar o valor daqueles que participaram ativamente do movimento:

Esses artefatos – chapéu de couro e punhal –, enriquecidos por outros como embornais, cartucheiras, coldres, perneiras, cantis, luvas e alpercatas impõem-se como imagens de uma arte de síntese que refletem o orgulho de ser sertanejo, isto é, habitante dos sertões. As cartucheiras carregavam a munição, os coldres permitiam levar as pistolas a tiracolo, os cantis garantiam a água para a sobrevivência, os embornais levavam víveres, remédios, ferramentas; quanto às luvas, perneiras e alpercatas protegiam o corpo dos espinhos e garantiam a sobrevivência na caatinga. (SILVA, 2014)

Evidente que, em tantas batalhas, apenas tenacidade, patriotismo, força física e uma boa dose de estratégia (visível pela autossuficiência que o traje permitia, por reunir tudo o que era necessário para os confrontos) ajudavam. Mas não bastavam. Era preciso também buscar a proteção que a religiosidade e o misticismo podiam oferecer: “Os amuletos da sorte dos cangaceiros têm origem na antiguidade (...). Alguns chegavam a ter o signo de Salomão por todo o corpo. Ele é uma estrela de seis pontas – símbolo de Israel – e significa proteção. (...). Normalmente os cangaceiros (...) adotaram as estrelas de quatro, seis ou oito pontas.” (MILAN, 2014). Na literatura, há inúmeras referências ao poder de proteção da estrela de oito pontas, que “simboliza os mil raios da macambira, essa bromélia temível, com espinhos de ida e volta nas hastes longas de ouriço, uma aliada imemorial contra todo invasor” (SILVA, 2014). Por mais poderosos que fossem, os amuletos nunca pareciam ser suficientes[1]. Eram muitos os que faziam parte da crença mística dos cangaceiros e, de certa forma, se aliavam à devoção religiosa, representada pela figura de Padre Cícero.

Na referência que a São Clemente fez ao Cangaço, o chapéu foi elemento fundamental, pela sua tipicidade e por sua força simbólica:

O chapéu meia-lua de couro, com uma estrela no meio, lançado por Virgulino, hoje é o símbolo do nordeste brasileiro. O chapéu, que tem a aba virada naturalmente para cima quando se cavalga, durante o período do cangaço, serviu de suporte de arte (na aba iam alguns enfeites) e também de alerta: nenhum cangaceiro poderia correr o risco de ser surpreendido em uma emboscada, por isso não poderia andar com a aba abaixada escondendo os olhos. (MILAN, 2014)

Bateria da Escola São Clemente, no desfile do Rio de Janeiro, em 2014. As roupas dos participantes fazem alusão aos símbolos do Cangaço, com destaque ao chapéu típico do movimento.


Lampião, em traje e chapéu típicos, representativos do Cangaço
Foto de Benjamim Abrahão

Com base nas imagens e na passagem transcrita acima, é possível compreender que, tanto para o Cangaço quanto para o povo (no samba-enredo representado pelos moradores das favelas), o chapéu usado pelos cangaceiros é muito mais que um acessório. Ele representa o estado de alerta (para não se deixar surpreender) e também a coragem (para ver o inimigo sempre de frente). E ambos garantem a sobrevivência.

Referências: 
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto comunista. Disponível em:
. Acesso em: 13 jun.
2008.  
MILAN, P. A moda de Lampião. Disponível em:
. Acesso em: 27 mai. 2014.
MONTEIRO, M. Fantasma exorcizado. Disponível em:
com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from_info_index=21&infoid=8&sid=7>.  Acesso em: 27 jul. 2008.
ROCHA, G. Uma estética da fome. Disponível em:
nas/leituras_gg_cinenovo.php>. Acesso em: 15 abr. 2014.
SÃO CLEMENTE. [Sinopse e samba-enredo do GRES São Clemente – 2014]. Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2014.
SILVA, E. Q. R. e. Entre o chapéu estrelado e o punhal: o imaginário do cangaço em terras brasileiras. Disponível em:
. Acesso em: 27 mai. 2014.
[1] Vários textos mencionam também a importância de outros três símbolos: a flor-de-lis, símbolo de pureza; a cruz de malta e a cruz “oito contínuo deitado”. (Cf. MILAN, 2014)
Verônica Daniel Kobs
* Professora de Imagem e Literatura no Mestrado em Teoria Literária da Uniandrade e Professora de Língua Portuguesa nos Cursos de Letras da FAE e da FACEL. 

[1] Francisco Pernambucano de Mello, autor do livro Estrelas de couro: a estética do Cangaço.
[2] O termo está sendo usado, aqui, como sinônimo de “excluídos”, dos que ficam “à margem” da sociedade.


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Cangaceiros, coronéis e a nossa república de máscaras

Por André Raboni

Hoje (28) completam 70 anos da morte de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria Bonita. Foram mortos em uma volante comandada pelo tenente João Bezerra, na fazenda Angico, em Poço Redondo (SE), em 1938.

Não é incomum encontrarmos referências a Lampião como um herói popular, ou mesmo um rei. Afinal, quem foram os cangaceiros?

Antes de responder essa pergunta, buscaremos nos desviar das respostas enlatadas que costumamos reproduzir. É preciso compreender um pouco o contexto social e político em que viveram Virgulino Ferreira e seu bando, bem como as relações de poder que vigoravam na época.

Lampião nasceu em Serra Talhada, sertão de Pernambuco, no ano de 1897. Morreu em 28 de julho de 1938. Assim, viveu 41 anos, no período que vai da Primeira República (1889-1930) até pouco depois do golpe getulista do Estado Novo (1937).

A realidade política e social era bem diversa de hoje (embora muitas relações ainda subsistam – sobretudo as relações de poder local e a pobreza de parte significativa da população). Outro cuidado que precisamos ter ao buscar alguma espécie de avaliação da figura de Lampião e seus aliados é que o Cangaço não foi atividade exclusiva deles, mas que também existiram outros grupos de cangaceiros.

Em primeiro lugar, gostaria de falar um pouco do contexto político da Primeira República brasileira (conhecida pejorativamente como República Velha – eu pergunto: por que Velha? Simples resposta: porque quem a cunhou assim foram estudiosos do Estado… Novo em diante. É comum encontrarmos classificações de períodos históricos que demonizam o passado a partir do presente – outro exemplo seria quando os ditos modernos crivaram o período anterior ao seu como Idade Média, ou Idade das Trevas).

A Proclamação da República (1889) prometia inúmeras conquistas sociais em detrimento do atraso monarquista. Entre elas, acabar com o centralismo do poder. Em troca dessa centralização imperial, iriam emergir formas descentralizadas de governos, em sua forma federalista. E, isso aconteceu de fato?

Não. Apesar de ser uma prerrogativa constitucional, os princípios de autonomia municipal acabaram por não sair do papel. Podemos até dizer que os municípios foram sufocados pelas práticas políticas ao nível nacional e estadual. Durante o governo do paulista Campos Sales (1898-1902), iniciou-se a chamada ‘política dos governadores’. O que é isso?

A instabilidade política dos anos seguintes à Proclamação tornava necessária a fundação de bases políticas que dessa governabilidade aos presidentes da república. A forma arquitetada por Campos Sales foi justamente estabelecer vínculos de compromissos com os governos estaduais, baseados na troca de favores, nas nomeações para cargos burocráticos, no repasse de verbas e nos investimentos vários (conquistas materiais e simbólicas, como luz elétrica, trens, telefones, etc. eram a coqueluche do momento). Por sua vez, os governadores de estados firmaram os seus compromissos com os presidentes, para garantir a ‘passividade’ das bases políticas em um nível municipal. Para isso, outra cadeia de interesses e compromissos foi firmada entre os governadores e os chefes políticos locais (alguns, coronéis).

Como você pode perceber, a estrutura arquitetada é como uma teia política, um sistema no qual as relações de interesses permeavam toda a realidade política. Foram esses compromissos que fizeram emergir de forma mais acabada as relações políticas do sistema coronelista. Dessa forma, não eram “coronéis” apenas aqueles que ainda mantinham seus títulos da Guarda Nacional. Mas todo chefete político (padre, médico, comerciante, advogado, delegado, fazendeiro, etc.) que arregimentava currais eleitorais, para garantir a estabilidade política aos governadores, principalmente durante as eleições, em troca de nomeações em cargos públicos, envio de tropas para combater as famílias rivais, repasse de verbas e bens simbólicos, etc.

Com esse sistema articulado e funcional, quem sofre as suas consequências? Os municípios, claro. Essas unidades político-administrativas viram sua autonomia plenamente sufocada com a instauração das relações de compromissos entre a União, os Estados e, por último, os Municípios. E, isso era ruim? Depende do ponto de vista. Vejamos: o sufocamento dessa autonomia prevista na Constituição garantia às famílias mais aquinhoadas dos municípios a manutenção de seu poder político e econômico local, haja vista sua força em repassar votos. Ou seja, para essas famílias era muito bom. Por outro lado, a população menos abastada era quem mais sofria as consequências desse federalismo tosco, bem como a própria Carta Magna também exalava ares de ficção e mentira. Não foram poucos os debates jurídicos nesse período acerca de uma reforma constitucional.

O cangaço no contexto político da primeira República: anseios e práticas

O que ocorre é que as práticas do Cangaço estão envoltas nesse contexto político. Não estando inseridos nas discussões bacharelescas, claro, os cangaceiros adaptaram-se à esta realidade, manobrando-a de várias maneiras e adequando-a aos seus anseios.

Quais eram esses anseios? Aqui reside uma série de divergências. Uns dizem que suas motivações eram algo próximo ao que conhecemos como Robin Hood, ou seja, que os cangaceiros eram espécies de justiceiros, que trariam ao povo o resgate da cidadania estuprada pelos chefes políticos. Mas, essa tese cai totalmente por terra quando percebemos que não era incomum os bandos de cangaceiros se aliarem aos chefes políticos locais, sejam eles padres, fazendeiros, etc. Outras interpretações, mais críveis, talvez, fossem as motivações de vingança. Mas, a vingança, após efetivada, teoricamente deveria cessar as práticas. Não era o que acontecia, em regra. Depois de inserido em um bando, o cangaceiro assumia um estilo de vida.

Em que tipo de relação se baseava essas alianças? Bem, a resposta para isso pode variar muito. O certo é que os cangaceiros também tinham seus interesses, dentro de toda essa cadeia de interesses. Estes podem variar muito: desde de recebimento de dinheiro ou bens materiais (armas, roupas, etc.), até mesmo proteção por parte do coronel ao qual o bando se aliava. Parece estranho, mas cangaceiros também se aliavam com coronéis em relações de proteção mútua, e isso já não é segredo pra ninguém.

O estilo de vida quase-nômade dos cangaceiros davam a eles um grande poder de mobilidade e sagacidade para escaparem das forças do Estado – quando as forças policias se opunham a eles -, fortalecido pelos vínculos de proteção e pelo conhecimento profundo das regiões de caatinga do nordeste brasileiro.

O medo que pairava nos povoados, certamente dava aos cangaceiros o seu status de bandos violentos e perigosos. As práticas cruéis, como o esfolamento, brigas, assassinatos, roubo, etc. eram comum, e garantia-lhes manter essa política do medo assentada sobre o banditismo social.
Como bandos seminômades, os cangaceiros forjaram uma máquina de guerra que, paradoxalmente, os afastava e os ligava ao contexto político da época. Manobrando em seu favor as práticas políticas de poder local, garantiam não apenas seu status, como a sua própria existência.

Se os cangaceiros são bandidos ou mocinhos, não posso responder. O certo é que estavam inseridos em uma trama social na qual compromissos e interesses estavam em jogo, em todas as esferas políticas. Isso confere um caráter dúbio às práticas dos cangaceiros. Ao mesmo tempo em que são bandidos (por causa dos assaltos, das brigas, assassinatos), também são ‘justiceiros’, na medida em que o inimigo perseguido é é também inimigo de quem observa. É apenas uma questão de referencial.

Dessa maneira, não acho que devemos estigmatizar os cangaceiros, nem muito menos vangloriá-los. Nem como heróis sociais (visão ampliada com a profusão do movimento mangue-beat, que convence os mais jovens, quando embebidos em seus anseios pseudorevolucionários de revolta – a revolta pode até ser legítima, mas o arsenal ideológico é falacioso), nem mesmo como meros bandidos (apesar de suas práticas).
Penso que, se existe um sujeito que deva carregar algum estigma, esse sujeito é abstrato. Podemos chamá-lo de poder local, ou, ainda, cadeia de interesses.

Mudanças aparentes encobrem permanências

Após a Revolução getulista de 1930, a perseguição ao cangaço se intensifica. Mudam-se as formas de garantir os interesses. Via de regra, também mudam-se as elites dominantes no país. O fim da ‘política dos governadores’ mostra como novas relações de poder político são instaurados. A perseguição aos grupos políticos de esquerda também tem sua vertente na perseguição aos cangaceiros – pretensos justiceiros que ampliariam o poder do povo sofrido, usurpando-o das elites. Sendo também uma ameaça so Estado (em muitos casos pelas próprias alianças com chefes locais), deveriam ser exterminados.

Essa última análise, de caráter ideológico, é discutível. No entanto, é menos discutível o fato de que a intensificação da perseguição aos cangaceiros pode nos mostrar que estava sendo operada uma nova guinada na política nacional. Com o golpe do Estado Novo (1937) e a instauração de interventoriais nos estados (os interventores eram os governadores nomeados pelo governo federal), o anseio por um Estado forte e eficaz no combate ao banditismo social e ao domínio local por chefetes e coronéis, foi uma máscara que escondia por trás de si um rosto bizarro… antidemocrático e, mesmo, fascista. Por sua vez, as políticas de massas, como as sequentes conquistas trabalhistas, davam área de progresso nos centros urbanos.

Não era o fim do elitismo, mas sim o deslocamento de elites no poder. Em muitos casos, as elites se mantiveram na base do “sou coerente e nunca mudo de lado: estou sempre com a situação “. É nesse sentido que as práticas de poder local se mantém. O fim do coronelismo é o fim de um sistema, não o fim de uma prática de dominação política e econômica – esta se mantém ainda, de diversas formas, até os dias de hoje – mas, é mais prudente chamar a isso de mandonismo local.

O fato é que logo após o golpe do Estado Novo, o bando de Lampião foi esfarelado, sobrevivendo apenas alguns remanescentes que se refugiaram em várias partes do país.

Por alguma conclusão

Essa história de mudanças e permanências evidencia que, além do fato de sermos um país muito atrasado, também somos um povo que adora se enganar. Mudamos as formas, mas as práticas, em regra, são as mesmas. Com o devido cuidado, podemos fazer relações do tipo: não temos mais coronéis, mas mantemos nossas ‘lideranças’ comunitárias (se entearmos o Coronel como aquele que paga as contas, veremos que atualmente ainda existem milhares de coronéis por todos os lados…); não temos mais cangaço, mas temos nossos traficantes que agora se pretendem domesticadores de populações, praticando até mesmo o extinto voto de cabresto.

E, além de tudo isso, ainda preferimos dar ares de elegância ao nosso banditismo social, nomeando nossos bandidos como “reis do pedaço”. É rei de palha aqui, rei da bola acolá, rainha loira daquilo outro, príncipes de araque que tornam nossa república um Império simbólico.

Enquanto isso, vamos mantendo nossos sonhos de transformação social e política com os mesmos signos do passado: não se tira máscaras, elas apenas são substituídas por outras, mais adornadas para desfilarem em nossos carnavais gloriosos e repletos de artistas-ou-não fantasiados de heróis.

Assim prossegue nossa república mascarada.

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LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS

Por Antonio José de Oliveira

Na realidade Pesquisador Mendes, o livro LAMPIÃO: A RAPOSA DAS CAATINGAS oferece total segurança nas informações, por ser fruto de um trabalho minucioso e didaticamente perfeito, realizado em profundidade durante onze anos de pesquisa.


Posso afirmar sim, uma vez que tive o prazer de lê-lo por completo. O autor desenvolveu uma ampla pesquisa de campo, além da bibliográfica e documental. 

Autor deste livro José Bezerra Lima Irmão e o escritor João de Sousa Lima

Não conheço pessoalmente o Bezerra Lima, mas pelo que pude interpretar na leitura do seu livro, trata-se de um escritor que, na medida do possível buscou a "verdade verdadeira". Acredito Mendes, que esta segunda edição irá logo desaparecer das prateleiras das livrarias, e ele terá que partir para uma TERCEIRA ETAPA.

A 2ª edição continua sendo vendida através dos endereços abaixo:

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EXCELENTES IMAGENS


Lampião com a família, em sua visita a Juazeiro em março de 1926

1 - Antônio, irmão
2 - Anália, irmã
3 - Joaninha, cunhada (casada com João Ferreira)
4 - Maria Mocinha, ou Maria Queiroz, irmã
5 - Angélica, irmã 
6 – Lampião
7 - Zé Paulo, primo
8 - Venâncio Ferreira, tio
9 - Sebastião Paulo, primo
10 - Ezequiel, irmão
11 - João Ferreira, irmão
12 - Pedro Queiroz, cunhado (casado com Maria Mocinha, que está à sua frente, sentada)
13 - Francisco Paulo, primo
14 - Virgínio Fortunato da Silva, cunhado (casado com Angélica) 
15 - ZÉ DANDÃO, agregado da família.



Fonte: facebook
Página: Sergio Roberto‎ O Cangaço

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