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domingo, 10 de novembro de 2013

SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS-BAHIA - LAMPIÃO EM QUEIMADAS - 1929 - PARTE FINAL

Foto: Aspecto da Vila de Queimadas, 1920, 9 anos antes da passagem de Lampião - Depois da matança o jantar - Queimadas, dezembro de 1929.

A dona da Pensão se chamava Júlia, mulher um tanto corpulenta, cadeiruda, já andando, na ocasião, pela casa dos quarenta anos. Era, portanto, uma madurona vistosa. Para ela Lampião mandou por João Balaio o seguinte Bilhete:

" Sra D. Júlia

Por este portador mande 500$000 sob pena de pedir mais- Lampião". E pelo mesmo portador mandou um recado: que preparasse jantar para ele e para os companheiros. Ao que Júlia teria respondido que não preparava jantar nenhum, que fossem comer no inferno. João Balaio dá a resposta e Lampião ruma para a Pensão, a fim de tirar satisfação.

Júlia é ameaçada de morte, mas se desmancha em desculpas, enquanto João Balaio foge espavorido. Nada aconteceu além disso, porque Júlia conseguiu convencer a Lampião não ter dito que " não preparava o jantar".

Lampião, jantando, declarou que desejava viver sossegado em lugar se o governo não o perseguisse. Nessa mesma ocasião do jantar, um dos bandidos disse, com ar de galhofa: - que "os soldados presos estavam com uma febre desconhecida e que davam uma tremedeira e caíam" e perguntou às pessoas que por ali estavam se "não tinham ouvido os estalos do cafuné?.

Os caixeiros viajantes que ali estavam hospedados, serviram de garçons, juntamente com o Prof. Antonino Rocha, funcionário do Estado, que estava de passagem por Queimadas.

Fonte: (Nonato Maques. Santo Antônio das Queimadas. pag. 144) 

LAMPIÃO ASSISTE CINEMA- TRECHO DO LIVRO " SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS" DE NONATO MARQUES. 

Após jantar, arrotando e palitando os dentes, Lampião e sua gangue se dirigem para a Sociedade Filarmônica Recreio Queimadense, clube musical então presidido por Durval Marques da Silva. No salão principal funcionava semanalmente um pequeno cinema mudo que, nesse domingo, anunciava a projeção de uma fita intitulada Ninho de Amor. O cineminha era de propriedade de Umbelino Santana.
 
Carta de Lampião ao Governador

Na parede do comprido salão da Sociedade, Lampião garatujou a lápis a seguinte carta ao Governador do Estado:

"22 de dezembro de 29
Peço desculpa ao Governadô em EU Capt. Lampeão dar Este Paceio aqui Em Queimadas e assenti Em Um Senema lhe digo deveria não Endoide Seu Governadô Vitá Suor apois com sua Perceguição
Estou Engordando até penço que vou E mé cazar.
Virgulino Ferreira Lampião
Governadô do Sertão."

Escrita a carta neste diapasão de chicana, Lampião mandou passar a fita programada, mas, pouco tempo depois se aborreceu e mandou parar a projeção.


DEPOIS DE TUDO UM FORRÓ ( PASSAGEM DE LAMPIÃO EM QUEIMADAS -1929)

Junto ao cinema morava Félix Rato ( pedreiro, mestre-de-obras) em casa que ainda hoje existe do mesmo jeito que era naquela época. Para lá Lampião se dirigiu com seu grupo. E em poucas horas, arrumaram uma festa que se prolongou até cerca de 3 horas da madrugada.


Labareda, ao rememorar o fato, diz que de noite foram dançar na Intendência, com luz de motor, o que é um equívoco. A festa foi mesmo na casa de Félix Rato, o mestre "grau" que tantas coisas construiu em Queimadas.

A propósito, informa Labareda: "Lampião preveniu os cabras que num quiria farta de respeito com as famía. Us pessoá quiria mulé foi percurá as muié sortera nas ponta de rua. Elas inté chamava a gente pra ganhá seu dinheiro..."

A informação é absolutamente correta. Apesar de terem comparecido obrigadas (é claro), as "moça novinha, as mulé casada e as sortera, tudo junto, e os furdunço das dança pela noite toda," como relembrou Labareda, o baile transcorreu sem nenhum atentado a moral.

Começaram dançando apetrechados, como estavam, armados com dois punhais, dois revólveres e fuzil. Como o apetrecho era muito incômodo e dificultava os passos, desarmaram-se, mas as portas ficaram guarnecidas por outros cabras que ficaram rondando por fora como sentinelas.

Fonte: (Nonato Marques.Santo Antônio das Queimadas. pag. 145)

Foto: Lampião e seu bando em Pombal.

RELATO ISAAC PINTO DA SILVA, DE ITIÚBA.

"Da Tapera eles desceram para Camandaroba. Daí foram bater na Queimadas. Chegaram lá de noite. Cortaram o fio do telegrafo. Prenderam os soldado que tinha. Soltaram os presos e deixaram os soldados presos. E dançaram a noite todinha. No outro dia, só era chamando de um e um. E era só atirando e o Volta Seca sangrando.
 
 O cangaceiro Volta Seca

Mataram os sete. A finada Delmira e o finado Baró iam para a Várzea da Roça de tardezinha. O Baró tinha um cavalo e ele levava a mulher na garupa. Quando viram, se toparam de testa. Eles correram".

RELATO DE ROBÉRIO PONTO DE AZEREDO DE ITIÚBA 

"Ele aí desceu em Dezembro de 1929. Eu era bem menino e vi a hora que chegou o portador na casa do Capitão Aristides. Lampião tentou entrar em Itiúba. Passou pelas cercanias duas vezes. Em 1929, ele desviou e a passagem dele foi para Queimadas. Aquele dia foi trágico. Véspera de Natal. Lampião trucidou sete soldados. Soltou os presos e depois matou um a um. Só deixou um sargento que pediu para ele não matá-lo."


Foto: Germinia Pinho da Silva Góes, Nascida em 23 de Junho de 1928. Mora em Araci-Bahia. Foi visitada na infância pelo bando de Lampião. Relato feito em Dezembro de 2007 à Fernando Tito. 

Sabendo dos rumores que Lampião estava nas redondezas, meu pai José Tibúrcio da Silva, ao viajar para Queimadas mandou que minha mãe, Marcionília Pinho da Silva, fosse dormir na casa do cunhado (Martinho Pereira da Silva) que ficava perto, eu Germinia Pinho da Silva tinha apenas seis meses de idade. José Tiburcio da Silva como proprietário da Fazenda Paraíba, transportava daqui peles de ovinos, bovinos e caprinos que levava para Queimadas pois lá havia um curtume que era do Coronel Vicente Ferreira da Silva, que era primo de José Tiburcio da Silva. Ao chegar lá ele deixava as peles para serem curtidas e as que já estavam curtidas ele pegava para trazer, completando a carga com sacas de café que vinham de Jacobina para Queimadas. 

Meu pai era dono de uma tropa de oito burros, sendo seu tropeiro o Senhor Higino morador da Fazenda Roda, ao chegar aqui na Vila do Raso, como era conhecido na época, meu pai tinha que ir prestar contas ao Coronel Vicente Ferreira da Silva, pois era ele que dava os fretes para meu pai conduzir. Foi no período desta viagem que Lampião chegou em João Vieira arraial de Araci, no mês de Dezembro de 1928, procurou saber quem era fazendeiro e quem tinha tropas de burros, alguém que se dizia ser amigo de meu pai informou a Lampião sobre meu pai e Lampião mandou o cangaceiro Corisco ir até a Fazenda Paraíba guiado por esta pessoa, pois não sabiam onde era a Fazenda, ao chegar não encontrando ninguém colocaram fogo na casa.

O cangaceiro Corisco - cabra forte de Lampião
Quando foram cinco horas da manhã, pois eu acordava muito cedo para comer, minha mãe chamou as meninas para ir tirar leite das cabras, pois eu só tomava leite de cabra, ela me levava nos braços, ao chegar na malhada ela avistou o fogo em cima da casa e logo viram os cangaceiros com os fuzis, os burros amarrados e etc.

Ela respeitando os cangaceiros não seguiu, pediu que uma das meninas que ela criava que voltasse na casa do meu tio Martinho para chamá-lo para poder encorajá-la, pois ele ia enfrentar eles, ao chegar trazendo consigo nos braços o garoto José Brígido da Silva (Zeles) que tinha apenas dois anos e dois meses de idade, ele se reuniu com minha mãe que estava comigo nos braços, ao se aproximar da fazenda ela avista a fumaça em cima do telhado, pois eles já tinham arrombado a porta e entrado, pegado dinheiro, peças de tecido de seda, saquearam a casa e depois pegaram querosene, que na época meu pai comprava querosene em lata, destelharam a cumeeira da casa ensoparam com o querosene e puseram fogo.

FINAL:
SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS-BAHIA 
LAMPIÃO EM QUEIMADAS - 1929.

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