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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Viva Portugal!

Por: Honório de Medeiros

Já estive em Portugal, antes, por pouco tempo. Desta vez, entretanto, a demora está sendo longa. E aprofundada, horizontalmente, pois estou flanando também no seu interior, e verticalmente, pois puxo conversa aonde chego desde o taxista ao garçom, passando por balconistas de lojas, vendedores de jornais e revistas, e quem danado, segundo meus padrões, represente o povão. 


A conclusão é simples, mas dolorosa, porque resulta, sempre, de uma comparação com o Brasil. Para começo de assunto Portugal é lindo, sua história é muito interessante, e, ao contrário do que se supõe, o povo é educado e a nova geração muito bonita e bem cuidada. E alegre nada melancólica. E tudo funciona, aqui, bem, muito bem, se comparado com o Brasil: educação, saúde, segurança e infraestrutura. 


As cidades são limpas, sem mendigos, pastoradores de carro ou lavadores de para-brisas; o asfalto das ruas e das estradas é de primeira qualidade; os ônibus são novos e disciplinados; o trânsito flui normalmente e sem estresse. Como viajamos de carro pelo interior, pude perceber a limpeza das laterais das estradas, das cidades e dos lugares onde se para uma visita ao toalhete. 


A sinalização é perfeita. Quanto à segurança, o contraste também salta aos olhos: as pessoas andam pelas ruas, à noite, despreocupadas. Esqueci-me de falar do metrô: em termos de limpeza e regularidade, supera em muito o de Paris. Há senões? Claro que há! Como ainda volto, é por um período maior, a Portugal, escreverei algo acerca disso um pouco mais adiante. Enquanto não, quero confessar: ando muito surpreendido, e agradavelmente, com as terras lusitanas...

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A MORTE DOS CANGACEIROS ZÉ VEIO E CÍCERO GARRINCHA PARTE III

Por: João de Sousa Lima

Moreno e seu grupo empreenderam uma viagem em direção á Santana do Ipanema, saindo das proximidades da fazenda Lajeiro do Boi. No percurso, os catingueiros tiveram que passar nos pastos, fazenda com o mesmo nome do local onde morreram Eleonora, Serra Branca e Ameaça. Cícero Garrincha e Aristéia seguiam um pouco na frente do grupo, atravessando as veredas, soltando sorrisos de contentamento, curtindo a festividade da aparente gravidez, de poucos meses, da cangaceira.

Moreno, sempre arisco, seguia concentrado no caminho e preparado para as surpresas que pudesse aparecer (e elas sempre apareciam ).

Apesar de cedo do dia, o sol alardeava seus raios trêmulos sobre a terra, castigando os galhos pontiagudos e as folhas secas da caatinga. Os cangaceiros riscavam com suas “percatas” ferradas, os empoeirados atalhos alagoanos.

Os risos de Aristéia disfarçava a triste dor que perpassava a condição de sofrimento da ida bandoleira do cangaço, feito sentença cumprida na solidão e no abandono dos carrascais poeirentos dos materiais lúgubres, que geravam as ações continua de fuga, onde se igualavam atacantes e atacados.

Um pouco mais na frente, fechando a passagem de vereda por onde seguiam os cangaceiros, soldados armavam uma emboscada. Escondidos e protegidos entre as pedras e as vegetações mais salientes, eles aguardavam o momento de atacar os inimigos.

Os cangaceiros seguiam em direção á armadilha, sem desconfiar da cilada armada. Poucos passos depois, na aparente serenidade da caminhada, tiros ecoaram, calando risos e gerando tumultos. Moreno e João Garrincha agacharam-se e retribuíram os disparos, colocando as mulheres em suas retas-guardas, longe dos possíveis ferimentos. Travou-se acirrado tiroteio.

Um pouco á frente de Moreno, um cangaceiro atingido pelos primeiro disparos, agonizava. Poucos segundos depois, o cangaceiro Zé Velho, apelidado de pontaria, dava seus derradeiros suspiros. Um pouco atrás de Zé Velho, Cícero Garrincha, o Catingueira, também tombava crivado por balas.

Aristéia avistou Cícero Garrincha se arrastando, procurando sair do raio de ação dos disparos realizados pelos policiais.

Aos poucos, o matraquear intermitente das armas foram ficando compassados. Os soldados foram silenciando seus armamentos e fugindo do campo de batalha. Zé Velho tombara morto, crivado pelas minúsculas ogivas de chumbo disparadas. Cícero Garrincha levantou-se depois de muito esforço. Suas roupas estavam completamente encharcadas de sangue. Moreno se aproximou de Cícero Garrincha e, junto com João Garrincha, o transportaram para um local mais seguro. Aristéia lembrou-se do velho ditado sertanejo: “Muito riso é prenúncio de muita dor”.

Os cangaceiros seguiram a trilha de volta, buscando socorrer o amigo que cambaleava apoiando nos ombros dos dois fiéis amigos. Com algumas centenas de metros, já exaustos, os cangaceiros pararam. Cícero Garrincha foi colocado em uma sombra e sua camisa foi aberta dando visão ao estrago causado pelo tiro. A caixa torácica foi parcialmente destruída pelos estilhaços de uma mortal bala. Os companheiros assustaram-se diante da visão do ferimento, onde viam o coração pulsando. A respiração ofegante do baleado expulsava jatos de sangue, pelo largo orifício da contusão. O cangaceiro pediu água, Moreno argumentou que água naquele momento causaria danos piores, podendo levá-lo rapidamente á morte. Durvalina tirou de dentro de um dos bornais um vidro de “saúde da mulher” um composto usado quando das cólicas menstruais. Um capucho de algodão foi ensopado por Durvalina na solução e passado nos lábios do moribundo cangaceiro, por seguintes vezes o chumaço de algodão foi embebido no remédio e aliviado a secura dos lábios de Cícero Garrincha, enquanto seu coração arquejava descompassado, expulsando sangue borbulhante cada vez que respirava, sendo assistido por olhares assustados com a gravidade da lesão. Moreno sabia que a morte do amigo era questão de tempo. Cícero Garrincha também pressentiu o momento difícil porque estava passando. Ao lado do cangaceiro, Aristéia chorava sua angústia. Moreno olhou nos olhos de catingueira e perguntou:

- O que você quer que eu faça com sua mulher?

- Faça o que Deus quiser! Se pudé deixe ela com a família!

- Eu deixo!

A respiração de catingueira foi ficando insuficiente, o sangue banhava cada vez mais as mãos que segurava o corpo inquieto. O coração pulsava frágil e visível. O cangaceiro apertou com a mão, o braço de Moreno, pendeu a cabeça pro lado e expirou. As lágrimas rolaram nas faces angustiadas dos companheiros. João Garrincha assistiu, contrariado, a morte do irmão. Aristéia chorou amargamente sua perda, ostentando em sua barriga saliente, um órfão prestes a nascer. Moreno cavou, junto com a ajuda dos amigos, uma cova rasa e enterrou o companheiro, cobrindo a sepultura, com macambira e xique-xique cactáceos que enfeitam a paisagem rara do Sertão Nordestino.

Os cangaceiros seguiram outro caminho, inverso ao que vinham seguindo, fugindo de mais uma desagradável surpresa que, por ventura, pudesse acontecer. Ao local do combate, Moreno retornaria quatro dias depois, encontrando só a carcaça do corpo decepado do cangaceiro pontaria. A policia levou a cabeça, deixando o corpo para servir de comida para os bichos famintos das caatingas.

CONTINUA...

João de Sousa Lima é Escritor, pesquisador, autor de 09 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. Telefones para contato: 75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br

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Faca Jardineira de Paulo Pereira


Como eram feitas as facas do Cangaço


Créditos para Dênis Artur Carvalho

Matéria feita pelo quadro "Me leva Brasil" do Programa Fantástico, por volta do ano 2000, com um dos últimos ferreiros de facas nordestinas: Paulo Pereira, filho do célebre cuteleiro José Pereira, da cidade de Crato, CE.

Créditos para Dênis Artur Carvalho

http>//lmpiaoaceso.blogspot.com

Entrevista: Luitgarde Barros

Arte: "Pajeú, O Temido Chefe Guerrilheiro" - Técnica mista sobre papel de Tripoli Gaudenzi. Ilustra a capa do Livro de Luitgarde Barros, "A Derradeira Gesta - Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão".

Antropóloga e professora da Uerj, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros é pessoa de fino trato e sem meias palavras. Simpática e educada, não tergiversa quando é pra defender suas posições e princípios. Envolveu-se com o tema do cangaço por razões pessoais - em 1927, antes de seu nascimento, sua mãe foi feita refém do grupo do cangaceiro Lampião no município de Santana do Ipanema (AL) - ela levanta dados em sua pesquisa que negam a versão até hoje cultivada em universidades brasileiras. No seu livro “A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão” (editora Mauad - 2000), que recebeu uma indicação para o prêmio Jabuti, Luitgarde reúne todos os detalhes para desmistificar Lampião. Nega, portanto, que o assassinato do pai de Lampião, José Ferreira, em 1921, pelas mãos do coronel (então tenente) Lucena, teria sido o motivo que conduziu Virgulino ao cangaço. Encontramo-nos em Fortaleza (CE), num Seminário do Cangaço, na Unifor. Depois, por correio eletrônico, fizemos esta entrevista.


Kydelmyr Dantas

O Mossoroense - Professora, como vosmecê, permita-me tratá-la assim, contesta a entrada de Lampião no cangaço?

Luitgarde Barros - Apoiada na literatura antropológica sobre o cangaço, em acervos de documentos e entrevistas, constatamos que Lampião era membro de uma família de pequenos proprietários e que entrou na vida do crime ainda na adolescência. O cangaço do século XX não é de origem pobre, mas nasce de proprietários remediados, comerciantes e donos de tropas de cavalos e burros. O próprio Virgolino Ferreira, antes de tornar-se Lampião, possuía terras e animais. Mas ainda jovem, em 1916, começou a agir como cangaceiro, sendo cabra dos Porcino, os irmãos Pedro, Antonio e Manuel Porcino, uma família que agia em Alagoas, sendo perseguida no sertão, por seus ataques nas estradas, principalmente nos dias de feira.

OM - Em "A Derradeira Gest" vosmecê apresenta detalhes para desmistificar Lampião. Como vem a ser isto?

LB - Tenho documentos de cartório mostrando a perseguição de Lampião quando ele ainda era membro do grupo dos Porcino. Virgolino Ferreira vivia uma vida dupla, antes de se entregar definitivamente ao cangaço, em 1922. Em Pernambuco, ele era um proprietário, com sua tropa de burro, e fazia comércio com a vizinhança. Mas como era exímio cavaleiro, percorria as regiões próximas e chegava em Sergipe e na Bahia como almocreve. Em Alagoas praticava crimes. Aí Virgolino dava lugar ao cangaceiro. Sua metamorfose se dava no interior dos municípios de Santana do Ipanema e Mata Grande.

OM – Então, é baseado nesta vida dupla que se pode dizer do real motivo das várias mudanças dos Ferreira, desde Pernambuco até Alagoas, e a conseqüente morte do patriarca José Ferreira?

LB - Eu não diria que José Ferreira foi o patriarca dos Ferreira, porque ele perdeu totalmente a autoridade sobre os filhos, ficando a reboque de suas decisões. Essa série de crimes em que Lampião se envolve, como invasões a cidades e troca de tiros, é o caminho que conduz seu pai à morte. Em 1921, Lampião vai com os Matilde para um lugarejo em Alagoas chamado Pariconha e lá eles matam um rapaz cego de 15 anos e promovem uma série de roubos. Depois, escondem o produto do saque em uma pequena fazenda próxima onde o pai dele estava vivendo, o que atrai o tenente Lucena ao local, já que desde o tempo dos Porcino esse policial vivia nas caatingas do sertão de Alagoas perseguindo cangaceiro. Como entrou atirando, esperando surpreender Lampião, Lucena acabou matando José Ferreira, um homem pacífico que, segundo a tradição oral daquela região, estava debulhando uma espiga de milho, não estando sequer armado. Como um filho expõe um pai dessa maneira? 

OM - Mas, analisando os autores da bibliografia cangaceira, pelo menos 90% não creditam a entrada de Lampião no cangaço pra vingar a morte do pai?

LB - Lampião apelou para o código sertanejo de vingança para justificar suas ações. Essa legitimação dos próprios atos utilizando elementos da cultura sertaneja, como valentia e obrigação de vingança, para limpar manchas desonrosas ou corrigir injustiças, foi amplamente utilizada por todos os cangaceiros, principalmente Lampião. O atestado de óbito de José Ferreira se encontra no Cartório de Água Branca, sertão de Alagoas. Por que só Billy James Chandler e eu fomos até lá ler a documentação? Estão lá as descrições sobre os Porcino (sobrenome - Lacerda).

OM - Mesmo se levarmos em consideração que Virgolino não matou nenhum dos seus principais inimigos: Zé Saturnino e Zé Lucena. Desde quando Lampião começa a se envolver com os coronéis?

LB - A partir de 1922, já com seu próprio bando, ele passa a se envolver com os coronéis em sua atividade pelo sertão. Os grandes protetores dele são desembargadores, juízes de direito e altos industriais. Além da corrupção nas forças legais: Quando um destacamento policial ia perseguir os cangaceiros, eles eram avisados por membros corruptos. Por isto os Nazarenos exigiram do governador de Pernambuco, quando criaram suas próprias volantes, que só eles escolheriam seus companheiros de campanha, denunciando traições praticadas contra policiais que não pertenciam à indústria do cangaço.

OM - Lendo sua obra vemos o registro de nomes de juízes e políticos que recebiam o cangaceiro em suas residências e o apoiavam para que suas terras fossem poupadas. Por exemplo, o então interventor do estado de Sergipe, Eronildes de Carvalho. Certo?

LB - Eronildes chegou a lhe fornecer armas. Existem entrevistas em que Eronildes afirma ter dado uma pistola para ele, negando ter lhe vendido armamentos. Ele foi o principal protetor de Lampião. Veja meu livro, páginas 184 a 187.

OM - Como esta relação de "amizade" entre Virgulino Ferreira e os grandes proprietários de terra é explicada?

LB - Era um jogo de interesses. O esquema fazia com que Lampião atacasse apenas os adversários de seus padrinhos. Depois os grandes proprietários compravam por quase nada as terras dos concorrentes arrasadas por ele. Assim, eles refazem o latifúndio do Nordeste. Muitas viúvas entregaram suas terras, depois do ataque que matou seus maridos, pelo dinheiro da passagem e fugiram para São Paulo, salvando os filhos.

OM - Mas, esse sistema de favores beneficiava apenas Lampião?

LB - Não só a ele. Alimentava a "indústria do cangaço". Ele assaltava os pequenos e médios proprietários e esse dinheiro era usado para comprar armas, munição e polícia corrupta. Mas quem poderia vender armamento para ele sem ser punido? Só pessoas muito importantes tinham o monopólio do comércio com o cangaço. E como Lampião não poderia regatear preço com o poderoso, já que só este lhe poderia vender armas, era obrigado a continuar a vida de crimes para pagar os altos preços cobrados. Suas requisições de dinheiro a cidades ou pessoas cresceram tanto, que o montante roubado do trabalho dos sertanejos, num ano, correspondia aos gastos da Intendência (atual Prefeitura) do Rio de Janeiro, Capital da República, com saúde e educação. 

OM - E estas 'verbas', para a 'indústria do cangaço' provinham de onde?

LB - Alimentada pelo governo federal, essa "indústria" do banditismo chega ao fim em 1938, por questões econômicas. Naquele ano, o presidente do recém-criado Instituto do Açúcar e do Álcool, o pernambucano Barbosa Lima Sobrinho, informa aos governadores de Alagoas e Pernambuco que a verba para o subsídio da produção açucareira, que já vinha sendo dada aos usineiros sulistas desde 1917, no Nordeste vinha sendo destinada ao combate ao cangaço e ao nunca pago ressarcimento das vítimas. E que isso teria de acabar! Depois dessa notícia, o governador de Alagoas, Osman Loureiro, incumbe o coronel Lucena de comandar o extermínio do bando de Lampião em um período de um mês. Lucena convocou seus homens e afirmou que se eles não cumprissem a tarefa no prazo seriam demitidos, respondendo Lei Marcial. Em 30 dias acabou o cangaço, com o massacre contra o grupo do cangaceiro ocorrido em julho de 1938, na Grota de Angico, Sergipe.

OM - Se analisarmos mais profundamente, a maioria das obras sobre o cangaço de Lampião persistem num erro histórico?

LB - Há necessidade de se corrigir este erro. Ao contrário do que se acredita, no período de Lampião as populações pobres são as mais atingidas por seus atos, enquanto as classes que o protegiam ficavam cada vez mais ricas. Esses fatos ficaram obscuros porque quando se cria um mito a primeira coisa que a imprensa faz é esconder a verdade sobre sua vida.

OM - Em nome da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC, com sede em Mossoró, da qual vosmecê nos honra em tê-la como sócia efetiva, fique à vontade para as considerações finais...

LB - Analisando a realidade do mundo contemporâneo ressalta a permanência da miséria que avilta e joga seres humanos sem perspectiva de vida social digna nos planos assassinos dos que vivem do sangue, do trabalho e da morte dos filhos de Deus! Se o Padre Mestre Ibiapina, o maior de todos os nordestinos nascidos no sertão, estivesse hoje redivivo, tornaria a bradar aos homens de bem deste país: NÃO HÁ JUSTIÇA ENTRE OS HOMENS!

http://lentescangaceiras.blogspot.com.br/2008/07/entrevista-luitgarde-barros.html


ANIVERSARIANTE DO DIA 12 DE ABRIL DE 2013.


Nesta sexta-feira, dia 12 de abril, estará completando mais um ano de vida o nosso amigo e colaborador deste blog, Rogério Mota, natural de Recife-Pe, com raízes e paixão por Triunfo, considerada a cidade "Oásis do Sertão" de Pernambuco, onde suas avós e mãe são naturais. 


O amigo Rogério é formado em Administração com Gestão em Marketing Despachante Aduaneiro da Aduana da Receita Federal Atualmente aposentado e com empresas prestadoras de serviços para o Ministério da Agricultura em PE e PB.


Nós que organizamos este blog,  escritores e colaboradores desejamos ao amigo Rogério Mota, muitos anos de vida, e que tenha uma feliz festa, e continue enviando os seus artigos sobre a cultura brasileira. 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


Cangaceira Durvinha.- Um pouco de sua história.

Por: João de Sousa Lima

Um ano depois da emboscada policial em Angicos (SE), em 1938, que resultou na morte de Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros, um bebê com 30 dias foi entregue ao padre Frederico Araújo, de Tacaratu, no sertão de Pernambuco, a cerca de 450 quilômetros a oeste de Recife. Um bilhete anônimo, ilustrado com garranchos que imitavam letras, identificava os avós e a mãe, Durvalina Gomes de Sá. Durvalina era Durvinha, cangaceira do bando de Lampião. Com a morte do chefe, caíra na clandestinidade. Fugia da polícia rompendo a caatinga, ora na Bahia, ora em Pernambuco, sempre ao lado do companheiro, Antonio Inácio da Silva, o cangaceiro Moreno.

Durvinha e João de Sousa Lima, na residencia da cangaceira em Belo Horizonte.

O menino - primeiro dos seis filhos do casal - foi registrado como Inácio Carvalho Oliveira, sobrenome da família que o adotou quando estava com 6 anos, após a morte do padre. Adulto, Inácio mudou-se para o Rio. Entrou para a Polícia Militar.

Durvinha lançando com o autor sua biografia.

Tornou-se segundo tenente. Em 2005, com 66 anos de idade e já reformado, soube enfim que os pais estavam vivos e formavam o último casal sobrevivente do cangaço. Moravam em Belo Horizonte e se chamavam Jovina Maria da Conceição e José Antonio Souto, nomes registrados em carteiras de identidade e com os quais buscaram afastar os fantasmas do passado.

Almoço na casa da cangaceira com os filhos Murilo e Nely

Toda esses fatos foram contados ontem por parte dos protagonistas, no encerramento do 1º Congresso Nacional do Cangaço: Cultura e Memória, realizado no Museu da República, mais um prédio futurista projetado por Oscar Niemeyer na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Em Brasilia participando do 1° encontro do cangaço do Brasil

Durvinha, de 92 anos, estava lá, para narrar seus feitos; Moreno, de 96 anos, sofreu uma queda pela manhã e teve de ser levado para o Hospital de Base. "Me sinto tão culpada. Ele caiu porque foi pegar um sapato meu. Nós dois já não enxergamos quase nada." A informação do hospital é de que Moreno está bem e deve ser liberado hoje.

Durvinha sendo entrevistada por João e Kydelmir Dantas em Brasileira-DF

O crachá da cangaceira registrava o nome da identidade, Jovina Maria da Conceição. Inácio, porém, não a chama assim. Para ele, é Durvalina ou Durvinha. Do pai, nem conseguiu se lembrar o nome todo na identidade. "Acho que é José Antonio, e tem um sobrenome aí que não sei. Para mim, ele é o Antonio Inácio da Silva ou o Moreno." Inácio disse ter por hábito visitar Tacaratu quase todo ano.

FUGA

Durvinha nasceu em 1915 no povoado de Arrasta-pé, em Curral dos Bois, hoje Paulo Afonso (BA). Ainda mocinha abandonou a casa dos pais para correr atrás do cangaceiro Virgínio, cunhado de Lampião. Não sabe quantos anos tinha. "Não havia registro. Era tudo na bruta. A gente se juntou. Não chegamos a ir ao padre". Disse que teve dois filhos com Virgínio, dos quais nunca mais teve notícias depois dos tempos do cangaço.

Mensagem de João de Sousa Lima na morte da amiga Durvinha.

Virgínio foi morto em 1936. "No bando não podia haver viúvas. Pelas leis lá, ou elas se casavam com outro cangaceiro ou eram mortas. Moreno se propôs a ficar comigo", disse Durvinha. Com ele teve outros seis filhos: Inácio, que só conheceu há dois anos, e outros cinco, todos morando em Belo Horizonte. Durante as fugas pela caatinga, o jeito era pegar um pedaço de rapadura aqui, um punhado de farinha ali, driblar a fome e a polícia. "Morria de medo de ser degolada, como Lampião."

Em Fortaleza o recontro do casal Moreno e Durvinha com a amiga Aristeia.

No filme Baile perfumado (1996), direção de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, aparecem imagens do bando de Lampião feitas entre 1935 e 1936 pelo libanês Benjamin Abrahão. Numa delas, Durvinha dança com Moreno, embora estivesse na companhia de Virgínio. Noutra, avança sobre a câmera com o revólver na mão. Durante os combates, ela levou um tiro na coxa esquerda. "A carne rasgou de fora a fora. Os cangaceiros me salvaram jogando um litro de pimenta." Durvinha disse que só teve uma razão para aderir ao cangaço: a paixão por Virgínio.

Lançamento da biografia em Belo Horizonte

João de Sousa Lima é escritor, pesquisador, autor de 09 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. Telefones para contato: 75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br

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ARISTÉIA CHORA A MORTE DA IRMÃ, A CANGACEIRA ELEONORA - PARTE II

Por: João de Sousa Lima

Eleonora vivia com o cangaceiro Serra Branca, que chefiava um grupo de aproximadamente cinco cangaceiros. Grupo esse pouco conhecido por viver sempre escondido nas terras alagoanas. Os cangaceiros desse bando não ganharam destaque em combates, saques e nem crimes, fugindo da realidade do mundo que cercava os caminhos dos cangaceirismo, vida cheia de entrechoques perigosos e violentos.

No dia 20 de fevereiro de 1938, com as rodagens cercadas por policiais, que davam segurança e proteção ao interventor Dr. Osmar Loureiro, de viagem pelos sertões alagoanos, o tenente João Bezerra deixará sua volante nas proximidades do Inhapí, ao cômodo do soldado Juvêncio, totalizando nove homens no grupo, que estavam arranchados perto de uma cacimba.

Os soldados estavam bem á vontade ao redor da cacimba, desarreados dos bornais, chapéus e cartucheiras, estando alguns sem alparcatas.

Com o amanhecer, entre nove dez horas, enquanto Antonio Jacó tirava água do riacho, ele observou um cachorro que se aproximou da cacimba e desconfiou que, pela ornamentada coleira que possuía, só podia ser cachorro de cangaceiro. Os soldados tinham realmente razão, era o grupo de Serra Branca que vinha se aproximando.

O chefe trazia nas costa, uma banda de bode, sendo seguido pela mulher Eleonora e mais dois companheiros, entre eles o Ameaça Antonio Jacó viu quando o soldado Cornélio levantou-se e empunhou o fuzil, se preparando para atirar, enquanto ele ajeitava, na cintura, suas cartucheiras com vinte e cinco cartuchos. O tiro zoou, partindo da arma de Cornélio Jacó correu em perseguição aos cangaceiros, sendo acompanhado pelo soldado Zé Gomes. Na frente de Antonio Jacó corria o cangaceiro Serra Branca e na frente tentava fugir Eleonora. Jacó gritou:

- Se vira cabra, pra brigar. Se vira pra brigar!

(Acompanhem a perseguição sendo relatada pelo próprio Antonio Jacó):- Eu atirando, atirando e correndo. Aqui e acolá ele ( o cangaceiro ) se virava, dava um tiro e corria. Até que ele se apadrinhou numa catingueira, mas ficou assim meio de fora eu tive a oportunidade de atirar bem nele. A bala pegou assim na altura da pá com as costelas e saiu do outro lado, ele se torceu, jogou a banda de bode prum lado e correu. Ai eu vi que tinha ferido ele, porque das costas saia sangue. Quando ele saiu correndo eu sai na carreira atrás dele de novo. Adiante tinha um riacho, ele pulou embaixo, já com pouca força. O riacho tinha assim um metro e meio de fundura, mais tava seco. Na carreira que eu ia nem deu para parar na ribanceira do riacho. Ele tava com o rifle armado e pronto para atirar e como não deu pra mim parar eu pulei encima dele. Ele assombrou-se com o que viu e ocorreu. Quando ele virou as costas, ai eu aproveitei e pá. Ele caiu debruçado. Mais eu i que ele não tinha morrido. Quando ele caiu, a mulher que ia na frente dele viu que ele não podia mais correr, virou-se abriu os braços. Não sei por que ela abriu os braços assim, porque foi tudo rápido, não deu para pensar em nada. Naquele instante, Zé Baixinho vinha atrás de mim e eu não sabia que ele vinha atrás de mim, acompanhando aquela correria toda. Zé Baixinho que vinha correndo mirou o mosquetão e atirou na mulher de braços abertos e acertou bem no meio da testa. Foi um tiro só. A mulher tombou no chão na mesma hora.

O soldado Zé Baixinho aproximou-se de Serra Branca. O cangaceiro apesar do tiro que havia tomado levantou-se e atirou. Zé Baixinho caiu entre os matos. Antonio Jacó atirou no estômago do cangaceiro acabando de matá-lo. Zé Baixinho levantou-se apenas atordoado pelo susto do tiro, sem ser ferido. Antonio Jacó cortou a cabeça do casal, amarrou um crânio no outro pelos cabelos e retomou trazendo os dois troféus, na direção da cacimba, onde estavam arranchados. Na cacimba, Cornélio estava com a cabeça do cangaceiro Ameaça, separada do corpo cortada por facão. O tenente João Bezerra que estava um pouco distante na hora do tiroteio, mas que havia ouvido os tiros, já se encontrava na cacimba quando Antonio Jacó foi avistado seguindo por dentro do riacho, trazendo as cabeças e os pertences dos cangaceiros. Os soldados levantaram as cabeças cortadas mostrando-as aos amigos. Depois de alguns minutos de conversa, diante da observação do tenente João Bezerra, foi que eles foram ver que Antonio Jacó tinha perseguido os cangaceiros, estando descalço, sem camisa e sem chapéu.

Os soldado retornaram pra piranhas, transportando as cabeças. De Piranha foram pra pedra de Delmiro e de lá seguiram pra Santana di Ipanema, onde entregaram as cabeças aos coronéis Zé Lucena e Teodoro de Camargo Nascimento. Os coronéis deram a patente de cabo a Antonio Jacó repassou a patente para o amigo Juvêncio.

Em Santana do Ipanema, os soldados Cornélio, Zé Baixinho, Elias, Octácilio, Zé Gomes e mais alguns companheiros, prestaram contas aos seus superiores hierárquicos, tendo por provas os crânios das vitimas abatidas em combate.

Entre as macambiras espinhentas da caatinga, três corpos alimentavam animais selvagens, enquanto na fazenda Lajeiro do Boi, os pais de Eleonora sofriam a perda de uma filha querida. Aristéia soube através dos coiteiros da morte da irmã e por ela verteu lágrimas sentidas.

O padre Demuriês, que celebrava a missa na região de Mata Grande, Canapí, Inhapí e nas fazendas circunvizinhas, criava em segredo o filho de Eleonora e Serra Branca, um menino chamado Francisco de Sá. Assim que o padre ficou sabendo da morte da amiga cangaceira, convocou alguns fiéis e foi, em segredo, enterrar Eleonora. O padre chegou com facilidade onde estava o corpo, sendo auxiliado por vaqueiros conhecedores da região. No local, o Ministro de Deus encomendou o corpo e o enterrou em côa rasa aberta na urgente necessidade do momento e coberta por facheiros e macambiras, deixando sepultada uma vitima que antes de tudo fazia parte de sua vida, ficando, por recordação da amiga, um filho deixado por ela.

CONTINUA...

João de Sousa Lima é escritor, pesquisador, autor de 09 livros. membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. telefones para contato: 75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br

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MULHERES DE ASAS

Por: Rostand Medeiros

DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AS MULHERES AMERICANAS QUE VOARAM NO WASP MOSTRARAM SEU VALOR, CORAGEM E DEDICAÇÃO. MAS TAMBÉM SOFRERAM TODA SORTE DE HUMILHAÇÕES POR SEREM APENAS MULHERES QUE QUERIAM VOAR


Autor – Rostand Medeiros

Em setembro de 1942, uma piloto norte-americana de 28 anos de idade chamada Nancy Harkness Love conseguiu convencer o ATC – Air Transport Command a deixá-la treinar outras mulheres já licenciadas como pilotos civis, em funções destinada a pilotos militares masculinos. Elas teriam a função de levar aviões para inúmeras bases aéreas, recém-saídos das várias fábricas então existentes em todo os Estados Unidos.

A princípio foram selecionadas 27 recrutas, as primeiras mulheres a pilotar aviões militares na terra do Tio Sam e logo elas faziam parte do Women’s Auxiliary Ferrying Squadron -WAFS. Em pouco tempo este esquadrão foi ampliado e se tornou o Women Airforce Service Pilots – WASP, uma organização não militar dentro de um grande esquema militar. Aquilo era na verdade um experimento.


As meninas do WASP viveram e trabalharam em mais de 120 bases aéreas nos Estados Unidos. Elas usavam uniformes, seguiram códigos militares rigorosos e recebiam ordens como qualquer um que estava nas forças armadas americanas na época. Mas como sempre ocorre quando as mulheres adentram em uma nova área de trabalho, elas sofreram preconceitos severos.

Elas não usufruíam de um seguro de vida e de acidentes, não tinham maiores benefícios em caso de morte e não poderiam ser enterradas em um cemitério militar com as honras de praxe. Elas não podiam alcançar nenhum posto de significado fora de sua organização, nem podiam dar ordens aos homens. Havia uma lei federal que proibia as mulheres de pilotar aviões militares em situação de combate ou fora das fronteiras dos Estados Unidos. Mesmo assim elas foram adiante e 38 mulheres do WASP morreram em acidentes.


No final elas tinham o que comemorar.

O que tinha começado como um “experimento” deu muito certo. Até o final da guerra o programa WASP treinou quase duas mil mulheres, das quais mais de 1.000 foram graduadas com sucesso e orgulhosamente ganharam suas “asas”, que ostentavam no seu uniforme. Elas transportaram quase 12.650 aeronaves militares, voaram mais de 60 milhões de quilômetros e realizaram outros inúmeros trabalhos de pilotagem.

Quando os Aliados ganharam o controle na Europa e os americanos voltaram para casa, o experimento foi encerrado. As mulheres receberam ordens de abandonar seus empregos como pilotos, para dar lugar aos homens que retornavam e logo ficou claro que era quase impossível para elas encontrar um emprego na aviação civil depois da guerra. Algumas poucas optaram por entrar para o exército e a grande maioria voltou para as suas vidas anteriores.

Ao pesquisar na Internet a vida destas aviadoras pioneiras percebi que muitas nunca mais voltaram a pilotar, mas para a maioria delas o período da Segunda Guerra Mundial foi onde tiveram alguns dos melhores dias de suas vidas. Cada uma destas histórias é verdadeiramente fascinante.


Entre as que continuaram utilizando uniformes temos o caso de  Nancy Harkness Love, que depois da criação da Força Aérea dos Estados Unidos em 1948, se tornou tenente-coronel. Em maio de 1953 uma ex-piloto do WASP chamada Jackie Cochran, voando um poderoso caça a jato Canadair F-86 Sabre, se tornou a primeira mulher piloto a quebrar a barreira do som. Na década de 1960 a mesma Jackie Cochran se envolveu com o programa espacial Mercury, para desenvolver um projeto de treinamento para mulheres astronautas. Durante este trabalho pioneiro algumas mulheres ultrapassaram as realizações dos astronautas do sexo masculino. Mesmo assim a NASA decidiu cancelar este programa sem maiores explicações. Inclusive os famosos astronautas John Glenn e Scott Carpenter foram ao congresso americano e abertamente se colocaram contra a admissão de mulheres no programa espacial americano.

O papel das mulheres do WASP é quase sempre avaliado pelos historiadores normalmente como uma simples notinha de rodapé nos volumes sobre a Segunda Guerra Mundial. O mais incrível em relação a desativação deste programa foi a ordem do Pentágono, o ministério da defesa dos americanos, que ordenou o fechamento dos arquivos referentes ao trabalho destas mulheres e tornou estas informações como “classificadas”. Por mais de 30 anos, ninguém falava, escrevia, ou aprendeu algo sobre as mulheres do WASP e seu trabalho.


Na década de 1950 algumas destas mulheres fizeram reivindicações para receberem as mesmas vantagens que os homens recebiam por ferimentos sofridos na guerra. Uma delas solicitou assistência por causa da surdez provocada pelo trabalho nos aviões, mas além de ter o beneficio negado, foi severamente repreendida por fazer o pedido, uma vez que ela não era considerada uma veterana.

Mas essa verdadeira infâmia realizada pelo governo americano contra estas valorosas mulheres não parou por aí. Em 1977 um anúncio feito pela Força Aérea dos Estados Unidos informava que 10 mulheres seriam licenciadas como as “primeiras” a voarem em aviões militares naquele país. Isso provocou um verdadeiro rebuliço nas meninas do WASP, agora distintas avós. Mas elas não desistiram e foram a luta.

Reuniram assinaturas para apoio a um projeto de lei para que concedesse as veteranas do WASP todos os benefícios que os veteranos de guerra do sexo masculino recebiam. O apoio veio de gente como William Randolph Hearst, então o grande magnata da imprensa americana e de outras pessoas bem colocadas na sociedade americana.

Finalmente em novembro de 1977 foi aprovado o projeto de lei que trazia justiça a situação daquelas mulheres. Elas agora eram veteranas.

Em 1 de julho de 2009, o presidente Obama concedeu a Medalha de Ouro do Congresso, a maior honraria civil dos Estados Unidos, para as mulheres que participaram do WASP. Estavam na cerimônia cerca de 175 veteranas ainda vivas e mais de 2.000 membros das famílias das pilotos já falecidas .


No final de outubro de 2012 lancei o meu livro “Eu não sou herói-A história de Emil Petr”, que conta a história do veterano de guerra Emil Anthony Petr. Ele foi oficial navegador de radar da USAAF –United States Army Air Force, lotado em um bimotor quadrimotor B-24 que tinha a sua base no sul da Itália. Ainda no período de treinamento teve contato com algumas meninas da WASP, em uma engraçada história que reproduzi no capítulo 10, nas páginas 74 a 76.

“Sobre a condição natural de evacuação de resíduos líquidos e sólidos, que afeta a todos os seres humanos na face da Terra, Emil recordou um caso engraçado.

Como eles voavam para várias partes do país, em meio aos exercícios, não era anormal transportar algum militar em trânsito entre uma base aérea e outra. Em uma ocasião, durante um voo que tinha como destino a base aérea de Las Vegas, atualmente conhecida como base aérea de Nellis, para deleite da tripulação em que Emil estava provisoriamente engajado, deram carona a algumas moças da WASP – Women Airforce Service Pilots (Mulheres Pilotos a Serviço da Força Aérea). Esta era uma organização criada dentro da USAAF que utilizava apenas mulheres com a função prioritária de transportar aviões novos e usados, a partir de suas locais de fabricação ou entre as muitas bases aéreas existentes.


Era a primeira vez que elas voavam em uma B-24 e estavam curiosas. Já a tripulação masculina se desdobrava para tornar a viagem mais agradável e tranquila para as garotas. Estavam todos animados, de riso aberto e tratavam as colegas com muito respeito.

Mas uma delas estava com uma aparência que transparecia preocupação. A jovem não falava muito, olhava dos lados, como procurando algo. Em solo ela não se mostrou uma pessoa arredia, nem antipática, isso apontava que alguma coisa estava errada. Logo se soube que ela estava “apertada”, precisando ir ao banheiro da aeronave. Quando lhe mostraram um dos canos, a sua face mudou de preocupação para a de terror.

Apesar de alguns tripulantes acharem que ela deveria ir para o local destinado a este fim, os oficiais, Emil entre eles, já arquitetavam tirar o artilheiro de ré do seu posto e a moça iria se resolver por lá mesmo. O rapaz que ocupava este local não gostou nem um pouco da sugestão.


Para a sorte da jovem, nos momentos finais, chegou pelo intercomunicador a notícia que o piloto avistou Las Vegas, o destino das garotas. Emil conta que mal a B-24 parou, a pobre coitada desceu e desabou em uma carreira para o banheiro mais próximo, que aparentemente era masculino.

Mas na hora do desespero, vale tudo!”

Conforme podemos ver nestas fotos aqui apresentadas, a meninas do WASP não abriam mão de sua feminilidade e beleza. Junto com os uniformes e equipamentos de voo, seguiam o batom, material de maquiagem e coisas que deixam as mulheres, seres que se não existissem tornariam a vida dos homens um verdadeiro lixo, cada vez mais belas.
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