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sábado, 7 de setembro de 2013

Tributo - Meu amigo Candeeiro

Por Carlos Megale

 Megale e o saudoso amigo "Né"

Quando eu e o Sabino Bassetti iniciamos as pesquisas para o livro LAMPIÃO: Sua morte passada a limpo, tivemos a grata satisfação de conhecer o Sr.Manoel Dantas Loyola, o ex-cangaceiro Candeeiro, ou simplesmente “Seu Né” para os mais chegados. Pessoa agradável com quem conversamos por diversas vezes sobre o cangaço, Lampião e a tragédia de Angico. Tantas e tantas vezes o visitei em sua casa na Vila de São Domingos que nasceu entre nós, uma grande amizade.

 
Sabino Bassetti

Aprendi a admirar aquele homem simples, quase centenário, com historias de vida dignas de um Gulliver. Durante nossas longas conversas, viajei no túnel do tempo e, coloquei-me entre os cangaceiros em suas intermináveis caminhadas, entre eles quando lutavam contra as volantes policiais e sentia frio na espinha quando me via no meio do combate de Angico. Menino pobre nasceu e se criou no município de Buíque em Pernambuco, de onde partiu um dia para as terras de Alagoas e, trabalhando duramente de sol a sol no roçado para ganhar o seu sustento, conheceu em 1936, um bando de homens com vestimentas esquisitas, chapelões enormes e armas nas mãos.

Virgínio está ao centro da foto

O grupo do cangaceiro Virgínio vinha com uma volante policial em seu encalço, quando passou pela fazenda onde morava o jovem Manoel que não sabia que seu patrão era um coiteiro. Tomado de pânico e sem saber muito bem o que fazer ou para onde correr, acabou acompanhando aqueles homens. Passou então a se vestir e a viver como eles e, sem querer, sem um motivo aparente, virou um cangaceiro. Depois de mais de três meses na nova vida, depois de perambular pela caatinga com os cangaceiros Português e Jararaca, depois de ser ferido a bala em um tiroteio, conheceu Lampião e acabou ficando em seu grupo.

Lampião é o primeiro da esquerda

Homem sério, jamais mentia sobre os fatos que narrava,  limitando-se a contar somente aquilo que vivera ou tinha presenciado. Talvez por isso, por não compactuar com mentiras, diferente de muitos cangaceiros que durante a vida preferiram dar depoimentos distorcidos para agradarem determinados escritores, tenha muitas vezes sido ironizado e ridicularizado como “babá de cachorros”ou “fazedor de guizado”. Ele não foi nada disso e sua importância na historia do cangaço é significativa, já que foi um dos homens de confiança de Lampião.

Juscelino Kubstichek - www.medicina.ufmg.br

Viveu os dois últimos anos de vida do cangaço presenciando muitos acontecimentos, narrando-os sempre com um brilho nos olhos e, sem esconder uma grande admiração pelo seu antigo chefe. Após deixar o cangaço e acertar contas com a justiça, saiu pelo mundo à procura de novos desafios, sendo soldado da borracha no norte do país e depois trabalhando como Candango na construção de Brasília, a nova Capital Federal que surgia no planalto central pelas mãos de Juscelino Kubitschek. 

Carlos César de Miranda Megale.
Pesquisador e escritor do cangaço.

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br

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LANÇAMENTO DO LIVRO DE JOÃO BARONE EM NATAL

Publicado em 07/09/2013 por Rostand Medeiros
O autor deste blog junto a João Barone
 O autor do blog Tok de História junto a João Barone

Na última sexta-feira, 6 de setembro, mais uma vez tivemos o privilégio de encontrar o amigo e grande pesquisador João Barone em nossa cidade. Como comentado anteriormente em nosso Tok de História, ele aqui esteve para lançar junto ao público potiguar o seu novo trabalho “1942 – o Brasil e sua quase desconhecida guerra”.

O evento, mais do que bem movimentado, ocorreu na Livraria Siciliano do Midway e foi pleno de sucesso.

Barone sendo entrevistado pela jornalista Margot Ferreira, da Inter TV Cabugi
Barone sendo entrevistado pela jornalista Margot Ferreira, da Inter TV Cabugi

Entre os amigos de Natal com quem tive oportunidade de encontrar, era unânime a positiva opinião sobre a qualidade do livro. Bem como o fato do trabalho de Barone ser um material que pode muito bem ajudar aqueles que não conhecem o tema da participação do Brasil na segunda Guerra Mundial a terem um primeiro contato.

Parabéns ao amigo João Barone e que venham outros livros tão interessantes quanto  ”1942 – o Brasil e sua quase desconhecida guerra”.

Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.wordpress.com

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E A UNIVERSIDADE DO SERTÃO VAI PARA...

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

E A UNIVERSIDADE DO SERTÃO VAI PARA...

Desde muito que se comenta sobre a criação de uma Universidade Federal no Alto Sertão Sergipano do São Francisco. Somente agora, depois de muitos rogos, abaixo-assinados, caminhadas e outras manifestações, o governo federal decidiu sobre a viabilidade do projeto e a sua efetiva implantação.

Contudo, também desde muito que outro problema vem instigando o sertão em peso. Todo mundo quer saber onde será implantado o campus da Universidade do Sertão. De antemão, todos já sabem que inicialmente funcionará nas instalações do Centro Dom José Brandão de Castro, uma unidade de formação agrícola localizada no município de Poço Redondo. Mas não há certeza se haverá ampliação dos espaços para a unidade continuar funcionando no local.

E não há certeza porque três municípios sertanejos sobressaíram-se no pleito reivindicatório e agora aguardam ansiosamente para saber qual será o escolhido: Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo e Canindé do São Francisco. E cada um com seus motivos, suas feições próprias e seus imensuráveis desejos de ter a Universidade do Sertão instalada em seus quadrantes.


Nossa Senhora da Glória, ou Boca da Mata como originariamente conhecida, pois dali em diante verdadeiramente se adentra ao sertão, é reconhecida e valorizada como polo regional sertanejo. E nesta condição já recebeu inúmeros benefícios governamentais, bem como a instalação de órgãos públicos e privados essenciais, núcleos de ensino superior, além de contar com um comércio bastante desenvolvido para a região.

Canindé do São Francisco se caracteriza como o município sertanejo que mais progrediu nos últimos vinte anos, com reais possibilidades de desenvolvimento cada vez maiores, sem esquecer as facilidades advindas com os royalties da Hidrelétrica de Xingó. Não há que se negar o Toque de Midas do desenvolvimento ali observável, vez que a riqueza municipal cria amplas possibilidades de ali ser gerada, e em pouco tempo, uma verdadeira metrópole sertaneja.

Contudo, como ocorre também com Nossa Senhora da Glória, o município de Canindé continua padecendo com as situações de pobreza mais aviltantes, com a má utilização de recursos e um desenvolvimento sem as estratégias suficientes para minimizar o problema do crescimento com o aumento da miséria social. Ainda assim, indubitavelmente, estes são os dois municípios que possuem maiores chances de abrigar a Universidade do Sertão.

E quanto a Poço Redondo? Infelizmente, nada de bom poderemos tecer a respeito de Poço Redondo. Dificilmente uma universidade seria instalada onde nem município há mais. O que se vê e o que se tem naqueles ermos distantes são escombros de um saudoso passado, um lugar marcado por recentes administrações que o transformaram num verdadeiro mausoléu dos esquecidos de tudo. Não há saúde, não há infraestrutura, não há ruas transitáveis, não há comércio, não há qualquer perspectiva boa que se possa ter como esperança.

Seria bairrismo demais, exagerado ufanismo, pretender que um centro de ensino tão dignificante, com arcabouço pessoal e profissional do mais gabaritado, vá se instalar onde não há nem um restaurante decente na cidade, onde a praça principal mais parece um encravamento de catacumbas, onde a imundície impera em cada canto e a feira é realizada por cima das calçadas da população. Há de se lembrar que a instalação de uma universidade requer que o município possua, no mínimo, infraestrutura para recebê-la. E pergunto: Onde está a infraestrutura de Poço Redondo?


Mas há uma esperança. Como fizeram com a África do Sul e agora com o Brasil para sediar copas do mundo, quando reviraram tudo para construir, talvez possam fazer assim também com Poço Redondo. Será preciso, pois, construir outro Poço Redondo. E misturar no entulho os recentes administradores, responsáveis que são pela lastimosa situação de agora. Somente assim haverá esperança.

Gostaria muito que o meu município fosse o escolhido. Torço por isso. Mas não vivo de ilusões. É preciso reconhecer que paramos no tempo, que não significamos mais nada no contexto sertanejo. E Glória e Canindé estão milhões de anos-luz à nossa frente. E estes, que tão bem souberam se desenvolver, agora merecem ser reconhecidos. E Poço Redondo terá que renascer das cinzas. Infelizmente.

E que doa a verdade. E que açoite a verdade escondida. Mas dela não há como fugir.

Rangel Alves da Costa, nascido em 1963, é natural de Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano do São Francisco. É advogado e escritor, e reside em Aracaju. Já publicou os seguintes livros: Estórias dos Quatro Ventos (crônicas), Memória Cativa – O Sertão em Prosa e Verso, Sertão - Poesia e Prosa, Tempestade (romance), Ilha das Flores (romance), Evangelho Segundo a Solidão (romance), Desconhecidos (romance), Todo Inverso (poesias), Já Outono (poesias), Poesia Artesã (poesias), Andante (poesias), O Livro das Palavras Tristes (crônicas), Crônicas Sertanejas (crônicas), Crônicas de Sol Chovendo (crônicas), Três Contos de Avoar (contos), A Solidão e a Árvore e outros contos (contos), Poço Redondo – Relatos Sobre o Refúgio do Sol, Da Arte da Sobrevivência no Sertão, Estudos Para Cordel (prosa rimada sobre o cordel). Participou também da coletânea Gandavos - Contando outras histórias. Possui outros livros prontos para publicação, dentre os quais Nas mãos de Deus: um romance de injustiça e Entre a Ficção e a História - O Cangaço Imaginário. Colabora com artigos para o Jornal do Dia, de Aracaju. Diversos sites também publicam seus textos.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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EX-GUARDA-COSTAS DE HITLER MORRE AOS 96 ANOS

Publicado em 07/09/2013 por Rostand Medeiros
Rochus Misch, em entrevista em 2005; ex-guarda-costas e última testemunha viva de suicídio de Hitler morreu aos 96 anos - Herbert Knosowski - 10.mar.05/Associated Press

Rochus Misch, em entrevista em 2005; ex-guarda-costas e última testemunha viva de suicídio de Hitler morreu aos 96 anos – Herbert Knosowski – 10.mar.05/Associated Press

Morreu em Berlim nesta sexta-feira, aos 96 anos, Rochus Misch, ex-guarda-costas do ditador alemão Adolf Hitler.

josecarlosalexandre.blogspot.com

Misch sofria com as complicações de um acidente vascular cerebral, segundo Michael Stehle, detentor dos direitos de um livro publicado em 2007, no qual Misch descreveu seus anos ao lado de Hitler. A obra deverá ser publicada em inglês nas próximas semanas e teve prefácio escrito pessoalmente pelo escudeiro.

Pintor de parede, Rochus Misch se juntou muito jovem a SS, organização ligada ao partido de Hitler. Ele serviu ao “Führer” até 2 de maio de 1945, três dias após ter se suicidado, de modo que foi um dos últimos a ver o corpo do ditador.

“Hitler, sentando em uma poltrona, estava caído em sua mesa e Eva Braun estava deitada ao seu lado. Eu o vi com os meus próprios olhos”, declarou Misch em uma entrevista em 2005.

Aprisionado pelos russos, Misch passou oito anos em campos no Cazaquistão e na Sibéria antes de retornar a Berlim em 1953 e retomar seu trabalho como pintor. No setor oeste da capital alemã, Misch trabalhou em uma loja de pinturaaté sua aposentadoria.

Ele nunca se afastou verdadeiramente do nacional-socialismo, e continuava a descrever Hitler, a serviço do qual esteve a partir de 1940, como alguém “amável” e “gentil”. No entanto, reconheceu e condenou as mortes em campos de concentração.

“Agora estou bem informado”, disse em 2009. “Está claro que aconteceram coisas horríveis. Não há desculpa possível, houve campos de concentração. Isso não é possível negar”.

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/09/1337947-ultima-testemunha-viva-do-suicidio-de-hitler-morre-aos-96-anos.shtml

Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/09/07/ex-guarda-costas-de-hitler-morre-aos-96-anos/

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Programação Cariri Cangaço 2013 !


Cariri Cangaço
17 Setembro 2013
Terça-Feira
JUAZEIRO DO NORTE

Devido os problemas que estamos enfrentado em nosso blog, que não conseguiremos inserir todas as fotos deste artigo, aí está o link do blog Cariri Cangaço, para você ler a programação.

Se não conseguir abri o blog do cariri cangaço, leve o link até ao google.

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2013/09/programacao-cariri-cangaco-2013_6.html


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Historiador distribui dicionário de cultura pernambucana a médicos

Por: Lorena Aquino Do G1 PE
Dicionário de expressões de Pernambuco (Foto: Lorena Aquino/G1)
Dicionário de expressões de Pernambuco (Foto: Lorena Aquino/G1)

Adriano Marcena diz que muitas expressões locais têm origem na saúde. 'Tá com a peste', 'Infeliz das costas ocas' e 'tá com a bexiga' são exemplos. Lorena Aquino Do G1 PE

Para ajudar os médicos estrangeiros na compreensão das expressões mais tradicionais de Pernambuco, o pesquisador e historiador recifense Adriano Marcena distribuiu 40 exemplares de seu livro "Dicionário Escolar da Diversidade Cultural Pernambucana", lançado por produção própria no ano passado. Ele entregou as edições nesta sexta-feira (6), durante o evento de encerramento da semana do curso preparatório do programa Mais Médicos, no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em Vitória de Santo Antão, na Mata Sul (?) do estado.


O historiador contou que a intenção de distribuir o livro é tornar familiar aos estrangeiros algumas falas típicas e ajudar na compreensão na hora de ouvir a população do interior e das periferias das grandes cidades. Muitos dos verbetes do dicionário, inclusive, têm relação com medicina. "Nossas expressões populares têm muito a ver com a saúde, como 'tá com a peste', 'tá com a gota', 'tá com a bexiga' (varíola) ou 'infeliz das costas ocas' (tuberculose), 'febre do rato' (leptospirose)", disse ele, exemplificando alguns dos tópicos relacionados no livro. "São expressões antigas, do tempo em que foram consolidadas. É um livro que vai servir de consulta", completou.

Historiador Adriano Marcena (Foto: Lorena Aquino/G1)
Adriano Marcena distribuiu 40 exemplares do dicionário (Foto: Lorena Aquino/G1)

O livro, de 400 páginas, é uma reedição do seu primeiro volume, lançado em 2012, "Dicionário daDiversidade Cultural Pernambucana". Esta publicação tem mais de mil páginas e conta com 15 mil verbetes. A ideia da versão didática surgiu quando Adriano era professor. "Na época do fim de ano, eu via alunos e professores muito confusos na hora de dizer o que era maracatu, o que era caboclo, entre outras coisas da nossa cultura. Senti a necessidade de fazer um dicionário para que os pequenos aprendessem", disse ele. Esta edição, com cerca de 400 páginas, foi a distribuída aos cubanos nesta sexta.

"É para contribuir de certa forma com o projeto", disse Adriano. "Todo mundo que chega no Brasil merece nossa atenção. E também serve para diminuir esse preconceito com o programa", ele disse.

Enviado pelo escritor Ariano Marcena

http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/09/historiador-distribui-dicionario-de-cultura-pernambucana-medicos.html

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Cangaço Lampiônico: Antonio da Piçarra - Uma história que ouvi contar

Por: José Cícero
Manoel Severo, Jack de Witte, Anildomá, Bosco e Zé Cícero

"No decorrer de uma producente viagem cangaceira e deveras inesquecível que fizemos (Eu por Aurora, Bosco André  Missão Velha, o bom francês Jack de Witter e Manoel Severo o cara do Cariri Cangaço). Tudo isso com vistas a magna  comemoração do 1º Centenário de nascimento de Maria Bonita que ocorreu  em Paulo Afonso-BA.  Além de um verdadeiro Tur de conhecimento por Angico-SE, Delmiro Gouveia-AL, Serra Talhada –PE, Nazaré-PE, dentre outras paragens que assinalaram para sempre a imbricada história do cangaço lampiônico e nordestino ... Passamos inicialmente sob a batuta do Manoel Severo pela fazenda Piçarra(entre Porteiras e Jati) onde fomos recepcionados pelo gentman Vilson – neto do célebre coiteiro de Lampião naquelas bandas: Antonio da Piçarra.

Ocasião em que presenciei a rica e proveitosa conversa que toda a nossa equipe de pesquisadores tivera com um dos remanescentes do clã piçarrense.  Incontinenti e de modo conciso, tomei nota e passei tudo que ouvi para o papel e, por via de conseqüência, o nobre confrade J. MENDES, lá da Mossoró do Rio Grande, além de ilustrar de modo formidável e sugestivo(este comentário que à posteriori produzi para o site do  CC) também publicara no seu Blog e eu, de novo e novamente aqui a transcrevo para os meus informes da net, apenas com alguns acréscimos do original pretérito sob o título de uma série – Histórias e estórias que ouvir contar. Então, sem mais delongas vejamo-lo agora na sua íntegra original...(Jc):

Mestre e amigo Manoel Severo,

Saudações catingueiras!

(...) Ainda com relação ao que disse Vilson a mim, a você, Bosco André e Jack de Witte durante a nossa rápida passagem pela fazenda Piçarra nas brenhas do  bom Jati  eu pensei cá comigo:

...Com relação ao ótimo e fidedigno relato feito(quase em primeira mão) pelo Vilson Neto acerca da história que trata da suposta traição do seu avô a Lampião naquele lugar. Relatos feitos, como eu disse, durante  a nossa recente passagem com destino a Paulo Afonso na Bahia diria que o mesmo constituiu um informe histórico dos mais relevantes, sobretudo para esclarecer "escritos" e comentários, muitas vezes depreciativos com relação à suposta traição do Sr. Antonio da Piçarra - avô do Vilson atual proprietário-herdeiro da memorável fazenda.

Confesso que fiquei sensibilizado a partir do instante que o Vilson relatara o que o velho da Piçarra contava acerca da coação que sofreu para proceder como tal.(ver a questão da suposta traição). Notadamente quando após o diálogo que teve com o sagaz tenente Arlindo Rocha(naquele ano) e ante as ameaças veladas usando para tanto, a inegável e conhecida ferozidade do chefe de volante nazareno Manoel Neto, que aliás já se encontrava nas imediações da região.

- Seu Antonio, pense bem. O senhor tem família. Da minha parte eu até entende... Mas não sei até quando eu poderei segurar a ira do Manoel Neto. Acho bom se o sr. pensasse melhor e nos dissesse de uma vez onde está acoitado Lampião com o seu bando. Disse o tenente numa conversa que se passou na própria residência do coiteiro.

-  Sabemos que ele está nessa redondeza.- emendou.

Com estas palavras, o tenente Arlindo Rocha se dirigiu a Antonio da Piçarra,  na busca desesperada de pegar Lampião num ataque surpresa, como de fato aconteceu dias depois, inclusive redundando com a morte do valente e destemido cangaceiro Sabino Gomes que atingido quando ultrapassava o ‘Passador’ da cerca tomou seriamente ferido com um tiro no ventre naquelas terras.

Segundo, relatos de tão moribundo pediu ele mesmo para ser sacrificado e assim não atrapalhar a fuga de Lampião com todo o resto.

Prosseguindo: De modo que, sem saída e temendo pelos seus, o velho coiteiro assaz contrariado com aquelas ameaças teve que ceder...

No entanto, também não me esqueço da parte mais comovente segundo as palavras de seu neto naquele momento, quando todos nós estávamos ali sentados no mesmo banco caseiro e centenário que pertenceu ao velho.

Um testemunho inanimado no qual a história parecia está ali mesmo ao alcance das nossas mãos. Uma relíquia doméstica, na qual certamente tanto o coiteiro quando Virgulino, e assim parte do seu bando havia (como eu naquele instante histórico) também sentado. Era de fato para nós todos e para mim – um instante auspicioso se está ali.

Seguia Vilson no seu diálogo informativo...

"Tendo desconfiado da grande demora de Antônio da Piçarra para levar os mantimentos ao esconderijo,  o cangaceiro Sabino se dirige para Lampião e fala de modo eufórico, quase esbaforido:

- Capitão, capitão. Tô achando que Antoi da Piçarra lhe traiu, pois tá demorando além da conta. Já era tempo dele ter vortado com as encomendas e tudo...

Ao que Lampião, com absoluta segurança replica:

- "De jeito nenhum. Isso não! Naquele eu confio sem medo. Se Antoi da Piçarra cavar um buraco fundo no chão e mandar eu entrar, eu entro sem medo".

Contrariado, depois de ouvir aquela resposta da própria boca de Lampião, o cangaceiro Sabino de se afastou e deu as costas pra seu chefe mas, continuou olhando na direção do caminho...

Permaneceu desconfiado daquela delonga atípica do velho coiteiro, que sempre foi rápido, leal e prestativo.

Logo depois, a suspeita do Sabino se confirmaria: Um tiroteio surpresa dentro da manga da caatinga. Foi o primeiro a ser atingido com um tiro na barriga... E por conta disso veio a óbito. Até hoje não se sabe ao certo onde o cangaceiro-mor de Lampião foi enterrado.

Ainda, conforme os relatos de Vilson, o velho Antonio – seu avô, sempre contava essa história cabisbaixo (que ficou sabendo, não se sabe como, anos depois do trágico episódio).

Ele sempre narrava as palavras de crédito de lampião ditas pra Sabino, com lágrimas nos olhos...

- Meu avô era uma homem forte e de palavra. Deve ter sofrido muito com tudo aquilo, disse manuseando o último livro de Lira Neto sobre o padre Cícero.

Sempre atencioso se permitiu diversas vezes ser fotografado  ao nosso lado.

Não sei se compreendia o idioma, ou quase um  dialeto novo um tanto macarrônico

utilizado pelo pesquisador francês Jack de Witter. Mas o vi bem em seu longo palrar cangaceiro com o camarada Jack ladeados por Severo e o padre Bosco.

- A família também lhe pressionou com temor das perseguições e represálias do Arlindo e do Manoel Neto. As notícias que chegavam aqui em casa não eram das mais boas. Eram de ameaças. Dando conta de que Lampião não estava "bem das pernas" com seu bando exausto, sem arma e sem munição.

enfatizou para nós o herdeiro da fazenda.

As lágrimas que fluíam sempre dos olhos do avô quando tocava no assunto era a maior prova de que sofreu sobremaneira quando teve que tomar aquela decisão de indicar onde se encontrava exatamente Virgulino(seu amigo) junto com seu bando. A segurança da sua prole, de certo modo, falou mais alto no seu coração sertanejo de bom pai de família. Feriu fundo a dignidade daquele homem quase solitário naqueles grotões do mundo. Onde os ventos do cangaceirismo sempre(vez por outra) davam suas voltas. E retornavam mesmo e em cada empreitada nova com mais força, injustiça e violência. Coisas que quase ninguém mais sabia pra bandas da capital. Todos tinham que se virar por seu jeito. Todos tinham que se defender como pudesse. Era o velho sertão, como se diz, “ao Deus dará”, entregue que ficou durante anos, a própria sorte.

- Há quem dissesse que depois desta suposta traição, Lampião jurara vingança de morte ao velho da Piçarra. Até uma piada fizeram com este fato, falou.

 Mas, felizmente nada disso aconteceu. Seu Antonio da Piçarra viveu muito e deu adeus à vida no seu leito tranqüilo.

Também nos olhos de Vilson, mesmo depois de tantos anos, puder perceber que aquele acontecimento, também de algum modo especial o tocara fundo no seu íntimo. Era uma narrativa que nos prende a atenção e que também nos comove. Algo que nos colocava como que direto dentro do próprio cenário.

Quem sabe aquela história o fizera provar do mesmo sentimento amargo que naquele tempo mexera com o seu velho avô, dono da Piçarra.

E eu, cá comigo, pensei um pouco afastado olhando aquele chão onde tudo aconteceu.

De fato, a vida inteira para qualquer cristão do mundo é feita de escolhas. Mas, quantas escolhas ainda terão que serem feitas pelos protagonistas de todas as sagas e tragédias deste planeta chamado sertão?... Quantas opções difíceis e fatais todos têm que a elas se entregarem um dia por si mesmos, de corpo, alma, espírito e valentia em determinados momentos cruciais da vida?

Quantos foram os que, esquecidos pela escuridão da história, tomaram ou sofreram em demasias suas agruras  e conflitos assim como ocorreu com o velho Antonio da Piçarra por estes sertões adentro?

É, não deve ter sido nada fácil para o provecto coiteiro quase abandonado vivendo sua eterna lida nos rincões da sua fazenda Piçarra nas fronteiras de Brejo Santos, Porteiras e Jati.

Talvez por isso, haveremos de compreender no seu contexto mais elástico a difícil e cruel decisão que teve que ser efetivamente tomada pelo patriarca coiteiro Antonio da Piçarra.

Nada foi fácil. A vida era dura para todo mundo. Mas para o homem da Piçarra ela o exigiu além da conta.

Prof. José Cícero -
Secretário de Cultura
pesquisador do Cangaço
Aurora-CE

http://www.aurora.ce.gov.br/cultura/texto.asp?id=1807

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Luiz Gonzaga 100 anos Vida e Obra em Cordel – Parte II

Por: Arievaldo Viana

O EMBAIXADOR DO SERTÃO (trechos)


Encontro com Lampião

Certa feita Lampião
Passou lá no povoado
O povo da região
Ficou muito apavorado,
Seguia pra Juazeiro
O cangaceiro afamado.

As famílias se esconderam
Com medo de Lampião
Januário e sua gente
Arrumaram o matulão
E foram se esconder
Sob um pé de “sombrião”. 

Passados então dois dias
O Gonzaga disse assim
Eu vou lá no povoado
Ver se a coisa está ruim
Eu vou e volto escondido
Podem confiar em mim.

Nisto o velho Januário
Que admirava a coragem
Lhe disse: – Vá com cuidado
Pela margem da rodagem
Observe o movimento
E faça breve viagem.

Luiz foi, observou,
Lampião tinha saído,
Ele que era travesso
Um molequinho enxerido
Voltou em grande carreira
Fazendo um grande alarido:

- Corre gente! Corre tudo
Que Lampião vem chegando!!!
Com mais de cinqüenta cabras
Já vem se aproximando!
Foi enorme a correria
E a meninada chorando.

A rir dessa confusão
Gonzaga então começou;
Mas o velho Januário
Daquilo desconfiou
E devido a brincadeira
Um castigo ele levou.

Continua...

Revista Nordestevinteem
Edição nº. 41
Ano: IV
Dezembro de 2012.

Material do acervo do poeta, escritor e pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas.

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