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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Bangu, Memória de um Militante - Lauro Reginaldo da Rocha - Bangu - Parte VI

Por Brasília Carlos Ferreira – Organizadora, 1992



"QUINTO DIA” 

Pelos meus cálculos os torturadores chegaram mais cedo. A simples presença dos monstros nos causa um inexprimível estado de apreensão de desassossego. Ficamos na expectativa de que um golpe traiçoeiro nos seja desferido a qualquer momento e nos sentimos completamente indefesos.

Monteiro aproximou-se e repetiu a pergunta que me fizeram desde o primeiro dia: “Onde é que você mora?”Permaneci calado.

O Pequenino, rindo, largou esta bomba: “Não é preciso dizer. Já estivemos lá, na sua casa, na rua tal. Sua mulher está perto de ter criança. Quando ela nos viu entrar na sua casa, com as metralhadoras nas mãos, teve um ataque de nervos, quase que aborta, tivemos que chamar o médico às pressas” E continuou a dar detalhes sobre a casa para demonstrar que não estava mentindo.

Senti uma coisa esquisita pelo corpo, como se o sangue tivesse parado nas veias. Há pouco eu me indagava que espécie de golpe eu ia receber e este acabava de ser desfechado, fria e bruscamente, naquela notícia acachapante. O coração passou a bater desordenadamente, o torniquete que me comprimia o cérebro parecia ter dado várias voltas. Tive vontade de dizer: Miseráveis! Torturem-me! Cortem-me em pedaços! Mas, não mexam na minha família. A custo me contive, eu não podia perder a calma nem topar “provocações” tinha que aparentar indiferença. E continuei imóvel mudo.

Agora eles podiam a qualquer momento, trazer a minha mulher e os filhos para a sala das torturas, como já fizeram com outros. Com o estado adiantado de gestação e os nervos abalados em que se encontrava, a mulher não resistiria a uma tal prova. Restava a esperança de que a polícia, com seus métodos científicos, não quisesse correr os riscos e as responsabilidades da morte de uma parturiente em tais circunstâncias, com a conseqüente repercussão que poderia ter na opinião pública. Essa esperança todavia me parecia frágil e eu me sentia agora num estado da maior aflição.

Aos meus ouvidos chegava o som de uma cachoeira. Donde vinha esse barulho? E eu me lembrava: é a descarga do banheiro, ao lado. Eu sentia que ia acabar enlouquecendo. A boca estava ressecada, a garganta me ardia. Passei a estudar um meio de por fim a tudo isso. Sabia que estava um segundo ou terceiro andar. Mas, as portas e janelas estavam fechadas. O “tira” continuava sentado à minha frente, não arredava o pé.

Procuro afastar do pensamento a idéia do suicídio. Espremo os dedos, o pus fedorento nunca para de sair das feridas. É isto o que faço sempre que procuro afastar um mau pensamento, aperto e solto rápido as pontas dos dedos, o líquido purulento dá uns estalinhos esquisitos sob as unhas.

Do “quadrado” chegam os primeiros sinais de atividade. Preparo o espírito para enfrentar mais uma noite de terror.

Quando se aproxima a hora das torturas todos os nosso sentidos se aguçam, o instinto nos coloca na situação de um animal acuado, fisicamente sem nenhuma chance de defesa. Moralmente, porém, há um escudo com o qual nos protejamos: e a convicção de que nos batemos por um ideal justo e humano, a certeza de que o nosso sacrifício não será em vão e que o regime de iniqüidades em que vivemos terá fatalmente que ruir, mais cedo ou mais tarde, diante da avalanche dos que têm fome de pão e sede de justiça. Esta convicção, em nenhum momento, me abandonou.

Quando os gritos cessaram, chegou a minha vez, fui levado ao “quadrado”. Os meus pés deslizam sobre uma massa pastosa. É o sangue ainda quente dos companheiros que me antecederam.

Mais uma vez fui amarrado às maçanetas das portas. Os carrascos reiniciam as torturas vasculhando as feridas das unhas. As farpas de bambu são espetadas e reviradas, as gotas de sangue e pus das mãos e dos pés vão se juntar às poças já existentes no ladrilho. O ar está impregnado de um cheiro sufocante de coisa podre, suor e fumo. Quase não posso respirar.

De vez em quando sinto uma picada nas pernas ou nos braços, o corpo estremece: são as pontas de cigarro ou de charuto acesas que são encostadas à minha pele. Essas queimaduras deixam marcas passageiras mas feitas de surpresa, abalam ainda mais os nervos já em frangalhos.

As bolhas e pequenas chagas vão se multiplicando pelo corpo, como se tivéssemos sido atacados de varíola. Cada hora, cada minuto que passa, sentimos que um pouco de nossa vida se consome e se esvai. 

CONTINUA...


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Alunos do IFBA de Jacobina visitam Paulo Afonso e o Museu Casa de Maria Bonita

Por João de Sousa Lima

Alunos do IFBA de Jacobina visitam Paulo Afonso e seus roteiros turísticos e históricos.

Na quinta, dia  28, o escritor João de Sousa Lima  fez uma palestra falando sobre a entrada das mulheres no cangaço.
     
No domingo, dia 30, o historiador João Lima acompanhou os alunos até o Museu Casa de Maria Bonita.  A visitação aos pontos  históricos e culturais da cidade despertou um grande interesse entre os alunos e professores que prometeram voltar ano que vem.
 
Ficamos no aguardo desse retorno e  sempre pronto para acompanhar e contribuir com a formação dos alunos que despontam para o progresso da nação.

Professores, alunos e João Lima no Museu casa de Maria Bonita
Professoras com os livros de João de Sousa Lima
João de Sousa Lima e a professora Jociane
Alunos concentrados nas imagens do cangaço
Visitação ao complexo histórico de Generosa Gomes de Sá, no povoado Riacho

Casa de Generosa, Riacho, Paulo Afonso, Bahia
Palestra Mulheres no Cangaço



Enviado pelo o escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima



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