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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

ABEL JOSÉ DE SOUZA, O ÚLTIMO IRMÃO DO CANGACEIRO PANCADA

Por João de Sousa Lima

Abel José de Souza, o último irmão do cangaceiro Pancada reside em Paulo Afonso, no povoado Juá.

Abel é o irmão mais novo de Pancada.

Pancada e sua esposa Maria

Quando Pancada entrou para o cangaço, seus pais, José Teixeira  de Souza e Delfina  Maria da Conceição e os filhos Ananias, Antonio, Alta, João, Joana e Abel  tiveram que fugir do povoado Nambebé, atravessando o Rio São Francisco e indo residir nas terras do coronel Ulisses Luna, próximo a Água Branca, Alagoas.

A família correu com medo da perseguição da polícia e suas criações de bodes, ovelhas, porcos e galinhas tiveram que ficar e foram consumidos pelos soldados e pelos cangaceiros.

Depois do fim do cangaço a família retornou pras terras pauloafonsinas e vieram residir no povoado Juá. Da numerosa família só resta  seu Abel, lúcido, bom de prosa  e marcado ainda pelas histórias duras do cangaço e que envolveram sua família.




João de Sousa Lima é escritor, pesquisador, autor de 09 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. Telefones para contato: 75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br

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OS DOIS CEGOS

Por Rangel Alves da Costa*

Dois cegos, grandes amigos, se encontram sempre ao entardecer da pacífica e singela pracinha. Nesse encontro, durante uma caminhada e outra, ou sentados no costumeiro banco, vão tecendo suas considerações de parte a parte. É um proseado digno de ser transcrito.

Assim que chegou, logo percebi algo diferente. Você hoje veio com uma cara mais queimada de sol do que pescador sem chapéu. Subiu naquela montanha que você frequenta sempre?

Mas você deve estar é maluco. Tanto quanto eu você é cego de nascença, daí que não tinha nem como você saber se estou com o rosto queimado ou não. E de onde tirou essa ideia que subo na montanha de vez em quando?

Ora, foi você mesmo quem disse assim que chegou. Disse que ia evitar vento forte no rosto e que estava com o espírito mais leve, mais suave, mais feliz. Também gosto da natureza e é por isso que amanhã vou entrar no meio do mato pra caçar borboleta e araçá. Sabe que nem me lembro do tempo que eu acostumava fazer muito isso?

Só mesmo vendo você caçando borboleta e pegando com a mão cada frutinha amarela ou vermelha. Se eu fosse você preferia araçá amarelinho que é mais doce. Traga-me uma borboleta de olho azul e uma cuia de araçá. Se você fizer isso vou colocar linha no buraco da agulha e costurar uma colcha de retalhos inteirinha.

Você não quer ir comigo não? Ande vou tem um pequeno rio que é cheio de peixe. É perigoso, mas tem cardume de não acabar mais. Você vai saltando as pedras até chegar num lugar mais fundo e joga a tarrafa. Se você não quiser pescar pode muito bem colher umas flores do campo pra presentear sua namorada.


Se eu disser que fiz isso ela diz que enlouqueci. É muito arriscado cego se meter a pescador e jardineiro, ou mesmo a qualquer outra coisa que implique em tocar, em pegar. Sempre se dá muito mal na empreitada. Teve um que chamou a namorada pra ver a lua em noite de breu. E levou um livro de poesia pra ler debaixo do brilho do luar. E leu. Só que ela resolveu trocar ele por um que não fosse doido.

É mesmo, é mesmo, por isso mesmo acho que todo cego devia se acostumar do jeito que é e não querer enxergar mais do que os outros. O único jeito é aceitar a triste sina de não avistar a cor do alvorecer. Eu mesmo faço de conta que não vejo nada, como realmente não vejo. Mas quando passa uma mocinha nova e reboladeira não há como não dar um psiu.

E como você sabe que ela é nova e que é reboladeira? Quando é que você vai deixar essa mania de dizer que enxerga tudo que passa à sua frente, que consegue fazer o que bem entende, que tem uma vida normal?

Normal eu sempre fui, e muito mais que aqueles que pensam que enxergam tudo só porque têm a visão sem problemas. Só vejo cego nesse povo assim. A pessoa ter o dom de ver tudo na maior claridade, na forma, na cor, na dimensão, na distância e em tudo, e depois ainda faz de conta que o que viu não vale nada. Só mesmo sendo o maior cego do mundo.

Nisso você tem razão. Mas é aquela velha história: a pessoa só dá valor quando lhe falta. Nós sonhamos em avistar ao menos uma réstia, uma sombra qualquer, mas aqueles que possuem toda a luz da vida à frente sempre se negam a enxergar como deveriam.

Também penso assim. A verdadeira cegueira não é a da falta de visão, não é não poder avistar a luz do sol e da lua, mas se negar a compreender e a valorizar toda visão que lhe é permitida.

E sobre a mocinha reboladeira?

Ah, sim, já ia me esquecendo. Não olhe agora não, mas vem uma ali. Sim, como eu ia dizendo. Já disse que não é pra olhar agora que é muito feio, e só vale mesmo a pena quando ela já passou um pouquinho, e aí a gente chega vê de perto o rebolado, sente o cheiro, a lindeza, tudo. Sim, mas continuando, sei que é mocinha, nova, bonita e reboladeira pelo perfume que usa...

Mas como assim, como pelo perfume que usa?

Perfume lembra flor e nunca vi ninguém dizer que uma flor fosse feia. Daí que já sei que ela é bonita, pelo aroma que exala pelo ar e chega direto ao meu coração sempre apaixonado. Perfume lembra sempre primavera florida, e chega fico vendo diante de mim aquelas flores bailando lentamente no vento macio que sopra nessa estação. E, como fazem as flores ao vento, sei que ela passa rebolando pertinho de mim...

Gostei da resposta, amigo, coisa de verdadeiro poeta. Por que não pega da pena e escreve um livro?

Para escrever poesia é precisa ver cada letra, cada palavra, cada verso. Dói muito ao poeta jogar numa folha qualquer emaranhado. É preciso escrever de um jeito que a poesia se sinta construída e levante, chegue até você e dê um beijo de agradecimento. Mas sou cego, apenas um cego...

Poeta e cronista
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CACULÉ

Por Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de 2014 - Crônica Nº 1.294

Atraído por cidades nordestinas de nomes estranhos, sempre tivemos vontade de visitá-las. Não podendo assim fazer, vamos homenagear hoje uma delas, o município baiano Caculé.

Foto (condiubo2.arteblog).

Foi com satisfação que soubemos que o cantor Anísio Silva, do qual eu era fã, primeiro brasileiro a receber disco de ouro, era baiano de Caculé.

A curiosidade mesmo era saber que diabo de nome estranho e bonito é esse. Ah, descobrimos sim. Veja o senhor, compadre, como foi interessante. Dizem que primeiro por ali havia uma fazenda pertencente à Dona Rosa Prates, chamada Jacaré. Dona Rosa teria doado terras para ser construída uma capela ao Sagrado Coração de Jesus. Após a abolição da escravatura, um ex-escravo da fazenda de nome Manoel Caculé, passou a residir no local, onde havia uma lagoa.

“Os viajantes que tomavam aquela direção, ao se cruzarem pelo caminho, perguntavam, uns aos outros, de onde vinham e aonde iam, e a resposta era sempre a mesma: lagoa do Caculé. Este nome passou assim a designar o acidente geográfico, depois o povoado e mais tarde estendeu-se a todo o município de Caculé”.

CACULÉ (Foto: Wikipédia).

Caculé surgiu por volta de 1854, conta sua história, e foi emancipado em 14 de agosto de 1919.

Para quem quer saber mais: “A economia de Caculé gira em torno de áreas distintas, o comércio de cerâmica, cofres, algodão, materiais de construção, agricultura, criação de bovinos, caprinos e suínos, além de produtos derivados da cana de açúcar. Valendo ressaltar que nos últimos anos houve um crescimento considerável nas vendas de cofres, telhas, blocos e lajotas, o que tem movimentado o comércio local e gerado emprego e renda a população”.

A festa do padroeiro, sagrado Coração de Jesus é comemorada no mês de setembro, sendo o São João uma das grandes atrações festivas.

Caculé está situada a 782 quilômetros de Salvador. O amigo, topa conhecê-la? Ah! Não esqueça de mim.


Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:

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Local que era frequentado por cangaceiros


Região entre Piranhas e Paulo Afonso. Local onde Cangaceiros passaram muitas vezes. Foto Rara. Acervo da Pousada Porto de Piranhas.

Fonte: facebook
Página: Robério Santos

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MATARAM O CANGACEIRO ARVOREDO


Em matéria do Jornal baiano Correio do Sertão de Morro do Chapéu, foi noticiada com riqueza de detalhes a morte do Cangaceiro Arvoredo na localidade de Conceição, no Município de Jaguarary.

Liandro Antiques


Fonte: facebook
Página: Liandro Antiques

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Viajando no Cangaço I - A reportagem que reinventou Lampião

Material do acervo do pesquisador Raul Meneleu Mascarenhas

A reportagem que reinventou Lampião
28 de julho de 2013
Gonçalo Junior

Há exatos 75 anos, a revista carioca A Noite Ilustrada publicou a maior cobertura da imprensa sobre a morte do mais famoso cangaceiro, fato que evidenciava sua importância como notícia e lenda.

Imagem que fez história – A foto das cabeças decepadas de Lampião e seu bando foi estampada nas páginas centrais de A Noite Ilustrada pouco mais de uma semana depois do massacre de Angicos e correu o mundo ao longo do século 20

A capa da edição da quarta-feira 9 de agosto de 1938, da revista A Noite Ilustrada, lançada 11 dias depois do massacre na Fazenda Angicos, município de Piranhas, entre Alagoas e Sergipe, onde morreram Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), o Lampião, Maria Bonita e mais nove pessoas, é emblemática. Em vez de estampar o mais famoso e temido cangaceiro do País, a imagem trazia em destaque outro bandoleiro, Corisco, conhecido pela polícia e pela imprensa como Diabo Louro. A mensagem parecia clara: sem Lampião, o cangaço sobreviveria pelo herdeiro e compadre de seu antigo chefe. Rei morto, rei posto? Não. A legenda explicava que aquela foto havia sido encontrada entre muitas outras em um dos bolsos do famoso criminoso, quando os soldados da “volante” foram saquear seus bolsos, em busca de joias e dinheiro, no momento em que seu corpo jazia, cravado de balas.

Em 28 páginas sobre o massacre, a revista, comandada pelos jornalistas Gil Pereira e Vasco Lima, trazia a primeira grande reportagem sobre o assunto, que se tornou aula e marco do jornalismo na época. Motivo: a publicação tinha conseguido mandar uma equipe – fotógrafo e repórter – do Rio de Janeiro até o local, a dois mil quilômetros de distância, em pouco mais de 24 horas. Ao que parece, foi uma operação de guerra. Tão logo as primeiras notícias da morte de Lampião chegaram às redações do Rio de Janeiro, via telegrama, nenhum jornal ou revista teria se interessado em mandar equipes.

Por mais de dez anos, a grande imprensa acompanhou as muitas caçadas a Lampião, promovidas pela polícia de pelo menos seis estados do Nordeste por onde ele e seu bando circularam e “aterrorizaram” – Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. A viagem dos jornalistas de A Noite Ilustrada só foi possível porque eles conseguiram embarcar antes do meio-dia em um voo internacional da Pan American, que fazia a rota Miami-Rio de Janeiro-Buenos Aires. As escalas eram feitas em Montes Claros (MG), Barreiras (BA) e Carolina (MA).

Os jornalistas desceram em Barreiras, no cerrado baiano, e de lá cruzaram de carro ou de trem boa parte do território baiano, até chegar à cidade de Piranhas. Na manhã seguinte, eles se depararam com a tropa de 49 homens do tenente João Bezerra na pequena cidade de Pedras, no meio do caminho até Santana do Ipanema, onde ficava o batalhão que realizou a operação militar.

Os enviados se tornaram a primeira equipe de jornalistas a visitar a “gruta” de Angicos, depois do massacre. Acabaram por fazer fotos que se tornaram famosas ao longo dos 75 anos seguintes e foram reproduzidas incontáveis vezes por jornais, revistas e livros sobre o tema. São imagens que chocaram os leitores. Logo na página três, aparecia a cabeça decepada quase em tamanho real da mulher mais famosa do cangaço e um pequeno texto dizia: “Companheira de Lampião, fotografada em Pedra, durante o regresso da ‘volante’ (tropa) do tenente João Bezerra, quando ainda conservava a regularidade dos traços e a serenidade da expressão. Mesmo depois da morte violenta, justificando a alcunha, a cabeça da bandoleira mostra vestígios de tranquila beleza”.


Nas páginas centrais, como pôster de 43 cm x 86 cm, A Noite Ilustrada estampava a foto mais famosa da história do banditismo no Brasil, que se tornou símbolo do grau de selvageria que dominava mocinhos e bandidos nos confins da caatinga brasileira: as cabeças decepadas dos mortos de Angicos, arrumadas na escadaria de uma igreja, identificadas com uma etiqueta ao lado de cada uma. Apareciam, pela ordem de cima para baixo, da esquerda para a direita: Diferente, Desconhecido, Cajarana, Enedina, Caixa de Fósforos, Mergulhão, Elétrico, Luis Pedro, Maria Bonita e, sozinha na parte de baixo, Lampião.

Ao redor, parte dos pertences recolhidos – armas e balas em quantidade, embornais e uma máquina de costura aparentemente da marca Singer. No local do tiroteio, há uma foto que mostra com números e setas como tudo aconteceu: onde estavam os soldados e em que ponto Lampião foi mortalmente atingido, sem ter chance de qualquer reação.

A notícia tinha corrido o Brasil como fogo em pólvora. Todos os grandes jornais destacaram o fato na primeira página. Por 18 anos, Lampião e seu bando atacaram, principalmente, pequenas e miseráveis localidades em que a população vivia sob o chicote e o domínio eleitoreiro das dinastias dos coronéis. A imprensa das regiões Sul e Sudeste sempre se interessou pelo assunto, destacava a crueldade de Lampião e de seus comparsas e o heroísmo da polícia em sua captura. Ficaram famosos nomes como do sargento Odilon Flor que, por oito anos caçou e perseguiu o cangaceiro, e o do tenente Campos de Menezes, que o perseguia desde a década anterior – por diversas vezes, Menezes e seus homens trocaram tiros com Lampião. Mas a glória coube ao desconhecido tenente Bezerra, transformado em herói nacional literalmente da madrugada para o dia.

Não havia qualquer discussão na imprensa sobre as intenções do cangaceiro que eram apenas roubar e saquear a partir de uma índole criminosa natural, como aconteceu depois e o transformou em herói para muitos, por contestar o poder dos coronéis – Lampião seria fruto do inconformismo de um mundo injusto e sem lei. “Ido desta capital de avião, o serviço dos enviados especiais de A Noite Ilustrada ao sertão e à capital de Alagoas trouxe a lume o sensacional acontecimento por todas as suas faces mais empolgantes, acumulando uma sucessão de documentos que se encontram em parte nesta edição”, explicou a revista, em seu editorial. Para seus editores, a publicação havia feito algo extraordinário. Tanto da parte de seus repórteres quanto da polícia, mostrada como heroica. Dizia o título: “O sensacional acontecimento do sertão alagoano”. (Nota: Antônio Correa Sobrinho, de Aracaju, pesquisador do cangaço em 2 de outubro de 2013 às 19:36 fez o seguinte comentário na matéria original - "Com os cumprimentos ao autor pelo valioso trabalho, esclareço que Lampião, sua Maria, nove outros cangaceiros e o soldado da força alagoana, Adrião, morreram em território sergipano, e não em Piranhas, das Alagoas. O massacre ocorreu na grota-coito da fazenda Angicos, em Poço Redondo, à época povoado do município de Porto da Folha. Sergipe que, além de túmulo, deu ao cangaceiro-mor estada, por que não dizer, tranquila."

Prosseguiram eles, na apresentação. “Releva notar o acervo de fotos feitas no próprio local do combate entre a polícia alagoana e o bando do ‘Rei do Cangaço’, a grota situada na fazenda Angicos, das quais se encontram na última página da revista, e testemunham não apenas a coragem, mas a temeridade dos nossos auxiliares.” No mesmo texto, destacou o pequeno vidro encontrado no corpo de Lampião, cheio de um pó amarelo, que, “verificou-se nesta capital, por experiência feita no laboratório de Pesquisas Científicas da Polícia, ser um veneno poderoso. É também um pormenor de sensível interesse”, porque se sabia, “por informações anteriores”, que era uma prevenção para não cair com vida em mãos das autoridades.

Porta-voz de Vargas

A redação de A Noite Ilustrada funcionava na Praça Mauá, 7, centro do Rio de Janeiro, e onde ficavam redações de jornais e revistas, e emissoras de rádio importantes. Lançada em 1930, a publicação surgira como um marco por sua qualidade de impressão, graças ao moderno sistema de rotogravura. Pertencia ao jornal A Noite, mesmo diário fundado por Irineu Marinho e Geraldo Rocha. A Noite sobrevivera ao longo da década de 1930 sob o duro castigo de ter apoiado o grupo derrotado pela Revolução de 1930. 

Na ocasião, sua redação foi saqueada e incendiada e Rocha se refugiou em Minas Gerais. O diário sofreu intervenção do governo. Pressionado, Rocha reconheceu em cartório que tinha dívidas e abriu mão de seus bens para os bancos do governo, inclusive de A Noite. O jornal se tornou, então, uma espécie de órgão a serviço de Vargas e radicalizou seu oficialismo com a decretação do Estado Novo, em novembro de 1937, quando assumiu a mesma postura nazifascista do ditador brasileiro. Essa orientação editorial dava o tom na cobertura do massacre de Angicos e no modo de como a tropa do Exército foi tratada.
“Consciente da enormidade de seus crimes, o cangaceiro não suportava a ideia de expiá-los. Pode suceder, também, que um amor próprio a seu modo lhe fizesse intolerável à possibilidade de vir a ser dominado pelos que considerava inimigos odiosos.” Ou seja, sua decisão era de jamais se deixar prender vivo pela política. Cometeria suicídio antes. “Verificou-se ainda que Lampião foi colhido por uma rajada de balas, pois seu famoso punhal, de cabo trabalhado a ouro e marfim, foi atingido numa das lâminas, e a própria cartucheira do bandido, onde o ímpeto de uma das balas que recebeu detonou outra da própria cartucheira do antigo ‘Terror do Nordeste’, que o atingiu mortalmente.”

O que se nota em toda a edição de A Noite Ilustrada é que em nenhum lugar são ditos os nomes do repórter e do fotógrafo, embora eles aparecessem em duas fotos e fossem assim identificados. Em uma delas, o fotógrafo, de óculos, posava à frente dos voluntários e soldados, sorrindo para a câmera. Em outra, o jornalista cumprimentava o aspirante Ferreira, cercados de soldados que apoiavam as mãos nos ombros dos dois. Uma legenda informava: “O corpo do bandoleiro foi identificado e fotografado por um dos enviados de A Noite Ilustrada na grota de Angicos, sendo que outros ali voltaram, ainda, depois, a fim de minudenciar o terreno fotograficamente, facilitando uma reconstituição do choque entre a polícia e os bandoleiros”. A edição trazia também o primeiro episódio de uma série em quadrinhos sobre a vida do cangaceiro, roteirizada e ilustrada por Euclides L. Santos. Com dez quadrinhos cada página, iniciava uma série que seria publicada duas vezes por semana no jornal A Noite, nos cinco meses seguintes.

Singularmente ingrato

Lampião jamais imaginou que poderia ser morto em Angicos. Aquele era seu esconderijo havia muitos anos e ele acreditava, mesmo se traído, uma volante não conseguiria chegar ali. O terreno, no dizer de um geógrafo entrevistado pela revista, contou que o local era “singularmente ingrato”. E explicou que ficava “entalado entre a margem do rio e a montanha pedregosa e íngreme que da mesma margem começa logo a erguer-se, apertada entre gargantas e pequenas contraescarpas de serra, e ingrato, estéril e árido, ostentando rochedos de granito e penhascos inacessíveis. Essa topografia era da conveniência para os cangaceiros que, por isso mesmo, sempre procuravam Angicos, nas imediações de Piranhas, quando se sentiam inseguros e acossados”. Mas a força policial, comandada pelo tenente João Bezerra, reunia veteranos combatentes do cangaço, não teve dificuldades alcançar aquele ponto.

Os cangaceiros haviam chegado a Angicos no dia anterior, 27 de julho, exaustos, famintos. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. O aguaceiro, em vez de dificultar a aproximação de alguma volante, ajudou, graças ao barulho da água que caía. Tanto que nem os cães de Maria Bonita pressentiram. Bezerra relatou depois que o bombardeio ainda não tinha começado, por volta das 5h15 do dia 28, e teve de ser precipitado. No momento em que os cangaceiros levantaram para rezar o ofício, de acordo com o ritual estabelecido pelo Rei do Cangaço, e se preparavam para tomar café, um cangaceiro deu o alarme. Tarde demais. Bezerra gritou: “Fogo”. Os soldados dispararam suas metralhadoras portáteis, que cuspiram dezenas de balas por minuto, por cerca de 20 minutos. Corisco e os outros que estavam mais distantes, e acabaram protegidos pelos rochedos, conseguiram se arrastar e fugiram.

Lampião foi um dos primeiros a morrer. Dentro dos costumes da época, Maria Bonita, gravemente ferida, teve sua cabeça decepada – fizeram o mesmo com o marido, em seguida. Na euforia que se seguiu, sem se preocupar se alguém tinha escapado, os policiais saquearam os cadáveres e os mutilaram com selvageria. Também foram degolados vivos Quinta-Feira e Mergulhão que estavam  feridos. Um dos policiais, com ódio de Lampião, deu um golpe de coronha de fuzil na cabeça do cangaceiro tão forte que a deformou. Afirmou-se depois que todas as cabeças foram salgadas e colocadas em latas de querosene, com aguardente e cal, enquanto os corpos foram abandonados e devorados por urubus. Para evitar a disseminação de doenças, dias depois foi colocada creolina sobre os corpos. Como alguns urubus morreram intoxicados pela substância, esse fato ajudou a difundir a crença de que eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo coiteiro traidor. Outra versão dava conta de que as cabeças não passaram por qualquer processo de conservação nas 48 horas que se seguiram ao massacre. E mesmo inchadas – como se vê nas fotos –, foram vistas por milhares de curiosos nas cidades onde o pelotão passou.

Em Pedra, ao alcançar a volante, a equipe de A Noite Ilustrada conseguiu reunir 47 dos 49 homens que estiveram em Angicos para uma foto histórica. Duas outras mostravam a multidão que se concentrou em uma praça em Maceió para ver as cabeças dos 11 cangaceiros. “Em Piranhas, as tropas chegaram inesperadamente, quando terminara a feira ali erguida, e quando, portanto, ninguém imaginava a possibilidade de acontecimento de tal monta. A polícia alagoana, conduzindo os troféus do sangrento encontro, foi recebida por aclamações populares intensas, mais vivas e constantes, à medida que os populares se inteiravam do êxito completo do combate com o bando de cangaceiros. Ferido, embora sem gravidade maior, o Tenente Bezerra, cuja valentia é conhecida em todo sertão circundante, era visado particularmente nos aplausos do povo aglomerado”.

O mesmo espetáculo foi verificado pela equipe da revista em Pedra e Água Branca, “onde as populações, vítimas durante tantos anos dos sustos constantes pelo perigo de incursões dos cangaceiros, mal podiam acreditar no extermínio do monstro da caatinga”. Em todas essas localidades, o chefe dos volantes determinou a exposição das cabeças. “Visava principalmente evitar alguma lenda de negação do fato, coisa muito natural em face da crença, alimentada pelos próprios acontecimentos, durante tantos anos, da intangibilidade do chefe do cangaço. Os soldados jubilosos pelo resultado da sortida, e sua alegria se misturava à do povo, compondo um espetáculo expressivo da sensação de libertação que pairou sobre aqueles recantos da civilização sertaneja.”

Em Santana do Ipanema, “esse jubilo popular atingiu maiores proporções”. Segundo o repórter, as cabeças dos cangaceiros, que haviam sido fotografadas em Pedra, foram novamente expostas à curiosidade pública “e numerosas pessoas reconheceram a cabeça decepada de Lampião e de outros seus comparsas do crime”. O espetáculo bizarro prosseguiu em Maceió. No Instituto Médico Legal de Aracaju, as cabeças foram medidas, pesadas e examinadas pelo médico Carlos Menezes. Suas observações fizeram com que os criminalistas mudassem a teoria de que um homem bom não viraria um cangaceiro, e este deveria ter características sui generis.

Diferentemente do que acreditavam, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, apesar da decomposição avançada. Acabaram classificadas como de indivíduos normais. Do sudeste do País, apesar do péssimo estado, seguiram para Salvador. Ali, permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Nenhuma patologia foi encontrada após novos exames. Por mais de três décadas, ficaram expostas no Museu Antropológico Estácio de Lima, no prédio do IML Nina Rodrigues, no Terreiro de Jesus, em Salvador. Atraíam milhares de curiosos todos os anos, que queriam ver, principalmente, as cabeças de Lampião e Maria Bonita.

Enquanto isso, as fotos de A Noite Ilustrada corriam o Brasil e o mundo. Sem autorias definidas, perderam sua identidade, ao mesmo tempo que se tornavam documento de uma época. Por mais que a revista chamasse Lampião de facínora, o resultado de seu esforço jornalístico mantinha a força de uma história e não conseguiu evitar que de suas páginas nascesse uma lenda que, como tal, ainda fascina. Suas fotos e textos, enfim, por mais que se tenha feito um trabalho de reportagem louvável, não evitou que Lampião continuasse a andar pela caatinga, mesmo como um fantasma, cada vez mais vivo na imaginação das pessoas pela coragem de cabra macho que era em enfrentar os poderosos. Que se publique a lenda.

Lampião lia a Noite Ilustrada

Pelo acaso, lampião acabou por se tornar garoto propaganda de A Noite Ilustrada. dois anos antes de morrer, ele aparecia em uma de suas mais famosas fotos, feita pelo fotógrafo e caixeiro viajante Benjamin abraão (1890-1938), mostrando um exemplar da famosa revista carioca, ao lado de maria Bonita, que aparecia sentada, acariciando os cães ligeiro e Guarany. a edição, de 27 de maio de 1936, trazia na capa a nadadora americana Anna Evers, uma das promessas da olimpíada de Berlim daquele ano.


Casal bem informado – Lampião com um exemplar de A Noite Ilustrada, de 1936, ao lado de Maria Bonita. O casal gostava de acompanhar pelas revistas as novidades do Brasil e do mundo.

Na legenda, lia-se: “a sereia e sua rede… Anna Evers exibindo um formoso modelo praiano em santa mônica, califórnia”. segundo depoimentos das cangaceiras Aristeia e dadá, as fotos foram feitas entre junho e julho de 1936, portanto um mês ou dois depois do lançamento da revista. Abrahão seria morto pouco mais de dois meses antes de lampião, em serra talhada, no dia 10 de maio de 1938. de origem sírio-libanesa-brasileira, ele se tornou o responsável pelo registro iconográfico do cangaço e de seu líder, lampião. para fugir do serviço militar em seu país, durante a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918), ele veio para o Brasil. chegou em 1915. foi mascate em recife e Juazeiro do Norte, atraído pela frequência de romeiros em busca do padre Cícero, de quem se tornou secretário e conheceu lampião, em 1926, quando foi à cidade receber a bênção do célebre vigário e a patente de capitão, para auxiliar na perseguição da coluna prestes. anos depois, obteve do cangaceiro autorização para acompanhar o bando na caatinga e realizar as imagens que o imortalizaram. foi assassinado com 42 facadas e o crime nunca foi esclarecido.

Revista Brasileiros

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VISITAS AMANHÃ - MUSEU DO SERTÃO

Professor Benedito Vasconcelos Mendes - Proprietário do Museu do Sertão

Amigo Zé Mendes:

A próxima visita ao Museu do Sertão será amanhã (sábado),dia 1º de Novembro de 2014. O ingresso é um kg de alimento não perecível, que deverá ser entregue no Lar da Criança Pobre. 

A visita começará às 7:00 horas e terminará às 12:00 horas. Mais informações você e os interessados encontrarão no Site: 


Forte abraço, Benedito




Você que gosta de visitar Mossoró no Rio Grande do Norte, precisa conhecer o "Museu do Sertão", fundado pelo professor e Presidente da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço Benedito Vasconcelos Mendes. 

O Museu do Sertão em Mossoró não pertence a nenhuma repartição do governo. Foi fundado com os próprios recursos do professor Benedito Vasconcelos Mendes.

Leve os seus filhos para eles verem o que os seus olhos nunca viram. Vale a pena conhecer o "Museu do Sertão" em Mossoró-Rn. São 11 galpões, com mais de 5.000 peças para os seus olhos conhecerem.

Nota: - Vale lembrar ao leitor que você não pagará nada para visitar o Museu, apenas colaborará com um kg de alimento não perecível, que deverá ser entregue no "Lar da Criança Pobre" em Mossoró, e lá você receberá o ingresso para a visita ao Museu. 

Você que é diretor de escola em Mossoró leve seus alunos ao "Museu do Sertão", amanhã. E para maiores informações entre em contato com o fundador do Museu Benedito Vasconcelos Mendes através do seu site: 


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JOÃO DE SOUSA LIMA É CONVIDADO DE HONRA DO 1º SARAU LITERÁRIO DO COLÉGIO DR. JOSÉ CORREIA

Por João de Sousa Lima

A Escola Municipal Ensino Fundamental Dr. José Correia Filho, situada no povoado Jardim Cordeiro, Delmiro Gouveia, Alagoas, realizou  o projeto  1º Sarau Literário, embasado nas Olimpíadas da língua Portuguesa e No entre Na Rosa.

João doa livro para a biblioteca do colégio


O evento que em sua primeira edição trabalhou com a contação de história através de fantoches, teatro e palestras, teve como convidado de honra o historiador e escritor João de Sousa Lima, que no momento falou da importância de se preservar a história regional.

Presença marcante de amigos  e familiares de Aristeia
Pais e alunos participaram do evento

João de Sousa Lima foi representando o Jornal Folha Sertaneja e como um dos organizadores da 1ª Bienal de Paulo Afonso.



Rejane Soares: uma das organizadoras

O evento que também abordou o tema cangaço, com a palestra as Mulheres no Cangaço, contou com a presença de Antônio Lira, Genildo Alexandre e, ainda, os familiares da cangaceira Aristéia Soares. O filho Pedro soares e as netas Rejane Soares e Sara Soares.





O 1º Sarau Literário também teve rodas de leitura com os melhores textos produzidos pelos alunos nos gêneros: Poema, crônicas e memórias literárias.

A escola contou com o apoio das professoras: Liete Tenório, Maria Amélia, Irair Tatiane Lima, Rejane Soares,  da coordenadora Cristiana Carvalho e das diretoras Luzia Maria e Regina Aparecida Reis.

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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Inscrições para o IV Simpósio Internacional sobre Padre Cícero podem ser feitas até 10 de novembro !


Pesquisadores do Brasil e do exterior estarão reunidos, de 17 a 21 de novembro no Cariri, para participar do IV Simpósio Internacional sobre o Padre Cícero, que acontece em Juazeiro do Norte, e deverá reunir cerca de mil participantes inscritos, pesquisadores e intelectuais de vários países e estados brasileiros. A temática central será “E... Onde Está Ele”, que faz referência ao prosseguimento dos estudos voltados ao aprofundamento da temática sobre um dos sacerdotes mais polêmicos da história do Brasil. As inscrições para o evento continuam abertas na Universidade Regional do Cariri (URCA), por meio do site da instituição, que é www.urca.br. 

Os interessados podem se inscrever para participar das palestras até o próximo dia 10 de novembro. Já os trabalhos podem ser inscritos para apresentações durante o evento, até a próxima quinta-feira, dia 30. 

Segundo os organizadores, já há um grande número de participantes inscritos e os maiores pesquisadores sobre o Padre Cícero e religiosidade do Nordeste e especificamente no que diz respeito aos fatos de Juazeiro estarão participando, a exemplo da escritora norte-americana, Candace Slater, além da pesquisadora Luitgarde Barros, professora Dra. da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

O evento contará ainda com o Professor Dr. Marcelo Camurça, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Guy Martini, da Rede Global de Geoparks, da França, entre outros estudiosos do Brasil e países principalmente da Europa. A programação cultural constará de apresentações de grupos da cultura popular, documentários, exposições de esculturas em madeira e xilogravura e caminhada cultural.

www.urca.br
(Assessoria de Imprensa)
Fonte: Blog do Crato / Dihelson Mendonça

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2014/10/inscricoes-para-o-iv-simposio.html

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COMO MACÁRIO SE LIVROU DA TOCAIA

Por Rangel Alves da Costa*

Macário estava marcado para morrer. E ordem nascida antes da cusparada de coronel não havia jeito, tinha de ser cumprida, e antes mesmo que o cuspe secasse, como se dizia por lá. Acusado de traição, de ter se bandeado e aberto a boca pro desafeto do coronel, seu patrão, tinha de pagar na bala a desfeita.

Não havia qualquer acusação formal, nada que comprovasse ter o jagunço realmente traído seu patrão. Mas a verdade e que, não se sabe bem por quais vias ou com quais intencionalidades, chegou ao ouvido do poderoso que o seu capanga mais famoso havia sido visto saindo da fazenda do Coronel Limoeiro.

Ora, o Coronel Limoeiro era inimigo de fogo a sangue do Coronel Sizenando, e de muito tempo, desde que os dois herdaram seus latifúndios e currais nas vizinhanças da Ribeira de Sangue. E Sizenando, por ser mais rico e poderoso, com muito mais influência política e poder de mando que Limoeiro, de tudo fazia para que este reconhecesse e aceitasse que quem mandava ali era ele. E pronto.

Mas o Coronel Limoeiro não se rebaixava de jeito nenhum e não admitia que alguém chegasse na sua varanda com oferta de compra de suas propriedades, principalmente partindo de Sizenando. Aliás, uma coisa seja logo registrada: a valentia do homem. E neste aspecto muito diferente de seu inimigo. Enquanto o Coronel Sizenando não dava um passo sem estar acompanhado de cinco a seis jagunços, ele galopava por suas terras tendo apenas o cavalo como companhia.

Tinha e mantinha jagunços na sua propriedade sim, pois não poderia ser diferente num mundo de inimizades de sangue. Sua jagunçada era muito mais de proteção que de ataque, e neste aspecto também muito diferente do Coronel Sizenando. Este mandava matar brincando, e qualquer um que se mostrasse como empecilho perante seus objetivos, ainda que se tratasse de um mero sertanejo de tapera e cuia.


Mandava matar qualquer um, porém não se atrevia a mandar tocaiar seu inimigo maior, o que seria a coisa mais fácil do mundo, vez que o Coronel Limoeiro não apenas era avistado sozinho nas suas terras como andava por qualquer lugar sem proteção alguma da jagunçada. E não encomendava emboscada de sangue e morte por dois motivos principais. O primeiro dizia respeito a um recado recebido do desafeto e cujo teor se manteve em segredo. E o segundo porque todo mundo saberia de que partiu a ordem para matar o inimigo.

Diante desse contexto, o que será mesmo que o jagunço de Sizenando foi fazer na fazenda de Limoeiro e foi avistado saindo de lá às escondidas e com feições de quem não queria ser reconhecido? Uma coisa é certa, recado de seu patrão não foi dar de jeito nenhum, pois se assim fosse não teria sua morte encomendada no mesmo instante que a fofoca chegou aos ouvidos do poderoso.

Mas o que Macário, o jagunço mais experiente de todos, aquele com mais tocaias já preparadas e devidamente executadas, teria ido fazer ali na residência do inimigo primeiro de seu patrão? Será que tinha ido até lá para matar o homem, e por conta própria? Mas ninguém ouviu tiros, ninguém ouviu nada, apenas o jagunço se esgueirando pela mataria adiante e sumir dali no mesmo instante.

A verdade é que Macário, após a inesperada e misteriosa visita ao Coronel Limoeiro, foi galopando diretamente às terras de seu patrão. Ao chegar, arriou o cavalo, virou um copo de cachaça e se pôs a limpar suas armas sentando num tronco. Não sabia, contudo, que alguém havia sido muito mais e rápido e já havia chegado ali para contar sobre sua presença na fazenda do coronel. Também não sabia que a ordem para sua morte já havia sido dada pelo patrão.

Após receber a notícia e avermelhar feito tição, o Coronel Sizenando acenou da janela e outro jagunço deu a volta para entrar pelos fundos. O coronel segredou-lhe alguma coisa e imediatamente este saiu correndo pelo mesmo lugar. A trama era sair escondido, por dentro do mato, e preparar uma emboscada para Macário, que logo passaria por aquela curva de estrada. E assim foi feito, com o jagunço incumbido de tocaiar e matar seu companheiro de desatino.

Aquele mesmo que havia repassado a notícia despontou na porta do casarão e logo avistou Macário pelos arredores. E seguiu em sua direção para dizer que o coronel havia dado ordem urgente para que fosse perguntar a Miguelim se já havia aceitado a oferta para vender seu pedaço de chão. Imediatamente Macário pulou no lombo do cavalo e pegou a estrada. Não sabia que a tocaia já estava pronta, que agora seria sua vez de ser emboscado e morto.

No ponto certo, na curva da estrada, o jagunço estava à espreita, escondido detrás de um tufo de mato, já mirando em direção ao companheiro que logo se aproximaria. Logo ouviu o som do galope, veloz. Era Macário, não tinha dúvida. Ajeitou ainda mais a pontaria, mais e mais. Mas de repente baixou a arma e correu para o meio da estrada. Repentinamente decidido a não matar o amigo, nem teve tempo de levantar a mão para pedir que parasse. Recebeu um tiro na testa. Caiu estatelado.

Mas antes de morrer revelou a Macário o que lhe havia sido encomendado fazer. Era tarde demais, lamentou o matador. E deu a volta para cumprir o acerto feito com o Coronel Limoeiro, ainda que este quase não tivesse aceitado a proposta. Ia matar o Coronel Sizenando.

Poeta e cronista
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