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sábado, 11 de junho de 2011

Scans: Revista Veja, 19 de Novembro de 1975.

Por: Ivanildo Alves da Silveira
Ivanildo Silveira e João de Sousa Lima

Encontraram o ex cangaceiro "Curió"




            Pedimos ao leitor desconsiderar o trecho: "Preso, CURIÓ foi obrigado pelas volantes a cortar as cabeças de seu chefe, de Maria Bonita, Angelo Roque e Vila Nova..." pois, não corresponde a VERDADE HISTÓRICA DOS FATOS.

Um abraço a todos
IVANILDO ALVES SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN.

Para saber o destino do
"velho pássaro" não deixe
de ler este adendo de
Messier Rostand.

           Procurei mais detalhes e descobri no "Diário de Pernambuco,, edição de domingo, 19 de Agosto de 1990, um dia antes, as 7:40, havia falecido no Hospital da Restauração, de embolia pulmonar, Marcos Alexandre da Costa. Ele tinha 88 anos, havia sido atropelado por um ônibus no Complexo de Salgadinho, no dia 16 de agosto de 1990.
             Depois que foi solto em 1975, o então governador de Pernambuco, Moura Cavalcante lhe arranjou um emprego de marceneiro no Juizado de menores.

jose-francisco-de-moura-cavalcanti-margarida
Margarida Krause e José Francisco de Moura Cavalcanti.
Ex-governador de Pernambuco
      
            Morava na chamada Vila Popular, no bairro de Peixinhos, em Olinda. Havia residido anteriormente na Estrada da Caixa D'Água.
             Do seu casamento, depois que foi solto, cuidou de três enteados, que lhe deram 26 netos e 22 bisnetos.
             Segundo a reportagem, Curió havia nascido no dia 7 de maio de 1907, na cidade de Bom Conselho, Pernambuco.
            Primeiramente, entre 2006 e 2007, eu estava trabalhando em Caicó-RN, onde conheci uma senhora que nasceu em Olinda e vivia (acho que vive ainda) na cidade potiguar e me falou que quando morava em Olinda conheceu "Seu Marcos". Passou-me algumas informações que foram corroboradas, em parte, pela reportagem. Ela comentou que sobre sua vida cangaceira, ele era extremamente reticente em comentar este assunto. Mas na região onde eles viviam todos sabiam quem foi Curió.

Rostand, João de Sousa Lima e Juliana Ischiara

          Em 2007 postei sobre este encontro com esta senhora na comunidade do Orkut "Lampião, Grande rei do cangaço". Mas devido ao silêncio gélido "dos gênios" que aqui comentavam sobre cangaço, achei melhor me resguardar para depois não levar o nome de mentiroso.      
           A única pessoa que se interessou e tentou encontrar alguma coisa sobre este cangaceiro em Recife foi nosso amigo Jal Gomes. Mesmo infrutífera na sua busca, valeu pela iniciativa maravilhosa.
             Depois achei este artigo no "Diário de Pernambuco", mas aí assunto já tinha morrido. E agora vejo, de forma muito positiva, o amigo Ivanildo trazer este artigo da Veja. 
             Lembrei-me de outros detalhes: Se não me engano, na época em que Curió foi atropelado, a senhora me comentou que a empresa proprietária do ónibus se chamava “Vera cruz”, mas não tenho certeza. Que a família do ex-cangaceiro ficou revoltada, cogitando até entrar na justiça.
             Outra coisa que ela me falou foi que em Peixinhos ele igualmente havia morado próximo a um antigo local que foi um “matadouro”. Pessoalmente não conheço estes locais. Seria legal nossos amigos de Pernambuco comentarem se estas informações poderiam, ou não, terem sentido. È só o que recordo. 
             Analisando esta questão do ex-cangaceiro Curió, percebemos que num primeiro momento ele teve até sorte e sua saída chamou atenção da sociedade local. O próprio governador pernambucano da época mandou buscá-lo em “carro oficial”, lhe recebeu como “herói” no palácio, lhe deu emprego e o utilizou (mesmo sendo ele analfabeto) como “garoto-propaganda” em uma feira regional de municípios. 
             Interessante como estes acontecimentos apontam a mudança de percepção da sociedade pernambucana, e por tabela a brasileira em geral, em relação ao cangaço. 
             Se em 1975, a saída de um ex-cangaceiro da prisão gerava toda esta notoriedade, se ele tivesse sido solto no final da década de 1950, certamente Curió buscaria inicialmente o anonimato, pois seria muito mais fácil ele ser execrado pela população como “marginal”, “bandido”, ou levar uma bala de algum desafeto.
              Aparentemente, apesar da sorte inicial, sua vida posterior deve ter sido de muitos apertos. 
Comento isso analisando as várias fontes apresentadas neste tópico, pois mesmo com o seu emprego de marceneiro no Juizado de Menores, ele deve ter ralado muito o ex-cangaceiro. Vemos que primeiramente passou a residir na “Favela do Córrego do Euclides”, em Casa Amarela, depois aparentemente na “Estrada da Caixa D'Água”, seguindo para a “Comunidade de Peixinhos”, onde viveu próximo ao antigo “Matadouro”, ou na “Vila Popular”. Além disso, teve de cuidar da mulher, três enteados, vários netos e bisnetos. 
            Detalhe; Não sei se procede (os colegas de Recife podem me corrigir), mas pelo que sei, estes locais que Curió morou na Região Metropolitana de Recife, são (ou eram) locais de alta periculosidade, de ocorrência de tráfico de drogas, etc. Mas, pelo menos até onde se sabe o ex-cangaceiro não se envolveu com nenhum tipo de problema envolvendo a marginalidade.
             Não sei, mas creio que Curió foi o último cangaceiro a deixar vivo (e na época totalmente lúcido) um ambiente prisional no Brasil. Será? 
             Perda de oportunidade
            Fosse por que Curió não gostava de falar, ou talvez por que em 1975 os estudiosos do assunto “cangaço” tinham “material de sobra” para pesquisar (ainda haviam muitos dos velhos coronéis, ex-perseguidores, ex-coiteiros, etc). Fosse por que estes estudiosos entendiam que naquela época não valia à pena perder tempo com um cangaceiro que, talvez, não fosse considerado “importante”, ou no bando era apenas um "lavador de cavalos”. 
             Fossem por estas ou outras razões, sei de uma coisa, para aqueles que gostam do assunto, faltou naquela época alguém ir até este Senhor e “furar” a sua barreira de prevenção em relação a falar sobre o seu passado.

Pesquisador e escritor João de Sousa Lima

               Faltou alguém ter tido a oportunidade de ao menos tentar conseguir dele a sua memória sobre este período. Faltou naquele tempo um “batalhador da história”, como um João de Sousa Lima, que trouxe a bela a rica saga de Moreno e Durvinha.

              Vemos que este ex-presidiário só ganhou notoriedade pelas suas andanças no cangaço. Provavelmente a reportagem da Veja, edição de Novembro de 1975, gentilmente postada por Ivanildo, foi publicada a partir de algum “furo” conseguido por algum correspondente da revista lotado em Recife, ou através de notícias publicadas nos jornais recifenses.        
            Se ele não tivesse sido o cangaceiro "Curió", a morte do aposentado Marcos Alexandre da Costa seria uma simples notinha de rodapé da cronica policial recifense.
           
Um abraço.

Extraído do blog: "Lampião Aceso"

Observação:

Gostaria de informar aos amigos que fazem os seus comentários, que eu estou os lendo, mas não  consigo agradecer na própria página, pois a minha  senha não está sendo reconhecida na janela de comentários.

Primeira Viagem de Sinhô Pereira e Luiz Padre, do Nordeste Para Goiás

Por: Napoleão Tavares Neves

           Vivia-se a segunda metade do ano de 1918. Obedientes ao Padre Cícero Romão Batista, Sinhô Pereira e Luiz Padre decidiram deixar o Nordeste para o norte de Goiás. Eram muito jovens e tinham toda a vida pela frente. Todos aconselhavam a viagem. Só assim a família Pereira poderia levantar a cabeça e recuperar o seu prestígio social, político e econômico seriamente abalado por tantas lutas e tanto sangue derramado em vão!


            Manoel Pereira Lins, “Né da Carnaúba”, promoveu vários encontros de família em sua fazenda estruturando a saída dos primos do cenário nordestino conflagrado pelas lutas de famílias, sobretudo pelas lutas entre Pereiras e Carvalhos.         
           Depois de marchas e contra-marchas, a viagem foi decidida. O roteiro foi traçado, segundo orientação do Padre Cícero Romão Batista que certa vez recebeu Luiz Padre e o aconselhou a abandonar a luta por uma vida de paz no Brasil Central onde ninguém soubesse da vida pregressa dos dois vingadores da família Pereira.

Padre Cícero
           
            Segundo foi planejado, os dois Pereiras deixariam o sertão, beirando o sopé da Chapada do Araripe, lados de Pernambuco, buscando o Piauí de onde deveriam demandar o norte de Goiás.

Sinhô Pereira, sentado e Luis Padre em pé
          
             Atravessar os sertões de Pernambuco era uma temeridade para eles que seriam impiedosamente perseguidos. Naquele tempo cada polícia só perseguia cangaceiros até a fronteira do seu Estado! Atravessar os limites de um Estado para outro era considerado agressão! Assim, entrando no Piauí, seria mais fácil para Sinhô Pereira e Luiz Padre fazerem a difícil travessia sem obstáculos. Por isto os dois primos deixaram o Nordeste com o seguinte roteiro:           
             Fazenda do major Zé Inácio, no Barro, Ceará. Fazenda Olho d’Água do Araripe, lados de Pernambuco até o Piauí, pelos municípios de Serrita, Exu e Araripina. Simões, de Jaicós, no Piauí. Foi esta a primeira etapa da viagem feita por Sinhô Pereira e Luiz Padre, a cavalo e levando seis cabras de confiança escolhidos a dedo. Iam armados de revólveres e com as carabinas desmontadas nas pequenas malas.
           Em Simões, já distante do Pajeú, decidiram se separar para despistar possíveis perseguidores, marcando um reencontro no sul do Piauí, em Correntes, próximo à fronteira com Goiás. Luiz Padre, com dois cabras, tomou o rumo de Uruçu, mais para o centro do Piauí, pelo Vale do Gurguéia.
            Sinhô Pereira, com quatro cabras, seguiu na direção de Correntes por São Raimundo Nonato, em roteiro paralelo à fronteira de Pernambuco. Com ele iam os homens de confiança: Cacheado, Coqueiro, Raimundo Morais e Gato.

O cangaceiro Gato
Luiz Padre
            
           O trajeto planejado evitava a travessia do Rio São Francisco que ainda não tinha pontes e a perseguição policial de Pernambuco. A meta de ambos era uma só: sul do Piauí e daí, norte de Goiás, por caminhos diferentes. Luiz Padre ia mais pela direita e Sinhô Pereira mais pela esquerda, não muito distante um do outro, de tal modo que não fosse tão difícil o reencontro planejado no sul do Piauí. Ambos levavam cartas de recomendação para famílias amigas do Piauí: família do Barão de Paranaguá, do Marquês de Santa Filomena e Marquês de Paraíso, já que Luiz Padre era neto do Barão do Pajeú, coronel Andrelino Pereira da Silva.

 Coronel Andrelino Pereira da Silva

             Os barões sempre se entendiam muito bem. A viagem ia sendo feita com marcha de 6 a 10 léguas por dia, mais durante as noites para serem menos percebidos.             
           Ao atingir Nova Lapa, município piauiense de Gilbués, Luiz Padre soubera que Sinhô Pereira fora cercado pela polícia do Piauí nas proximidades da cidade de Caracol. É que as autoridades do Piauí receberam precatória contra os dois e o tenente Zeca Rubens ia no encalço de Sinhô Pereira com 20 homens, sendo três soldados e os demais civis, jagunços a serviço da polícia! A casa em que Sinhô Pereira e seus homens dormiam foi cercada pelo pessoal do tenente Zeca Rubens. As carabinas de Sinhô Pereira estavam desmontadas, mas depois de um tiroteio de uma hora, Sinhô Pereira e o seu pessoal fugiram, deixando dois soldados feridos levemente e carregando Cacheado quase nos braços, gravemente ferido. Sinhô Pereira nunca abandonou cabra ferido, sendo muito solidário a seus homens!          
           Sinhô Pereira ficou visivelmente irritado com a perseguição. Seus inimigos do Pajeú não queriam que ele encontrasse a paz em Goiás e o perseguiam tenazmente!           
           Luiz Padre resolveu prosseguir a viagem e perdeu por completo o contato com Sinhô Pereira que ficou por quatro dias na Fazenda Mulungú, com Cacheado muito ferido, até que o tenente Zeca Rubens, através de um seu irmão mandou lhe dizer que não o perseguiria enquanto ele tivesse tratando do cabra ferido! Foi um gesto muito nobre, indiscutivelmente.
            Somente em março de 1919 Luiz Padre chegou no Duro.

Escritor Nertan Macedo

           Sinhô Pereira ficou por 57 dias, quase dois meses, tratando de Cacheado para além de Caracol. Não abandonaria o ferido, custasse o que custasse, disse ele, de viva voz, ao escritor Nertan Macedo e ao pesquisador Luíz Lorena, de Serra Talhada, seu primo.

Luiz Lorena e Sá
              Cacheado não resistiu à gravidade dos ferimentos e morreu. Sinhô Pereira reiniciou a viagem, mas em Jurema, encontrou o cabra que ferira Cacheado, João de Bola, que foi morto por um dos seus homens.
            A partir deste episódio a perseguição policial recrudesceu, com o tenente Zeca Rubens à frente de 40 soldados seguindo as pegadas de Sinhô Pereira que ia trocando de animais cansados substituindo por animais tomados ao longo das fazendas percorridas. Novamente cercado pela polícia quando dormia 40 léguas para além de Caracol, Sinhô Pereira e seus homens conseguiram furar o cerco policial, mais uma vez, depois de meia hora de tiroteio, morrendo um soldado e saindo ferido um rapaz da casa onde estavam arranchados. Em Tocoatiara Paulista, perderam os animais: um cavalo e três burros.
            Em Sete Lagoas tomaram novos animais que foram trocados novamente em Barra de São Pedro. Foi aí que Sinhô Pereira decidiu voltar ao Pajeú e lutar com os seus inimigos até um dia, já que não o deixaram buscar a paz e o esquecimento em terras distantes, como era o seu desejo.
            Foi uma decisão nervosa, mais em oito dias Sinhô Pereira estava novamente nas barrancas do Pajeú até 1922 quando conseguiu deixar o Nordeste, desta vez em definitivo, saindo da Fazenda Preá, Serrita propriedade do coronel Napoleão Franco da Cruz Neves, casado com Ana Pereira Neves, prima de Sinhô Pereira e Luiz Padre, além de madrinha de batismo deste último.

Bando de Lampião recebido das mãos do Sinhô Pereira

            Com a volta de Sinhô Pereira, de Caracol (PI), foi que Lampião, passou a integrar o seu bando. Por outro lado, a segunda e definitiva viagem de Sinhô Pereira para Goiás, será objeto de outro trabalho oportunamente. Só em março de 1922 foi que ele pôde chegar ao Duro!


Barbalha, 16.11.1989 Médico, escritor. Sócio da SBEC.

Extraído do blog: "Lentes Cangaceiras"