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terça-feira, 29 de março de 2011

Os 70 anos da morte de Lampião

Publicada: 18/06/2008 
 Alcino Alves Costa

            No alvorecer daquela quinta-feira, do dia 28 de julho de 1938, naquele socavão ressequido e árido do Riacho do Angico, então jurisdição do território de Porto da Folha, e hoje após o desmembramento de suas terras em 23 de novembro de 1953, pertencendo ao município de Poço Redondo, foi morto pelas armas do tenente João Bezerra da Silva e sua volante, um dos maiores personagens da história nordestina e brasileira, o famoso Virgulino Ferreira da Silva, celebrizado com o nome fantástico de Lampião, ainda a sua amada companheira Maria Bonita e mais nove de seus parceiros de desdita.

 
Lampião e Maria Bonita
João Bezerra - o primeiro da esquerda

           Lá se vão 70 anos daquele fabuloso acontecimento. Num Brasil que se carrega a cultura de não se preservar a História causa admiração à chama viva e ardente que teimosamente não para de arder no sentimento do povo brasileiro que entra ano e sai ano e a saga do rei dos cangaceiros é pesquisada, esmiuçada e continua a ser escrita e comentada em verso e prosa por todo Brasil e além fronteira.
          É deveras motivo de admiração à magia desse caipira das barrancas do Riacho São Domingos, nas terras da antiga Vila Bela, hoje Serra Talhada, que com uma força portentosa continua a dominar e enfeitiçar todos os segmentos sociais e culturais de nossa nação.
           O seu poder de persuasão chega às raias do inacreditável. O seu domínio sobre seus semelhantes foi e é imenso e envolvente. E assim, Lampião coloca sobre os que procuram enfadonhamente pesquisá-lo um campo recheado de intransitáveis e misteriosos labirintos que deixa todos zanzando pra lá e pra cá sem alcançar a verdade do que aconteceu em Angico. 
              Em meu livro “Lampião além da versão”, no subtítulo “Mentiras e mistérios de Angico”, eu discorro sobre o medonho mistério que o titã da Passagem das Pedras espalhou naquela grota do riacho, e ainda, as descomunais mentiras que as mais diversas testemunhas – coiteiro, soldado, cangaceiro – fizeram chegar até as páginas dos incalculáveis livros que tem como finalidade registrar a epopéia cangaceira e em especial a chacina de Angico. 
             Não me surpreende o comportamento de muitos estudiosos do cangaço quando eles apresentam versões que atestam não ter Lampião sido morto em Angico.

 
Lampião

             Não desdenho e nem fico fazendo chacota das mais diversas afirmações nesse sentido saídas de pessoas de gabarito, responsabilidade e respeito, mas que, dominados pela incomparável inteligência e habilidade de Lampião se vêem reféns de sua misteriosa estratégia que tem envolvido por todos os anos de sua vida e morte aqueles que nunca se cansaram de rastejá-lo.
            Os exemplos são muitos. Jaques Cerqueira, subeditor do Viver do Jornal Diário de Pernambuco, é o autor de um artigo intitulado “A outra morte de Lampião”, que saiu no jornal Página Certa, de Mossoró, no Rio Grande do Norte, afirmando com convicção de que Lampião não morreu em Angico, e sim em setembro de 1981.

Jornalista Jacques Cerqueira,
e o Diretor do Foro, Juiz Federal Danilo

               No livro “Lampião e Zé Saturnino – 16 anos de luta”, de autoria de José Alves Sobrinho, que era sobrinho em segundo grau de José Saturnino, o inimigo número 1 de Lampião, este respeitável senhor atesta com convicção que Lampião não morreu em Angico, e sim aos 83 anos de idade, na fazenda Ouro Preto, em Tocantinópolis, Goiás. 
                 José Alves ainda afirma: “O Capitão Virgulino tinha o olho esquerdo com pálpebra arriada, e não o olho direito fechado como o da cabeça decepada pela Polícia e mostrada no Museu”.
              Quase sempre, é certo, aparecem livros que se enveredam pelas versões e mistérios que estão fincados na Grota de Angico. Existe um boato de que ainda neste ano de 2008 serão lançados dois livros que com fundamentos poderosos desejam provar que Lampião não morreu em Angico. 
              Tenho certeza absoluta de que tudo que se registrou sobre o cerco e o combate de Angico não passa de uma grotesca e quase que ingênua mentira. Aliás, as mais variadas mentiras que não se deve dar por elas nenhum crédito. Todavia, mesmo acreditando que tudo pode ter acontecido naquele histórico riacho, jamais eu me arriscaria em afirmar que Lampião não morreu naquele célebre combate com as “forças” alagoanas. No entanto, o que é deveras muito estranho é a maioria dos historiadores e estudiosos do cangaço não querer nem ouvir falar no que possa ter acontecido de real e verdadeiro em Angico e que venha contrariar a versão oficial mesmo que ela comprovadamente tenha sido edificada em cima de depoimentos absolutamente mentirosos.

Grota de Angicos

             Todos sabem, e isto não é nenhuma novidade, que os testemunhos dos que participaram de corpo presente, inclusive João Bezerra, do dia final de Lampião, são absurdamente falsos e mentirosos. 
             Não consigo compreender qual a razão de muitos ainda continuar a dar crédito aos depoimentos que estão registrados sobre o dia final de Lampião e do cangaço quando os mesmos não oferecem nenhuma sustentação que se possa alcançar a mais simples fundamentação.
              Lampião morreu em Angico? Acredito que sim. Mas, me pergunto: por que os estudiosos, os historiadores, os pesquisadores, enfim a sociedade brasileira, não aceita sob hipótese alguma desfazer as terríveis mentiras que foram plantadas naquele pedacinho histórico de sertão? 
              E se Lampião não morreu em Angico, como é que fica a história?

Maria Bonita 100 anos de história


Mesa de abertura do segundo Ciclo de Conferências

           Com o título "Maria Bonita 100 anos de história", aconteceu o segundo Ciclo de Conferências do Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita. Desta vez na tarde da quinta-feira, no auditório municipal Miguel Medeiros, em Piranhas, Alagoas.

Antônio Galdino, Mestre de Cerimônia
 
 
 
 Jairo Luiz e João de Sousa Lima, Conferencistas da tarde

             Tivemos duas conferências na tarde da quinta-feira na cidade de Piranhas. O turismólogo, pesquisador e escritor Jairo Luiz, discorreu sobre a importência do Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita, dentro do contexto do fortalecimento do turismo histórico, cultural e de lazer na região do baixo São Francisco, destacando as iniciativas exitosas do município de Piranhas com relação à Trilha do Cangaço. Jairo também destacou a importância do fortalecimento de iniciativas exitosas como o Cariri Cangaço, promovendo integração e parceria entre várias instituições e municípios.
 
 
Maria Bonita
 
              A segunda conferência da tarde ficou a cargo do pesquisador e escritor João de Sousa Lima, um dos promotores do evento, que apresentou uma síntese da vida da Rainha do Cangaço, desde os tempos de menina, na Malhada da Caiçara, passando por seu casamento com José de Nenem, a entrada no cangaço, e o desfecho da paixão e morte no Angico, capítulo final da saga de Lampião e Maria Bonita.
 
José de Nenem, o primeiro esposo de Maria Bonita
 
 
Bosco André, representando o Cariri Cangaço e Ângelo Osmiro, representando a SBEC, compondo a Mesa.