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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O QUE SOMOS EM NÓS MESMOS

*Rangel Alves da Costa

Somente o ser conhece a si mesmo. O outro imagina, supõe, dialoga com a aparência, mas somente o homem se conhece no todo e se reconhece nas suas partes, sentindo sua alegria, sua dor, seu contentamento ou seu sofrimento. Pode até fingir e mostrar ser outro, exteriorizar uma aparência que não condiz com sua realidade. Contudo, jamais consegue fugir do seu interior e daquilo que se faz carência ou abundância. Dentro de si é que mora toda a verdade, é onde está seu livro aberto e verdadeiro. Do outro lado da porta, apenas a moldura condizente com o momento ou a necessidade. Da porta adentro o retrato sem disfarces ou maquiagens. Que doa ou não, que faça sofrer ou não, é neste retrato que se encontra toda vez que sente desejo de se reencontrar.

Não raro que as armadilhas do mundo tentam ser mais fortes que a pessoa em si mesma. Como predadoras do ser, tais armadilhas forçam o desvirtuamento de desejos, de fazeres e até de comportamentos. Nas armadilhas também os modismos, as lições maléficas, as insistências para que deixe de ser a si mesma para se tornar apenas em mundo, para pactuar e compartilhar de realidades que nada condizem com os anseios da alma e as necessidades espirituais. Corre-se o risco de deixar de ter fé, de abster-se da prece e da oração, de negar o sagrado, de ajustar-se somente ao que é desajustado lá fora. Armadilhas que também desnorteiam o caráter, a moral, a ética, os bons e verdadeiros atributos humanos. E não é fácil fugir de tais armadilhas, eis que o mundo está cheio de garras e ilusões que tudo farão para levar ao precipício aquele que só deseja caminhar na superfície.


Ou se tem fé ou se deixa levar. Ou se tem abnegação própria ou se deixará conduzir. Ou se luta contra as garras e as ilusões mundanas ou se deixará mortificar. E só há um remédio para que a pessoa se mantenha em si mesma: a persistência. Nisto, o compromisso consigo mesma, a força de vontade para atender unicamente à sua vontade, a certeza que tem objetivos e caminhos e que nada conseguirá afastá-la de sua direção. A pessoa tem que querer continuar sendo a própria pessoa, sendo a si mesma. Certamente haverá luta ferrenha contra o mal e todos os tipos de tentações, mas nada consegue vencer a persistência do bem e a tenacidade do amor, da fé, do humanismo, do compromisso com a vida própria e a além. É uma questão de escolha entre a esperança e a perdição.

Por isso que necessitamos sempre de ter necessidade de nós mesmos. E só sente as carências aquele que busca compreender as ausências. Ainda que o mundo seja atraente, convidativo e tentador, nada deve ser mais importante que a pessoa em si mesma. Ora, o mundo tem seu próprio passo, a sua própria direção, e quem desejar simplesmente segui-lo deixará para trás a si mesmo. É preciso que a pessoa permaneça sempre perto e dentro de si. Que tudo adiante seja diferente. O que o ser humano não pode é ser igual ao estranho e diferente de si próprio. Mas como reconhecer-se nas suas necessidades e procurar seu caminho interior e, consequentemente, sua paz? Sendo como a voz e o silêncio das catedrais.

Em muitos instantes da vida, ainda que em meio a algazarras ou multidões, somos apenas o que somos em nós mesmos: os nossos silêncios e as nossas catedrais. Dentre de nós e povoando a nossa mente, tão somente o espaço preenchido pelo que desejamos. Precisamos de paz, precisamos de felicidade, precisamos de compreensão, precisamos de amor verdadeiro. É uma necessita da alma e que nos reclama. Precisamos pensar mais em nós mesmos, precisamos afastar os nossos abandonos interiores, precisamos nos revelar mais amigos e confidentes de nós mesmos. É uma necessidade espiritual e que tanto nos clama. E por que de repente nos sentimos assim, distante de tudo e tão próximo de nós mesmos, é que temos de respeitar nossos silêncios e caminhar em busca de nossas catedrais. Como é útil a reflexão, a meditação e a oração em momentos assim. Encontrarmo-nos neste silêncio, ajoelharmo-nos perante a luz. E sentir que Deus nos fará levantar como homem novo, aquele que ecoará na vida uma nova canção!

Escritor
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100 ANOS DA ENTREVISTA DA CANGACEIRA ANÉSIA CAUAÇU AO JORNAL A TARDE

Por Domingos Ailton

Há exatos 100 anos, dia 25 de outubro de 1916, coincidentemente data do aniversário de Emancipação Política de Jequié, o Jornal "A TARDE" trazia como manchete JEQUIÉ, Cauassus, Marcionilio e Zezinho dos Laços. A empreitada dos crimes. Narrativa de uma Cauassu ao nosso repórter, com uma foto da cangaceira Anésia Cauaçu ao lado de uma criança. Na primeira página e nas páginas internas do jornal, Anésia narra a trajetória da família Cauaçu, cuja grafia da época se escrevia Cauassu, dando conta de que seus familiares eram simples agricultores e comerciantes, e que se tornaram cangaceiros por conta de uma vingança.

Anésia Cauaçu

Em Ituaçu, antigo Brejo Grande, na Chapada Diamantina, duas famílias disputavam o poder local: os Silvas, chamados de "rabudos", e os Gondins, denominados de "mocós”. O major Zezinho dos Laços (um dos líderes dos “rabudos”) exige que Augusto Cauaçu acompanhe seu grupo de jagunços em uma emboscada contra a família Gondim. Por conta da recusa de Augusto, este é assassinado a mando de Zezinho dos Laços. Então, a família Cauaçu se reúne e resolve vingar a morte, assassinando Zezinho dos Laços seis anos depois em uma tocaia na Fazenda Rochedo. 

Chefes dos “rabudos”, a exemplo do coronel Marcionílio de Souza e de Casseano do Areão passam a perseguir e matar membros da família Cauaçu e de seus aliados, comandados por Anésia e seu irmão José Cauaçu. Pressionado pelos coronéis, o então governador da Bahia, Antônio Muniz, denomina o movimento armado dos Cauaçus de "conflagração sertaneja” e envia para Jequié mais de 240 soldados em três expedições da polícia militar da Bahia, com participação inclusive de oficiais que combateram na Guerra de Canudos, a exemplo do tenente-coronel Paulo Bispo. Ocorre então a Guerra do Sertão de Jequié, conflito envolvendo os cangaceiros Cauaçus, policiais militares e jagunços dos coronéis. A força policial pratica uma série de atos violentos não só contra os cangaceiros, mas também contra a população inocente de Jequié e região. 

O alferes Francisco Gomes – Pisa Macio obriga um homem a comer lama no povoado do Baixão, crucifica outro nas margens do Rio das Contas e lança crianças para o ar, que são amparadas com a ponta das baionetas e levava suspeitos para um pequeno morro no Curral Novo onde eram sangrados com requintes de perversidade. O local ficou conhecido como Morrinho da Matança.

O genocídio é denunciado pelo Jornal "A TARDE", que envia um repórter para fazer a cobertura das expedições policiais em Jequié e na ocasião entrevista Anésia Cauaçu, dando destaque a sua narrativa a respeito da história do bando e do histórico conflito daquele ano de 1916.

Anésia Cauaçu foi uma mulher que esteve à frente do seu tempo. Foi a primeira mulher nordestina a ingressar no cangaço, uma vez que em 1911, ano do nascimento de Maria Bonita, Anésia já lidera um bando de mais de 100 bandoleiros. Ela também foi a primeira no sertão de Jequié a praticar montaria de frente, já que as mulheres de sua época montavam de lado em uma sela denominada silhão, e a pioneira das terras jequieenses a vestir calças compridas (as mulheres do período em ela viveu apenas usavam vestidos e saias), para facilitar o combate em cima do cavalo. 

O historiador Emerson Pinto de Araújo, que registou a história da cangaceira assim a descreve: “era uma mulher branca, de olhos azuis, bons dentes, alta e delgada, que tomava suas pingas, sem que ninguém ousasse faltar-lhe com respeito. 

Numa época em que não existiam academias de defesa pessoal, ela tinha ginga de corpo, conhecia- ninguém sabe com quem aprendeu - os ´rabos-de-arraia da capoeira, batendo forte nas fuças de muitos valentões que tentavam avançar o sinal. Manejando armas de fogo com uma pontaria invejável, jogava pra escanteio os melhores atiradores. Certa feita, bafejada pelo acaso, numa distância de trezentos metros, cortou o dedo do sargento Etelvino, quando este indicava aos seus comandados a direção em que deveria atacar”. 

Com base na memória coletiva de tradição oral, em documentos escritos e no meu imaginário, escrevi um romance histórico que tem como protagonista Anésia Cauaçu. Inspirado neste texto ficcional, o poeta e cordelista José Walter Pires produziu um livro de cordel e o compositor e cantor Jonas Carvalho compôs uma música sobre a saga de Anésia Cauaçu. Diversos estudos acadêmicos foram e estão sendo desenvolvidos sobre essa guerreira do sertão de Jequié. A entrevista publicada em 25 de outubro de 1916 e as matérias publicadas pelo Jornal A TARDE há 100 anos sobre os conflitos na região de Jequié constituem relevantes documentos da história do coronelismo e do cangaço na Bahia.

http://www.juniormascote.com.br/noticias/100-anos-da-entrevista-da-cangaceira-an-sia-caua-u-ao-jornal-a-tarde/

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CASA DE ANTONIO CONSELHEIRO


Foto da antiga casa do beato "Antônio Conselheiro" na cidade cearense de Quixeramobim...

Esse homem foi o responsável por uma página da história do Brasil que resultou na "Guerra de Canudos", maior morticínio de pessoas praticado pelo Exército Brasileiro. Essa história merece ser mais estudada...

fonte: ( ? )

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=447001418835171&set=a.116442745224375.1073741827.100005759494452&type=3&theater

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O REENCONTRO DO TRIO MOSSORÓ

Fonte da foto: Jornal de Fato (Mossoró)

Os primeiros artistas no mundo musical de Mossoró foram os três irmãos Oséas Lopes (atualmente cantando com o nome artístico Carlos André), 

https://www.youtube.com/watch?v=GZoS59pi6d0

Hermelinda Lopes a rainha do "Forró pé de Serra"

https://www.youtube.com/watch?v=3F_D337KBNA

e João Mossoró, o Sibito, segundo apelido carinhoso do saudoso rei do baião Luiz Gonzaga do Nascimento. Os três irmão foram os fundadores do Trio Mossoró. 

https://www.youtube.com/watch?v=zyN0RDJCrNg

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PROFÍCUA ENTREVISTA COM A MESTRA MARGARIDA PATRIOTA


Desde 1997 até hoje, a escritora e professora universitária Margarida Patriota empreendeu mais de oitocentas gravações, entrevistando alguns dos escritores mais importantes da literatura brasileira. 


Um registro histórico que vale a pena ter na estante, seja para consulta, seja para a fruição do pensamento daqueles que construíram a nossa cultura literária. 

Nomes como Rachel de Queiroz, Moacyr Scliar, Carlos Heitor Cony, José J. Veiga, Alfredo Bosi, Luís Fernando Veríssimo, Ziraldo, Adélia Prado, João Ubaldo, Lia Luft, Ferreira Gullar, Lígia Bojunga, Autran Dourado, Ana Miranda, Zélia Gattai, Lêdo Ivo e Ariano Suassuna. Expôs em livro memorável de 262 páginas. (Wiki)

Foto Rádio Senado Programa Autores e Livros, com Margarida Patriota.
Teor de nossa entrevista, basta clicar na foto do Post anterior.

https://www.facebook.com/

Página: Luiz Serra

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LIVRO CASO CARLINHOS



“Caso Carlinhos, uma história que não terminou, 02 de agosto de 1973, 20h35 min de uma noite chuvosa. Mais de 40 anos se passaram sem que se soubesse o que de fato aconteceu ao menor Carlos Ramires da Costa, o “Caso Carlinhos”, até hoje um mistério para a sociedade, gera repercussões, hipóteses e controvérsias no Brasil e no Mundo. 

Décadas depois do sequestro, surge uma dúvida: poderia o hoje adulto Carlos Ramires da Costa estar vivendo sob outra identidade, sem ter lembranças dos traumas do seu passado e de seus algozes?

Nesta trama – que mistura fatos reais com ficcionais, com boa dose de suspense, coragem, mistérios, conspiração, investigações e conflitos pessoais – os personagens tornam-se amigos e são movidos pelo desejo intenso de descobrir a verdade oculta há tantos anos. 

Quem matou Carlinhos, se é que alguém o matou? 
Se morto, onde está o corpo? 
E, se está vivo, qual o seu paradeiro? 

Caso Carlinhos, a história que não terminou: criança sem vida ou adulto sem identidade?.

Ofertas e Promoções no livro Caso Carlinhos
“Uma história que não terminou”

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08. "DELMIRO GOUVEIA" - O TREM DA HISTÓRIA (PARTE 2 FINAL)

https://www.youtube.com/watch?v=dAfT5pdzSn4

Enviado em 18 de setembro de 2009
TVE Alagoas - 2009 ®

Oitavo episódio da primeira temporada do programa alagoano "O Trem da História", apresentado por João Marcos Carvalho.

Exibido em: 27.07.2009
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CANGAÇO NO PIAUÍ


Mais um livro do escritor e fundador da SBEC -  (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço) Paulo Gastão.


Paulo de Medeiros Gastão nasceu na cidade de Triunfo da Baixa Verde, no Estado de Pernambuco, no dia 14 de novembro de 1938,e é filho de Manoel Gastão Cardoso e Maria José Torquato. É considerado uma das maiores personalidades célebres da cultura local. Formado em Farmácia, tem especialização em Bioquímica. Como empresário e homem culto, tem contribuído bastante para o desenvolvimento econômico, social e cultural da população de Mossoró. Já publicou vários livros: “Viagem a Triunfo da Baixa Verde”, “Contribuição a Uma Bibliografia do Cangaço”, "Angico", "Lampião de A a Z", "Cangaço no Piauí" entre outros. Fundador da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, Secretário de Comunicação da SBEC. Membro de várias instituições culturais. Foi professor da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, atual Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); Colégio Diocesano Santa Luzia, entre outras instituições de ensino.  

Foi diretor administrativo do Hospital de Caridade de Mossoró, psteriormente Hospital Duarte Filho; precursor das ideias de assessorias do turismo mossoroense. Entre tantos serviços prestados a Mossoró, ao nordeste e ao país, ele honra a cadeira que ocupa, de número dezesseis, deixada pelo saudoso poeta Cosme Corsino Lemos. Em síntese e em particular, sua contribuição cultural engrandece a historiografia mossoroense e a esta cidade que é carinhosamente conhecida como terra do sol, do sal, do petróleo e da liberdade (Mossoró). (facebook - Lindomarcos Faustino)

Entre em contato com o autor através deste e-mail:
paulomgastao@hotmail.com
Peça logo o seu para não ficar sem ele: Livros sobre cangaço se demorar adquiri-los ficará sem eles, porque são arrebatados pelos colecionadores.

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HÁ CEM ANOS DAVA ENTRADA EM GARANHUNS, O PRIMEIRO AUTOMÓVEL DE PROPRIEDADE DO SR. DELMIRO GOUVEIA

Coronel Delmiro Gouveia

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia não foi somente o pioneiro do aproveitamento de Paulo Afonso, foi também o grande precursor na criação da grande indústria na zona das caatingas. Ainda lhe coube a primazia na introdução do automóvel no sertão nordestino. Adquirindo carros europeus, abriu às próprias custas 520 km de estradas de rodagem, ligando a Pedra à cachoeira, aos centros urbanos vizinhos, Água Branca e Mata Grande e as portas de trilhos da "Great Western", na cidade alagoana de Quebrangulo, passando a rodovia por Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios, e na cidade pernambucana de Garanhuns, via Santana e Bom Conselho.

Cortando o planalto sertanejo o rebordo meridional da Borborema, Delmiro Gouveia construiu 520 km de estradas de rodagem, ligando o núcleo industrial da Pedra às pontas de trilhos "Great Western", nas cidades de Quebrangulo e Garanhuns.

A construção das estradas foi iniciada em 1911, a partir da Pedra. Ainda no primeiro semestre de 1912, os automóveis do Coronel Delmiro já alcançavam Santana de Ipanema. As novas estradas continuaram sendo abertas nos sertões alagoano e pernambucano e tiveram de galgar o rebôrdo meridional da Borborema, através das serras do Muro e de São Pedro, para atingir a região do agreste, onde localizavam os terminais ferroviários. 


Duas turmas de trabalhadores mantinham estas primeiras rodovias sertanejas em bom estado de conservação, de modo que foi deslizando sobre elas que os caminhões "Ford" e os automóveis "Chevrolet", alguns anos mais tarde, ganharam o caminho do sertão alagoano, enquanto muitas outras regiões do país continuavam dependendo do carro de bois e do lombo de animais.

Delmiro Gouveia, aos vinte e poucos anos de idade, já casado com Anunciada Cândida de Melo Falcão, apelidada familiarmente de Iaiá.

 
Um elegante "Fiat", um "Austin" grande e outro pequeno e um imenso "N.A.G." obedeciam docilmente a uns mágicos chamados "Seu" Cruz, João de Deus, Euclides ou Luís Maranhão, Zé Pó e Campina. "Seu" Cruz era um gênio, sabia até afinar piano. E da Pedra até Garanhuns, o povo conhecia cada um dos automóveis, pelo som da buzina. Lá em Santana do Ipanema, Antônio Bocão nunca se enganou: o carro fonfonava na grande curva do rio, a meia légua da cidade. Daí a pouco o automóvel parava na frente do sobrado do Coronel Manoel Rodrigues: era Delmiro, Iona, Adolfo Santos, Borella, Ferrário ou o médico da Pedra, de passagem para Quebrangulo ou Garanhuns.
  

Enquanto o hospede jantava lá em cima, o chauffeur se desdobrava em complicados serviços: colocava óleo e gasolina, bulia numa pequena bomba misteriosa e preparava os faróis de acetileno para viajar durante a noite. Era preciso chegar na estação, antes do trem partir. E o carro puxava 60 km por hora.

Com as rodovias de acesso à cachoeira de Paulo Afonso, começaram as excursões. Em fins de julho de 1915, o então Ministro da Agricultura, Dr. José Bezerra, em companhia do Governador de Alagoas, Dr. João Batista Acióli, do Deputado Federal Pernambucano, Dr. Manoel Borba, do Escritor Bastos Tigre, Secretário do Ministro e dos engenheiros Eugênio Gudin, Jungsted e Butler, foi visitar a cachoeira. Os excursionistas fizeram a viagem de Quebrangulo a Pedra, em três automóveis, durante sete horas, percorrendo 300 km, a tardinha e na noite de 28 de julho. Na manhã seguinte, visitaram a fábrica de linhas e a usina hidrelétrica.

A jovem e bela Iaiá (Anunciada Falcão Gouveia), esposa de Delmiro, numa pose para o fotógrafo Barza, na penúltima década do século passado.

 O Ministro da Agricultura e sua comitiva retornaram a Maceió no dia 30. E o "Diário de Pernambuco" de 2 de agosto já publicava uma entrevista do Escritor Bastos Tigre, que descreveu a excursão e se mostrou encantado com a bela iniciativa do Coronel Delmiro Gouveia, o primeiro industrial brasileiro a conquistar para a indústria uma parcela desse formidável tesouro que a natureza guardava ali.

Nos meados de 1916, Manoel Borba, na qualidade de Governador de Pernambuco, foi inaugurar, oficialmente os trechos da rodovia de Delmiro Gouveia, no território de Pernambuco. A comitiva foi de trem até Garanhuns, no dia 22 de agosto, e dela faziam parte o próprio Coronel Delmiro Gouveia e seu amigo de Santana de Ipanema, o Coronel Manoel Rodrigues da Rocha. Às 13 horas, os excursionistas deixaram Garanhuns ocupando quatro automóveis. Às 9 da noite, chegaram a Santana do Ipanema, jantando no sobrado do Coronel Manoel Rodrigues.

Em uma das suas viagens aos Estados Unidos da América do Norte, Delmiro Gouveia visitou as cataratas do Niágara  e ali posou para um fotógrafo. (Da coleção do Sr. José Augusto de Farias).

Ao que consta da minuciosa reportagem do historiador Mário Melo do "Diário de Pernambuco" de 28 de agosto, o Governador Manoel Borba e sua comitiva, depois de ligeiro descanso na confortável vivenda, de ouvido o funcionamento de um colossal miraphone, recomeçaram a viagem, saindo lá de Santana às 10 horas da noite e chegando ao centro "agro-fabril-mercantil" da Pedra às 2 da madrugada do dia 23. A fadiga era geral e a ordem foi dormir, apenas 4 horas, porque às 6 a voz possante do adiantado industrial acordava os excursionistas.

Já funcionavam, então, na primeira vila operária sertaneja, quatro escolas, serviço médico, cinema e banda de música. A fábrica trabalhava de segunda-feira ao sábado, em três turnos de 8 horas.


O Governador Manoel Borba e sua comitiva percorreram a fábrica, visitaram a usina hidrelétrica, assistiram a uma sessão de cinema e ainda foram homenageados com uma retreta. No dia 24 de agosto, às 5 horas da tarde, deixaram a Pedra, pernoitando em Santana, onde foram hospedados pelo Coronel Manoel Rodrigues. Na sexta-feira, 25, viajaram para Garanhuns de onde saíram de trem para o Recife, às 10 horas da noite.

Na referida reportagem de 28 de agosto, o "Diário de Pernambuco" informou, textualmente: "A estrada que S. Excia. inaugurou tem 246 km, dos quais 115 em território pernambucano, ligando Garanhuns a Bom Conselho e estas localidades a Quebrângulo, Santana do Ipanema e Pedra, em Alagoas.


O Historiador Oliveira Lima e os Jornalistas Plínio Cavalcanti e Assis Chateaubriand também visitaram a Pedra, no tempo de Delmiro Gouveia. Ficaram impressionados com o surto civilizador que ali encontraram.

Aquele famoso intelectual, que conhecia o mundo inteiro: ficou admirado com a obra de Delmiro Gouveia: "Nunca supus, e com dificuldade o acreditaria se o não tivesse visto, que no alto sertão se encontrasse o que debalde de procuraria na zona açucareira ou mesmo nas capitais destes estados, num resultado devido simplesmente, um simplesmente que é tudo ao empenho de um homem pôs em construir um edifício moral da solidez e do brilho do que me foi dado admirar".

O Jornalista Plínio Cavalcanti descobriu na Pedra uma verdadeira Canaã sertaneja, "tão branca e limpa, que a primeira vista julguei-a um grande algodoal de capulhos alvejantes". E Assis Chateaubriand percebeu na obra admirável de Delmiro Gouveia uma resposta magistral a "Canudos", com a substituição do fanatismo e do banditismo pela moderna civilização industrial, baseada na ciência e na técnica.

Menos de dois anos após o desaparecimento do criador desta imensa obra, foram conhece-la Dom Sebastião Leme, Arcebispo de Olinda e Recife e Dom Duarte Leopoldo, Arcebispo da Capital paulista. Dom Duarte e Dom Leme, acompanhados pelo Dr. Tarcilo Leopoldo e pelo Cônego Benígno Lira, partiram do Recife em 25 de setembro de 1919, pernoitando em Garanhuns. No dia seguinte, viajando de automóvel, chegaram a Pedra, às 8 horas da noite. No sábado, 27 de setembro, visitaram a cachoeira de Paulo Afonso e a fábrica de linhas. A noite em majestosa solenidade litúrgica, o Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo, sagrou a igreja de Nossa Senhora do Rosário, primeiro templo construído no centro industrial das caatingas.

Regressando ao Recife, Dom Duarte concedeu longa entrevista ao "Diário de Pernambuco" de 1º de outubro, em que se podem ler palavras de grande entusiasmo: "Venho positivamente maravilhado. Se em minha vinda ao Norte só me fosse ver Paulo Afonso, digo-lhe com franqueza que Paulo Afonso pagava a viagem. Tive ocasião de ver como é possível desenvolver a civilização e vi a própria civilização em pleno coração sertanejo".

Outra importante visita feita à Pedra foi do inglês Arno S. Pearse, Secretário Geral da International Federation of Master Cotton Spinners and Manufacturers Associations, durante os meados de 1921.

Com a sua reconhecida autoridade no assunto, Mister Pearse, no documentado relatório das observações que fez no Brasil, diz que a Fábrica da Pedra merece especial referência, devido ao extraordinário trabalho e empreendimentos pioneiros, que foram exigidos na sua instalação, trabalho inteiramente iniciado e concluído por um brasileiro, o cearense Delmiro Gouveia.

Depois de elogiar a vila operária e a disciplina reinante no centro industrial, Mr. Pearse escreve: "Os operários são bem comportados, bem vestidos e limpos. Quando vão para o trabalho, estão mais bem trajados do que o operário de fábrica europeu médio em dia de domingo".

O Coronel Delmiro Gouveia foi assassinado em 10 de outubro de 1917, em seu chalé na Pedra.

Fonte: Livro "Delmiro Gouveia o pioneiro de Paulo Afonso", de Tadeu Rocha - junho de 1963 - 2ª edição.

http://www.anchietagueiros.com/2016/08/ha-cem-anos-dava-entrada-em-garanhuns-o.html

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“ÁRVORE SAGRADA DO SERTÃO”

por José Gonçalves do Nascimento*

O umbuzeiro é um prodígio da caatinga. Com chuva ou com sol, sempre está ele a abraçar a todos quantos procuram sua sombra acolhedora. Nas horas pesadas de fadiga, é sob a copa frondosa de um umbuzeiro que o sertanejo busca refrigério. Pouso de retirantes no passado; pouso de vaqueiros no presente; aliado incondicional dos habitantes das caatingas. Teimoso como o mandacaru – outro milagre das áridas terras – o umbuzeiro não se curva diante do tempo ruim, resistindo a todas as intempéries possíveis. É amigo dos homens e dos animais; é amigo da natureza toda; com ela convive e forma harmonia. Euclides da Cunha o chamou de “árvore sagrada do sertão”. Sagrada e abençoada. Sem ela o sertão seria feio, desgracioso; menos hospitaleiro. Seria solitário, tedioso. Seu verde não seria tão verde; suas tardes não seriam tão belas. Os passarinhos cantariam noutro lugar e o sol talvez fosse mais carrancudo. Sem ela, o sertão seria muito chato. Mas lá está a árvore sagrada, abençoada, sempre a espera de mais um.


O umbuzeiro proporciona sabores. Seu fruto acridoce é apreciado por todos. Maduro ou de vez, ele é uma unanimidade. O tempo do umbu é uma festa. Sim, no sertão há o tempo do umbu; que é o tempo da trovoada; que é o tempo da fartura. É o tempo em que o precioso fruto bate à porta dos lares, alegrando o sertão inteiro. O umbu vence a rotina, move a vida, esquenta a economia. O tempo do umbu é o tempo da graça. Nada se compara ao tempo do umbu. Dele, do umbu, é feita a umbuzada, fina iguaria da culinária sertaneja. A mesma umbuzada que encantou von Martius e Euclides da Cunha, quando de passagem pelos sertões. Doce umbuzada das tardes quentes e fatigantes. Doce umbuzada, servida fria, friínha, em tigela de louça ou argila. A umbuzada poderia ser a marca registrada do sertão, sem similar em nenhuma outra parte do mundo. Patenteada, poderia ser comercializada além fronteira, garantindo ótima lucratividade. A umbuzada, todavia, é mais do que um produto de comércio: é um símbolo. Símbolo do sertão e sua gente. E um símbolo nunca poderá ser objeto de comércio. Seu papel é unir, assim como a umbuzada.

O umbuzeiro, quase sempre, tem uma identidade, sendo tratado pelo nome tamanha sua familiaridade com o homem e com o mundo ao seu redor. É o Umbuzeiro do Muriçoca, o Umbuzeiro da Raposa, o Umbuzeiro do Neco. O nome vem relacionado a algum fato, alguma coisa que relembre aquela específica árvore; um feito grandioso ou vulgar. O Umbuzeiro do Neco, por exemplo, fica nas bandas onde eu nasci e é o nome dado à árvore sob a qual o famoso Neco das Cacimbas travou luta com um touro brabo, depois de correr muitos quilômetros enrabado no bicho. Conheci nas proximidades da Lajinha o Umbuzeiro do Jagunço. Conta-se que dali, do meio das suas folhas, um fiel de Antônio Conselheiro mandou pro beleléu dezenas de milicos da expedição Moreira César, quando da passagem deste em demanda de Canudos. Umbuzeiro tem nome, tem identidade, tem história. Tem raízes profundas. Por isso é forte; forte como o sertanejo. Umbuzeiro, porém não tem idade. Sua idade é a idade do sertão, seu tempo é o tempo do sertão. Ele dura enquanto dura o sertão. E terá sempre nome e história e raiz, como os homens e as mulheres do sertão.

O umbuzeiro é ponto de encontro, os mais diversos. Debaixo da sua ramagem se dança, se canta, se conta história. Até rezas e catecismos ali se fazem. Já vi umbuzeiro ser utilizado como sala de aula, os alunos dispostos em círculo e o mestre a locomover-se no centro. Falta de espaços mais adequados ou não, o fato é que sempre haverá um velho umbuzeiro de braços abertos a espera do irmão. Afinal de contas, ele é sertanejo. O umbuzeiro é morada de cupido. É sob o frescor da sua copa que muitas vezes são dados os primeiros passos no arriscado caminho do amor. Os primeiros olhares, os primeiros toques... e por aí vai. Muitos casamentos ali começam e ali terminam. Ah, umbuzeiro, se tu falasses! É possível que todo sertanejo tenha um umbuzeiro no seu caminho. Mas umbuzeiro é pra isso mesmo. Melhor: é pra tudo isso. Afinal de contas, ele é um parceiro e tanto.

Sem ele, o umbuzeiro, o sertão talvez nem existisse; a caatinga seria muito triste e o homem, a criatura mais infeliz da terra.

*Poeta e cronista
jotagoncalves_66@yahoo.com.br

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