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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

A MENINA CEGA DE NASCENÇA DE JABOTICABAL - SP

Por serem muito devotos de Nossa Senhora Aparecida, os membros da família Vaz de Jaboticabal - SP rezavam e falavam muito sobre os acontecimentos referentes a Nossa Senhora Aparecida. 

O casal desta família tinha uma menina que era cega de nascença e que sempre ouvia atentamente ao que falavam. A menina tinha uma vontade muito grande de ir até a Igreja. Naqueles tempos, onde tudo ainda era sertão, ficava muito difícil de se chegar até lá. 

Mas com muita dificuldade, fé e perseverança, mãe e filha da família Vaz de Jaboticabal - SP chegaram às escadarias da Igreja, quando, surpreendentemente, a menina cega de nascença exclamou: 

"Mãe, como é linda esta Igreja!". 

Daquele momento em diante a menina que era cega de nascença passa a enxergar normalmente.[12]

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_da_Concei%C3%A7%C3%A3o_Aparecida

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A RUA DOS COITEIROS

 Por Sálvio Siqueira

Junior Almeida, Manoel Severo, Sálvio Siqueira e Ana Gleide no lançamento de As Cruzes do Cangaço em Floresta.

Naquele tempo, para sobreviver às inúmeras perseguições das volantes, Lampião arquitetou uma enorme e eficiente ‘malha’, rede, de colaboradores. Essa rede se fazia necessário para aquisição de material bélico, alimentação, vestimentas e, o mais importante, informações. Que, vira e mexe, O “Rei dos Cangaceiros” usava os ‘informantes’ para passarem a ‘desinformação’. Uma espécie de espionagem e contra espionagem na caatinga sertaneja.
O roceiro tinha que ser coiteiro, não simplesmente por ser. Havia o medo do que poderia lhe ocorrer, assim como a sua família, se se recusa ser colaborador. Tinha lá suas vantagens em ser colaborador do ‘Capitão’. A vida não era, e não é fácil para quem vive exclusivamente dos produtos retirados das pequenas propriedades. Pior ainda, quando o mesmo com sua família, era morador de uma fazenda. Às vezes o dono sabia, consentia e mandava seu ‘morador’ acolher e alimentar os grupos quando por suas terras passavam. Outra era só o colaborador quem sabia da passagem e estada deles naquelas brenhas. 

A partir do momento em que ele matava a sede e a fome de algum cangaceiro, leva ou trazia algum recado, passava a ser colaborador, mesmo que nunca mais se repetisse esses atos. Aí vinha a dureza imposta por aqueles que os perseguiam, por ele ter dado água aos cangaceiros, eram, quando descobertos, presos, maltratados e até assassinados. No entanto, haviam aqueles que colaboravam por recompensas em dinheiro, favores e proteção, dependendo da sua colocação na pirâmide de colaboradores, se estavam na base, no meio ou no topo da mesma.
Certa feita, uma volante comandada pelo Anspeçada Sinhozinho, Manoel Gomes de Sá, rastreava os sinais deixados por dois cangaceiros, que tinham estuprado uma mulher em uma fazenda da região, no leito e margens de um riacho temporário no sertão do Pajeú. Próximo às margens dos riachos e rios, era o local preferido onde os sertanejos procuravam levantarem suas taperas para morarem. Entretidos em decifrar e seguir o que os sinais ‘diziam’, os homens da volante nem percebem que estavam bem perto de uma casa.
Na casa, os dois foragidos, cangaceiros Zé Marinheiro e Sabiá, tinham matado sua sede e estavam a prosear embaixo de uma latada, quando, de repente, o dono da casa e sua esposa avisam aos dois da aproximação de soldados. Acredito que os cangaceiros que ali estavam, pensaram serem poucos os homens em seus rastros, pois um deles, Zé Marinho, faz pontaria e abre fogo contra aquele que estava na linha de tiro.
O som do disparo, repentino àquelas horas e naquele silêncio da mata, não deixa os soldados atinarem o ponto correto de onde tinha partido o mesmo. O tiro teve endereço certo. Acertou o ouvido do militar e esse morre mesmo antes de chocar-se contra o solo seco do sertão. Demorados alguns instantes, a volante, já consciente do que ocorrera, manda bala em direção oposta de onde viera o disparo.

Embaixo da latada onde estavam os cangaceiros, havia um pilão de madeira, e após matar o soldado, é exatamente onde o cangaceiro Zé Marinheiro se protege dos disparos dos soldados, os quais retiram lascas da madeira e fazem o cabra escutar o zunido do projétil tomando outra direção, ou mesmo aquelas que penetram e se alojam no velho objeto de pilar milho e outras culturas.

Vendo o companheiro tombado, seus companheiros procuram cercar o local o mais fechado e rápido que poderiam. Aquele que matara seu companheiro não podia escapar da sua sentença. E acocham cada vez mais o círculo da morte. Vendo que estavam cercados, os dois cabras pulam para dentro da casa do roceiro, e, de lá, dão combate a volante.

Essa casa era d’um caboclo trabalhador, conhecido como Garapu. Casado com dona Carmina, geraram oito herdeiros. Quando os cangaceiros adentram na casa, sua companheira procura proteger sete, de seus filhos, colocando-os em lugar seguro. O caboclo tinha algum dinheiro, provavelmente ganho dos cangaceiros, pega seu ‘tesouro’ e o coloca entre uma telha e outra. Essa ação não passa despercebida por sua esposa, que naquela hora, lembra-se de seu primogênito que tinha ido fazer compras na vizinhança. O filho mais velho daquele casal estava mais perto do que ela, sua mãe, imaginava. Viajando montado em uma burra, já na volta de sua viagem, escuta o tiroteio vindo das bandas de sua casa. Salta do animal e procura uma moita como esconderijo, vendo o que se passava com sua família.

Soldados atacam, cangaceiros se defendem. Num momento infeliz, o comandante da volante passa diante de uma das janelas da casa, e, nessa estava o cangaceiro Sabiá, que sem demora, faz mira e abre fogo contra ele. O tiro e certeiro, levando a mais uma baixa na volante. Após a morte do comandante, vários de seus comandados não conseguem segurar o fogo. Dentre eles, estava o soldado Zé Tinteiro, valente e destemido, segura seu fuzil e combate os inimigos com maior afinco.
Outro volante, Zé Freire, homem de um Santo Protetor fora do comum, estava tiroteando contra Zé Marinheiro. Esse, salta por sobre a porta de baixo, as portas da maioria das casas do sertão rural e mesmo nas cidades, naquela época, eram em duas partes e de madeira, e avança, ficando a centímetros de Zé Freire. Aponta a arma e aperta o gatilho. À bala impina, a espoleta não ‘quebra’, a arma não dispara. Zé Freire, quase que encosta a boca do fuzil na cabeça do cabra e faz fogo, estourando o crânio de Zé Marinheiro.
Seu companheiro, o cangaceiro Sabiá, continua a combater os soldados, virado numa fera ferida. Numa tentativa de louco, salta para fora da casa e nesse momento e atingido na barriga e em uma das pernas. Continuando a combater os soldados bolando pelo terreiro da casa. Até que os dois valentes volantes se aproximam e matam o terrível cangaceiro.
Após abater os cangaceiros, a tropa aproxima-se da casa e o soldado Zé Freire grita para que o dono saia para o terreiro... para morrer.
“(...) o soldado Zé Freire, revoltado com a morte do Aspençada Sinhozinho Gomes e dos outros dois companheiros, gritou para Garapu, dizendo: – Saia pra fora, Garapu. Você tá sabendo que vai morrer (...).” (“AS CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta-PE” – SÁ, Marcos Antônio de. e FERRAZ, Cristiano Luiz Feitosa. Floresta, PE. 2016)

O coiteiro sabia sim sua sentença. Sabia que por ajudar bandidos seria condenado a morte certa. Estando dentro de um quarto, com sua esposa e os sete filhos, Garapu despede-se deles, saca de uma faca peixeira e parte de encontro a morte. Desfere um golpe em direção ao soldado que havia lhe inquirido, errando o alvo. O soldado Zé Feire, afasta-se para um lado e mata a tiros de revólver o coiteiro.

“(...) Com a morte de Garapu, Carmina teve que lutar sozinha para criar os filhos, lavando roupas de vizinhos, costurando e cuidando da lavoura(...).” (Ob. Ct.)
Dona Carmina, na época do tiroteio em sua casa, estava grávida. Alguns meses depois, pariu uma menina a qual deu o nome de Nair Carmina da Silva. Logicamente, essa, nunca soube o que é ter um pai, seus afagos e conselhos.
Os corpos dos militares mortos são levados pelo restante da tropa para seu QG. O corpo do caboclo Garapu e dos dois cangaceiros, Zé Marinheiro e Sabiá, são enterrados em uma vala comum bem próximo a casa.
As notícias voam com o vento. E aquela história da morte do caboclo Garapu se espalhou por toda a região do vale do Pajeú. Outros coiteiros, temendo a mesma sina, arrumam suas tralhas em cima de carro de bois, no lombo de animais e dão no pé. Na cidade de Floresta, PE, na rua Theófhanes Ferraz Torres, os fazendeiros “Manoel Januário, Rosendo Januário e Elói Januário", colaboradores de Lampião, estabelecem residência. A partir daí, essa rua passa a ser conhecida como “A Rua dos Coiteiros”, até os dias de hoje.

Sálvio Siqueira, pesquisador do Cangaço.
Grupo Ofício das Espingardas

Fonte (“AS CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta-PE” – SÁ, Marcos Antônio de Sá - Marcos De Carmelita e FERRAZ, Cristiano Luiz Feitosa -Cristiano Ferraz. Floresta, PE. 2016)Foto Ob. Ct.

http://cariricangaco.blogspot.com/2017/02/a-rua-dos-coiteiros-porsalvio-siqueira.html

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O MATADOR DE "CORISCO"

 Por Sálvio Siqueira

 Subgrupo de cangaceiros comandados por Zé Sereno e Mané Moreno

... um certo acontecimento na localidade de Pia Nova, deixa familiares e vizinhos com uma profunda tristeza. Acontece que um grupo de cangaceiros assassinam sogro e genro numa ação de monstruosa criminalidade.

São executados o pai de João Torquato, José Torquato, e seu cunhado Firmino. Daí por diante a angustia, tristeza e revolta corroem o íntimo do jovem que tinha muitos planos para a vida. O sofrimento interno o faz perder toda e qualquer perspectiva de vida futura. Cabisbaixo, vendo a todo instante a imagem do pai naquele ataúde, sendo colocado dentro daquele buraco profundo... seu último adeus. Quando as lembranças da sua voz, do seu jeito, da cor do seu rosto, da maciez de seus cabelos quando, com muito amor e respeito afagava, a angustia aumenta por saber que o perdera sem motivo. Não fora um chamado de Deus. Anteciparam sua 'viagem' simplesmente por maldade. Um bando de proscritos, não só mataram seu 'véio' e seu cunhado, mas, sua alegria, esperança e sensatez.

Toda a vizinhança ficou comovida com os assassinatos do sogro e do genro naquele recanto de terra esquecido pelas autoridades. Aos poucos, um sentimento turvo, mesquinho, chegando a sentir o cheiro do sangue que havia de ser derramado, invade e toma por completo o corpo, a mente e a alma do jovem João Torquato. Virou uma obsessão vingar seu querido genitor.

Sua índole nunca fora de bandido, mesmo tendo os 'porquês'...com as razões maiores que poderia ter, não entrara nas fileiras das veredas dos fora- da - lei. Entrou para a Força Policial que dava combate aquelas feras humanas que lhe tiraram o prazer de pedir sua bênção e escutar uma resposta trazida pelas ondas sonoras geradas nas cordas vocais da garganta de seu pai.

Após entrar nas Forças Especiais, as Volantes, seu pensamento não muda nem um pouco. Continua na busca dos assassinos que mataram seu pai. Tem vários comandantes, famosos na História do Fenômeno Cangaço.

Em determinado dia, estando com o companheiro de farda Chico Amaral, veem um bando de cangaceiros. Procura, no local, um lugar adequado para enfrentar aquele grupo de bandidos. No início da 'peleja', seu parceiro se acovarda e corre, ficando só na empreitada contra os bandoleiros.


O valente João Torquato - lampiaoaceso.blogspot.com

João, vislumbrando, dentre os componentes daquele grupo, um homem muito forte, de corpanzil avantajado, que caminha a frente dos outros, de imediato vem na mente que seria o famoso bandoleiro Corisco. Então Torquato atira de ponto. Acerta em cheio aquele corpo enorme, levando-o ao seco solo sertanejo sem vida. No entanto, não se tratava do subchefe Corisco e sim do cangaceiro Guerreiro que vinha na vanguarda do grupo. Talvez como batedor por ordens do chefe. Continuando o embate, ao som do disparo, os outros cabras jogam-se por terra a fim de protegerem-se. João Torquato segura, já sozinho, o fogo. Sua posição era privilegiada, com bons anteparos naturais evitando assim, ser atingido pelas balas inimigas.


O cangaceiro Corisco - lampiaoaceso.blogspot.com

Prosseguem-se os disparos, acompanhados de frases fortes em desafios de ambos os lados. Corisco, com pouca munição, quer evitar a continuação do combate, mas, ao virar-se para adentrar na mata, escuta a voz desafiadora de João. Ora, nunca tinha corrido com medo de ninguém, por que correria daquele 'macaco'? Mas de maneira alguma. João, dosando seus disparos, consegue manter a turba distante. De repente nota um vulto movendo-se sorrateiramente, se arrastando mesmo, na direção de um de seus flancos. Se atingisse, o cangaceiro, seu  objetivo, deixaria ele em maus lençóis, pois teria que defender duas frentes ao mesmo tempo. Sabedor do perigo, faz mira, prende a respiração e faz fogo. Atingido, o bandido grita de dor e fica contorcendo-se. Vendo que seu tiro não fora fatal, protegido, chega-se para junto do bandoleiro e desfere-lhe vários golpes com o coice do mosquetão, terminando de dar cabo daquele inimigo.

Volta sua atenção para o restante do grupo, que havia tido duas baixas, Guerreiro e Rouxinho, esse último, apenas um garoto, mas, tão fatal quanto qualquer outro de seus companheiros. Ver Corisco se afastando e começa a dizer que não fuja, que fique para continuarem lutando. Como sempre, Corisco, no reflexo dos valentes, gira o corpo na intenção de atirar na direção que vinha aquela voz que tanto incomodava-o. Nesse instante, o valente volante atira. O projétil da sua arma vai de encontra ao braço direito do chefe cangaceiro. Encontrando pouco obstáculo, a bala prossegue seu caminho e atinge o outro membro superior do "Diabo Louro".


A sua companheira, a cangaceira Dadá, vira uma fera. Torna-se em um obstáculo para que o volante termine com a vida de Christino Gomes. Ela saca de sua pistola e dispara todos os projéteis na direção do soldado João Torquato. Acabam-se as balas... não há tempo nem como recarregar o carregado. Dadá agacha-se e 'cata' algumas pedras. Começa a atacar o volante arremessando pedras... o volante faz mira e aperta o gatilho, clic, também está descarregado. Rapidamente leva a mão no bornal a procura de mais balas. Encontrando-as, recarrega sua arma e quando faz pontaria, sente uma dor horrível na mão. Seus companheiros chegam e o confundem com um cangaceiro. Então atiram, acertando sua mão.

No instante que se acabam as pedras colhidas e arremessadas, Dadá volta-se na direção de Christino e o empurra para dentro da mata. Saindo rapidamente da linha de tiro.

Para mim, nesse momento deu-se fim o Cangaceiro Corisco. As sequelas desses ferimentos não deixam mais o valente alagoano combater, lutar com armas de fogo e/ou brancas. Termina, no instante em que a bala da arma do soldado volante, João Torquato, atinge seus braços, a trajetória de um cruel assassino. Daí para frente, Christino segue com suas sequelas.

Dadá, a companheira 'viúva' do cangaceiro Corisco, faz curativos nos ferimentos de Christino. A mesma relata que teve que fazer desbridamento nos tecidos necrosados. Não sabia como ele nada dizia, nem gemia, quando a pequena lâmina, cortava sua carne para o pus, junto com sangue, acumulados, pudessem sair.

Seguindo em frente, Christino tornasse um bêbado, sem autoridade para seus cabras. Aquele que causava medo, terror mesmo, ficara morto, no pé daquela laje, pelas balas da arma de João Torquato. A 'viúva' Dadá, tomou as rédeas do grupo. Impôs e ordenou. Na tolda, Sérgia cuidava com carinho e dava amor a Christino. No acampamento, Dadá ordena, grita, torce e distorce, os poucos cangaceiros que permaneceram no grupo.

Os jornais, naquela época, noticiam que Corisco iria se entregar. Christino Gomes ainda cogita uma entrega com autoridades, mas, a 'viúva' Dadá, não permite que ele se entregue. Como? Impossível, pois perdera seu cangaceiro há algum tempo atrás e, de maneira alguma, iria permitir que Christino tomasse o lugar de Corisco na História.

O jovem Christino Gomes morto - Grupo LCN


Pouco tempo depois, uma volante, comandada pelo tenente Zé Rufino, quase no ocaso de uma tarde de um dia, já se notando as primeiras sombras da noite, as quais trazem sempre os espectros daqueles que foram vítimas, tanto pelos cangaceiros como pelas volantes, quase no final do mês dedicado a Maria, mata o jovem de 38 anos, Christino Gomes da Silva Cleto.

OFÍCIO DAS ESPINGARDAS MEMORIAL CANGAÇO

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SOLDADO 914, O CANGACEIRO ALECRIM (Sortudo ou azarento?)

Por Sálvio Siqueira

Naquele tempo, uma das duas saídas para o jovem roceiro, era entrar para a polícia, ser um volante e cair dentro da caatinga e ir perseguir cangaceiro por um soldo irrisório, que atrasava bastante, mas que vinha, tendo também que respeitar a hierarquia militar, além de estar fardado podendo fazer de tudo para conseguir o que queria, ou entrar para o cangaço, ter sempre dinheiro, ser ‘respeitado’ aonde chegava, não prestar contas de seus atos... porém estar sempre de prontidão, em alerta total, para trocar tiros com as volantes e ser bom de perna para correr delas mata adentro. Muitos estavam com os bolsos recheados de notas de mil réis, no entanto, estavam com o ‘couro do bucho’ colado às costas, não tinham como gastá-lo.

Quando a tropa volante saía em campo à procura de rastros de bandos de cangaceiros, tinham ordens para irem, procurarem e capturarem, ou mesmo matarem desde que fosse ‘necessário’. Essas missões eram cruéis para aqueles homens, pois passavam dias e dias dentro da mata sem, muitas vezes, não terem o que comerem a não ser o que a própria caatinga lhes oferecia como xique xiques, coroas de frade, mandacaru e outras mais. Valiam-se, também, de tubérculos das raízes como fonte de alimento e água. Mas, o homem só não vive de beber e comer. Existindo as necessidades fisiológicas naturais em seu metabolismo.

Após vários dias dentro da caatinga, quando conseguem voltar ao ‘mundo’ habitado, aqueles homens queriam mais era farrearem, beberem e se divertirem com as mulheres nos cabarés que sempre existiram.

Certa feita, um soldado volante da Polícia Militar da Bahia, Pedro Barbosa dos Santos, com o número de registro 914, ao retornar de uma dura missão, está na cidade de Jeremoabo, BA. Como seus companheiros, vai tomar cachaça, dançar e ‘ficar’ com as mulheres nos cabarés. Após alguns dias de folga, 914 vai urinar e sente uma dor terrível. Descobre que contraiu blenorragia. Chegando o termino da folga, Pedro não é escalado para seguir com a tropa e o comando lhe dá ordens para ficar em casa.

O tempo passa lento, sem ter toda tensão que seus sentidos costumavam sentir quando na perseguição dos grupos cangaceiros. A coisa demora tanto, que quando, certo dia, vai ao quartel, sabe que fora dispensado. Antes, porém, tinha feito algumas compras fiado para pagar quando recebesse seu pagamento. Homem honesto, não queria ter seu nome ‘falado’ por dever e não pagar, então resolve entrar no mato e ir atrás de uma de suas reses para, pegando-a, vende-la e saldar a dívida.

Só que, em vez de encontrar uma rês, dá de cara com um bando de cangaceiros. O ex soldado 914 estava cercado pelo bando de Mariano. Desesperado, seu cérebro trabalhava em ritmo alucinante, pensando como é que sairia daquela encrenca. Mas, estando na mata, pensa ele, a cavalo e encourado, talvez passasse por um simples vaqueiro.

Engano total de Pedro. No subgrupo chefiado por Mariano tinha uma cangaceira, Otília, que estando certa vez em determinado lugar, foram surpreendidos por uma volante e o tiroteio foi pesado. Tão intenso que os bandidos tiveram que largar o que levavam para fugirem com maior liberdade de movimentos. E é ela que reconhece o rapaz.

“- Ah! É Pêdo, filho de Rimualdo, foi ele quem deu fogo em nois, lá na Lagoa Grande.” (“Lampião em Paulo Afonso” – LIMA, João de Sousa. 2ª Edição Ampliada e Revisada. 2013).

A coisa engrossou para o lado de Pedro. Rapidamente alguns cangaceiros o seguram, o amarram e o levam aos solavancos para um determinado local onde havia um coito. Lá chegando eles o fazem ficar em pé e colado ao tronco de uma árvore. Depois pegam a corda e o amarram dando várias voltas fazendo com que a corda ficasse como um caracol. Prendendo o corpo do ex volante colado ao tronco da árvore, de tal maneira que ele só ficou mexendo os olhos. Assim, enquanto espera a chegado do chefe cangaceiro, Pedro está lá, sem poder comer, urinar ou defecar. Nem água fora lhe dado. Por fim, Lampião, o “Rei dos Cangaceiros”, chega e fica a par do acontecido.

Nessa época Virgolino já havia, há muito, divido seu grande grupo em pequenos subgrupos, com seus respectivos chefes, estando ele a esperar Labareda, e seus “cabras”, que ficara de encontra-lo naquele local para prestação de contas e receber novas ordens. O que não ocorreu, para aumentar a agonia de Pedro, no mesmo dia. Ângelo Roque, o chefe de subgrupo, o cangaceiro Labareda, só chega ao coito, no outro dia.

O reencontro de cangaceiros sempre era comemorado por, principalmente, estarem vivos, motivo mais do que lógico de festejarem. Os homens vão se abraçando e proseando sobre suas ‘aventuras’, enquanto isso, Lampião conta o ocorrido sobre o preso. Labareda vai imediatamente ver quem seria aquele soldado. Lá chegando, reconhece Pedro que era seu sobrinho. Vira-se para o seu chefe e diz:

“-Ah, não, cumpade Lampião, esse daqui é filho do meu tio Rimualdo, esse num tem bom pra matá.” (e já vai cortando as cordas que amarravam Pedro)

“-Também cumpade, tu tem parente até no inferno!” (diz Lampião)

“- Assim como o sinhô também tem.” (retruca Labareda)(Ob. Ct.)

A sorte, ou a falta dela, começa a mudar para o lado do ex 914. Labareda arruma uma montaria e, dando-lhe as ‘coordenadas’, o manda para um coito onde logo mais o avistaria. Assim, Pedro de Rimualdo sai e vai para onde Labareda, naquela ocasião, seu anjo da guarda, mandou. Após pouco tempo de Pedro ter chegado ao acampamento, Labareda chega e lhe apresenta aos demais como sendo o cangaceiro “Alecrim”. A partir dali, Alecrim passa a ser comandado pelo seu primo e participa de várias missões.


Certa feita, seu chefe, o primo Ângelo Roque, o deixa guarnecendo duas cangaceiras, Mariquinha, sua companheira, e a companheira do cangaceiro Passarinho, a cangaceira Lica. Dando uma olhada no perímetro onde estavam Alecrim descobre uma volante muito próxima ao acampamento. Sorrateiramente pega as duas mulheres e as leva para bem longe dali. Após mais de um mês de separação, Labareda se reencontra com sua companheira. Assim Alecrim vai ganhando a confiança de seu primo, o chefe de subgrupo Labareda.

Seu chefe, sabedor da fome que tinha passado, manda que Alecrim vá até um coiteiro amigo e pegue uma criação para que servisse de alimento, que depois acertaria com ele. Chegando onde deveria estar o coiteiro, Alecrim não ver ninguém. Olha para os lados e uma tremedeira começa a tomar conta de seu corpo. Dana-se no meio da mata e dessa vez acerta no rumo da casa de seu pai, numa velocidade que nem bala pegava.

Vejam que coincidência, um irmão da cangaceira Otília, Batista de Clara, como era conhecido, vai até o quartel da Polícia em Jeremoabo e diz ao comandante ter avistado o soldado Pedro de Rimualdo, o 914, junto com cangaceiros. Imediatamente é decretada sua prisão. Pedro dana-se no vasto Raso da Catarina e passa bastante tempo escondido de Lampião e seus cabras, de Labareda e seus homens e da polícia. O sofrimento é grande. Não tinha sossego de maneira alguma. Assustava-se até com a própria sombra. Então toma uma decisão. Vai até Jeremoabo e entrega-se ao major Jonas.

O major, por antes ter sido patrão de Pedro, o qual era vaqueiro, manda que levem o prisioneiro para que o Juiz resolvesse seu caso. O Magistrado manda coloca-lo atrás das grades e, parece é terem esquecido dele no xilindró. O tempo passa e Pedro continua a ver o sol nascer quadrado. Até que um dia, um de seus ex comandantes, o tenente Zé Vitor, aparece, após 914 lhe mandar chamar, e lhe pede que o transfira para a Capital. Assim é feito.

Chegando a Capital, Salvador, Pedro é preso e lá se vão três anos de ‘jaula’ quando um amigo dele resolve fazer um abaixo assinado e enviar para o então Presidente da República Getúlio Vargas. Só que, nas entrelinhas do Abaixo Assinado, não se referiu apenas a soltura de Pedro, também era solicitado a dos cangaceiros Bananeira, Sebastião e Manoel Correia. A resposta vem determinando que os três últimos seguissem para Ilhéus e de que Pedro tinha que ir a Capital do País para ter uma audiência com o Presidente. Assim se procedeu e se cumpriram as ordens.

Chegando diante do Presidente Vargas, Pedro faz um relato de tudo que se passou com ele. O Presidente ordena:

“Levem-no e o incorporem novamente na polícia.” (Ob. Ct.)

“(...) Pedro Barbosa dos Santos passou a usar novamente o fardamento policial, com o mesmo número de registro 914, sem esquecer que um dia vestiu a indumentária cangaceira, conhecendo assim os dois lados da moeda (...)”. (Ob. Ct.)

A imprensa, na época, noticia sobre a prisão do cangaceiro “Alecrim”. Faz referências sobre a ida dele e dos outros para Ilhéus, quando, na verdade, ele fora requisitado para comparecer diante do Presidente da República, no Rio de Janeiro, Capital do País, naquela ocasião. No entanto, não sabemos o porquê, ou melhor, sabemos, pela trave que sempre fora colocada pelas autoridades, coisa que ainda hoje ocorrem, nada de seu tempo como soldado de volante fora noticiado, a ida ao Rio de Janeiro nem sobre seu retorno ao quadro da Polícia da Bahia com o mesmo número de registro, 914.

O Jornal “O IMPARCIAL” noticia, meio desnorteado, sobre a liberação de alguns presos irem viver trabalhando nas matas do sul do Estado da Bahia. Inclusive o sobrenome do sodado, cangaceiro preso, 914 é escrito “Pedro Vieira da Silva”. O próprio Pedro, em entrevista refere ser ele na matéria ao autor da fonte desta. A narração da matéria trás, explicitamente, não acreditarem em uma recuperação tão rápida dos bandidos. Nem tão pouco de onde partiu tal decisão. Não sabiam que a decisão, segundo a fonte pesquisada, partira do Palácio do Catete, canetada do próprio Presidente, por isso, na matéria, fazem perguntas de como pode uma coisa dessas ocorrerem? ... no solo soteropolitano. Após vários anos, o pesquisador/historiador dá com o cabra e ele narra para ele como ocorreram as coisas.

Fonte “Lampião em Paulo Afonso” – LIMA, João de Sousa. 2ª Edição Ampliada e Revisada. Paulo Afonso, Bahia. 2013.
Foto João De Sousa Lima
Benjamin Abrahão
Jornal O Imparcial
PS// FOTO DE LAMPIÃO COLORIZADA, DIGITALMENTE, PELO AMIGO, PROFESSOR Rubens Antonio

Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: OFÍCIO DAS ESPINGARDAS

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NÃO SE SERVE A DOIS SENHORES - CONTOS DO CANGAÇO - CANGACEIRO LAMPIÃO

 Por Contos do Cangaço

https://www.youtube.com/watch?v=rIEqtkKCNaM&ab_channel=ContosdoCanga%C3%A7o

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O CANGACEIRO BEM-TE-VI

 Por Lampião e o Cangaço

Por meio de uma postagem que a página fez, com a foto de Benedito Ferreira de Souza, o Benedito Bacurau, sapateiro, Ademórcio, ou simplesmente, o ex-cangaceiro Bem-te-vi, o amigo Elivaldo Donato, nos informou que um amigo seu de Carinhanha - BA, teria o conhecimento da data da morte de Bem-te-vi.

Elivaldo nos passou o contato, e este seu amigo se chama Valternan, que nos informou que a data de falecimento do ex-cangaceiro ocorreu no mesmo dia do falecimento do seu pai, no dia 11/05/1989. Então, queremos agradecer imensamente a estes dois amigos que foram fundamentais por essa descoberta.

Agradecemos também, a página O Cangaço na Literatura, em nome de Robério Santos, e a todos envolvidos, por ter feito documentário em seu canal, apresentando a história e o paradeiro do ex-cangaceiro, juntamente com o seu nome.

Facebook: Lampião e o Cangaço

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TENENTE HIGINO BELARMINO

 Acervo do José João Souza

O Tenente Higino Belarmino, nasceu na cidade de Viçosa, Estado de Alagoas, em 11 de janeiro de 1895, ingressou como soldado da Força Pública de Pernambuco em 1° de janeiro de 1912, sem que tivesse completado seus 17 anos. Conhecido pela tropa como "Negro Higino" ou "Monte Negro" é promovido a 3° Sargento em 17 de julho de 1922, coincidentemente pouco dias após o primeiro ataque do bando chefiado por Lampião. Aos longos dos anos de maior intensidade do cangaço, recebe duas promoções em um curto período de tempo. Porém, com arrefecimento do cangaço em Pernambuco, o oficial deixa de atuar como volante. Em julho de 1932 estava no sul do País em operação de guerra, regressando em 19 de outubro do mesmo ano. Higino comandou a 1° Companhia do 1° Batalhão de Caçadores da Brigada Militar, batizada com o nome de Companhia Higino. No ano de 1935 permanecia trabalhando na cidade de Recife, sendo registrado que em 1935 era elogiado pelo comandante das Tropas de Defesa, louvado pelo Exmo. Sr. General Comandante da 7° RM. "Bravura atitude com que se portou barrando passagem, na ponte de Afogados de elementos rebeldes". No ano em que Lampião foi morto, Higino Belarmino, já no posto de Tenente Coronel, foi eleito suplente do presidente do Clube dos Oficiais, tendo neste mesmo pleito sido eleito como 2° secretário, o 2° Tenente Olímpio de Souza Ferraz, outro policial que chegou a atuar em Tropas Volantes.

Do livro: Capitães do Fim do Mundo - As Tropas Volantes Pernambucanas (1922 - 1938)

De: André Carneiro de Albuquerque.

Foto do livro: O Canto do Acauã

De: Marilourdes Ferraz

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CAIÇARA

 Clerisvaldo B. Chagas, 24 de fevereiro 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.662

Não foi somente uma vez em que tivemos vontade de conhecer o topo da serra da Caiçara. Transitando inúmeras vezes no trecho Poço, Maravilha e Ouro Branco, tínhamos como colírio à serra da Caiçara em torno de 800 metros de altitude. Sua vegetação diferenciada, grotas, centro de microclima da região, transmitiam essa vontade que a alma geográfica teimava em conhecer. Infelizmente nunca apareceu uma oportunidade real de incursão pelas suas faldas atrativas e topo chamativo. Sua altura de fato impressiona e se comparada à serra do Poço – dividida entre Poço das Trincheiras e Santana do Ipanema – possui 300 metros a mais, o que faz grande diferença.  

O habitante da planura leva cerca de duas horas para chegar ao cimo da serra do Poço, enquanto seus moradores fazem a caminhada em poucos minutos. Ali conhecemos bem, uma das paisagens mais belas do Sertão, vista de cima. Quanto à Caiçara, ultimamente também denominada pelos populares de serra da Maravilha, é um atrativo de além fronteiras e foi transformada em reserva, não está com tanto tempo assim. Achamos que demorou muito a ação governamental.  Antes tarde do que nunca, fica a reserva à disposição de estudos para geógrafos, biólogos, geólogos e uma infinidade de profissionais afins, naturalmente observando as regras da lei.

Imaginamos a saga do Corpo de Bombeiros e Polícia Civil em busca do homem desaparecido e só achado morto 40 dias depois, em lugar de difícil acesso.  Enquanto isso, a cidade vai mostrando o seu museu de mastodontes para os habitantes da região e os turistas interessados em História Natural e aventura. Maravilha incorpora assim a reserva da serra como um trunfo a mais no seu desenvolvimento. Estando em Maceió e querendo visitar essa região, é pegar a BR-316 via Palmeira dos Índios, Santana do Ipanema, Entroncamento Carié. Antes do entroncamento tem o acesso à cidade de Maravilha. A belíssima foto abaixo, do Corpo de Bombeiros em busca do homem desaparecido na serra da Caiçara, ilustra bem aquele monte extraordinário que ornamenta com muita pompa o Sertão alagoano.


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LAMPIÃO EM MOSSORÓ

Por Geraldo Maia do Nascimento

Em 1927 a cidade de Mossoró vivia um período de expansionismo comercial e industrial. Possuía o maior parque salineiro do país, três firmas comprando, descaroçando e prensando algodão, casas compradoras de peles e cera de carnaúba, contando com um porto por onde exportava seus produtos e sendo, por assim dizer, um verdadeiro empório comercial, que atendia não só a região oeste do Estado, como também algumas cidades da Paraíba e até mesmo do Ceará.

A população da cidade andava na casa dos 20.000 habitantes, era ligada ao litoral por estrada de   ferro que se estendia ao povoado de São Sebastião, atual Dix-sept Rosado, na direção oeste, seguindo por quarenta e dois quilômetros. Contava ainda com estradas de rodagem, energia elétrica alimentando várias indústrias, dois colégios religiosos, agências bancárias e repartições públicas. Era essa a Mossoró da época. A riqueza que circulava na cidade despertou a cobiça do mais famoso cangaceiro da época, que era Virgulino Ferreira, o Lampião.

Para concretizar o audacioso plano de atacar uma cidade do nível de Mossoró, Lampião contava em seu bando com a ajuda de alguns bandidos que conheciam muito bem a região oeste do Estado, como era o caso de Cecílio Batista, mais conhecido como “Trovão”, que havia morado em Assú onde já havia sido preso por malandragem e desordem e de José Cesário, o “Coqueiro”,  que havia trabalhado em Mossoró. Contava ainda com Júlio Porto, que havia trabalhado em Mossoró como motorista de Alfredo Fernandes, conhecido no bando pela alcunha de “Zé Pretinho” e de Massilon que era tropeiro e conhecedor de todos os caminhos que levavam a Mossoró.

No dia 2 de maio de 1927 Lampião e seu bando partiram de Pernambuco, em direção ao Rio Grande do Norte. Atravessaram a Paraíba próximo à fronteira com o Ceará, com destino a cidade potiguar de Luiz Gomes. Antes, porém, atacaram a cidade paraibana de Belém do Rio do Peixe.

Lampião não estava com o bando completo. O cangaceiro Massilon, que era um de seus chefes, estava com uma parte dos bandidos no Ceará e pretendia atacar a cidade de Apodi, já no Rio Grande do Norte, no dia 11 de junho daquele ano. Depois do assalto, deveria se juntar a Lampião em lugar predeterminado, onde deveriam terminar os preparativos para o grande assalto. Essa reunião se deu na fazenda Ipueira, na cidade de Aurora, no Ceará, de onde partiram com destino a Mossoró. E ai começou a devastação por onde o bando passava.

Assaltaram sítios, fazenda, lugarejos e cidades, roubando tudo o que encontravam, inclusive jóias e animais, queimando o que encontravam pela frente e fazendo refém de todos os que podiam pagar um resgate. Entre os seqüestrados estavam o coronel Antônio Gurgel, ex-Prefeito de Natal, Joaquim Moreira, proprietário da Fazenda “Nova”, no sopé da serra de Luis Gomes, dona Maria José, proprietária da Fazenda “Arueira” e outros.

Coube ao Coronel Antônio Gurgel, um dos seqüestrados, escrever uma carta ao prefeito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, fazendo algumas exigências para que a cidade não fosse invadida. Era a técnica usada pelos cangaceiros ao atacar qualquer cidade.

Antes, porém, cortavam os serviços telegráficos da cidade, para evitar qualquer tipo de comunicação. Quando a cidade atendia o pedido, exigiam além de dinheiro e jóias, boa estadia durante o tempo que quisessem, incluindo músicos para as festas e bebidas para as farras. Quando o pedido não era aceito, a cidade era impiedosamente invadida.

De Mossoró pretendiam cobrar 500 contos de réis para poupar a cidade, mas sendo advertido que se tratava de quantia muito alta, resolveram reduzir o pedido para 400 contos de réis. A carta do coronel Gurgel dizia:

“Meu caro Rodolfo Fernandes.

Desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aquartelado aqui bem perto da cidade. Manda, porém, um acordo para não atacar mediante a soma de 400 contos de réis. Penso que para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto que ele promete não voltar mais a Mossoró…”

Ao receber a carta, o Cel. Rodolfo Fernandes convoca uma reunião para a qual convida todas as pessoas de destaque da cidade, onde informa o conteúdo da mesma e alerta para a necessidade de preparação da defesa contra um possível ataque dos cangaceiros.

Os convidados, no entanto, acham inviável que possa acontecer um ataque de cangaceiros a uma cidade do porte de Mossoró.  E de nada adiantaram os argumentos do prefeito.

Mesmo decepcionado com a atitude dos cidadãos da cidade, o prefeito responde a carta nos seguintes termos:

“Mossoró, 13 de junho de 1927.  –

Antônio Gurgel.

Não é possível satisfazer-lhe a remessa dos 400.000 contos, pois não tenho, e mesmo no comércio é impossível encontrar tal quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, Sr. Jaime Guedes. Estamos dispostos a recebê-los na altura em que eles desejarem. Nossa situação oferece absoluta confiança e inteira segurança.

Rodolfo Fernandes”.

Quando o portador chega a casa do prefeito para pegar a resposta, esse, de modo cortês, diz que a proposta do bandido é inaceitável e se diz disposto a enfrenta-lo. Levou o portador ao aposento onde havia vários caixões com latas de querosene e gasolina. Junto a esses caixões, existia um aberto e cheio de balas. O prefeito na tentativa de impressioná-lo, diz que todos aqueles caixões estão cheios de munição e que já existe um grande número de homens armados na cidade, aguardando a entrada dos cangaceiros.

Lampião não esperava tal resposta e ao tomar conhecimento que a cidade está pronta para brigar, resolve mandar um bilhete escrito de próprio punho, numa péssima caligrafia, julgando que assim conseguiria o intento :

” Cel Rodolfo

Estando Eu até aqui pretendo drº. Já foi um aviso, ahi pº o Sinhoris, si por acauso rezolver, mi, a mandar será a importança que aqui nos pede, Eu envito di Entrada ahi porem não vindo essa importança eu entrarei, ate ahi penço que adeus querer, eu entro; e vai aver muito estrago por isto si vir o drº. Eu não entro, ahi mas nos resposte logo.

Capm Lampião.”

Mais uma vez, o prefeito responde com negativa. Diz em sua resposta para Lampião:

“Virgulino, lampião.

Recebi o seu bilhete e respondo-lhe dizendo que não tenho a importância que pede e nem também o comércio. O Banco está fechado, tendo os funcionários se retirado daqui. Estamos dispostos a acarretar com tudo o que o Sr. queira fazer contra nós. A cidade acha-se, firmemente, inabalável na sua defesa, confiando na mesma.

Rodolfo Fernandes

Prefeito, 13.06.1927”.

Nessa altura dos acontecimentos, os mossoroenses já convencidos do intento dos cangaceiros, tratavam de preparar a defesa da cidade. O tenente Laurentino era o encarregado dos preparativos. E como tal, distribuía os voluntários pelos pontos estratégicos da cidade. Haviam homens instalados nas torres das igrejas matriz, Coração de Jesus e São Vicente, no mercado, nos correios e telégrafos, companhia de luz, Grande Hotel, estação ferroviária, ginásio Diocesano, na casa do prefeito e demais pontos.

O plano de lampião era chegar a uma localidade conhecida como Saco, que ficava a uma distância de dois quilômetros de Mossoró, onde abandonariam as montarias e prosseguiriam a pé até a cidade. O cangaceiro Sabino comandava duas colunas de vanguarda. Uma das colunas era chefiada por Jararaca e outra por Massilon.  Lampião ia no comando da coluna da retaguarda.

Enquanto cangaceiros e voluntários se preparam para o combate, o restante da população, que não participariam do mesmo, tentava deixar a cidade.  Eram velhos, mulheres e crianças, pessoas doentes, que não tinham nenhuma condição de enfrentar, de armas em punho, a ira dos Cangaceiros.

A cena era dantesca desde o dia 12 de junho.

Nas ruas, o povo tentava deixar a cidade de qualquer maneira. Mulheres chorando, carregando crianças de colo ou puxadas pelos braços, levando trouxas de roupas, comida e água para a viagem, vagando na multidão sem rumo. Era uma massa humana surpreendente que se deslocava pelas ruas da cidade na busca de transporte, qualquer que fosse o meio, para fugir antes da investida dos Cangaceiros. Famílias inteiras reunidas, em desespero, lotavam os raros caminhões ou automóveis que saíam disparados a caminho do litoral. Muitos, sem condição de transporte, tratavam de conseguir esconderijo dentro ou fora da cidade. A ordem dada pelo prefeito era que quem estivesse desarmado saísse da cidade.

O desespero aumentava mais a medida que o dia avançava. Às onze horas da noite, os sinos das igrejas de Santa Luzia, são Vicente e do Coração de Jesus começaram a martelar tetricamente, o que só servia para aumentar a correria. As sirenes das fábricas apitavam repetidamente a cada instante. Muita gente que não acreditava na vinda de Lampião, só ai passou a tomar providências para a partida.

Na praça da estação da estrada de ferro, era grande a concentração de gente na busca de lugar para viajar nos trens que partiam de Mossoró. Até os carros de cargas foram atrelados a composição para que a multidão pudesse partir. Mesmo assim não dava vencimento, e os retardatários, em lágrimas, imploravam um lugar para viajar.

O Prefeito, o Cel. Rodolfo Fernandes de Oliveira, se desdobrava na organização da defesa, ao mesmo tempo que ordenava a evacuação da cidade, medida essa que poderia salvar muitas vidas.

Enquanto isso, a locomotiva a vapor, quase milagrosamente partia, resfolegando com o peso adicional, parecendo que ia explodir, tamanho o esforço feito pela máquina que emitia fortes rangidos e deixava um rastro de fumaça negra no horizonte. Era uma viagem relativamente curta, entre Mossoró e Porto Franco, nas proximidades da praia de Areia Branca.

Na cidade, o badalar dos sinos continuava e o desespero também, pois apesar da pequena distância que o trem deveria percorrer, a locomotiva demorava mais do que o normal para chegar, com o maquinista parando com freqüência para se abastecer de água e lenha pelo caminho. Saía de Mossoró com todos os carros lotados e voltava vazio. Era um verdadeiro êxodo.

Na noite do dia 12 de junho, não houve descanso para ninguém em Mossoró. Os encarregados pela defesa da cidade se revezavam na vigília, enquanto o restante da população esperava a vez de partir. E o movimento na estação ferroviária não parava. O embarque de pessoal virou toda a noite e só terminou na tarde do dia 13 de junho, dia de Santo Antônio, quando foram ouvidos os primeiros tiros, dando início ao terrível combate. Mas a meta havia sido alcançada; a cidade estava deserta, exceto pelos defensores que das trincheiras aguardavam o ataque.

Ao entrarem na cidade, o bando sente medo, devido ao abandono do local. Sabino encaminha-se com suas colunas para a casa do prefeito. Não perdoa o atrevimento daquele homem que resolveu enfrentar o bando de cangaceiro mais temido do nordeste brasileiro. Sabino posiciona-se sozinho em frente a casa de Rodolfo Fernandes.

Os defensores da cidade ficam indecisos, sem saber se ele é um soldado ou um cangaceiro, já que não havia muito diferença entre a maneira de se vestir de um e de outro. Foi preciso a ordem do prefeito para que começassem a atirar.

Nesse momento o tempo fechou. Uma forte chuva começa a cair, comprometendo o desempenho dos cangaceiros e tornando mais tétrico o ambiente. Lampião segue em direção ao cemitério da cidade enquanto que Massilon procura os fundos da casa do prefeito.

O cangaceiro “Colchete” tenta revidar os tiros lançando uma garrafa com gasolina contra os fardos de algodão que servem de trincheiras para os defensores, na tentativa de incendiá-los. Nesse momento é atingido por um tiro, caindo morto. Jararaca se aproxima do corpo, com o intuito de dar prosseguimento ao plano do comparsa morto e é também atingido nas costas, tendo os pulmões perfurados.

No mesmo instante, os soldados entrincheirados na boca do esgoto começam a atirar, encurralando os cangaceiros. Os defensores dominam a situação e não resta outra solução aos facínoras se não abandonar a cidade. A ordem de retirada é dada por Sabino que puxando da pistola dá quatro tiros para o alto. É o fim do ataque.

Não foi um combate longo; iniciou-se as quatro horas da tarde, aproximadamente, sendo os últimos disparos dados por volta das cinco e meia da mesma tarde.

Lampião havia fugido, deixando estirado no chão o Cangaceiro Colchete e dando por desaparecido o Jararaca, que depois seria preso e “justiçado” em Mossoró. Mas com medo da revanche dos bandidos, os defensores permaneceram de plantão toda a noite, só descansando no outro dia, quando tiveram certeza que já não havia mais perigo.

Quando lembramos esses fatos, ficamos pensando que tragédia poderia ter acontecido se a cidade não houvesse sido esvaziada a tempo. Quantas mortes poderiam ter havido se a população tivesse permanecido na mesma. Só Deus pode saber.

Depois do acontecido, a população começa a voltar para casa. É outra batalha para se conseguir transporte, juntar os parentes, desentocar os objetos de valores que tinham ficado escondidos e tantas providências mais, que só quem viveu o drama poderia contar.

13 de junho, dia de Santo Antônio. Um dia que ficou marcado para sempre na história de Mossoró.

Para saber mais sobre a História de Mossoró visite o blog: www.blogdogemaia.com.

https://www.omossoroense.com.br/geraldo-maia-lampiao-em-mossoro/

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FICHA POLICIAL DE LAMPIÃO E SEU BANDO É ENCONTRADA NO RIO GRANDE DO NORTE

Por Portal DM

O documento achado no arquivo do Itep, em Natal, é uma lauda escrita à fina calig

Um processo contra Virgulino Ferreira da Silva vulgo “Lampião”, datado de 29 de abril de 1940, foi descoberto pela equipe do Instituto Técnico de Perícia do Rio Grande do Norte (Itep). O documento teria sido confeccionado quando da passagem do “rei do cangaço” e de seu bando pelo Estado, em 1927. passaram apenas 96 horas na região, mas conseguiram causar prejuízos inestimáveis. “Ele passou 96 horas no Estado, e por onde passou só deixou desgraça”, conta o coronel da PM aposentado Ângelo Dantas, que também é pesquisador.

Agora, o chefe de gabinete do Itep, Tiago Tadeu, quer que o documento se transforme em peça de museu. “Vai ajudar a contar não apenas a história forense em nosso Estado, mas do próprio instituto”, ressaltou. Segundo matéria do G1, Lampião e seu bando foram rechaçados pelos habitantes de Mossoró, cidade da região Oeste potiguar, que, liderados pelo então prefeito Rodolfo Fernandes, defenderam a cidade.

Após a passagem dos cangaceiros, segundo o pesquisador Rostand Medeiros, foram abertos três processos contra Lampião e seu bando. “São de onde o bando deixou rastros. Em Martins, Pau dos Ferros e Mossoró”, destaca.

O documento achado no arquivo do Itep, em Natal, é uma lauda escrita à fina caligrafia onde constam os nomes dos 55 criminosos mais temidos do sertão nordestino. Ao final, a informação de que os homens citados são enquadrados nos artigos 294 (Matar alguém) e 356 (Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel, fazendo violência à pessoa ou empregando força contra a coisa”, como consta no Código Penal dos Estados Unidos do Brasil de 1890).

“Pouco se sabe sobre esse documento, mas tem ligação com o processo da comarca de Pau dos Ferros. O fato de estar em Natal pode ser apenas para deixar registrados os nomes e deixar alguma informação sobre o bando”, explica o coronel Ângelo.

Lampião e o seu bando foram mortos há 78 anos, na fazenda Angicos, no Sertão de Sergipe, no dia 28 de julho de 1938.

https://tvj1.com.br/regional/noticias/ficha-policial-de-lampiao-e-seu-bando-e-encontrada-no-rio-grande-do-norte.html?fbclid=IwAR0CQREri3iM2rVuwAa_ObVyoChVcSoMgfdKYVEuH-iwMbMvY6CMo7KwS7U

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