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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Histórias dos nossos mossoroenses

             Quando eu crio uma pequena história com um dos nossos antepassados, não é no intuito de criticar ou desmoralizá-lo, e sim, fazer com que esta pessoa seja lembrada por muitos e muitos anos. 
              Nem todos  moradores de uma cidade  têm o privilégio de serem homenageados, pois as famas e os elogios são dirigidos aos famosos políticos e grandes empresários. Nem os artistas (não me refiro a cantores e atores), e sim, artesãos, escultores, escritores... são vistos com bons olhos.
             Se caminharmos nas ruas das nossas cidades, nas esquinas, não veremos  nomes daqueles pobres sofredores que muito contribuíram com o desenvolvimento da sua cidade. Infelizmente morreram para sempre, como:  Carroceiro,  lavador de carros,  lavadeira de roupas,  enfermeira, agricultor, professor (coitado),  taxista, pedreiro etc...
             Mas com certeza nós vamos encontrar os seguintes nomes:  Rua Presidente Kennedy, Avenida Bob Kennedy, Rua Luther King, Conjunto Ulrick Graff, Rua Crocrat de Sá (todos americanos), Rua Presidente Costa e Silva, Rua Tancredo Neves... E   mais outros e outros que não caberão nesta página.
            Esse desprezo aos pobres de Jó não é só em minha Mossoró, mas todas as cidades brasileiras, em fim, só valorizam quem acumula riquezas e nasceu em berço de ouro. O pobre que quiser passar bem, a única solução é carregar a sua mãe na garupa, porque a glória é dada aos famosos.
            Por isso eu hoje homenageio dois grandes comerciantes dos anos remotos em Mossoró, mas naqueles tempos eram apenas arranjados, como diz o ditado.
                                 
PEDRO LEÃO

            Pedro Leão era um velho gordo, barrigudo, meio tacanho. Não. Tacanho não! Sufino. Não! Apenas não gostava de perder o seu para pessoas que não trabalhavas, e vivia à custa dos outros. Só andava de paletó. Nunca faltava em sua boca um enorme e fedorento charuto.
            Pedro Leão era um dos mais velhos comerciantes de Mossoró no ramo de ferragens e da construção.  
            Mas não faz muitos anos, e por sinal, eu o conheci muito, não de vista e chapéu, pessoalmente, quando eu era linotipista de uma das gráficas de Mossoró, e que muitas vezes eu levei as provas das chapas montadas das suas notas fiscais e talões de conferências para que ele fizesse a correção.
            Era um velho altamente exigente. Uma letrinha com apenas um pedacinho quebrado, ele exigia que eu a trocasse. 
            Mas esta história que eu vou contar eu ainda não tinha intimidade com o velho Pedro Leão.
            O único funcionário da sua loja (nos dias de hoje é proprietário de uma enorme loja, não sendo necessária a sua participação, isto é, usando o seu nome), e como vendedor de balcão, sentiu-se incentivado pelos fregueses que lhe diziam que ele estava trabalhando muito, e pedisse aumento salarial a seu Pedro Leão, alegando-lhe que fazia o trabalho de dois funcionários.
            O funcionário caiu na onda dos fregueses, que diariamente o incentivavam. Não se sabe se o incentivo dos fregueses era por piedade ao operário, ou para vê-lo mesmo na rua.
            E assim que se sentiu fortalecido pela freguesia, o operário resolveu dar um bote que talvez não lhe fosse favorável.
            Chamou o velho e lhe pediu um tempinho para esclarecer o que o incomodava no momento.
             - Seu Pedro, o que eu quero é aumento salarial.
            - Por que você está querendo aumento salarial nesse período? – perguntou-lhe seu Pedro.
            - Eu estou trabalhando por dois, seu Pedro. – disse-lhe o funcionário.
            - E quem é esse outro que está trabalhando aqui que eu quero botar para fora agora? Na minha loja eu só preciso de um. Tem dois! Eu vou botar todos os dois para fora.
            O dia seguinte o jovem estava desempregado, e  o suposto que ele achava que estava trabalhando sem sua autorização.
             Seu Pedro Leão os demitiu por justa causa.

Genézio Xavier

               Em Mossoró tinha um senhor chamado Genésio Xavier (faleceu nos anos noventa com quase 100 anos), que era um dos grandes proprietários de terras. Muito bem conceituado no meio de todos mossoroenses. Mas levava uma vida como o Manoel do Brejinho (segundo Alcindo Alves em: Lampião Além da Versão - Mentiras e mistérios de Angicos), com uma simplicidade fora do comum. Meio seguro, mas sempre estava para resolver alguns problemas de quem dele solicitava. Dono de um barracão onde vendia cereais aos moradores do bairro Belo Horizonte em Mossoró.
            Certo dia ao chegar a seu amado barracão, notou que alguém havia lhe roubado. E como ele era um senhor que não gostava de estar acusando a ou b, ficou na sua.
            Em um momento subiu ao teto e lá fez a cobertura, colocando as telhas por onde o ladrão havia passado. Não comunicou nem a sua própria esposa que havia sido roubado.
            Dias depois, um dos seus fregueses de grande confiança chegou ao seu barrão e lá conversou, conversou... e minuto depois lhe perguntou:
            - Seu Genésio é verdade que um ladrão entrou no seu barracão e lhe roubou?
            Ele não querendo espantar o que se acusava ocultamente ter lhe roubado, respondeu-lhe:
            - Até o momento graças a Deus não!
            Assim que lhe deu a resposta, saiu do lugar em direção a um quarto onde era instalado o antigo telefone dos tempos coloniais. E lá se ocultou por um momento, ligou para a polícia.
            Meia hora  depois o infeliz foi levado para a delegacia.
            Realmente tinha sido ele. Genésio Xavier não tinha contado nem para sua esposa.

            Como foi que o acusado tomou conhecimento do roubo?