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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

CANUDOS


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Movimento que surgiu na primeira metade da década de 1890, com a pregação de Antônio Conselheiro, um líder beato local que passou a ser seguido pelas populações do sertão baiano como uma espécie de messias. O beato começo a pregar por volta de 1870, tendo sido proibido de fazê-lo em 1882 por ordem da Igreja Católica. Após a proclamação da República de 1889, passou a criticar a República devido ao estabelecimento do casamento civil e à separação entre Igreja e Estado.

Monumento de Antônio Conselheiro, no Parque Estadual de Canudos LUCIANO ANDRADE/
Monumento de Antônio Conselheiro, no Parque Estadual de Canudos
LUCIANO ANDRADE/

Participou de uma rebelião contra a cobrança de impostos em 1893, e fixou-se no arraial de Canudos (no vale do rio Vaza-Barris), ao lado de milhares de sertanejos aos quais prometia a salvação espiritual. Fundou-se uma comunidade autônoma onde se produziam os próprios meios de subsistência. Os produtos básicos era divididos e a condição de miséria das populações marginalizadas era amenizada.

O movimento é normalmente associado às péssimas condições de vida que existiam na região nordeste desde o final do Império. A área era dominada por grandes latifúndios de baixa produtividade, por uma oligarquia política arcaica e contendo uma grande massa de excluídos e miseráveis. Somando-se a isso a frequência de secas e a baixa produtividade das terras locais, o resultado era que muitos sertanejos juntavam-se em bandos paralegais ou criminosos (como o cangaço) visando garantir sua sobrevivência, fenômeno que passou a ser chamado de “banditismo social” pelos historiadores.

Ruínas da entrada do cemitério da antiga cidade de Canudos Arquivo/AE
Ruínas da entrada do cemitério da antiga cidade de Canudos - Arquivo/AE

Em 1896, Canudos contava com uma população estimada entre 10 mil e 25 mil habitantes, e continuava crescendo. Tal inchaço demográfico e a atração que a comunidade causava começaram a incomodar as oligarquias, o clero e a imprensa locais, que difundiram rumores de que Canudos seria um movimento monarquista e uma ameaça à República. Os sertanejos de Canudos eram qualificados como “fanáticos”.

No mesmo ano, Conselheiro encomendou uma remessa de madeira em Juazeiro com o objetivo de construir uma igreja. Quando esta atrasou, alegou-se que a comunidade de Canudos estaria se preparando para lançar uma ofensiva armada contra as autoridades para conseguir o produto pela força. O governo da Bahia, por conseguinte, enviou duas expedições armadas contra os beatos. A primeira com cerca de uma centena de homens, e a segunda com 500 homens. Ambas as expedições foram derrotadas pelos sertanejos.

Face às humilhantes derrotas, o governo baiano organizou uma terceira expedição, mais volumosa e bem equipada. Eram cerca de mil e duzentos homens, comandados pelo célebre coronel Moreira César.

Vista do mirante de Canudos, a estátua de Antônio Conselheiro, no Parque Estadual de Canudos, na Bahia LUCIANO ANDRADE/AE
Vista do mirante de Canudos, a estátua de Antônio Conselheiro, no Parque Estadual de Canudos, na Bahia - LUCIANO ANDRADE/AE

No entanto, a nova expedição não obteve sucesso e seu comandante foi morto pelos sertanejos. Essa derrota levou a uma enorme insatisfação da opinião pública no Rio de Janeiro, culminando com a depredação de jornais monarquistas e um assassinato.

Finalmente, foi organizada uma nova expedição militar pelo governo federal, na época representado pelo presidente Prudente de Morais. A quarta leva de soldados cercou a comunidade e a bombardeou. Os rebeldes forma aniquilados em outubro de 1897. O cadáver de Antônio Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada.

O jornalista Euclides da Cunha foi correspondente do jornal “O Estado de S. Paulo” (na época “Província de São Paulo”) em Canudos e descreveu a quarta campanha do exército republicano contra a comunidade. Sua cobertura para o jornal rendeu ao Brasil um de seus maiores clássicos literários, o livro “Os Sertões”. Após a derrota da terceira expedição, Cunha havia publicado no jornal um artigo intitulado “A nossa Vendéia”, no qual comparava o conflito baiano a um episódio da revolução francesa, e demonstrara seu apoio à República.

Vista das ruínas da igreja de Canudos LUCIANO ANDRADE/AE
Vista das ruínas da igreja de Canudos - LUCIANO ANDRADE/AE

No entanto, ao visitar pessoalmente os revoltosos e assistir ao extermínio perpetrado pelas forças republicanas, o autor se decepcionou profundamente com o exército e passou a ver o conflito com outros olhos.

Seu clássico foi publicado em 1902. Nele, o jornalista enaltecia a raça dos sertanejos (“rocha viva de nossa raça”) em oposição aos “litorâneos” e apontava os problemas da República, como o militarismo. Denunciou, através de seu livro, o massacre dos vencidos e o comércio de mulheres e crianças, interpretação que se tornou marcante e hegemônica na memória nacional.

Fonte -
http://acervo.estadao.com.br/noticias/topicos,canudos,881,0.htm



Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.wordpress.com/
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LAMPIÃO Cangaceiro: 1898 – 1938 - Bilhetes e ameaças - Parte X

Por: Hélio Pólvora


Inteligência, além de seus significados exatos, significa trampolinagem. Indivíduos calmos, supostamente resignados ou omissos, de repente se desenroscam e picam: é o golpe peçonhento. Assim se entende ainda, e em proporção crescente, o dom da inteligência em todas as esferas sociais, agora reforçado pela tecnologia.

Lampião foi inteligente, neste sentido. Socialmente excluído, revoltou-se ao ponto de banir-se ele próprio. Tinha pouca instrução, faltava-lhe fluência no discurso imperativo de “interventor” ou “governador” dos sertões. No entanto, sabia ser claro e contundente nas mensagens, conforme se depreende dos bilhetes em português tosco reproduzidos pelo historiador Oleone Coelho Fontes.

 

A um sargento comandante do destacamento de Juazeiro do Norte, Ceará, em 1926:

“Il.mo sr. José António — Eu lhe faço esta, até não devia me sujeitar a te escrever porem, sempre mando te avisar, pois, eu soube que vc., no dia que eu cheguei ahi na fazenda vc., esteve pronto para vir me voltar orem, eu sempre lhe digo que você crie juízo, e deixe de violências, apois eu venho chamando é por homem, e mesmo assim vc. Com zuada não me faz medo. Eu tenho visto, é, coisa forte, e não me assombra, portanto vc. Deve tratar de fazer amigos não para fazer como vc. Diz. Sempre lhe aviso, que é para depois vc. não se arrepender e nada mais, não se zangue, isto é um conselho que lhe dou. — Do Capitão
Virgolino Ferreira (?) da Silva”.


Ao Sr. José Batista, Fazenda Porteira, Cumbe (atual Euclides da Cunha), sem data — Sua saudação não pacei em sua casa soubi que não estava mas tenho esta que é para vancê manda por este portado 5 contos de rs.

“Olhi é para não deixar de mandar apois não mandando é pior para vancê apois aguardo sua resposta. ”Sem mais do Capm. “Virgulino Ferreira Lampião”.

Mais esta: “Sergipe.
Ilmo Snr. João Apostolo Sua saudação

Com todos lhe faço esta para o sr. Mandar-me Um conto de Rs. Apois não quero maçada faço esta com urgença Cp. Lampião”.
E, para findar os exemplos, este aviso curto e grosso a José da Costa Dórea, outubro de 1932:

“Seu Dora se aprepare para morrer
Camp. Virgulino Ferreira Lampião


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Dr. Edson Leite Duarte

Por: José Mendes Pereira
Dr. Edson foi um dos primeiros radioamadores da cidade
Faleceu aos 86 anos

Dos filhos de Manoel Duarte Ferreira, o matador do cangaceiro Colchete e também que baleou o cangaceiro Jararaca, dos homens, ainda restava Edson Leite Duarte, que era formado em odontologia.

Dr. Edson Duarte como era conhecido em Mossoró, faleceu no dia 1º de Outubro deste ano de 2013, e residiu durante toda sua vida, exercendo a sua profissão de dentista no centro da cidade de Mossoró, com seu gabinete dentário localizado à  Rua Cel Vicente Sabia, também centro.

Mas ainda restam duas mulheres filhas de Manoel Duarte Ferreira: a Elisabeth Duarte e a Bernadete Duarte, sendo que esta última, é a mãe do jornalista mossoroense Carlos Duarte, e reside em Natal - Rio Grande do Norte.  Ambas já passam dos 80 anos, mas continuam lúcidas.

 Emery Costa

Segundo o radialista Emery Costa o dentista Edson Leite Duarte faleceu aos 86 anos, em decorrência de problemas de saúde. Além de dentista, ele também foi um dos primeiros radioamadores da cidade. "Ele tinha o radioamadorismo como hobby e era um grande entusiasta da comunicação. Vai deixar saudades", comenta. 

http://omossoroense.com.br/~omossoro/index.php/cotidiano/56239
mossoro-perde-o-dentista-edson-leite-duarte-aos-86-anos 
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LAMPIÃO Cangaceiro: 1898 – 1938 - Mito do Herói Maldito - Parte IX

Por: Hélio Pólvora
 

Quem se faz vilão justiceiro ou vilão bandoleiro jamais será por acaso; sempre haverá este ou aquele motivo forte. Mas nada impedira o protagonista de vir a ser amado ou renegado, inclusive por si próprio.


É fundamentalmente um solitário. Para desempenhar bem as tarefas que assume, no intuito às vezes inconsciente de ocupar o vazio infernal na cabeça ou no coração, esse herói precisa desprender-se de compromissos, mesmo os de teor afetivo. Nada, ninguém deverá obstar-lhe ou estorvar-lhe as cavalgadas.


No emblemático e carismático filme de George Stevens, o infeliz Shane (Alan Ladd), sozinho no mundo, cumprindo sentença de provável perseguido em permanente fuga, poderia eximir-se de um duelo a bala a que não era chamado. E ficar com o rancho de Starret (Van Heflin), com o menino Joey (Brandon De Wilde), que o idolatrava — e, melhor de tudo, com Marian (Jean Arthur), a mulher de Starret. Mas não. Mata o pistoleiro Wilson (Jack Palance) no armazém do povoado, leva um tiro e, curvado na sela, num entardecer sombrio, afasta-se para o seu destino de homem-sombra, talvez o vale da morte. Joey corre atrás: “Volte, Shane!”. E, em última instância, confessa: “Mamãe te ama”. Eterno foragido (dos outros? de si mesmo? de um mundo que, conforme disse o poeta Auden, ele não fez, ele não quis?).


A estrutura psíquica elementar dos velhos samurais de Akira Kurosawa lhe é idêntica: o protagonista vivido tão bem por Toshiro Mifune, a ponto de não mais se desgrudar da nossa lembrança, faz o que julga que lhe cabe fazer e retorna à estrada, a sacudir os ombros. Nos seriados de 12, 13 ou 15 episódios da nossa infância, os heróis, às vezes mascarados, repeliam os assédios explícitos e implícitos do amor. Alguns sequer tiravam a venda dos olhos, ante de partir.

Vistos pelo prisma meramente ficcional, esses heróis ou bandidos, como queiram os leitores, entendem que a mulher e a família, com todos os seus ensejos de vida normal, costumam atrapalhar. Virá o filho, a necessidade imperiosa de construir e manter o lar, atividades rotineiras que destemperam o estofo da virilidade; conflitos que, comparados a tiroteios e outros enfrentamentos, empalidecem sob forma de aborrecidas picuinhas.



Virgulino Ferreira da Silva rendeu-se ao amor. Engraçou-se de Maria Bonita (assim apelidada não por ele. mas provavelmente por um desesperançado ex-policial das volantes). A família da musa o acoitava. Lampião dava-lhe lenços a bordar.


Vem à tona, então, a pergunta que ainda se faz: o que atraiu tantas sertanejas ao cangaço? Algumas, como a Dadá, de Corisco, segundo na hierarquia do bando de Lampião, foram levadas à força, estupradas, sequestradas, trocadas por joias. O jornalista Antônio Amaury Corrêa de Araújo, citado por Manoel Severo, conta que Corisco, o Diabo Loiro, tivera uma noiva chamada Darvina, apelidada Dadá. A mulher inesquecível. Certa ocasião ele viu Sérgia Ribeiro da Silva passar no seu passo felino de jaguaretê (teria 13 anos) e achou- a parecida com a outra. Raptou-a e apelidou-a Dadá. Simples, pois não? Dadá habituou-se e, de todas as cangaceiras, teria sido a única a participar, fuzil na mão, de tiroteios e arruaças. A maioria delas, claro, aprendera a atirar, para caso de necessidade extrema, mas Dadá entrava nas batalhas, substituiu Corisco enquanto este chefe de bando dissidente de Lampião sarava de ferimentos nos braços. Atividades à parte continuavam amigos.


Nem todos no bando aceitaram a presença de mulheres: Balão queixava-se que elas atrapalhavam nas retiradas, retinham o grupo, se grávidas, facilitavam o faro e as ouças dos rastejadores. Balão, com seu instinto insatisfeito de revoltoso, achava que mulher teria apenas de cozinhar, costurar e bordar aqueles trajes armoriais nordestinos ornados de moedas, estrelas e fitas, além de entregar-se aos requebros, ou “cochilos”, como disse Luiz “Lua” Gonzaga, do amor.


Para a mulher, a vida nos sertões, àquela época do cangaço, era uma desventura completa. Se o homem sempre podia cair no oco do mundo, e virar renegado, a ela tocava povoar o vazio. De modo que o cangaço, com a figura meio napoleônica, meio mística, meio Robinhooodiana de Lampião e seus comparsas, e a promessa de mais haveres e menos deveres, atraiu-as ao calor escaldante da caatinga, à água salobra, ao solo pedregoso, à entrançada vegetação espinhenta. Maria Bonita foi por puro amor.


É hora de dizer quem era de quem no bando de cangaceiros, com o devido crédito ao sumário do jornalista Rogério Pacheco Jordão e achegas de João Sousa Lima, historiador de Paulo Afonso e arredores:


Dadá (de Corisco), Neném (de Luiz Pedro), Durvalina (de Moreno), Sila (de Zé Sereno), Lídia (de Zé Baiano), Inacinha (de Gato), Adília (de Canário), Cristina (de Português), Maria Jovina (de Pancada), Dulce (de Criança), Moça (de Cirilo Engrácia), Otília (de Mariano), Maroca (de Mané Moreno), Mariquinha (de Labareda), Maria Ema (de Velocidade), Enedina (de Cajazeira), Rosalina (de Chumbinho), Estrelinha (de Cobra Viva), Hortênsia (de Volta Seca), Lacinha (de Gato Preto), Iracema (de Lua Branca), Eleonora (de Azulão), Lili (de Moita Braba), Catarina (de Sabonete), Mocinha (de Medalha), Maninha (de Gavião), Maria Juriti (de Juriti), Dora (de Arvoredo), Marina (de Laranjeira), Dinha (de Delicado).

Na Coluna Prestes também havia mulheres. E os meios de sobrevivência eram semelhantes: invasão, saques em fazendas, vilas, cidades.


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