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sexta-feira, 26 de junho de 2015

RECOMPENSAS A CAÇADA HUMANA... A BUSCA PELAS RECOMPENSAS


Com o objetivo de exterminar o cangaceirismo no Nordeste brasileiro, as autoridades e até mesmo civis estipularam recompensas pela captura ou morte de cangaceiros.

Essa iniciativa estimulou e intensificou a caça aos bandoleiros por parte das forças militares e por grupos de civis que se aventuraram na empreitada em busca da recompensa e dos bens dos cangaceiros que fossem presos ou mortos.

Valores foram estipulados como recompensa e uma tabela foi criada definindo os valores a serem pagos de acordo com o grau de periculosidade de cada cangaceiro, conforme tabela a seguir:

Lampião 50 contos de réis
Corisco 10 contos de réis
Luiz Pedro 5 contos de réis
Cirilo de Ingrácia 5 contos de réis
Mariano 5 contos de réis
Gato 4 contos de réis
Zé Baiano 4 contos de réis
Arvoredo 4 contos de réis 
Moderno (Virgínio) 4 contos de réis
Beija-Flor 2 contos de réis
Medalha 2 contos de réis
Cajueiro 2 contos de réis
Suspeita 2 contos de réis
Calais 2 contos de réis
Maçarico 2 contos de réis
Jacarandá 1 conto de réis
Bem-Te-Vi (grupo de Moreno) 1 conto de réis
Bem-Te-Vi (grupo de Corisco) 1 conto de réis
Avião 1 conto de réis
Coqueiro 1 conto de réis
Alecrim 1 conto de réis
Duca 1 conto de réis
Pae Velho 1 conto de réis
Português 1 conto de réis 
Franqueza 1 conto de réis
Boi Manso 1 conto de réis
Pó Corante 1 conto de réis
Nevoeiro 1 conto de réis
Creança (criança) 1 conto de réis
Moita Brava 1 conto de réis
Botão 1 conto de réis 
Bom de Veras 1 conto de réis
Pancada 1 conto de réis
Pedra D'ave 1 conto de réis

Informações obtidas através do Jornal A NOITE de 16 de novembro de 1933.
TRANSCRITO POR: Geraldo A. de Souza Júnior (Administrador)

Fonte facebook

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UM CONFRONTO NO SERTÃO BRASILEIRO EM PLENO SÉCULO XIX: 15 RARAS FOTOGRAFIAS DA GUERRA DE CANUDOS

Membro da Divisão de Artilharia Canet posando para foto na cidade de Monte Santo, base das operações do exército brasileiro na Guerra de Canudos. Na foto estão as temidas "matadeiras", apelido dado aos canhões Withworth 32, usados na última expedição militar enviada a Canudos, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).

O sertão nordestino possui uma paisagem muito particular e hostil. Desde os tempos do Império se discute formas de como solucionar a miséria daqueles que habitam a região, entretanto, até hoje muito pouco se fez por essas pessoas. Foi neste cenário de descaso que uma figura mística conseguiu reunir dezenas de milhares de seguidores e fundar no antigo povoado de Canudos o Arraial de Belo Monte. Lá, se desenvolveu um sistema autossuficiente baseado em cooperativismo. O sucesso de Belo Monte se tornou cada vez mais evidente quando seus habitantes passaram a ir a outras cidades vender excedentes de produção, tornando-se o centro econômico de parte do sertão baiano. Esse novo modelo acabou chamando atenção da elite local, que se via ameaçada pelas ondas de migração de sertanejos para o povoado do místico Antônio Conselheiro.

Diferentemente da usual política imperial, a recém nascida República estava trazendo ao país uma postura de Estado cada vez mais autoritária. Se antes os sertanejos estavam à própria sorte, agora eles também tinham impostos a pagar ao governo. Isso evidentemente incomodou Antônio Conselheiro, que se recusava a pagar tais tributos. Foi o que bastou para a imprensa convertê-lo em uma ameaça à República, Conselheiro passou a ser referido como um monarquista com apoio internacional para combater o novo modelo de governo. O primeiro ataque a Canudos aconteceu em Outubro de 1896, quando a cidade de Juazeiro pediu auxílio às forças nacionais para conter um suposto ataque dos conselheiristas. O confronto foi rápido e, entre baixas dos dois lados, resultou na retirada da expedição, que não esperava real resistência dos canudenses. 

Após esse primeiro contato a República passou a reconhecer Canudos como uma verdadeira ameaça monarquista, estando decidida a dissolução do povoado. Já para os seguidores de Antônio Conselheiro, a resistência era a única opção. Foram armadas táticas de guerrilha que deram conta de derrotar outras duas expedições enviadas. Em um dos confrontos, inclusive, foi morto o respeitado Coronel Antônio Moreira César, conhecido como "o corta-cabeças". A repercussão das derrotas foi tamanha que uma quarta expedição, muito bem armada e mais preparada, foi enviada. Canudos finalmente caiu em 5 de outubro de 1897, com um saldo de cerca de 25 mil vítimas em um ano de conflito, Belo Monte resistiu até o último homem, e o exército brasileiro saiu vitorioso de sua mais desonrosa campanha: com exceção de um pequeno grupo de mulheres de crianças, todos os prisioneiros foram degolados.

A saga do exército brasileiro na luta contra os pobres sertanejos de Antônio Conselheiro rendeu à literatura nacional uma obra prima. O livro de Euclides da Cunha, "Os Sertões", colocou em evidência a dor e a miséria do sertão, tendo tido repercussão mundial. Durante a última expedição enviada pelo exército, foi mandado um fotógrafo para registrar o combate, era o primeiro conflito interno no Brasil a ser fotografado. Por falta de tecnologia, essas imagens não chegaram a circular nos jornais da época, tendo ficado esquecidas por décadas. Recentemente o Instituto Moreira Salles restaurou o acervo de inestimável importância documental, permitindo uma observação mais detalhada da Guerra de Canudos. 

Vista parcial de Canudos ao norte, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Oficiais do 28º Batalhão de Infantaria, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Membros do 39º Batalhão de Infantaria em ação, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Prisão de jagunços conselheiristas, essa cena evidentemente se trata de uma simulação, e demonstra que a fotografia no século XIX buscava se assemelhar com o trabalho das pinturas, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Membros do 12º Batalhão de Infantaria na trincheira, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República). 
Vista parcial de Canudos ao sul. Segundo o registro oficial do exército, foram contados 5200 casebres no arraial de Antônio Conselheiro, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Membros do 40º Batalhão de Infantaria na trincheira,1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República). 
Cadáveres nas ruínas de Canudos, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Jagunço posa para foto junto a uma típica moradia dos seguidores de Conselheiro no Arraial de Belo Monte, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Nesta foto é possível constatar a dimensão da destruição causada pelo conflito, trata-se das ruínas da mais nova igreja de Belo Monte, a Igreja do Bom Jesus, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).


Vista parcial de Canudos ao norte, desta vez enquanto a cidade de Antônio Conselheiro, já derrotada, era incendiada, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Mulheres e crianças canudenses prisioneiras, este foi um dos poucos grupos de prisioneiros (apenas algumas centenas de uma população de mais de 5 mil habitações) que não foi morto pelo exército, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Jagunço conselheirista prisioneiro ao lado de alguns membros do exército, ele seria degolado logo em seguida, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
Corpo morto do místico Antônio Conselheiro. Ele morreu supostamente vítima de uma disenteria antes mesmo do fim do combate em Belo Monte. Seu corpo já estava sepultado e foi exumado pelo exército, que o fotografou e cortou sua cabeça, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).

Bônus: uma análise das fotografias de Canudos pela Professora Walnice Nogueira Galvão, especialista na obra de Euclides da Cunha.

http://www.historiailustrada.com.br/2014/06/fotos-da-guerra-de-canudos.html?m=1

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O MITO E O MÍSTICO EM LAMPIÃO

Por Rangel Alves da Costa*

O mito e o místico numa só pessoa. O lendário e o temente num único ser humano. O emblemático e o espiritualizado no mesmo cidadão. Assim era Virgulino da Silva, assim era Lampião, mas sempre considerando que aquele se contrapôs a este em muitos aspectos, e este clamou para ser o outro em muitas situações. E assim por que em muitos momentos Lampião quis ser apenas Virgulino. E também em muitos instantes este se despiu de muitos sentimentos para dar impulso ao Lampião.

Poucos foram os viventes que alcançaram tanto a mítica como o místico. Não é qualquer um que ao longo dos anos – e muito tempo depois de sua morte - vai aumentando o reconhecimento e a admiração ao redor de seu nome, ainda que o conceito de alguns seja pela negação de sua conduta. Igualmente difícil ao ser humano ter construído sua história em meio a lutas sangrentas e mais tarde ter valorizado seu lado que não foi desumanizado pelos ódios derramados a cada passo. E Lampião, que se aceite ou não, transformou-se num mito, cujo elemento mítico ou místico, de cunho religioso, esteve presente no Virgulino até o último sopro de vida.

Contudo, urge que se esboce uma ligeira noção acerca do que os livros definem como mito e como místico. O mito é uma representação simbólica produzida pela mente humana, é a concepção de sobrenatural ou de força superior destinada ao endeusamento ou à heroicização. É algo visto como fora da realidade, que é de difícil explicação racional. Pode surgir de fatos ou acontecimentos históricos ou de valores culturais enraizados no povo e transformados em lenda, em heroísmo, em divinização. O passar dos anos tem o dom de aprofundar mais ainda a concepção mítica do herói mentalmente firmado.

Por sua vez, o termo místico tem um sentido religioso, de espiritualidade e devotamento, de acatamento e prática de determinados ritos de fé. O ser místico é aquele levado ao misticismo, cujas crenças pessoais acerca dos poderes divinos o tornam adepto de determinados preceitos religiosos. O místico geralmente é um ser contemplativo, de robusta devoção, demasiado crente nas forças e poderes divinos, alguém que sempre invoca proteção superior. E os relatos demonstram Virgulino Ferreira da Silva como um homem profundamente religioso e com rituais próprios de veneração a Deus, santos e anjos.


No caso específico do cangaceiro de Vila Bela, o mito e o místico possuem fronteiras precisas, limites reconhecíveis. O mito está em Lampião, no maior dos cangaceiros entre todos já existentes nas terras nordestinas, no líder hábil e inteligente, no estrategista que fazia de um rochedo ou de tufo de mato um campo impenetrável de guerra. Mito este criado a partir do desempenho do bando sob sua liderança, do poder de arregimentação, do círculo de poderosas amizades que soube tecer, do seu reconhecimento e até veneração por todo o mundo sertanejo e citadino.

Mito também pela história que construiu. Ora, ninguém se torna fenômeno por um fato ou outro na sua passagem terrena, mas sim pelo percurso de luta, bravura, destemor, enfrentamento dos poderes então constituídos. Ou será negada a Lampião sua valentia na luta contra a opressão sertaneja que chamou para si? Será que vale a pena desmitificar ou simplesmente desconhecer a história de um homem de pouco estudo, de família humilde, arribado de casa desde ainda moço, e que construiu um império de bravura ao seu redor? Quantos sertanejos fizeram, a partir da caatinga, estremecer as estruturas do poder coronelista, patriarcal, impiedoso? E foi tão perseguido porque representava a força do sertanejo ante a tirania do Estado. Assim foi sendo construído o mito Lampião.

Ao lado do mito, o hoje reconhecido misticismo no ser humano batizado como Virgulino Ferreira da Silva, no homem lutando sobre a terra e temendo e devotamente se apegando às forças do céu. Levava consigo armas, munição, instrumentos de guerra. Mas também rosários, imagens sacras, instrumentos de devoção. Quando as balas silenciavam e os gritos de horror se calavam, quando o tempo de guerra fingia um tempo de paz, então o Capitão se voltava para si mesmo, para reacender as chamas de fé que levava consigo. Meditava sobre sua situação de vida, intimamente se afligia, mas procurava na oração e nos rogos aos seres celestiais o fortalecimento espiritual e a proteção desejada.

Os relatos de hoje revelam o fervor religioso de Virgulino, o seu máximo respeito às coisas sagradas, o seu profundo senso de devoção. Rezava todos os dias e levava consigo algumas orações, principalmente para manter o corpo fechado. Tinha devoção especial por Padre Cícero, a quem tinha como verdadeiro santo nordestino. Não admitia que cangaceiro de seu bando menosprezasse as coisas sagradas e tinha predileção especial por Santa Luzia e São Jorge. Uma para dar esperança de visão ao seu olho sem luz, e o outro por ser guerreiro.

Parece ser contraditória tanta religiosidade naquele que pouco tempo teve para viver senão para guerrear. Mas assim aconteceu. E coisas assim somente acontecem com quem um dia nasceu para ser mito.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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FALECEU DULCE FILHA/NETA DO SINHÔ PEREIRA


Faleceu nesta manhã em Lagoa Grande, no Estado de Minas Gerais, a querida Dulce, filha /neta de Sebastião Pereira da Silva, o ex-cangaceiro Sinhô Pereira. A minha solidariedade à família enlutada, ao Hélio seu esposo e aos irmãos.

O escritor José Sabino Bassetti disse:

Após a morte de Sinhô Pereira era Dulce quem dirigia a famosa farmácia do avô. Até hoje, naquela região, muitos falam nas garrafadas feitas pelo seu "Chico Maranhão.

Meu amigo! Morre o homem e fica a fama...

Disse o escritor Sousa Neto:

Amigo José Sabino Bassetti, você tem razão em relação à direção da farmácia de Seu Chico (Sinhô Pereira). A Dulce era filha do único filho de Sinhô Pereira e Alina chamado Severino. Antes mesmo do falecimento do pai, a Dulce já vivia com o avô que a criou na condição de filha. Abraço!

Fonte: facebook
Página: Sousa Neto

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LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS

Por Antonio José de Oliveira

Na realidade Pesquisador Mendes, o livro LAMPIÃO: A RAPOSA DAS CAATINGAS oferece total segurança nas informações, por ser fruto de um trabalho minucioso e didaticamente perfeito, realizado em profundidade durante onze anos de pesquisa.

Autor deste livro José Bezerra Lima Irmão e o escritor João de Sousa Lima

Posso afirmar sim, uma vez que tive o prazer de lê-lo por completo. O autor desenvolveu uma ampla pesquisa de campo, além da bibliográfica e documental. 

Não conheço pessoalmente o Bezerra Lima, mas pelo que pude interpretar na leitura do seu livro, trata-se de um escritor que, na medida do possível buscou a "verdade verdadeira". Acredito Mendes, que esta segunda edição irá logo desaparecer das prateleiras das livrarias, e ele terá que partir para uma TERCEIRA ETAPA.

A 2ª edição continua sendo vendida através dos endereços abaixo:

josebezerra@terra.com.br
(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345
E-mail:   
lampiaoaraposadascaatingas@gmail.com 

Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.

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O beato Pedro Batista e sua comunidade no sertão baiano


O município de Santa Brígida recebeu este nome em 16 de julho de 1817. Até então, ele era conhecido como "Itapicuru de Cima". A história da cidade começou quando um fidalgo português, Antônio Manoel de Souza, se casou com uma brasileira chamada Brígida. Após a morte da mulher, o fidalgo, que era proprietário de terras, decidiu doá-las e, no ato da escritura, mudou o nome para o de Santa Brígida.


Em 1940 Santa Brígida já era um pequeno povoado do município de Jeremoabo, com raras casas de barro cobertas de palha. Tinha apenas um criatório de bodes e cabras. A cidade tornou-se conhecida pela passagem de Lampião ao local, por ser a terra de Maria Bonita.
 

Em 1942, outro fato chamou atenção para o município, quando um penitente chegou à cidade pregando e curando as pessoas. O penitente se chamava Pedro Batista da Silva, e ficou conhecido por sua sabedoria em dar conselhos, efetuar curas e livrar pessoas dos maus-espíritos. O fato atraiu diversos romeiros ao município, o que o credenciou a ser incluído no Roteiro Turístico e Cultural Religioso Nacional.

A Casa do Beato Pedro Batista, fica localizada onde se encontra o memorial do beato e que é considerado um referencial da cidade. Encontra-se no anexo um abrigo de romeiros e uma loja de artesanato que divulga o trabalho dos moradores.

O beato Pedro Batista e sua comunidade no sertão baiano
Professor Gil Francisco

“Aqui, todos têm que passar nessa mão. É rico, é bom, é pobre, é padre, tudo tem que ter aqui”.   - Pedro Batista

Convidado pelo Ouvidor Geral do Estado de Sergipe, jornalista Luiz Eduardo Costa, para passar a Semana Santa em sua Reserva Ecológica “Santo Antônio”, localizada em Canindé do São Francisco, a 213 km de Aracaju, não resisti ao honroso convite por vários motivos: primeiro por ter recusado anteriormente a acolhida companhia do amigo por motivo de saúde, segundo por quer rever aquela comunidade após seis anos numa rápida estada, terceiro tinha esperança em conhecer o município baiano de Santa Brígida, onde nasceu no povoado de Malhada Caiçara, Maria Bonita, companheira do bandoleiro Virgulino Lampião, terra onde viveu o beato Pedro Batista. No domingo, 24 de abril, pela manhã, após o café que mais parece um almoço, mesa farta, leite tirado às 4 horas da manhã pelo vaqueiro Zé, coalhada, vários tipos de bolos, cuscuz, doces caseiros, preparado pelo trio esperança; Maria Isaildes, Rosália dos Santos e Dione França, secretárias responsáveis pela organização e manutenção da  fazenda, seguimos com destino a Santa Brígida, localizada na Mesorregião nordeste baiano, eu, Luiz, Silvinha (neta) e seu companheiro Alison, o fotógrafo da família.

Antes da viagem, estivemos na sede do município de Canindé do São Francisco, para uma entrevista na Rádio FM Xingó – 98.7, com René Alves, apresentador do programa líder de audiência, em Alagoas e Pernambuco, “Hora da Notícia”. Percorremos da sede ao município baiano, cerca de trinta km de estrada de piçarra. Cruzamos durante o percurso com apenas quatro veículos, três carros de passeio e um pequeno caminhão, que retornava de alguma feira num povoado próximo, além de duas motos de baixa cilindradas. Durante todo o caminho não vimos uma só casa de nativos, somente fazendas, algumas com gado outros desertas, mas todas bem cercadas.  Como eu estava curioso, perguntei a Luiz Eduardo, quem eram os proprietários daquelas terras e ele foi nomeando: Fazenda do General, - hoje pertencente ao MST, Fazenda Brejo, famosa por possuir uma fonte mineral, Fazenda do Procurador Moacir, e as fazendas de Maria Marinha, Dr. Roberto e Gabriel.  A paisagem é desértica, é um deserto requestado de agressividades sem par, naquelas terras onde tudo é árido e adusto. Este vislumbre me fez lembrar a descrição fantástica de Ranulfo Prata, sobre o Raso da Cataria, em seu livro Lampião (01): “A sua flora é toda uma espessa trama de dilacerantes espinhos e folhagem urticante. Tecem-lhe impenetrável barreira, como a resguardá-la do invasor, o ouriçado xique-xique, as palmatórias aciculares, a macambira, lanceolada e ríspida, o lacerante mandacaru, o mordente rabo de raposa, o híspido calumbi e o famoso cunanan, cipó enleante, cujo entrançado a foice e o facão custam a desfazer”.

Aparição do beato

Tomei conhecimento da existência do beato Pedro Batista, através da socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz, O Messianismo no Brasil e no Mundo, ganhou, logo após o seu lançamento, repercussão internacional, tendo sido traduzido para o francês (02). Anos depois assistir O Povo do Velho Pedro, dirigido por Sérgio Muniz, documentário (1 hora e 10 mn.) que aborda aspectos da religiosidade do sertão nordestino, especificamente dos municípios de Juazeiro do Norte – CE e de Santa Brígida –BA (03).Fiquei surpreso e intrigado sem entender o porquê de Rui Facó, autor de um dos melhores trabalhos sobre Cangaceiros e Fanáticos, não ter feito nenhuma referência ao beato Pedro Batista (04). Recentemente o jornalista e escritor baiano Elieser César, publicou um longo artigo no Correio da Bahia, na edição de 18 de novembro de 2001 (05).

Pelo ano de 1940, peregrinava pelo interior de Alagoas, Sergipe e Pernambuco um penitente  de barba e cabelos grisalhos pregando e curando: chamava-se Pedro Batista da Silva. Por onde andou, sua fama foi se espalhando e seguidores pedindo-lhe indicação de remédios, ou então que rezasse sobre os doentes. Afirmava-se na época que era natural de Alagoas e por problemas políticos a família mudou-se para Pernambuco, onde se criou e aos dezessete anos, sentou praça servindo não só em Pernambuco, mas também em outros pontos do país com Foz do Iguaçu, participando da repressão contra os jagunços da Guerra do Contestado (1914-1918). O ex-prefeito Antônio França, durante suas pesquisas no Arquivo do Exército, no Rio de Janeiro, confirmou que o Velho Pedro Batista serviu mesmo como soldado no 3º Regimento de Infantaria, sob o comando de Aleluia Pires. E chegou a conclusão que Pedro Batista não tinha o biótipo do nordestino e sim de europeu, e diz ter ele nascido em Guaraqueçeba, litoral do Paraná.

O poeta popular sergipano, João Firmino Cabral (1940), em recente entrevista ao autor, relata seu primeiro e único encontro com o beato Pedro Batista: “Conhecido por beato Pedro Batista ou meu padrinho Pedro Batista, como chamavam os sertanejos que andavam com um rosário no pescoço, dado por ele. Pedro foi um evangelizador do sertão baiano, apesar de ser tido como fanático, assim como Antônio Conselheiro, mas ele foi um homem que pregou a palavra de Deus naquela região. Ele aconselhava muito o povo a não praticar maldade, a não roubar, não matar. Fazia muitos benefícios sociais. Nesta época eu morava em Paulo Afonso, tinha uns treze anos e as segundas-feiras, dia de feira em Santa Brígida eu ia vender picolé. Saía de Paulo Afonso num caminhão mixto (mercadoria e gente). Em certo dia tive a oportunidade de conhecê-lo e ele estava sentado numa cadeira de tiras de couro, protegido por seus seguidores religiosos. Dei a benção como todos faziam e ele respondeu: seja feliz, você vai ser um menino do futuro. Eu fiquei todo eufórico, como diz o pernambucano, todo ancho. Desse dia prá cá não vi mais Pedro Batista, mas sempre ouvi as suas histórias, inclusive nos anos sessenta, após sua morte, retornou vários pistoleiros a Santa Brígida e o povo dizia: se meu padrinho Pedro Batista fosse vivo esses pistoleiros não se criavam em Santa Brígida, porque ele era inimigo dos pistoleiros. Mas Pedro Batista foi sem sombra de dúvida e sem fanatismo, um evangelizador do povo do sertão, abandonado pelos políticos. Na época já se dizia que ele não era baiano, vivia em Santa Brígida desde os anos quarenta e o povo o considerava um santo, como considerou Padre Cícero, Antônio Conselheiro. Amigo e conselheiro do povo, qualquer problema que o povo necessitasse ia a ele para apreciação. Quando haviam secas prolongadas o povo se deslocava até Santa Brígida em busca de socorro, sempre recorrendo aos benefícios do beato que o ajudavam como podia. Assim viveu Pedro Batista até quando foi chamado à eternidade”.

Santa Brígida

Rota de passagem do bando de Lampião, o município de Santa Brígida, com 595 km², distante de Salvador 430 km, sobre sua origem, conta-se que uma senhora brasileira de nome Brígida casada com Antônio Manoel de Souza um grande proprietário de terras da região do Itapicuru, faleceu durante uma viagem a Portugal. Desolado, o esposo resolveu doá-las e no ato da escritura mudou o nome para o de Santa Brígida, em 16 de julho de 1917.  Em 1940, Santa Brígida já era um pequeno povoado do município de Jeremoabo, com algumas casas de taipas, cobertas de palhas. Depois outro fato chamou atenção para o povoado quando ocorreu a chegada em 14 de junho de 1945, do beato peregrino Pedro Batista, tinha como objetivo formar a romaria e desenvolver a agricultura como meio de subsistência para as famílias que ali residiam.

Ao chegar a Santa Brígida com todas as características do “beato” tradicional (barba e cabelos longos, bordão de peregrino), a sua presença foi denunciada às autoridades municipais e regionais, temendo ser um novo Antônio Conselheiro. Com a fixação em solo baiano, Pedro Batista da Silva, provocou o crescimento do povoado, atraindo inúmeras famílias, inclusive de outros Estados. A migração para Santa Brígida ocorreu também em função das oportunidades de negócios decorrentes da aglomeração de pessoas em torno de Pedro Batista, que proporcionou o desenvolvimento agropecuário na região.  O município foi criado com o território do distrito de Santa Brígida, desmembrado de Jeremoabo, por força da Lei Estadual de 27 de julho de 1962. A sede, criada distrito em 1953, foi elevada à categoria de cidade quando da Lei que criava o município.

O andarilho revelou dotes de economista e administrador, encarregando-se de prover o sustento de sua gente, fomentando o trabalho coletivo, os mutirões, conhecidos por “batalhões”. Estimulou o plantio de algodão, palma e melancia. Esses batalhões também serviram como mãos de obra para a roçagem das terras do coronel João Sá e dos principais fazendeiros da região. Para facilitar à venda dos produtos agrícolas excedentes nas feiras de Jeremoabo e Paulo Afonso, Pedro Batista comprou dois caminhões (06) Estimulou a criação de gado e comprou um gerador de energia elétrica, instalou um hotel para abrigar romeiros e visitantes, além de criar duas escolas primárias na sede do município.

Algumas das regras básicas para a convivência na comunidade eram: Não se permite que fumem; nem que bebam; nem que se percam em farras; nem que andem armados. O chefe Pedro Batista não admite que se desobedeça as suas orientações, mas permitia entre os penitentes a Dança de São Gonçalo, considerado santo casamenteiro das Velhas e sua festa se realizava em Amarante (Portugal) a 10 de janeiro.  O Padrinho fornecia dinheiro para que pudessem ser comprados os aviamentos do grupo de dançadeiras de São Gonçalo, para as apresentações durante as novenas. Aqui se destacam principalmente as promessas de chuva, as promessas de doenças:

Nas horas de Deus, amém
Padre, Filho, Espírito Santo,
É a primeira cantiga

Que a São Gonçalo eu canto.
 
Na época, Pedro Batista foi considerado o maior agricultor de Santa Brígida, possuidor das fazendas da Oliveira, da Gameleira e do Batoque, além de vários lotes menores comprados. Segundo artigo publicado em Salvador, no jornal O Estado da Bahia, de 12 de julho de 1954, diz que “antes da chegada de Pedro Batista contava aquele arraial cerca de oitenta casas; hoje graças ao velho Pedro Batista e aos seus romeiros, santa Brígida conta com mais de trezentas casas. A área cultivada em toda a zona de Santa Brígida, que não excedia a duas mil tarefas, hoje conta nunca menos de doze mil. Para se ter uma idéia do Progresso agrícola de Santa Brígida, depois da chegada do velho Pedro Batista, basta que se diga que a produção de farinha de mandioca, feijão e milho é superior ao consumo de todo o município de Jeremoabo”.

Segundo a socióloga Maria Isaura, entrevistando em 1956, Jacó Marques da Silva na época com oitenta e um anos, diz: “que era ele o dono de Santa Brígida, que foi dada como sesmaria a um seu ascendente. Foi ele quem organizou a feira em 1912, e a manteve até pouco tempo; mesmo perdendo dinheiro, levava mantimento para vender na feira, porque queria que seu lugar tivesse importância” (07). Contando com menos de vinte mil habitantes, Santa Brígida hoje é um dos municípios mais pobres do Estado da Bahia, sobrevive basicamente do repasse do Fundo de Participação dos Municípios.

Terra de bandoleiros

Antiga terra de ninguém, por onde andaram ladrões, assassinos, pistoleiros e cangaceiros e deixaram no povoado a marca da brutalidade. Maria Isaura, assim descreve: “Lugar mal-afamado, briguentos e vingativos eram seus habitantes; qualquer pequena discussão dava lugar a assassinatos. E como todos eram mais ou menos parentes tios matavam sobrinhos, irmãos e primos matavam-se entre si” (08). Nos anos cinqüenta, a cidade vivia entre os rosários da fé e do crime, época em que atuou em Santa Brígida, um dos maiores facínora da região, o bandido Pedro Grande (1951 a 1957), que juntamente com seus filhos espalharam o terror nos sertões baianos, cometendo 52 crimes, sendo 32 homicídios, 12 latrocínios e oito assaltos. Dizem que Pedro Grande era um homem comum, ordeiro e trabalhador, até sofrer uma emboscada de pistoleiros, num dia de feira. Recuperado, se armou para se vingar. O poeta popular João Firmino Cabral (1940-2012) juntamente  com o pernambucano Sebastião Leão, conhecido por Tantão, registraram as atrocidades de Pedro no folheto publicado em 1966, Prisão de Pedro Grande, de seus filhos e Heron:

Ajudai-me Santa Musa
Com teu suave som
Que vou escrever um livro
Com meu inspirado dom

A prisão de Pedro Grande

Seus filhos e Heron.

Pedro Grande com seus filhos

Um por nome de Eurides,
Corriam assustados juntos
Eugênio e Eronides

No encalço da tropa

Vinha o tenente Melquiades.

 
Firmino nos conta que quando morava no município de Paulo Afonso, recém casado, um fato interessante se deu com ele em junho de 1965: “Peguei um carro (pau-de-arara) na boca da noite no povoado Mulungu, vizinho a Paulo Afonso, com destino a Jeremoabo, onde eu morava. Numa parada adiante, subiram três pessoas: o mais velho estava vestido de mescla azul e dois rapazes. Enquanto eles conversavam eu cuidava da minha mala de folhetos. De repente o cidadão mais velho perguntou  - o senhor é daqui? – Não, sou de Jeremoabo, mas conheço a região muito bem. – Você já ouviu falar de um pistoleiro de Santa Brígida, um tal de Pedro Grande? Tem três filhos que são três ferras, mata o povo e enterra as pessoas vivas. – Já ouvi falar. –  O senhor o que acha deles? – Nunca me fizeram mal, não tenho nada com nenhum dos três. – Também ele tem um amigo Heron, mora em Jeremoabo onde você mora, ele é um sanguinário. – Também não conheço, ouvi falar desse homem, nunca me fez mal. Entro e saio de  Jeremoabo, trabalho na feira, domingo vou para Malhada Nova, segunda para Carira vender meus folhetos. Se fez mal a alguém. A mim não fez nenhum. Como também esse Pedro Grande que o senhor está falando, nunca me fez mal, não tenho nada contra nenhum deles. Se fizeram alguns mal deve ter suas razões, não posso denunciá-los porque não fizeram nenhum mal a mim ou aos familiares. Quando se aproximava a parada do km 40, local onde eles iriam descer, o mais velho bateu no meu ombro e disse: gostei de ver, você está falando com Pedro Grande, esses são meus filhos, falta um que é recém casado. Gostei da sua posição é assim que homem faz. Você sabe o que poderia lhe acontecer se falasse mal deles? Eu ia mandar você descer do carro e matar aqui mesmo, mas você é um menino homem. O que disse foi uma beleza, porque ele nunca lhes ofenderam. Está convidado a descer conosco para jantar nesse hotel da gente. – Agradeci e disse-lhe que minha esposa estava me esperando, inclusive estou levando uma carne que comprei em Paulo Afonso. Mas um dia venho visitar os senhores. – Respondeu ele, você será bem vindo, chegando procure o hotel de Pedro Grande. Pegou na minha mão e me abraçou e perguntou precisa de alguma coisa do seu amigo? – Não só desejo que o senhor seja feliz, muito obrigado. Como disse anteriormente, eles, desceram no km 40 e eu segui minha viajem.”

Pedro Grande

A história criminosa de Pedro Grande teve início no povoado do Minuino, pertencendo a Jeremoabo, onde ele morava localizado a 20 km de Santa Brígida. A acusação de destruir um cercado feito numa cacimba tinha conotação política, pois Pedro Grande estava sendo hostilizado por grupos que não contavam com o seu apoio nas eleições. Levado para a delegacia de Santa Brígida foi agredido e proibido de portar arma enquanto viesse à sede. Em agosto de 1951, durante um dia de feira em Santa Brígida, Pedro Grande cercado por vários homens foi baleado dezoito vezes.

Segundo depoimento de Lindoaldo Alves de Oliveira, prefeito de Santa Brígida de 1966 a 1972, “eles foram atirando, atirando até que Pedro caiu. Eu sei que Pedro ficou com 18 ferimentos de tiro. 18 tiros no corpo, mas nenhum pegou em parte que tinha para matar. O braço quebrou, o braço esbagaçou. Acabaram achando que morria. Mandaram chamar aqui os parentes; os parentes foram aí não deu tempo para matar Pedro. Mandaram um carro aqui, o carro não coube ele, aí voltaram e trouxeram outro maior. Eu sei que quando ele recebeu os primeiros socorros, os tiros foram no domingo, ele veio receber na terça os primeiros socorros”.

Pedro Grande ficou internado em Paulo Afonso durante uma semana, quando foi informado que seus algozes iriam invadir o hospital para concluir o serviço. Temendo por sua vida foi ajudado por um parente e fugiu do hospital para um esconderijo. Após recuperação, deu início à vingança contra os seus agressores, matando a todos os que não conseguiram fugir para Sergipe. É desta forma, que Pedro Grande passa de vingador a realizar crimes como pistoleiro e transforma-se num mito da região. O General Castelo Branco quando assumiu a presidência da república, ordenou a prisão de Pedro Grande e seus filhos de qualquer maneira, caso não acontecesse, seriam destituídos muitos oficiais do Exército Brasileiro, envolvidos na sua captura. Contando com a ajuda de vários jipps William, que entravam facilmente na caatinga, local de esconderijo do bando de pistoleiros, foi possível prendê-lo juntamente com seus filhos, Eurides, Eronides e Eugênio, em fins de 1965. A prisão foi realizada pelo Exército Regional de Paulo Afonso, sob o comando do tenente Melquiades, após várias tentativas para prendê-los, os bandoleiros escapavam sempre pelos esconderijos da região.

Devido ao grande noticiário da imprensa estadual, sobre a prisão dos bandoleiros, é que Pedro Firmino teve a ideia de escrever um folheto sobre a grande história do momento na região, assim surgiu o folheto, “A Prisão de Pedro Grande e seus filhos e Heron” que foi impresso em junho numa gráfica em Paulo Afonso, com uma tiragem de cinco mil exemplares, vendida toda edição em plena feira (sexta e sábado), pois todos queriam saber sobre Pedro Grande.  Na segunda feira seguinte, como de costume, Firmino foi vender o restante dos folhetos em Santa Brígida. Abriu a mala e espalhou os folhetos no chão: “De repente apareceu um cabo de polícia me proibindo que continuasse a vender os folhetos, disse-lhe que eu vivia daquilo, era meu único sustento. Ele engrossou e quis me prende, justificando que Pedro Grande não era pistoleiro. O que fez foi uma vingança. Continua – Minha sorte foi que nesse dia estava presente o pessoal do Exército de Paulo Afonso, camuflado, no encalço de mais pistoleiros.” Realmente o poeta teve muita sorte por encontrar um soldado que logo relatou o fato ocorrido, e este foi até o cabo e perguntou o que ele tinha a favor de Pedro Grande e seus filhos para proibi a venda dos folhetos. Resolvida a questão o poeta popular retomou ao ponto e continuou vendendo seus cordéis, inclusive se recordar de ter vendido dois exemplares a própria esposa de Pedro Grande, que estava acompanhada do filho de uns dez anos.

Após cumprirem pena de Pedro Grande e seus filhos, um jornal de Salvador, estampou a seguinte manchete: “Possível volta de Pedro Grande aterroriza o sertão”. O bandoleiro Pedro Grande residia no Estado do Pará até ano passado (2010) quando faleceu, mas freqüentemente visitava Canindé do São Francisco (SE), onde tinha vários parentes, inclusive um dos seus filhos reside até hoje.

Exercício Político

As melhorias conseguidas por Pedro Batista eram para elevar o nível de seu povo; conseguiu a nomeação de uma professora estadual e de um professor municipal, além de doar ao Governo Federal uma de suas fazendas, a “Gameleira”, para ali ser instalado um núcleo de colonização que proporcione aos romeiros ensinamentos agrícolas. Pedro conseguiu ainda, um juizado de paz e um cartório de Registro civil.

Seu papel é o de prefeito da localidade, de administrador local, bem como constitui a autoridade policial e judicial. Nada no município se passa sem que Pedro Batista tenha sido primeiramente consultado e ouvido. Pedro também funcionava como uma espécie de Banco de seus romeiros e de todos os que recorrem a ele. Contam os mais velhos do município, que os beneficiados pagavam de acordo com o ganho, sem juro algum.

Devido à repercussão de suas atividades benéficas entre os romeiros, o Chefe Pedro Batista, passou a ser tratado por seus seguidores de Padrinho, (muitos acreditavam ser ele, a reencarnação de Padre Cícero) tratamento de superioridade, atribuído por gratidão e respeitos dos fiéis. A socióloga Maria Isaura inclui o beato Pedro Batista nos “Movimentos Messiânicos Rústicos”, por está vinculado à vida rural do país. No Maranhão, por volta de 1940, o místico José Bruno de Moraes se instalou em Nazaré do Bruno e exerceu chefia econômica semelhante à de Pedro Batista.

Madrinha Dodô

Com a morte de Pedro Batista em 11 de novembro de 1967, vítima de câncer, Madrinha Dodô deu continuidade em seus ensinamentos e obras de caridade. Nascida em 08 de setembro de 1902, recebeu o nome de Maria das Dores, era natural do povoado Moreira, município de Água Branca, no Estado de Alagoas. Filha de família camponesa, desde cedo já demonstrava interesses pelas doutrinas religiosas. Aos doze anos, acompanhou o Padre Cícero em suas missões. Com a morte do beato cearense  (1844-1934) em Juazeiro, a igreja católica passou a reprimir o fanatismo religioso no nordeste.  É nesta época que aparece o peregrino Pedro arrastando multidões pelos sertões adentro. Entre os seguidores estava Maria das Dores, que passou a chamar-se de Madrinha Dodô, acompanhando o líder religioso, ora ensinando rosários, benditos, cantigas de louvor e penitência. Madrinha Dodô faleceu em 28 de agosto de 1998, aos noventa e seis anos, em Juazeiro do Norte - CE.

O jornal Tribuna de Juazeiro – Juazeiro do Norte (CE), de 23 de outubro de 1966, noticiou à ajuda de mantimentos enviados pelos romeiros de Santa Brígida, sob a liderança de Madrinha Dodô:  “Fato excepcional e digno de nossos elogios aconteceu a semana passada aqui. Um caminhão cheio de alimentos (sacos de arroz, feijão, açúcar, sal, leite e mais de 100 quilos de carne de gado) chegou ao abrigo dos Velhos mantidos pelo SAM. O carro veio da Bahia, mais precisamente de Santa Brígida; foi mandado pela generosa senhora Maria das Dores dos Santos, romeira de Padre Cícero. É que a referida senhora, quando aqui esteve por ocasião da festa da Padroeira, visitando o abrigo do SAM, condoeu-se dos seus hóspedes e prometeu mandar o mais breve possível um carregamento de alimentos num caminhão. Isto ela disse aos jornalista Walter Barbosa, presidente da Sociedade de Amparo aos Mendigos (SAM). Dona das Dores é senhora idosa, sexagenária, humilde,católica e de coração generosíssimo. Sendo bastante conhecida e admirada no sertão de santa Brígida, não teve dificuldades em conseguir junto aos romeiros do “Padim Ciço”, ali residentes toda espécie de mantimentos indispensáveis ao sustento diário daqueles pobres velhos que moram no abrigo de Juazeiro”.

Memorial

O Centro Cultural Pedro Batista, composto de museu, biblioteca e fototeca, mantido pela Prefeitura de Santa Brígida, cuidam do memorial e zela pela memória de Pedro Batista. Localizado na Principal Praça do município, que leva o mesmo nome do beato. Na Praça há um busto do beato Pedro Batista e uma estátua de Madrinha Dodô. No Memorial estão todos os objetos do beato. O retrato dele em sua própria cama, o quarto intacto, de Madrinha Dodô e peças mais simples, como rosários e roupas. É possível encontrar também no museu alguns documentos como: Proposta de empréstimo agrícola junto ao Banco do Nordeste do Brasil S/A, datado de 15 de dezembro de 1955; Documentos fiscais da firma de Pedro Batista, autorizados pela Coletoria Estadual de Jeremoabo; Documentos fiscais referentes ao pagamento de Imposto Territorial Rural à prepostos da Coletoria Estadual de Jeremoabo; Contrato de empréstimos bancários junto ao BNB para financiamento de suas atividades agrícolas; Livro com registro de custos das obras coordenadas por Pedro Batista; Cartas escritas pelo Coronel João Sá destinadas a Pedro Batista.

Desde 1963 que o beato já sentia sinais da doença e no último ano de sua morte não conseguia ficar de pé, nem correr sozinho. A má aplicação de uma injeção para combater a infecção urinária acabou por prejudicar mais a sua locomoção.  O beato faleceu em 11 de novembro de 1967, vitima de uma infecção urinária provavelmente decorrente de problemas na próstata. . Seu corpo encontra-se sepultado no cemitério São Paulo, em Santa Brígida.

A Paz

Foram dias memoráveis na Fazenda Santo Antônio e as gentis companhias do anfitrião, Luiz Eduardo Costa e seus convidados: o escritor Alcino Alves e seu filho, Deputado João Daniel e esposa, Paulinho Costa e esposa, Frei Enoch e outros.

Espero receber em breve, um novo convite para atualizarmos os papos literários e políticos e desfrutar dessa paz que a gente só encontra na morte, no céu, cercado por anjos, bem como revisitar Santa Brígida, para observar melhor alguns aspectos daquela comunidade que ainda me deixa intrigado e quem sabe, reescrever essas observações, obtidas ligeiramente numa primeira visita. Aliás, uma semana antes da minha ida a Santa Brígida, o vice-governador Jackson Barreto, esteve naquele município levado por Luiz Eduardo, para conhecer a devoção de Pedro Batista, que continua forte em Santa Brígida.

01 Lampião. Ranulfo Prata. Rio de Janeiro, Ariel, 1934.

02 O Messianismo no Brasil e no Mundo, Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo, Editora da 03 Universidade de São Paulo, 1965. Rio de Janeiro, Editora Alfa-omega, 2ª Ed. prefácio de Roger Bastide, 1976.
03 O Povo do Velho Pedro, dirigido por Sérgio Muniz, 1967. Filmado durante a semana Santa de 1967 e julho do mesmo ano, com apoio do Centro de Estudos Rurais e Urbanos e do Instituto de Estudos Brasileiros, ambos da Universidade de São Paulo.

04 Cangaceiros e Fanáticos. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1960.

05   Pedro Batista, Elieser César. Salvador, Correio da Bahia, 18 de novembro de 2001, republicado em Memórias da Bahia –II, Correio da Bahia, nº6, 2004.
06 -  Santa Brígida encontra-se no meio do caminho, entre Jeremoabo e a sede de Paulo Afonso.
07 -  O Messianismo no Brasil e no Mundo, Maria Isaura Pereira de Queiroz.
08 -  O Messianismo no Brasil e no Mundo, Maria Isaura Pereira de Queiroz.
Referências Bibliográficas
IRDEB-TVE-BAHIA. Pedro Batista o Conselheiro que deu certo. Salvador, 1997.
OLIVEIRA, João de. A Vida e Morte de meu padrinho Pedro Batista da Silva – cordel, 1970.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. Sociologia e Folclore: A dança de São Gonçalo num povoado baiano. Salvador, Livraria, Editora Progresso, 1958.
O Messianismo no Brasil e no Mundo. São Paulo, Editora Alfa-Omega, 2ª edição, 1976
SILVA, Z. Apóstolo. A vida de Zezito Apóstolo da Silva – líder dos romeiros do Beato Pedro Batista. Salvador, EGBA/Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, 2002

Parte desse artigo foi copiado do blog de Cláudio Nunes que atua no jornalismo de Sergipe e o recebeu para publicação do também jornalista, professor universitário, Diretor de Imprensa da ASI, membro do IHGSE e do IGHBA Professor Gil Francisco.

http://meneleu.blogspot.com.br/2015/06/o-beato-pedro-batista-e-sua-comunidade.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com