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sábado, 14 de fevereiro de 2015

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA: 125 ANOS

Por Maria Teresa Navarro de Britto Matos

No dia 16 de janeiro, o Arquivo Público do Estado da Bahia celebrou 125 anos de existência. Nesta trajetória, momentos importantes merecem destaque, como o gradativo crescimento, resultado da intensificação do recolhimento e da aquisição de acervos públicos e privados. O Arquivo sempre manteve o caráter singular de repositório dos documentos acumulados pelas atividades desenvolvidas pelo Estado. Mas, teve o sentido de sua missão reelaborado para dialogar com as mudanças do presente. De órgão exclusivamente administrativo enquanto “depósito da história” e mais tarde, difusor cultural e instrumento de democratização do Estado, o Arquivo vem sendo reconfigurado para as novas demandas do século XXI, fortalecido como um espaço legítimo de cidadania.

A ideia de modernizar a instituição remonta ao final da década de 1970. Com este propósito, o Governo do Estado da Bahia transferiu a sede da Rua Carlos Gomes para o Solar da Quinta do Tanque, na Baixa de Quintas, em 1980, possibilitando a instalação dos laboratórios de restauração e microfilmagem. O restauro do forro, assoalho e telhado do Solar, e a requalificação dos sistemas elétrico, lógico e telefônico, realizados entre 2013 e 2015, evidencia a retomada do processo de modernização com vistas à institucionalização da digitalização para fins de acesso e preservação.

Investimentos, também, foram direcionados ao tratamento técnico do acervo custodiado, notadamente de descrição multinível, restauro e digitalização. O objetivo se concentrou no interesse de qualificar o Arquivo Público do Estado como polo difusor de informações para apoiar as decisões governamentais de caráter político-administrativo, subsidiar o cidadão na defesa de seus direitos e incentivar a produção acadêmico-científica e cultural.

Os conjuntos documentais “Tribunal da Relação do Estado do Brasil e da Bahia: 1652-1822”; “Registros de Entrada de Passageiros no Porto de Salvador: 1855 a 1964” e “Cartas Régias 1648-1821” confirmam o valor excepcional do acervo do APEB ao serem nominados “Memória do Mundo” pelo Comitê Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da UNESCO, em 2008, 2010 e 2013 respectivamente.

Deve-se ressaltar ainda o empenho para disciplinar a gestão documental e o acesso à informação pública, com a oficialização da primeira Tabela de Temporalidade de Documentos da Administração Pública do Poder Executivo – Atividades Meio (2010), e do Plano de Classificação de Documentos.

A despeito de todas as realizações, o Arquivo Público deverá transpor inúmeros desafios: a expansão de bases de dados; o amplo acesso à informação integrando-o às redes virtuais; o restauro e a digitalização em larga escala; o tratamento arquivístico de documentos em formato digital; a orientação técnica a órgãos do Poder Executivo, às Prefeituras e Câmaras Municipais; além da oferta renovada de serviços educativos e culturais, com a finalidade de assegurar a aproximação com as instituições educacionais e o público em geral.

Um passo importante que contribuirá para superar parte dos desafios apontados se concretizou em dezembro de 2014, com a institucionalização no âmbito da Secretaria de Cultura, do Colegiado de Arquivos e Memória, representado pela sociedade civil e pelo poder público, com a finalidade de fortalecer o segmento.

Atento às demandas dos cidadãos e da administração pública, o Arquivo Público do Estado da Bahia, merece justas homenagens pela passagem dos 125 anos. O Arquivo Público reafirma o compromisso de aperfeiçoar e ampliar o acesso e a salvaguarda da memória da Bahia e do Brasil em benefício das gerações atuais e futuras.

Maria Teresa Navarro de Britto Matos

Postado por Urano Andrade

http://uranohistoria.blogspot.com.br/2015/01/arquivo-publico-do-estado-da-bahia-125.html

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INJUSTIÇA

Por Antonio Corrêa Sobrinho

Destaquei da edição do dia 17/11/1958, do jornal "O Globo", a imagem, segundo este, de Maria de Lurdes Dias dos Santos, uma das filhas do cangaceiro Corisco, e que, aos doze anos de idade, era a megera que se vê nesta foto, devido os maus tratos da família que a criou e achava justo vingar na inocente menina os crimes do pai.

o que o grupo tem a dizer a respeito?

ADENDO - http://blogdomendesemendes.blogspot.com

E se o cangaceiro Corisco ainda estivesse vivo, será que essa família que a criou, teria coragem de fazer o que fazia com ela sem o pai presente?. "A formiga sabe a folha que corta".

Clique neste link para saber mais sobre o casal de cangaceiros Corisco e Dadá

http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2014_11_29_archive.html

Fonte: facebook

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QUADROS RECENTES

Por Manoel Perigo Neto






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SOBRINHA DO CANGACEIRO VOLTA SECA É ENCONTRADA POR ROBÉRIO SANTOS

Por Robério Santos

É com muito orgulho que apresento dona Ilza dos Santos, sobrinha direta do famoso cangaceiro Volta Seca. Gravei uma longa entrevista com ela onde me trouxe informações incríveis e inéditas sobre ele. Estive no povoado Saco Torto e ela tem 84 anos... 


Ela é uma dos 18 filhos de Dona Felismina dos Santos, parteira das boas era uma das 13 filhas de Manuel Antônio dos Santos e Arminda Maria dos Santos. Senhora lúcida, não lembra de muita coisa, pois Volta Seca quando foi preso ela tinha apenas 1 ano de idade e em 1953 os dois se encontraram no Saco Torto... 

Estou muito feliz em estar contando esta história. 

Abraço, depois público mais fotos que consegui e o vídeo.

Fonte: facebook
Página: Robério Santos

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A REVOLTA DE PRINCESA


A guerra de Princesa, em 1930, foi um acontecimento que marcou e transformou a vida estadual e teve repercussão nacional. Tudo começou através de discórdias políticas e econômicas, envolvendo poderosos coronéis do interior do estado e o governador eleito da Paraíba em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. O principal deles era o chefe político de Princesa Isabel, o “coronel” José Pereira de Lima, detentor do maior prestígio na região, que se tornou o líder do movimento. Era a própria personificação do poder político. Homem de decisão e coragem pessoal, também era fazendeiro, comerciante, deputado e membro da Comissão Executiva do partido.

Coronel José Pereira de Lima

João Pessoa discordava da forma como grupos políticos que o elegera, conduziam a política paraibana, onde era valorizado o grande latifundiário de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária. Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados e outras ações as quais o novo governador não concordava. Nos seus redutos, eram eles que apontavam os candidatos a cargos executivos, além de nomearem delegados, promotores e juízes. Eles julgavam, mas não eram julgados. Verdadeiros senhores feudais, nada era feito ou deixava de ser feito em seus territórios que não tivesse a sua aprovação. Mas João Pessoa passou a não respeitar mais as indicações de mandatários para nomeações de cargos públicos.

Por esta época, esses coronéis exportavam seus produtos através do principal porto de Pernambuco, em Recife, provocando enormes perdas de divisas tributárias para a Paraíba. Procurando evitar esta sangria financeira e efetivamente cobrar os coronéis, João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da Paraíba, irritando de tal forma estes caudilhos, que pejorativamente passaram a chamar o governador de “João Cancela”.

A gota d`água foi a escolha dos candidatos paraibanos à deputação federal. Como presidente do estado, João Pessoa dirigiu o conclave da comissão executiva do Partido Republicano da Paraíba que escolheu os nomes de tais pessoas. A ideia diretriz era a rotatividade. Quem já era deputado não entraria no rol de candidatos. Tal orientação objetivava afastar o Sr. João Suassuna, grande aliado de José Pereira que, como presidente do estado que antecedeu a João Pessoa, teria maltratado parentes de Epitácio na cidade natal de ambos, Umbuzeiro. No entanto, João Pessoa deixou na relação dos candidatos o nome de seu primo, Carlos Pessoa, que já era deputado. Isso valeu controvérsia na comissão executiva e apenas João Pessoa assinou o rol dos candidatos.

Com o apoio discreto, mas efetivo, do Presidente da República e dos governadores de Pernambuco, Estácio de Albuquerque Coimbra, e do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine de Faria, o coronel José Pereira decidiu resistir a essas investidas contra seus poderes. Com data de 22 de fevereiro de 1930, ele rompe oficialmente com o governo do Estado, através do seguinte telegrama:

"Dr. João Pessoa - Acabo de reunir amigos e correligionários aos quais informei do lançamento da chapa federal. Todos acordaram mesmo que V. Excia., escolhendo candidatos à revelia Comissão Executiva, caracteriza palpável desrespeito aos respectivos membros. A indisciplina partidária que ressumbra do ato de V. Excia, inspirador de desconfianças no seio do epitacismo, ameaça de esquecimento os mais relevantes serviços dos devotados à causa do partido. Semelhante conduta aberra dos princípios do partido, cuja orientação muito diferia da atual, adotada singularmente por V. Excia. Esse divórcio afasta os compromissos velhos baluartes da vitória de 1915 para com os princípios deste partido que V. Excia. acaba de falsear. Por isso tudo delibero adotar a chapa nacional, concedendo liberdade a meus amigos para usarem direito voto consoante lhes ditar opinião, comprometendo-me ainda defendê-los se qualquer ato de violência do governo atentar contra direito assegurado Constituição. Saudações (a) José Pereira".

Como resposta, João Pessoa mandou a polícia invadir o município de Teixeira, reduto dos Dantas, aliados de José Pereira, prendendo pessoas da família e impedindo que ocorresse votação naquela cidade. Determinou que acontecesse o mesmo em Princesa, mas lá, o coronel se armou, juntou um exército e reagiu.

José Pereira tinha armas em quantidade, recebidas do próprio governo estadual, em gestões anteriores, para enfrentar o bando de Lampião e mais tarde a Coluna Prestes. Seu exército particular era estimado em mais de 1.800 combatentes, onde diversos desses lutadores eram egressos do cangaço ou desertores da própria polícia paraibana. Com esse poderio bélico e seu prestígio político, começou a planejar o que ficou conhecido como “A Revolta de Princesa”. Partiu então para a arregimentação de aliados. Nessa tentativa, no dia 27 de fevereiro de 1930, dirigiu ao Sr. Odilon Nicolau a seguinte carta:

"Amigo Odilon Nicolau, o meu abraço. O governo tem feito grande pressão aos eleitores e sei agora que têm sido espancados vários correligionários da Causa Nacional. Como você já deve saber, rompi com o governo de João Pessoa e estou disposto a garantir os nossos amigos, para o que envio vários contingentes. 

O meu pessoal não tocará em ninguém, salve se for agredido. Havendo de provocar a intervenção, pois estou disposto a ocupar todos os municípios do Sul do Estado. O mesmo se fará no Norte com outra força comandada por pessoa em evidência no Estado. Penso ter direito e bem razão em lhe convidar para esta luta, porque as minhas relações com você e sua família, me animam a assim proceder. Não me engane porque a luta está amparada pelos próceres da política nacional. João Pessoa está ilegalmente no governo, logo depois da eleição, dado o movimento, o Governo Federal tomará conhecimento dos atos absurdos e inconstitucionais praticados por ele. Venha e não se receie. Do velho amigo, José Pereira Lima. Princesa, 27 de fevereiro de 1930".

O movimento declarou a independência provisória de Princesa Isabel do Estado da Paraíba. Em 28/02/1930 o Decreto nº 01 foi aclamado pela população, que declarou oficialmente a independência da cidade (República de Princesa), com hino,bandeira e leis próprias.

Essa rebelião atingiu também diversos municípios como Teixeira, Imaculada, Tavares e outros. A cidade, que já tinha visto passar diferentes grupos de cangaceiros, passou a ser reduto de valentia e independência. Foram travadas sangrentas batalhas e inúmeras vidas foram perdidas. Princesa se tornou uma fortaleza inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais ao governador João Pessoa.

Mas a luta perde sua razão de ser. O "coronel" queria afastar o presidente João Pessoa do governo, porém, o advogado João Duarte Dantas, por motivos pessoais/políticos, assassinou o presidente do Estado da Paraíba, na confeitaria Glória, no Recife, às 17 horas do dia 26 de julho de 1930. É que João Dantas teve a sua residência e escritório de advocacia na capital da Paraíba invadidos pela polícia do Estado, tendo parte de seus documentos apreendidos e divulgados pelo jornal A União, quase um diário oficial do estado. Vieram à luz detalhes de suas articulações políticas e de suas relações com a jovem Anayde Beiriz. Em uma época em que honra se lavava com sangue, Dantas sabendo que João Pessoa estava de visita ao Recife, saiu em sua procura para matá-lo.

Com sua morte, o movimento armado de Princesa, que pretendia a deposição do governo, tomou novo rumo. Os homens de José Pereira comemoraram, mas o coronel, pensativo, teria dito: “Perdemos...! Perdi o gosto da luta. Os ânimos agora vão se acirrar contra mim".

E conforme sua previsão, os paraibanos ficaram chocados com o assassinato (a partir daí criou-se todo um mito). O crime foi apresentado como obra dos perrepistas, o Partido Republicano Paulista. Seus partidários, em retaliação, foram perseguidos e tiveram suas casas incendiadas, além de sofrerem outros tipos de perseguição e violência.

O Presidente da República, Washington Luiz, decidiu então terminar com a Revolta de Princesa e o "coronel" José Pereira não ofereceu resistência, conforme acordo prévio, quando seiscentos soldados do 19º e 21º Batalhão de Caçadores do Exército, comandados pelo Capitão João Facó, ocuparam a cidade em 11 de agosto de 1930. José Pereira deixa a cidade no dia 5 de outubro de 1930.

No dia 29 de Outubro de 1930, a Polícia Estadual ocupa a cidade de Princesa com trezentos e sessenta soldados comandados pelo Capitão Emerson Benjamim, passando a perseguir os que lutaram para defender a cidade ameaçada, humilhando e torturando os que foram presos, sem direito a defesa. A luta teve um balanço final de, aproximadamente, seiscentos mortos.

Depois de anistiado, em 1934, José Pereira foi residir na fazenda "Abóboras" em Serra Talhada-PE.

Publicado em: 

http://culturapopular2.blogspot.com.br/2011/02/revolta-de-princesa.html

http://clubedahistoria.com.br/post.php?codigo=212

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TÁTICAS E TRUQUES DO CANGAÇO - O CONHECIMENTO DO AMBIENTE E O USO DE ALGUMAS TÁTICAS DAVAM VANTAGEM AO CANGACEIRO.


1 - Rastros

Uma forma de escondê-los era andar em fila indiana, todos pisando na mesma pegada. O último ia de costas, apagando-a com plantas, Mandavam também fazer alpercatas com o salto na frente e não atrás, como é normal. A pegada parecia apontar para o outro lado, de modo que os perseguidores não sabiam se o bando ia ou se vinha

2 - Comunicações

Quando entrava numa cidade, o bando cortava o fio do telégrafo e tomava o posto telefônico, impedindo pedidos de socorro

3- Estradas

Eram evitadas. Os bandoleiros iam por dentro da caatinga. Quando não tinham outra opção, sequestravam todas as pessoas que encontravam e levavam os reféns ao menos por um tempo

4 - Psicologia

Não deixavam a polícia avaliar o resultado dos combates. Levavam os mortos e, quando não dava, cortavam-lhes as cabeças, dificultando a identificação

5 - Apelidos

Quando um integrante do grupo morria, seu apelido era adotado por um novato. Essa é uma das razões que faziam os cangaceiros parecerem invencíveis, pois os nomes eram imortais

6 - Alarmes

Sempre havia cães acompanhando o bando, (já crianças pequenas não havia, as cangaceiras davam ou deixavam os filhos aos cuidados geralmente de padres ou de mulheres de coiteiros de muita confiança do capitão Virgulino, no entanto havia garotos ingressantes no bando), os cães funcionavam como sentinelas ( mas não latiam, exprimiam um rosnado gutural e abafado, como o da gia e que era entendido pelos cangaceiros), dizem que o cão do Capitão se chamava guarani.  Havia também um sistema banal de alarme, consistia em cercar o acampamento com fios ligados a chocalhos (sinos, guizos)

6 – Para não serem vistos pelos inimigos rezavam “orações fortes”, ensinadas por beatos ou curandeiros que havia no sertão, tal como: Se encobrindo por uma árvore ou mesmo a palma da mão empatando ver o inimigo, rezar o Credo em cruz pelo avesso

Surpresa, esperteza, covardia?

Para conseguir bons resultados, Lampião evitava ao máximo os confrontos e abusava de uma tática conhecida como dueto. Ao ataque da polícia, simulava uma fuga, esperando o inimigo em outro local, de surpresa. Havia quem dissesse que isso era covardia. Ele preferia chamar de esperteza.
SAIBA MAIS! Clique:



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“O GLOBO”- 20/11/1958 - PARTE XV

Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho

COMO SE FORJA UM CANGACEIRO


UM “CABRA” COVARDE

O Cunhado de Lampião Era um Tipo Curioso – Há Muitos Elementos do Bando Ainda Vivos – O Irmão de Ferrugem Era o Bobo da Corte de Virgulino.

AINDA me lembro de vários outros cangaceiros, como Medalha, Chumbinho, Bom Divera... Mas, com exceção do último, os demais foram de “ferocidade normal”. Tinham a maldade rotineira dos cangaceiros... Já Bom Divera chamava a atenção porque era negro e alto. Caladão e valente, era de uma coragem sem alardes. Fumava sempre cachimbo, e não o tirava da boca nem para atirar. E como atirava bem! Quando fazia a pontaria, dizia com um sorriso alegre: 

- “Aquele ali já está cheirando mal...” 

Não errava nunca, e foi um dos que permaneceram mais tempo no bando. Nunca disse a ninguém porque ingressou no cangaço, mas eu suspeito que devia ter uma história bem curiosa, pois vivia sempre a meditar, afastado de todos. Foi morto em combate no Mulungu, em Pernambuco, numa séria refrega que o bando teve com soldados.

O ESTRANHO VIRGÍNIO

Nesta foto Virgínio é o nº 2, e está sentado ao lado direito de Lampião, seu ex-cunhado

UM tipo curioso, também, era o cunhado de Lampião, Virgínio, conhecido como Esperança. Era homem sisudo, alourado e simpático. Valente entre os mais valentes, tinha ideias esquisitas, sendo uma delas esta, de que sempre me recordo: 

“Não gosto de bater em ninguém, nem de xingar. Um homem não se maltrata, mata-se!” 

Nunca aprovou as crueldades do cunhado e dos demais, nem assistia à prática de perversidades. Só contassem com ele quando se tratasse de matar... Virgínio morreu na Bahia, em combate, e Lampião sentiu bastante sua morte, pois gostava muito dele.

OS “CABRAS” VIVOS

Foto do cangaceiro Balão

ÀS vezes perguntam-me se sou o único “cabra” de Lampião ainda vivo. Creio que não. Devem ainda estar vivos por esses sertões afora Balão, Nevoeiro, Relâmpago e talvez mais um ou dois. 

Foto do cangaceiro Relâmpago

Foram dos que entraram e saíram logo do cangaço, talvez por falta de vocação... E tanto não foram maus, que a punição que tiveram foi mínima. Eu é que aos quinze anos peguei 145 de cadeia, ou seja, a punição do bando todo... Que se há de fazer?

FALTA DE VOCAÇÃO

JÁ que falei em falta de vocação para o cangaço e estou tratando de “cabras” do bando de Virgulino, vale aqui mencionar dois bem interessantes. Trata-se de Coqueiro e Baliza.

Coqueiro era um caboclo alto, forte, que entrou no bando por se ver perseguido pela “força”, que insistia em tê-lo na conta de coiteiro. Esteve no máximo seis meses no bando, depois desapareceu, não se sabe para onde. Nunca brigou, pouco falou com os companheiros, e até hoje não sei se está vivo ou morto. Creio que desapareceu por chegar à conclusão de que não dava para o cangaço. Lampião dizia que ele era um “bobão”...

O PALHAÇO

JÁ o Baliza tem uma história diferente. Foi o palhaço do bando. Até hoje não sei como ele pôde pensar em entrar para o cangaço. Baliza era caboclo, muito alto, fortíssimo e corpulento, mais feio do que uma briga de foice. O que tinha no aspecto, tinha de covarde. Era frouxo até não poder mais, tão frouxo, que somente graças a isso era admitido em nosso convívio...

Baliza era irmão de Ferrugem, um cangaceiro valente. Entrou no bando de Lampião porque, como seu irmão estava no cangaço, os soldados não lhe davam folga e viviam a persegui-lo, sendo que, no final, queriam até matá-lo. Baliza era dos veteranos, pois entrou para o bando em 1929. Era um tipo engraçadíssimo, grandalhão, moleirão, brincalhão, mas sem sangue nas veias. Ele mesmo dizia que nunca brigara com ninguém, nem fizera mal ao mais nojento dos animais. E como comia! Era capaz de dar cabo das refeições de cinco homens, e ainda pedia sobremesa...

Sempre desconfiei de que Baliza fosse um débil mental, pois não é admissível que um homem passe onze anos num bando de cangaceiros sem sequer usar arma. Ele era incapaz de recorrer a elas. Aos primeiros tiros da volante, Baliza punha-se a correr, e nessa hora tinha a agilidade de um felino. Passado o combate, só muito longe dali é que íamos encontrá-lo. Lampião dizia-lhe, furioso: 

“- Mas tu, tão grande e tão covarde! Eu devia te matar!” 

E ele, todo maneiroso, se justificava: 

“Minha natureza não dá pra isso, seu Capitão... Faça de mim o que quiser, mas eu sou assim mesmo... Deixe ao menos eu me acostumar...”


E todos riam, inclusive Lampião, que não admitia covardia, mas suportou sempre a de Baliza. O que dava raiva a Lampião era quando Baliza fugia e amedrontava os que estavam ao seu lado, levando-os na sua fuga. Aí Lampião zangava-se: 

“- Miserável, corre, mas corre sozinho. Não leva os outros, porque eu te meto uma bala nos miolos!” 

E ele, imediatamente: 

“- Mas seu capitão, foi de surpresa que os “macacos” chegaram... Quando eu sei antes, não acontece nada disso, pois eu dou no pé devagarinho...” 

Novas gargalhadas, e Lampião acabava também rindo...

DESGOSTO DE FERRUGEM

De vez em quando, os “cabras”, para assustarem o palhaço, diziam: 

“- Chi! Aí vem a volante de Mané Neto...” 

E ele logo se levantava de um pulo e dizia: 

“- É... eu vou me esconder, porque essa gente é braba mesmo... Mané Neto não brinca...”

Ferrugem tinha desgosto de ter um irmão tão covarde. Um dia perguntou a Baliza: 

“- Me diga lá. Se você me vê caído no chão, num tiroteio, não me apanha?” 

A resposta de Baliza foi: 

“- Eu? Não! Em lugar de morrer dois, morre um só...” 

E o irmão olhava para os demais, que se riam a não mais poder, como quem diz: “- Pode-se com uma coisa dessas?”.

Baliza não era inteligente, nem sabia sequer cantar. Sua especialidade sempre foi comer muito e correr mal ouvisse um tiro. Dessa forma viveu onze anos, e, todas as vezes que Lampião entrava em Pernambuco, ele não ia, com medo da volante de Mané Neto.

Seu fim, segundo me contaram na cadeia, foi triste, pois numa refrega ele se entregou aos soldados, que o degolaram, julgando estarem fazendo uma grande coisa. Ele se degolaria sozinho, se eles pedissem...

Na certa, devido ao porte avantajado e à cara feia de Baliza, julgaram estar diante de um perigoso cangaceiro. E como se enganaram! Baliza não nasceu para o crime, nem para a maldade. Mesmo quando alguém do bando tinha que punir um “paisano”, Baliza não assistia, pois “não gostava de ver coisas que seu coração não pedia”... Pobre Baliza, tão grande e tão inofensivo! Tenho a impressão de que esse rapaz só entrou no cangaço para alegrar os cangaceiros e ajudar-nos a passar as horas amargas...
  
CONTINUA...

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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