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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

PARA ONDE VAI SANTANA?

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de novembro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.779

 Quando meu amigo arapiraquense – depois de visitar alguns lugares de Santana – perguntou-me sobre o plano de expansão da cidade, eu não soube responder. Ele não me falou, mas sendo uma pessoa ligada à indústria, tive a impressão de que pretendia investir em lugares promissores. Como a cidade ainda hoje cresce seguindo trilhas de carro de boi e vereda de bode preferi não arriscar em terreno desconhecido. Isso é coisa para a burocracia administrativa longe até do planejamento de moradia do cidadão comum. Pretendo morar em outro lugar, mas qual seria o lugar? Sem nenhuma perspectiva vamos na “oitiva”, como diziam os mais velhos.

BR-316 no Bairro Camoxinga. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas

           A região norte puxa para o sítio Barroso, formando o novo lugar apelidado Quilombo. Indo para a região sul, vamos encontrar a saída para Olha d’Água das Flores que vai aos poucos tomando feição do futuro quarto comércio de Santana. (O primeiro é o centro e o prolongamento que ora se estende até a UNEAL. O segundo é o do Bairro Camoxinga. O terceiro é o do início do Bairro Domingos Acácio). Quer dizer, as saídas Leste e Sul de Santana do Ipanema, no momento, são as duas regiões que têm as melhores perspectivas para comércio e serviços. A região oeste toda parece que não vai adiante. Fora isto, o miolo da periferia, mais perto, vai sendo lentamente ocupado por loteamento residencial.

Mas se a saída Santana – Maceió (zona leste) está vivendo melhores dias para investimentos; e a saída Santana – Olho d’Água das Flores (zona sul) também desperta para comércio, onde faríamos o nosso polo industrial? Com certeza teria todas as vantagens à zona oeste, logo após as últimas casas do perímetro urbano. A principal dela seria a BR-316, mas outras, como o relevo se sobressaem como escolha para isso.  Sim, sabemos perfeitamente que tem uma cabeça de burro enterrada contra a indústria em Santana, mas um dia ela será desenterrada, porque nem cabeça de burro nem dono de cabeça de burro dura eternamente.
Dentro da parte física e social mostrei ao amigo as regiões da minha cidade, até porque planejamento se faz também com Geógrafo, Urbanista e Cartógrafo, mas... Onde? O futuro dirá.


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O RE DO FUTEBOL PELÉ E O REI DO BAIÃO LUIZ GONZAGA JUNTOS

Por Guilherme Machado historiador e pesquisador


Rara aparição do Rei Pelé! Vestido de Cangaceiro com o Rei do Baião Luiz Gonzaga e a Rainha do Xaxado Marinês... 

A fotografia é de 1968 do Programa a família Trapo da extinta TV Tupi de São Paulo!!!

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LIVRO “PARAHYBA NOS TEMPOS DO CANGAÇO”

Por Antonio Corrêa Sobrinho

O que dizer de “PARAHYBA NOS TEMPOS DO CANGAÇO”, livro do amigo Ruberval de Souza Silva, obra recém-lançada, que acabo de ler, senão que é trabalho respeitável, pois fruto de muito esforço, dedicação; que é texto bom, valoroso, lavra de professor, um dizer eminentemente didático da história do banditismo cangaceiro na sua querida Paraíba. É livro de linguagem simples, sucinto e objetivo, acessível a todos; bem intitulado, pontuado, bem apresentado. E que capa bonita, rica, onde nela vejo outro amigo, o Rubens Antonio, mestre baiano, dos primeiros a colorizar fotos do cangaço! A leitura de “PARAHYBA NOS TEMPOS DO CANGAÇO” me fez entender de outra forma o que eu antes imaginava: o cangaço na terra tabajara como apenas de passagem. Parabéns e sucesso, Ruberval!

Adendo: José Mendes Pereira

Eu também recomendo aos leitores do nosso blog para lerem esta excelente obra, e veja se alguns dos leitores  possam ser parentes de alguns cangaceiros registrados no livro do Ruberval Souza.

ADENDO -  http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Entre em contato com o professor Pereira através deste 
e-mail: 
franpelima@bol.com.br

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LAMPIÃO, O PADRE E O 'DOUTOR'

Por Sálvio Siqueira

Lampião,  estando nada satisfeito com a perda de dois de seus melhores homens, na malfadada tentativa do ataque a cidade de Mossoró – RN, Colchete e Jararaca, resolve deixar as terras norte rio-grandense por um caminho totalmente diferente daquele que o levou aquele Estado.

Várias eram as razões para tal decisão como as atrocidades por onde a horda passou, deixando um rastro de sangue, dor, lágrimas, sofrimentos e mortes...

Depois do ataque feito a Sousa, cidade paraibana, pela turba de Lampião, mesmo ele não estando presente, o coronel José Pereira da cidade de Princesa, PB, ordenou aos seus jagunços, a captura ou morte do chefe Mor.

Sabedor do poderio dos homens em armas do coronel, Lampião, com sua sempre ativa precaução, resolve acessar a terra de Iracema, “A Virgem dos Lábios de Mel, em primeiro plano de fuga, para depois voltar ao seu torrão natal.

Chega com seu bando a uma fazenda na localidade Lagoa da Rocha, sendo propriedade de um conhecido seu, o Sr. Anízio Batista. Após breve relato dos últimos acontecimentos, o chefe manda que o amigo torne-se um intermediário entre ele e as autoridades da cidade de Limoeiro do Norte, CE. A autoridade maior, o Prefeito, na ocasião ocupava o cargo o coronel Felipe Santiago de Lima (lampiãoaceso.blogspot.com), estando ausente, quem entra em contato com o “Rei Vesgo’, é o senhor Custódio Menezes, o qual exerce as funções de juiz de paz da comarca, e o padre Vital Gurgel.

Lampião entra na cidade com todo o bando, depois de receber garantias das autoridades locais, na ocasião, de que não encontraria resistência da força policial presente, que aliás, tinha um diminuto contingente, sendo impossível conter, em combate, todos os bandoleiros.

A horda está faminta. É providenciado um banquete para todos, mas, antes de alimentarem-se, Lampião, muito desconfiado e precavido, manda que alguns dos cidadãos locais comam da comida antes deles.

Na fazenda Maçarico, propriedade do padre Ancelino Viana Arrais, é chegada a notícia de que Lampião encontra-se na cidade. O padre parte para onde se encontra o chefe dos cangaceiros a fim de fazer-lhe uma proposta, no mínimo, muito curiosa.

O padre é fã do Rei, e, ao estar diante dele, refere que quer entrar para o bando e fazer parte do seu grupo. Pedindo para entrar, o sacerdote diz:

" - Lampião, eu tenho coragem de acompanhar-lhes na vida do cangaço." (blog citado).

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Lampião olha para o padre, cubando-o de cima a baixo... Analisando sua proposta, responde:

" Seu vigário, homem barrigudo, não pode participar dessa vida, porque além de dura, nós se arrasta como cobra pru mode atirar nos macacos. Hômi da barriga grande não dá para isto. "(blog citado)

Como igual a maioria dos sacerdotes, o padre Ancelino era gordinho. Dono de vários quilogramas além de um peso que deixasse seu corpo ágio, para os movimentos necessários na dura vida de um cangaceiro.

Após recusar o pedido do vigário, Lampião sai a procura do médico local, para que o mesmo cuide dos ferimentos dos cabras que foram atingidos no fraquejado combate anterior.

O médico procurar cuidar dos feridos e notando, muito atento, o olhar do chefe deles. Ao término do trabalho do médico, Lampião quer pagar pelo serviço prestado, mas, o ‘doutor’ recusa-se a receber. Então o ‘Rei Vesgo’ presenteia o médico com um punhal de cabo muito especial, pois nele contém  anéis de ouro e o mesmo é feito de chifre de algum animal.

Fonte da pesquisa:  http://lampiaoaceso.blogspot.com.br

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NUMA FOLHA QUALQUER

*Rangel Alves da Costa

Diferentemente das folhas mortas do outono, que num sopro são levadas pela ventania, outras folhas existem que se perpetuam. Ou quase.
Folhas de papel, páginas de papel, escritos num papel. Ainda que não sejam para a eternidade, muito do que se rabisca ou se escreve acaba permanecendo muito além daquele que escreveu.
Velhos álbuns guardados em baús, gavetas e escurecidos empoeirados. Cadernos amarelados de tempo, livretos colados pela importância das palavras ali escritas.
Mãos frágeis e trêmulas que insistem em cuidadosamente rabiscar entre linhas. O aperto é tamanho no coração que os escritos parecem dispersos em si mesmos.
O que dizer de uma saudade, de um amor partido, de uma paixão desfeita, de um coração dilacerado? Talvez não haja palavra que traduza o verdadeiro sentimento.
Letras que de repente parecem fugir do papel ou que tomaram vida e forma sem mais atender aos desejos de quem as escreveu. Ora, parecem soltas, desconexas, nuas, espantadas, querendo gritar de dor.
Em muitos papéis os corações desenhados. As nuvens pintadas em azul e ao lado alguns pequenos dizeres de eu te amo, te amo, te amo... E mais abaixo uma lágrima derramada por algum motivo.
Tanta folha molhada que nem o tempo consegue enxugar a enxurrada de lágrimas. As águas já não estão escorrendo, mas basta observar os embaçamentos para se ter a certeza de que oceanos por ali se derramaram.
Numa folha de carta, escrita ao modo antigo, onde os cumprimentos antecedem as agonias, as saudades e as aflições, pelos cantos ainda os lábios avermelhados carimbados em batom. A nitidez dos lábios mostra a juventude daquela boca.
“Meu amor, não consigo mais viver assim tão distante de você. Não há um só minuto que o meu pensamento não esteja voando nas alturas em busca de quem tanto amo. Acordo e anoiteço com um só pensamento, e só penso em você...”.
“Minha vida, sofro demais pela sua ausência. Eu queria entrar nessa cartinha para chegar bem juntinho a você e beijar sua boca. Tenho sofrido muito desde sua partida e de tanto chorar já não sou mais a mesma. Agora sou um rio de sofrimento...”.
“Zezinho, sou eu, sua Zefinha. Você está bem, meu amor? Como você está, me diga? Eu não estou bem não. Não há como ter qualquer contentamento se você não está aqui ao meu lado, bem pertinho de mim...”.
Muitas vezes, são em folhas assim, de cartas antigas, que se percebem as feições do amor do passado, o seu jeito próprio de se expressar e toda a singeleza de quem as escrevia. São cartas perdidas no tempo, já desgastadas na idade, mas que dizem muito de um romantismo que não existe mais.
Já não existem cartinhas, já não existem carteiros chegando e gritando pelo nome da mocinha chorosa à janela. Já não existem os diários de amor nem as cartas apaixonadas. Os velhos álbuns restam esquecidos pelos cantos mofados.
Somente pelos acasos, tais folhas perdidas chegam aos olhares de agora. E nelas poemas tão bonitos que se imagina copiados de um grande poeta. Mas não, apenas reflexos de um sentimentalismo que valoriza a essência da alma, do amor, da verdade do coração.
Lá fora as folhas de outono voam sem direção. Acaso as janelas estivessem abertas, talvez algum pássaro antigo levantasse voo e de suas asas deixasse cair cartas, poemas, escritos antigos.
Talvez um coração amorosamente sofrido e flechado caísse ao chão. E por cima uma lágrima desenhada em azul.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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A NUDEZ DO NELSON

Escreveu: Francisco Alves Cardoso – 13/11/2015

O famoso Nelson Rodrigues, ao escrever a peça teatral intitulada “Toda nudez será castigada” (1965), deixou claro que a sua intenção era falar da nudez de um modo geral, do homem, da mulher, das religiões, da ciência e dos movimentos pecaminosos em todas as regiões, raças e povos.
         
Inicialmente, a nudez tão lembrada era a do homem e da mulher, talvez como castigados únicos naqueles tempos.
         
Hoje eu sinto que esse tema tinha um sentido bem maior, porque o pecado recaia em categorias várias, pois não era apenas a nudez de roupa, mas mostrar a obra, a vivência, o histórico, a linguagem, o amor desrespeitosamente ao público em qualquer momento à vida e ao trabalho.
         
A droga já é um pecado mortal, acredito, sendo usada abertamente com um desrespeito insuportável e tornando-se pecaminosa, além de criminosa.
         
Embriaguez é uma sujeira quando apresentada publicamente e cheia de pecados ao ser vivida amplamente em lugares reservados e acontecimentos sociais previamente divulgados.
         
O amor praticado em locais abertos e frequentados pelo público é desrespeitoso, e por isso deve ser rejeitado pelos dirigentes da instituição.
         
As salas de aula devem ser respeitadas em todos os momentos. Atualmente já temos conhecimento de fatos reais e desrespeitosos nesse ambiente, que deve ser tratado como sagrado e reservado somente aos estudos.
         
A prática dos esportes já é possível, na atualidade, cenas gritantes praticadas por atletas e pessoas outras, em plena área reservada à esportividade, por isso os errantes devem ser punidos na forma da lei.
         
As igrejas, quaisquer que sejam as suas tendências religiosas, já são respeitadas, por isso devem ser os pecaminhos punidos pelos templos e a lei cível, pois ao pecarem dessa maneira são integrantes da nudez pecaminosa da terra.
         
No entender do cronista, a nudez não é só o ato de andar nu. É também o desrespeito ao ambiente que tem destinação exclusiva para o qual foi construído, montado e reservado pela categoria criadora.
         
A legislação brasileira é branda até demais nessas questões, por isso os errantes usam e abusam do desrespeito publicamente.
         
Enquanto essa legislação medrosa não for tratada como lei digna e forte, eliminadora de tantos benefícios que se tornam insuportáveis aos brasileiros do bem, a nossa pátria continuará matando seus filhos, vendo a impunidade vitoriosa de noite e de dia e no pingo do meio dia.
         
A nudez é também deixar tudo descoberto, sob a égide das políticas de protecionismo que são destinadas aos desrespeitosos, enquanto os homens de bem são as verdadeiras vítimas da nudez governamental destinada exclusivamente aos preguiçosos errantes, malfeitores protegidos pelo governo, a fim de manter os colégios eleitorais para eleições e reeleições e a escandalosa minoridade penal.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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A VOLTA, NA VOLTA, DO “REI DO CANGAÇO” Parte I


Era a boca da noite do dia 13 de junho de 1927. Lampião, na estação ferroviária da cidade de Mossoró, RN, já estava sabendo de que perdera dois de seus melhores homens no confronto, além de estarem feridos “Moderno”, seu cunhado, “As de Ouro e um outro, com o abdômen aberto pelo projétil de um dos homens da resistência, se contorcia e soltava gemidos involuntários devido a enorme dor. Esse último com um ferimento gravíssimo. O cangaceiro Sabino, seu lugar “tenente” na época, reportara para o mesmo a perda e a impossibilidade de levar o plano adiante. Recebe ordens de reagrupar o bando para deixarem a cidade...

As sombras da noite os engolira de repente. Tomaram, sob as ordens do chefe maior, um itinerário diferente daquele usado quando da vinda para a cidade do sal. Todos com caras de poucos amigos, sem pilhérias nem brincadeiras de tipo algum. Naquele ocaso do dia, o silêncio estava a consumir cada um deles. O silêncio só era quebrado pelos gemidos do cangaceiro agonizante e o soar das alpercatas ‘Xô-boi’ levantando a poeira em solo potiguar.


A sua frente aparece um muro de varas e estacas, uma enorme e longa cerca, mas, não podiam parar, transpõem com rapidez e seguem em busca de um lugar para ‘lamberem suas feridas’, físicas e morais, em carne viva. Não sabem ao certo por onde estão. Despontam em uma casa solitária. Pedem à mulher que abriu a parte superior da porta água e sal, para lavarem os ferimentos. A mulher, dona Maria Liberata, que tinha um sitiozinho nos arredores da cidade, estava a morrer de medo envolto pelos cangaceiros. Seu medo era tanto que, não sabendo onde esconder sua filha, a fez entrar embaixo d’um monte de cascas de feijão que havia no recanto da parede da sala. A pilha de cascas não era tanta e ao socar-se embaixo dela, os pés da adolescente ficam de fora. Lampião percebe o medo da filha e a agonia da mãe, então tenta tranquilizar as duas, dizendo só querer água e sal, depois diz para a senhora que pode mandar sair de debaixo das cascas quem lá estivesse que suas vidas estavam garantidas.

“- Dona, a senhora pode tirar essa pessoa que está por debaixo das cascas! Ninguém quer fazer mal a ninguém aqui!” (Dantas, 2005)

Recebendo o que pedira, os cangaceiros misturam o sal na água e lavam seus ferimentos. Rapidamente, ao findar esse pequeno tratamento, Lampião ordena para que a cabroeira se levante e coloquem os pés no caminho. Por fim chegam ao local de onde partiram, o sítio “Saco”.

O chefe pernambucano portava-se igual uma fera acuada. Não parava em lugar nenhum. Ia pra um lado e retornava no mesmo instante, reclamando com tudo e com todos, porém, seu maior aborrecimento era referido ao cangaceiro Massilon Leite, pelo fato dele o ter convencido a atacar uma cidade do porte de Mossoró. Instantes depois de terem chegado, imediatamente a um pequeno ‘tomar fôlego’, ordena que seus homens montem em suas montarias para, mais do que rápido, deixarem as terras do Rio Grande do Norte.


Do ponto em que se encontravam Lampião não poderia pegar o rumo do sul, transpondo os limites dos Estados do Rio Grande do Norte e penetrar na Paraíba, terreno do seu conhecimento, pois, além dos homens do coronel Pereira, de Princesa Isabel, que não eram poucos, estarem à sua procura, no seu encalce estavam várias volantes paraibanas determinadas, valentes e perigosas. Então, só havia uma rota de fuga: seguir rumo ao Oeste, pois no poente ficava as terras do Estado cearense, terra do Padim Padre Cícero, lugar onde a Força Pública não o perseguiria.

Virgolino sabia que estavam sendo caçados vigorosamente. Começa a aplicar táticas de vai-e-vem, além de ordenar cortarem os fios do telégrafo, para dificultar a trilha percorrida e atrasar os perseguidores. Segue por um caminho e, de repente, entra no mato, transpõem lajedos, e seguem sem poderem parar um só instante. O “Rei do Cangaço” não conhecia o terreno que percorria, nunca havia estado naquele Estado, por isso levava um senhor da região, seu Formiga, desde antes ao ataque, servindo-lhe de guia. Com a andada sem paradas, o senhor formiga começa a cambalear, estar quase que totalmente sem forças para prosseguir. Lampião ‘dispensa’ os serviços desse guia e captura um senhor e seu filho para que tomassem o lugar dele. E assim prosseguem sem pararem para nada, nem para cuidarem dos feridos. Ao dispensar Formiga, Lampião manda que esse vá falar com o coronel Antônio Gurgel, um de seus reféns. O coronel escreve um bilhete solicitando que familiares e amigos arrecadem certa quantia para que fosse libertado pelos cangaceiros, caso contrário, perderia sua vida, e pede ao Sr. Formiga que fizesse chegar até seu irmão, Tibúrcio Gurgel, para que o mesmo tomasse as devidas providências.


Os novos guias levam a caterva rumo ao Ceará, seguindo os postes e fios do telégrafo. Assim percorrem léguas e léguas para ficar mais distante de Mossoró. Em determinado lugar, chamado sítio Baixa da Broca, Lampião ordena que parem e montam acampamento. Naqueles dias, os cangaceiros formavam um grande círculo fechando o perímetro. No centro, de um lado, ficavam o chefe e seus lugares tenentes, Sabino, Luiz Pedro, Moderno e etc., do outro os reféns sob a guarda de alguns cabras. Antes do alvorecer, os cangaceiros já estão bem longe daquelas paragens. Por volta das cinco da matina, cercam e invadem a fazenda chamada Jucuri, a qual tinha como proprietário o senhor Manoel Freire.


Naquelas horas da manhã, o dono estava a ordenhar as vacas junto com seu vaqueiro Teófilo Lucas. Os dois são presos. O dono é obrigado a levá-los até a casa sede. Lá chegando, obrigam-no a chamar por sua esposa para que ela abrisse a porta. Ao abrir a porta, a casa é tomada imediatamente por uma horda de cangaceiros que começam a vasculhar cada centímetro do lugar. Além dessa bagunça toda, os cangaceiros exigem que se faça café para eles. Lampião e Sabino começam a apertar Manoel Feire pelos contos de réis. Freire responde que não tem. Sabino toma de conta do dono da fazenda e assume o interrogatório, ameaça-o de tudo quanto pode. O homem é valente e não diz onde estar o dinheiro. Em vez de continuar só com a negativa, Manoel, a certa altura da coisa, faltando a paciência, diz:

“- Não tenho dinheiro para bandidos! Não tenho! Já disse!” (Dantas, 2005)

Rapaz, teria sido melhor ele não ter dito dessa maneira. Sabino, que já estava com o rebenque na mão, pequeno chicote de couro, em forma de bengala, para tocar a montaria, começou uma sessão de espancamento no pobre fazendeiro. Freire nada podia fazer a não ser levar as chibatadas e chorar de tanta dor. E quanto mais Manoel chorava, mais o cacete comia. Em certo momento, sua esposa, Dona Francisca, vendo que Sabino ia acabar matando seu esposo na chibata, resolveu interferir. Aí a coisa ficou pior. Tentar impedir que um homem como Sabino das Abóboras prosseguisse o que estivesse fazendo, era melhor nem tentar. Sabino em vez de atender a senhora, lhe solta a macaca no lombo. A mulher gritava de dor e o meliante não cansava nem parava de bater. Até que os dois, marido e mulher, ficaram estendidos no piso da casa com suas peles rasgadas pela sola do chicote. Porém, o castigo em Manoel tem recomeço. O homem quase que nada mais dizia, soltava apenas sons pela boca, e a surra não parava.


E Lampião? Ora, quem molesta iria intrometer-se naquele meio contra Sabino? Nem ele. Enquanto o pau cantava nas costas do pobre fazendeiro, Virgolino, aproveitando o aperreio das filhas, começa a saquear suas joias. Após ter pegado tudo que encontrou de valor dentro da casa e/ou com as pessoas, Lampião ordena que Sabino pare de bater no homem. Vai até ele e o condena a ser seu prisioneiro, sequestrando-o, estipula uma quantia para que fosse libertado.

“(...) Concluído o saqueio, o vesgo determinou ao subordinado a suspensão da muxinga (ação de bater; sova, surra). Segurou Freire pelo braço e sentenciou com autoridade:

- Olhe, o senhor vai com a gente! Sua liberdade vai custar dez contos de réis!

Em seguida tornou aos familiares do fazendeiro:

- Mandem alguém a Mossoró arranjar o dinheiro!

O agricultor foi conduzido de forma ridícula, em roupas de pijama (...).” (“ Lampião e o Rio Grande do Norte – A história da grande jornada” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 1ª Edição. Natal, 2005)

Em seguida o chefe ordena que montem e partam em trote acelerado. O tempo urgia ficar o mais longe possível daquela cidade potiguar. Já não estava tão o cangaceiro ferido na altura da barriga. Com o trote forçado a coisa piora e alguns ‘cabras’ que estavam ao seu lado têm que parar para ver o fazia em socorro ao companheiro. O sofrimento era tanto que o ferido suplica aos companheiros que tirem sua vida. Ninguém se habilita a tal coisa. As dores aumentam e ele retorna a suplicar que o matem. Havia, dentre os homens de Lampião, naquele instante, um com alcunha de “Marreco”. Esse vai até ele e diz que fará seu pedido. 


Arrastam o ferido para dentro do mato, levam-no até a sombra de uma grande árvore e lá, no meio do nada, “Marreco” o mata com um tiro.

“(...) Afastaram o bandoleiro para lugar recatado, debaixo de velha quixabeira. Tiro seco e rápido tirou-lhe o resto de vida sacrílega.

Expiação finda, o corpo foi enterrado em cova rasa, à beira do caminho. Cruz tosca marcou o local(...).” (Ob. Ct.)

PS// “A tradição oral fixou que o cangaceiro enterrado nesse ponto da estrada foi o célebre Menino de Ouro. Tal não é verdade. O bandido em questão se quer saiu ferido do embate em Mossoró. Raimundo Lucena, em seu livro “Memórias”, refere-se à presença do bandoleiro-mirim na cidade de Limoeiro do Norte, no dia 15/06/27. Não morrera, pois. Teve, sim, longa sobrevida. Foi encontrado na década de noventa pelo pesquisador Hilário Lucetti. Menino de Ouro, o Alagoano ou Oliveira, morrera somente em 23 de novembro de 1999, com vetusta idade de oitenta e sete anos. O homem sepultado nesse ponto do caminho – o que foi revelado pós a exumação – não era tão jovem. Provavelmente o corpo era do bandido “Dois de Ouro”. O resto é tradição verbal. Pura lenda.” (DANTAS, 2005).

A caterva prossegue rumo às terras cearenses. Antes da linha limítrofe, ainda em território potiguar, tinha uma fazenda chamada Veneza que tinha como administrador o senhor Childerico Fernandes.


Por ter uma vasta área desmatada em sua volta, a visão de quem se encontrava na casa pegava todo o derredor. Por isso, a esposa do administrador, dona Felisbela, ao escutar um tropel de cascos no solo duro, ergue-se e avista o bando de cangaceiros aproximando-se. Vai até onde se encontrava o marido e lhe diz o que estava vindo em direção a eles. A tempestade que vinha chegando.

Sendo comerciante, Childerico havia comprado um rebanho de reses a prazo, ou feito um empréstimo e comprado o gado, mais provável. De posse das reses, começa a engordá-las e vai vendendo e juntando a quantia para fazer o pagamento. Tanto a esposa como o marido, tremem nas bases, principalmente por saberem ter em casa a quantia de dez contos de réis, os quais seria para saldar a dívida. Avexam-se a procura de um local para esconderem a ‘botija’.

Lampião parecia já estar refeito da derrota em Mossoró, pois seu cérebro já tramava a mil. Antes da aproximação da casa sede da fazenda Veneza, ele divide o bando, fica com alguns cangaceiros e os reféns. Envia Sabino com trinta cangaceiros à casa da fazenda. Sem a preocupação dos reféns nem a marcha lenta dos guias como empecilho, a tropa liderada por Sabino esporeiam suas montarias e chegam muito rápido a casa e, imediatamente, a cercam, invadem e tomam conta de todo e qualquer recanto que havia nela. Na sala, estando Childerico, Sabino começa a fazer-lhe várias perguntas: onde estão, a qual Estado pertencem aquelas terras e por aí foi... O administrador ia respondendo a cada pergunta de acordo com a situação. 

Dona Felisbela, de posse da grana junta, tinha tentado sair pela porta da cozinha para ir escondê-la, mas, não deu tempo. O cangaceiro apelidado de “Coqueiro” invade a casa por essa saída e impede que ela saia. Percebendo o nervosismo da senhora, o cangaceiro começa a procurar e acha tudo. Ela, sem ter outra opção, dispara pra sala onde estão seu marido, Sabino e vários cangaceiros, dizendo o que tinha acontecido. Pelo que a senhora falou, Sabino, cangaceiro experiente, já sabia de quem tratava-se e dana o grito pra cima querendo a presença de Coqueiro imediatamente. De imediato o chefe ordena que lhe passe a grana. Ao receber, nota a quantia e seus grandes olhos quase que saltam da face. Sem acreditar direito, O cabra das Abóboras afasta-se dos demais e começa a contar o volume de notas uma por uma. Fica meio que boquiaberto. Nunca pensara em encontrar naquela simples casa tanto dinheiro junto. A razão da soma, um tanto grande para a época, era simplesmente o acúmulo para pagar o que havia comprado, as reses, ou seja, aquele dinheiro não era de Childerico.


O restante do bando, ao ver a quantia de notas nas mãos de Sabino imediatamente começa a fazer uma varredura no local. Não deixando um, dos poucos móveis que tinha inteiro. O administrador, cheio de pena, lamentos e raiva por estar perdendo tudo quanto havia conseguido na vida, protestou com o chefe, Sabino das Abóboras, que lhe responde para que ele vá reclamar com o coronel José Pereira, chefe político da cidade de Princesa Isabel, PB, o qual havia lhe ensinado o que acabara de fazer. Essa ligação entre José Pereira, Sabino Gomes de Gois, também conhecido como “Sabino das Abóboras” e o coronel Marçal Florentino Diniz, esse pai de Sabino com uma de suas empregadas, contaremos em outra oportunidade. Pois bem, não contente, mesmo tendo encontrado a enorme soma, Sabino começa uma sessão de torturas no corpo de Childerico. Dessa vez, ele alterna os objetos que produziam as dores: usava o chicote e depois o punhal, voltava a usar o chicote e em seguida, novamente a ponta fina e dura da lâmina de aço. Assim o tempo passa, para Childerico, cada minuto parecia um tempo enorme... uma eternidade.

O misticismo, catolicismo e messianismo foram, são e será, sempre, uma válvula de escape sobre, arrancando daí uma fé às vezes doentia, o sofrimento de parte da população mundial, e entre esses estão os sertanejos. Em determinado momento, não aguentando ver o esposo estar sofrendo tanto, sua esposa corre até o oratório, nicho ou armário com imagens religiosas; capela doméstica, que surgiu desde a Idade Média no território europeu, como devoção popular e ordem religiosa tendo sido inserido em nosso convívio, certamente, pelos europeus migrantes, pega uma imagem e a coloca na frente do rosto do cangaceiro. Tanto dona Felisbela, quanto o cangaceiro Sabino possuíam, não explicar como, a mesma fé interior. Ao deparar-se com tal imagem, o cangaceiro perverso larga do chicote, guarda o punhal na bainha e deixa Childerico de lado.

“(...) A essa altura, Dona Bebela (Felisbela), em (prantos), correu ao oratório. Tomou nas mãos imagem de Nossa senhora e a colocou rente aos olhos do cangaceiro:

- Poupe nossas vidas! Já lhe demos todo dinheiro e nossos bens! Você não acredita em Deus; em Nossa senhora?

- Ora, deixe de choradeira! Já vem você com essa tapeação? Contrapôs Sabino, com sorriso amarelo.

A estratégia de alguma forma surtiu efeito. O cangaceiro – ignorante, fanático religioso por índole e cultura – temia as coisas do céu. Respeitava os Santos e reverenciava imagens. Teve, decerto, medo de sortilégio que podia advir de atitude tida por “herege”.

Sem mais discussão, largou Childerico (...).” (Ob. Ct.).

Lampião, estava acampado perto dali, havia combinado com Sabino que, tudo dando certo na fazenda, ele enviasse um emissário com a senha “acabado o serviço”. Essa frase, para o chefe pernambucano, significava que ele poderia aproximar-se com segurança. Virgolino percorre a pequena distância entre seu acampamento e a casa, desmonta no terreiro da sala e entra na casa. A partir do momento da sua aproximação, chegada, desmonta e caminhada até onde estava o casal, não escutou som de voz alguma. Naquele momento, apenas sua presença fazia todos calarem-se. Um dos cangaceiros chega bem perto do sofrido administrado, agachasse e lhe pergunta se sabe quem seria aquele que estava em sua frente. Não entendendo o que o prisioneiro respondeu, pois até para falar doí-lhe tudo, o cabra insiste na pergunta. Depois termina lhe dizendo de quem se tratava, de Lampião.

O cangaceiro mor se aproxima mais ainda do prisioneiro, se abaixa e começa a fazer-lhe várias perguntas. Dentre essas, perguntou se seria parente do prefeito de Mossoró, coronel Rodolfo Fernandes. Acreditamos que nesse momento tanto Childerico Fernandes como sua esposa, dona Felisbela, começaram a rezar, encomendando suas almas a Deus, pois ele era parente do Intendente.

Na historiografia do “Rei do Cangaço”, vemos fatos, ações e atitudes com tamanha distinção entre eles, que não sabemos do porquê, agir daquela forma. Em vez de sacar a pistola e atirar na cabeça de Childerico ou puxar seu grande punhal da bainha e sangrá-lo, Lampião começa por pedir que armassem redes para que ele, Sabino e o coronel Gurgel se deitassem. Depois começa a conversar, sem ameaças ou violência com o prisioneiro. Pede-lhe azeite para lubrificar as armas... Tanto fica dono da situação que o preso lhe oferece refeição de carne de gado. Meticuloso, Lampião diz querer comer galinha, as quais estavam no terreiro e todas foram mortas, a tiros, pelos cangaceiros. A comida é feita e todos se empanturram de galinha cozinhada. Conversa vem, conversa vai, de súbito, Lampião ergue-se e ordena que a cabroeira monte que iam partir imediatamente. A coisa seria cômica, se não fosse tão trágica, pois, ao despedirem-se do casal prisioneiro, vão apertar-lhes as mãos e desejam-lhe felicidades. Incrível essa maneira de mudar suas ações. Em repentino momento, muda da água para o vinho. Todos montados, apertam as pernas e aos sentirem as pontas pontiagudas das rosetas das esporas, os animais começam a caminhar para a terra dominada por Padre Cícero.

“(...) Os homens equiparam-se, apressados. Dirigiram palavras amáveis a Childerico e esposa. Apertaram-lhes as mãos. Ensaiaram, brevemente, atos de civilidade.

- Vamos embora! – insistia o líder supremo, algo nervoso.

A malta partia, satisfeita com refeição e sesta.

Em menos de hora cruzaram a fronteira cearense. Lampião alertou os carbonários. Deixou claro que a partir dali o comportamento deveria ser outro. Estavam nos domínios do Padre Cícero Romão. Repetia e advertência:

- Aqui já é Ceará! Pra diante ninguém rouba mais, pois o Governo daqui não bole com a gente! (LUCETTI e LUCENA, 1995,p. 210)(...).” (Ob. Ct.)...

Continua...

Fonte “Lampião e o Rio Grande do Norte – A história da grande jornada” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 1ª edição. Natal, 2005
Foto Ob. Ct.
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VIRGOLINO

Por A Tarde, Rio de Janeiro, 27 jan. 1938

Há dias surgiu por aí um telegrama a anunciar que o meu vizinho Virgulino Ferreira Lampião tinha encerrado a sua carreira, gasto pela tuberculose, deitado numa cama, no interior de Sergipe. Mas a notícia não se confirmou — e a polícia do Nordeste continuará a perseguir o bandido, provavelmente o agarrará de surpresa e mostrará nos jornais a cabeça dele separada do corpo. Seria de fato bem triste que a punição dum indivíduo tão nocivo fosse realizada por uma doença. Ficam, pois, sem efeito os ligeiros comentários inoportunos e apressados, que ilustraram o canard.

Não é a primeira vez que Lampião tem morrido. E sempre que isto se dá as notas com que se estira o acontecimento deturpam a figura do bruto e manifestam a ingênua certeza de que tudo vai melhorar no sertão. O zarolho se romantiza, enfeita-se com algumas qualidades que se atribuíam aos cangaceiros antigos, torna-se generoso, desmancha injustiças, castiga ou recompensa, enfim aparece inteiramente modificado.

Esperamos e desejamos longos anos essa morte — e ao termos conhecimento dela soltamos um suspiro de alívio a que se junta uma espécie de gratidão. Teria sido melhor, sem dúvida, que o malfeitor houvesse acabado nas unhas da polícia. Não acabou assim, desgraçadamente, mas de qualquer forma o Nordeste se livrou dum pesadelo.

Repousamos algum tempo nesse engano, até que Lampião ressurge e prossegue nas suas façanhas. Inútil agredi-lo ou emprestar-lhe virtudes que ele não entende, ajudá-lo, fazê-lo combater os grandes, proteger os pequenos, casar donzelas comprometidas. Lampião não se corrigirá por isso: permanecerá mau de todo, insensível às balas, ao clamor público e aos elogios, uma das raras coisas completas que existem neste país.

Tudo aqui é meio-termo, pouco mais ou menos, somos uma gente de transigências, avanços e recuos. Hoje aqui, amanhã ali — depois de amanhã nem sabemos onde haveremos de ficar, como haveremos de estar. Abastardamo-nos tanto que já nem compreendemos esse patife de caráter e inadvertidamente lhe penduramos na alma sentimentos cavalheirescos que foram utilizados como atributos de outros malfeitores.

Deixemos isso, apresentemos o bandoleiro nordestino como é realmente, uma besta-fera. Há pouco mais de um ano, em condições bem desagradáveis, travei conhecimento com um discípulo dele, um sujeito imensamente forte, alourado, vermelhaço, de olho mau. Esse personagem me declarou que todas as vezes que praticava um homicídio abria a carótida da vítima e bebia um pouco de sangue. Anda por aí espalhada a longa série das barbaridades cometidas pelo terrível salteador, mas essa confissão voluntária dum companheiro dele surpreendeu-me.

Isso prejudica bastante o velho culto do herói, do homem que lisonjeamos para que ele não nos faça mal.

Lampião se conservará ruim. E não morrerá tão cedo. A vida no Nordeste se tornou demasiado áspera, em vão esperaremos o desaparecimento das monstruosidades resumidas nele.

Finaram-se os patriarcas sertanejos que vestiam algodão e couro cru, moravam em casas negras sem reboco, tinham necessidades reduzidas e soletravam mal. No pátio da fazenda uns cangaceiros bonachões preguiçavam. E nos arredores grupos esquivos rondavam, escondendo-se dos volantes. De longe em longe um emissário chegava à propriedade e recebia do senhor uma contribuição módica.

Tudo agora mudou. O sertão povoou-se e continua pobre, o trabalho é precário e rudimentar, as secas fazem estragos imensos. Os bandos de criminosos, que no princípio do século se compunham de oito ou dez pessoas, cresceram e multiplicaram-se, já alguns chegaram a ter duzentos homens. A luta se agravou, as relações entre fazendeiros e bandidos não poderiam ser hoje fáceis e amáveis como eram.

Jesuíno Brilhante é uma figura lendária e remota, o próprio Antônio Silvino envelheceu muito.

Resta-nos Lampião, que viverá longos anos e provavelmente vai ficar pior. De quando em quando noticia-se a morte dele com espalhafato. Como se se noticiasse a morte da seca e da miséria. Ingenuidade.

A Tarde, Rio de Janeiro, 27 jan. 1938

IN: RAMOS, Graciliano. Viventes das Alagoas. Rio de Janeiro: Record, 2007, p.151-154.

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120 ANOS DE CANUDOS EM SÃO PAULO


Neste sábado, 11 de novembro de 2017, ocorreu em São Paulo a celebração dos 120 anos da guerra de Canudos, no salão do Bloco Caprichosos do Piquerí.

Trata-se do 16° Encontro da UPIC – União pelos Ideais de Canudos, que congrega Canudenses e seus amigos moradores de São Paulo. Mais de mil pessoas se reuniram, inicialmente para ouvir o Prof. Luiz Paulo Neiva, que ao abrir o evento, fez uma síntese da importância de preservar a memória e a historia de Canudos, notadamente neste momento em que o Brasil atravessa uma grande crise institucional, política e econômica. “O exemplo de Canudos está vivo nos dias atuais”. 
O Prof. Luiz Paulo aproveitou para lançar em São Paulo a campanha para nominar a estação do metrô do aeroporto de Salvador- Antônio Conselheiro, símbolo da resistência e luta por uma sociedade fraterna e sem explorações. Os presentes se comprometeram a enviar correspondência ao Governador Rui Costa para sancionar o Projeto da Comissão dos 120 Anos, encampada pelos Deputados Rosemberg e Fátima Nunes.

Sob a batuta dos coordenadores da UPIC João Evangelista Régis e José Aloncio e Fátima Paschoali o evento deu continuidade com a participação do Sr. Eddy Montes, notável filho do Conselheirista Melchíades. Marcante, também, foi o lançamento de dois importantes livros (Canudos “uma vila florescente e rica” e Conselheiro, Canudos e outro temas); em noite de autógrafo, o escritor José Gonçalves do Nascimento se pronunciou com elevado grau de emoção e pertencimento.

A noite foi de festa animadíssima pelas bandas: A Favorita do Brasil – Zezinho da Ema, Edcarlos Souza, Ivan Sá, Rogério Kaxorrão Fenomenal e Renan Rhiel.

Entre outros municípios registraram presença Canudos, Monte Santo, Quijingue, Uauá e Euclides da Cunha, Aurelino Leal, Tucano, Macurure, Paulo Afonso, Antas, Cícero Dantas, Abaíra, Jeremoabo e Pombal.

ASCOM/UNEB CANUDOS

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