Seguidores

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

SENTIMOS VERGONHA

Por: Francisco de Paula Melo Aguiar

  
Quem responde antes de ouvir mostra que é tolo e passa vergonha
Provérbios, 18:15


O povo de Santa Rita precisa ser ouvido pelos governos: federal, estadual e municipal, com urgência, porque quem responde antes de ouvir o povo, passa por vergonha e é considerado tolo. O nosso povo está passando por necessidades prementes em educação, saúde, infra-estrutura, medicamentos, limpeza pública, esgotamento sanitário, segurança pública, transportes públicos, etc., falta tudo, os governos: federal, estadual e municipal, só tem coragem de virem aqui em épocas de eleições pedirem votos para se elegeram e nada mais. O transporte público de Santa Rita é uma concessão do Governo Municipal, o transporte público de Santa Rita para João Pessoa (intermunicipal) é uma concessão do Governo Estadual. Tudo por aqui é concessão sem fiscalização de qualquer espécie, sem falar de que os empresários que sucedem os governos municipal e estadual, estão falidos em suas gestões empresariais e não tem capital de giro para investirem em sua frota, sucateada por vários motivos, dentre os quais, a existência dos chamados transportes alternativos (aqui os governos deixam a informalidade correr as soltas...) e pelo sucateamento das frotas, sem levar em consideração o péssimo estado de conservação das vias públicas que constituem o chamado anel viário dentro e fora da cidade. O transporte público aqui oferecido é de péssima qualidade, não tem controle de qualidade de qualquer espécie. É o povo fica vendo estrelas, enterrando seus mortos em acidentes provocados por transportes clandestinos e até mesmo por empresas sucateadas e portadoras de concessões dos governos: municipal e estadual, onde a desqualificação da prestação de serviços custa o sangue e a vida de nossos operários e operárias em direção aos seus empregos. O povo chora e as famílias enterram seus mortos. Isso é uma vergonha.

Assim sendo, para aliviar a dor do povo, porque a dor das famílias envolvidas jamais passará, transcrevo o poema “Sinto vergonha de mim”, escrito há mais de cem anos pelo primeiro Vice Presidente da República Federativa do Brasil, o escritor Rui Barbosa, tendo em vista que é de uma impressionante atualidade e auto-aplicável ao momento atual sofrido pela sociedade brasileira, pela sociedade paraibana e de modo especial pela sociedade de Santa Rita, dentro de sua angustia de ter que enterrar seus mortos e cuidar de seus feridos por falta de cuidado de seus governos em todas esferas do poder político, pois, o transporte ferroviário oferecido a classe operária de Santa Rita a Cabedelo pela companhia concessionária do governo central também não oferece um serviço de qualidade. Os governos e seus políticos procuram tirar vantagem em tudo, principalmente quando acontece um desastre de tamanha dimensão como o que ocorreu ontem envolvendo um ônibus de uma concessionária local. O povo não é besta para acreditar que tudo isso seria evitado se Santa Rita tivesse um deputado federal, um deputado estadual, um senador, etc, porque Santa Rita, já teve tudo isso em outros tempos e a desgraça continuou sendo o mesmo. Santa Rita através de seu povo faz parte dos governos: federal, estadual e municipal. Todos os cargos públicos de Presidente da República a vereador em Santa Rita, de modo particular, votaram nos atuais ocupantes de tais cargos. Cadê as soluções dos velhos problemas de nossa gente. O nosso povo precisa ser visto e respeitado por todos em todos os sentidos. Não basta chorar no momento da tragédia, precisamos de soluções para nossos problemas.

Segue a transcrição do poema de Rui Barbosa, sem mudar ou tirar uma vírgula, ele está atualizado, como se tivesse sido escrito hoje:

“Sinto Vergonha de Mim

Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade"
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos, a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre "contestar",
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar  meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!

De tanto ver triunfar as  nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto".

As famílias envolvidas na tragédia do acidente rodoviário da manhã do dia 28 de setembro de 2013, onde operários (as) perderam suas vidas e outros ficaram feridos(as) e com perigo de ficarem mutilados(as) e com perigos de irem a óbitos nas imediações das três lagoas na Capital da Paraíba, o nosso respeito e solidariedade humana, porque para um bom entendedor, uma palavra já basta... necessitamos de respeito e atenção por parte dos governos: federal, estadual e municipal com urgência, antes que seja tarde demais e outras vítimas venham com seu sangue pagar por tal esquecimento...

REFERÊNCIA

Análise do acidente com ônibus da Santa Rita:
Página acessada em: 29/09/201

Enviado pelo o autor Francisco de Paula Melo Aguiar

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

De Virgulino a Lampião - samamultimidia - Parte Final

 

Em seguida segurando o rifle e o punhal em cada mão e levantando os braços para cima, a cabeça erguida, fitando os longes do sertão na linha de todos os seus quadrantes, exclamou cadenciado e bem alto:

-“De hoje em diante o luto é o rifle e o punhal! Vingar até morrer!”

Desceu os braços e apontando insinuante para Antônio e Livino:

- “Ainda é tempo para uma escolha. Quem não tiver natureza para isso que siga com João, as manas e as crianças”.

Antônio e Livino responderam que estavam no mesmo propósito de vingar até morrer. Por coincidência, o sol, como que atemorizado, se agachou e se escondeu, se incrisou naquele momento, deixando imensa mancha vermelha de agouro nos céus do sertão...

Profeticamente, o padre Epifânio Moura, vigário de Água Branca, ao saber do triste acontecido, exclamou: “Esse crime vai trazer muita desgraça para o sertão.” E de fato, tão revoltante crime lançou Virgulino e seus irmãos no cangaço. Criou Lampião!

Tem muito de parecente essa dramática decisão de Virgulino com os gestos espetaculares dos grandes conquistadores da História. Desde quando Virgulino se decidia a alguma coisa, levava ele sua execução ao máximo na distinção, excelência e perfeição!

Criança, tirava enxu cru, montava carneiro dador, liderava as brincadeiras; jovem, desbravejava marruá e poldro bravio, pagava boi no escuro, confeccionava, pra não se botar reparo, artefatos de couro; agora, como cangaceiro, iria continuar fazendo o mesmo. Seria até Rei!

Sim, “triste vida” essa uma que abraçava, sem tranqüilidade, cheia de perigos à base de lutas, vinganças e ódios... Mesmo assim, seria eminente! Mesmo assim, jogado fora da “lei”, que não a quiseram fosse para ele, seria Rei! Não eram chegados os tempos das profecias?  Sim, o sertão e o mundo haveriam de fazer pausa de vírgula –Virgulino - de parar de assombro diante do Rei do Cangaço!

De vez que os três irmãos mais velhos se bandaiaram para o cangaço, caberia a João a responsabilidade das irmãs e do irmão caçula. Ordenou-lhe Virgulino se retirassem em viagem logo de manhãzinha, porque – “mais cedo do que se pensa – afirmou – essa terra onde se derramou o sangue inocente, vai começar a ser ensopada com o sangue dos assassinos...”

Pungente, ao quebrar da barra, a despedida. A família ali se dividia. Os irmãos choravam de dor e amargura pela morte recente dos pais, de saudade pelos irmãozinhos cujo destino dali por diante seria incerto, e de apreensão pela sorte ignorada dos três no cangaço abraçados. Beijaram-se, abraçaram-se, longa e afetuosamente entre lágrimas e partiram separados, dando-se adeus, tomando rumos diversos...    

Virgulino e seus irmãos Antônio e Livino dirigiram-se ocultamente ao cemitério de Mata Grande. Enquanto um cabra, disfarçadamente, montava sentinela no portão do cemitério, os três irmãos entraram e, de joelhos diante da sepultura do pai, rezaram debulhados em lágrimas. Levantaram-se, conservando o olhar fixo na cova. É quando, ladeado por seus irmãos, estufado de consciente altivez, o pensamento buscando nos espaços do futuro uma nova cosmovisão de vida, fortemente bateu Virgulino o punho fechado no próprio peito e exclamou:

-    “Eu sou Lampião!...”

Nesse momento se acendera um novo luzeiro iluminando todo o sertão do Nordeste!

A folhinha marcava 5 de julho de 1920, terça-feira. Data significativa anunciando a realização da profecia do nascimento de Lampião por Antônio Conselheiro. E a abertura de uma nova era na história dos sertões: a Era de Lampião!

Contava ele apenas vinte anos de idade.

Virgulino nascera e fora educado para o trabalho, o bem, o amor, a poesia...

Pegara em armas, não se definindo para o cangaço, mas para substituir, com os recursos da vingança, as recusas de uma justiça falha... Perseguições irreversíveis e injustiças gritantes o despojaram de tudo. O sertão – o seu mundo – tinha se perdido para ele!... Iria, então, reconquistá-lo a ferro e fogo: durante cerca de vinte anos estenderia seu Império... Os militares se assombrariam com suas táticas de insuperável guerrilheiro; os coronéis se encolheriam nos pactos e conveniências, submissos a seu poder; os inimigos desarvorados criariam aquele tipo de valentia do desespero e do medo. Os cabras reconheceriam o seu valor de chefe, líder e guia supremo. Os pobres e necessitados seriam compreendidos, estimados e favorecidos. A justiça se exerceria com eqüidade. E o mundo inteiro ficaria abismado diante de suas legendárias gestas cangaceirescas!...

Anos mais tarde, Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, celebraria em famosa endecha, poesia épica, de sua lavra, do que fora essa sua grande decisão:

“Por minha infelicidade
entrei nessa triste vida
Não gosto nem de contar
a minha história sentida
A desgraça enche o meu rosto
Em minha alma entra o desgosto
Meu peito é uma ferida.

Aí peguei nas armas
Para a vida defender 
Perseguido, aperriado,
Vi que era feio correr,
Vi a desgraça no meu rosto
Então senti-me disposto 
Matar para não morrer.

Hoje sei que sou bandido
Como todo mundo diz
Porém já fui venturoso
Passei meu tempo feliz
Quando no colo materno 
Gozei o carinho terno 
De quem tanto bem eu quis.” 

Notas
 
1. O almocreve trabalha na condução de tropas de burros e jumentos que transportam mercadorias de uma localidade a outra, por mando e paga dos comerciantes das cidades vizinhas e donos de fazendas. São muito freqüentes em Minas, Bahia, Maranhão, Goiás, Piauí e Mato Grosso, onde as tropas costumam percorrer, não raro e regularmente, distâncias de trezentos quilômetros. O almocreve é um trabalhador especializado no terreno das atividades da vida rural. Conhece e percorre a pé todos os caminhos e “atalhos”; conhece a primitiva veterinária para a cura de bicheiras, dos sestros, dos estrepes e das “picaduras” que a “cangalha” e seus adornos provocam nas longas caminhadas. Ademais, “advinha” chuvas, presença de onça e é um rastreador tão eficiente como o vaqueiro. O seu aprendizado é longo, pois, em geral, o almocreve se inicia muito cedo, a partir de nove ou dez anos de idade. É nessa fase que o menino aprende a fazer cordas, peias, arrochos, nós, cabrestos e a jogar laços.
     
Vida difícil e miserável a do almocreve. Os salários que recebe são ínfimos e nada representam diante do sacrificado trabalho que realiza e da responsabilidade que assume na condução de uma tropa de dez ou vinte burros, carregada de mercadorias “preciosas”. É o responsável pelos burros, pelas mercadorias e pelo prazo de entrega. E tudo isso para ganhar uma miséria. Essa miséria que lhe acompanha a vida toda não lhe permite as mais modestas condições de sobrevivência humanas: atravessa a sua existência descalço e reduzido a uma calça e camisa de pano rústico. Quando repousa, o relento é o seu leito: o fogo ou o “borralho” lhe protege do frio e das cobras. Passa sede e fome com freqüência e quando pode, quase sempre se alimenta da “paçoca” ou farofa com carne seca, o que lhe definha a saúde e o expõe às avitaminoses e a inúmeras enfermidades.
2. “A Paz é Fruto da Justiça” (Pio XII).

Houvesse “justiça” e não haveria Lampião...

Das instituições humanas é a mais falha, quando deveria ser a mais perfeita, porque básica e fatal.

“A lei a gente espicha como quer!” – dizia um certo juiz de direito.

A justiça – sempre com letra minúscula porque maiúscula só a Divina – é jogo de esgrima: vence o advogado mais atilado. Para libertar criminoso, a que chamam de “constituinte”, não tem escrúpulo o causídico de empregar a mentira. Isto porque a falta de consciência não lhe traz remorsos.

A corrupção e a subserviência de determinados “íntegros”, escudados na intocabilidade, transformam o título das peças e processados jurídicos em farsa.

Se não se justifica a atitude de Lampião em fazer justiça com as próprias mãos, a carência de justiça, entretanto, a explica. 
 
3. Do cancioneiro religioso nordestino. 
4. É a “música de couro” popular e folclórica do sertão. Entra em todas as festas sertanejas, aliás, quase todas religiosas. Festa sem zabumba não presta. O conjunto original é formado de dois pifeiros (tocadores de pifes ou pífanos, espécie de flauta de taquara ou bambu), bombo e caixa, tudo em construção rústica e no local. Em certos conjuntos acrescentam-se harmônico (fole, sanfona ou  modernamente  acordeão), rebeca, triângulo.

5. Quadrilha, popular contradança de salão, típica da época de São João e São Pedro. Os vários pares se defrontam uns com os outros. O “marcador” tira as marcas da coreografia, num “francês” característico. 

6. Falar de Saturnino
 
A profecia: “Dentro de 50 anos, haverá de surgir, no sertão, um homem que, apesar de religioso, será cangaceiro e dará muito trabalho aos governos!...” Antônio Conselheiro.
7. Esta profecia realizou-se literalmente – quanto ao tempo, quanto à pessoa e quanto aos fatos – em Virgulino Ferreira da Silva – Lampião – o guerrilheiro místico.


http://www.samamultimidia.com.br/artigo-detalhes.php?id=2382
http://blogdomendesemendes.blogspot.com