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sábado, 21 de janeiro de 2012

1960-A ENTREVISTA DE GLAUBER ROCHA COM ZÉ RUFINO, O MATADOR DE CORISCO

Por: Rostand Medeiros

Aos amigos e amigas que valorizam a pesquisa sobre o cangaço,

Apresento-lhes um artigo nosso, onde mostramos a interessante entrevista do cineasta Glauber Rocha, realizada em Jeremoabo, no ano de 1960, com o famoso policial José Osório de Farias, o Zé Rufino, matador do cangaceiro Corisco.

Nesta época Glauber tinha 21 anos e a partir deste contato foi formando a ideia do personagem Antônio das Mortes, magistralmente interpretado pelo ator Maurício do Valle, no antológico filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, realizado em 1964.

Um abraço a todos,
Atenciosamente,

Origem do Melhor Retrato de Virgulino Ferreira da Silva "Lampião"

Por: Guilherme Machado
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A foto foi feita em Juazeiro do Norte em 1926, por dois fotógrafos, um do Crato e o outro de Barbalha, Região do Cariri Cearense.


Este retrato acima de Virgulino Ferreira da Silva "Lampião" é o mais belo dos belos retratos do rei do cangaço...  Lampião foi ao Juazeiro do Norte enganado, segundo o Padre Cicero, por interesses de alguns. 


Foi lhe entregue uma carta onde aparecia o nome de Cicero Romão Batista, escrita a ele e entregue, pelo tenente Chagas, da Força Batalhão Patriótico, forças criada pelo médico Baiano Floro Bartolomeu... Situação embaraçada para o meu Padim Padre Ciço. O santo homem teve que se desdobrar para que nada acontecesse com Lampião e sua cabroeira...O padre lhe perguntou:  "o que tu veio fazer aqui, Virgulino?" Lampião respondeu-lhe: "Atender ao seu chamado, Meu Padim. - disse-lhe mostrando a tal carta". 

O pobre padre ficou sem ação, e pensou: "Diacho ele veio em meu nome. Alguém o enganou... não posso deixar que nada o aconteça..."

Lampião passou dois dias em Juazeiro e virou até celebridade, sendo visitado por quase os 4 mil habitantes de Juazeiro. Foi entrevistado pelo jornalista, Otacílio Macedo, que com ele trouxe dois fotógrafos: Lauro Cabral,  da Cidade de Barbalha e Pedro Maia, da Cidade do Crato, Foram os autores do melhor retrato de Lampião. A foto foi tirada no dia 7 de Março de 1926, em Juazeiro do Norte Ceará.

Extraído do blog: 
Portal do Cangaço de Serrinha -BA.
Do amigo Guilherme Machado

A ENTREVISTA DE GLAUBER ROCHA COM ZÉ RUFINO, O MATADOR DE CORISCO

Por: Rostand Medeiros

NO ROTEIRO DO CANGAÇO

O cangaceiro Corisco

Como um grande apreciador da sétima arte e um curioso sobre a história do cangaço, seria inevitável que um dia eu viesse a assistir as obras cinematográficas de Glauber Rocha, onde este baiano utilizou o cangaço como parte de suas temáticas.

Obras como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e o “Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, se não foram os primeiros filmes a mostrar este fenômeno de banditismo, certamente foram películas marcantes, principalmente fora do Brasil.

Jornal “Diário de Notícias”, edição de 21 de fevereiro de 1960


Eu sempre me perguntei de onde veio a inspiração para Glauber Rocha ter criado estas obras. Perguntava-me que tipo de envolvimento ele teve com livros clássicos sobre o assunto? Ou quantas outras películas cinematográficas sobre o cangaço marcaram a sua mente para realizar estes trabalhos?

Um tempo atrás chegou as minhas mãos a edição número 30, da “Revista da USP”, onde nas páginas 290 a 306, a professora Josette Monzani, da Universidade Federal de São Carlos, trás um interessante artigo intitulado “Glauber e a Cultura do Povo” e eu encontrei uma parte da resposta que desejava.

Glauber Jornalista?

A acadêmica aponta que para Glauber Rocha realizar as suas obras ele teria reunido um levantamento da visão popular do cangaço. O cineasta teria utilizado cordéis, recortes de jornal e cantigas para compor personagens marcantes como Corisco, interpretado por Othon Bastos e Antônio das Mortes, conduzido pelo ator Mauricio do Valle.

Glauber Rocha - Fonte - http://www.omni-bus.com


Além do material documental, a autora do artigo apontava que Glauber Rocha utilizou de “entrevistas” para criar seus trabalhos.

Mas que entrevistas eram estas?

Então descobri que em 1960, o irrequieto Glauber Rocha, então com 21 anos de idade, enfrentou os ainda duros trajetos em direção a cidade baiana de Jeremoabo, como repórter do jornal “Diário de Notícias”, de Salvador, onde realizou uma interessante entrevista com um dos mais eficientes caçadores de cangaceiros, o oficial da polícia baiana José Rufino.

Achei que realmente eu precisava ler este material.

Havia no artigo da professora uma reprodução fotográfica da reportagem do jornal “Diário de Notícias”. Mas, infelizmente, como é comum em obras de cunho acadêmico, a foto estava com uma resolução tão ridícula que impossibilitava a visualização. Assim desisti de conhecer momentaneamente um pouco mais daquele trabalho.

José Osório de Farias, o Zé Rufino - Fonte - http://blogdodrlima.blogspot.com

Entretanto, mesmo sem ter acesso ao material, achei fantástico descobrir que Glauber havia largado o conforto da beira mar de Salvador e encarou poeira, sol, desconfiança e inúmeras dificuldades para entrevistar o próprio José Rufino, ou Zé Rufino, o comandante de volante que matou o cangaceiro Corisco.

Um Início com Muita Desconfiança

Tempos depois fui a Salvador, cidade que adoro, onde tive a oportunidade de procurar com calma o exemplar do jornal “Diário de Notícias” e finalmente foi possível ler e digitalizar a dita reportagem.

Igreja Matriz de São João Batista, em Jeremoabo, Bahia - Fonte - Coleção do autor

Chama logo a atenção no texto que Glauber não seguiu para este trabalho jornalístico com no máximo um fotógrafo, como seria de esperar na função de repórter. Ele foi a Jeremoabo com mais três amigos.

Além do futuro diretor de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, estavam juntos o cineasta Trigueirinho Neto, um paulista radicado na Bahia que naquele ano lançaria seu único longa-metragem, “Bahia de todos os santos”.[1]

O ator baiano Geraldo Del Rey - Fonte - http://www.filmologia.com.br

Outro membro era o ator Geraldo Del Rey, um baiano da cidade de Ilhéus, que em 1960 já tinha participado de dois trabalhos cinematográficos e era considerado um dos mais promissores atores que atuavam no chamado “Ciclo Baiano” de cinema.[2]

Finalmente entre os membros da comitiva de Glauber em Jeremoabo estava o jovem acadêmico Antônio Guerra.[3]

Não é para menos que os quatro amigos fossem inicialmente recebidos com muita reserva e desconfiança por parte de Zé Rufino.

Enfim, depois de tudo que Rufino havia feito na vida de caçador e matador de cangaceiros, receber a visita de um grupo de quatro homens desconhecidos, certamente faria o ex-policial imaginar que aquilo poderia ter mais jeito de ser uma emboscada do que uma entrevista.[4]
A desconfiança foi desfeita quando Glauber falou que tinha como um amigo comum do antigo lutador das caatingas, um membro da família Sá, de forte influência e tradição política na região de Jeremoabo. A partir daí o guerreiro sertanejo “Deu confiança”, nas palavras de Glauber e desandou a contar sua incrível história.

Zé Rufino e a sua esquerda o ex-rastejador "“Bem-te-vi”, na década de 1960 - Fonte - Coleção do autor


Rufino é descrito como sendo “Alto, queimado pelo fogo do sol nordestino, corpo rijo, dobrando a casa dos cinquenta (anos)”. Foram encontrar a lendária figura na salinha de sua casa, de calça, paletó sem gravata e fumando um cigarro atrás do outro. Afirmou o irrequieto cineasta que Zé Rufino era um homem bem estabelecido em Jeremoabo, “Com boas fazendas e duas mil cabeças de gado”.

O cineasta nascido em Vitória da Conquista afirmou que a patente do pernambucano Zé Rufino era a de major e assim o designou durante toda a entrevista.

E o major foi logo adiantando que;

-Conheço esse mundo com a palma da mão. Tirava 18 léguas na perna e nunca soldado meu se deitou para fazer fogo. A briga era em pé e eu gostava de lutar com o velho – o velho é Lampião, cuja a sombra lendária continua a desfilar pelas serras e campos do Nordeste - Um Repórter, ou Diretor de Cinema?

Apesar de fazer a função de repórter, Glauber sempre foi um cineasta e nas letras da reportagem ele já qualificava Zé Rufino como um “-Um ator perfeito”.

A conversa fluía aberta e franca e o entrevistador viajava com a mente de cineasta diante da verdadeira lenda viva. Para ele, a narrativa de Zé Rufino foi totalmente realizada na melhor linguagem de um autêntico “Western” e deixaria um John Ford “Suspirando de emoção”.[5]

Esta emoção vinha principalmente da qualidade do narrador. Rufino descrevia os combates com voz vibrante, repassando detalhes dos campos de luta, narrando biografias e voltando sem receio a um passado em que muito sangue jorrou no sertão.

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião - Fonte - http://www.pernambuco.com

Interessante foi que Zé Rufino descreveu que na sua juventude detestava a polícia e os policiais. Comentou que isso se devia à violência que alguns militares praticavam de forma desenfreada contra os civis. Por conta desta opinião, mesmo tendo vários parentes como membros do aparato de segurança do Estado, Rufino quase chegou a fazer parte do bando de Lampião, cujo nome real era Virgulino Ferreira da Silva.

Para o antigo guerreiro havia uma admiração pelo seu maior inimigo, que Rufino descreveu como sendo “-Magro, boa estatura, sempre de óculos, com uma lágrima escorrendo no olho quase cego e usando dois galões de capitão nos ombros”.

Ele narrou que em algumas ocasiões se encontrou com Lampião frente a frente. Em um destes momentos, quando o chefe cangaceiro estava acompanhado com cerca de 80 homens, Lampião pela terceira vez chamou Rufino para lhe acompanhar. O convite foi assim descrito:

-Rufino, já duas vezes lhe chamei para ser meu cabra e você nunca quis. Agora é hora Rufino!

Rufino afirmou que em um primeiro momento recusou, mas viu que Lampião não havia gostado nada de sua decisão. Para sair daquela situação disse que seguiria com o “Rei do Cangaço”, mas não naquele momento. Informou que tinha “Uns negócios” para resolver junto a sua mãe. Por incrível que pareça, a demonstração de responsabilidade de Rufino em relação a sua genitora fez o cangaceiro refrear seu ímpeto e Lampião deixou o jovem seguir seu caminho.

O ex-militar afirmou a Glauber que o grupo partiu devagar, com Lampião transmitindo ordens aos seus chefes de subgrupos para que partissem ordenadamente, tal como uma força militar tradicionalmente organizada.

O próximo encontro entre os dois valentes pernambucanos seria de fuzil na mão e cada um do seu lado mandando bala.

Guerra nas Caatingas

Glauber Rocha recordou (sem referenciar) o paraibano José Lins do Rêgo, que dizia que no Nordeste daqueles tempos “Quem não era cangaceiro, soldado, ou beato, padecia na seca, ou sofria de fome, ou de violência”.

Zé Rufino, o primeiro em pé e a esquerda, junto com os membros de sua volante na época do cangaço - Fonte - Coleção autor

Rufino afirmou que preferiu ser policial a cangaceiro. Pois estes “Faziam miséria com o povo, tendo o fuzil na mão e o nome de Deus na boca”.

Narrou sem desassombro que deu muito prejuízo a Lampião e seus cangaceiros, pois quando pegava um deles “Cortava a cabeça, botava num saco e trazia nas costas para Jeremoabo”.

 
Atual Delegacia de Polícia Civil de Jeremoabo, o antigo aquartelamento de Zé Rufino - Fonte - Rostand Medeiros

Afirmou que nesta época a cidade baiana tinha cerca de 800 policiais de prontidão. Segundo o ex-militar, Lampião esteve em uma serra próxima, mas não entrou em Jeremoabo.[6]

Zé Rufino, o primeiro a direita, junto a antigos companheiros de lutas - Fonte - Coleção do autor

Quando saía para a luta Rufino afirmou que sempre a frente de sua volante de policiais seguia o rastejador “Bem-te-vi”, que nunca perdia o rastro. Havia longas caminhadas, com os espinhos dilacerando tudo, rasgando roupas, mas logo que a volante topava com os cangaceiros a luta era dura.

Para Rufino seus soldados deveriam de lutar em pé, mesmo que fosse a cinco metros de distância dos oponentes. Tinham de mostrar valentia, pois os inimigos eram fortes, conheciam o terreno e nos confrontos os cangaceiros pareciam fantasmas saltando para fugir das balas, com as suas “Cabeleiras voando”.

Membros do bando do cangaceiro Corisco - Fonte - Coleção do autor

Em uma ocasião, no meio da refrega violenta, um policial gritou e caiu no chão. Os cangaceiros recuaram, o tiroteio diminuiu gradativamente de intensidade e finalmente cessou. Ao retornar para junto dos companheiros, Zé Rufino narrou que sentiu alguma coisa mole no rosto e nos braços. Eram os “miolos”, a massa encefálica do soldado caído. O morto era seu primo carnal, que havia levado um balaço de fuzil bem no meio da testa.

O próprio rastejador de Zé Rufino, o veterano “Bem-te-vi” estava presente no encontro com os quatro rapazes vindos da capital baiana. Este demonstrou um enorme respeito pelo feroz adversário. Disse que era mentira em relação a uma versão que afirmava ter sido Lampião ser um “Matador de crianças”. O rastejador disse que Lampião “Tinha remorso de atirar em passarinho, nunca de matar um sujeito ruim”.

Corisco, o primeiro a esquerda, tendo ao seu lado a companheira Dadá e integrantes do seu grupo - Fonte - Coleção do autor

“Bem-te-vi” mostrava um respeito sincero pelos seus adversários. Como só os verdadeiros guerreiros que participaram da boa luta, da luta valente, do combate realizado frente a frente, no campo da honra dos nossos sertões.

Interessante foram as afirmações de Rufino em relação à força da religiosidade entre os cangaceiros e mesmo entre seus camaradas de farda. Todos eles sempre tinham “O nome de Deus na boca”. Reconheceu que “Entre todos aqueles que botaram o fuzil no ombro, não tinha um que não se benzia”. Os lutadores foram em suas declarações “Um povo beato até os fios dos cabelos”.

Mas indubitavelmente para o major Zé Rufino, o seu maior feito na luta contra os cangaceiros foi a morte de Corisco.

A Caçada e Morte do “Diabo Louro”

Zé Rufino começou a sua narrativa afirmando que “Não queria matar Corisco”. Disse que o eliminou porque foi alvejado primeiro. Tanto assim que, mostrando suas intenções, não deixou que seus homens exterminassem Dadá, onde garantiu a sua vida até Salvador, onde ela foi tratada.


Para o antigo caçador de cangaceiros, Corisco e Dadá eram definidos como “Um casal bonito”.

Ele via Corisco, conhecido como “Diabo Louro”, como um homem de fibra e achava que ele “Morreu feliz”, pois era um valente que não aguentaria viver em uma penitenciária. Corisco era uma figura que Zé Rufino nutria um enorme respeito, mesmo passados quase vinte anos do confronto que havia provocado a sua morte e o ferimento que fez Dadá perder parte de sua perna direita.

Dadá era uma “-Mulher linda e valente” aos olhos de Rufino. Em sua opinião a companheira de Lampião era “Pequena” diante de Dadá.

Corisco e Dadá, um "casal bonito" na opinião de Zé Rufino - Fonte - Coleção do autor

Glauber aproveita a fundo a conversa com José Rufino, principalmente a descrição do porte físico do cangaceiro e da indumentária, que muito lhe ajudariam no futuro a compor um dos principais personagens de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.

Na reportagem Zé Rufino, talvez com exagero,  diz que “Os cabelos de Corisco eram grandes, e quando ele jogava as mechas por cima dos ombros pareciam duas bandeiras amarelas. Quando Corisco cortou os cabelos, cada pedaço dava para fazer uma grande trança”.

Corisco e seus cães - Fonte - Coleção do autor

Se havia respeito e admiração a distância, tudo se acabava quando os canos dos fuzis ficavam frente a frente.

Rufino afirmou que deu muito fogo, muito combate, contra Corisco e que este era doido para lhe matar. Aparentemente nos momentos finais do chefe cangaceiro, que gostava de ser tratado como “capitão”, este não reconheceu Zé Rufino e lhe perguntou o nome. Desejava ir para a eternidade sabendo quem o derrubou. O antigo major afirmou a Glauber Rocha que no momento que Corisco soube quem o pegou, este nitidamente demonstrou irritação e deu o último suspiro.

Glauber transcreveu a afirmação do major Rufino contando este fato, e colocou esta parte com destaque no início da reportagem;


-Estou ferida meu velho – gritou Dadá pulando no ar, baleada na perna. Mais fortes são os poderes de Deus – respondeu Corisco e fez fogo feroz contra o Major Rufino. O Major continuava correndo e disparava seguidamente no Diabo Louro que fugia para o horizonte. Uma bala rompeu os intestinos, as tripas de Corisco saltaram. O Major se aproximou, viu o homem no chão, calmo, sem medo, sem dores: – Por que você não se entregou Corisco? – Sou homem de morrer, num nasci pra ser preso. Cumé seu nome? – José Rufino. Então o rosto do capitão se contorceu e ele mordeu os lábios com fúria. Eram 5 da tarde em ponto, no mês de maio, 1940-

O que o militar José Osório de Farias, o Zé Rufino se esqueceu de comentar com Glauber Rocha foi que Cristino Gomes da Silva Cleto, o famigerado Corisco, natural de Matinha de Água Branca, nas Alagoas, estava praticamente aleijado de ambos os braços naquele combate. Sua deficiência era fruto de balaços que havia recebido anteriormente.

Fraco e debilitado, ele tentava com sua mulher Dadá, como era conhecida entre os cangaceiros a jovem Sérgia Ribeiro da Silva, alcançar discretamente o sul da Bahia, acompanhados do cangaceiro Rio Branco e da mulher deste.

A cangaceira Dadá ferida junto a Zé Rufino - Fonte - Coleção do autor

Mas em um sábado, 25 de maio de 1940, Zé Rufino e seus homens apareceram em um sítio em Brotas de Macaúbas e a história se desenrolou.[7]

Final de Um Grande Encontro

Independente dos fatos reais eu creio que esta parte da narrativa realizada pelo antigo caçador de cangaceiros, mexeu de verdade com a cabeça do cineasta baiano. Pois muito do que está descrito nesta reportagem publicada no jornal “Diário de Notícias”, edição de 21 de fevereiro de 1960, um domingo, Glauber Rocha reproduziu magistralmente em suas obras cinematográficas.

Zé Rufino em uma foto feita provavelmente por Glauber Rocha ou algum companheiro de entrevista - Fonte - Coleção do autor


Consta que a entrevista entrou pela noite adentro. Logo a matéria aponta que o Geraldo Del Rey mostrava que havia material suficiente para uma trilogia, só com as memórias de Zé Rufino.

Trigueirinho Neto convida então o antigo combatente das caatingas para ser ator. Logo “Bem-te-vi” também é convidado a fazer parte do elenco do filme. Zé Rufino afirma na sequência, em um diálogo que demonstra camaradagem  e tranquilidade, que vai chamar os antigos perseguidores dos cangaceiros ainda vivos para participarem da película, com a intenção que tudo seja reconstituído “Como reza a verdade e o mito”.

E a entrevista se encerra.

Foto principal do cartaz do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha - Fonte - http://www.pop4.com.br


Hoje quem percorre os aproximadamente 380 km que distancia Jeremoabo e Salvador, seguindo pela BR-110, realiza o trajeto uma boa estrada asfaltada e com conforto.

Mas quando Glauber, Trigueirinho, Geraldo Del Rey e Antônio Guerra realizaram esta viagem a 52 anos atrás, aparentemente o caminho que ligava Jeremoabo a Salvador era todo, ou em grande parte de barro. Talvez já houvesse luz elétrica devido a proximidade com a Usina de Paulo Afonso, mas as notícias eram através dos velhos rádios valvulados. Ou seja, o sertão não era igual ao do tempo de Lampião, mas apenas 20 anos de diferença ainda não havia mudado tanto a triste realidade daquela gente sofrida.

O personagem Antonio das Mortes, interpretado pelo ator Maurício do Valle, baseado em Zé Rufino - Fonte - http://npdorlandovieira-aju.blogspot.com

Em meio a todo este cenário, tão distinto do belo litoral Soteropolitano, Glauber ficou fascinado com aquela narrativa.

O interessante é que apenas no final da reportagem, e em mais nenhuma outra parte da matéria, o cineasta baiano afirma que, além do trabalho jornalístico para o “Diário de Notícias”, aquela viagem seria também para realizar uma avaliação do que havia de interessante, de belo, de produtivo no sertão baiano no sentido de desenvolvimento cinematográfico.

Certamente que ao viajar com amigos que participavam do movimento cinematográfico baiano do início da década de 1960, Glauber já tinha mil ideias funcionando dentro da sua cabeça e logo o vulcão que ele era, seguiria despejando grandes obras de arte cinematográficas que chamariam atenção principalmente na Europa.

Tudo isso resultaria na criação de um movimento cinematográfico chamado Cinema Novo e alavancaria a carreira de um cineasta que era antes de tudo ousado, determinado e genial nas suas abordagens.

Não sei proporcionalmente o quanto o contato com Zé Rufino e “Bem-te-vi” contribuiu para a realização quatro anos depois do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.

Mas certamente a ida daqueles quatro amigos ao sertão não foi em vão.

[1] Este filme que apresentava um painel político e social do país na era do governo Getúlio Vargas, que seria intensamente aclamado pela crítica, ficando marcado pela expressiva fotografia Guglielmo Lombardi e estrelado pelo ator Geraldo Del Rey.

[2] Geraldo Del Rey consegue projeção nacional e internacional ao participar ao lado de Leonardo Villar e Glória Menezes no filme de Anselmo Duarte, O Pagador de Promessas (1962), que seria premiado com a Palma de Ouro em Cannes. Mas é sob a direção de Glauber Rocha e sob as lentes do Cinema Novo que o ator de olhos verdes, chamado por alguns de Alain Delon tupiniquim, finca para sempre o seu nome no cinema brasileiro, participando dos antológicos e históricos. Geraldo Del Rey integrou o núcleo fundador do Festival de Cinema de Gramado, em 1973, dando muito de seu prestígio e apoio para que o evento ganhasse repercussão nacional. Em 2004, em reconhecimento a essa colaboração o 32 Festival de Cinema de Gramado prestou uma Homenagem Especial pela sua participação e contribuição ao cinema nacional. Faleceu de câncer no dia 25 de abril de 1993. Fonte –http://virtualia.blogs.sapo.pt
[3] Posso estar enganado, mas acredito que o Antônio Guerra relatado pelo diretor de cinema a matéria de 1960, não é outro se não o advogado e ex-procurador-geral do Estado da Bahia, Antônio Guerra Lima, mais conhecido como “Guerrinha”, grande amigo de Glauber Rocha e de sua família.

[4] Consta que em muitas publicações sobre o cangaço a patente de Zé Rufino seria a de coronel. Entretanto decidi deixar conforme está no texto de Glauber Rocha.

[5] John Ford (1894-1973) foi um diretor de cinema norte-americano de grande sucesso. Tendo atuado entre as décadas de 1930 a 1960, conhecido principalmente pelos seus westerns. Em 51 anos de carreira, Ford dirigiu 133 filmes.

[6] Ao visitar a cidade de Jeremoabo em 2010, esta história do respeito de Lampião pela localidade foi largamente comentada. Já a elevação onde ficaram os cangaceiros foi a Serra da Cruz. Percebe-se igualmente em Jeremoabo um enorme respeito em relação à memória da figura de Zé Rufino.

[7] Rufino transmitiu a Glauber a raiva que sentiu em relação a um jornalista baiano que afirmou que ele “Havia roubado o ouro de Corisco”. O antigo caçador de cangaceiros revidou a este repórter afirmando que Corisco levava “Um quilo” de metal precioso e que entregou tudo a Dadá, que estava viva na época “Para confirmar”. Comentou que sua promoção para major veio “Devagar” e foi a última a ser efetivada na escala hierárquica da Polícia Militar da Bahia daquele período. Talvez este episódio anterior com a imprensa explique a animosidade e desconfiança de Zé Rufino no início da entrevista com Glauber Rocha.

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Extraído do blog:
"Tok de História" do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros 

http://tokdehistoria.wordpress.com/
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o mata sete: o pior livro do cangaço

Por: João de Sousa Lima

LAMPIÃO O MATA NOVE


O título acima faz referência ao livro Lampião o Mata Sete, porém devemos acrescentar nessa contagem o medíocre autor da citada obra e o apresentador do livro o Oleone Coelho Fontes.

Com muita dificuldade li o livro e confesso não o fiz em sua totalidade, me detive apenas no que achei que seria mais importante rebater. O livro é uma verdadeira  porcaria, só mesmo pela insistência do amigo Archimedes Marques, sem antes deixar  claro que foi uma cópia xerográfica para não gastar dinheiro em vão e não somar prestigio há um escritor tão fraco.
    
A apresentação do livro é uma afronta aos homens sérios que pesquisam o cangaço, pelo puxa-saquismo de Oleone que depois de velho está se transformando em adorador de homens de cargos distintos, esquecendo os fatos que pesquisou e publicou no passado.
    
Oleone se intitula no texto um  verdadeiro gabola, dizendo que é autor de uma obra clássica nos estudos a respeito da saga do cangaço no nordeste brasileiro e é verdade, só não acrescentou que estava se equiparando ao nível do apresentado, um escritor medíocre, sem contar que Oleone já tinha mostrado suas garras mercenárias, quando sem precisão urgente chegou a trocar seus livros por “TICKET REFEIÇÃO”, passe de ônibus e cartão telefônico. 
   
Oleone diz na apresentação  que se tivesse que culpar a morte dos pais de Lampião apontaria virgolino, Antonio e Levino. Agora pergunto: como podemos incluir a esses três o fato da mãe ter tido um enfarte fulminante no miocárdio?

Oleone se diz o maior pesquisador do mundo e que sua obra já se encontra na oitava edição, depois se revolta com quem escreve sobre o cangaço porque os livros são vendáveis e mais uma vez eu pergunto: E quantos livros dessas oito edições Oleone fez para distribuir entre as pessoas, mesmo sabendo que em todos eles o autor publicou com apoios financeiros?  Como Oleone pode tecer críticas a quem escreve se vive escrevendo sobre o tema? É o cúmulo da insensatez!

Oleone se debruça em uma análise infundada do seu apresentado dizendo que o autor desmascara todos os autores e que escreve um livro verdadeiro. Oleone diante de tantas baboseiras ainda afirma que também ouviu durante suas pesquisas que Lampião não era lá esse homem todo. Não lembro ter lido essa passagem no seu livro Lampião na Bahia.
   
Diante de tantos impropérios e falso testemunho de Oleone diante da figura de Lampião creio que seja muito difícil alguém ler hoje o livro dele com os mesmos olhos que leram no passado.
   
Igual ao ensinamento da velha fábula Oleone não aprendeu “A COMER LENTILHAS” e por isso teve que se rebaixar ajoelhado diante da Torga do emérito magistrado, se igualando as imbecilidades escritas em um opúsculo desprezível. 

Algumas observações sobre o folhetim de Pedro de Morais:

Na página 19 Pedro contando uma passagem em fantasia cinematográfica das mortes realizadas por um dos avôs de Lampião disse que ele morreu em Ipojuca, hoje Arcoverde e todos sabem que Arcoverde antigamente chamava-se Ouro Branco e não Ipojuca.
  
Na pagina 20 Pedro diz que o pai de Lampião era ladrão de cavalo e nem em outro livro, nem dos pesquisadores mais antigos se ouviu essa afirmação, acredito ser mais uma invenção do autor. Na pagina 22 Pedro fala que Virgolino quando ainda estudava, diferente dos outros alunos gostava de se dedicar com as meninas nas brincadeiras antigas de roda e que se exibia em leves rodeios pelo ar como a pluma, despencando nas correntes desfiadas pelo vento ou jogada na espuma boiando a deriva nas vagas...

Fala que virgolino era um janota no trajar, um mauricinho do sertão, um narcisista se venerando no espelho, enfeitando-se de rendas, sedas, bicos e babados, preciosidades da artesanal vestimenta  feminina no nordeste.

No texto difamatório o Pedro cita de Anildomá, passando por Alcino Alves até Gilberto Freyre tentando colocar esses estudiosos com algo que se assemelhasse com as idiotices por ele colocadas no papel.
  
Pedro continua sua viagem histórica e sua fala mentirosa: vivia a andar pra cima e pra baixo com garbo e desempenho, todo engalanado, calçando meias coloridas adornando pés melindrosos , pisando macio a terra batida...

Chama virgolino de fresco, diz que o futuro cangaceiro passava noites entrelaçados com os amigos de caçadas, que se comparava as mocinhas na habilidade com os bilros na confecção de rendas.

Pedro além de todas as inverdades levantadas sobre a masculinidade de Virgolino levanta teses ultrapassadas e sem sentidos comprovados cientificamente, comparando a visão do cangaço através da “Psiquiatria Forense”. Traça um perfil do cangaceiro se apresentando com aspectos asquerosos, de acentuadas feiúras, maltrapilho, que banhava-se duas a três vezes por ano, exalando maus cheiros, desprendendo deles um forte odor de banha de animais putrefatos, afirmando com uma das maiores imbecilidades já ditas sobre o cangaço que as volantes policiais seguiam os cangaceiros pelos urubus que sobrevoavam a cabroeira.
  
O autor deveria ter incursionado na poesia ou nos contos fictícios, assim se sairia melhor em sua criação literária. Querer colocar a esse patamar, sem registro oral que tenha sido deixado por alguém que tenha presenciado ou vivido na época tais seguimentos de Virgolino é de uma irresponsabilidade espantosa, enquanto a historia real registrada aponta Virgolino como sendo um homem acostumado com a luta diária do trato com a terra, o manejo com as ferramentas agrícolas, além de ter sido um ótimo amansador de burros brabos.
    
O livro é péssimo, enoja pela aparente intenção de dotar Lampião com os piores deslustres e impropérios ao tempo em que destaca positivamente seus inimigos e os diversos policiais, ficando aparente sua parcialidade.

Fazendo uma análise mais aprofundada do contexto geral do pior livro que já li, a mentira e a invencionice é o ponto mais forte desse péssimo trabalho literário e em momento algum o fraco autor cita uma fonte concreta de sua pesquisa que possa ter deixado depoimentos sobre as mentiras que ele registrou em seu livrinho.
    
Na pagina 66 Pedro cita que João Ferreira era o irmão mais novo de Lampião e todos que pesquisam seriamente sabem que o irmão mais novo era Ezequiel.
     
Na pagina 83 o autor diz que: O cangaço merece por seu láureo, o esquecimento...

Vai entender o que ele diz, enquanto tece críticas ao cangaço ele tentar lançar no momento esse ridículo livreto com mentiras e calunias sobre o assunto. Diante da indagação de um amigo íntimo sobre as calúnias que estava escrevendo, ele deu a seguinte resposta: “EU TENHO AS COSTAS LARGAS”. Esse foi o único argumento, confiando na impunidade por ter na vida pública ocupado o cargo de juiz.
           
O Pedro fala ainda na pagina 83 que em um combate acontecido contra tenente Galdino enquanto Lampião tentava recuperar seu chapéu enfeitado com fitas de tafetá, acabou levando um tiro no saco escrotal que o castrou de imediato.
    
Só dando risadas desse coitado, dublê de escritor, quanta babaquice relatada, quanta mentira reunida em tão poucas páginas. Como explicar que Lampião teve quatro filhos com Maria bonita?

Na pagina 91 Pedro diz: Não há registro, pelo menos conhecido de práticas injustas de autoria das volantes.
   
Em que mundo Pedro pesquisou tamanhas disparidades?
   
Na pagina 121 Pedro cita que em perdão ao acidente que ocasionou a morte de Antonio, irmão de Lampião, com a bala saída da arma do cangaceiro Luiz Pedro, Virgulino exigiu de Luiz Pedro, em troca de sua vida as mais piegas juras de amor eterno...
   
Na pagina 126 o escritor cita que o verdadeiro nome de Corisco é Virginio Gomes da Silva.

...Há Dadá viva!!!
   
Quando ainda na pagina 126 cita: “os nazarenos sim, estes eram homens valentes...”
    
Fica notório ter o escritor uma “queda” por patentes, mostrando sua parcialidade, sentimento que fica fora do plano de produção do verdadeiro pesquisador. Para que se tenha uma linha de raciocínio lógico, justa e aproveitável é preciso agir com responsabilidade diante dos fatos. A tendência aspira a levar para um julgamento precipitado dos fatos e discorrer da verdade sobre a história. A meta a ser atingida não pode ser maculada pelo bel-prazer do autor, a não ser uma mentira ou uma obra de irrealidade.
    
Na pagina 127 o Pedro diz que: Zé Rufino exercia um libidinoso fascínio na afeminada fera do Pajeú... 
    
Só faltou dizer que entre a mescla azul e as cores cruas usadas pelos cangaceiros distinguia-se  o traje rosinha de Lampião e que ele foi o precursor da parada gay  de Serra Talhada.

O Pedro é quem se desmancha quando se refere a Zé Rufino chamando-o de “Lendário”, “General das Caatingas” e que enfrentava os caminhos tortuosos do sertão com a impávida elegância das centúrias romanas em desfile. Um colosso, verdadeiramente ver passar nas trilhas sua tropa em marcha! “O valoroso e festejado caçador de cangaceiros da caatinga, o verdadeiro estrategista e general da caatinga, foi o novel da extinção do cangaço”.

Na pagina 160 o “grande pesquisador” Pedro diz que Corisco raptou Dadá em Sergipe...

Eu convido essa sumidade da pesquisa histórica para vir a Paulo Afonso para conhecer o Manuel, irmão de Dadá,  com 102 anos de idade e Joana com 94 anos,  irmã também da ex- cangaceira, eles lhe dirão aonde aconteceu o seqüestro. 
   
Na pagina 162 Pedro diz que Lampião entrou para Bahia atravessando o rio São Francisco, entrando em Curral dos Bois e a verdade foi que ele atravessou em Rodelas. Na observação Pedro diz que Curral dos Bois chama-se hoje Santo Antonio da Gloria e a verdade é  que atualmente é chamada simplesmente de Glória ou como ficou apelidada pelos moradores por “Nova Glória”, depois que a antiga cidade ficou submersa pelo barramento da usina Luiz Gonzaga, surgindo uma nova cidade.
   
O primeiro contato de Lampião na Bahia foi com o coronel Petronilio de Alcântara Reis e não com Horácio de Matos com é dito pelo autor.
    
Nas paginas 173 e 174 parece vermos os olhos brilhantes de contentamento quando Pedro se refere aos policiais: o jovem oficial da força pública da Bahia Manoel Campos de Menezes, um dos mais intrépidos e valentes.
      
O desconhecimento do escritor é mais evidenciado quando o assunto é Maria Bonita, sem contar que sobre ela Pedro foi de uma irracionalidade sem precedentes e de uma indecência e irresponsabilidade histórica nunca registrada no nordeste brasileiro.
    
Na pagina 135 ele começa falando que em 1931 o cangaceiro Luiz Pedro conheceu Maria Bonita em Santa Brígida,  entre Serra Negra e Poço Redondo.
   
A verdade é que Lampião foi apresentado a Maria Gomes de Oliveira em 1929, no povoado Malhada da Caiçara, pertencente a Paulo Afonso e nunca ficou próximo a Poço Redondo e Serra Negra.
   
Pedro inventa um sobrenome para Maria que nunca foi citado por ninguém que pesquisou a vida da Rainha do Cangaço, o sobrenome é “Adelaide”.
    
Pedro chega ao cúmulo da ignorância histórica quando taxa Maria Bonita de prostituta, chamando-a de amante farrista de muitos homens.

Na pagina 182, Pedro continua sua fantasiosa e não menos desqualificada visão sobre Maria, afirmando que ela tinha com Luis Pedro “freqüente e safados encontros”.

O desconhecimento histórico e geográfico de Pedro é espantoso e em todo o seu livro fica provado que a intenção do falso escritor  é de deixar essa desprezível obra, apenas para confundir quem nada conhece sobre o cangaço.

Nas paginas 197 e 198 Pedro cita João Maria Valadão, com seus 96 anos de idade, residente no sitio Olho D’água do Brejo, primo de Maria Bonita e que confirmou a história que Lampião matou uma criança. É mentira de Pedro! Conheço João Maria e sou muito amigo dele e ele nunca confirmaria uma coisa dessas, por não estar presente nesse fantasioso episódio. Foi João Maria quem matou o sargento Deluz e mesmo assim ele só conta este fato a quem lhe é muito achegado.

O escritor medíocre nunca esteve na região de Paulo Afonso, pois relatando a morte de Ezequiel deixa claro que escreveu esse capitulo tendo por base outros autores que escreveram sem conhecer o lugar, por isso as constantes e infundadas informações continuam no seu trabalho. Por exemplo: em Paulo Afonso nunca existiu a VARZEA DO TOURO, o nome certo é Tanque do Touro, porém o lugar onde o Ezequiel foi morto chama-se Lagoa do Mel. O coiteiro citado por Pedro de Mané Preto na realidade chamava-se Zé Pretinho.

Pedro diz que Ezequiel foi atingido por “UMA” bala e na verdade foi uma rajada de metralhadora.

Pedro fala que o corpo de Ezequiel foi abandonado pelos facínoras que fugiram e na verdade Ezequiel foi enterrado por Antonio Chiquinho, proprietário da Lagoa do Mel.
  
Em referência ao cangaceiro Volta Seca fica provado  vontade de adjetivar Lampião dos mais variados apelidos difamatório, Pedro cita o cangaceiro Volta Seca como sendo mais um caso homossexual do chefe do cangaço, mais outro texto recheado de calúnias.

Volta Seca foi preso pelos irmãos Adão e Roxo e não pela volante do tenente José Joaquim como afirma em mais uma mentira o autor.
    
Pedro cita na pagina 218 que o tenente Liberato de Carvalho foi o vencedor do tiroteio da Maranduba  contra os cangaceiros e a verdade desconhecida por Pedro é que na Maranduba morreram vários soldados, sendo uma das mais ferrenhas lutas entre cangaceiros e volantes e Liberato de Carvalho era um dos maiores coiteiros de Lampião inclusive vendendo armas e munições ao cangaceiro.

Na pagina 227 Pedro diz que Zé Baiano matou Lidia a golpes de punhal e todos sabem que ela foi morta a pauladas.

Uma coisa o autor Pedro pode ter certeza: Ele será lembrado no meio de quem estuda com discernimento o assunto cangaço,  como o maior mentiroso que já apareceu no meio, suas historias serão ridicularizadas e comparadas aos absurdos escritos pelos maiores farsantes que povoaram os caminhos da história.

Nunca, em hipótese alguma, me senti tão ultrajado quando visualizei nas obras consultadas pelo autor. Quando vi meu nome citado por Pedro onde faz citações a dois livros de minha autoria  me senti pequeno, diminuído, queria nunca ter sido escritor do tema só pra não ter meu nome nesse livro, sem contar que Pedro diz que meu livro está na décima edição e recentemente foi que lancei a segunda edição e não sei onde ele encontrou tantas edições de minha biografia sobre Maria Bonita. O que me conforma é saber que ele me citou apenas para impressionar quem ler seu livro querendo posar de um grande estudioso pela vasta relação descrita. O que na realidade, ainda falta bilhões de quilômetros para que ele se torne um pesquisador e escritor que mereça o mínimo de crédito e respeito. Também vi o nome de alguns companheiros e que também foram  citados na relação e sei que todos estão insatisfeitos de constar seus nomes em um trabalho tão pobre e carente de veracidades. Sei que Amauri, Frederico, Alcino, Juarez, Sergio Dantas, Tenente João Gomes, Hilário, Margébio, Haroldo, Honório, Cicinato, Vilela e Anildomá,  devem ter  sentido o mesmo que eu, pois sei que  em trabalho com essa qualidade de falsas informações e tão mal escrito, sem embasamentos coerentes nenhum, não dignifica em nada as obras dos verdadeiros homens que exploram o cangaço.

João de Sousa Lima
Escritor e Pesquisador, membro da ALPA-Academia de Letras de Paulo Afonso.

Enviado pelo escritor e pesquisador do cancaço João de Sousa Lima

Lampião e o libanês - Parte III

Soldados disputaram riqueza de corpos

Ao todo, 11 cangaceiros morreram em Angicos. O restante conseguiu escapar pela brecha deixada por José Aniceto, aproveitando-se da semelhança dos trajes para dizer que era também da polícia. Na correria, Ilda Ribeiro de Souza, conhecida como Sila e mulher de Zé Sereno, sentiu uma substância viscosa em suas costas. Era parte da massa encefálica de Enedina, cuja cabeça fora atingida por um tiro. Entre as volantes foi registrada apenas uma baixa, o soldado Adrião Pedro de Sousa, que pode ter sido vítima inclusive de “fogo amigo”. Seu nome não é lembrado nas duas cruzes e nem na placa de metal que foram colocadas depois no local do combate. Ainda agonizantes, os cangaceiros baleados foram vítimas da rapina dos policiais. Qualquer objeto de valor era objeto de disputa, principalmente os bornais onde estavam dinheiro e jóias. Na pressa, dedos e mãos eram cortados por causa dos anéis. Estima-se que somente Lampião, quando foi morto, trazia com ele cinco quilos de ouro, mil contos de réis e 20 libras esterlinas roubadas da baronesa de Água Branca.

Falecido em Garanhuns, em 1970, João Bezerra nunca conseguiu afastar as suspeitas de que mantinha uma boa relação com o cangaceiro, inclusive fornecendo armas e munição. Já a propriedade de Angicos é administrada pelos descendentes de Pedro Rodrigues Rosa, o Pedro de Cândido que, depois de espancado e ameaçado de morte, levou as volantes, junto com o irmão Durval, até o local onde Lampião estava escondido. Sobre o coiteiro pesava a suspeita de que teria levado alimentos envenenados para os cangaceiros. No dia 22 de agosto de 1941, foi assassinado em Piranhas por um deficiente mental que o teria confundido com um “lobisomem”.

Lembranças luminosas de um Candeeiro

Manoel Dantas Loyola sobreviveu a Angicos. Na época do cangaço, era conhecido como Candeeiro. Pernambucano de Buíque (a 258 quilômetros do Recife), ingressou no bando de Lampião em 1937, mas afirma que foi por acidente. Trabalhava em uma fazenda em Alagoas quando um grupo de homens ligados ao famoso bandido chegou ao local. Pouco tempo depois, a propriedade ficou cercada por uma volante e ele preferiu seguir com os bandidos para não ser morto. Hoje com 93 anos de idade, Candeeiro vive como comerciante aposentado na vila São Domingos, distrito de sua cidade natal. Atende pelo nome de batismo, Manoel Dantas Loyola, ou por outro apelido: seu Né. No primeiro combate com os “macacos”, Candeeiro foi ferido na coxa. “Era muita bala no pé do ouvido”, lembra. O buraco de bala foi fechado com farinha peneirada e pimenta.

Teve o primeiro encontro com o chefe na beira do Rio São Francisco, no lado sergipano. “Lampião não gostava de estar no meio dos cangaceiros, ficava isolado. E ele já sabia que estava baleado. Quandosoube que eu era de Buíque, comentou: ‘sua cidade me deu um homem valente, Jararaca’”. Candeeiro diz que, nos quase dois anos que ficou no bando, tinha a função de entregar as cartas escritas por Lampião exigindo dinheiro de grandes fazendeiros e comerciantes. Sempre retornava com o pedido atendido. Ele destaca que teve acesso direto ao chefe, chegando a despertar ciúme de Maria Bonita. Em Angicos, comentou que o local não era seguro. Lampião, segundo ele, reuniria os grupos para comunicar que deixaria o cangaço. Estava cansado e preocupado com o fato de que as volantes se deslocavam mais rápido, por causa das estradas, e tinham armamento pesado.

No dia do ataque, já estava acordado e se preparava para urinar quando começou o tiroteio. “Desci atirando, foi bala como o diabo”. Mesmo ferido no braço direito, conseguiu escapar do cerco. Dias depois, com a promessa de ser não ser morto, entregou-se em Jeremoabo, na Bahia, com o braço na tipóia. Com ele, mais 16 cangaceiros. Cumprindo dois anos na prisão, o Candeeiro dava novamente lugar ao cidadão Manoel Dantas Loyola. Sobre a época do cangaço, costuma dizer que foi “história de sofrimento”. Mas ainda é possível perceber a admiração por Lampião. “Parecia que adivinhava as coisas”, lembra. Só não quis ouvir o alerta dado na véspera da morte, em 1938.


CONTINUA...
Fonte:


Informação:
O texto não apresenta autor, apenas suponho que foi escrito pelo Dr. Ivanildo Silveira, já que é da página "Orkut".