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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O MENINO VELHO E O VELHO MENINO

Por Rangel Alves da Costa*

Neste período de final de ano, onde as sensibilidades ainda afloram em singelos corações, há de se fugir da correria das compras e confraternizações, para o necessário reencontro o pensamento nostálgico. E é bom rememorar aquilo que a caminhada não conseguiu apagar da memória. Daí que me recordo agora de uma velha história que um dia ouvi numa tarde de proseado debaixo de uma tamarineira.

É a história de menino velho ou de um velho menino. E começava dizendo que com apenas cinco anos ele já manejava a peleja de adolescente. Com oito anos já debulhava esforço de rapaz feito. Com dez anos já era adulto de dobra, no esforço, na lida, na vida. Depois disso, o amadurecimento e o envelhecimento, tudo num passo só. E ainda não tinha nem quinze anos.

Na verdade, pouco conheceu e vivenciou sua criancice. Sempre descalço, sujo, buchudinho, cheio de verminoses, só teve tempo de arranhar a parede para lamber o barro. E comia lama quando caía pingo d’água. Nunca brincou de cavalo de pau, correndo atrás de bola de meia, ou galopando feito bicho solto pelos descampados.

Não tinha tempo pra nada disso. Nem pra brincar debaixo da lua nem sonhar abaixo do sombreado do umbuzeiro. Pouco entendia de mundo, de vida, de sua meninice, mas tinha de se acostumar em carregar palma espinhenta para o cesto do gado, tirar a palha cortante da espiga de milho seco, catar cavaco para o fogão de lenha, ficar chamuscado das cinzas da coivara queimando na roça.

Certa feita a professorinha – a única das redondezas – passou por ali e perguntou ao pai quando a criança ia conhecer o mundo bonito do estudo, das letras. Pelo jeito nunca, respondeu um homem de rude feição. Nunca tive estudo e parece que ele também vai virar estrada sem assinar nem assuntar letra juntada. Tentou justificar.

E prosseguiu dizendo que o tempo estava tão ruim, a seca tão braba, sem nada sobre a terra que desse sustento à família, que podia virar cumbuco e não achava vintém pra comprar ao menos um calçado e uma roupinha pro filho. E menino esfarrapado não deve saber nem o que é escola. Por isso ele não ia estudar não. Fica feio menino com lápis na mão e de pé no chão.


Disse mais. Não ia também porque precisava dele ajudando nos afazeres do dia inteiro. Ele ajuda muito, é esforçadinho que só, asseverou. A professorinha, completamente indignada com o que ouvia, disse que aquilo tudo era um absurdo e nada justificava impedir o menino estudar para ter uma vida digna e muito melhor do que aquela escravidão infantil ali vivida.

Saiu de lá debaixo dos olhos feios do homem. Assustada mesmo. Mas não sem antes ouvir que não passasse mais nem diante da cancela. Os cachorros latiram e ela apressou-se. E já seguindo, caminhando pela estrada, olhou para trás para avistar o garotinho recurvado com um feixe de lenha às costas. Chorou, se envolveu em lágrimas, mas seguiu adiante.

Já estava em torno dos oito anos, mas com a feição de vinte ou mais. Menino de pele clara, mas agora já tomada de uma cor de barro queimado, de pote assado em olaria. Cabelo bom, mas crispado, quebradiço, feio. Cicatrizes pelo rosto e pelo corpo, as palmas das mãos duras e espinhentas, solado dos pés que nem sentia mais ponta de espinho. E o olhar...

Antes dos doze anos e já parecendo alquebrado. Em tudo a luta, o fazer, o revirar, o se ferir e machucar. E em nada o menino, o molecote, o sertanejinho cheio de vida e de esperança. Pelo contrário, muito pelo contrário. Talvez nem se reconhecesse mais, não soubesse sua idade, o que ela significava, para que servia o viver. Ora, não fazia outra coisa que não ser destruído pelo tempo, e sem ter tempo pra nada que dissesse respeito a si mesmo.

 Lua após lua, envelhecendo demais ainda adolescente. Continuava vivendo feito bicho do mato, sem tempo pra outra coisa a não ser lidar com a terra, tanger animal, montar em jegue magro, afiar facão e foice, colocar cabo em enxada, arrancar mato com a mão, fazer cerca de forquilha. Duas vezes picado por cobra, atacado por enxame de abelhas, lombo furado por espinho de quipá.

Chegando a idade adulta e o rapaz já recurvado, todo definhado, de corpo debilitado e espírito tomado de desesperanças. Não precisava mais envelhecer para ser completamente velho, no corpo e para o trabalho. Já não suportava mais fazer muito esforço, planejar o que lhe restava da vida nem pensar no amanhã. E o pior, um velho solitário. E com o pior tipo de solidão: esquecido pelo mundo.

Um dia alguém passou pela estrada e viu um velho chorando junto ao tronco largo do umbuzeiro. Foi chegando mais perto para ver o que estava acontecendo, mas antes de chegar ouviu o velho perguntar se trazia um cavalo de pau e uma bola de gude. Era o envelhecido querendo brincar de menino.

Poeta e cronista
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QUAL ERA A BEBIDA ALCOÓLICA PREFERIDA DE LAMPIÃO?


QUAL ERA BEBIDA ALCOÓLICA PREFERIDA DE LAMPIÃO?

Embora alguns autores procurem aburguesar o rei do cangaço, no que tange ao consumo de bebidas refinadas, a exemplo de, whisky white horse (cavalo branco), conhaque macieira, além de outros, o que se percebe na bibliografia cangaceira e, nos depoimentos de ex-cangaceiros, é que ele só consumia as mesmas, quando tinha contato com os famosos coronéis nordestinos, que eram coiteiros e fornecedores de armas e munições.

No dia a dia, às vezes, eles não tinham nem água para beber, quanto mais bebida importadas. De um modo geral, bebiam o que existia de disponível nos locais por onde andavam (Vilas, fazendas etc...).

Acima, foto de um exemplar do famoso CONHAQUE MACIEIRA e, DO Grupo de Lampião sendo servido (Foto: Filme B. Abraão). Que será essa bebida que ele está tomando?

Foto: Google

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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O LEGADO DAS MENTIRAS E MISTÉRIOS ...

Por Manoel Severo

"Lampião, você é realmente um bravo, um herói invulgar. O homem brasileiro tem a obrigação de se curvar perante a sua sabedoria e aceitar que você, lá do Além, não se canse de gargalhar desdenhosamente da quase nenhuma inteligência de todos nós, pobres pecadores que não temos forças para enfrentarmos um mito de sua grandeza. Como se fosse um bruxo – e bruxo ele era – Lampião fez com que todos os que viveram a agonia de Angico ficassem envoltos em intermináveis contradições. Cada um, seguindo ditames diferentes e misteriosos, querendo contar os fatos conforme as suas próprias vontades, e assim, deixando aqueles que precisavam registrar o grandioso épico na mais completa desilusão." Trecho de um dos mais espetaculares artigos de Alcino Alves Costa para o Cariri Cangaço.... 

Alcino Alves Costa, Patrono do Conselho Cariri Cangaço

"A complexidade da operação de Angico, que mesmo os comandantes da missão desconheciam certos pormenores, teve em Alcino Alves Costa um dos mais apurados investigadores. Seus livros são referências temáticas." Comenta Luiz Serra de Brasília, DF...

"A história do cangaço, quase toda ela, é baseada em conjecturas. Desconheço algum trabalho científico, feito no local da chacina. Portanto continuaremos com estas eternas dúvidas. Eu da minha parte, até hoje, não entendi o que se passou naquela madrugada fria de 28.07.1938; para ser sincero, as vezes tenho minhas dúvidas sobre os depoimentos dos cangaceiros sobreviventes. Primeiro: porque a maioria foram personagens coadjuvantes na história do cangaço. Segundo: Lampião falava sempre a estes homens e mulheres, só o que era conveniente para ele. Acho muito difícil, um homem com a personalidade que ele tinha, está desabafando ou comentando o que se passava no íntimo da sua alma." Revela Chagas Nascimento, pesquisador de Mossoró, RN
  

Jose Bezerra Lima Irmão nos fala: "Alcino Alves Costa, caros amigos do Cariri Cangaço, foi o maior crítico da versão dos fatos relacionados ao episódio da Grota do Angico. Ele dizia que a Grota do Angico devia se chamar Grota da Mentira. Ao contrário de muitos "pesquisadores" que se comportam como papagaios, repetindo o que ouvem ou leem sem fazer uma análise interpretativa, Alcino agia como um analista criterioso das várias versões dos autores e depoentes, cotejando uma com outra, em busca da verdade. Alcino, por intuição, era dotado de um senso de investigação típico de quem cursou e se especializou na ciência da Hermenêutica. Claro que ele não fez curso de Hermenêutica. Mas na investigação e interpretação dos fatos relacionados à morte de Lampião ninguém chegou perto dele. 

Alcino comparou os relatos dos policiais com os relatos dos coiteiros e com os relatos dos canoeiros que levaram a tropa de Piranhas até o Remanso e dali até a Forquilha. Os policiais se contradizem. Os canoeiros desmentem os policiais. O coiteiro Durval Rosa contava as coisas de modo diverso. Aquela história da tempestade, dos trovões e relâmpagos - tudo invenção, para criar clima de suspense. Quem já viu trovão em julho? Trovões ocorrem é entre novembro e março, época das "trovoadas". Parabéns, querido Manoel Severo Barbosa, por reproduzir este trecho do grande e inesquecível Alcino, o Vaqueiro da História."

O Legado de Alcino...
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FOTO RARÍSSIMA


FOTO RARÍSSIMA...!...ABRAÃO (filmou Lampião - foi secretário do padre Cícero) x Beata MOCINHA (governanta/finanças do Padre)...X Dr. Floro Bartolomeu...(braço armado/político do padre).

Fonte: Jornal O Povo / Fortaleza.

A disputa pelo poder nas hostes do Pe. Cícero Romão/Juazeiro era por demais acirrada. Benjamin Abraão cuidava da parte administrativa/ compromissos sociais do aludido padre, enquanto a Beata MOCINHA dava as ordens no casarão, além de cuidar das finanças do citado padre.


A briga era grande. Sem falar, que o Dr. Floro Bartolomeu, também, íntimo do padre, era o seu braço armado e político... Abraão, também, foi perseguido pelo Dr. Floro, tendo, inclusive, curtido uns dias na cadeia, por ordem desse último.

Como se vê, o padre Cícero vivia cercado de gente correndo atrás do poder e do dinheiro.

ADENDO - Carlos Alberto

Esta foto deve ser anterior a março de 1926, com Floro Bartolomeu ainda vivo. Observa-se que nas fotos de família ao lado de Padre Cícero, o Doutor Floro não gostava de participar. Conhecemos Dele somente algumas fotos, como por exemplo: uma ao lado de Padre Peixoto, referente ao Jornal O Rebate; outras na frente de batalha, especificamente na Valado construído para se defender durante a Sedição de Juazeiro; além de fotos oficiais. Existia uma disputa em torno do núcleo Padre Cícero: Beata Mocinha (finanças), Benjamin Abrahão (secretário particular) e Floro Bartolomeu (política). Mas, na política, disputando o prestigio ciceriano como meios para obter outros fins, aconteceram: disputa entre José Marrrocos (falecido em 1910), Padre Peixoto e Floro Bartolomeu pela independência de Juazeiro e o seu primeiro prefeito; duelo de Floro Bartolomeu com Antônio Xavier pela indicação de deputado federal; confronto entre adventícios e filhos da Terra, ou melhor, de Doutor Floro com Geraldo da Cruz, da Farmácia dos Pobres; além de outros páreos. Como disse Lira Neto, no seu Livro sobre o velho Padre, na segunda parte denominada de "Espada", a disputa pelo cabedal de prestígio ciceriano foi intenso, como atesta também outras pesquisas publicadas em forma de livros.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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O CANGACEIRO SALAMANTA


Esse, foto abaixo, é um dos mais antigos e célebres personagens que durante muitos anos foi o motivo de muito medo na população da cidade de Paulo Afonso-BA. Eternizado com o vulgo de SALAMANTA ele era um cangaceiro de quase 2,0 metros, carrancudo, autoritário, temido e ao mesmo tempo respeitado. Seu jeito sério despertava atenção de quem o via. O Sr° Francisco quando em seu papel de cangaceiro SALAMANTA, incorporava completamente o espírito cangaceiro que o fez ficar conhecido em toda cidade. Ele foi juntamente com o Sr° Guilherme Luís dos Santos um dos fundadores do grupo em 1956.

(Quem tiver mais informações acerca do saudoso SALAMANTA ou histórias para contar sinta-se a vontade a partilhá-las conosco).

Fonte: facebook

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PORTA DA CELA ONDE FICOU PRESO O CANGACEIRO JARARACA (JOSÉ LEITE DE SANTANA) NA ANTIGA CADEIA PÚBLICA DE MOSSORÓ/RN.


PORTA DA CELA ONDE FICOU PRESO O CANGACEIRO JARARACA (JOSÉ LEITE DE SANTANA) NA ANTIGA CADEIA PÚBLICA DE MOSSORÓ, NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.

Lembrando que Jararaca foi baleado durante a tentativa de invasão à cidade de Mossoró/RN em 13 de junho de 1927 e preso no dia seguinte ao ocorrido.

No dia 18 de junho de 1927 Jararaca foi retirado de sua cela e conduzido até o cemitério local, onde foi morto e segundo consta teria sido enterrado ainda com vida.

Na cidade de Mossoró no estado do Rio Grande do Norte o destemido cangaceiro encontrou-se finalmente com o seu destino, tendo fim ali sua vida de crimes.

NAS QUEBRADAS DO SERTÃO...
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)
Fonte que eu adquiri: Facebook
Página: Geraldo Júnior‎ 
Grupo: O Cangaço

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O TEMPO

Por Carlos Drumond de Andrade

"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um individuo genial.

Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.

Para você, desejo o sonho realizado,
o amor esperado,
a esperança renovada.

Para você, desejo todas as cores desta vida,
todas as alegrias que puder sorrir,
todas as músicas que puder emocionar.

Para você, neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família seja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas...
Mas nada seria suficiente...

Então desejo apenas que você tenha muitos desejos,
desejos grandes.

E que eles possam mover você a cada minuto
ao rumo da sua felicidade."

Excelente  2016.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes

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CÂMARA CASCUDO


Enviado pelo professor escritor e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes

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MEMORIAL DO ESCRITOR E PESQUISADOR DO CANGAÇO ALCINO ALVES COSTA

Por Rangel Alves da Costa



MEMORIAL ALCINO ALVES COSTA - O SERTÃO TEM HISTÓRIA!
Rua Gustavo Melo, s/n, Poço Redondo/SE

Fonte: facebook

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CANGACEIRA E CANGACEIRÓLOGO JUNTOS


A lendária ex-cangaceira Adília, mulher do ex-cangaceiro Canário, já em idade avançada, ao lado do jornalista, escritor e pesquisador do cangaço João de Souza Lima da cidade de Paulo Afonso, no Estado da Bahia.

Fonte: facebook


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MAIS UM LIVRO SOBRE LAMPIÃO


Aqueles que quiserem adquirir o mesmo, entrar em contato com o autor pelo: 
E-mail tonisobrinho@uol.com.br
Por a página do Face book Antônio Corrêa Sobrinho
Com o Professor Francisco Pereira Lima pelo E-mail franpelima@bol.com.br ou por a página no Facebook Francisco Pereira Lima

O exemplar custa R$ 27,00 (vinte e sete reais)

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A PASSAGEM DA COLUNA PRESTES PELO RIO GRANDE DO NORTE - 27 DE DEZEMBRO DE 2015

Por Geraldo Maia do Nascimento

Em 29 de Janeiro de 1926, num dia de sexta-feira, Mossoró amanhecia em estado de alerta, pois notícias davam conta de que a coluna revolucionária chefiada por Luiz Carlos Prestes havia entrado em território potiguar e invadido a cidade de São Miguel, distante 240 km de Mossoró.
 

Apesar da distância entre uma cidade e outra, foi grande a confusão gerada com a notícia, resultando num verdadeiro êxodo dos mossoroenses, pois as notícias de maior divulgação diziam dos propósitos dos revolucionários em destruir propriedades privadas, trazendo terror às populações nordestinas. Desse modo a cidade ficou parcialmente deserta com a retirada de autoridades, comerciantes e famílias para Natal e outras localidades distantes.
               
A frente da Intendência mossoroense estava Rodolfo Fernandes, que havia tomado posse em 01 de janeiro daquele mesmo ano. Pelo impacto da notícia, a Intendência reunida tomou medidas e providências acauteladoras em defesa da cidade. Tudo, porém, não foi além do susto e do tumulto causado pelas notícias, já que os revoltosos, que além da Vila de São Miguel de Pau dos Ferros atacaram também a de Luís Gomes, retiraram-se logo após a invasão, penetrando no vizinho Estado da Paraíba.
               
A “Coluna Preste\" que, de 1925 a 1927 andou por todo o Brasil, cerca de 25.000 quilômetros, foi o ponto culminante de um movimento militar denominado de Tenentismo. Esse movimento armado visava derrubar as oligarquias que dominavam o país e, posteriormente, desenvolver um conjunto de reformas institucionais, com o intuito de eliminar os vícios da República Velha. Não conseguiu, no entanto, atrair a simpatia da opinião pública; apenas em algumas ocasiões cidades ou grupos de homens apoiaram o movimento e até mesmo passaram a integra-lo. A idéia de que o movimento cresceria em número e em força ao longo da marcha foi se desfazendo durante o trajeto na região nordeste. Num meio físico hostil, ilhada pelo latifúndio, não achou nas massas do interior o apoio necessário e alentador. Ao contrário, passou a ser o terror do sertanejo que via na passagem da Coluna apenas prejuízo e desgraça, pior ainda do que os inúmeros grupos de cangaceiros que assolavam o nordeste, pois a Coluna era composta por centenas de guerreiros bem treinados em batalhas e sob o comando de um mestre em guerrilha.
               
Acontece que além da questão política, estava a sobrevivência da tropa. Afinal, era um batalhão que estava em marcha, necessitando de víveres para seus integrantes. A solução era adquirir de uma maneira ou de outra nos lugares por onde passava, muitas vezes destruindo lavouras e abatendo gado e criações que iam encontrando ao longo do percurso.
               
A história da passagem da Coluna dos Revoltosos pelos lugares citados está fielmente contada pelo historiador Raimundo Nonato em livro com o título de “Os Revoltosos de São Miguel.” Foi também fartamente divilgada pela imprensa local. Este centenário jornal, em sua edição de 16 de fevereiro de 1926, trazia uma matéria intitulada “A Incursão dos Revoltosos”, onde tratava de dois fatos: o primeiro, cujo subtítulo era “Um Prisioneiro”, referia-se ao Tenente Fragoso, “desertor das hostes rebeldes”, que havia procurado as autoridades de Pau dos Ferros para se entregar, pedindo garantia as autoridades. O segundo fato, que trazia o subtítulo de “Êxodo”, fazia referência ao despovoamento de Mossoró com a notícia da aproximação dos revoltosos. Segundo a matéria, mais da metade da população havia abandonado a cidade. O jornal “O Nordeste”, que circulava em Mossoró naquela época, trazia nas primeiras páginas de sua edição de 20 de fevereiro de 1926, os títulos: “Os Rebeldes no Nordeste – O Rio Grande do Norte invadido – Mossoró ameaçada”. Dizia a matéria: “Quem diria fosse a Região Nordeste do Brasil invadida pela onda de rebeldes que se avolumaram no Sul do País, indo acossada pelas forças legalistas, até as fonteiras dos Estados do Prata? Não se esperava por essa odisseia terrível mas ela aconteceu...”
               
Não é nossa pretensão discutir aqui o projeto político que originou a Coluna Prestes nem o resultado obtido pela mesma em sua longa marcha. Queremos simplesmente retratar o fato histórico ocorrido aqui na região, mostrando que longe de atingir os seus objetivos, a “Coluna dos Revoltosos”, como ficou aqui conhecida, deixou um rastro de medo e destruição.
               
Para a história, o fato é recente, existindo ainda pessoas nos lugares por onde passou a Coluna, lúcidas o suficiente para depor sobre o ocorrido. 

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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento
Fontes:

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