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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O assalto ao trem pagador da Central do Brasil


Às 8h 30 min do dia 14 de junho de 1960, uma terça-feira, um número indeterminado de mascarados, armados de metralhadoras e revólveres de grosso calibre, no local denominado, popularmente, de "Curva da Morte", no quilômetro 71 da linha auxiliar da Central do Brasil, próxima à estação Japeri, realizou um dos mais audaciosos assaltos da crônica policial brasileira, o assalto ao trem pagador da Central do Brasil, ficando a ação, a partir dessa data, para sempre, no imaginário coletivo da maioria dos brasileiros. 
Esse trem levava o pagamento de mais de mil ferroviários dessa e outras estações, muito dinheiro àquela época, na verdade, uma fortuna. Todo esse dinheiro estava contido numa caixa de madeira, guardada pelo pagador Cícero de Carvalho e mais dois auxiliares. Para facilitar o ataque, os assaltantes dinamitaram os trilhos e fizeram descarrilar a locomotiva e o vagão. Entraram no trem disparando, levando, em poucos minutos, todo o dinheiro que se encontrava no vagão.
Esse assalto ao trem pagador da Central do Brasil surpreendeu até aos mais experientes policiais relacionados com tais tipos de crimes pela audácia e precisão. Da maneira como foi executado, não havia notícias no Brasil, não obstante a ocorrência de outros na mesma companhia, em 1948 e em 1954, ambos, porém, com modestas repercussões na opinião pública pelo pouco que representaram em termos de perdas monetárias.
Obviamente, a Central do Brasil, foi pega de surpresa, nunca passando pela cabeça de seus executivos que tal coisa pudesse acontecer. Tanto era verdade que o trem circulava todos os meses nos mesmos dias e horários e, exatamente, na mesma linha. Esse foi seu erro.
Tudo começara à altura do km 72 da linha auxiliar que levaria o trem rumo à estação de Japeri e Paes Leme, trem esse que estava levando o dinheiro – três vezes mais do que o de costume – com que pagaria, além do salário normal, mais dois meses de abono, decretado dias antes pelos diretores da Rede Ferroviária Federal. Tudo estava calmo e tranqüilo como sempre. Em um dos vagões, na realidade, no último, os funcionários encarregados do pagamento contavam e separavam o dinheiro do pagamento, que, ao invés de estar trancado dentro do cofre existente no vagão, estava em caixas e latas, segundo se soube depois, exatamente para facilitar o trabalho do pagador e de seu auxiliar.
Repentinamente, ouviram-se algumas explosões (não se soube quantas, variando segundo as fontes) seguidas de ruídos das rodas aparentemente descarriladas do trem pagador. Aos solavancos, a composição ia, aos poucos, parando, deixando perplexos, e sem saber o que acontecia os ocupantes, dos vagões do trem.
Tão logo o trem parou, uma voz imperiosa, forte, tonitruante, gritou, através de um megafone, no melhor estilo cinematográfico, aparentemente um pouco distante: "Isto é um assalto! Desçam já do trem! Se reagirem, serão mortos sem piedade." Paralelamente, ouviam-se tiros e mais tiros, enquanto as vozes se aproximavam do vagão onde se encontrava o dinheiro. O saldo do tiroteio: Eusébio Galvão, guarda-linha da Central, levou um tiro na boca; Sebastião Alvarenga Vale ficou ferido; Leonel Esteves tomou um tiro na coxa e Círio Antônio da Silva levou umas boas coronhadas. Leonel, segundo ele próprio diria mais tarde, assim que pulou do carro, levou um tiro na coxa e, com medo, escondeu-se perto dos trilhos, enquanto assistia a toda a cena. Segundo ele, devia haver uns seis assaltantes à vista; vira ele, também, um homem alto, negro, talvez com mais de 1, 80 de altura, parrudo, sotaque de nordestino, usando como máscara uma meia de mulher que lhe cobria o rosto, além de luvas pretas, que certamente era o líder, o que dava as ordens. Usando uma parabélum em cada mão, ele foi o primeiro a entrar no vagão do dinheiro (mais tarde diriam que foi o segundo). 


Seu auxiliar mais próximo, o segundo no comando, era magrinho, baixinho e muito nervoso; não se preocupou em esconder seu rosto, sempre repetindo que iria executar os trabalhadores, porque morto não falava. Foi ele que levou o pessoal do trem para perto de um barranco, repetindo sempre que iria matar todo o mundo, sendo impedido pela maioria dos companheiros. Dizia também que iria jogar bananas de dinamite na composição e mandar tudo pelos ares. Quando Leonel, escondido, ouviu essas ameaças, saiu de seu esconderijo, pedindo clemência, pelo amor de Deus, dizendo que não queria morrer. Ele pressentiu que seus dias haviam terminado; porém o chefe disse um "deixa pra lá", e fugiram carregando o dinheiro, que totalizava 27 milhões e 600 mil cruzeiros. Quando acordou, ele se encontrava em um quarto de hospital.
Círio, o das coronhadas, contou uma história semelhante; também ele se encontrava no vagão, quando os dois mascarados apareceram, um deles investindo contra ele, gritando que "muita gente vai morrer", desmaiando com as coronhadas. Eusébio Galvão, o do tiro na boca, entrou em estado de coma, conseguindo, todavia, sobreviver. Por azar, o único a morrer não era funcionário da Central do Brasil: o operário Francelino Correia, que viajava de carona, levou um tiro na testa e não resistiu, morrendo na hora.


Fonte:  

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

TONNI LIMA

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Vingança não pode ser considerada sagrada, porque a crença da culpa nos foi alimentada na alma.


Ao invés, poderia ser sopesada legítima defesa da honra?

Tonni Lima

Extraído do blog: frases subntendidaS


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CENTENÁRIO DO REI

Anastácia – Saudade Centenária – 2012


Anastácia – Saudade Centenária – 2012

“Anastácia, uma das maiores compositoras que o Brasil já teve. Junto com o Mestre Dominguinhos desenvolveu trabalhos inesquecíveis. 


Agora, já no início do ano ela lança seu trabalho em homenagem ao centenário da sua maior inspiração, Luiz Gonzaga. 


Um disco com apenas uma música, que podemos chamar de poesia declamada na voz inconfundível de Anastácia. Eu que não sou besta nem nada tive o privilégio de conhecê-la pessoalmente e de saber um pouco de sua história através do livro “Eu Sou Anastácia, histórias de uma Rainha” escrito por Lêda Dias. Vale a pena conferir esta grande homenagem ao nosso Rei do Baião, o maior pilar da música brasileira. 


Com sanfona de César do Acordeom, Guitarra e baixo de Eraldo Trajano (Lau) e percussão de Dido Batera, segue o primeiro trabalho do ano do centenário gonzagueano por Anastácia, Saudade Centenária de Anastácia e Liane.” (Palavras de: Jairo Melo – Vicência – PE)
Música
01 – Saudade Centenária (Anastácia e Liane)
(Contribuição: Jairo Melo – Vicência – PE)

Extraído do blog: Acorda Cordel


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João Firmino Cabral: Meio Século dedicado ao Cordel

Por: João de Sousa Lima
Na foto: João Lima, João Firmino e Érico Israel

João Firmino  Cabral tem sua história de vida dedicada ao cordel. Com 56 anos vivendo nas asas da poesia cordelista ele tornou-se um patrimônio da história sergipana e um dos baluartes do cordel.
para encontrar João em sua banca sempre cheia é só ir ao mercado público de Aracaju. Ele estará lá, recitando versos e autografando suas criações literárias.

 

As homenagens e o reconhecimento ao seu longo trabalho


A prefeitura de Aracaju reconhecendo o talento e a luta  de João Firmino em prol da cultura cordelista.


Um dos cordéis de autoria de João Firmino e um dos mais vendidos e conhecidos por quem admira a arte.

Extraído do blog do escritor e pesquisador do cangaço: 
João de Sousa Lima

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


Dividindo sentimentos (Poesia)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

Dividindo sentimentos
  

Não
não sofro sozinho
o meu amor divide
comigo a dor

não
não choro sozinho
minha amada vem
e no afeto em lencinho

não
não grito na solidão
a boca da minha amada
cala tudo com paixão

não
não vivo entristecido
tenho um sorriso ao lado
um alento enternecido

não
não duvido meu sofrer
é que ela sente a tristeza
e se divide no meu ser

não
não merecemos a dor
dói demais a angústia
esquecemos do amor.



Rangel Alves da Costa
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com 

Hoje na História - 10 de Outubro de 2009

Por: Geraldo Maia do Nascimento

A partir de 10 de outubro de1907, Mossoró passou a contar com mais um templo religioso, com a inauguração da 


Capela do Sagrado Coração de Jesus, obra meritória construída pelo Cel. Miguel Faustino do Monte, em cumprimento de promessa.


Todos os direitos reservados

É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Fonte:
http://www.blogdogemaia.com

DESEMBARGADORA NAILDE PINHEIRO

Retrospectiva: Uma filha de AURORA, uma estrela que brilha...

O Tribunal de Justiça escolheu sua mais nova Desemabrgadora pelo critério do Merecimento. Trata-se da Juíza de Direito Nailde Pinheiro Nogueira, que ocupará a vaga de João de Deus  Barros Bringel, aposentado no mês de março. A magistrada integrou a lista tríplice pela terceira vez consecutiva, tendo, assim assegurada a indicação para compor o TJ. Na votação, além de Nailde Pinheiro Nogueira, integraram a lista os juizes Suenon Bastos e Haroldo Máximo.
A nova Desemargadora nesceu no município de Aurora/CE, casada,foi graduada em Direito pela Universidade Federal do Ceará, em 1982, e pós-graduada, em nível de especialização, em Direito Processual Civil também pela UFC, em 2003. É autora do livro "O Direito Sucessório do Cônjuge e do Companheiro".
Antes de ingressar na Magistratura, exerceu o cargo de escrevente no  Cartório Miranda Bezerra (2ª Escrivania do Cível, Comércio e  Provedoria). Aprovada em concurso público, entrou para a Magistratura Cearense em 1º de setembro de 1986, exercendo suas atividades jurisdicionais no interior do Estado, nas Comarcas de Marco, Jucás e Icó. Respondeu ainda pelas Comarcas de Acaraú, Santana do Acaraú, Saboeiro e Orós.
Promovida para Fortaleza - Entrância Especial - em 1992, exerceu as atividades como Juíza Titular da 11ª Vara Criminal, transferindo-se para a 1ª Vara de Delitos de Tráfico e Uso de Substâncias Entorpecentes. Assumiu em seguida, a 20ª Vara de Família e Sucessões, transformada na 4ª Vara de Sucessões, onde exerce suas funções atualmente. Foi designada, ainda, para supervisionar o Centro de Treinamento Integrado - CTI - e para coordenar as Varas de Sucessões. Respondeu simultaneamente por diversas varas da Entrância Especial.
Exerceu atividades na 6ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais de Fortaleza e integrou na qualidade de membro julgador suplente, a Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional do Estado do Ceará - Cejai.
Na condição de Juíza Eleitoral, desempenhou as funções nas Comarcas de Marco, Acaraú, Jucás, Saboeiro, Icó e Orós, e, em Fortaleza,presidiu as juntas apuradoras vinculadas à 2ª Zona Eleitoral, nos pleitos de 1994, 1996, 1998, 2000 e 2002.Após ter exercido o cargo de juíza suplente de categoria de Juiz de Direito do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, assumiu por dois biênios seguidos o cargo de Juiz Efetivo do TRE, concluídos em janeiro de 2009.Foi nomeada, também, Juíza Coordenadora da Área de Direito Privado da Esmec- Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará.
No atual Tribunal de Justiça, Nailde Pinheiro Nogueira será a sexta mulher a compor o Colegiado, ao lado de Gizela Nunes, Edite Bringel, 

Iracema do Vale, Maria Sirene e Estela Brilhante.




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Depoimento de José Moura de Oliveira, o Seu Nôza, de Queimadas

Por: Rubens Antonio
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Depoimento de José Moura de Oliveira, o Seu Nôza, de Queimadas:



Eu nasci a 23 de fevereiro de 1925... Meu nome é José Moura de Oliveira, mas este quase ninguém conhece... Em Queimadas eu sou o “Seu Nôza”... É um apelido que minha irmã me deu, quando me viu, quando eu ainda era bebê. Ela vivia me chamando assim. As pessoas achavam engraçado e acabaram pegando... Ficou... pegou... O certo é que eu tinha quatro anos e dez meses quando as coisas que conto aconteceram... O que eu vi e lembro digo... O restante, fui ouvindo o que as pessoas que viveram me contavam... Como eu sabia ser algo importante... uma façanha... guardei bem na memória...Junta-se aí o que eu vivi, o que eu vi, com o que ouvi dos demais... O bando atravessou o Itapicuru na antiga passagem, que era bem perto do chalé do coletor João Lantyer... O rio estava muito cheio, e a travessia só podia ser feita de canoa... E foi por volta de dez e meia da manhã, quando entrou em Queimadas em ordem um grupo de uns quinze a vinte armados em formação. Pareciam ser uma volante, porque as volantes rodavam com roupas muito parecidas com as dos cangaceiros. Todos achavam que era volante mesmo, porque um comandante de volante tinha mandado avisar ao sargento Evaristo que estava vindo para almoçar com ele... Isto contado por Zumira Lantyer, irmã de João Lantyer, estava no chalé do irmão com outras amigas, ensaiando “As pastorinhas”... Quando ela viu esse grupo e as meninas correram a olhar e disseram a ela que era uma volante, o que ela contestou. Disse:

nosrevista.com.br

– Que nada! É Lampeão!
É que ela, dada a ver e ler revistas, já tinha visto imagem de Lampeão e do bando... E chamou a atenção das amigas pro menino que ia com eles... Apontou:
- Olha ali o menino!
Ela saiu rápido, avisando todo mundo que podia, mas ninguém acreditou nela... Todo mundo só dizia:
– Que nada! É a volante!
Imagina o desespero...
E o Lampião parecia conhecer muito bem a cidade... Foi direto ao objetivo, não se antes mandar dois cabras irem na estação ferroviária cortarem os fios da comunicação. E também pegar todo o dinheiro que havia lá... Eu tinha ido levar a comida do compadre da minha mãe, Maria Cecília de Oliveira, mais conhecida por Dona Marocas, que estava preso... Lá havia nove presos de Itiúba, pois ela pertencia a Queimadas... Itiúba era vila de Queimadas... O preso que eu ia levar comida todos os dias era de lá. E a minha casa era assim, bem de frente para o quartel. Havia dois presos que eram contratados da polícia mesmo, que haviam discutido com um homem aqui e matado ele na praça... E também um preso que era daqui de Queimadas, que matou um senhor da cidade... Este estava preso porque o senhor que ele matou havia bolido com uma menina da cidade, e a família tinha mandado ele para matar o homem... Acabou pego. Eu cheguei na porta do quartel e vi dois soldados no chão jogando um jogo que eles iam movendo umas pedrinhas e fazendo marquinhas do lado, para as pontuações. Eu estava ali, com a comida ainda, quando entrou Lampião... Lembro bem dele, do que aconteceu, de ter ouvido ele falar e o que falou... Não posso lhe dizer a cor da roupa que ele usava... porque eu só me lembro que fiquei impressionado com a quantidade de armas... e como ele trazia muita coisa carregando... Estava cheio de cartucheiras... Ele chegou e passou bem assim, entre eu e os soldados, na frente de uma fila. Fizeram uma volta no salão, contornando os soldados. Os soldados levantaram na hora e bateram continência, pensando também que era a visita que estavam esperando. Então foi só o tempo dele dizer:
– Baixem o braço, macacos, que eu sou o bandido Lampião!
Eu vi que tinha alguma coisa errada, pela cara dos soldados, e fui saindo. Olhei para trás e vi, lá no fundo, dois cangaceiros que entraram por trás, pelo fundo do quartel... Lampião olhou para eles e disse logo:
– Tudo em ordem!
Sinalizou com a mão, estendendo a palma... A situação estava dominada. Quando fui saindo... E vi que tinha mais cangaceiros do lado de fora, na frente do quartel... Um de cada lado da porta, apontando as armas para dentro, e um assim, abaixado, perto da janela, com um revolver na mão.
Quando eu cheguei no meio da rua, ouvi um apito e olhei para trás. Vi Lampião do lado de dentro da janela, meio abaixado, e percebi que ele é que tinha apitado para chamar os soldados... No final, ele tinha recolhido todo mundo... todos os soldados... e soltado os presos... O sargento Evaristo, muito boa pessoa, não estava ali de jeito nenhum... Chegou para ver quem tinha apitado chamando e foi preso. Eu cheguei em casa, e o meu pai estava falando para uma amiga da família que não tinha nada de Lampião ali... Que era a volante pernambucana que tinha ficado de vir almoçar na cidade. Eu, então, falei pro meu pai como foi que aconteceu. Mostrei imitando como os soldados bateram continência e o que Lampião disse.
Meu pai daí falou:
– Então estamos desgraçados, com os bandidos na praça...
Lampião disse para os cangaceiros:
– Perambulem e nada de desrespeitar as famílias! Digam a elas que o que fizerem eu garanto!
E teve o negócio engraçado do Zeca de Canju... Canju era o apelido da mãe dele... Avisaram a Zeca, que estava perto do rio, que os cangaceiros tinham chegado. e ele, sem saber que estava vindo pra eles, correu e entrou na cidade.
Um cangaceiro viu e pulou na frente dele:
– Tá indo aonde assim?
Ele tentou disfarçar e contou um caso besta pra explicar a pressa... O cangaceiro não enguliu e disse:
– Que nada! Vamos que você vai falar com o capitão!
Lampião encarou a coisa na boa. Ainda mais que Zeca de Canju começou a mostrar admiração verdadeira por ele. E começou a pergunar pelas armas e, finalemnte, como ele poderia fazer para ser um cangaceiro também.
– Mas você quer mesmo? perguntou Lampião.
E deu uma faca pro Zeca... que enfiou no cinto mal enfiada.
Lampião olhou e mostrou a ele como enfiar a faca certo. e disse:
– Se você enfia daquele jeito, dá tempo do cabra pegar você. Assim, como coloquei, você puxa rápido e bota na frente de quem está te atacando.
E o Zeca de Canju ficou acompanhando os cangaceiros pra lá e pra cá.
Depois, Lampião foi para a casa do juiz, o doutor Hilário... com quem ele fez poucas e boas, desmoralizando... e exigiu que ele fizesse uma lista com os nomes dos homens principais de Queimadas, escrevendo também quanto cada um deles teria que dar... E o juiz teve que chamar as pessoas em casa para entregar o dinheiro... Saiu o Alvarino, oficial da Justiça, para intimar as pessoas a comparecerem logo na casa do juiz...
O meu pai, escrivão estadual aqui, por nome Francisco de Moura e Silva... mais conhecido por Catita... teve que contribuir também...
Ele chegou para o meu pai e disse:
– O juiz escreveu que o senhor tem condição de dar 2 contos de réis...
O meu pai respondeu:
– Capitão... Não tenho essa soma não... O meu dinheiro é todo em mercadorias e trabalhos... Eu posso até fazer mais que isso, se tiver tempo... Eu respeito o juiz, mas eu não teria condição de dar o que ele escreveu aí, não
Ele disse:
– Não tem problema... Eu sei que preto só fala a verdade pela manhã e, com tanto bandido assim, por perto, esse juiz não vai falar a verdade e não é pra confiar, nem que fosse de madrugada... Eu não quero incomodar ninguém além das sua posses... Quero só aquilo que não cause constrangimento... O que o seu Catita tem pra mim? senhor pode me dar quinhentos mil réis?
– Quinhentos tenho em dinheiro sim, capitão!
Chamou, então, um amigo de meu pai, o Hermelino Barbosa de Souza... e disse que ele também estava anotado para dois contos de réis.
Ele disse:
– Capitão... Faça minhas as palavras de Catita...
Lampião respondeu:
– O senhor pode me dar oitocentos mil réis?
Hermelino concordou e o acerto foi feito. Eles saíram para buscar o dinheiro.
Quando meu pai entregou o dinheiro, Lampião disse:
– Seu Catita... Se por este dinheiro a sua família for sofrer algum constrangimento, pode tirar.
Meu pai disse que estava tudo bem. Acontece que os cangaceiros ficavam passeando pela cidade e deixavam sempre dois de guarda no quartel, revezando, cuidando dos soldados... Uns vigiavam enquanto os outros iam pegar seus dinheiros. Em uma casa, tinha a Santinha, que era bem nova e ingênua... Nem pensou e ficou usando umas jóias... ela estava com uma muito bonita, quando Mariano olhou e disse para ela que ela deveria dar aquela jóia para ele.


Ela disse que não podia dar.
Ele disse:
– Me dá que eu vou precisar porque vou encontrar uma mulher muito bonita e quero dar a ela.
Santinha disse:
– Esta jóia foi da minha bisavó... da minha avó... da minha mãe... agoa é minha... Não dou nem vendo... Mas se você me tomar, não posso fazer nada... e eu protejo minha consciência...
Mariano arrancou a jóia... que eu não sei como era, e disse:
– Olha... me diz uma pessoa na cidade que você não goste... O capitão disse pra não matar ninguém... mas eu posso matar sim... é só dizer que ela tentou me tomar a arma ou fazer algum mal... escolhe alguém que eu mato. Ela disse que se dava bem com todo mundo... Que não tinha porque mandar matar ninguém. Então, ela disse:
– Quando for sua vez de dar guarda, deixe os soldados fugirem... Vá com eles... Depois que os cangaceiros forem embora, volte... Eu lhe garanto. Meu marido pode. Tiro você dessa vida... e coloco na polícia.
Mariano disse:
– Senhora... Se isso acontecesse seria um sonho e tudo o que eu sempre quis... Não tem coisa melhor no mundo pra mim... Mas se eu fizer isso, a senhora não conhece o capitão... Pode ser que ele mate a população da cidade toda por causa disso,..
Então ela resolveu particularizar o caso e disse:
– O sargento é uma pessoa muito boa... muito religioso... É batista... irmão de fé... Quero que solte ele.
Mariano olhou e respondeu:
– Não posso garantir nada... mas vou ver se arranjo a coisa pra senhora.
Ele encontrou Lampião, chamou no canto e conversou com ele.
Lampeão disse:
– Mas, Mariano! Como é que você faz um acerto desses? Você sabe que eu não poupo macacos! Você sabe que os macacos mataram a minha mãe e o meu pai e ficaram soltos! Se tivessem pago, eu não teria tanta raiva assim! Se Deus permitisse que a minha mãe descesse dos céus e ela viesse vindo na estrada, na minha frente, e eu fosse atrás dela... e eu visse um macaco... eu passo por ela e eu vou lá matar ele antes de tomar a bênção dela! Foi até o canto, voltou–se e disse pra Mariano:
– Mas você, hein?
Ficou ali, pensando, depois disse que estava tudo certo, que ia poupar o sargento:
– Tá garantido! Se depender de mim, morre de velho!
Então, umas seis horas, ele pediu às pessoas que se protegessem atrás de paredes, porque não queria que, tendo pensado o que ia acontecer, pudesse algum civil se ferir... Ele mostrou esta preocupação com o pessoal... O problema dele era mesmo com a polícia... E ele foi até a prisão...
O sargento, liberado, sabendo o que ia acontecer, pediu:
– Capitão... Gostaria de sua permissão pra me afastar e não ver a morte dos meus soldados... Se não puder, queria que o senhor me matasse... e por primeiro... anets de todos eles.
Lampião olhou e mandou:
– Vá se embora!
Fizeram um anel assim, na saída, de uma janela a outra, na porta. E ele mandou sair o primeiro preso... Quando ele saiu, tinha aquele círculo de cangaceiros de frente pra porta... E ele disse:
– Tira a caneleira, aí!
Os soldados usavam umas caneleiras então... Ele baixou e levou um tiro na nuca...
Aí, Lampião dizia:
– Que venha outro!
O segundo ficou rogando pra não morrer, mas Lampião dizia:
– Tira a caneleira, macaco!
– Pelo amor de Deus! Não faça isso! Eu tenho filhos para criar!
– Tira a caneleira, macaco!
Aí, ele atirou. O tiro foi na boca do soldado que já caiu, na hora...
O meu pai me colocou pra dentro... Não era pra ver mais nada.
Os cangaceiros pegaram e colocaram ele assim, deitado do lado do outro... na calçada da prefeitura. E chama o terceiro:
– Venha outro!
Este terceiro criou problema... Era magrinho tuberculoso mas até que disposto... por nome Evaristo... Eu sei, hoje, que o nome dele não era Evaristo, mas, na época, eu achava que era, porque, quando eu fui lá, ele se identificou assim pra mim... e eu chamava ele por Evaristo... Ele até me chamava de Catitinha, por causa do meu pai. E foi este que quando Lampião mandou:
– Tira a caneleira!
Ele reagiu:
– Não tiro!
– Tira a caneleira, macaco!
– Não tiro! Não recebo ordem de bandido!
E começou a xingar Lampeão, chamando ele de froxo. Disse que ele não tinha mesmo coragem e que só pegando ele na traição pra ter vantagem... E pediu uma faca pra brigar com ele de igual... Até tabefe ele tentou dar em Lampião... Ele deu um jeito e pulou pra frente com uma disposição muito grande para dar a bofetada... Mas os cangaceiros seguraram ele, e um mandou um tiro que jogou o soldado no chão. Aí, o Volta–Seca pediu:


– Meu padrinho! Deixe eu sangrar esse, que é atrevido!
Lampião fez que sim, e Volta–Seca foi até ele e sangrou... Passou a faca...
Uns dizem que ele bebeu o sangue... outros que, quando acabou de sangrar os soldados, foi pegar a faca e lamber... Depois, dando uma de bom, em Salvador, já preso, disse por aí que não teve nada disto... Teve! Ele deu as facadas e meteu a boca onde o sangue saía e chupou! E lambeu! Tanto que vomitou três vezes... Uma no passeio do açougue... Outra em frente à igreja... A última vez foi no passeio do clube, hoje Avenida Nonato Marques....


José Moura de Oliveira - O "Seu Noza", de Queimadas
Foi aí que a minha irmã Judite deu um grito vendo a morte deste terceiro... Não suportou. Teve uma crise muito grande. O meu pai tirou ela e colocou pra dentro. O meu pai, o seu Catita, ele estava preparado, em casa, com uma malinche... Ele até tinha se preparado pra enfrentar e sair atrás dos cangaceiros... Então, se descobrissem, ele estaria perdido... E ele se revoltou tanto com o que estava vendo, que pegou a arma e avançou em direção à janela... Ele disse...
– Sou bom de tiro! Acerto esse Lampião daqui! Bandido infeliz! Eu mato esse bandido!
A minha mãe correu e segurou ele e a arma. E ela pediu pra ele não fazer aquilo. Ela, então, disse:
– Sei que você é bom de pontaria. Que pode acertar ele daqui e matar com um tiro. Mas e vai acontecer o que depois? Tem um monte de cangaceiros lá fora! Eles te matam e matam a mim e às crianças depois! Não tem como dar conta de todos! O meu pai ponderou, e entregou a malinche a ela. Depois da morte deste terceiro, bagunçou tudo... Foi um tumulto lá com os soldados, que gritavam desesperados. Não teve mais ordem e teve soldado ferido dentro do quartel mesmo. E ele matou os sete soldados... Só poupou o sargento Evaristo...
Na festa, podia dançar, mas não podia conversar. As moças ficavam ali, no canto... os cangaceiros podiam ir lá e tirar pra dançar... E dançavam sem abusar ou desrespeitar... Os da cidade convidados também tinham que ficar sem falar com elas... Só podiam dançar... Ficavam afastados. Teve coisa de Fé nessa da dança... Dona Anízia, filha de Hermelino Barbosa, fez promessa a São Geraldo, de rezar em família, se Lampião não mandasse buscar as moças da rua de cima para o baile... Se fosse dançar, que ficasse com as moças da rua de baixo... Quando foram buscar moças para dançar, um cabra de Lampião pegou um filho de Pedro Primo para ir buscar com ele as irmãs... na rua de cima... No caminho, ele perguntou se era longe... Eles estavam já bem na frente da igreja, pertinho da casa, e o jovem falou isso... mas o cangaceiro olhou e disse:
- Deixa lá que é muito longe... - e voltou.
O interessante é que, depois, esse mesmo cangaceiro foi buscar uma moça no Alto da Jacobina... Era três vezes mais longe e com subida... E foi lá com um primo da moça pegar ela... Lampião disse que não tinha medo da polícia, porque os macacos tinham medo dele.
– Quando me vêem tremem tanto pra dar tiro que é só tiro pro céu e tiro por chão... e ficam só no céu! chão! céu! chão! céu! chão! E eu miro bem certinho dentro deles.
A essa altura, já tinha gente ido até a próxima estação e mandado aviso que Lampião estava saqueado Queimadas... O seu Golveia, coitado, mestre de linha da Leste, sofria de artrose nos joelhos e tinha dificuldade de andar... Ele estava indo para a casa do juiz, quando topou com um cabra de Lampião, que pediu dinheiro... Ele disse que estava sem nada, pois estava somente indo visitar um amigo... O cangaceiro mandou ele ir em casa buscar e foi para o otruo lado... Ele foi agé a estação e foi o mais rápido que pode, coitado, até Várzea do Curral... São seis quilômetros... Lá estavam trabalhadores fazendo reparos na linha... Ele praticamente desmaiou quando chegou lá... Foi colocado num troiler e levado até Santa Luzia... Golveia, aí, avisou todos lá do que estava acontecendo... Avisaram todos por morse... A polícia organizou uma classe de 52 soldados... e tocaram pra cá.
De madrugada, Lampião chamou todos os cangaceiros e o bando ia partindo, quando ele olhou para Zeca de Canju e viu que ele estava assim, mais quieto... perguntou o que estava acontecendo.
Ele disse que estava pesnando melhor e que, quando se viu partindo, pensou como ia fazer com a mãe dele... que precisava muito dele, filho único, para cuidar... E que isso o entristecia. Lampião, então, autorizou ele a partir... Imagina... Zeca de Canju tinha mais onze irmãos...
E o bando sai da cidade... Um vaqueiro, que não sei mais o nome, ouviu quando Lampião falou...
- Que cidade feiticeira!
Interrogado pelos cabras, ele disse:
– Vim pegar o leite e esqueci da vaca!
Os cangaceiros, estranhando, perguntaram o que era e ele disse:
– Esqueci a Coletoria!
Eles se olharam e disseram:
– A gente volta!
Lampião fez que não. Disse que nunca tinha voltado pra um lugar, depois de ter saído dele. Os cangaceiros deram idéias.
- Capitão. Pra ir buscar o dinheiro na Coletoria, não precisam ir todos. O senhor escolhe três que irão com o canoeiro à casa do coletor... e trarão o dinheiro... Isto não é voltar...
Lampião, apeado do cavalo, ficou assim, com um braço sobre a sela, pensando. Sendo fim de mês, todos sabiam que a Coletoria devia estar com as burras cheias... Andou um pouco. Ficou de cócoras... pensando... rabiscando um pouco no chão... Levantou–se e colocou a mão no queixo. Antes dele falar qualquer coisa, o trem chegando apitou. Aí disse:
– Munta todo mundo! Ali pode vir macacos. Simbora!
Teve também coisa de Fé em Cristo, envolvida no episódio... A minha mãe, dona Maria Cecilia de Oliveira Moura, mais conhecida por dona Marocas, ao ouvir a minha afirmativa da presença de Lampião na cidade, fez uma promessa à Imaculada Conceição... que se Lampião esquecesse da Coletoria, que o meu pai era responsável, todo sábado ela rezaria em família, em sua honra, o Ofício da Imaculada Conceição... Acontece que, naquele tempo, se o dinheiro fosse roubado, o responsável, que era em Queimadas, o meu pai... tinha que devolver tudo...
Lampeão continuo seguindo... Chegou lá adiante, na Fazenda Marizinho, a uns três quilômetros de distancia, Lampião parou um vaqueiro e mandou:
– Vá em Queimadas e diga que os cangaceiros ficaram aqui, e estão bêbados dormindo em "baijo" dessa cajazeira...
E preparou uma armadilha. Era uma cilada.
O vaqueiro veio e disse ao tenente aquilo que ele tinha dito, mas disse que os cangaceiros estavam memso muito bêbados e que só Lampião estava sóbrio.
Os soldados cercaram o tenente Geminiano, pedindo pra ir atrás dos cangaceiros... Tinham ali a informação.... E o tenente foi ficando nervoso, perdendo o controle... Então... ele defecou... Foi algo que comentaram muito depois... Não que ele fosse covarde, mas a pressão fez ele ficar com medo e aconteceu aquilo... Tiveram que socorrer ele... e acalmar... e limpar... Tiveram mesmo que dar uma limpeza na roupa e nele. Quando ele se recuperou, disse que não autorizava a perseguição, porque tinham era que proteger a cidade de Santa Luzia, que Lampião poderia estar indo para lá... Tinham que organizar a defesa.
Os soldados, quando ouviram isso, com o corpo dos companheiros ali, ficaram com muita raiva, chorando mesmo... Foi uma comoção muito grande. Por causa disso, veio uma determinação depois da Secretaria de Polícia... dizendo que em caso de negativa de oficial combater, se houvesse soldados dispostos, que se agrupassem em torno do mais antigo e partissem. O sargento Evaristo ficou muito abalado... Muito mesmo... Cabisbaixo o tempo todo... e era um homem tão bom... Eu, da janela, vi só a confusão de gente lá de pé, perto de onde estavam os corpos dos soldados. O sargento Evaristo chegou a ser expulso da Polícia... Acusaram ele de ter favorecido Lampeão... De ter feito acordo com os cangaceiros... e traído os soldados... Mas ele questionou e o caso foi rejulgado... e ele foi inocentado e muito elogiado... Lampião tinha dito que ele ia morrer de velho... Pois ele foi, depois, para Santaluz, onde abriu um comércio e morreu mesmo... de velho...

Enviado pelo professor Rubens Antonio

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30 de abril de 1926, no “A Tarde”

Por: Rubens Antonio
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UMA CARTA DE “LAMPEÃO”
  
Como documento curioso, vale divulgada a seguinte carta escripta pelo celebre “Lampeão” ao sargento commandante do destacamento de Joazeiro, no Ceará:


“Ilmo. sr. José Antonio. Eu lhe faço esta, até não devia me sujeitar a te escrever, porém, sempre mando te avisar, pois, eu soube que vc., no dia que eu cheguei ahi na fazenda vc., esteve prompto para vir me voltar porém, eu sempre lhe digo que você crie juizo, e deixe de violencias, a pois eu venho chamado é por homem, e mesmo assim, vc. com zuada não me faz medo. Eu tenho visto, é, coisa forte, e não me assombra, por tanto vc. deve tratar de fazer amigos não para fazer como vc. diz., sempre lhe aviso, que é para depois vc. não se arrepender e nada mais, não se zangue, isto é um conselho que lhe dou. – Do capitão VIRGOLINO PEREIRA DA SILVA.”
* Copiado corretamente - O jornal colocou "Virgolino Pereira da Silva" na sua transcrição.

Fonte:
http://cangaconabahia.blogspot.com/

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Enviado por Magnólia Fiúza Menezes

O cangaço e os Canudos

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Os Canudos 

A chamada Guerra de Canudos, revolução de Canudos ou insurreição de Canudos, foi o confronto entre um movimento popular de fundo sócio-religioso e o Exército da República, que durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior do estado da Bahia, no Brasil. 

O episódio foi fruto de uma série de fatores como a grave crise econômica e social em que encontrava a região à época, historicamente caracterizada pela presença de latifúndios improdutivos, situação essa agravada pela ocorrência de secas cíclicas, de desemprego crônico; pela crença numa salvação milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclusão econômica e social.

Inicialmente, em Canudos, os sertanejos não contestavam o regime republicano recém-adotado no país; houve apenas mobilizações esporádicas contra a municipalização da cobrança de impostos. A imprensa, o clero e os latifundiários da região incomodaram-se com uma nova cidade independente e com a constante migração de pessoas e valores para aquele novo local passaram a acusá-los disso, ganhando, desse modo, o apoio da opinião pública do país para justificar a guerra movida contra o arraial de Canudos e os seus habitantes.

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Aos poucos, construiu-se em torno de Antônio Conselheiro e seus adeptos uma imagem equivocada de que todos eram "perigosos monarquistas" a serviço de potências estrangeiras, querendo restaurar no país o regime imperial, devido, entre outros ao fato de o Exército Brasileiro sair derrotado em três expedições, incluindo uma comandada pelo


Coronel Antônio Moreira César, também conhecido como "corta-cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem pessoas na repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina, expedição que contou com mais de mil homens. A derrota das tropas do Exército nas primeiras expedições contra o povoado apavorou o país, e deu legitimidade para a perpetração deste massacre que culminou com a morte de mais de seis mil sertanejos. Todas as casas foram queimadas e destruídas.

Os Cangaceiros

O Cangaço foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao início do século XX. O cangaço tem suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, seqüestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo.




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MEU PRIMO APOYAN (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

MEU PRIMO APOYAN

Sempre achei o nome do meu primo bonito, diferente, agradável de ser pronunciado. Apoyan. Nunca soube ao certo o significado nem nunca perguntei a ele ou a ninguém. O dono do nome guardava segredo e se perguntado apenas olhava para o alto com os olhos brilhando.

A última vez que avistei o meu primo foi há mais de mil anos. Talvez um pouco mais que isso. Apenas avistei ao longe, voando sobre a montanha alta onde fazia moradia dentro de uma caverna. Ele voava sim de vez em quando, tendo asas nos olhos e no ceu da boca. Também era vento quando queria, pois possuía uma janela aberta bem perto do coração.

Pouco antes desse último avistamento ele havia descido descalço a montanha, passando sem sentir dor alguma por cima de espinhos e pontas afiadas de pedras, e encontrado comigo num vale lá embaixo. Eu pastoreava um pequeno rebanho de ovelhas e havia parado para saciar a sede num pequeno rio de água cristalina.

Avistei- no espelho da água enquanto estava agachado fazendo de cuia as duas mãos. Ele ainda vinha um pouco distante, mas o seu rosto já refletia no espelho molhado. Olhos de profeta, rosto de sábio, sorriso enigmático, sempre misterioso meu primo Apoyan. O cristalino da água parecia se encantar com a sua presença.

Também ouvi sua voz quase silenciosa pertinho de mim, ao lado do meu ouvido, mesmo que ele estivesse de boca fechada e lentamente caminhando em minha direção. Talvez simplesmente levitasse no seu passo. O que a voz dizia? Simplesmente: Meu parente, sua sede é menos de água do que de compreensão das coisas que saciam a vida.

Voltei a cabeça, olhei pra trás, e já o encontrei a pouca distância, vindo, chegando feito brisa, amparado no seu cajado. Não precisava de cajado, eu bem sabia disso. Não vacilava na locomoção, não precisava espantar animais no caminho nem afastar incômodos. Tudo esperava contente e respeitava a sua passagem. Somente depois pude descobrir a serventia desse cajado.

Não era velho nem novo, não se podia sequer imaginar uma idade para quem parece ter nascido para viver eternamente. Possuía vigor físico e saúde, tudo regrado a uma dieta de folhas orvalhadas. Nesse alimento estava o sólido e o líquido, segundo ele, e por isso mesmo não colocava na boca mais nada na vida. Como só se alimentava ao amanhecer, quando sentia fome molhava o lábio com a seiva das flores silvestres.

Primo, mas que bom te ver, disse ele. Ainda estava de cócoras à beira do estreito rio, mas nem pude levantar porque pediu para que eu ficasse onde estava e como estava. Achei estranhei porque não me sentia bem falando com alguém estando de costas, ademais precisava levantar para dar um longo e apertado abraço.

Fique onde está primo, por favor fique onde está que já estarei diante de ti. Disse ele. E num segundo já estava sentado, à moda dos indianos, por cima da lâmina azul de água. Que belo e franco sorriso, num rosto que não mostrava nem rugas nem outras marcas próprias da idade, mas tão-somente uma serenidade juvenil que me encantava e enternecia.

Mas primo, quando o encontrei pela última vez já estava muito mais velho e agora se apresenta diante de mim com esse aspecto jovial todo. O que aconteceu com você primo Apoyan? Perguntei sem ter a certeza que seria uma boa pergunta, mas no estado que estava não poderia pensar em algo mais inteligente.

E após ouvir minha pergunta ele sorriu e fez o que eu jamais poderia imaginar. Eis que num instante retomou uma face envelhecida, com longa barba toda branquinha e um semblante digno dos magos e profetas que tanto se vê em filmes. E agora primo, agora estou à altura do que esperava me encontrar?

Guardei um profundo e respeitoso silêncio. Não sabia mais o que dizer diante daquela situação. Então foi ele que, continuando com a mesma feição envelhecida, me instigou a falar e perguntou se eu não pensava em perguntar o porquê de seu nome e do seu cajado.

Apenas balancei levemente a cabeça confirmando que sim. E então ele levantou, depois desceu na água até a cintura, e disse:

“Se você me conhece como Apoyan, então o meu nome é Apoyan. O pássaro me chama de grão, a pedra me chama de palavra, a chuva me chama de nuvem. Então, primo, que nome terei? Prefiro ter o teu nome. O teu nome é o mais belo e doce da vida. Haverá nome mais bonito que Jesus? Você me empresta o teu nome?”.

Mas respondi que o meu nome era João, não era Jesus. Então ele disse que tomaria assim mesmo o meu nome por Jesus. E esse seria o nome que usaria por um bom tempo, até que eu o recolhesse de volta ao meu coração.

E sobre o cajado? Perguntei. Era apenas um presente que há muito eu guardava para te dar e assim guiar melhor teu rebanho, principalmente quando as ovelhas não quiserem acreditar que existe um Jesus no coração desse bom pastor.


Rangel Alves da Costa*
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com