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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

UMA PONTA NEGRA QUE NÃO VOLTA MAIS

Por: Rostand Medeiros
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Para voltar a ser o que Ponta Negra era só um tsunami daqueles grandes, de lavar atá a corrupção dos políticos potiguares.
Praia de Ponta Negra em 1955 - Fonte - IBGE
O problema é que merda boia.

Um abraço a todos.
Rostand Medeiros
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Um homem chamado Jaime Hipólito Dantas

Por: Thaisa Mendonça

Toda pesquisa histórica nasce de uma inquietação, é, portanto, fruto de uma hipótese que será ou não confirmada pela investigação das fontes, pelo desenvolvimento dos trabalhos do pesquisador.


Jaime Hipólito despertou minha atenção principalmente pela sua trajetória de vida, bem como pelo fato dele ter sido um jornalista contestador e irreverente. Um seridoense de Caicó que migrou para Mossoró ainda criança junto com os pais, Eufrásia Dantas de Medeiros e Raimundo Hipólito de Medeiros, que era caixeiro viajante. Sendo assim, acreditamos que sua ida para Mossoró ocorreu devido ao fato do seu pai ter que deslocar-se constantemente, em virtude de sua profissão.

Ele foi um dos jornalistas de maior destaque da cidade de Mossoró,


teve sua formação primária no Grupo Escolar Moreira Dias


e Grupo Escolar 30 de Setembro,

cursou o técnico em contabilidade na Escola de Comércio União Caixeral, todas instituições de Mossoró.

Edíficio da União Caixeiral, 1954
Foto do acervo do jornalista Geraldo Maia
http://www.blogdogemaia.com/

Também foi graduado em Ciências Jurídicas na primeira turma da faculdade de Direito de Natal, em 1959.

Atuou na década de 50 como diretor e apresentador do programa O Prato do Dia, da então Rádio Tapuyo. Ainda em Mossoró, foi professor de Economia Política, Estenografia e Português na mesma escola que estudou (a Escola de Comércio União Caixeral). Lecionou as disciplinas de Literatura Inglesa, Literatura Americana, Instituições do Direito Público, História do Pensamento Econômico, Estudo de Problemas Brasileiros e Direito Penal.            

Como escritor e contista, conquistou algumas premiações, vencendo os seguintes concursos: Concurso de contos promovido pela revista A Cigarra (Rio de Janeiro) no ano de 1955, Concurso Nacional de Crônicas, cujo tema foi “o livro”, promovido pelo jornal O Globo e o Concurso Nacional de Contos, patrocinado pela Secretaria de Cultura da prefeitura da cidade de Franca, em São Paulo, no ano de 1987. Produziu as seguintes publicações: A imprensa em Mossoró (1958), O Aprendiz de Camelô (1962), O Livro da velhice de Grieco (1972), Estórias Gerais (1986), Antônio Pinto de Medeiros (1991) e De Autores e de Livros (1992). À nível nacional, Jaime Hipólito teve alguns de seus poemas inclusos em três antologias: Contos Jovens nº 5 (Brasiliense, São Paulo, 1974), Os Melhores Contos Brasileiros de 1974, organizada pela editora Globo (Porto Alegre, 1975) e Contos Jovens (Brasiliense, São Paulo, 1987).

Em Natal, Jaime Hipólito foi também reconhecido e teve seu nome incluído entre os cinco maiores contistas do Rio Grande do Norte, além de ter sido citado entre os 400 nomes de Natal , em uma publicação organizada pela jornalista Rejane Cardoso, esposa de um de seus colegas de profissão e também seu admirador, o jornalista e escritor Vicente Serejo. Este trabalho foi fruto das comemorações organizadas pela prefeitura da cidade em virtude dos seus 400 anos.

Jaime Hipólito mudou-se para Natal em meados da década de 80. Na capital potiguar, ele atuou na coluna semanal Conversa de Domingo, do jornal Tribuna do Norte. No entanto, ele não teve tempo de consolidar-se como jornalista na cidade, visto que, no ano de 1992, ele faleceu vítima de um infarto.

Embora não seja muito conhecido do grande público, Jaime Hipólito Dantas foi e é muito respeitado no meio intelectual norte-rio-grandense. Falar de Jaime Hipólito Dantas é, ao mesmo tempo, fácil e difícil. Fácil, pois sua estória de vida é repleta de fatos interessantes, que nos renderiam diversos artigos. A parte difícil é o fato dele ter sido uma pessoa complexa, um enigma até mesmo para os amigos mais próximos.

Talvez seu maior objetivo na vida tenha sido o de consolidar-se enquanto intelectual, uma pessoa que desejava obter um reconhecimento por seu trabalho. E conseguiu...
Nota*Jaime Hipólito Dantas foi o objeto de pesquisa da minha monografia, defendida em 2009, com o título "Um mossoroense de fora: Jaime Hipólito Dantas como um representante do País de Mossoró", sob a orientação do professor Dr Renato Amado Peixoto, do Departamento de História da UFRN.

Extraído do Blog: "Natal Viva"
Thaisa mendonça

A Estrada de Ferro de Mossoró - 07 de Junho de 2009

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Em 26 de agosto de 1875 era dada a concessão, através da Lei nº 742, da Presidência da Província do Rio Grande do Norte, ao comerciante suiço Jonh Ulrich Graff, para a construção de uma estrada de ferro ligando Mossoró a Petrolina, na Bahia. Mas por falta de recursos, o projeto caducou. Graff chegou a criar uma empresa e oferecer cotas às pessoas de recursos, como se dizia naquela época, aqui residentes. Mas não conseguiu o suficiente para viabilizar o projeto. Entendia Graff que o progresso de Mossoró dependia da velocidade com que conseguisse importar e exportar os seus produtos. A tropa de burros, que até então transportava as mercadorias, já não era suficiente para atender a um mercado crescente como o de Mossoró, que naquela época era tida como empório comercial.
Fazia-se mister a construção de uma ferrovia, que entre outros benefícios, baratearia os fretes e diminuiria o tempo de transporte. 
Quase quarenta anos depois o sonho de Urich Graf começava a se realizar. Outros passaram a ter o mesmo sonho, e como diz o ditado, “sonho que se sonha só é apenas sonho, mas sonho que se sonha unido é realidade”. E esse novo sonho se concretizou com a Companhia Estrada de Ferro de Mossoró S. A, que foi iniciada pela firma Sabóia de Albuquerque & Cia. em 31 de agosto de 1912. Em 19 de março de 1915, numa Sexta-feira, era inaugurada oficialmente o seu primeiro trecho, entre Porto Franco, em Areia Branca e Mossoró.
Esse sonho era compartilhado por toda Mossoró por isso, quando a locomotiva “Alberto Maranhão” chegou à Estação, foi recebida com aplauso. Na plataforma do carro-chefe da composição, viajavam: João Tomé de Sabóia, Cel. Vicente Sabóia de Albuquerque, Farmacêutico Jerônimo Rosado, Camilo Filgueira, Rodolfo Fernandes, Cel. Bento Praxedes, Vicente Carlos de Sabóia Filho, além do mais velho habitante da cidade, o Sr. Quintiniano Fraga, que ostentava o pavilhão nacional. Aquele 19 de março foi realmente uma data muito importante para Mossoró. 
O trecho Porto Franco a Mossoró estava pronto e inaugurado, naquele 19 de março de 1915; mas era só o começo. A partir daquela data, estava aberta a luta pelo prolongamento da Estrada de Ferro, cujos trilhos levariam ainda outros longos 30 anos para fazerem ligação com a Rede Viação Cearense, na cidade de Souza, na Paraíba.
O tempo que Mossoró levou para concluir a sua Estrada de Ferro foi muito longo e quando finalmente ficou pronta, os objetivos dos primeiros tempos já não poderiam mais serem alcançados. O caminhão já havia invadido as estradas, e com ele o trem não podia competir, nem em velocidade nem em tempo. 
Apesar de tudo, a ferrovia foi de muita utilidade para Mossoró, sendo, por longo tempo, o meio de transporte mais utilizado pela população, tanto para carga como para passageiros. 
Hoje, ninguém fala mais daquele 19 de março de 1915, que tanto orgulho deu ao povo de Mossoró. A Estrada de Ferro que fora inaugurada naquela data, já não existe mais. A estação de embarque, transformou-se em Estação das Artes; seus trilhos foram arrancados em grandes trechos, suas oficinas estão em ruínas e das locomotivas, que antes cortavam a cidade, não se tem mais notícias.
A velha \"Maria Fumaça” desapareceu para sempre nas nuvens do esquecimento. Apenas alguns quadros, pendurados nas paredes do museu, lembram da data que pela primeira vez o progresso chegava a Mossoró. 
Para conhecer mais sobre a história de Mossoró consulte o blog: http://www.blogdogemaia.com/. 

Geraldo Maia do Nascimento
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Fideralina na Assembléia Legislativo do Ceará

Fideralina,  a matriarca dos Augusto

A Assembleia Legislativa foi espaço, na noite da última sexta-feira (25/11), de destaque para a cultura e para a memória da política cearense, com sessão solene que lançou o documentário “O Poder Político de Fideralina Augusto Lima e seus Descendentes”, produzido pela TV Assembleia (canal 30). O filme foi exibido para convidados no Plenário 13 de Maio. O presidente da Casa, deputado Roberto Cláudio (PSB), registrou sua gratidão a todos os envolvidos na construção do documentário, em especial à equipe do núcleo de documentários da emissora, coordenada por Ângela Gurgel, lembrando que a ideia para a produção surgiu de uma provocação de Melquíades Pinto Paiva, trineto de Fideralina.
 
“Em 2009, quando estava sendo entrevistado para outro documentário da TV Assembleia, Melquíades sugeriu ao núcleo que estudasse e entendesse melhor a história de Fideralina, nascida no município de Lavras da Mangabeira e tida como um verdadeiro coronel do sertão”, explicou. O filme vem para exteriorizar a história de uma cearense guerreira, diferente das outras mulheres de seu tempo e capaz de unir, mais de 160 anos após seu nascimento, quase cem descendentes seus para assistirem a um documentário sobre sua vida e sobre a história política do Estado.

 
O Presidente da Assembléia, deputado Roberto Cláudio destacou ainda o papel que o deputado Heitor Férrer (PDT) exerce no Parlamento e no tema da produção, ressaltando que o pedetista é apaixonado pela trajetória de vida de Fideralina e pela família Augusto. “Ele sempre lembra que a Assembleia tem, nesse momento, dois deputados lavrenses, ele e Danniel Oliveira (PMDB), e um deputado meio lavrense, que sou eu, pois sou neto de um Prisco Bezerra, também nascido naquele município”, acrescentou o presidente.
 
Ele salientou que este fato acabou fazendo com que a Casa realizasse uma sessão itinerante em Lavras, quando teve o prazer de visitar a obra feita na residência de Fideralina, que Heitor Férrer comprou e recuperou, preservando sua memória. “Um de seus desejos com esta obra, além de estabelecer o museu, é que a casa sirva de hospedaria para quantos descendentes tiverem curiosidade de visitar Lavras da Mangabeira e conhecer sua história. Ele é o deputado mais associado à história de Fideralina Augusto”, complementou, informando que, ontem, o Ministério da Educação (MEC) solicitou acesso aos documentários da TV Assembleia para uso educativo.
 
De acordo com Heitor, o documentário não teria saído se não fossem as contribuições de Vicente Ferrer Augusto Gonçalves, que é colecionador da história de Lavras da Mangabeira; Rejane Augusto Gonçalves, trineta da homenageada, e Eduardo Augusto de Oliveira, historiador e escritor.
 
“A história desta mulher é empolgante. Recebi um texto de Dimas Macedo, professor, procurador e poeta, em que ele diz que eu pertenço a todas as famílias daquele município. E nessa conjunção de famílias, existe uma matriarca que, obviamente, tem uma história pela qual passa a história do Ceará. Esta mulher é Fideralina Augusto, da qual sou descendente”, afirmou o deputado Heitor Ferrer.

Fonte:

Cangaceiro Sinhô Pereira

 
Iniciou-se o cangaço como volante. Em 1914. O mentor e líder era Sebastião Pereira da Silva, conhecido como “Sinhô Pereira”. Nasceu em Serra Talhada-PE, a 20 de janeiro de 1896. Apelidado “Demônio do Sertão” pelos populares, por ser um rei nas estratégias de guerrilhas pela caatinga. Por várias vezes foi cercado pela polícia, e conseguia escapar. Era um homem do bem, embora justiceiro popular, pela via da violência. A época era assim, a justiça era feita pelas próprias mãos.
Era sobrinho neto do coronel Andrelino Pereira da Silva, o Barão do Pajeú, primeiro intendente (prefeito) da Vila Bela (Estado do Pernambuco). Também sobrinho do Padre Pereira e filho de Manuel Pereira da Silva. A tradicional família “Pereira”.
A entrada do jovem Sebastião para o cangaço teve início em rixas e mortes entre “Os Pereiras” e “Os Carvalhos”. No livro “Sinhô Pereira: o comandante de Lampião”, de autoria de Nertan Macedo, publicado em 1980, a descrição:
- Manoel Pereira da Silva era irmão do Barão do Pajeú, e pai de outro Manoel – Manoel Pereira da Silva Jacobina (Padre Pereira). Manoel (pai) sempre sonhou em ver o filho padre. Mandou-o, como era de uso no tempo, estudar no Seminário de Olinda. Manoel permaneceu algum tempo de batina, derramado sobre o seu latim, mas terminou voltando para o Sertão, sem ser ordenado. Restou a Manoel o apelido de Padre Pereira.
Padre Pereira era do bem, mas por assumir a liderança política “dos Pereiras” passou a ser o mais odiado “pelos Carvalhos” (família rival). Aos 72 anos de idade, foi vítima de uma emboscada e atingido por um tiro do jagunço Luís de França, a mando da família rival.
Seu filho Luís Pereira da Silva Jacobina, apelidado Luís Padre, tinha 17 anos de idade na ocasião da morte do seu pai. A esposa do Padre Pereira, Dona Chiquinha exigiu, por questão de honra, a vingança da morte do marido. Luís Padre muito novo, não estava preparado para a missão. Pediu ajuda ao primo Né Pereira (ou Né Dadu), irmão de Sinhô Pereira. Foram escolhidos Joaquim Nogueira de Carvalho e Eustáquio Bernardino de Carvalho para serem assassinados. Assim ocorreu.
Dias depois, Né Pereira foi assassinado “pelos Carvalhos”. Aí entra na história Sinhô Pereira, que se juntou ao primo Luís Padre, no desejo de vingar a morte do seu irmão e do seu tio.  Logo os dois jovens (Luís Padre com 24 anos e Sinhô Pereira com 20 anos), mataram Luís de França, assassino de Padre Pereira. E com espírito de guerra, formaram um grupo de jagunços que passou a ser volante, andando com cangas para levar utensílios. Daí o apelido cangaceiros. Guerrearam por muitos anos.
Em 1918, Sinhô Pereira e Luís Padre resolveram recomeçar a vida e deixaram o cangaço. Alguns historiadores afirmam que eles haviam atendido a um pedido de Padre Cícero, enviado numa carta endereçada ao Sinhô Pereira, em que o sacerdote pedia que os primos deixassem a região, que vivia em clima de guerra e medo. O sacerdote cearense ao receber a resposta favorável, enviou outra carta para Padre Castro, no município de Pedro II (Estado do Piauí), pedindo ao vigário que os recebesse e os encaminhasse para o Maranhão, para as terras do Barão de Santa Filomena, que morava no Estado do Piauí, e do Marquês de Paranaguá (Estado do Piauí).
Mas os primos escolheram o Estado de Goiás. Do município de José do Belmonte-PE vieram em direção ao Estado do Piauí. Em Simões-PI, a caminho de Pedro II-PI, foram perseguidos e mudaram de rumo. Por questões de estratégia militar se separaram. Montados a cavalos, acompanhados de 6 cangaceiros.
Luís Padre ficou com 2 cangaceiros e rumou Uruçuí-PI  (hoje município). Já Sinhô Pereira ficou com 4 cangaceiros (“Cacheado”, “Coqueiro”, “Raimundo Morais” e “Gato”), rumou Corrente-PI (hoje município). Passou por São Raimundo Nonato-PI e chegou a Caracol - PI (hoje município). O próximo destino seria Parnaguá-PI.  Mas foi cercado pela polícia do Piauí, em Caracol – PI. Isso em dezembro de 1918. Era comandada a força policial pelo tenente Zeca Rubens. Um contingente de 20 soldados. E ainda mais de 40 populares. Sinhô Pereira, tido por alguns como “Arquiduque do Sertão”, e por outros o rei das guerrilhas na caatinga, mesmo com um grupo de 5 pessoas conseguiu escapar. Suas táticas de guerrilha funcionaram. 
Retornou para sua terra (no Pernambuco). Desistiu da viagem para o Estado de Goiás. Alegava que eles teriam um longo trecho pelo Estado do Piauí até chegar o destino final. Com pouca munição, com alguns dias de fome e sede, era melhor retornar. Próximo a Remanso - BA -  encontraram abrigo, água e comida. Seguiu o futuro comandante de Lampião para sua terra.
Chegou por lá em março de 1920. Em passagem por Serra Talhada-PE esteve com Lampião e seus irmãos Antônio e Livino. Mais tarde, outro irmão entrou para o cangaço: Ezequiel. Muitas ligações entre Lampião e Sinhô Pereira.  Eram vizinhos, a mãe de Lampião era afilhada do pai de Sinhô Pereira, e o pai de Lampião era afilhado do Padre Pereira, tio de Sinhô Pereira. As famílias eram amigas, e com comuns inimigos: “Os Saturninos” e José Lucena.
Em Gilbués-PI (hoje município), vindo de Uruçuí-PI, Luís Padre soube do ataque ao primo. Mas seguiu pelo cerrado piauiense rumo ao Estado de Goiás. Passou em Santa Filomena-PI (hoje município). Já havia adotado um nome fajuto: José Piauí.
Anos depois, já em Goiás, Luís Padre comunicou ao Sinhô Pereira o lugar onde estava. Seguro e sossegado. O cangaço na região Nordeste estava cada vez mais difícil. Sinhô Pereira resolveu ir onde estava seu primo, e comunicou ao grupo. Lampião disse que ficaria. Muitos cangaceiros ficaram com o futuro rei do cangaço, que assumiu o comando do grupo.
Sinhô Pereira deixou o cangaço (definitivamente) a 08 de agosto de 1922, e foi para Minas Gerais. Anos depois se mudou para Goiás. Deu suas justificativas ao Nertan Macedo, autor do livro “Sinhô Pereira: o comandante de Lampião”, que esteve na sua casa em Minas Gerais, em 1975:
- Depois que houve outro combate na fazenda Tabuleiro, de Neco Alves, na Paraíba, fronteira com Pernambuco. De longe avistamos uns homens. Pensamos que fossem nossos companheiros. Lampião ia à frente, com Livino e “Meia Noite” (cangaceiro). Os soldados atiraram. Lampião perdeu o chapéu, ao pular para se livrar das balas. Ao voltar para apanhá-lo tomou dois tiros, um na virilha e outro acima do peito. Na hora ele saiu andando, mas não aguentou e caiu. Livino e “Meia Noite” (cangaceiro) o arrastaram até um lugar seguro.
- Mandei chamar o Dr. Mota, amigo da minha família, para examinar Lampião. Disse: “Nunca vi tanta sorte. Por um triz a bala pegava a bexiga e a espinha.” Fizemos um rancho, onde ficamos até Lampião poder andar.
- Depois do combate em que Lampião saiu ferido eu resolvi me retirar daquela vida. Saí mais por causa do reumatismo, que me atacava tanto. Tinha dia que eu não conseguia nem caminhar. Isso por causa das longas noites passadas ao relento, na friagem do Sertão.
Ao despedir-se de Lampião, disse-lhe:
- Vou deixar umas brasas acesas por aí. Trate de apagá-las.
Décadas depois, Sinhô Pereira foi descoberto em Lagoa Grande, povoado de Presidente Olegário-MG, sendo dono de uma farmácia. Com nome fajuto de Chico Maranhão. O coronel Farnesi Dias Maciel foi quem deu abrigo e proteção ao ex-cangaceiro, naqueles confins de Minas Gerais. Era irmão do falecido Presidente Olegário (ex-governador mineiro), homenageado com o nome do município.
Maura Eustáquia de Oliveira escreve no Jornal “O Globo” sobre Sinhô Pereira, nos anos 70:
- De Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, até Lagoa Grande, no Sertão de Minas Gerais, há mais de mil quilômetros de distância. Mas uma distância muito maior separa o cangaceiro Sebastião Pereira, que Serra Talhada temeu em torno de 1916, do farmacêutico Chico Maranhão, que Lagoa Grande respeita e venera desde 1923.
- Sebastião Pereira, ou Sinhô Pereira como era conhecido no cangaço, é sobrinho do Barão do Pajeú, um dos mais influentes políticos pernambucanos do início do século. Aderiu ao cangaço para vingar a morte de um irmão na rixa entre as famílias do Sertão e “para levar justiça a um povo que só conhecia a lei da força”.
- Um dia recebeu entre seus homens o jovem Virgulino Ferreira – que mais tarde seria o temido Lampião – a quem ensinou todos os segredos da guerrilha da caatinga e depois fez ele seu lugar-tenente. Quando resolveu abandonar a vida de cangaceiro, convidou seu compadre para sair junto. Mas Lampião preferiu a caatinga.
Ao Nertan Macedo, escritor, Sinhô Pereira disse em 1975, ao recebê-lo em sua casa, sobre a vida de cangaceiro:
- Era um tempo ruim. Não tinha sossego. Era só desgraça, seca e miséria. Raro o dia, na caatinga, que podíamos nos dar ao luxo de uma xícara de café. Tinha vez de nós rompermos até 12 léguas (72 km) num dia. Um estirão danado. Nessas ocasiões, a gente mal parava pra comer e descansar. Travessias fortes, perambulando de um lado para outro. Enfrentava inimigos fortes e poderosos, ainda sofria dias e dias de fome e sede. Eis a vida no cangaço. Quase todos do grupo tinham menos de 25 anos (de idade). 
Extraído do blog:

Um homem empreendedor Miguel Faustino do Monte - 15 de Maio de 2011

Por: Jornalista Geraldo Maia

Era cearense de Sobral, mas, desde jovem, radicado em Mossoró; e aqui fez história. Cedo, conseguiu galgar posição de destaque como chefe de poderosas organizações comerciais. Quando se esboçou o movimento abolicionista de 1883, foi uma das figuras de maior projeção tendo sido, inclusive, um dos Diretores da Sociedade Libertadora Mossoroense. 
Nasceu numa quarta-feira, em 11 de agosto de 1858, na cidade de Sobral/CE. Era um homem dotado de predicados cristãos. Foi ele quem construiu com seus próprios recursos a capela do Sagrado Coração de Jesus, que permanece até hoje com suas linhas originais.
Arcou com a responsabilidade da maior parte do patrimônio levantado para a Diocese de Mossoró, doando seu palacete residencial para sede do Seminário Santa Terezinha, uma casa de sua propriedade na Praça Vigário Antônio Joaquim, onde funciona a Rádio Rural, além de apreciável quantia em espécie à Diocese de Mossoró. 
O rápido enriquecimento de Miguel Faustino e a sua generosidade para com a Igreja fizeram surgir lendas onde se dizia que o mesmo havia enriquecido por ter feito um pacto com o diabo. E estava passando parte dos seus bens para a igreja como forma de redimir com Deus. Essa lenda ainda é contada pelas pessoas mais antigas. 
Já na velhice transferiu sua residência para o Rio de Janeiro, onde morreu em 10 de novembro de 1952, aos 94 anos de idade. Fez muito por Mossoró e por sua Diocese. Seu nome está gravado na galeria dos grandes homens de Mossoró. 
Em 1884 a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, era tida como um Empório Comercial. Vários investidores estrangeiros tinham aqui se estabelecidos com casas importadoras e exportadoras, o que teria contribuído para o seu crescimento comercial. Esse foi o motivo que levou o cearense Miguel, um jovem de 26 anos a deixar sua terra e procurar no Estado vizinho um “meio de vida”. Vindo para Mossoró conseguiu emprego de auxiliar de balcão na grande firma comercial Souza Nogueira. Era criterioso nos seus afazeres, disposto para o trabalho e com grande tino comercial. Conseguiu, com isso, não só a confiança do dono da empresa, como também a mão de sua filha. E assim foi que em pouco tempo passou de simples caixeiro de balcão a genro do patrão. 
Em uma das viagens de Souza Nogueira a Recife/PE, por volta de 1894, o genro Miguel acompanhou-o. Foi ai que conheceu o grande homem da indústria e do comércio da região:
Delmiro Gouveia, o homem da Fábrica de Pedra à margem do São Francisco. Delmiro Gouveia mantinha relações com Souza Nogueira. Mas ao conhecer Miguel Faustino, vislumbrou no mesmo as qualidades que necessitava para um novo aliado. E o convite veio de chofre: 
“-Menino, queres trabalhar para mim? Comprarás peles, couros, outros artigos, se preciso. Mas quem trabalha para mim, se honesto e ativo, acabará bem, ao contrário o diabo o levará”. 
Miguel estremeceu. Delmiro Gouveia era um homem muito poderoso. Dava medo tratar com ele. Mas acertou o negócio e passou a trabalhar para Delmiro com inteligência, fé e retidão. 
Com a parceria, bom tino comercial e retidão, o jovem Miguel terminou como um dos homens mais ricos de Mossoró, se não o mais rico de todos. Sal, algodão, cera de carnaúba, fibras e borrachas. Esses produtos levaram o sobralense criativo às Exposições Nacionais de 1908 e de 1922, à Internacional de Bruxelas de 1910 e a de Turim em 1911. Ganhou medalhas de ouro e diplomas de honra. 
Em não sendo mossoroense de fato, tornou-se de direito. Participou ativamente da campanha de 1883 pela libertação dos escravos de Mossoró e de todos os movimentos que aqui aconteceram. Foi um benfeitor no momento da criação da Diocese de Mossoró. Retribuiu com bens a aceitação que teve de Mossoró. 
Miguel Faustino do Monte tornou-se lenda na cidade que ofereceu ao grande empreendedor as condições para o seu sucesso e com ele viu seu nome ser falado no velho mundo.

Geraldo Maia do Nascimento
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A Freguesia de Santa Luzia - 31 de Outubro de 2010

Por: Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Transformar a capela em Freguesia era o primeiro passo para a Emancipação Política do Município. Esse ato era, ao contrário do que possa aparecer, uma decisão política e não religiosa. 
Em 27 de outubro de 1842, através da resolução de nº 87 da mesma data, era criada a Freguesia de Santa Luzia, que elevava a categoria de Matriz a Capela de Santa Luzia de Mossoró. Era um sonho da população, e só foi conseguido através de muito trabalho. 
A Capela de Santa Luzia de Mossoró pertencia à Freguesia do Apodi e seus moradores deliberaram pleitear a criação de uma Paróquia e para isso não mediram esforços. Um homem encabeçou o movimento e fez sua essa luta. Os moradores de Mossoró deram-lhe o direito da procuração e ele não decepcionou. Tornou-se defensor e advogado, escrevendo, sofrendo e batalhando como um desesperado para que a Capela passasse a Matriz. Seu nome? Antônio Francisco Fraga Júnior. O historiador Luís da Câmara Cascudo, que pesquisou os documentos no original afirma: “Não há um só documento com “abaixo assinado” de mossoroenses. Fraga é o lidador, o “cabaleiro Roldão”, batendo-se sozinho, teimoso, com uma convicção obstinada, como um jumento andaluz...” 
O primeiro passo dos mossoroenses foi uma petição ao Bispo de Pernambuco, Dom João da Purificação Marques Perdigão, que despachou a 25 de setembro de 1839, com a seguinte frase: “Dirijam-se à Assembléia Legislativa de sua Província...”. Os mossoroenses, através de Fraga Júnior, foram aos deputados provinciais que deram parecer contrário com aprovação do plenário. O pedido envolvia alterações nos limites das freguesias do Apodi, Campo Grande e Princesa (Açu) e a solicitada Paróquia. Isso em 30 de outubro de 1839. 
Fraga Júnior não desanimou e no outro ano, a 6 de outubro de 1840, voltou com outra petição. O argumento era o mesmo de 1839. Houve então o inesperado. Os moradores de São Sebastião, atual Dix-sept Rosado, protestaram, opondo-se formalmente ao nascimento da nova freguesia. 
A Comissão Eclesiástica da Assembléia Provincial, de posse do requerimento dos mossoroenses de Santa Luzia, do abaixo-assinado dos moradores de São Sebastião e dos documentos reunidos por Fraga Júnior, declararam não ser possível dar parecer idôneo sem a decisão do Bispo Diocesano. Remeteram o processo a Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de Pernambuco Dom João da Purificação Marques Perdigão, que depois de analisar respondeu de pleno acordo com os desejos do povo do arraial de Santa Luzia do Mossoró. Isso em 23 de novembro de 1841. 
Como o documento chegou já no fim do ano, se faz necessário esperar a instalação de outra Assembléia Legislativa que só veio a acontecer em 19 de setembro de 1842. Depois de algumas exigências e outras reuniões, finalmente é aprovada e sancionada a resolução nº 87, cujos principais artigos são: 
Art. 1º - Fica desmembrada da Freguesia de Apodi, e elevada à Categoria de Matriz a Filial Capela de Santa Luzia de Mossoró, conservando a mesma “Fábrica”, e “Guizamento”, que a Matriz de que é desmembrada. 
Art. 3º - Os seus limites principiarão da Praia do Tibau, no lugar onde confina esta província com a do Ceará, e daí pelo cimo da Serra Mossoró até o Sítio Tapuia inclusive; deste compreendendo o Sítio das Agulhadas no Rio Mossoró, até a Fazenda Chafariz, da Freguesia do Campo Grande, no Rio Upanema; e daí pelo Rio abaixo por uma e outra parte, até a sua embocadura no Mar. 
Art. 5º - Ficam revogadas todas as Leis e Disposições em contrário. 
Dessa forma foi criada a Paróquia de Santa Luzia. O Monsenhor Francisco de Sales Cavalcanti, estudioso das causas de Mossoró, se referindo a esse assunto deixou registrado: “Ao Antônio Francisco Fraga Júnior, a eterna gratidão e a imperecível lembrança dos católicos mossoroenses”.

Geraldo Maia do Nascimento
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GECC Comunica Lançamento de Caldeirão


O GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará

Informa:

 

 Será lançado hoje, dia 30 de Novembro de 2011, às 17 horas, no Museu de Arte da UFC - Universidade Federal do Ceará, nesta cidade de Fortaleza, a segunda edição do Livro CALDEIRÃO, 
do professor Régis Lopes.



ATENCIOSAMENTE
Ângelo Osmiro Barreto
Presidente GECC - Fortaleza-Ceará


http://cariricangaço.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Hosanas ao Mestre Nonato - 27 de Dezembro de 2009

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Disse o Senhor: “Escreve, pois o que viste...” Apocalipse, 1,19). E o mestre, seguindo as recomendações bíblicas, tornou-se escritor e escreveu sobre sua terra e sua gente. Nada escapou aos olhos investigativos do mestre Nonato. Rafael Negreiro descrevia-o como “infatigável pesquisador da coisa pública, pesquisador de hábitos, costumes, ritos, andante habitual de ruas, vielas, becos, avenidas, alamedas e jardins”. 

Raimundo Nonato da Silva nasceu em Martins/RN, em 18 de agosto de 1907, num dia de segunda-feira, sendo filho do casal lavrador João Cardoso da Silva e Ana de Lima e Silva. Desde muito cedo começou a trabalhar com os pais na lida do campo. Segundo seu depoimento: “A bem dizer, não cheguei a ter infância, nem conheci a mocidade, pois mal abri os olhos para o mundo, fui logo atirado aos rudes afazeres do campo, no trato da terra, na vida solta, no meio agreste de uma natureza madrasta; a fome rodava por perto, era raro o dia em que o fogo via a panela”. 
Em 1919, aos 12 anos de idade, era tangido pela grande seca que assolava a região, descendo a amada Serra do Martins, percorrendo o mesmo caminho de Lampião, até chegar em Mossoró. A “cidade grande” o deslumbra, mas não tem tempo para brincadeiras. Inicia sua vida como engraxate, ocupando também outros subempregos como varredor de hotel, carregador de cadeiras ou qualquer outra ocupação que lhe rendesse algum dinheiro. Não sabia ler; e foi com muita dificuldade que iniciou os estudos das primeiras letras e noções gramaticais, indispensáveis às necessidades educacionais. Com a ajuda de Raimundo Reginaldo da Rocha ingressou na Escola Normal de Mossoró de onde saiu professor primário na sua segunda turma em 1925, já com dezoito anos de idade. Ingressou no magistério público como professor e diretor de Grupos Escolares em São Miguel, Serra Negra, Apodi e Natal, onde serviu adido à Secretaria de Educação do Estado. 
Sua atuação, quando fixando residência em Mossoró, foi das mais proveitosas nos círculos educacionais, intelectuais e jornalísticos.
Exerceu magistério secundário na Escola Normal,

no Sagrado Coração de Maria
Colégio Diocesano Santa Luzia,
Edíficio da União Caixeiral, 1954
e na Escola Técnica de Comércio “União Caixeiral”.

Foi colaborador da imprensa local, ora escrevendo artigos, comentários, ora versejando com sua revelação poética que somente mais tarde seria descoberta. 
Formado em Direito pela Faculdade de Alagoas, ingressou no Ministério Público, sendo nomeado Juiz de Direito da Comarca de Apodi, em cuja função se aposentou. Em 1962 foi morar no Rio de Janeiro, mas nunca esqueceu a sua terra adotiva. Sempre que podia, voltava a Mossoró para encontrar os amigos e rever a cidade, principalmente nas festas de 30 de setembro, que é a maior festa cívica de Mossoró. Além de professor, magistrado e jornalista, tornou-se cronista, historiador, escritor e poeta, possuindo uma bagagem literária que o fez um dos grandes da literatura potiguar. 
Quando questionado de como tinha se tornado escritor, respondeu: 
“ – Desde o tempo de estudante que eu freqüentava umas pequenas tipografias. Eu vivia lá por dentro e rascunhava umas cronicazinhas e depois uns jornalzinhos de festas, levando pancada e bengalada , porque a gente bolia com os namoros, depois dentro do próprio Mossoroense com outro jornalzinho, depois dentro do Correio do Povo, com jornal mais sério, “O Correio Festivo”, com o Américo de Oliveira Costa, onde nós fomos ameaçados de umas pauladas, por termos bolido com o namoro de alguém e o Américo foi procurar o Juiz para garantir. De forma que vem desse tempo o começo. O livro, cronicazinha, livro mesmo sério, eu publiquei o meu. Sério é a forma de dizer quando publiquei o “Quarteirão da Fome”. 
Raimundo Nonato era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Federação das Academias de Letras do Brasil, Instituto Genealógico Brasileiro de São Paulo, Associação Brasileira de Escritores, Sindicado dos Advogados do Brasil, Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, Associação dos Professores do Rio Grande do Norte, Associação Brasileira de Imprensa, Sindicado dos Jornalistas Liberais da Guanabara, Sociedade Brasileira de Folclore de Natal e Instituto Cultural do Oeste Potiguar de Mossoró. Deixou mais de oitenta livros publicados de fundo literário, histórico e biográfico. 
Morreu no Rio de Janeiro em 22 de agosto de 1993, quatro dias após seu aniversário de 86 anos de idade. Num artigo publicado em 30 de setembro daquele ano, intitulado “Bilhete a Nonato”,
o historiador Raimundo Soares de Brito se despede do amigo dizendo: “Enquanto houver um 30 de setembro, você estará aqui conosco marcando presença em espírito na memória dos seus amigos que são inumeráveis. Ficará para sempre porque você deixou o seu nome indelevelmente gravado nas pedras das ruas de Mossoró. Nas pedras e nos corações dos habitantes dessa Mossoró que você tanto amou. Boa viagem, meu velho companheiro e até o próximo “trintão”, se Deus quiser...”
Geraldo Maia do Nascimento
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O crime de estupro e suas nuances com as partes envolvidas

Por: Archimedes Marques
 
A Lei Ordinária Federal nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, trouxe no seu bojo profunda e inédita alteração no artigo 213 do nosso Código Penal, ao mesmo tempo em que acrescenta o artigo 217-A nesse Diploma, ambos relacionados ao crime de estupro.
O Título do Código Penal que passou a vigorar com a denominação DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL, além de transformar todo o sentido e significado do seu art. 213, como conseqüência ainda revogou os artigos 214 e 224 do dito Diploma repressivo que tratavam do atentado violento ao pudor e da presunção da violência prevista então na antiga denominação DOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES.
A elementar do tipo que revelava seu sujeito passivo somente a mulher, dado ao fato da caracterização da conjunção carnal, fora substituída pela expressão alguém e assim, a partir de então, o sexo do ofendido é indiferente para a caracterização do delito.
Com a revogação do crime de atentado violento ao pudor o legislador trouxe a sua redação e a incorporou na definição do crime de estupro, que então ficou definido:
Estupro: art. - 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
Assim, além da conjunção carnal ou cópula vaginal que caracteriza-se pela penetração do pênis na vagina, temos também de igual modo a outra alternativa para configurar o crime de estupro, ou seja, a questão da pratica de qualquer ato libidinoso em desfavor da vítima.
Por ato libidinoso, entende-se pela definição colhida na wikipédia, como sendo todos os atos que implicam contato da boca com o pênis, com a vagina, com os seios ou com o ânus, os que implicam manipulação erótica (por mãos ou dedos) destes mesmos órgãos pelo respectivo parceiro, os que implicam introdução do pênis no ânus ou no contato do pênis com os seios, e os que implicam masturbação mútua.
Conclui-se com essa definição que o Legislador criou algumas vertentes, algumas situações adversas interessantes, vez que, poderá o homem ser considerado vítima quando forçado a  praticar a conjunção carnal  ou outro ato libidinoso com uma mulher em que o mesmo apesar de ser o sujeito ativo no ato é o sujeito passivo no crime, ou pode ser o passivo no ato e no crime na hipótese da mulher ser ativa no ato libidinoso, ou ainda poderá ele ser o ativo ou passivo no ato libidinoso com outro homem, mas passivo no crime devido a sua contra vontade.
Quanto a mulher vítima, pode a mesma vir a sofrer estupro praticado pelo homem através da conjunção carnal ou do ato libidinoso, ou mesmo por outra mulher, quando essa consigo praticar ou permitir o ato libidinoso.
Não exclui o crime nenhuma classe social. Todos protegidos em sua liberdade sexual. Nesse sentido algumas vítimas figuram como qualificadora para o autor do delito, como é o caso das pessoas consideradas vulneráveis, cujos casos ganharam um novo artigo na presente Lei:
Estupro de vulnerável: art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (quatorze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
O entendimento do estupro de vulnerável nasceu de forma mais real, mais presente, mais viva, vez que substituiu a duvidosa presunção da violência do antigo tipo. O dispositivo busca punir toda relação sexual ou ato considerado libidinoso, de qualquer natureza, ocorridos com ou sem consentimento do menor de 14 anos de idade e das pessoas portadoras de deficiência mental ou enfermidades que não possam esboçar reação à agressão iminente, não importando o meio usado para a consolidação do fato, se por violência, ameaça, fraude ou consentimento da pessoa passiva. De qualquer forma estará caracterizado o crime de estupro de vulnerável com o agravante para o agressor.
As conseqüências do crime de estupro que além de ser um ato violento, depravado, sórdido, repugnante, horrendo, pavoroso, produzem seqüelas irreparáveis para as vítimas, principalmente para as do sexo feminino que vão além da possibilidade de perder o relacionamento com os seus companheiros devido ao pensamento machista ainda existente, ainda fixa-lhes permanentes traumas psicológicos, inseguranças, medos, fobias, aumentando substancialmente tal problemática quando do estupro resulta gravidez.
A vivencia policial e a experiência profissional ao longo dos tempos nos contemplam pelo lado psicológico adquirido em casos práticos investigados, a asseverar sem medo de errar, que autor do crime de estupro do sexo masculino parece não ter sentimento de culpa e, geralmente quando chega a confessar o crime ou crimes inerentes, faz normalmente e até orgulhosamente, como se estivesse contando um filme, um fato fora da realidade, desprovido de sensibilidade. Por vezes se sente poderoso, superior, nega suas carências, suas dificuldades, demonstra ser completamente desconectado com sentimentos próprios e muito menos com os sentimentos alheios, com os sentimentos das vítimas, dos seus familiares, do que pensa a sociedade a seu respeito.
O praticante usual do crime estupro é um maníaco sexual cuja raia da insanidade se aproxima até do criminoso psicopata, pois de quando em vez assistimos que não se contenta ele somente com tal crime e ainda mata a sua vítima com as suas próprias mãos através da esganadura, sufocamento, asfixia ou outros meios cruéis, por isso é quase sempre irrecuperável e pouco liga para as conseqüências nefastas que advêm até para si próprio, vez que, além da sua pesada pena de reclusão ainda, via de regra, ao se ver preso e colocado junto a outros criminosos, pela praxe antiga e tradicional do sistema prisional é molestado sexualmente pelos seus colegas de cela que assim também praticam crime idêntico.
Fugindo a regra, outros autores do crime de estupro, com a mesma insanidade mental doentia ou até maior são beneficiados pela Justiça, como fora o caso do Médico Roger Abdelmassih, especialista em fertilização e reprodução humana,  acusado de ter cometido estupro em mais de 50 de suas pacientes que o procuraram para tratamento de gravidez, e que em tese, teria o mesmo praticado tal crime na sua forma qualificada, ou seja, estupro de  vulnerável,  vez que as suas vítimas sempre estavam anestesiadas ou até mesmo inconscientes sem possibilidade de esboçarem quaisquer tipo de reação, e que, ficou pouco tempo preso em cela especial e logo posto em liberdade por concessão de habeas corpus do próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, para responder o Processo em liberdade.
Quanto ao perfil da autora do crime de estupro apesar de ser também doentio ainda é indefinido devido aos poucos casos práticos existentes, destarte que sendo o homem a sua vítima e tendo o mesmo agido ativamente no ato sexual, dificilmente ou quase nunca, dará  ele conhecimento do crime à Polícia. Fatos mais frequentemente hão de aparecer quando o homem for o sujeito passivo do ato libidinoso por ela praticado, como exemplifica alguns processos do antigo crime de atentado violento ao pudor que estiveram em trâmite e julgamento antes do advento dessa nova Lei.
Autor:
 Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela UFS) – archimedesmarques@infonet.com.br  - archimedes-marques@bol.com.br  - archimedesmelo@bol.com.br

Enviado pelo autor: Dr. Archimedes Marques