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domingo, 21 de novembro de 2021

UM NOME PARA A HISTÓRIA??? LAMPIÃO E A MORTE DO PAI

Por Clerisvaldo B. Chagas

Marco Histórico no local da morte de José Ferreira - Cortesia de Robério Santos

- Quem matou José Ferreira, pai de Virgolino, foi o volante Benedito Caiçara, intempestivamente, sem saber nem quem ele era, na hora da invasão a casa. 

(Essa versão é sustentada por uma das maiores fontes do cangaço que nos pediu para que não colocasse o seu nome, por motivo de amizade com a família de Caiçara).

Por essa digna e insuspeita fonte, confirmada pelo saudoso batedor da tropa de Lucena, Manoel Aquino, homem de bem, que ouvira de seus colegas de farda. Como era um homem de princípios, Lucena recriminou duramente a Caiçara, mas assumiu a morte do senhor José Ferreira, uma vez que se achava responsável pelos atos dos seus comandados.

Existe uma versão que diz que o volante Caiçara fora duramente recriminado pelo comandante, teve sua farda rasgada, levado uma surra e expulso da polícia. A mesma fonte inicial, que tinha fácil acesso a ambos, diz não conhecer essa versão. E que o soldado Caiçara era perverso, mas Lucena gostava muito dele.

Depois da polícia, Caiçara passou a ser sacristão do padre Bulhões e não antes. Ainda como volante Benedito matou a pedradas um dos irmãos Porcino (José) ferido, em uma das diligências de Lucena, e que nunca pertencera ao bando.

Quanto à morte de Luís Fragoso, é sabido por todos, que Lucena não gostava de colecionar prisioneiros. Ladrões em geral, especialmente ladrões de cavalos, assaltantes, desordeiros, perturbadores da ordem pública, muitos foram executados em cova aberta. A ordem para limpar o Sertão já vinha de cima.

Na morte de José Ferreira não houve combate. Os três filhos mais velhos não estavam presente. O depoimento de João e de Virtuosa são bens claros, explanados por Vera Ferreira e Antonio Amaury.

Na versão de Bezerra e Silva, houve forte tiroteio na fazenda Engenho. Além da morte de José, ficou ferido Antônio Ferreira, na perna. Os Ferreira juntaram-se aos Porcino, conduziram Antônio numa rede e com um grupo de 25 homens, partiram para Pernambuco, pernoitando na vila Mariana. Pela manhã viajaram.

Lucena chegou à vila, tachou seus habitantes de coiteiros; os soldados ocuparam as ruas praticando absurdos e o comandante ainda andou seviciando pessoas (...)       

Do meu livro em parceria com Marcello Fausto “Lampião em Alagoas”, pág. 98-99.

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CAROLINA MARIA DE JESUS

A escritora Carolina Maria de Jesus, em 1960. [1]

Carolina Maria de Jesus foi uma escritora mineira nascida em 14 de março de 1914. Apesar de ter apenas dois anos de estudo formal, tornou-se escritora e ficou nacionalmente conhecida em 1960, com a publicação de seu livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, no qual relatou o seu dia a dia na favela do Canindé, na cidade de São Paulo. Morreu em 13 de fevereiro de 1977. Hoje é considerada uma das mais importantes escritoras negras da literatura brasileira.

O seu livro Quarto de despejo traz as memórias de uma mulher negra e favelada (como diz o subtítulo) que via a escrita como forma de sair da invisibilidade social em que se encontrava. Com seus diários, suas memórias registradas por meio da escrita, Carolina Maria de Jesus deu sentido à sua própria história e hoje é figura essencial na literatura brasileira.

Leia tambémA representação do negro na literatura brasileira

Biografia

A escritora Carolina Maria de Jesus nasceu na cidade de Sacramento, em Minas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Filha de uma família pobre, teve uma educação formal de apenas dois anos. De 1923 a 1929, a família de lavradores migrou para Lajeado (MG), Franca (SP), Conquista (MG), até voltar definitivamente para Sacramento. Nessa cidade, a escritora e sua mãe ficaram presas durante alguns dias. Como Carolina sabia ler, as autoridades concluíram que ela lia para fazer feitiçaria.

Em 1937, Carolina Maria de Jesus mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou como empregada doméstica. Em 1948, foi viver na favela do Canindé, onde nasceram seus três filhos. Enquanto viveu ali, sua forma de subsistência era catar papéis e outros materiais para reciclar.

Em meio a toda essa difícil realidade, havia os livros. Carolina Maria de Jesus era apaixonada pela leitura. A escrita literária, portanto, foi uma consequência. Assim, em 1950, publicou um poema em homenagem a Getúlio Vargas, no jornal O Defensor. Em 1958, o jornalista Audálio Dantas (1929-2018) conheceu a autora e descobriu que ela possuía diversos cadernos (diários) em que dava seu testemunho sobre a realidade da favela.

Foi ele quem ajudou a escritora a publicar seu primeiro livro — Quarto de despejo: diário de uma favelada. Assim, em 1960, o livro foi publicado e transformou-se em um sucesso de vendas. Nesse mesmo ano, a autora recebeu homenagens da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo, além de receber um título honorífico da Orden Caballero del Tornillo, na Argentina, em 1961.

Carolina Maria de Jesus autografando seu livro Quarto de despejo, em 1960. [1]
Carolina Maria de Jesus autografando seu livro Quarto de despejo, em 1960. [1]

Depois do sucesso do seu livro, Carolina Maria de Jesus mudou-se da favela do Canindé, gravou um disco com composições próprias e continuou a escrever. Porém, suas próximas obras não obtiveram o mesmo êxito da primeira. Em 1977, no dia 13 de fevereiroCarolina Maria de Jesus morreu em Parelheiros, distrito da cidade de São Paulo.

Leia também: Literatura negra - a produção literária cujo sujeito da escrita é o próprio negro

Principais obras

A obra de Carolina Maria de Jesus é marcadamente memorialística, uma literatura de testemunho, em que a autora expõe a realidade em que vive e reflete sobre ela. Nessa perspectiva, seus principais livros são:

  • Quarto de despejo (1960);
  • Casa de alvenaria (1961);
  • Diário de Bitita (1986);
  • Meu estranho diário (1996).

O livro que fez mais sucesso foi Quarto de despejo, mas isso não se repetiu. Os livros seguintes não despertaram o interesse nem da crítica nem da imprensa brasileira. A autora começou a cair no esquecimento. Mas no ano anterior à sua morte, ocorrida em 1977, seu primeiro livro foi relançado pela editora Ediouro. Em 1986, quase dez anos depois de seu falecimento, sua obra póstumaDiário de Bitita, foi publicada no Brasil. No entanto, esse livro já tinha sido publicado, no ano de 1982, em Paris, com o título: Journal de Bitita.

Capa do livro Diário de Bitita, de Carolina Maria de Jesus, publicado pela editora SESI-SP. [2]
Capa do livro Diário de Bitita, de Carolina Maria de Jesus, publicado pela editora SESI-SP. [2]

Foi em 1994 que o livro Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus, de José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine, foi publicado e gerou um novo interesse pela escritora. No ano seguinte, os mesmos autores lançaram, nos Estados Unidos, o livro The life and death of Carolina Maria de Jesus. Além disso, eles organizaram os livros Meu estranho diário e Antologia pessoal, compostos por textos deixados pela autora e publicados em 1996.

O livro Quarto de despejo é a obra-prima de Carolina Maria de Jesus. Foi traduzido para vários idiomas. Atualmente, cerca de 40 países conhecem essa obra. Após a morte da autora, esse livro continuou a ser editado, Carolina Maria de Jesus virou nome de rua e de biblioteca, teve livros produzidos sobre ela e muitas dissertações e teses acadêmicas foram escritas, principalmente sobre a sua primeira obra. A autora, portanto, conquistou lugar de destaque na literatura e na história nacional.

Segundo Fernanda Rodrigues de Miranda, mestre em Letras: “Carolina Maria de Jesus é precursora da Literatura Periférica no sentido de que ela é a primeira autora brasileira de fôlego a constituir a tessitura de sua palavra a partir das experiências no espaço da favela, isto é, sua narrativa traz o cotidiano periférico não somente como tema, mas como maneira de olhar a si e a cidade. Por isso, seu olhar torna-se cada vez mais crítico diante do cenário de ilusões que São Paulo projetava com sua falsa imagem de lugar com oportunidades para todos”.

Veja tambémMulheres e a poesia brasileira

➔ Quarto de despejo: diário de uma favelada

Capa do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, publicado pela editora Ática. [3]
Capa do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, publicado pela editora Ática. [3]

O livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, é um diário da autora escrito no período de 1955 a 1960. Nele, a primeira coisa que chama a atenção é a linguagem, mais próxima do coloquial, sem a preocupação com regras gramaticais, o que faz a obra mais verdadeira, mais próxima do real.

Carolina Maria de Jesus gostava muito de ler. Isso fez diferença em sua vida, já que se transformou em uma escritora conhecida mundialmente e, por meio da escrita, pôde sair do contexto da favela. Para ela, a leitura era algo necessário e, apesar da miséria em que vivia, sempre encontrava uma forma de prosseguir com esse hábito: “Peguei uma revista e sentei no capim, recebendo os raio solar para aquecer-me. Li um conto. Quando iniciei outro surgiu os filhos pedindo pão”.

Seu retrato da favela do Canindé é cru, direto, sem retoques: “Durante o dia, os jovens de 15 e 18 anos sentam na grama e falam de roubo. E já tentaram assaltar o emporio do senhor Raymundo Guello. E um ficou carimbado com uma bala. O assalto teve inicio as 4 horas. Quando o dia clareou as crianças catava dinheiro na rua e no capinzal. Teve criança que catou vinte cruzeiros em moeda. E sorria exibindo o dinheiro. Mas o juiz foi severo. Castigou impiedosamente”.

A autora é a voz da favela e realiza a função de mostrar essa realidade, em seu diário, como a violência contra a mulher e a situação das crianças nesse ambiente: “A Silvia e o esposo já iniciaram o espetaculo ao ar livre. Ele está lhe espancando. E eu estou revoltada com o que as crianças presenciam. Ouvem palavras de baixo calão. Oh! se eu pudesse mudar daqui para um nucleo mais decente”.

O seu diário também é um instrumento de resistência e justiça, a autora acredita no poder da palavra escrita, no poder da literatura. Em uma ocasião, Carolina Maria de Jesus vai a um açougue, onde a caixa se nega a vender qualquer coisa para ela. Mais tarde, a autora escreve: “Voltei para a favela furiosa. Então o dinheiro do favelado não tem valor? Pensei: hoje eu vou escrever e vou chingar a caixa desgraçada do Açougue Bom Jardim”. E cumpre sua promessa: “Ordinaria!”.

Além disso, ela tem consciência de que sua escrita pode mudar a sua vida: “É que eu estou escrevendo um livro, para vendê-lo. Viso com esse dinheiro comprar um terreno para eu sair da favela. Não tenho tempo para ir na casa de ninguem”. No entanto, não era compreendida por seus vizinhos: “O José Carlos ouviu a Florenciana dizer que eu pareço louca. Que escrevo e não ganho nada”. Ou ainda: “Um sapateiro perguntou-me se o meu livro é comunista. Respondi que é realista. Ele disse-me que não é aconselhavel escrever a realidade”.

Outro fato interessante da vida da autora é a sua opção de não se casar, o que mostra uma mulher independente e forte para a sua época: “Eu enfrento qualquer especie de trabalho para mantê-los [os filhos]. E elas, tem que mendigar e ainda apanhar. Parece tambor. A noite enquanto elas pede socorro eu tranquilamente no meu barracão ouço valsas vienenses. [...]. Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas”.

Essa sua independência manifesta-se também neste trecho: “O senhor Manuel apareceu dizendo que quer casar-se comigo. Mas eu não quero porque já estou na maturidade. E depois, um homem não há de gostar de uma mulher que não pode passar sem ler. E que levanta para escrever. E que deita com lapis e papel debaixo do travesseiro. Por isso é que eu prefiro viver só para o meu ideal”.

Por ser uma mulher de personalidade forte, Carolina Maria de Jesus, no contexto da obra, não é muito apreciada pelas outras mulheres da favela. Mas a escrita (além da leitura) é a forma que a autora encontra para suportar os problemas de sua realidade: “Aqui, todas impricam comigo. Dizem que falo muito bem. Que sei atrair os homens. Quando fico nervosa não gosto de discutir. Prefiro escrever. Todos os dias eu escrevo. Sento no quintal e escrevo”.

É recorrente na obra a menção à leitura e o quanto ela é importante na vida da escritora: “Passei o resto da tarde escrevendo. As quatro e meia o senhor Heitor ligou a luz. Dei banho nas crianças e preparei para sair. Fui catar papel, mas estava indisposta. Vim embora porque o frio era demais. Quando cheguei em casa era 22,30. Liguei o radio. Tomei banho. Esquentei comida. Li um pouco. Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um livro. O livro é a melhor invenção do homem”.

Outro elemento que se repete no diário é a menção à fome: “Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bastante verdura. Mas ficou sem efeito, porque eu não tenho gordura. Os meninos estão nervosos por não ter o que comer”. E ainda, no dia do aniversário da assinatura da Lei Áurea, Carolina Maria de Jesus escreveu: “E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual — a fome!”.

Aliás, Audálio Dantas, o jornalista que apresentou Carolina Maria de Jesus ao mundo, fez a seguinte declaração sobre isso: “A fome aparece no texto com uma frequência irritante. Personagem trágica, inarredável. Tão grande e tão marcante que adquire cor na narrativa tragicamente poética de Carolina”.

E, por vivenciar a fome, a autora demonstra a consciência da desigualdade social quando critica o governo da época: “O que o senhor Juscelino [Kubitschek] tem de aproveitavel é a voz. Parece um sabiá e a sua voz é agradavel aos ouvidos. E agora, o sabiá está residindo na gaiola de ouro que é o Catete. Cuidado sabiá, para não perder esta gaiola, porque os gatos quando estão com fome contempla as aves nas gaiolas. E os favelados são os gatos. Tem fome”.

Então, responsabiliza o governo pela pobreza: “Quando Jesus disse para as mulheres de Jerusalem: — ‘Não chores por mim. Chorae por vós’ — suas palavras profetisava o governo do Senhor Juscelino. Penado de agruras para o povo brasileiro. Penado que o pobre há de comer o que encontrar no lixo ou então dormir com fome”.

Não só o presidente do Brasil é alvo de suas críticas, como podemos perceber a seguir: “Os politicos só aparecem aqui nas epocas eleitoraes. O senhor Cantidio Sampaio quando era vereador em 1953 passava os domingos aqui na favela. Ele era tão agradavel. Tomava nosso café, bebia nas nossas xicaras. Ele nos dirigia as suas frases de viludo. Brincava com nossas crianças. Deixou boas impressões por aqui e quando candidatou-se a deputado venceu. Mas na Camara dos Deputados não criou um progeto para beneficiar o favelado. Não nos visitou mais”.

Além de sua consciência como mulher e favelada, ela também está atenta aos preconceitos e discriminação racial: “Eu estava pagando o sapateiro e conversando com um preto que estava lendo um jornal. Ele estava revoltado com um guarda civil que espancou um preto e amarrou numa arvore. O guarda civil é branco. E há certos brancos que transforma preto em bode expiatorio. Quem sabe se guarda civil ignora que já foi extinta a escravidão e ainda estamos no regime da chibata?”.

Quando vai buscar papéis oferecidos por uma senhora, moradora de um prédio, ao subir o elevador, descalça, no sexto andar, “o senhor que penetrou no elevador olhou-me com repugnancia. Já estou familiarisada com estes olhares. Não entristeço”. Em seguida, o homem bem-vestido quer saber o que ela está fazendo no elevador. Ela se explica e pergunta se ele é médico ou deputado, ele responde que é senador.

Por fim, Carolina Maria de Jesus justifica o título de seu livro: “a Policia ainda não prendeu o Promessinha. O bandido insensato porque a sua idade não lhe permite conhecer as regras do bom viver. Promessinha é da favela da Vila Prudente. Ele comprova o que eu digo: que as favelas não formam carater. A favela é o quarto de despejo”. E ainda: “Eu classifico São Paulo assim: o Palacio, é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos”.

O livro Quarto de despejo é marcado, como ficou claro, por uma visão bastante crítica da realidade. A autora Carolina Maria de Jesus não se abstém de falar de política, da situação da mulher negra e favelada na sociedade, da fome. A sua obra, além de literária (e uma declaração de amor à leitura e à escrita), carrega forte carga política, de forma que não é possível separar uma perspectiva da outra. Assim, quando escreve que a favela é o quarto de despejo, a autora deixa clara a sua indignação diante da realidade em que vive.

Créditos das imagens:

[1] Arquivo Nacional / Domínio Público

[2] Sesi-SP Editora / Reprodução

[3] Editora Ática / Reprodução

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Carolina Maria de Jesus"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/carolina-maria-jesus.htm. Acesso em 21 de novembro de 2021.

 https://brasilescola.uol.com.br/literatura/carolina-maria-jesus.htm

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O QUE FOI O TENENTISMO?

 

O Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, foi palco da primeira revolta tenentista na década de 1920*

O tenentismo foi um movimento de revolta política e militar que surgiu entre os oficiais rasos do exército brasileiro insatisfeitos com a política da Primeira República.

O tenentismo foi um movimento político e militar realizado por jovens oficiais brasileiros durante o período da Primeira República. Esse corpo de oficiais era composto em geral por tenentes e capitães que estavam insatisfeitos com o sistema político brasileiro, sobretudo com as práticas do jogo político imposto pelas oligarquias.

O surgimento do tenentismo na década de 1920 contribuiu para a desestabilização da ordem política existente na Primeira República. O surgimento desse movimento remonta à campanha eleitoral das eleições de 1922. Nessas eleições, a oligarquia paulista e mineira lançou Artur Bernardes como candidato a presidente e enfrentou a concorrência de Nilo Peçanha, apoiado pelas oligarquias de Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.

A candidatura de Nilo Peçanha ficou conhecida como Reação Republicana, e sua chapa procurou conquistar o voto das classes médias urbanas. Foi durante essa campanha eleitoral que a imagem de Artur Bernardes como político antimilitar popularizou-se por causa de cartas falsas que foram veiculadas com supostas críticas feitas por ele aos militares.

Apesar de ter sido divulgado à época que os documentos eram falsos, a relação dos militares com Artur Bernardes desgastou-se profundamente. A situação agravou-se de maneira definitiva quando o presidente eleito Artur Bernardes ordenou o fechamento do Clube Militar e a prisão de Hermes da Fonseca. A partir daí, iniciou-se um movimento de revolta e contestação dentro do exército contra os governos da Primeira República.

A atuação do movimento tenentista estendeu-se de 1922 a 1927 e, ao longo desse período, uma série de rebeliões aconteceu. A primeira grande revolta dos tenentistas aconteceu em 5 de julho de 1922, na cidade do Rio de Janeiro, e ficou conhecida como Revolta do Forte de Copacabana ou Revolta dos 18 do Forte de Copacabana.

Os tenentes rebelados em Copacabana queriam recuperar a honra dos militares, alegando que eram reprimidos pelo governo de Artur Bernardes. Durante essa revolta, os tenentes ficaram cercados no Forte de Copacabana e, em certo momento, 18 oficiais, em um ato de desespero, resolveram marchar pela avenida Atlântica na direção das tropas do governo. Somente dois oficiais dos dezoito sobreviveram: Siqueira Campos e Eduardo Gomes.

Depois desse episódio, o ímpeto da revolta espalhou-se por outros oficiais em diferentes partes do Brasil. Houve rebeliões tenentistas em Manaus, em 1924, que ficaram conhecidas como Comuna de Manaus. Houve também a Revolução Paulista de 1924, que posteriormente deu início à Coluna Costa-Prestes, quando as tropas tenentistas lideradas por Miguel Costa uniram-se com os tenentistas liderados por Luís Carlos Prestes.

A Coluna Costa-Prestes surgiu em 1925 e foi considerada o maior movimento tenentista do período. Os oficiais liderados por Miguel Costa e Luís Carlos Prestes marcharam no interior do Brasil durante mais de dois anos, lutando contra as tropas do presidente Artur Bernardes. Ao todo, a Coluna Costa-Prestes marchou por 25.000 quilômetros e cruzou doze estados. O movimento encerrou-se em 1927, quando se exilaram na Bolívia.

Qual era a ideologia dos tenentistas?

Primeiramente, eles eram absolutamente contrários às práticas políticas do período da Primeira República. Assim, eles lutavam contra o poder das oligarquias, sobretudo no interior do Brasil, onde as desigualdades sociais manifestavam-se de maneira mais acentuada.

O projeto dos tenentistas foi considerado como um movimento salvacionista, uma vez que eles alegavam agir em defesa das instituições republicanas. Além disso, havia uma grande insatisfação nos quadros militares com o pouco investimento realizado na corporação, segundo a visão deles.

Os tenentistas consideravam a condição política em que o Brasil se encontrava como a grande causadora das carências existentes. Como lutavam contra as oligarquias, naturalmente, eram contrários à existência do federalismo no Brasil, alegando que esse sistema permitia a fragmentação política do Brasil, o que gerava a concentração do poder em núcleos regionais.

Os tenentistas, em geral, defendiam um projeto para o Brasil baseado no liberalismo, porém, é importante pontuar que dentro do grupo existiam oficiais que abraçavam outras ideologias, como o comunismo. Além disso, defendiam a formação de uma república autoritária que promovesse as mudanças necessárias. Assim, conforme colocam as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, os tenentistas eram “liberais em temas sociais e autoritários em política”|1|.

No campo econômico, defendiam a modernização e industrialização do país e o fim da política que priorizava o café na economia brasileira. Por fim, vale ressaltar que, em questões sociais, eles defendiam “a reforma do ensino público, a obrigatoriedade do ensino primário e a moralização da política”|2|. Além disso, “denunciavam, também, as miseráveis condições de vida e a exploração dos setores mais pobres”|3|.

Os tenentistas, no entanto, não possuíam um plano de ação e não sabiam como implantariam as reformas que defendiam. Assim, as lutas organizadas por eles, conforme os historiadores classificam, foram caracterizadas mais pela ação do que pelo discurso. O tenentismo foi responsável por lançar nomes importantes nos quadros políticos do Brasil nas décadas seguintes e esteve diretamente ligado com a Revolução de 1930, que pôs fim à Primeira República e colocou Getúlio Vargas no poder.

|1| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 347.
|2| e |3| Idem, p. 348.

*Créditos da imagem: Alexandre Rotenberg e Shutterstock

 

Por Daniel Neves
Graduado em História

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "O que foi o tenentismo?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-tenentismo.htm. Acesso em 21 de novembro de 2021.

 https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-tenentismo.htm

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O QUE FOI A COLUNA PRESTES?

 Integrantes da Coluna Prestes em uma foto tirada em algum momento de 1926*

A Coluna Prestes foi um movimento que surgiu a partir do tenentismo. Militares brasileiros rebelaram-se e iniciaram uma marcha pelo interior do país entre 1925 e 1927.

O que foi a Coluna Prestes?

Também conhecida como Coluna Miguel Costa-Prestes, a Coluna foi um movimento revoltoso organizado por tenentistas que percorreu o Brasil entre 1925 e 1927 combatendo as tropas dos governos de Artur Bernardes e Washington Luís durante a Primeira República. Ao longo de sua trajetória, os membros da Coluna percorreram mais de 25 mil quilômetros em protesto contra os governos vigentes.

Como surgiu a Coluna Prestes?

A Coluna Prestes foi resultado do movimento tenentista, que surgiu em 1922 pela insatisfação dos quadros militares com o governo brasileiro. Entre 1921 e 1922, foi realizada a campanha eleitoral para eleger o novo presidente que assumiria o país em 1922. De um lado, o candidato era Artur Bernardes; do outro lado, havia Nilo Peçanha (candidato da oposição).

Durante esse processo eleitoral, a relação dos militares com o governo, o qual representava as oligarquias paulista e mineira, desgastou-se. Primeiramente, foram veiculadas cartas falsas em que o candidato Artur Bernardes criticava membros do exército. A relação agravou-se depois que o presidente Epitácio Pessoa ordenou o fechamento do Clube Militar e a prisão de Hermes da Fonseca.

Essa atitude repercutiu negativamente de maneira imediata e, poucas semanas depois, ocorreu a Revolta do Forte de Copacabana em 1922. Os tenentistas, como ficaram conhecidos, atuaram de maneira efetiva até 1927 e, durante esse período, organizaram novas revoltas em diferentes partes do Brasil, sendo uma delas a Revolta Paulista de 1924.

A Revolta Paulista iniciou-se no dia 5 de julho de 1924 e foi a primeira de uma série de revoltas tenentistas que se espalharam pelo Brasil nesse ano. Os tenentistas, em geral, defendiam a derrubada do governo de Artur Bernardes e a implantação de mudanças sociais, políticas e econômicas no Brasil.

Os tenentistas ocuparam a capital paulista por cerca de três semanas, mas em razão da pressão das forças governamentais que os atacavam, optaram por abandonar a cidade de São Paulo. A fuga dos tenentistas paulistas levou-os a se estabelecer em Foz do Iguaçu, no Paraná. A Coluna formou-se quando tenentistas rebelados no Rio Grande do Sul, sob a liderança de Luís Carlos Prestes, uniram-se com os tenentistas paulistas instalados no Paraná.

A junção das duas formas deu início à Coluna e à marcha pelo interior do Brasil na defesa de seus ideais revolucionários. A Coluna Prestes nesse momento contava com aproximadamente 1.500 homens e tinha alguns nomes importantes, além de Luís Carlos Prestes, como Miguel Costa, Juarez Távora e Isidoro Dias Lopes.

Ideologicamente falando, os princípios defendidos pelos membros da Coluna Prestes alinhavam-se com os ideais tenentistas. As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling afirmam que os membros da Coluna Prestes “exigiam o voto secreto, a reforma do ensino público, a obrigatoriedade do ensino primário e a moralização da política. Denunciavam, também, as miseráveis condições de vida e a exploração dos setores mais pobres”|1|.

Atuação da Coluna Prestes

Após a junção das forças tenentistas dos paulistas e dos gaúchos, a Coluna Prestes iniciou sua marcha em 29 de abril de 1925. Pouco antes da marcha, parte dos envolvidos foi enviada para a Argentina com o objetivo de formar uma rede de apoio externo ao grupo que lutaria aqui no Brasil. Esse destacamento seria liderado por Isidoro Dias Lopes.

A partir daí, a Coluna Prestes iniciou uma marcha que cruzou grande parte do Brasil. A recepção dos membros da Coluna Prestes nas cidades do interior em que passavam era diversa. Enquanto em alguns locais eles eram recebidos como heróis salvadores pela população; em outros, eram recebidos de maneira fria e desconfiada por causa das ações que realizavam.

Ao todo, a Coluna cruzou territórios que correspondem a diferentes estados brasileiros: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Piauí, Bahia, Pernambuco etc. A estratégia dos membros da Coluna Prestes era de evitar confrontos abertos contra as tropas governamentais, sobretudo quando as forças inimigas eram consideravelmente grandes.

No final de 1926, após mais de um ano de marcha e luta, os membros da Coluna Prestes começaram a discutir a possibilidade de pôr fim à marcha. Primeiro, o governo de Artur Bernardes estava encerrando-se e, além disso, a Coluna havia falhado em criar um projeto político de tomada de poder, e sua luta não havia mobilizado a população como esperado.

Assim, no dia 3 de fevereiro de 1927, os membros da Coluna Prestes oficializaram a deposição das suas armas e exilaram-se na Bolívia. Luís Carlos Prestes saiu da Coluna com o apelido de “Cavaleiro da Esperança” e tornou-se um dos grandes nomes da luta popular brasileira ao longo do século XX. Prestes, em 1930, assumiu-se como comunista e, na década de 1930, esteve envolvido com uma tentativa de tomada do poder no Brasil.

|1| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 348.

*Créditos da imagem: CPDOC/FGV


Por Daniel Neves
Graduado em História

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "O que foi a Coluna Prestes?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-a-coluna-prestes.htm. Acesso em 21 de novembro de 2021.

https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-a-coluna-prestes.htm

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O RADIALISTA CORONÉ PEREIRA

 Por José Mendes Pereira

http://www.azougue.org/conteudo/dobumba162.htm. - Nesta foto de 1974, juntamente com o Pereira (falecido), aparece o Raimundo da Costa Lima ou Caby Costa Lima, (radialista da Difusora), que também já faleceu, e convivemos por alguns anos na Casa de Menores Mário Negócio. Ele semi-interno e eu interno. Com Pereira fomos adeptos da mesma empresa (sociedade).

Antonio Pereira de Melo, simplesmente o Coroné Pereira, ou ainda coronel Pereira, foi um dos maiores radialistas de Mossoró, não só da Rádio Difusora, mas como também na Rádio Tapuyo e Rádio Libertadora. Além disto, foi durante muitos anos operador de filmes no Cine Caiçara de Mossoró. 

Coroné Pereira- Rádio Difusora – 1969 - http://www.azougue.org/conteudo/dobumba139.htm

Em 1966, no início deste ano, eu comecei a trabalhar na Editora Comercial S/A., empresa que pertencia a um grupo  de sócios que era dono de dois cinemas em Mossoró e um em Areia Branca, mais a Rádio Difusora de Mossoró, Pereira era controlista. Mas, posteriormente, ele passou a ser locutor,  e como fazia na emissora um programa sertanejo, sempre usando a fala caipira, chegou a atingir uma grande audiência em Mossoró e nas cidades adjacentes.

Edmilson Lucena, Coroné Pereira e Tota – Enchente 1974 - http://www.azougue.org/conteudo/dobumba139.htm

Com o aparecimento do humorista e cantor Coronel Ludugero, que por algumas vezes veio a Mossoró, e fez seus shows no Cine Caiçara, a radialista Alnice Marques, uma comunicadora natalense, que foi locutora da Rádio Difusora de Mossoró por alguns anos, lançou-o como locutor, nomeando-o de Coroné Pereira. 

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Leia um pouco sobre o humorista e cantor Coronel Ludugero

"Luiz Jacinto Silva ou Coronel Ludugero, nasceu em 1929 e foi escoteiro aos dez anos de idade e estudou no Colégio de Caruarú (hoje Colégio Diocesano), onde só fez até o ginasial. Começou a trabalhar cedo, ajudando o pai a fazer selas de cavalo, mas não fez isso de profissão.


Fonte do texto e foto:  http://www.forroemvinil.com/coronel-ludugero-manda-brasa - DJ IVAN

Começou na música, na Rádio Clube de Pernambuco, e em 1960 conheceu Luiz Queiroga, que (com o incentivo do também radialista Hilton Marques) criou o personagem Coronel Ludugero. Logo no início, o Coronel Ludugero se apresentava sozinho, interpretando textos e pequenas músicas que Queiroga escrevia, mas, depois, na mesma época, conheceu Irandir Peres Costa, que também ganhou de Queiroga, o personagem de Otrópe, secretário e ¨braço direito¨ do coronel.


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O personagem de Dona Felomena ficou mais conhecido com a interpretação da atriz Mercedes Del Prado, mas apesar de muita gente não saber, nos primeiros programas, o mesmo personagem era interpretado, com o nome de Dona Rosinha, por outra atriz de muito talento, Rosa Maria.

Com o incentivo de Onildo Almeida e Nelson Ferreira, iniciaram-se gravações de músicas sertanejas. A primeira foi ¨Carnavá de Ludugero¨ em 1961 num disco de 78 rotações e depois em 1962 , num segundo disco de 78 rotações, vieram “Cumbuque de Ludugero” e “Ludugero Apoquentado”. Depois disso, gravou junto com a ¨trupe¨, vários discos e fizeram muito sucesso no Brasil inteiro. Nesses discos, ele gravava, além de músicas, textos humorísticos todos escritos por Luiz Queiroga. Mas interpretava músicas de grandes compositores como Onildo Almeida, Elino Julião, Dílson Dória, Abdias Filho, Oswaldo Oliveira, Juarez Santiago, Hélio Gomes, Jacinto Silva, Elias Soares e Luciano Rangel . Nos textos que tinham fundo musical, a maioria das vezes tinha a participação de João do Pife.

Mas, seu primeiro grande sucesso foi “Se Tivé Mulé” gravada pelo selo Mocambo, do Recife, num texto de Queiroga intitulado de ¨A Inleição do Coroné Ludugero¨.

Além de Ludugero, Luiz Jacinto interpretava mais dois personagens: Zé Beato (um sacristão puritano e envergonhado criado por Hílton Marques) e Virgulino (criado por Luiz Queiroga).

1964, juntamente com Irandir Costa e Luiz Queiroga, foi trabalhar na extinta TV TUPI, no Rio de Janeiro. Lá, participou do programa A E I O Urca, fazendo o personagem Zé Beato. Depois participou da primeira Escolinha do Professor Raimundo, de Chico Anísio, fazendo Zé Beato e Ludugero". - Fonte: http://www.forroemvinil.com

J. Barbosa, Coroné Pereira, Edmilson Lucena, Givanildo Silva, Edvaldo Moraes e Chico Monte - Carnaval – 1974 - http://www.azougue.org/conteudo/dobumba139.htm

Coroné Pereira continuava sendo uma pessoa prestativa e educada, recebendo como antes, os seus amigos que o tempo os distanciou do seu círculo de amizade. 

Não me recordo qual mês que o vi pela última vez entre nós, e assim que ele me viu, quando eu passava em frente à sua residência, falou comigo como se ainda fossem os mesmos tempos passados, quando nós trabalhávamos na mesma empresa, apenas com uma pequena diferença: Eu na Editora Comercial e ele na Rádio Difusora, ambas funcionavam no mesmo prédio do Cine Caiçara.

Minhas simples histórias


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A COLUNA PRESTES E O REI DO CANGAÇO.

Por Beto Rueda

A Coluna Prestes foi um movimento tenentista que pretendia promover a insurreição contra o governo Arthur Bernardes e o poder das oligarquias ainda no período da República Velha, entre 29 de abril de 1925 a 3 de fevereiro de 1927.

Liderada por Luiz Carlos Prestes, Miguel Costa, Juarez Távora entre outros, foi uma marcha que percorreu 25 mil quilômetros pelo interior do país. Começou pelo Rio Grande do Sul e atravessou mais 12 Estados Brasileiros, encerrando a sua trajetória na Bolívia.

A Coluna, ao entrar no Ceará com estimados 1.500 homens, fez com que as autoridades locais se alarmassem; tinha que ser feito alguma coisa para conter aquele levante.

O Deputado Federal Floro Bartolomeu foi designado ao posto de Comandante Geral das Operações pelo então Presidente do Brasil. Por intermédio do Padre Cícero, convidou Lampião e seu grupo a combater Prestes pois considerava o seu conhecimento de toda região e sua experiência nas táticas de guerrilha, fundamentais para o confronto.

Com a promessa de armamentos novos, isenção dos crimes praticados até então e a patente de capitão a Lampião, primeiro tenente a Antônio Ferreira da Silva e segundo tenente a Sabino Gomes, o chefe dos cangaceiros atendeu o pedido do Padre Cícero do qual era devoto e partiu com seu grupo para o encontro.

Passaram por Barbalha, acamparam na Fazenda Nova que pertencia a Floro enquanto se preparavam para entrar na cidade de Juazeiro do Norte. A presença do famoso sicário nos arredores da cidade causou sensação, todos queriam vê-lo de perto.

No dia 04 de março Lampião e seus cangaceiros entraram na cidade, foi uma enorme algazarra: muitos curiosos se concentraram nas ruas e praças por onde passava o Rei das Caatingas e seus bandoleiros. Rumaram diretamente para a casa de João Mendes, comerciante e poeta popular.

Lampião Recebeu as visitas com cortesia e seu ar imponente. Deu algumas esmolas e jogou moedas para os meninos na rua. Estava gostando da estadia. Concedeu até entrevista ao médico Otacílio Macedo contando as suas aventuras e apresentou os seus homens.

O ponto alto da visita foi o encontro com o Padre Cícero que não gostou do encargo que tinha caído sobre os seus ombros. Mandou chamar o inspetor do Ministério da Agricultura Pedro de Albuquerque Uchôa para formalizar a nomeação. Esse documento em termos gerais concedia ao capitão Virgolino Ferreira da Silva e seus comandados, a "permissão" de viajar livremente, de Estado a Estado, em companhia dos Batalhões Patrióticos, na perseguição aos revoltosos.

Quando deixou Juazeiro no dia 08 de março, Lampião pretendia cumprir o acordo. Foi pelo Sul, em direção à Bahia. No limite do Estado entretanto, ainda em Pernambuco, a polícia não reconheceu a sua patente e perseguiu o contingente. Desiludido, sentindo-se enganado, ele e seus cabras fizeram meia volta e pegaram o caminho para o Norte, voltaram para o Ceará em direção a Juazeiro com intenção de pedir apoio ao Padre Cícero. Antes que chegassem, o padre mandou avisar que não iria mais recebê-los.

Pelo descrédito das patentes e pelas promessas não cumpridas, voltou a praticar crimes como antes, voltou a ser o Rei do Cangaço.

Durante o resto da vida se autodenominou Capitão. Pela força do destino, Lampião e a Coluna Prestes nunca se encontraram.

REFERÊNCIAS:

CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião, o rei dos cangaceiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

MACIEL, Frederico Bezerra. Lampião, seu tempo e seu reinado. Vol. III. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1986. p. 20.

LUCETTI, Hilário. Histórias do cangaço. Crato: Gráfica Encaixe Ltda, 2001.

SOUZA, Anildomá Willans de. Lampião, o comandante das caatingas. Serra Talhada: [s.n.], 2001.

LUSTOSA, Isabel. De olho em Lampião: violência e esperteza. São Paulo: Claro Enigma, 2011.

IRMÃO, José Bezerra Lima. Lampião, a raposa das caatingas. Salvador: JM gráfica e Editora, 2014.

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