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terça-feira, 27 de agosto de 2013

O documentário que faltava por aqui

De Maurice Capovilla  "O último dia de Lampião" 1975
 

Sinopse:

"Depoimentos documentais somam-se à reconstituição das últimas 24 horas de Virgulino Ferreira, o Lampião.

Com narração de Sérgio Chapelin registram-se imagens e vozes de soldados da Volante e, também, de cangaceiros sobreviventes da emboscada (ocorrida em 28 de julho de 1938), na qual morreram Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros.

O cineasta pergunta a todos eles: 'onde você estava aquele dia?'. As filmagens contaram o episódio narrado, tanto sob o ponto de vista dos cangaceiros, quanto do ponto de vista dos 'macacos' (Soldados da Volante).

Começa em Piranhas, Alagoas, onde a tropa iniciou sua movimentação, até montar a emboscada na grota de Angico. Os sobreviventes foram levados aos locais onde tudo se passou. Atores e populares (alguns parentes dos envolvidos no conflito) atuaram.

A Polícia Militar de Alagoas forneceu o armamento e soldados da PM." , sinopse extraída do livro 'Cangaço, o Nordestern no Cinema Brasileiro', org.: Maria do Rosário Caetano, Avathar Soluções Gráficas, DF, 2005.)

Observações do Diretor

O tema do cangaço chegou à Blimp Film por acaso. *Um dentista, pesquisador do cangaço, era conhecido do diretor de produção da Blimp. Por isso, ele nos deixou, para nossa avaliação, enorme texto com dados importantes dos diversos bandos de cangaceiros, especialmente do bando de Lampião. O Guga (Carlos Augusto de Oliveira) me deu o material para eu dar uma olhada. Eram informações gerais e dispersas, abarcando um amplo universo dos conflitos do cangaço.

Achei interessante, pois a pesquisa citava nomes de cangaceiros e suas localizações no espaço geográfico do Nordeste. Entre eles, muitos se encontravam no coito de Angico por ocasião da morte de Lampião.

Propus então realizar um programa que centrasse o foco nos últimos dias de Lampião, isto é, as últimas 24 horas do bando. O Guga topou na hora e o Boni (José Bonifácio Oliveira Sobrinho, irmão dele e executivo da Globo) analisou e aprovou o projeto. Necessitávamos da aprovação dele, uma vez que o orçamento para esse filme extrapolava custos habituais.

'O último dia de Lampião' foi realizado em duas etapas. Na primeira viajei com a equipe precursora e subi de Salvador, passando por Alagoas e Sergipe, Até chegar ao Recife. Fui encontrando e captando depoimento dos cangaceiros. Em Alagoas encontrei dois soldados da volante, Abdon e Panta - este foi o militar que matou Maria Bonita.


 Soldados Abdon e José Panta de Godoy

Em Piranhas, consegui o depoimento dos traidores, Joca Bernardes e Durval, o irmão de Pedro de Cândido, os dois coiteiros de Lampião, que nunca tinham confessado a traição.

João de Almeida Santos, o Joca Bernardes.

Voltei a São Paulo com o material, montei e segui para a segunda etapa, que consistia em reconstituir, a partir das entrevistas feitas, os fatos que culminaram com a morte de Lampião. De grande ajuda foi Cila, mulher de José Sereno - que estava hospitalizada em São Paulo. O depoimento dela tem valor de confirmar informações contraditórias. Cila era a melhor amiga de Maria Bonita, era também a figurinista do bando e foi a nossa também. Os chapéus foram confeccionados por Dadá, mulher de, na Bahia.

 
Soldado João Bengo

Enfim, tive sorte de encontrar testemunhas oculares da história, que deram a credibilidade necessária à reconstituição dos fatos (...)'

- Trecho de depoimento de Maurice Capovilla, extraído do livro 'Cangaço, o Nordestern no Cinema Brasileiro', org.: Maria do Rosário Caetano, Avathar Soluções Gráficas, DF, 2005."

"Depoimentos dos remanescentes do grupo residentes na capital paulistana que se achavam presentes no dia da morte de Lampião e daquele que deu o tiro inicial, Abdon, nunca antes entrevistado".

Vamos ao deleite...


Fonte: Canal do excelente DocsPrimus no You Tube.
Texto: www.cinemateca.gov.br
Fotos: DocsPrimus e Prints do vídeo.

*O dentista em questão é nosso estimado amigo Antonio Amaury

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Outra leva de novidades...



...E relançamentos que compõem a mini bienal do maior encontro de cangaceirólogos do Brasil

Lampião, morreu assim pela 4ª vez

Lampião foi envenenado?

Esta pergunta tem sido feita com muita constância pelos pesquisadores interessados na vida de Lampião. E a resposta foi dada pelo médico Dr. Leandro Cardoso duramente apresentação dos resultados de seus estudos a este respeito, através das analises feitas sobre os prováveis venenos utilizáveis à época, e seus respectivos efeitos nas vítimas, contribuindo assim para elucidar as questões levantadas a este respeito.

O mesmo trabalho encontra-se transcrito na integra no presente livro, e foi apresentado em primeira mão na 2ª edição do Cariri-Cangaço.



Alguém traiu Lampião? A entrevista feita com Joca Bernardo, traz a resposta a esta pergunta, dada de viva voz pelo mesmo ao autor deste livro, reincidente entre os estudiosos do assunto.

• Valor de lançamento : R$ 45 (Quarenta e cinco reais)

"Dé Araújo" será imortalizado por Geraldo Ferraz


Trata o presente trabalho, em especial, da biografia, resumida, de um cidadão sertanejo, que, achando-se injustiçado, resolveu pegar em armas para executar sua vingança. Na sua espetacular trajetória de vida, tornou-se cangaceiro – ao ingressar no grupo liderado pelo Sinhô Pereira incorporou-se a Força Pública de Pernambuco, virou desertor, reassumiu as fileiras do cangaço – mais uma vez sob o comando do Sinhô Pereira e, logo  a seguir, ficou sob a chefia do temível Lampião -, até o momento que não mais compactou com os bandoleiros, e, finalmente, sendo convencido por familiares e amigos, a tentar a sorte no Sudeste brasileiro, se incorporou no Regimento de Cavalaria da Força Pública de São Paulo e tornou-se um militar exemplar.

• Valor de lançamento R$ 40 (Quarenta Reais).

Aninha e Paulo resgatam um capitulo perdido



Sítio dos Nunes de Flores, vive Saga cangaceira é o fruto da parceria entre a professora e pesquisadora Ana Lúcia Granja e Paulo Medeiros Gastão.

Um relato de crimes praticados por cangaceiros no distrito de Sítio dos Nunes, Estado de Pernambuco. O Processo é instaurado na Comarca de Flores e se passa no ano de 1928. 

Este documento encontra-se na integra, sendo o primeiro a ser lançado para deleite dos leitores do cangaço em território nacional.

Lembramos aos aficionado do cangaço que a tiragem da 1ª edição é limitada. Sendo de agradável leitura e trazendo fatos nunca descritos desde o primeiro livro que retrata o cangaço.

• Valor de lançamento R$ 15,00 (Quinze reais)

Posteriormente faremos a divulgação e forma de aquisição para os rastejadores de todo país. E como bem disse o confrade Honório de Medeiros - " Preparem os corações e mentes, aficionados da história do Sertão nordestino: Vem aí o...


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LAMPIÃO E CORISCO

Por: Clerisvaldo B. Chagas, 27 de agosto de 2013 - Crônica Nº 1075
  
LAMPIÃO E CORISCO

Para quem gosta de história de cangaceiros, apresentamos abaixo, matéria publicada na “Folha da Manhã”, jornal sergipano no tempo do cangaço. Dez dias após a morte de Lampião, era estampada no referido jornal:


“Diz-se que, morto Virgulino, o rei do cangaço, tem em Corisco um legítimo sucessor. Entretanto, somente a impressão exterior é que transfere para a atual eventualidade o prestígio de uma majestade que Corisco há muito adquirira por merecimento próprio.

Lampião, sem dúvida, o maior destruidor de riquezas e de vidas que já viveu no Brasil, criou fama à sombra de perversidades e vandalismos sem limite, Era uma alma esfíngica, um ser incompreendido, que guardava uma surpresa em cada gesto.

Suas atitudes não tinham a execução lógica de um caráter fixado na psicologia, pois a sua conduta era um mundo de fugas e fintas para os observadores mais íntimos. Era aliás, a chave do seu terrível prestígio.

Corisco é mais humano. Tem um caráter definido. Sem nenhum sentimento de bondade, age, porém, como homem lógico. É uma verdadeira máquina de precisão. Lampião ameaçava sempre, mas nem sempre executava a ameaça.

Corisco não diz o que pretende fazer. Faz. E, quando age, vai direto ao objetivo. Será fácil adivinhar-se uma atitude de Corisco, ao passo que era impossível saber o que Lampião faria até mesmo na hora do fato. Mas, na técnica de atacar, Lampião ficava muito a distância de seu antigo subordinado.


Na história sangrenta de Corisco não se registra um assalto frustrado. Ele estuda o terreno, pesquisa, prepara-se com requintes de cuidados, mas quando investe é para vencer sempre.

Não se aventura a um assalto duvidoso, ao passo que Lampião muitas vezes teve que fugir diante de uma resistência inesperada.

Esse homem diabólico ainda vive no sertão, onde sua fama só é menor do que a de Virgulino pela repercussão das barbaridades do rei do cangaço. As forças que combatem o banditismo reconhecem a superioridade técnica de Corisco e compreendem ser ele um bandido mais “duro” do que Lampião.

Morto o “terror do sertão”, resta às autoridades a caça ao bandido louro. Manuel Neto, Luiz Mariano e João Bezerra, a trindade de ferro que luta pelo extermínio do cangaço no Nordeste sabem que encontrarão em Corisco um inimigo se não mais perigoso, pelo menos mais valente e mais difícil de abater. Vai começar, agora, a caçada ao bandoleiro de olhos verdes. Não faltarão aos seus perseguidores a tenacidade e a coragem necessária para enfrentar todos os riscos dessa luta de morte a que os sertões nordestinos assistirão”.

Extraído do blgo do escritor Clerisvaldo B. Chagas

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2013/08/lampiao-e-corisco.html
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O célebre atentado contra Isaías Arruda na estação do trem de Aurora

Por José Cícero
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A tarde estava cinzenta naquela Aurora pacata e provinciana de 1928. Uma enorme sensação de tranqüilidade cobria os semblantes dos viajantes, assim como o coração e o pensamento da multidão que se aglomerava na pedra da estação aguardando o trem. Uma cena comum em todas as cidades interioranas atendidas pelo velho comboio da Rede Ferroviária Cearense(RVC).

 Coronel Isaías Arruda - filho de Aurora - ex-prefeito de Missão Velha

Nuvens cor de chumbo em formação pareciam prenunciar no céu daquela Aurora antiga e calma, algo diferente prestes a ocorrer: uma tragédia. Logo se constataria...

Foto
Estação de Aurora - aqui também Isaías Arruda em !028

Naquela tardezinha quase insossa de sábado, dia 4 de agosto de 28 quando muitos já se esqueciam dos episódios de um ano antes, relacionados à presença do rei do cangaço na terrinha; o velho aparelho do telégrafo da RVC de novo estava prestes a receber no código morse um telegrama diferente. Um comunicado estranho; digamos que chave, para os desdobramentos do acontecimento dramático que se seguira ao fato:

Jagunços do cel. sob o comando de Zé Gonçalves - Foto de Zé Ingazeiras

Porém, aquela mensagem sertanejamente codificada não seria de todos estranha. Havia um destino e um desiderato certo: os paulinos com o fito de surpreender o coronel. - “Antonio, algodão hoje sobe!”. Eis a mensagens...

Uma missiva quase enigmática considerando que o algodão – o ouro branco d’Aurora daquele tempo, faria sempre o sentido contrário, ou seja, descia pras bandas do litoral. E o seu preço no mercado há muito era de todos conhecido.

Dizia muito mais do que ali estava escrito de modo lacônico... A estação de Aurora estava repleta de gente. Um acontecimento que se tornara comum deste a sua inauguração festiva, oito anos antes, isto é, em 7 de setembro de 1920.

E a cronologia do momento seguinte, logo provaria para todos que o pano de fundo era um crime. Um atentado violento à ordem e a vida em nome da vingança e da intolerância de uma região marcada pela lei do bagamarte. Uma intriga passada à limpo. E como se viu, expressa na força da violência e da ignorância em detrimento da razão e da justiça. Sinais de uma época densamente marcada pelo poder de fogo do coronelismo oligárquico, engendrado pelos mais temíveis e truculentos líderes políticos que o Cariri cearense já experimentou um dia. Um período onde a lei no mais das vezes, quando prevalecia, era a do mais forte.  Enquanto a justiça quase sempre, era feita, via de regra pelas próprias mãos, em geral, dos poderosos.

Estação de Aurora em dia dia -exposição de fotos antigas

Naquele sábado, de uma tarde escura de agosto, a estação de Aurora não demoraria a ser palco de um episódio que  marcaria à história do Cariri e do Ceará para sempre como um nódoa incômoda. Vez que envolveria, aquele que foi certamente, o mais famoso e temível chefe político da região: o coronel Isaías Arruda de Figueirêdo. Filho do lugar, ex-delegado de polícia, então prefeito pela força da vizinha Missão Velha. E, de quebra, o maior dos coiteiros de Lampião no interior cearense. Um autêntico mantenedor de jagunços e hábil negociador político junto aos potentados da vizinhança, assim como os grandes da capital.

O tempo escorria tal qual o suor no rosto daquela turba de anônimos já impacientes pela delonga. O relógio do prédio apontava 14h25min quando, finalmente, todos puderam escutar o apito estridente da velha máquina a ecoar no horizonte.  Apenas Sabina, entretida demais com o seu café, não se deu conta daquele acontecido. Todos, de repente voltaram suas atenções na direção do corte-grande lá pras bandas do alto da cruz, do sito Frade. A paz da Aurora estava prestes a sofrer um abalo...

O trem da Fortaleza vinha ligeiro e enfezado beirando o rio Salgado na ânsia de chegar tão logo às terras do Crato. E chegou à Aurora. Esbaforido e com sede como se fosse um animal cansado.

Enquanto exímios chapeados transportavam com pressa e sem nenhum cuidado, grandes caixotes, sacos, pacotes e outros fardos de mercadorias aos sopapos. Uns desciam para o armazém da RVC outros subiam para os vagões do trem com destino ao Crato. Animais, coisas de madeira, artesanato, aguardente, rapadura, oiticica, panelas de barro. O trem acelerava a curiosidade, tanto quanto a economia daquela vila quase esquecida no oco do mundo.

Mas de repente, o som de um tiro seco ribombeou no ar. Quebrando a normalidade natural daquele acontecimento diário. Em seguida, vários outros disparos puderam ser ouvidos no interior do segundo vagão da primeira classe. Talvez sete ou oito no total... Até hoje ninguém sabe ao certo. Um silêncio quase sepulcral se abateu na plataforma por alguns instantes que pareceram eternos. Somente o roncar da locomotiva um pouco mais a frente estacionada defronte a caixa d’água. Em seguida uma correria...

Vozes diziam tratar-se de uma discussão. Três homens saíram atracados e em seguida correram no sentido contrário do vagão. Uma disparada em direção do armazém e depois para o beco da antiga rua que dava para o cemitério. De súbito, um quarto homem um tanto elegante, rosto jovem e bem tratado. Gestos aparentemente finos, surgiu do segundo vagão da primeira classe. Vestia impecavelmente um terno de linho branco. Olhar altivo. Pisou de modo esquisito e desaprumado o piso, a pedra da estação. Alguns passos apenas e cambaleando fitou a multidão como quem quisesse dizer algo. Não foi possível. Sangrando e com a mão direita colada ao peito chamava baixinho pelo primo.

O linho branco do seu terno agora começava a se tingir de vermelho. Seus sapatos de cor marrom e bem polidos contrastavam com o vermelho escuro do seu próprio sangue formando poças na plataforma enfumaçada. Era o coronel Isaias Arruda, chefe político, filho da terra. Prefeito da Missão Velha. Alguém logo afirmara em meio a multidão de curiosos.

Homem afamado em toda região, desde as bibocas à capital do estado. Um líder corajoso e ousado. Devagar caiu ao chão da plataforma ainda com arma intacta junta ao cinto. Não teve tempo sequer de usá-la.

Alguém saindo de dentro do vagão posterior se aproxima dele e forra o chão da pedra com um jornal que lia; edição do dia 3. Seu braço esquerdo e parte superior do tórax estavam em frangalhos.

Ferimentos gravíssimos provocados pelos vários balanços com que fora atingido mortalmente. E o coronel, mesmo seriamente alvejado, bastante ferido, pronunciou baixinho quase inaudível:

- Os irmãos paulinos me acertaram!

Eles me acertaram!

- Mas como é que nem o Viana nem ninguém me avisou que meus inimigos estavam aqui?!

Oh, Bando de covardes...

E de chofre emendou:

- alguém me chame o farmacêutico!

Foram os Paulinos, eles me acertaram... repetiu: - Bando de covardes!

Outros mais ousados iam  aos poucos  se aproximando da vítima que gemia deitada ao solo da pedra, sobre as folhas do jornal ‘O Ceará’. Enquanto isso, um mais pouco afastado da estação José Vicente ou Nezinho de Milica, dois  primos  saíram em perseguição(ou fugindo) dos irmãos paulinos: Antonio e Francisco, responsáveis pelo atentado.

Foi levado para à residência de Cícero Ferreira do lado do poente  e, em seguida, para a de  Augusto Jucá um antigo amigo morador da rua grande. Isaías foi socorrido. Inicialmente por um farmacêutico prático - o único que existia na cidade. No dia seguinte, bem cedo, dois médicos de Iguatu vindo de trole pela linha da RVC: Antenor Cavalcante e Sérgio Banhos atenderam o coronel. Porém, diante da gravidade dos ferimentos não tiveram como salvá-lo. Sendo que no dia 8 de abril uma quarta-feira às 6h da manhã, quatro dias após ter sido baleado, Isaías Arruda faleceu como que por capricho do destino na terra em que nasceu, foi batizado, cresceu, casou e foi delegado.

Antiga Fazenda Ipoeiras do cel. Isaías em dia de Cariri Cangaço

Rumores apontaram ter sido o assassinato uma vingança de Lampião pela suposta traição do coronel um ano antes, durante o célebre “fogo da Ipueiras” (fazenda de sua propriedade) ao lado de Zé Cardoso e o major Moisés Leite de Figueiredo. Além da tentativa de envenenamento do bando lampiônico, em cujo local Virgulino se arranchara por diversas vezes. Ocasião em que o rei do cangaço fugia das volantes, após o fracasso da invasão à Mossoró, arquitetada sob as estratégias de Massilon Leite e financiada pelo próprio coronel.

Mas o certo, segundo se provaria logo depois, foi que os paulinos vingaram o assassinato do irmão mais velho João, morto numa emboscada no serrote d’Aurora pelos jagunços de Arruda no ano anterior.

Terminava ali de modo trágico, na estação ferroviária de Aurora a verdadeira saga de um dos mais temíveis e respeitados coronéis do Cariri - Isaías Arruda de Figueirêdo. Assim como, sua rixa ferrenha contra os irmãos paulinos da Aurora.

Prof. José Cícero.
Escritor, Pesquisador e Poeta -
Secretário de Cultura e Turismo de Aurora - Ce.
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Fotos: arquivo JC

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COM DEDO NO GATILHO E LÁGRIMA NO OLHO (O JAGUNÇO ENTRE O SIM E O NÃO)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

Não negava a ninguém. Matava porque era o jeito, por profissão, mas não gostava disso não. Maldita hora que aceitou três contos de réis pra dar cabo de um pé rapado que nem tinha onde cair morto. Tudo por causa de intriga do coronel que soubera haver o cabra olhado pros peitos de uma de suas raparigas.

Tocaiou o homem, enfiou-lhe dois chumbos quentes na testa e fez o caminho de volta para receber o restante do pagamento. Foi seu maior erro, pois o coronel pagou o acertado, mas disse que aquele dinheiro não lhe dava garantia nenhuma se saísse dali. Certamente ia ser preso pela morte de um inocente, e mais ainda de emboscada. Lascou-se pro resto da vida.

Sem saída, ali mesmo foi ficando. Vinte anos depois e servindo de jagunço para o mesmo patrão, já nem sabia quantos tinha derrubado e deixado estrebuchando nas veredas ou curvas poeirentas daquele mundão de sangue e urubus. Com o tempo, foi adquirindo uma frieza tal que tanto fazia atirar numa cabaça num pé de pau como na testa de um desafeto de seu patrão.

Era especialista em emboscada, em tocaia, em morte sendo cuspida dos tufos do mato, das sombras fechadas dos arvoredos de beira de estrada. Ali chegava feito um bicho do mato, silencioso, quase rastejante. E então se punha a esperar sua vítima. Sabia que mais cedo ou mais tarde ela passaria ali, pois caminho, pois lugar certeiro para seguir adiante. Um dia, dois dias, nada disso importava. Quando menos esperava e o vulto apontava adiante. Então era hora de mostrar sua maestria na arte da jagunçagem.

Levantava um pouquinho se estava acocorado; se achegava mais pra perto da visão da estrada; vagarosa e cuidadosamente abria uma pequena fresta em meio às folhas e galhagens; verificava se a arma estava em ponto de tiro, com munição, sem empecilho no cano nem no gatilho; esticava a mão levando nela a arma; aprumava numa direção certeira; guiava o cano pela mira de um dos olhos, mantendo o outro apenas entreaberto; e assim se mantinha firme, pronto para o fatídico evento. O primeiro tiro.

 

Entretanto, parecia uma eternidade desde o momento em que chegava ao local até o instante em que fatalmente apertaria o gatilho. Nos últimos segundos, coisa de dez ou vinte, certamente que não pensava noutra coisa senão sentir o fogo cuspindo o estampido seco. Já estava fora de si e tomado apenas pela expectativa do acerto e da visão do corpo atingido. E depois caindo. 

Contudo, até esse momento muita coisa se passava pela sua mente, ainda que para os outros ali não houvesse nada além de uma fera, alguém que desde muito havia se desumanizado e embrutecido os sentimentos. Bons ou maus, sentimentos haviam; pensamentos bons ou ruins, fundados ou vazios, certamente que haviam. E tais pensamentos martelavam sua cabeça desde o primeiro instante em que se punha no local da tocaia.

Na solidão da mataria, no silêncio sussurrante da natureza, não há ninguém que deixe de refletir sobre a existência, o percurso de vida, o que fez e o que tem a fazer, contrabalançando seus atos e ações. E nada disso se distanciava do jagunço. Diferentemente do que qualquer um poderia imaginar, era dentro do tufo de mato que encontrava seu verdadeiro confessionário, que conversava consigo mesmo e lamentava e pedia perdão pelas ações tão medonhas.

Sua mente fervilhava, clamava, gritava, silenciava, e dizia: “Até quando, até quando essa vida de tirar a vida dos outros? Preso à sede de sangue de um coronel, deixo de ser gente para me tornar num bicho sedento da vida do outro. E ninguém que seja meu inimigo, ninguém que me tenha feito qualquer mal, ninguém que verdadeiramente mereça morrer pelas minhas mãos. Até amigo já matei porque o tinhoso mandou, até pessoas que eu sabia inocentes já tombaram pela minha arma. E o que ganhei nisso tudo, o que tenho agora como prêmio por tantas covardias, o que posso ter daqui em diante? Tenho filho, tenho mulher, e o que seria de mim se alguém jogasse chumbo por cima deles? Eu não nasci pra isso, eu preciso viver, preciso refazer minha vida. Mas sempre repito isso. E já repeti mais de vinte vezes, e em mais de vinte mortes. Mas essa será a última. Ou nem será mais a última, pois já não vou mais matar ninguém...”.

E ouve o som do cavalo a galope. Estanca o pensamento e alonga a vista. É ele. E mira, aponta, coloca o dedo no gatilho. Uma lágrima ainda escorre no canto do olho. A lágrima desce pela tez crispada de sol. O olho mirando, a lágrima, o gatilho. Será?

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
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Cangaceiros repentistas

Por: Francisco Carlos Jorge de Oliveira
 Cabo- Francisco Carlos Jorge de Oliveira

O sol do  fim  da tarde,  se  desprendia oblíquo no  horizonte  púrpuro  por trás  das  serranias nordestinas e a aragem  morna  que   vinha  dos  altos  sertões,  tocavam branda  nas soadas  faces de homens  exaustos lhes  blindando com  o frescor  e o suave   aroma  das flores   de  inúmeras  aroeiras   que  enchiam  os  ares  das  caatingas; exalando um  perfume  indescritível. E com  um propósito eles deixam  a  Paraíba  para  entrarem  em solo  potiguar, eram bandidos  liderados por  Virgolino Ferreira  da Silva  vulgo  “Lampião” o  mais  temido  cangaceiro.

Lampião o primeiro da esquerda

É   introito  de  junho, principio  do inverno  de  1927,  e  o  rei  do cangaço  com  seus  comparsas após atacarem e  saquearem a cidade de Luiz Gomes,  agora seguem  rumo à  sede  de  uma fazenda  em  ruínas  onde  irão acampar  e esperar  a  chegada  do bando de Massilon  Leite  Benevides; que ainda encontra-se em terras cearenses. 

O cangaceiro Massilon Leite

No amanhecer  do  segundo   dia, uma das sentinelas  do acampamento  alerta o  bando  de Lampião  com  um sinal  de  que   está  chegando  gente, e no  átimo todos se  põe  a  postos,  mas;  logo um  batedor do  grupo, informa que são os  cabras  da  súcia  de Massilon que  estão  se  aproximando. Então logo após  serem  recebidos pelo capitão  Virgolino, se  fartam  na  maior comilança  e  bebedeira  com  os víveres e demais  produtos  furtados  na  cidade de  Apodi, e  assim os  cabras  festejam por cinco dias  seguidos,  e no sexto dia,  as  duas  maltas  unidas  deixam  suas  cavalgaduras aos cuidados  de um coiteiro  e  seguem a pé  para um lugar  escuso em meio às caatingas  onde  irão pernoitar  e posteriormente  prosseguirem com  o  audacioso plano  de  seus  lideres em ofensiva  a  Mossoró. Mas como  é  de  praxe,   em  todos  os  acampamentos   militares  ou   paramilitares,  tem  que   haver   algum  esquema  de    proteção  que  lhes  proporcione  segurança  à noite   enquanto  dormem, para  não  serem  surpreendidos  durante  o  sono. Então  a  escolha  destes  sentinelas  como   era  de  costume, Lampião  usava  um modo  lúdico e  bem divertido,  com  o  critério   do  erro,  isto  é;  todos  seguindo  posicionados  em  fila  indiana, no  percurso  da  caminhada e até   chegarem  ao  lugar  determinado  por  si,  o  rei  do  cangaço  ordenava  que  todos  cantassem  um  “repente” em  forma  de  trova,  mas  um  de  cada  vez,  porém  numa  sequência  e    sem  repetir  o  verso  já  cantado  pelo  companheiro,  e  aquele  que  errasse  a  rima,  ou  a   coesão  da  estrofe,  automaticamente  já  encontrava-se  escalado  para  a  guarda  noturna,  e  desta  forma  o  próprio   líder, era   quem  puxava  a   cantoria que  era mais  ou  menos assim.

Capitão:- Olê  mulé  rendeira!  olê  mulé  renda! Todos: - tu  me  ensina  a  fazê  rendas, que  eu  te  ensino  a  namorá! Virgulino: *Lampião  desceu  a  serra,  foi vizitar  juazeiro,  foi  pra  ver  mulé  bunita,  foi   tombém  buscá  dinheiro. *Sabino Gomes: - Pernambuco  i  Ceará,  Piauí  i  Alagôa,  nunca ví  coisa tão  bôa,  qui  nem  as  morenas di lá. *Luiz  Pedro : -Acordei agoniado, di  brabo  rangia  us  denti,  atirei  na  baraúna,  pensandu  qui  era u tenenti. *Cochete : - Minha  sogra  era uma bruxa, matei  ela  di  garrucha, cum   dois tiru  a quema  bucha, nu  pé  duma  arvi  mucha *José  Roque: - Entrei  nu  mato   armado,  di  faca,  facão  i cunha.,  cincoenta duzias  di  gato  tem dez mile   e   oitocentas unhas.*Massilom: -  Cangaceiro  i  macaco , nunca dá  di  cumbina, é  pipóca  na   panela,  é  tará!  tatá!  tatá! *Miudo: - Fui  pesca  nu  São Francisco,  mais  curisco  i  capitão,  peguemo  cinco  curimba,  dois  dorado  e  um  tubarão. *Mormaço: - Nu  sertão  di  Alagoa,   cortei  um  pau  di  pinheiro, pra  fazê  uma  canoa,  pra  pesca  u  dia  inteiro. * Mergulhão :- Tomei  água  di  cacimba,  no sertão  do  Ceará,  i  mijei  no  par  di  butina,  du  tenenti  Viaja. *Eziquel :-  Briga  feia  no  sertão, é  do  teiú  i  o  cascavel, são  dois  bicho  da  mulestra, qui   morri  i  não  vai  pro  céu.*José Pretinho: - Ví  um  bando  di  jurutí,  se arriba  do  meu  sertão, precurando   argum    luga,  qui  a  água   corri  pelu  chão. *Pinga  Fogo : - Eu  topei  cum   lubisome,  na  noite  de São  João,  gritei  por  meu  padim Cirço i  sai  num  carreirão. * - Mourão :- Mi  atraquei   cum   uma  quenga, lá  du  norti da  Bahia,  ela  babava  e  gritava,  mi  zunhava  i  mi  mordia. *Jatobá: - Zé  Sordado  não  deu  sorte,  na  briga  cum  Mergulhão,  levô um  chute  no  rabo,  e  prancho  a  cara  no  chão.  *Navieiro: -  O fuzi  di Lampião,  ta  cum  a  coronha lascada,  di  tantu  ele  da  coice,  nu  côco  da  macacada. 

Restavam   ainda mais  uns  trinta  cangaceiros,  quando  num  gesto Lampião   mandou   cessar  a  cantoria. Dai  um  cangaceiro  indagou: 

- Mais  capitão!  purquê  u  sinhô  mado parar , logo  agora  qui  a  cantiga  tava tão  bôa? 

E  o  rei do  cangaço respondeu: 

- Tá  bão!  eu  já  tenho  us  quatro  cabras  qui vão  ficar  di  guarda  esta  noite. Chegando  no  lugar  de acampar eu digo u nome deles. 

E  assim todos  ficaram  ansiosos  para chegar  logo  e  saber   quem  eram os  infelizes  escolhidos pelo  chefe, pois  ninguém  gostava  de  ficar acordado  a  noite  toda  cuidando do  acampamento,  outrossim;  eles  não haviam  errado  as  rimas, nem  as trovas, isto é; em  suas  concepções  mas...  a  palavra  do  rei  é  lei,  então;  manda  quem  pode  e  obedece  quem  tem  juízo.

Quando  a  noite  escura negrejou o acampamento, que a  mortalha rasgou a cara da lua, e todos já  se   preparavam  para    pernoitar, Lampião  chamou  os  cangaceiros  Miúdo,  Mormaço,  Zé Pretinho, Pinga Fogo, José Roque e  assim disse ao  primeiro: 

- Tubarão  não é  peixe de água doce. Ao   segundo: - Pinheiro  não  é  madeira  destas  bandas. Ao tenceiro - Pomba  juriti  não  vôa  di  bando. E ao quarto cabra:- Lubisome  é  diabo  qui  vagueia  na  quaresma  i  não  nas noites  das  festas di  fogueira. i você  Zé  Roque,  eu  num  vô  isquentá  as  idéia  pra contar  e  descobrir  se  esta certo  a  conta  das  unhas  dus  seus  gatos,  mas  despois  qui  nois  invadi  Mossoró  eu  vô  precura  um  profissô  i manda  ele  fazê  esta conta  pra  eu,  i  si  você  tivé  mi  inganando ou mangano  deu, o  diabo  que  não quera tá  no  seu  coro.  Agora us  quatro, menos  ocê  Zé  Roque,  podem  si  armar  i  si  revesarem  na  guarda  du  acampamentu inté amanhã cedu, i  sem  cunversa.

Aí Mendes, esta é  mais uma das minhas mil histórias  do mundo do cangaço.
    
”Saudações Militares ”  cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira pmpr-rr.

Enviado pelo cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira

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