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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

ADEUS, PADRE MOTA!


(Oração fúnebre, pronunciada pelo Prefeito Raimundo Soares de Souza na ocasião do sepultamento do Monsenhor Luiz Ferreira Cunha da Mota, no dia 27 de agosto de 1966 – FEMENICK, in Informativo do Município. Mossoró: Prefeitura Municipal de Mossoró, 28 ago. 1966):

Ex-prefeito de Mossoró Raimundo Soares de Souza

“Não imaginava, tão cedo, ter de cumprir este doloroso dever: transmitir ao querido Padre Motta o sentimento de homenagem do Município e de seus amigos mais diletos, à beira de seu túmulo. Embora doente, há algum tempo, seu estado, porém, não fazia adivinhar fim tão próximo, sobretudo quando o espírito era sempre aquele esplendor que nos iluminava, desde os primeiros contatos, rompendo-lhe a simplicidade e a modéstia.

E aqui estou para isto: para trazer, ao contemporâneo ilustre que Mossoró acaba de perder, as últimas homenagens da cidade a que ele servia com tanto amor, tanta dedicação, tanto carinho, tanto sacrifício, devotando-lhe alguns anos de sua vida; trazer-lhe, também, a saudade de seus antigos funcionários do Município, que, com ele, aprenderam o culto da honestidade e da correção; trazer-lhe as lágrimas de seus familiares e amigos, ante a grande provação, porque ele não era, apenas, o espírito radiante que Deus lhe permitiu conservar até ao fim, mas constituíra-se um centro, uma força de presença motora e dinâmica. Todavia, não posso depor, em seu túmulo, esses tributos, sem dizer meu próprio adeus ao velho e querido amigo, que me aconselhava como um pai, nos tempos do Ginásio Santa Luzia, que foi meu confessor nos anos irrequietos da puberdade e, ultimamente, o conselheiro a dar-me forças nas horas amargas das dificuldades, das injustiças, da tristeza, do desalento, do desânimo.

Padre Motta

Para mim, atingiu Padre Motta o padrão máximo que se é possível esperar de um homem de minha intimidade e de meu conhecimento. Outros haverá e houve com a mesma integração de virtudes, mas os identificamos, apenas, através de biógrafos e crônicas. Eu senti Padre Mota nas policrômicas facetas de sua personalidade, analisadas pela vivência duradoura e sob ‘parti-pris’ da mocidade irreverente. Eu o senti como Padre, como cidadão, como político, como administrador, como educador, como filho, como amigo. E a lembrança que dele guardo, a qual jamais desaparecerá, é um sentimento de profunda admiração a ele, padrão de bondade, padrão de pureza, padrão de apóstolo, padrão de humildade, padrão de simplicidade, padrão de civismo, padrão de amor à terra a que ele consagrou todos os seus instantes e todas as suas preocupações.

Adeus, Padre Motta. Não me dirijo ao teu corpo, aqui presente, dentro em pouco tragado pela terra, a mesma terra que tanto amaste. Prefiro falar à tua alma, que está no céu e tenho certeza de nos ouvires neste momento. Porque se o céu é o prêmio dos justos, tu foste justo; se é o prêmio dos bons, tu foste bom; se é o prêmio dos puros, dos simples, dos humildes, tu foste simples, tu foste puro, tu foste humilde. Portanto, está em graça, gozando a verdadeira felicidade que não é a deste mundo. Comungas hoje, agora, da presença de Deus, dos Santos, dos Anjos e isto detém o nosso desespero, nossa dor, nossas lágrimas. O desespero, a dor, as lágrimas, seriam inconciliáveis com o que tu próprio nos pregaste, de acordo com a doutrina do Mestre.

Mas sofremos muito, Padre Motta, porque somos humanos. Talvez demasiadamente humanos, e certas verdades demoram a chegar até nós. O certo é que a inesperada notícia nos chocou a todos terrivelmente. É como se continuássemos um sonho, duvidando da realidade, imaginando-te ainda vivo, como te vi anteontem à tarde no hospital. Não te vejo morto, e algum tempo passará antes que concedamos à realidade todos os seus tristes direitos.

No entanto, teu sepultamento é tua última lição para os amigos que deixas, habituados à profundeza dos conceitos que emitias, com simplicidade, a cada instante. A cidade inteira aqui está para homenagear-te. E não deixas-te nada de bem material. Choram não só teus amigos mais íntimos, os que, há muitos anos, fizeram de tua casa um lugar de calma, paz, tranquilidade e sabedoria. Estão todos aqui, mal sopitando as lágrimas da saudade. Aqui, está o Senhor Bispo, teu superior eclesiástico e teu amigo, aqui estão o clero secular, as religiosas, os colégios, as associações cristãs; aqui está o povo. Aqui estão e choram também muitas pessoas que nem sequer conheceste. Nada deixas como produto do mundo e morres na pobreza, sem forçares a glória dos homens, que nunca quiseste. Mas veio a cidade toda para prantear¬-te. Porque tu deixas um tesouro que ninguém consegue facilmente; teu exemplo de bondade, de honra, de justiça, de amor ao próximo, de candura, de caridade, de beleza d’alma e coração. Os bens da terra não são as finalidades do homem, mas a tradição do nome honrado, aqui, na vida transitória, e a ascensão à glória de Deus na vida eterna. E tua herança não é para uns poucos, mas para todos, pois se nada legas de utilidades materiais porque nada tens, o tesouro de tua alma há de partilhar-se entre gerações de jovens de nossa terra, ensinando-lhes que o dever é o único instrumento de realização da felicidade interior, que não assenta nas coisas vãs que o mundo adora e o seduzem.

Não, Padre Motta, não vou chorar, nós, teus amigos, não vamos chorar; vamos entoar cânticos de aleluia por tua volta ao céu. Tu já és feliz, e nós permanecemos neste horripilante pantanal de hipocrisias, injustiças, maldade e pecado. Lamentamos a perda de seu apoio sempre forte, sempre inspirado, sempre justo. Mas as lágrimas teimam em vir e com elas a incompreensão, a rebeldia, a insatisfação, o inconformismo. Não te ter mais ao lado, às tardes, à noite, em tua casa. Não ouvir mais tua palavra serena e sábia, rica de ensinamento. Não gozar, nunca mais, da ventura de tua presença. Não receber, nunca mais, o fruto de tuas observações. E a calçada onde pregavas, deserta, vazia, triste, e a consciência dolorosa de nunca mais te ver, nunca mais falar-te, nunca mais apertar-te a mão, nunca mais abraçar-te! Oh, Deus, dai-nos a força da Virgem Santíssima que acompanhou todo o sacrifício do Divino Filho até à morte e abençoando vosso nome! Dai-nos a fé de Jeremias que, por mais forte a desgraça, vos bendizia! Mas vós me acudis, pela palavra de Paulo VI, na Gaudium et Ipes, do Vaticano 11, nº 18: ‘Enquanto toda a imaginação fracassa diante da morte, a Igreja, contudo, instruída pela revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim feliz, fora dos limites da miséria terrestre. Além disso, ensina a fé cristã que a morte corporal, da qual o homem seria subtraído se não tivesse pecado, seria vencida quando o homem for reintegrado, por Deus onipotente e misericordioso, na salvação que o mesmo homem perdeu por sua culpa. Na verdade, Deus chamou e chama o homem para que ele, com a sua natureza inteira, dê sua adesão a Deus na comunhão perpétua da incorruptível vida divina. Cristo conseguiu esta vitória, por sua morte, libertando o homem da morte e ressuscitando para a vida’.

Assim seja! Adeus, Padre Mota, sem lágrimas, sem desespero, sem desgraça! Mas com muita saudade, com infinita tristeza! Adeus!”

Fonte: facebook

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SEGREDOS DO SERTAO - REDE RECORD GUERRA DE CANUDOS E MONTE SANTO - BA

https://www.youtube.com/watch?v=bBGfESkTdhU

Publicado em 20 de março de 2012

No terceiro episódio da Série Segredos do Sertão Exibido pela Rede Record a reportagem cita a Cidade de Monte Santo - Ba

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CANGAÇO ECOS NA LITERATURA E CINEMA NORDESTINOS


Como adquirir esta obra:

Entre em contato com o professor Pereira lá de Cajazeiras, no Estado da Paraíba, através deste e-mail:

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"A EXECUÇÃO DE ROSINHA DE MARIANO"

Por Sálvio Siqueira

As mulheres que fizeram parte do Cangaço, cada uma delas tem sua história particular, de certa forma, maneira, modificaram um pouco o modo de seus companheiros agirem diante das vítimas.

As vítimas, essas viviam em um ‘inferno’ constante. Tinham os cangaceiros e os volantes ‘aprontando’, sempre, com elas. Podemos até dizer que bandidos e mocinhos, foram pragas que assolaram o solo sertanejo sem deixar os camponeses terem sossego. “Escreveu não leu, o pau comeu”, ditado popular que se encaixa perfeitamente sobre as porradas que os moradores rurais sentiram na pele.

Havia regras, como se fossem Leis, a serem cumpridas por todos aqueles que passassem a fazer parte dos bandos de cangaceiros. Fosse qual fosse sua função, como por exemplo, cangaceiro, companheira, fornecedor, coiteiro propriamente dito, etc., e não podiam, de maneira alguma, quebrar essa dita regra, pois quebrando, podiam colocar a vida de todos em risco.

Rosinha, cabocla faceira, bonita e jovem, ficara viúva de seu amado, o cangaceiro Mariano.

Mariano Laurindo Granja companheira da Rosinha

Mariano, em uma batalha contra os volantes de Zé de Rufino, o mais astuto dos comandantes volantes, perdeu a vida bravamente, em uma situação até honrosa, pois, perdendo a sua, salvou, com certeza, a dos seus comandados.

Ficando sem o seu amado, aquele que espontaneamente Rosinha seguiu pelas tristes e cruéis fileiras do cangaço, abate-se uma tristeza, saudade e, até a realidade, em sua consciência.

O rei Lampião

Pede permissão ao “Rei Vesgo” para fazer uma visita à sua família. O chefe mor, permite, mas, adverte para que seja breve, que volte logo em seguida para junto do bando.

Voltando à sua casa estando novamente no aconchego do lar. Sentindo o tão bom aroma de seus pais, seus familiares, a tranquilidade de estar sobre a bênção do seu pai, principalmente, a ficha começa a cair... Nota que seu lugar não é com um bando de proscritos a fugir, constantemente da polícia.

Resolve então ficar na casa de seus pais. Esquece, por um momento, o compromisso feito com Lampião.

O cangaceiro Luiz Pedro

Sua estada em casa de seus pais, é prolongada por vários dias, além do combinado. Então, começa a despertar dúvidas e desconfiança na cachola do Rei do Cangaço. Chama seus homens mais próximos como: 

O cangaceiro Zé Sereno

Luiz Pedro, Zé Sereno, juriti entre outros e comunica suas preocupações no que diz respeito à Rosinha e sua ida à casa dos seus.

O cangaceiro Juriti - Este foi queimado em uma fogueira pelo delegado Deluz

Após uma reunião com todos, chegam à conclusão de que ela, a cabocla, companheira de seu grande cangaceiro Mariana, teria que morrer. É, naquela reunião, julgada e condenada.

Saindo de onde encontravam-se, Lampião resolve acoitar próximo do local onde mora os pais da Rosinha. Envia mensageiro para que compareça em sua presença, urgentemente, pois precisa falar com ela.

Rosinha, sabedora das regras, sente um arrepio do talo do pescoço até o osso do mucumbu... Sente que sua ‘hora’ pode estar próxima.

“Avexadamente” faz sua trouxa de roupas e parte ao encontro de seu destino.

Maria Bonita companheira do rei Lampião

Ao chegar ao acampamento, logo ver Lampião proseando com Maria Gomes, sua companheira, em um recanto. É, imediatamente, levada à presença do chefe que lhe interroga sobre o motivo de tanto atraso, o motivo do descumprimento do que acordaram anteriormente. 

Rosinha tenta justificar-se, criando uma doença no pai e que precisava de cuidados, os quais ela estaria fazendo.

Mesmo assim, ela sente que não convenceu o chefe. Antes da prosa terminar, vários cangaceiros adentram na tolda onde conversavam.
Entre eles estavam Luiz Pedro, Juriti e, aquele que seria seu carrasco, Zé Sereno.

O cangaceiro Vila Nova no centro da foto

A “missão” é entregue a Zé Sereno, Vila Nova, Balão e Juriti.


Certa manhã, Rosinha recebe a informação que ‘viajará’ com alguns cangaceiros para determinado local. Volta, naquele instante, a sentir aquele triste e frio arrepio tomando conta de seu tão meigo e jovem corpo. Tem a certeza, naquele instante, que será executada durante aquela viagem. Cabisbaixo, triste, muito triste, arruma sua poucas coisas e com um olhar perdido, despede-se dos outros.

Algumas léguas nos pés já tinham rompido quando, Zé Sereno se achega pra perto de Rosinha e comunica que ela será morta por ter quebrado um trato com o Capitão. Que ele estava cumprindo uma ordem do mesmo.

“- Rosa, sabi qui vai morrer? Nóis tamo aqui pra lhi matá”. Diz Sereno.

“- Pru quê? Pru quê vocês vão fazer isto cumigo? O qui foi qui eu fiz de tom errado pra você mi matari? Vocês tão brincano comigo?” (livro: “Lampião além da Versão – mentiras e mistérios de angico, do ilustre Alcino Alves, pg 308)

Pergunta Rosinha já com lampejos de lágrimas em seus lindos olhos. 

Sabendo como conhecia muito bem aqueles homens, que sua vida chegara ao fim.

Zé Sereno sem delongas, segura seu braço, e atira no ouvido daquela que antes fora o amor de Mariano. Aquele corpo singelo, bonito, quente, despenca e estatela-se no chão duro, já sem vida.

Como que nada tivesse acontecido, os cangaceiros seguem viagem sem olhar para trás. Não tiveram a decência de, pelo menos, enterrarem o corpo da jovem mocinha filha do vaqueiro Lé Soares.

Fontes de pesquisa: Ob Ct.

Fotos blogs: 
http://lampiãoaceso.blogspot.com, 
http://blogdomendesemendes.blogspot.com, 
http://tokdehistoria.com.br/ e  
http://solvermelho.blogspot.com
Fonte: facebook

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IV CONGRESSO NACIONAL DO CANGAÇO EM SÃO RAIMUNDO

FEITO EM CASA


FLAGRANTES DO IV CONGRESSO DO CANGAÇO - São Raimundo Nonato - PIAUI... Entrevistas com SIBA, JOÃO SOUSA LIMA E VERA FERREIRA (Neta de Lampião)... Confira nesse VÍDEO, CLICANDO NO LINK ABAIXO.

http://cidadeverde.com/videos/10967/veja-o-congresso-nacional-do-cangaco-em-sr-nonato

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ENCONTRO HISTÓRICO DE EX-CANGACEIROS E PRESENÇAS ESPECIAIS DA FILHA E NETA DO FAMOSO VIRGULINO LAMPIÃO


Encontro histórico de ex-cangaceiros e presenças especiais da filha e neta do famoso Virgulino Lampião, Expedida e Vera Ferreira, promovido pela escritora Christina Matta Machado, autora de “As Táticas de Guerra dos Cangaceiros”, que “o Estado de São Paulo” trouxe a lume nas edições de 18 e 19 de outubro de 1969.

EIS O QUE RESTOU DO CANGAÇO

“Sila saiu correndo, agachada. Uma bala acertou a cabeça de outra molher, espirrou miolo no vestido de Sila; maldade, ela só tinha 15 anos. Depois, foi munto tiroteiro, finado seo Rastejador também morreu. Vi Lampião pondo sangue pela boca. Um dia, resolvemos entregar, cangaço acabou, mas só acabou mercê da traição de cangaceiros que ajudaram as Volante, contavam os pontos da gente”. Balão ajeita a gravata, no aeroporto de Congonhas. Ele, cangaceiro do bando de Lampião, hoje batedor de estacas para fundações de prédios, está com os companheiros esperando dona Expedita, filha de Lampião, Vera, neta do cangaceiro, e mais Labareda e Saracura. Todos vão reunir-se em São Paulo para o lançamento de “As táticas de guerra dos cangaceiros”, de Christina Matta Machado.

O livro vai ser lançado dia 24, a partir das 16 horas, na Aliança Francesa, rua General Jardim, 172.

Saudade – Quando o cangaço acabou e o governo deu anistia, a Polícia separou os cangaceiros: cada um teve que ir para um lado. Faz muito tempo que vários moram em São Paulo, mas não sabiam. Só quando Christina começou a procurá-los é que eles ficaram sabendo dos velhos companheiros, puderam se reunir para relembrar os causos de então. Ontem, em Congonhas, estavam vários deles, esperando os outros. Estava Marinheiro, um ano de cangaço, hoje funcionário da Caixa Econômica Estadual; estava Pitombeira, 3 anos de bando, entrou para não ser morto pela Polícia, hoje funcionário da Prefeitura. Estava também Criança, 7 anos de lutas, a glória de enfrentar sozinho, por duas horas, a Volante, para deixar o bando escapar. Criança, hoje, vende tomate como ambulante.

Em Congonhas estava também Sila, mulher de Zé Sereno que não pode ir (está com a perna engessada) e estava Dadá, apoiada na muleta. Sua perna direita ficou no sertão, crivada de balas de metralhadora, da mesma arma que matou seu marido, Corisco, que ela atentava defender. Estava em Congonhas o Balão, acompanhado de cinco de seus 8 filhos e contando para todo mundo que até hoje é solteiro. Balão, alegria do bando, tocador de sanfona, o mais valente de todos, mostrou ontem que não mudou. Ele foi piadas o tempo todo, mesmo quando tirou os sapatos e a meia por causa de um ferimento no pé que “tá ameaçando arruinar”.

Visitas – Até o dia 24, os cangaceiros vão visitar São Paulo, conhecer coisas novas, principalmente os que vieram de longe que a Varig trouxe de Sergipe e Alagoas. Ele irão ao Ibirapuera, a cinemas, restaurantes, serão entrevistados e aguentarão as luzes fortes da televisão, e queiram ou não vão acabar entendendo que hoje eles são gente importante, que apesar dos crimes que cometeram e talvez mesmo apenas por isso, eles passaram a ser história, são uma página da vida do Brasil.

Para contar a história do cangaço, Christina viajou quase todo o Nordeste, pesquisou em 34 municípios e se tornou amiga daqueles homens. Com os dados que colheu, escreveu o livro e vai defender tese em História, sob o tema “Cangaço, aspectos socioeconômicos”.

MORRER APANHANDO OU SER CANGACEIRO

Embora arrependidos de terem sido cangaceiros, os cabras de Lampião dizem que não havia saída. Balão conta que a Polícia batia em todo mundo, para que contasse o paradeiro do bandido, muitas vezes, matava. Um companheiro dele teve que servir de cavalo para um soldado com esporas. Por isso, “quem não queria morrer apanhando tinha que ir para o cangaço”. Balão, entretanto, foi para o sertão por outro motivo. Engraçou-se – diz ele – com uma menina amiga de Lampião e alguns homens do bando quiseram matá-lo; ele fugiu com outro grupo e, depois, quando esse se uniu com o de Lampião, “a intriga foi esquecida”.

Pitombeira fugiu porque um irmão e um “primo carnal” foram mortos pela Polícia, que tentava fazer com que contassem onde estava Lampião. Ele ia ser morto também e fugiu.

O final – Para todos, o fim do cangaço foi a morte de Lampião, o líder que teve até 260 homens sob suas ordens. Quando ele morreu, o bando que chefiava tinha 36 e 11 ficaram “naquela jornada”. Havia muitos antigos colegas que ajudavam a Polícia e, por isso, fugiram todos para Sergipe, estado amigo, para combinar a “entregação ao governo”.

Balão conta como foi a fuga, “a volante matou Lampião, tive tempo só de pegar embornal de subsistência e de bala e quando a metralhadora engasgou passei no meio dos macacos, fugi. O Presidente tinha espalhado aviso em toda fazenda, para entregar, que ele garantia a vida. Fomos para Sergipe e resolvemos – Juriti, Criança, Marinheiro, Pitombeira, eu – arriscar olho e mandamos avisar o cabo Miguel da volante, que viesse conversar, com três soldados, fuzil de boca para baixo. Ele veio, ficamos amigos, mas 300 praças de outra polícia cercaram o bando, tivemos que fugir para a fazenda Cuiabá, onde dançamos com a volante e bebemos oito dias sem parar. O capitão Aníbal, que trazia a ordem do governo, mandou fechar os portos das Alagoas, para que a polícia que queria matar a gente não entrasse em Sergipe”.

O caminho – “Começou então o caminho da entrega. Mas era duro, tinha tropa do capitão Aníbal, amiga, garantia a vida, tinha a tropa inimiga, queria matar a gente. Fomos ao Araticum, a Porto da folha, a Monte Belo, mas, quando cheguei no Caveira, mataram quatro cabras meus. Foi traição dos sergipanos e tivemos que brigar ainda no Pinhão. Só conseguimos achar o capitão Aníbal em Serra Negra, para entregar as armas. Não, ninguém foi preso, a gente ficava no quartel só na hora da troca de expediente e todos entregamos por livre e espontânea vontade. Cada dia chegava mais cangaceiros. Poucos foram mortos, como Juriti, na faca, quando era guarda-freio e estava regenerado. Depois, cada um foi para um lado, ninguém viu mais ninguém. Eu, fé em Deus, sou muito feliz.”

Ideologia – É Pitombeira quem fala, muito sério: “Hoje falam de subversivo, dizem que a gente era guerrilheiro, socialista; não era não. Nós só queríamos o bem, andar longe da Polícia, só atirava quando atacado e matava muito, muito menos do que o cinema tenta contar em filme de cangaceiro. Nós não fazíamos maldade com sertanejo, tinha que viver sem ódio no coração, tinha que ser amigo de todo mundo, se não estava perdido.

É, é verdade que quando não davam o que a gente pedia, tinha que tirar à força, mas não era comum. História de usar banha de gente para lubrificar parabelo, mentira é que é. Nunca faltou o óleo nem a lixa para tirar ferrugem. Arma também tinha muita, os fazendeiros davam, se não nós perseguíamos. Tinha fuzil, mosquetão, rifle, parabelo, mauser, tudo calibre grande, 7 milímetros, 30, 38. A gente atirava no ombro, apertando bem para não dar tranco ou, quando a coisa apertava, apoiava no braço, mas muito raro atirar de cima do cavalo. As balas, também, não ficavam, furou meu braço aqui, a perna do Balão, o ombro do Marinheiro, mas era bala boa, de fuzil, entreva e saia do outro lado, tudo bala bonita, de aço, niquelada”.

- “Mas esse tempo passou, hoje é diferente, vivo com a família em São Paulo, faço economia, gasto muito pouco, tenho três casinhas aqui.”

PAULO AFONSO, A MORTE DO SERTÃO

Faz alguns anos, Pitombeira voltou ao sertão. Hoje, ele não reconhece mais aquilo, nada é como onde nasceu.

“Paulo Afonso, a usina, ela matou o sertão. Hoje, não teria mais cangaço nem guerrilha, nem nada. A Usina de Paulo Afonso devorou o sertão, está comendo a caatinga, pondo civilização; muita gente sabe ler, as fazendas são diferentes, caminhão anda por tudo, tem televisão, tem pontes, tem luz chegando a todo lugar. O meu sertão, o sertão de Lampião, do cangaço, ele não existe mais.

Não há mais precisão do cavalo para a caatinga, nem o culote, meia sobre a calça, alpercata, não existe nem mais o chapéu bom para fazer chapéu de cangaceiro. Bem que em São Paulo eu vi uns que serviam, mas não é como no cinema; a gente usava chapéu de couro, bem macio, de camurça enfeitado. Comia a carne seca, às vezes um cabrito ou o boi dos outros, matando na bala”.

Maria Bonita – Do outro lado do saguão do aeroporto, Balão está fazendo graça, dizendo que cava tão fundo para cravar estacas que algum dia acha um japonês do outro lado do mundo. Dadá, mulher de Corisco, olha para ele, comenta com uma amiga: “Piada sim, mas valente, isso é uma fera”.

Balão fala ainda. “Eu brincava com Maria Bonita, lutava com ela, derrubava, rolava no chão. Lampião ria, dizia para a gente não zangar, para não dar briga. Nem parece que faz tempo que ela morreu com Lampião, pondo sangue pela boca. E hoje, eu tenho 60 anos , não tenho mais bala no corpo, o chumbo tiraram em São Salvador. Doença? Não, cangaceiro nunca adoece, não carecia de médico. Só agora, em São Paulo, cavando um poço de estaca na Consolação é que bebi água sem saber que tinha suco do cemitério. Passei doze dias vomitando sangue, mas, no sertão, nunca adoeci. Duro era ver companheiro ferido, sabendo que a polícia degolava, implorando me leva, e não poder”.

Mulheres – Criança também tem lembranças, fala das mulheres. “Tinha pouca mulher no bando, só dos chefões, ninguém mais queria, mas era valente, brigava junto com a gente. E tudo respeitava, respeitava mesmo, muito mais que aqui, em São Paulo”.

O avião está atrasado, os descendentes de Lampião demoram a chegar. Vera, com 14 anos, quer estudar medicina, espera que São Paulo lhe arranje um dia uma bolsa. Sua mãe mal conheceu os pais; criança ainda, foi entregue a um fazendeiro para criar. Lampião não gostava de criança no bando, ficava bravo quando um cabra apresentava sua mulher, de 13 ou 14 anos, perguntava se ia criar.

Pitombeira esta falando de novo, achando difícil entender o que quer dizer o objetivo final.

CANGACEIROS, SEM REMORSOS

Os cangaceiros não dizem, mas, pela sua conversa, por suas histórias, eles não estão muito arrependidos de seus crimes. Acham que fizeram as coisas certas. Na hora de denunciar quem lhes vendeu as armas, dizem “que não se cospe no prato em que se come”. São desconfiados: na hora de dizer o nome verdadeiro, relutam muito. 

Lampião era um grande líder. Representava a luta contra a opressão dos fortes, os fazendeiros da época. Essa é a opinião de Balão, Zé Sereno, Labareda, Criança, Dadá e Marinheiro. As histórias de cangaceiros são sempre iguais, só o começo é um pouco diferente. Todos se dizem injustiçados, fugidos da arbitrariedade da polícia. Acabaram na vida de crimes por consequência da situação que enfrentavam. Ninguém teve culpa. É o caso de Lampião, contado por Balão, ou Guilherme Alves. Esse cangaceiro afirma ter sido amigo e confidente do cabra Lampião:

- Lampião era comboieiro – pessoa que toca a tropa de burros de uma cidade para outra, vendendo mercadorias. Um dia, ele vortô pra casa e encontrô a famia morta. Foi uma outra famia, os Fulô. Lampião ficô revortado e entrô no grupo do padre Luiz Pereira Fagundes. Depois ele passó a liderá o grupo. Muitas vêis eu ouvi ele falá que ia se entregá pra poliça. Mais tudo mundo tirava isso da cabeça dele: se ele se entregasse, era homi morto.

Depois, Balão conta que o que estragava a moral do cangaceiro era a fama que eles tinham, quase sem culpa. Os jornais falavam mal do cangaceiro – que só queria viver, sem se sujeitar à opressão dos “coronéis de fazenda”. Para isso, é que os homens se internavam na caatinga. Geralmente, fugiam para o interior acuados pela polícia, a “volante”, por terem se insurgido contra alguma injustiça. Às vezes, eram apanhado pela “volante”, que os torturava para descobrir os cangaceiros. Eles eram obrigados a fugir e, para não morrer, matavam como cangaceiros.

E o cinema, Balão, você assistiu aos filmes de cangaceiro?

- Sisti, tudo mintira, elis qué imitá, mais num consegue.

Balão viu a morte de Lampião, viu quando o amigo tombou de costas, varado por diversas balas. Existem algumas hipóteses segundo as quais o cangaceiro teria sido morto com veneno.

O sangue de Lampião saía, pelo nariz e pela boca. Balão fugiu do lugar. Posteriormente, ficou sabendo que os “volantes” cortaram-lhe na mesma hora a cabeça e a de Maria Bonita. Consta inclusive que ela teria sido decapitada ainda viva, pois seu ferimento não era dos piores.

- Ninguém morre de um tiro só.

Quando Balão fugiu, com o seu grupo, mandou um rapaz saber se Lampião tinha sido salvo. O rapaz voltou com fotografias das cabeças do cangaceiro e sua companheira. Os volantes decapitaram-nos e colocaram as cabeças em latas com vinagre e sal. Levaram depois essas latas pelas cidades, para intimidar o povo.

Zé Sereno, ou José Ribeiro Filho, perna quebrada, bengala. Ele conta que comprava suas armas de muita gente, até de “coronéis”. Pagava 600 cruzeiros por um mosquetão e 2 cruzeiros (antigos) por uma bala.

Mas o cangaceiro não podia fazer suas compras com a mesma tranquilidade de quem entra no armazém. Ele não podia se arriscar. Por isso, utilizava os serviços de um coiteiro. Era a pessoa encarregada de fazer as compras dos cangaceiros.

Zé Sereno, você pode dizer quem lhe vendia as armas? Não moço, num mi peça isso, tem muita gente viva lá ainda, num quero cumplicá ninguém.


Dadá, a mulher de Corisco, ouve a resposta de Zé Sereno e comenta:

- Num si cospe no prato que si come.

Isso mostra que, passados muitos anos das lutas, dos crimes e de toda aquela epopeia sangrenta, eles ainda continuam acreditando no que fizeram, não achando errado. Num si cospe no prato qui come diz Dadá, que é Sérgia da Silva Chagas, a mulher de Corisco.

Criança, ou Vitor Rodrigues Lima. Outrora uma fera; ontem, de terno e gravata, passou carregando uma criança no colo. Foi gozado, disseram-lhe: ao que chegou um cangaceiro, a pajem de criança.

Labareda, ou Ângelo Roque, 65 anos, parece muito mais velho. Quase não fala. Seus companheiros falam mais do que ele. Suas palavras são difíceis de ouvir, está muito velho. Mesmo assim, ele é muito objetivo, não gosta de muitos detalhes. Até repreende seus companheiros, quando estes contam suas histórias e se perdem nas minúcias. Marinheiro não fala nada, até o nome certo não quer dizer. Finalmente diz, é Antônio Paulo dos Santos.

Imagens ilustrativas da matéria.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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O CANGACEIRO MANOEL BATISTA DE MORAIS CONHECIDO COMO ANTÔNIO SILVINO


O cangaceiro Manoel Batista de Morais conhecido como Antônio Silvino, alcunha que ele adotou, para homenagear seu tio, Silvino Aires Cavalcanti de Albuquerque, também bandoleiro, faleceu no dia 30 de Julho de 1944, aos 68 anos, em Campina Grande - PB.


Rifle de Ouro, como também era chamado Antônio Silvino, adentrou ao cangaço por motivos de vingança, entre famílias, cumpriu 23 anos de prisão, na Casa de Detenção do Recife e foi liberto em 20 de fevereiro de 1937.


Em Novembro de 2014, consegui identificar o túmulo de Rifle de Ouro, abandonado e em processo de deterioração, o que poderia levar em poucos dias, ao esquecimento de importante cangaceiro pré Lampião. 


Com as devidas autorizações, da administração do Cemitério Nossa senhora do Carmo, situado em Capina Grande - PB, comecei o processo de restauração, motivada para a preservação da história do Brasil, em particular, do meu nordeste.


As obras começaram em janeiro de 2015, e ontem, com grande alegria, dei como finalizada minha tarefa, para com Antônio Silvino. Aproveito para convidar, aos amigos que vierem a Campina Grande, que visitem o túmulo restaurado de Rifle de Ouro.

Fonte: facebook
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ESCRITOR SABINO BASSETTI PÕE NA PRAÇA O SEU MAIS NOVO TRABALHO SOBRE CANGAÇO - LAMPIÃO O CANGAÇO E SEUS SEGREDOS


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LAMPIÃO ENCAMINHA SOLICITAÇÃO AO GOVERNO

Por Rubens Antonio

Em 1926, Lampeão chegou a encaminhar solicitação, ao Governo, de pagamento de suas ações para combate à coluna revolucionária.

Fonte: facebook
Página: Rubens Antonio - Cangaçofilia

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MORENO E DURVINHA: QUANDO O CANGAÇO DE LAMPIÃO ENCONTROU MINAS GERAIS

Os cangaceiros Moreno e Durvinha só revelaram a vida que tiveram no movimento liderado por Lampião em 2005, quando já estavam em idade avançada

Conheça a história de dois cangaceiros que viveram por décadas escondidos entre os mineiros, e, hoje, descansam no cemitério da Saudade, em Belo Horizonte

A funcionária pública Neli Maria da Conceição queria saber o paradeiro de seu irmão que havia ficado em Pernambuco, e acabou descobrindo a trajetória dos pais no cangaço.

Os termos cangaço e Nordeste caminham juntos. Afinal, essa região foi o berço do movimento social do início do século XX, conhecido por aterrorizar a população das regiões áridas do Brasil. Com chapéus peculiares, roupas de couro adornadas e fuzil em mãos, o bando de Lampião (principal nome do grupo) atuava em cidades dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Revoltados com a situação de miséria do Nordeste e descaso do poder público, os integrantes saqueavam fazendas, sequestravam figuras importantes e amedrontavam os povoados. A história poderia ter parado por lá, mas ela também reservou capítulos em terras mineiras.

Poucas pessoas sabem, mas no cemitério da Saudade, que fica no bairro de mesmo nome, na região leste de Belo Horizonte, está enterrado um casal que participou desse movimento histórico. Por mais de 60 anos, Antônio Inácio da Silva e Durvalina Gomes de Sá se passaram por José Antônio Souto e Jovina Maria da Conceição e esconderam episódios instigantes sobre o cangaço. Somente em 2005 a história foi desvendada, graças à curiosidade e persistência de Neli Maria da Conceição, funcionária pública de 65 anos, filha do casal. Finalmente, a misteriosa dupla foi apresentada publicamente como Moreno e Durvinha, apelidos recebidos quando participavam do bando de Lampião.

O casal Durvinha, Durvalina Gomes de Sá, e Moreno, Antônio Inácio da Silva, dançam para as lentes do cineasta Benjamin Abrahão, em 1937, para documentário sobre o cangaço

A baiana Durvalina Gomes de Sá entrou no cangaço motivada por um grande amor. "O grupo de Lampião passou por uma fazenda que ficava na terra de meus avós. Em um daqueles bailes da época, minha mãe se apaixonou pelo Virgínio, que era cunhado de Lampião. Certa madrugada, ela deixou a família e fugiu com ele", conta Neli. Virgínio foi casado com a irmã de Lampião, que acabou falecendo. Já Antônio Inácio da Silva entrou no grupo a convite do próprio Virgínio. Segundo Neli, antes mesmo de integrar o bando, ele já tinha no DNA a "índole ruim". Em pouco tempo, Moreno ficou encarregado de fazer os serviços "pesados". Historiadores afirmam que ele era o bom matador. Na conta feita pelo próprio cangaceiro, foram 21 assassinatos.

Neli defende a hipótese de que seu pai tenha matado Virgínio. "Eu acho que ele o matou para ficar com minha mãe. Estou levantando essa possibilidade e já estou mudando a cabeça de muitos historiadores e pesquisadores. O Virgínio era chefe de um grupo e, após a morte dele, meu pai assumiu o lugar de chefia e ficou com Durvalina. Até hoje, ninguém sabe se aquele tiro que vitimou Virgínio partiu da polícia ou de algum cangaceiro. Eu acredito que esse tiro tenha sido do mosquete do meu pai", afirma Neli Conceição.

Mudança para Minas

No fim da década de 1930, o grupo de cangaceiros foi pego pela polícia militar na região da Grota de Angico, em Alagoas, no episódio que ficou conhecido como o massacre que deu fim ao clã de Lampião. Por capricho do destino, Moreno e Durvinha não estavam presentes. Eles haviam tido um filho, e crianças não podiam se reunir com o grupo, porque elas choravam e chamavam a atenção da polícia. Ao saber do tiroteio na madrugada do dia 28 de julho de 1938, e da morte de Lampião, o casal resolveu fugir.

Eles seguiram para uma cidade chamada Taracaratu, em Pernambuco, para deixar o bebê com o padre do município. O vigário, temendo que o casal fosse encontrado, pediu aos cangaceiros que fugissem, prometendo criar o garoto, carinhosamente chamado de Inacinho. Com roupas novas, um burro e 200 mil réis doados pelo padre, Antônio Inácio da Silva e Durvalina Gomes de Sá partiram sem destino. Subiram o rio São Francisco, até chegar à cidade de Augusto de Lima, na região central de Minas Gerais. Neli conta que os pais andaram por mais de quatro meses durante esse período de fuga. Na cidade mineira, o casal teve outros cinco filhos.

"Papai, como sempre, muito levado, deixou minha mãe com cinco filhos, montou um cabaré e foi viver com as 'mulheres da vida'. Na década de 1960, eu ainda era mocinha nova, vim para Belo Horizonte trabalhar, e papai já tinha abandonado a gente. Com pouco tempo, consegui trazer minha mãe e meus irmãos, mas meu pai ficou para trás. Ele vinha em BH só para passear", lembra a funcionária pública.

História revelada

A foto de Inacinho, Inácio Carvalho de Oliveira, filho deixado por Moreno e Durvinha em Pernambuco, levou Neli Conceição a descobrir a história de sua família

"Meus pais nunca falaram nada sobre o cangaço. Quando eles chegaram em Minas Gerais, precisavam de um documento. De Antônio Inácio da Silva, meu pai passou a se chamar José Antônio Souto. E minha mãe, de Durvalina Gomes de Sá, passou a se chamar Jovina Maria da Conceição. Os dois fizeram um pacto de jamais contar a história vivida no cangaço", diz a filha Neli Conceição.

Certa vez, Neli, curiosa desde nova, encontrou nos entulhos do pai a foto de um garotinho. "Perguntei para os meus pais quem era aquele menino. Minha mãe explicou que era meu irmão, que ela teve de deixar em Pernambuco, por causa de uma seca, em 1938. Mas, na verdade, não era seca. Era o cangaço que tinha acabado. Meus pais colocaram uma pedra nesse passado, só que eu não coloquei", relembra.

Confira abaixo um pedaço do documentário feito entre 1936 e 1937 por Benjamin Abrahão, retratando o dia a dia do grupo de Lampião e Maria Bonita: - https://www.youtube.com/watch?v=QUYOp_jONiM

Quando Neli se mudou para Belo Horizonte, ela percebeu que teria a grande chance de encontrar o irmão. Com mais recursos, ligava constantemente para Pernambuco, na tentativa de localizar Inacinho. Entretanto, ela se referia aos pais pelos nomes de José Antônio de Souza e Jovina Maria da Conceição. Obviamente, a busca não tinha sucesso. Ninguém conhecia essas pessoas no Nordeste. Por fim, no dia 28 de outubro de 2005, Neli resolveu dar mais um telefonema. Ela acreditava que, se soubesse do paradeiro do padre Frederico, que havia criado Inacinho, poderia desvendar todo o mistério.

"Para minha surpresa, uma moça me falou que o padre Frederico nunca havia saído da cidade. Ele viveu e morreu lá. Aí, eu comecei a chorar. Ela perguntou o que estava acontecendo, e eu disse que gostaria de saber se ele havia criado um menino pelo nome de Inacinho. Ela então confirmou e me perguntou o que eu era dele. Então, eu disse: 'é meu irmão'. Ela me perguntou: 'qual o nome dos seus pais?'. Eu falei: 'José Antônio Souto e Jovina Maria da Conceição'. Então a moça me disse: 'eu sinto muito te decepcionar, mas o Inacinho que o padre Frederico criou, é filho da cangaceira Durvalina, mais conhecida como Durvinha, e do cangaceiro Moreno, mais conhecido como Morenagem'. Meu mundo veio abaixo", conta Neli.

Ao menos o enigma estava esclarecido. Antônio Inácio da Silva e Durvalina Gomes de Sá confirmaram a história, que foi se espalhando por todo o Brasil. Até então, os historiadores não sabiam que rumo tinha tomado a dupla Moreno e Durvinha. A novidade se tornou fonte de pesquisas, enredo de livros e documentários.

Antônio e Durvalina são protagonistas da obra Moreno e Durvinha: Sangue, Amor e Fuga no Cangaço, do historiador baiano João de Sousa Lima, e do documentário Os últimos Cangaceiros (2011), do diretor Wolney Oliveira. Neli Maria da Conceição não se esquece de quando a verdade veio à tona. "Foi só alegria. Toda a família da minha mãe, que vive no Nordeste, veio a Minas. Porque para eles, meus pais estavam mortos. Mas, para minha surpresa, encontrei meu irmão com vida, e essa linda história dos meus pais", diz, emocionada.

Durvalina Gomes de Sá morreu no dia 28 de junho de 2008, aos 92 anos, e Antônio Inácio da Silva faleceu no dia 6 de setembro de 2010, quando ia completar 101 anos. Os corpos estão sepultados no cemitério da Saudade, mas a história segue viva e será disseminada por gerações e gerações.

http://sites.uai.com.br/app/noticia/encontrobh/atualidades/2015/04/15/noticia_atualidades,153031/moreno-e-durvinha-quando-o-cangaco-de-lampiao-encontrou-minas-gerais.shtml

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