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terça-feira, 29 de março de 2016

 Por Geraldo Maia do Nascimento

Continuando a nossa jornada no levantamento de subsídios para a história da imprensa de Mossoró. No artigo anterior, terminamos falando do jornal “O Espião”, que circulou em 1954. 



“A Palavra” era um jornal literário e noticioso, que tinha como diretor Abílio Xavier de Almeida. O número 7, ano I, circulou em 15 de agosto de 1926. Esta edição trazia artigos sobre a visita do presidente Washington Luís ao Nordeste, notícia sobre o deputado federal Rafael Fernandes, soneto de Luís Cândido, notas do Conselheiro Andrade, artigo de Elice, além de outras matérias. Era composto e impresso no Atelier Otávio. A Palavra era impressa em máquina Koenig & Bauer. Seu corpo redacional era composto de Abílio Xavier de Almeida, diretor; Abel Coelho, secretário; José A. Rebouças, gerente; Duodécimo Rosado e Manoel Luz, redatores.
               
Jornal do Oeste, quinzenário político e noticioso. Registrado no Departamento Estadual de Imprensa. Não conhecemos o primeiro número do jornal, mas o número 3 circulou em 4 de julho de 1948 e tinha como diretor e gerente o deputado Walter Wanderley, pertencente a bancada do Partido Social Democrático, na Assembleia Legislativa do Estado. Tinha redação à rua Cel. Vicente Saboia, 49 – 1º andar e oficinas, na mesma rua, nº 17. No nº10 houve uma reforma da redação ficando o corpo redacional constituído por: diretores e gerentes, deputados Mota Neto e Walter Wanderley; redator-chefe, deputado Cosme Lemos; redatores, deputados Aderson Dutra, Israel Nunes e Dr. Luís Fausto. Do corpo de colaboradores faziam parte: Walter Wanderley, Luís Fausto, Cosme Lemos, Gurgel Filho, Cícero Lucas de Lima, padre Huberto Bruening, Luís da Câmara Cascudo, além de outros.
               
Poliantéia foi uma revista comemorativa do primeiro aniversário de falecimento do jornalista Martins de Vasconcelos. Composta e impressa nas oficinas de O Nordeste, pertencente à firma F. Vasconcelos & Irmãos. Esta Poliantéia circulou no dia 22 de dezembro d 1948, data do falecimento do jornalista José Martins de Vasconcelos. A edição tinha 48 páginas não numeradas, fora a capa. Tinha colaboração de F. Vasconcelos & Irmãos, Joaquim Ribeiro, Raimundo Nonato, Raimundo Rocha, Tércio Rosado Maia, Café Filho, Vingt-un Rosado, Cosme Lemos, José de Sá Nunes, F. Rodrigues Alves, Amâncio Leite, Iris, deputado Mota Neto, deputado Walter Wanderley, Luís da Câmara Cascudo além da matéria redacional, noticiário da imprensa, mensagens de pêsames, discursos e publicações póstumas do homenageado.
               
O Movimento era órgão do Centro Estudantil Mossoroense. Não vimos o primeiro número. O número 7, ano II, circulou em 6 de abril de 1949 e tinha como diretores Apolônio C. Filgueira e Lauro da Escóssia Filho. Redatores: Jaime Hipólito Dantas, Dorian Jorge Freire e Wilson Lemos. A gerência ficava a cargo d Nilson d Medeiros Chaves e tinha como colaboradores: Ademar Tavares, Nero Sena, Carlyle Martins, Adigar de Alencar, Wilson Lemos, Dorian Jorge Freire, Edmilson Aires, Rafael Negreiros, Jaime Hipólito Dantas e outros.
               
Meeting era um mensário independente em prol da cultura de Mossoró. Tinha como diretores responsáveis: Dorian Jorge Freire, Jaime Hipólito Dantas e José de Aragão Mendes. O primeiro número circulou em julho de 1953, tendo como colaboradores: D.J.F, José Condé, Luís da Câmara Cascudo, Rafael Negreiros, Paulo Eduardo, Helen Ingersoll, Jorge Freire, Aluísio Alves, Edgard Allan Poe, D.J.F., J.H.D., Jorge Fernandes, Murilo Mendes, João Batista Pinto, Zila Mamede e muitos outros.
               
Em 30 de setembro de 1969 passou a circular a revista Expressão, órgão da Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte. Tinha como diretor, João Batista Cascudo Rodrigues; diretor-assistente, Raimundo Gurgel do Amaral; secretário, Ramiro Augusto Nunes; secretário-assistente, José Gomes Neto; comissão de redação: Maria do Carmo Zenah Duarte Dantas, Teódulo Taciano Dantas Filho e Francisca Ida Fernandes d Oliveira. Composta e impressa na Imprensa Universitária do Ceará, Expressão apresentava-se em edição de 172 páginas, fora o índice, em papel de 24 quilos.
               
Na próxima semana continuaremos com essa coletânea de informações sobre a imprensa de Mossoró. 

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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento
Fontes:
http://www.blogdogemaia.com

http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br
 http://blogdomendesemendes.blogspot.com

AS CINZAS E A FÊNIX

Por Rangel Alves da Costa*

Morrer e ter o poder da ressurreição, do renascimento, eis uma das buscas maiores da existência. Ao ser humano é impossível de acontecer, num retorno como a mesma essência do que foi em vida, mas conta a lenda que a fênix renasceu das próprias cinzas. Tal ave mitológica vivia quinhentos anos e depois se deixava queimar, totalmente calcinar, para novamente ressurgir de seus restos.

A fênix, pois, vivia por ciclos de vida e após seu prazo existencial se deixava consumir pelo fogo. Com existência tão longa, porém reconhecendo-se mortal a cada período de vida, ela mesma alimentava a fogueira assim que pressentia estar chegando o seu fim. Depois deixava que as chamas tomassem conta de seu corpo, a tudo abrasando, até que somente restasse o pó de sua outrora imponência. Mas nas cinzas a sua espiritualidade e seu ânimo para levantar da morte a um novo ciclo de vida, e assim eternamente.

Mas a simbologia da ave lendária que renasce dos próprios restos possui analogia com muitas outras situações de morte e renascimento, de perda e reconquista, de partida e retorno, de adeus e reencontro. Mas muito mais. Significa a imortalidade da alma, a esperança que nunca tem fim, a recompensa ante os obstáculos, as chances que a todos são dadas perante situações difíceis de vida. Alguns povos veneram no sol a ave sagrada: todo dia morre para renascer na manhã seguinte.

Contudo, é nas cinzas, nos restos calcinados da fênix, no pó surgido do abrasamento, que está todo esse mistério do renascimento e ressurreição. Ora, a cinza nada mais é que o pó restante de uma combustão completa de um corpo, de um objeto, de algo. É o resíduo encontrado logo após algo ser completamente consumido pelas labaredas. É a porção tida como insignificante logo após uma imensa fogueira ser totalmente queimada. Assim com a floresta inteira cujo fogo consome a imponência e depois restará somente o pó. E neste o adubo para brotar uma nova planta.


A ave queima, a fogueira queima, a floresta queima, tudo queima e tudo se transforma em cinzas. Com o ser humano acontece o mesmo. Não há nada cuja imponência possa, no instante seguinte, já estar transformada em cinzas, em escórias, em restos, em partículas à espera da ventania para se dissipar pelo ar. Mas o vento nem tudo leva. Apenas um fragmento que reste já será suficiente para o renascimento da vida. Apenas uma migalha que reste e já terá força suficiente para a ressurreição. E assim porque a vida renasce em si mesma, pela força interior que possui.

Nações, povos, sociedades, famílias e pessoas, também podem renascer das cinzas. Há uma fênix em cada um que se faça merecedor da ressurreição. Assim porque a autoflagelação para a nova vida da ave mitológica não se dava como cumprimento de destino ou sina, mas pelo merecimento da continuidade. A fênix simbolizava o encorajamento, a força, o trabalho, a perseverança e a persistência. Não parava cruzando os céus em labuta constante, não descansava enquanto o trabalho do dia não estivesse feito, não admitia um só instante sem fazer algo útil. Daí o merecimento da continuidade.

Seria o Brasil uma grande fênix cujo padecimento de agora se reverteria em renascimento para uma nova era de duradouras conquistas? Ou seria o Brasil apenas uma ave que se autoflagela pensando em ressurgir, mas com um passado que não permite uma nova chance? Ou ainda simplesmente uma fogueira que arde dolorosamente e sem perspectiva de que suas cinzas possuam qualquer serventia para o amanhã? A verdade é que há uma força tamanha na ave Brasil, uma propensão tamanha ao voo cada vez mais alto, que retomaria seu pulso de vida mesmo que nem cinzas restassem da coivara se alastrando voraz.

O Brasil é fênix e pássaro encantado, é ave real de mais belo canto. Desde seu surgimento como terra de gente que vem sendo explorado, submetido, aviltado, ferido na alma. Contudo, nunca se quedou aos ataques, nunca calou seu canto nem deixou de voar. Além do homem e sua ambição, muito além de todo o mal que possa surgir, bem além dos usurpadores e saqueadores de suas riquezas, está o seu destino de grandeza e de progresso. E certamente não será uma crise, ainda que volumosa e torturante, que vá escurecer o seu céu de voo e conquista.

De toda essa crise restarão as cinzas. Mas não do país, da nação, da terra brasileira, mas tão somente dos vis caçadores que quiseram retirar da ave real até sua última pena, até o seu último canto e sopro. Mas não conseguiram pelo céu bem mais alto do que alcança a mão humana. Eles, os espoliadores de um país inteiro, nem incólumes nas cinzas restarão. O sal da história cuidará para que seus restos não assombrem mais. E então, a fênix/pátria renascida de todo o mal, alçará seu voo ante o céu do seu povo.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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VIRGULINO FERREIRA DA SILVA, O LAMPIÃO, MORREU HÁ 70 ANOS


Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, morreu há 70 anos, no dia 28 de julho de 1938. Com ele, morreu o ciclo do cangaço. Mas a herança deixada por Lampião tem vida longa, muito além dos 41 anos vividos pelo Rei do Cangaço.

Luiz Gonzaga adotou o chapéu de cangaceiro logo no início da carreira e, dele, nunca se separou. Na Feira de Caruaru, no Agreste pernambucano, o acessório é mercadoria que nunca falta. Para os artesãos do barro, Lampião e a companheira, Maria Bonita, são eterna fonte de inspiração: no Alto do Moura, reduto desses artistas populares, é possível encontrar réplicas dos heroicos vilões em todos os tamanhos.
A herança estética do cangaço, que contagiou o Brasil inteiro, é perpetuada pelos artesãos de Caruaru e também nas semanas de moda de todo o mundo. Na São Paulo Fashion Week de 2007, o estilista Alexandre Herchcovitch apostou no couro nas roupas, na bolsa com jeito de cantil, nos cintos, nas sandálias-botas. A identidade dos cangaceiros ainda estava presente nos lenços em volta do pescoço.

A vida desses homens e – em especial – a do chefe máximo deles, o que ficou mais famoso e certamente um dos mais temidos, foi retratada em livros e em, pelo menos, cinquenta filmes. A constatação é do pesquisador cearense Marcelo Dídimo Vieira, que fez tese de doutorado sobre o assunto. “O cangaço é retratado no cinema brasileiro desde a década de 20, época em que o cangaço ainda estava no seu auge”, afirma.

Glauber Rocha, cineasta ícone do Cinema Novo, na década de 60, viajou nas asas do cangaço em Deus e o diabo na terra do sol. E os pernambucanos Lírio Ferreira e Paulo Caldas contaram a parte da vida de Lampião que se misturou com a história do sírio-libanês Benjamim Abraão, no filme O baile perfumado, na década de 1990, período conhecido como a retomada do cinema brasileiro.

Benjamim Abraão se infiltrou no grupo, autorizado pelo chefe. Das temporadas que passou entre cangaceiros, tirou documentos preciosos para pesquisas. Estudiosos estimam que foram cerca de 70 fotos e um filme que foi apreendido pelo Estado Novo, do qual restam cerca de onze minutos. Nele, os cangaceiros aparecem vistosos como faziam questão de estar. Isso se devia à influência do comandante: Lampião era bom marqueteiro, fazia questão que a imagem do bando ficasse conhecida.

O historiador Frederico Pernambucano de Melo acredita que, através da sua liderança, Lampião conseguia disseminar os padrões da sua estética para outros grupos de cangaceiros. “O grupo central de Lampião se reunia periodicamente com os subgrupos que andavam espalhados por todo o Sertão”, explica o historiador.

“Ao mesmo tempo, a presença das mulheres no início dos anos trinta vai permitir a entrada de voluntários para a costura e a aplicação desses temas estéticos, que foram desenvolvidos pelo próprio Lampião”, completa Pernambucano de Melo, que possui uma coleção de 115 peças que pertenceram a vários cangaceiros.

Entre essas peças está o bornal – um tipo de bolsa – que Maria Bonita levava no dia em que foi assassinada junto com o companheiro, em Sergipe. E também o vestido que ela estava, todo decorado de galões. Os bornais dos cangaceiros eram bordados com esmero. Os que pertenceram a Lampião são mais um tesouro do colecionador.

Mas não são as únicas peças do historiador: as luvas do Rei do Cangaço revelam que suas mãos eram consagradas a Santo Expedito; o chapéu é de 1934, mesmo ano dos óculos que ele usava para proteger o olho que não era cego, nas andanças entre os espinhos da caatinga.

ROTA DO CANGAÇO

O desejo de muitas pessoas de conhecer os lugares por onde Lampião e seu bando passaram fez surgir a rota do cangaço. Os turistas são convidados a visitar seis municípios do Sertão pernambucano onde os cangaceiros fizeram história.

Serra Talhada, onde Virgulino Ferreira da Silva nasceu, é um dos destaques desse roteiro. Na cidade, fica o Centro de Estudos e Pesquisas do Cangaço, que também funciona como museu. O lugar é parada obrigatória para quem quer desvendar os mistérios da vida dos cangaceiros.

O pesquisador Anildomá de Souza, coordenador do centro, é apaixonado pela história de Lampião. Ele acredita que a estética do cangaço que chegou aos dias de hoje deve-se também a uma característica que muitos poderiam considerar delicada para um “cabra” como Lampião.

“Ele trabalhava com muita habilidade no manuseio de uma máquina de costura, no bordado… E passou a usar isso nas roupas dele, nas armas, nas cartucheiras, nos bornais… E os outros cangaceiros copiaram”, conta o pesquisador.

Os turistas que fazem a rota do cangaço visitam, além de Serra Talhada, Triunfo, Santa Cruz da Baixa Verde, São José do Belmonte, São José do Egito e Afogados da Ingazeira. O passeio é uma viagem por lugares onde, atualmente, não se corre mais o risco de ser surpreendido por um bando de homens e mulheres delicadamente enfeitados e ferozmente motivados a defender os seus interesses a qualquer custo.

http://ancoradosertao.com.br/heranca-do-rei-do-cangaco-vai-muito-alem-de-sua-morte-em-serra-talhada-pe/

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RECORDANDO SEVERINO CRUZ CARDOSO (BIRÓ DE ONOFRE) NOS QUARENTA ANOS SEM SUA PRESENÇA FÍSICA NO PLANO TERRESTRE

Por José Romero Araújo Cardoso

Para Maria de Lourdes Araújo Cardoso (In memoriam), Jerônimo Vingt-un Rosado Maia (In memoriam), Benedito Vasconcelos Mendes, Ignácio Tavares de Araújo e a Wilson Bezerra de Moura

Biró de Onofre veio ao mundo no dia das comemorações da proclamação da República do ano de 1926, falecendo em dois de agosto de 1976, ambos os fatos ocorridos em Pombal (Estado da Paraíba). Em 1961, ano que assinalou importantes comemorações a nível local no que tangem ao centenário de emancipação política da velha urbe sertaneja, conhecida como terra de Maringá, casou-se com Maria de Lourdes Araújo Cardoso, de quem era parente próximo, a qual namorou por mais de vinte anos.
          
Era filho de Onofre Benigno Cardoso, descendente de judeus sefaraditas que saíram às pressas do litoral paraibano para o sertão, devido a chegada da Inquisição, depois da expulsão dos holandeses do Nordeste açucareiro em 1654, e de Francisca Martinha Cruz Cardoso, a qual fazia parte do ramo dos Rosado surgido através do casal Jerônimo Ribeiro Rosado – Francisca Freire de Andrade ( Cf. ROSADO, Vingt-un. Informações genealógicas sobre alguns Rosado. Mossoró/RN: Fundação Guimarães Duque, 1982 (Série C, Coleção Mossoroense, Vol. CCXXIII) ).   
          
Coincidentemente, seu grande ídolo, Luiz Gonzaga, encantou-se para o plano espiritual no mesmo dia e mês do ano de 1989. O eterno sanfoneiro do riacho da Brígida foi, por toda existência de Biró de Onofre, a referência musical mais expressiva, na qual pautou seu imaginário enquanto fomento às noções de pertencimento à região Nordeste.
           
Biró, bem como sua prima em segundo grau de nome Maria de Lourdes Araújo Cardoso, conhecida por Lia de Lourdes, tiveram pouca instrução, cursando apenas até o quinto ano do ensino primário. Naqueles tempos difíceis, era verdadeira odisseia conseguir evolução nos estudos. Somente pessoas bem situadas na estratificação social regional, ou alguns privilegiados pelo destino, caso de Josué de Castro, por exemplo, autor de célebres obras sobre o problema da nutrição, como Geografia da Fome: O dilema Brasileiro – Pão x aço, lançada em 1946, conseguiram esse feito.
          
Lia de Lourdes ainda galgou alguns degraus no quesito instrução, pois dispôs de curso teórico e prático para técnica em enfermagem, no ano de 1949, em João Pessoa (Estado da Paraíba), cujo objetivo foi viabilizar exercício de funções empregatícias no Posto de Puericultura da Legião Brasileira de Assistência que o governo federal instalou em Pombal e que foi criminosamente fechado, quando do advento dos anos de chumbo da ditadura militar instalada no País em primeiro de abril de 1964.
          
O grande sonho de Biró era um filho homem para poder compartilhar o que sabia sobre o sertão, seus segredos e mistérios, suas perspectivas, formas de contatos humanos, enfim, tudo que dissesse respeito às terras adustas ressequidas pelo sol escaldante e seu aliado incondicional, o vento alíseo nordeste.
          
Dos três filhos que o casal Biró de Onofre – Lia de Lourdes teve, sobreviveu apenas o nascido em 28 de setembro de 1969. O primeiro, a esposa abortou em agosto de 1967. Uma “comemoração inusitada” em um casamento de um primo legítimo foi o estopim para a perda do primogênito. Aconteceu no sitio Lajedo, comunidade rural localizada em Pombal (Estado da Paraíba), pertencente à família Menandro da Cruz, herança do rico fazendeiro Sinhozinho Vieira, pai de Martinha Vieira da Cruz, esposa de Menandro José da Cruz. A companheira inseparável de Seu Menandro pertenceu a um ramo familiar que ainda hoje é conhecido em Pombal como os Maniçobas.
          
Tratava-se de um bêbado que disparava a esmo. Biró foi tomar as providências. Desarmou-o, pois sabia perfeitamente todos os procedimentos a fim de neutralizar o atirador. Lia de Lourdes, infelizmente, não suportou o estresse.
          
O segundo nasceu forte e saudável, também no mês de agosto, ano de 1968, mas foi vítima da falta de cuidados. No Hospital e Maternidade Sinhá Carneiro, uma garotinha de uns 13 anos tomava de conta do berçário. Uma queda e o bebê bateu forte com a cabeça no chão. Não resistiu e morreu. Assim como o primeiro, o casal havia decidido que deveriam colocar no segundo o nome de Severino Cruz Cardoso Filho. Sonharam em seus devaneios e confianças e já o chamavam carinhosamente de Birozinho.
          
Adepto fervoroso de uma cachacinha, hábito que manteve desde quando trabalhava na pedreira de gesso das voçorocas da Espadilha, localizada no antigo termo de São Sebastião, hoje município de Governador Dix-sept Rosado (Estado do Rio Grande do Norte), época em que notabilizou-se a maior extração de rocha sedimentar gipsita no Brasil, talvez na América Latina, Biró entregou-se à boemia, tendo como símbolo maior a música Juazeiro, de autoria de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, não obstante gostar também das canções compostas e interpretadas por Nélson Gonçalves, Orlando Silva e Vicente Celestino.
          
Não largou sua opção etílica de forma alguma, pois manteve-se incólume em sua sina até seu trágico desencarne, vitimado por fenomenal descarga elétrica, quando desafiava trifásica ameaçadora que tangenciava-se com as galhas de uma cajazeira. Tragar sofregamente fumo DuBom enrolado em papel-seda ou em palha de milho era outro vício que Biró tinha e que cultivou até o final de sua existência.
          
Apesar de Juazeiro ter se transformado no hino oficial da pedreira de gesso, o qual fazia-lhe recordar momentos marcantes em São Sebastião, era com A Triste Partida que a emoção fluía por todos os poros. A magistral poesia matuta de Patativa do Assaré, narrando a saga, as desditas e os sofrimentos passados por uma família de retirantes tangida pela seca do Nordeste para o Sul, levava Biró de Onofre às lágrimas. Quando chegava no refrão sobre o meu pobre cachorro quem dá de comer, ele chorava compulsivamente. Lembro-me que em certa época chegamos a ter mais de dez cachorros em casa, cada um inseparável companheiro de caça de Biró de Onofre. Jolí e ligeiro foram os preferidos. Ele nunca levou-me para uma caçada, pois dizia sempre que era perigoso levar crianças e eu obedecia-o, não relutava, não pedia para acompanhá-lo, apenas ficava esperando-lhe, apreensivo, pois sabia muito bem quem era meu pai. Se desarmado era perigosíssimo, imaginem então com uma espingarda calibre 28 a tiracolo e dispondo de mais de quarenta cartuchos em um bornal?
          
Nas festas do Rosário do mês de outubro, em Pombal, quando o profano, sem sombras de dúvidas, torna-se extremamente mais visível que o sagrado, Biró de Onofre entregava-se de corpo e alma à bebida. Inúmeras vezes saiu comigo pelas ruas de Pombal, completamente bêbado, pois, para desespero de dona Lia, tirava-me da rede onde dormia, colocava-me em seu pescoço e saia se equilibrando, orgulhoso em mostrar aos amigos, muitos, incontáveis, que finalmente realizara seu grande sonho de ter um filho homem para poder dividir o que sabia sobre a terra dos desafios, a grande e soberana nação sertaneja.
          
Não vou dizer com absoluta certeza que ele era incapaz de fazer mal a alguém, pois era uma fera. Domá-lo, quando se enraivecia, era tarefa hercúlea. Diversas vezes eu o vi, quando dos pic-nics com os amigos e conhecidos, quebrar a cara de incautos e fazer riscos de faca em peçonhentos que ainda existem no sertão e que costumam exceder em certas práticas nocivas, como a falta de respeito para com os semelhantes.
          
Eu o vi muitas vezes desarmar diversas pessoas, apetrechadas de faca ou com arma de fogo. Ele avançava sem medo, sem titubear, pois quando menos esperava-se ele estava em cima, irresoluto, sem pestanejar, dando o recado àqueles que não sabiam que desconhecia o significado do substantivo masculino medo. Tio legítimo de nome Romeu Menandro da Cruz, irmão de Francisca Martinha da Cruz Cardoso, era do mesmo jeito, tendo chegado ao ponto de desafiar Sabino Gório e seu bando sinistro no dia 28 de setembro de 1926, em Cajazeiras dos Rolins (Estado da Paraíba). Sabino foi chefe de subgrupo do bando de Lampião, tendo se destacado pela ferocidade e perversidade inauditas.
          
Não posso esquecer ainda da participação de Lourenço Cruz, enquanto sinônimo de bravura, como defensor de Mossoró, postado de forma estoica e abnegada nas trincheiras de Saboinha, ou seja, na estação da estrada de ferro, em 13 de junho de 1927, quando Lampião e seus cabras invadiram a terra de Santa Luzia, sendo rechaçados por parte da população local e pelos poucos policiais que guarneciam a ameaçada cidade potiguar.
          
Eu, criança que não entendia muito bem o que estava acontecendo, ficava distante, temendo pela vida do meu genitor, mas ele sabia se safar bem, pois impor respeito através dos velhos métodos sertanejos era uma das especialidades de Biró de Onofre. Tem horas, no presente, que parece até que um filme está voltando em minha mente, com certas atitudes do meu filho mais velho. Romero Júnior tem muitas coisas do avô.  Jerônimo Vingt-un Menandro, calmo e dócil, até o presente momento, parece ser o contrário do irmão afobado e afoito.
          
Bruto ao extremo, papai certa vez despertou toda rua Benigno Cardoso devido aos desdobramentos de uma caçada de tatu. Ligeiro, cachorro de sua predileção, destemido e brabo como ele só, não dava espaço para que Biró de Onofre cavasse o local onde se encontrava o pobre animalzinho acuado. Com raiva, pegou o facão e rolou o rabo do desditado cachorro. Desesperado, ligeiro desceu os lajedos do riacho do bode em desabalada carreira, deixando rastros de sangue por onde passava. Papai conservou em casa, até sua morte, o pedaço que ele arrancou do rabo do cachorro ligeiro.
          
Outro amuleto que guardava a sete chaves, o qual conservo comigo, é uma velha fotografia do Vasco da Gama que ele trouxe quando foi trabalhar na Mineração Jerônimo Rosado S. A., em São Paulo. Quando dos deslocamentos para o Rio de Janeiro, aproveitou para adquirir souvenirs do time do coração, tendo aumentado significativamente sua coleção de lembranças referentes à associação desportiva nucleada em São Januário.
          
O restante da coleção sobre o Vasco da Gama que possuía não consegui localizar. Nem preciso dizer que a opção futebolística do meu pai influenciou de forma basilar na minha decisão referente para qual time torcer.
          
Na década de setenta do século passado, provavelmente no ano de 1974, protagonizou feito inaudito e, creio, talvez inédito para um sertão desacostumado a um certo tipo de fauna exótica, pois, na companhia do inseparável amigo Curinha de Dr. Lourival, deram caça a um jacaré no rio Piancó, conseguindo capturar o animal que havia sido retirado do seu habitat natural na região norte ou no Maranhão e levado para Pombal, sendo jogado nas águas do velho rio, tendo crescido consideravelmente, passando a impor medo nas lavadeiras e frequentadores do balneário natural.
          
O rio Piancó foi um dos relicários sagrados da minha convivência com Biró de Onofre, pois nos tradicionais banhos fui batizado perante as inclemências da terra do sol, sendo uma das garantias de pertencimento ao velho chão sertanejo.
          
Sob pretexto de que eu tinha que me virar, Biró praticava certo tipo de “esporte” por demais perigoso para uma criança, pois atirar-me em locais profundos do curso d´água sertanejo consistia em verdadeiro divertimento para ele.  Conforme Dedé Espalha, de saudosa memória, amigo pessoal de Biró de Onofre, o argumento de papai para tal prática era que eu deveria saber como me virar perante os segredos e mistérios do rio Piancó.
          
Dona Lia, concentrada em seus trabalhos no Hospital Distrital de Pombal, confiava-lhe para que tomasse-me de conta, ficando comigo em casa, pois, conforme dona Lourdes, minha avó materna, “boa romaria faz, quem em sua casa está em paz”.
          
Ledo engano. Papai aproveitava que a vigília materna não estava próxima e tomava comigo o rumo das águas tortuosas do rio Piancó, levando-me de madrugada para conhecer de perto as coisas do nosso sertão.
          
Ele improvisava pescarias noturnas, bem como diurnas, com tarrafas, com anzol, com landuá, bem como com as mãos. A facilidade que tinha para pescar era fantástica. Logo tínhamos peixes em grande quantidade. Tratá-los, temperá-los, principalmente com manjericão, essência nativa do semiárido, e cozinhá-los, também eram tarefas fáceis, pois Biró de Onofre sabia muito bem como aproveitar os frutos de sua aptidão natural como pescador. Era comum naquela época encontrarmos panelas de barro enterradas ao longo do leito do rio Piancó. Existia um local que margeava o curso d´água que era conhecido por panela, justamente por encontrarmos esses utensílios artesanais enterrados para que houvesse viabilidade no cozimento de espécies da fauna aquática que eram pescadas, bem como para o preparo do tradicional arrubacão à beira do rio.
          
Obter fogo através da fricção de paus era algo simples também para ele. A farra de madrugada estava garantida. Eu me concentrava nos saborosos peixes e ele tanto saboreava o que cozinhava como aproveitava para dar um gole na garrafa de pinga que nunca esquecia quando “roubava-me” para fazer parte de suas aventuras pela madrugada.
          
Não sei como, talvez atraídos pelo cheiro dos peixes sendo cozidos na panela de barro deixada por “solidários boêmios”, bem como pelo odor, para mim insuportável, da cachaça que não faltava quando papai estava por perto, principalmente no rio Piancó e na bodega de Severino Pedro, logo o improvisado acampamento estava repleto de apreciadores de uma peixada com pinga, sendo a maioria moradora das redondezas que conheciam por demais Biró de Onofre. Confesso com franqueza que ainda não conheci alguém mais conhecido do que ele em seu torrão natal.
          
Depois de saciada a fome, geralmente vinha uma das partes que mais gostava. Papai preparava uma cama com folhas de jitirana, tendo seu ombro como travesseiro, momento que ele aproveitava para ensinar-me sobre o sertão, dizendo-me de quem eram os cantos dos passarinhos que pululavam pela madrugada, bem como cada uivo dos animais, apontando ainda, sem pestanejar, denominações vulgares das espécies vegetais próximas.
          
Biró conhecia como poucos cada entoação do canto da mãe da lua, das corujas, das peiticas, da temida rasga-mortalha de canto considerado fúnebre no sertão, do bacurau, etc.
          
A variedade de peixes encontrados no rio Piancó, na época, era tão impressionante, que vislumbrava a todos, enchendo os olhos a diversidade fantástica. Era grande a quantidade de piaus, tucunarés, traíras imensas, curimatãs, cascudos, piranhas, etc., que faziam a felicidade dos pescadores e boêmios.
          
Essa riqueza piscícola era garantia de suplemento alimentar à população de baixa renda que dependia bastante do que o rio Piancó oferecia. Essa profusão de peixes também era verificada no rio Piranhas, o qual recebe o Piancó logo além da forquilha das Junqueiras, seguindo seu curso para o vizinho Estado do Rio Grande do Norte.
          
Certa vez, quando de uma pescaria noturna com amigos, da qual não participei, Biró chegou em casa com o polegar direito quase partido ao meio. Sangrava bastante. Em um gesto inopinado, resolveu desalojar com as mãos imensa piranhas preta que escondera-se em uma afloração granítica localizada, na época, ao longo do leito do rio Piancó. A piranha preta, feroz e perigosa, levou a melhor na pescaria, terminando-a de forma tragicômica.
          
Biró conhecia ainda cada espécie de nossa flora tão ameaçada de extinção. Não apenas fazia uma catalogação mental referente a cada árvore e a cada arbusto, como sabia também a serventia de cada um para manter saudável a saúde do sertanejo ou de quem quer que fosse.
          
Luiz Gonzaga foi muito feliz quando gravou extraordinária e belíssima canção, a qual enfatiza de forma sublime que: “como é bonito a gente ver, em plena mata o amanhecer”. Biró de Onofre mostrou-me o sertão de corpo e alma, através de suas essências mais marcantes.
          
Parece até que ele se inspirava nesse hino sertanejo quando me levava para conhecer a natureza que rodeia nossa nação, nosso espaço, hoje, infelizmente, tão ameaçado pela intensiva ação antrópica.
          
É no amanhecer que o sertão se torna mais sertão, pois o cheiro inigualável das árvores nativas e das águas dos rios é percebido pelo olfato mais sensível daqueles que amam a região.
          
Quando das tradicionais vaquejadas ocorridas no mês de julho no Parque Manuel Arnaud, em Pombal, Biró transformava-me em um vaqueiro-mirim, pois fazia questão que eu ostentasse chapéu de couro, luvas, chibatinha e outros adereços integrantes da indumentária do grande herói do sertão.
          
Exímio aboiador, resultado de suas lidas no trato com o gado no Carro Quebrado, denominação toponímica da propriedade de Onofre Benigno Cardoso, herança do velho ourives Benigno Ignácio Cardoso D’ Arão, Biró desfilava comigo pelo chão de terra batida do Parque de Vaquejada pombalense, como troféu, entoando a sonoridade laborial do vaqueiro sertanejo.
          
Entusiasta da nossa cultura popular, levava-me à tradicional feira dos sábados em Pombal para ouvir cantadores e repentistas declamarem versos do Pavão Misterioso e de outros clássicos da literatura de bolso nordestina. Os folhetos de cordel foram despertando-me a atenção em razão da forma como viabiliza a produção poética do autêntico literato regional, pois a maioria é composta por seres humanos desprovidos de recursos, sem condições de publicar livros refinados.
          
A feira foi sendo-me revelada espetacularmente, pois tudo que havia da produção artesanal sertaneja encontrávamos com facilidade naquela época. Selas impecavelmente trabalhadas, arreios, botas e chapéus de couro, bem como de palha, chocalhos, feitos cuidadosamente por hábeis ferreiros, panelas de barro, jarras para colocar água, aguidares, lamparinas, quartinhas, bornais e peias de couro, etc. eram comercializados na feira de Pombal. Hoje, a globalização mudou muito o rumo das coisas, modificando os produtos que encontramos à disposição, não obstante ainda encontrarmos muito da cultura popular de nossa região sendo vendido no lócus livre da comercialização pombalense.
          
Incontáveis vezes fizemos o trajeto Sousa – Governador Dix-sept Rosado – Mossoró e vice-versa, nos vagões das composições férreas da saudosa estrada de ferro inaugurada em 1915. A velha terra do alho, do gesso e da cal era, geralmente, o destino mais procurado, pois marcas indeléveis estão fincadas por lá de forma mais efetiva e proeminente, não obstante ser batizado em Mossoró e na capital do oeste potiguar estarem fixados inúmeros familiares, tendo em vista que após a fragmentação e a marginalização das explorações de gesso e da cultura do alho e da cebola às margens do rio Apodi-Mossoró a migração de inúmeros dix-septienses para a segunda aglomeração urbana potiguar tenha se efetivado de forma intensa.
          
Festas de São Sebastião em Governador Dix-sept Rosado constituíram-se em um dos motivos de deslocamentos da Paraíba para o Rio Grande do Norte nas companhias de Biró de Onofre, de dona Lia e de dona Cora, sendo que essa última era minha tia paterna e mãe de criação.  
          
Todas as noites, depois que dona Lia dava-me banho, ficava sentado em seu colo para esperarmos a chegada do vento refrescante de Aracati. Pedia-lhe para contar-me histórias do tempo da pedreira. Lembro-me bem de uma, referente a uma ema que apareceu nas imediações da exploração de gesso.
          
Disse-me que chamou um conhecido, compadre Bevenuto, para abater a imponente ave, conhecida como avestruz das Américas. Conforme relatou-me, era tão grande que foi preciso ser transportada nas costas de um burro.
          
Naquela época era comum bandos de emas e varas de porcos-do-mato serem vistos na chapada do Apodi. Hoje, infelizmente, não existem nem rastros desses animais nos seus habitats naturais. Foram extintos pela irresponsabilidade humana.
          
Naquele fatídico dia dois de agosto de 1976 eu parei, atônito, pois foi-se para sempre meu herói, meu ídolo, meu bandido, meu pai amado de quem nunca esquecerei.    Hoje, quarenta anos sem a presença física de Biró de Onofre no plano terrestre, as transformações são intensas e visíveis no espaço que tanto amou.
          
O rio Piancó continua poluído, imundo, cheio de dejetos de toda espécie. Os peixes não existem mais em tamanha profusão como naquela época e os pássaros migraram para longe ou simplesmente desapareceram por que, entre outros motivos, a mata ciliar nativa foi derrubada para servir a fins diversos.
          
O que não muda é a saudade de abraçar novamente meu pai e dizer-lhe o quanto o amo e o quanto sou agradecido por todos os momentos que passamos juntos, pois foram importantíssimo para que meu fascínio pelo sertão se efetivasse da forma mais proeminente possível.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP). Filho único de Severino Cruz Cardoso (Biró de Onofre) e de Maria de Lourdes Araújo Cardoso (Lia de Lourdes).

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COMO ACONTECEU A MORTE DE LAMPIÃO EM ANGICO

Por Cap. Cangaceiro

O que realmente pode ter acontecido no Angico, naquele ano de 1938, que ficou na história do Brasil:

Segundo depoimento do ex-cangaceiro Candeeiro, Lampião nas proximidades de itaíba-PE, quando ia para o Angico, disse a Candeeiro que quando chegasse lá, iria conversar com os meninos "cangaceiros", que iria abandonar o cangaço, quem quisesse acompanhá-lo iria juntos, quem não quisesse ficava. Quanto ao tenente João Bezerra, todo comando da polícia de Alagoas sabia do "negocio" que ele tinha com Lampião. João Bezerra ao ser questionado, evitava comentar. 

Pedro de Cândido, irmão de Durval Rosa era coiteiro de Lampião e de grande confiança. Pedro tinha um pequeno comércio em Entremontes no Estado de Alagoas, isso facilitava para adquirir suas compras para Lampião, fazendo assim com que ninguém desconfiasse. 

A ligação de Lampião com Bezerra tinha como ponte o rapazinho Pedro de Cândido. Lampião passava noites jogando baralho com Bezerra. O deputado Estadual chefe político de águas Belas no estado de Pernambuco, afirmava que Bezerra com Lampião sentavam em uma grande mesa na sala da fazenda e esqueciam do mundo, jogavam baralho até de manhã a luz de candeeiro. Lampião reclamava muito a Audálio Tenório porque perdia muito. Audálio dava longas gargalhadas do rosto deles avermelhados com a fumaça do cadeeiro. 

Joca Bernardes, fazendeiro em Pão de Açucar no Estado de Alagoas, era grande coiteiro, e por desentendimento com Pedro de Cândido por causa de uma mulher, resolve se vingar de Pedro, procura o sargento Aniceto e diz: 

- Aperte Pedro que ele dá conta do cego! 

Coronel José Lucena, comandante do 2º batalhão de polícia sediado em Santana do Ipanema no Estado de Alagoas, recebe ordens severas do interventor do Estado Osman Loureiro de Farias, sobre o suposto "negócio" entre Bezerra e Lampião. Lucena procura Bezerra e diz que recebeu ordens para que Bezerra resolva de uma vez tal situação, ou seria expulso da polícia! Bezerra procura Pedro para o plano de veneno. Lampião tinha muita confiança em Pedro de Cândido.

O que comprova o envenenamento:

1º - Bezerra ao descer de Piranhas para o Angico, não permitiu que os canoeiros ficassem do lado de Sergipe, mandando eles voltarem para o lado de Alagoas.


2º - Bezerra mandou Pedro e Durval voltarem antes de chegarem no Angico.


3º - Quando a polícia desceu atirando para o coito, Bezerra esperou um pouco e depois desceu.

4º - A morte do soldado Adrião, foi por "fogo amigo", suspeitasse que foi assassinado para comprovar um combate.


5º - Bezerra nunca foi baleado, forjou ser baleado para acreditarem em tiroteio, o que ele teve na perna foi um estilhaço de pedras quando ele desceu para o coito, alguns policiais ainda atiravam.


6º - Depoimentos de vários policiais disseram que atiraram, mas não sabiam em quem, só cumpriram ordens.


7º - Pedro de Cândido ao chegar no Angico com as mercadorias, peguntou a Zé Sereno quantos homens tinha no coito. Zé Sereno não gostava e nem confiava em Pedro de Cândido.


8º - Zé Sereno viu um pequeno furo em uma garrafa de bebida, supostamente feito por uma agulha, foi dizer a Lampião: 

- Capitão, o senhor é cego de um olho, mas do outro o senhor enxerga direitinho, mostrando o furo. 

Lampião o advertiu dizendo que Pedro era de confiança.

9º - Pedro tomou uns goles de bebidas, mas foi só de algumas, provavelmente demostrando que estava tudo em perfeita condições.


10º - Segundo Zé Sereno, no início da noite, alguns cangaceiros estavam sentados meio sonolentos. Zé Sereno peguntou o que eles tinham, responderam que não tinham nada.


11º - Isso comprova que os que escaparam do Angico, não tinham provado da bebida com veneno.


12º - Depoimentos de Balão que escapou do Angico:


- Eles beberam cachaça genebra e jogaram baralho até ás 23:30 da quarta-feira, do dia 27 de julho.

13º - É bem provável que esta bebida (cachaça genebra) não tinha veneno.


14º - É bem provável que o veneno que matou Lampião estava no café, pois segundo depoimentos do cangaceiro Buriti que estava de vigia próximo a barraca do chefe, Lampião se levantou com alguns cangaceiros, rezaram o ofício de Nossa Senhora da Conceição, e muitos outros voltaram a deitar-se, pois fazia muito frio (cangaceira Sila comprova isso).


15º - Lampião saiu da tolda (barraca), com um caneco com água, lavou a boca com três goles. Maria Bonita acendeu o fogo e numa panela de barro com água, colocou café para fazer, adoçando com pedaços de rapadura.


16º - A versão da polícia que Maria Bonita foi pegar água, e com uma bacia de queijo na mão, sendo em seguida atingida pelos tiros do cabo Panta de Godoy, é mentirosa, assim como é mentirosa toda conversa contada pelos macacos.


17º - O ex-cangaceiro Buriti, e o ex-cangaceiro Vila Nova, afirmam que Lampião ao provar o café, começou a sentir dores ,soltando a caneca no chão e pegando na barriga e voltando para barraca em passos longos, se deitou na rede com os pés fora revirando os olhos. Maria Bonita o seguiu ao ver Lampião deitado com a boca saindo escuma, gritou: 


- Corre que Lampião está morrendo"!

- Vila Nova e Buriti correm para barraca e verem a cena de Lampião se contorcendo, Maria Bonita gritou que estava com os lábios queimando. Isso comprova que o veneno estava no café.

18º - Luiz Pedro gritou, 


- O capitão está morto!

- Vila Nova ao ver a cena gritou:

- É veneno!

19º - Logo em seguida a polícia começou a atirar, quem escapou disse que foi muita bala, uns cangaceiros corriam e atiravam a esmo, sem saber o que estava acontecendo.


20º - A volante afirmou também que atiravam sem saber em quem.


21º - A volante chegou em Piranhas comemorando o feito contando uma versão mentirosa, mas no decorrer de alguns dias, uns soltaram a língua pela região, dizendo que mataram quem já estavam mortos lá no Angico.


22º - Pedro de Cândido esteve com o fazendeiro Gerson Maranhão coiteiro de Lampião e primo legítimo de Lucena, falando que envenenou Lampião à pedido de Bezerra.


23º - depoimentos de Durval Rosa fala que Bezerra ao procurar Durval, Pedro estava junto. Bezerra mostrou um telegrama ameaçador do comando geral da polícia de Alagoas, dizendo quê: 


- Ou a cabeça do cego, ou a dos três" esses três seria Bezerra, Pedro e Durval".

24º - Bezerra disse á um jornal uns anos depois do ataque no Angico, que recebeu ordem para matar Lampião, mas não importava como.


25º - Gerson Maranhão procurou Bezerra e disse da conversa que teve com Pedro. Bezerra disse a Gerson que tomaria uma decisão. Pedro estava conversando demais.


26º - Pedro de Cândido entrou na polícia de Alagoas como cabo (promessa de Bezerra, depois do feito do Angico). Pedro era casado e morava em Entremontes, tinha uma companheira em Piranhas de baixo por nome de Madalena. No dia 21 de agosto de 1941, Pedro vinha da casa de Madalena, já era começo de noite, no meio do caminho um rapaz por nome de Sabino Francisco, encontrou com Pedro dando-lhe 19 facadas. Foi preso e absorvido no júri, por dizer que confundiu Pedro com um bicho. quando sabino saiu da prisão foi assassinado misteriosamente. (queima de arquivo).


27º - Na época em que Pedro de Cândido foi morto, o tenente coronel Zé Lucena estava na região.


28º - Sargento Aniceto, dizia em toda região que Lampião foi envenenado, pois Bezerra não tinha cumprido o que combinaram de sua parte em dinheiro que foi adquirido no Angico.


28º- Aniceto foi excluído da polícia por desertar, praticou muitas atrocidades, resultando em matar sua esposa em Piranhas, foi preso e recolhido à prisão em Maceió, foi solto e morto misteriosamente.


29º - Dois dias depois da chacina do Angico, os nazarenos Odilon Flor, Davi Jurubeba e Euclides Flor estiveram no Angico, ficaram surpresos em ver tantos urubus mortos e outros sem conseguir levantarem tontos.


30º - A autópsia da cabeça de Lampião feita em Maceió, inicialmente apontava envenenamento, porém o resultado foi mantido em segredo e omitido no laudo médico.


31º - Em 26 de abril de 1968, o Jornal do Brasil estampou um resultado de exames efetuado pelo médico legista Antonio Carlos Vila Rica, confirmando que Lampião foi morto por envenenamento. (Isso resulta que realmente Lampião foi envenenado)

Fonte: facebook
Página: Rei Dos Cangaceiros

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LAMPIÃO: A RAPOSA DAS CAATINGAS – UMA OBRA IMPRESCINDÍVEL E INDISPENSÁVEL PARA QUEM ESTUDA O NORDESTE BRASILEIRO

Por José Romero Araújo Cardoso


Finalmente atrevi-me terminar de ler o extraordinário livro de autoria do renomado escritor e pesquisador José Bezerra Lima Irmão, intitulado Lampião: A Raposa das Caatingas, pois denso, riquíssimo em informações e bem estruturado em suas abordagens sobre o personagem principal e sobre o nordeste de uma época, perfazendo mais de setecentas páginas bem escritas,  setecentas e trinta e seis, para ser mais preciso, consiste-se em verdadeiro desafio concluir sua leitura, tendo em vista a forma envolvente como prende o leitor às minúcias de uma pesquisa séria e compenetrada que levou onze anos para ser concluída, a qual, utilizando metodologia eclética e bem selecionada, tem garantido lugar de destaque entre os grandes clássicos escritos sobre o Lampião, o cangaço e o Nordeste em todos os tempos.
          
Concordo, em parte, com o autor quando este defende que a história do nordeste brasileiro resume-se basicamente às figuras de Lampião, Padre Cícero e Antônio Conselheiro. Na minha humilde opinião, creio que faltou inserir o nome do grande evangelizador dos sertões nordestinos – “Coronel” Delmiro Augusto Gouveia Farias da Cruz, para quem trabalharam, exercendo o ofício de almocreve, Lampião e familiares, transportando, assim como diversos anônimos, algodão e outros produtos regionais a fim de contribuir para movimentar a produção da sofisticada fábrica de linhas Estrela da Villa da Pedra, em Alagoas.

          
Esses personagens destacaram-se, no espaço e no tempo, fomentando expressivos momentos da história nacional nos quais suas atuações notabilizaram-se pela atenção despertada além divisas regionais e fronteiras pátrias.
          
A objetividade que embasa o trabalho de fôlego de José Bezerra Lima Irmão é um dos pontos altos da imensa contribuição efetivada pelo responsável escritor e pesquisador, pois conclama que os leitores tirem suas conclusões sobre os assuntos abordados, tornando-os figuras de destaque na leitura da obra.
          
A estrutura didática sobre a qual ergue-se Lampião: A Raposa das Caatingas, em segunda edição, publicada em Salvador (Estado da Bahia) pela JM Gráfica & Editora, no ano de 2014, destaca duzentos e quarenta capítulos, iniciando com A figura de Lampião emoldurada no contexto histórico e no ambiente em que viveu, sendo concluída com importante abordagem sobre a sombra de Lampião, por título Corisco, o último cangaceiro.
          
O autor faz questão de frisar que o Lampião enfocado em sua obra não seja visualizado nem como herói e nem como bandido e sim como produto de sua época, um cangaceiro, pois “O Nordeste até quase o meado do século XX era uma terra de cangaceiro. Ser cangaceiro era moda” (LIMA IRMÃO, 2014, p. 17).
          
Um dos grandes momentos da obra, conforme constatei, é a própria valorização do nordeste em seus fundamentos humanos, pois o autor conseguiu compreender a região em seus aspectos mais incisivos, a exemplo da defesa referente à ortopéia popular, ou seja, o linguajar rude do matuto, o qual assinala a forma de falar do povo do sertão, tendo em vista que Lampião e seus cangaceiros falavam e se expressavam como a gente simples da qual faziam parte.
          
Mesmo tendo se passado mais de setenta anos de sua possível morte na grota de Angico, ao lado de dez cangaceiros e um praça volante, Lampião suscita polêmicas, dúvidas e incertezas, as quais são analisadas de forma inteligente e bem articuladas por José Bezerra Lima Irmão.
           
Virgulino Ferrreira da Silva integrou um nordeste marcado pela violência, pelo desejo de vingança, tornando-se arquétipo de uma raça altiva e forte, vem sendo estudado há décadas por autores nacionais e por brasilianistas, mas a forma ímpar como foi inserido como personagem principal na pesquisa metódica e compenetrada de José Bezerra Lima Irmão destaca sua importância incontestável na história regional.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP).

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LANÇAMENTO DO LIVRO CAPITÃES DO FIM DO MUNDO

Por André Albuquerque

Olá José:

Muito obrigado mais vez pela gentileza.


Aproveito a oportunidade para divulgar o lançamento do livro dia 08/04 as 19h30 conforme convite anexo, se puder ajudar na divulgação do trabalho. Percebi que o seu site é um doa poucos especializados no Brasil com a temática cangaço o que é de grande valia, pois somos muitos e ao mesmo tempo distantes fisicamente. 

https://www.youtube.com/watch?v=AQ_i5DfyMwg
https://www.youtube.com/watch?v=PQWPoMVffQ8

Remeto também o vídeo de duas entrevistas recentes a respeito do livro divulgado em Pernambuco (um no bom dia Pernambuco e a outra na Rádio SEI do governo do Estado, que pode ser explorado como desejar. (Que também pode ser encontrado no youtube. 
Grande abraço! 

Enviado pelo escritor, professor e pesquisador do cangaço André Carneiro de Albuquerque

https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/153b7d3c6fbee931?projector=1

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