Por José
Romero Araújo Cardoso
Finalmente atrevi-me terminar de ler o extraordinário livro de autoria do
renomado escritor e pesquisador José Bezerra Lima Irmão, intitulado Lampião:
A Raposa das Caatingas, pois denso, riquíssimo em informações e bem estruturado
em suas abordagens sobre o personagem principal e sobre o nordeste de uma
época, perfazendo mais de setecentas páginas bem escritas, setecentas e
trinta e seis, para ser mais preciso, consiste-se em verdadeiro desafio
concluir sua leitura, tendo em vista a forma envolvente como prende o leitor às
minúcias de uma pesquisa séria e compenetrada que levou onze anos para ser
concluída, a qual, utilizando metodologia eclética e bem selecionada, tem
garantido lugar de destaque entre os grandes clássicos escritos sobre o
Lampião, o cangaço e o Nordeste em todos os tempos.
Concordo, em parte, com o autor quando este defende que a história do nordeste
brasileiro resume-se basicamente às figuras de Lampião, Padre Cícero e Antônio
Conselheiro. Na minha humilde opinião, creio que faltou inserir o nome do
grande evangelizador dos sertões nordestinos – “Coronel” Delmiro Augusto
Gouveia Farias da Cruz, para quem trabalharam, exercendo o ofício de almocreve,
Lampião e familiares, transportando, assim como diversos anônimos, algodão e
outros produtos regionais a fim de contribuir para movimentar a produção da
sofisticada fábrica de linhas Estrela da Villa da Pedra, em Alagoas.
Esses
personagens destacaram-se, no espaço e no tempo, fomentando expressivos
momentos da história nacional nos quais suas atuações notabilizaram-se pela
atenção despertada além divisas regionais e fronteiras pátrias.
A objetividade que embasa o trabalho de fôlego de José Bezerra Lima Irmão é um
dos pontos altos da imensa contribuição efetivada pelo responsável escritor e
pesquisador, pois conclama que os leitores tirem suas conclusões sobre os
assuntos abordados, tornando-os figuras de destaque na leitura da obra.
A estrutura didática sobre a qual ergue-se Lampião: A Raposa das Caatingas,
em segunda edição, publicada em Salvador (Estado da Bahia) pela JM Gráfica
& Editora, no ano de 2014, destaca duzentos e quarenta capítulos, iniciando
com A figura de Lampião emoldurada no contexto histórico e no ambiente em
que viveu, sendo concluída com importante abordagem sobre a sombra de Lampião,
por título Corisco, o último cangaceiro.
O autor faz questão de frisar que o Lampião enfocado em sua obra não seja
visualizado nem como herói e nem como bandido e sim como produto de sua época,
um cangaceiro, pois “O Nordeste até quase o meado do século XX era uma terra de
cangaceiro. Ser cangaceiro era moda” (LIMA IRMÃO, 2014, p. 17).
Um dos grandes momentos da obra, conforme constatei, é a própria valorização do
nordeste em seus fundamentos humanos, pois o autor conseguiu compreender a
região em seus aspectos mais incisivos, a exemplo da defesa referente à
ortopéia popular, ou seja, o linguajar rude do matuto, o qual assinala a forma
de falar do povo do sertão, tendo em vista que Lampião e seus cangaceiros
falavam e se expressavam como a gente simples da qual faziam parte.
Mesmo tendo se passado mais de setenta anos de sua possível morte na grota de
Angico, ao lado de dez cangaceiros e um praça volante, Lampião suscita
polêmicas, dúvidas e incertezas, as quais são analisadas de forma inteligente e
bem articuladas por José Bezerra Lima Irmão.
Virgulino Ferrreira da Silva integrou um nordeste marcado pela violência, pelo
desejo de vingança, tornando-se arquétipo de uma raça altiva e forte, vem sendo
estudado há décadas por autores nacionais e por brasilianistas, mas a forma
ímpar como foi inserido como personagem principal na pesquisa metódica e
compenetrada de José Bezerra Lima Irmão destaca sua importância incontestável
na história regional.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento
de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e
em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio da
Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do
Oeste Potiguar (ICOP).
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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