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sexta-feira, 23 de março de 2012

À Memória imorredoura de Chico Anysio

Por: José Cícero

Morreu Chico Anysio. De longe o mais completo artista que este país já produziu. Talento versátil e criativo incomparável, cujos tipos de sucesso por ele criados e protagonizados constituem(até hoje) um verdadeiro recorde.
Além do humorismo inteligente, foi ainda: ator, diretor, roteirista, pintor, locutor(radialista), cantor, comentarista esportivo, cantor, cronista e escritor. Um verdadeiro gênio do rádio e da TV brasileira. Um verdadeiro monumento da cultura e da arte brasileira de todos os tempos.
Não me esquecer do velho humorista com o seu plantel de estrela na famosa escolinha do professor Raimundo. Tampouco da lendária Chico City dos anos 70. Assim como da sua parceria com Arnaud Rodrigues em Baiano e Novos Caetano com o sucesso musical 'Folia de Reis'. Assim como do seu livro o 'enterro do anão', bem como dos seus comemtários de todos os domingos na TV quando o Fantástico ainda era fantástico. Sua imagem me será para sempre, posto que quase tudo nela era de fato marcante e inesquecível... O comediante que marcou profundamente a minha infância e adolescência.
A morte de Chico - este cearense de Maranguape - é mais uma prova de que o que realmente fica para sempre dos homens, quando da passagem pela vida terrena são de fato, as boas obras. As ações humanistas. Os verdadeiros gestos de bondade como grandeza impagáveis, diante do próximo. Além do grau do desprendimento, modéstia e simplicidade perante os pequenos.
Por esse motivo, diria que Chico Anysio ficará eternizado na memória afetiva de todos os brasileiros. Muito especialmente, junto daqueles que ele ajudou no mundo artístico. Chico é o mais autêntico ícone do humor inteligente. Artífice por mais de seis décadas de uma obra deveras incomensurável.
A inteligência contida na inventavidade de mais de duzentos dos seus personagem é algo realmente superlativo. Um recorde inigualável. Além do exemplo prático com que ajudou e estendeu a sua mão amiga e solidária a todos quantos lhe procuraram. Diferentemente de muitos outros, como o próprio Renato Aragão( o Didi).
Figuras humanas como Chico Anysio não morrem nunca. Como disse o poeta, apenas se encantam. Posto que permanecerá eternamente, tanto na lembrança quanto no coração agradecido do povo. Foi ele o eterno palhaço da boa-nova. Uma unanimidade nacional. Razão pela qual diremos sem medo de errar; que Chico é simplesmente insubstituível.
"O brasileiro é o único povo que consegue ri da sua própria miséria", dizia ele num ar de graça. E mais: "Quem não for meu amigo é porque não presta...".
O mais triste não é somente vê-lo partir agora, de modo inesperado dos palcos da vida, mas a forma discutível como a TV Globo ao longo da última década o colocou literalmente na geladeira. Preterindo-o em favor daquilo que "eles" chamam de modernidade. Mas que no fundo, não passa de um humor negro, pobre, fraco e previsível. Um formato pífio e sem nenhuma graça; como por exemplo o que vem sendo apresentado no enlatado e descartável programa "Zorra Total". Uma clássica e notória inversão de valores. Algo simplesmente inexplicável. Um modelo que só emburrece e apressa ainda mais o caminha para a mesmice.
E agora que o nosso Chico morreu a Globo ensaia uma pantomina chorosa, pondo no ar, reportagens e entrevista com seus artistas novelengos, todos tecendo rasgados elogios ao velho humorista. Então, a pergunta que não quer calar: Por que há anos praticamente encostaram o Chico Anysio? Mesmo mantendo o seu contrato de artista global?
Sem Chico Anysio o Brasil ficou um pouco mais triste. Mas a Globo, por seu turno, nunca mais se igualará sequer ao que foi a inesquecível e não menos famosa "Chico City".
Em tempo: Se Deus o chamou agora, certamente será porque está faltando mais alegria no céu.
Adeus mestre Chico Anysio! Seu talento artístico e sua grandeza de espírito serão para sempre grandes marcas da sua presença imorredoura entre nós...

Biografia do humorista Chico Anysio

 
Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, conhecido como Chico Anysio (Maranguape, 12 de abril de 1931Rio de Janeiro, 23 de março de 2012[1][2][3][4]), foi um humorista, ator, dublador, escritor, compositor e pintor brasileiro, notório por seus inúmeros quadros e programas humorísticos na Rede Globo, com a qual tinha contrato até 2012.[5]
Ao dirigir e trabalhar ao lado de grandes nomes do humor brasileiro no rádio e na televisão, como Paulo Gracindo, Grande Otelo, Costinha, Walter D'Ávila, Jô Soares, Renato Corte Real, Agildo Ribeiro, Ivon Curi, José Vasconcellos e muitos outros, tornou-se um dos mais famosos, criativos e respeitados humoristas da história do país.
Morreu no dia 23 de março de 2012, às 14h48, no Hospital Samaritano no Rio de Janeiro por conta de uma falência múlltipla de órgãos.[4]
Biografia
Chico Anysio mudou-se com sua família para o Rio de Janeiro quando tinha seis anos de idade.[6] Decidiu tentar fazer um teste para locutor de rádio quando a sua irmã também faria. Saiu-se excepcionalmente bem no teste, ficando em segundo lugar, somente atrás de outro jovem iniciante, por coincidência, o próprio Silvio Santos.[7] Na rádio na qual trabalhava, a Rádio Guanabara, exercia várias funções: radioator, comentarista de futebol, etc. Participou do programa Papel carbono de Renato Murce. Na década de 1950, trabalhou nas rádios Mayrink Veiga, Clube de Pernambuco e Clube do Brasil. Nas chanchadas da década de 1950, Chico passou a escrever diálogos e, eventualmente, atuava como ator em filmes da Atlântida Cinematográfica. [8]
Na TV Rio estreou em 1957 o Noite de Gala. Em 1959, estreou o programa Só Tem Tantã, lançado por Joaquim Silvério de Castro Barbosa, mais tarde chamado de Chico Total. Além de escrever e interpretar seus próprios textos no rádio, televisão e cinema, sempre com humor fino e inteligente, Chico se aventurou com relativo destaque pelo jornalismo esportivo, teatro, literatura e pintura, além de ter composto e gravado algumas canções. [8]
Chico Anysio foi um dos responsáveis pela intermediação referente ao exílio de Caetano Veloso em Londres. Quando completou dois anos de exílio, Chico enviou uma carta para Veloso, para que este retornasse ao Brasil. Caetano e Gilberto Gil haviam sido presos em São Paulo, duas semanas depois da decretação do AI-5, o ato que dava poderes absolutos ao regime militar. Trazidos ao Rio de carro, os dois passaram por três quartéis, até viajarem para Salvador, onde passaram seis meses sob regime de prisão domiciliar. Em seguida, em meados de 1969, receberam autorização para sair do Brasil, com destino a Londres, onde só retornariam no início de 1972.[9]
Desde 1968, encontra-se ligado à Rede Globo, onde conseguiu o status de estrela num "cast" que contava com os artistas mais famosos do Brasil; e graças também a relação de mútua admiração e respeito que estabeleceu com o executivo Boni. Após a saída de Boni da Globo nos anos 1990, Chico perdeu paulatinamente espaço na programação, situação agravada em 1996 por um acidente em que fraturou a mandíbula.
Em 2005, fez uma participação no Sítio do Pica-pau Amarelo, onde interpretava o "Dr. Saraiva" e, recentemente, participou da novela Sinhá Moça, na Rede Globo. [10]
Família
É pai do ator Lug de Paula, do casamento com a atriz e comediante Nancy Wanderley; [11] do também comediante Nizo Neto [12] e do diretor de imagem Rico Rondelli, da união com a atriz e vedete Rose Rondelli; [13] de André Lucas, que é filho adotivo; do DJ Cícero Chaves, da relação com a ex-frenética Regina Chaves; e do ator/escritor Bruno Mazzeo, do casamento com a ex modelo e atriz Alcione Mazzeo. [14]
Também teve mais dois filhos com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, Rodrigo e Vitória. É irmão da falecida atriz Lupe Gigliotti, com quem contracenou em vários trabalhos na televisão; do cineasta Zelito Viana; e do industrial, compositor e ex-produtor de rádio Elano de Paula. Também é tio do ator Marcos Palmeira, da atriz e diretora Cininha de Paula e é tio-avô da atriz Maria Maya, filha de Cininha com o ator e diretor Wolf Maya. Era casado com a empresária Malga Di Paula.[8]
Saúde
O humorista foi internado no dia 2 de dezembro de 2010, quando deu entrada no hospital devido a falta de ar. Na avaliação inicial, detectectou-se obstrução da artéria coronariana, assim, foi submetido à angioplastia. Chico Anysio ficou 109 dias internado, recebendo alta apenas no dia 21 de março de 2011. Neste período, o humorista, na maior parte do tempo, na UTI. [15]
Em 23 de abril de 2011, Chico Anysio retornou ao programa "Zorra Total" interpretando a personagem Salomé. No quadro, Salomé conversa de mulher para mulher com a presidente Dilma Rousseff. [16]
No dia 30 de novembro de 2011, foi internado novamente, devido a uma infecção urinária. Recebeu alta 22 dias depois, em 21 de dezembro de 2011,[17] mas já no dia seguinte voltou a ser internado, com hemorragia digestiva[18]. Em fevereiro de 2012 foi diagnosticado com uma infecção pulmonar. Apresentou uma piora nas funções respiratórias e renal em 21 de março de 2012.
Com a saúde cada vez mais debilitada, veio a morrer no dia 23 de março de 2012.[18]
Fonte:

HÁ, BASICAMENTE, TRÊS TIPOS DE TEXTOS ACERCA DO CANGAÇO

Por: Honório de Medeiros
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Obras como “Guerreiros do Sol”, de Frederico Pernambucano de Melo; “História do Cangaço”, de Maria Isaura Pereira de Queiróz; e “Os Cangaceiros”, de Luiz Bernardo Pericás, PENSAM o Cangaço.
 Livros como “A Marcha de Lampião”, de Raul Fernandes; “Lampião e o Rio Grande do Norte”, de Sérgio Augusto de Souza Dantas; e “Lampião – Segredos e Confidências do Tempo do Cangaço”, de Antônio Amaury Corrêa de Araújo, NARRAM o Cangaço.
 Escritos como “Os Cangaceiros”, de Carlos Dias Fernandes; “Cangaceiros”, de José Lins do Rêgo; “A Cidade de Quatro Torres” (cordel), de Luiz Campos; FANTASIAM o Cangaço.
E, claro, há textos que são “zonas” intermediárias: narrações que enveredam pela análise; fantasias que narram; pensações (neologismo) que narram: nada que impeça a possibilidade de demarcar o espaço específico de cada tipo.

Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço: Honório de Medeiros

A família Piancó está de luto



Cristina Alves de Lima, neta de Joaquim Piancó, faleceu no dia 18 de março de 2012,
Os familiares convidam parentes e amigos para assistirem a missa que será celebrada em sufrágio de sua alma, neste domingo, dia 25 de março, às 11:00 horas na igreja de Nossa Senhora da Piedade, Jaboatão - PE, à Av. Bernardo Vieira Melo (defronte a McDonald), onde a família irá se reunir para compartilhar com os que ali comparecerem, momentos de orações.

Agora sim - Chico Anysio morre aos 80 anos

Originalmente publicado no Diário do Nordeste Online | 15h03m | 23.03.2012
Morreu no início da tarde desta sexta-feira (23), aos 80 anos, o humorista e ator Chico Anysio. O cearense estava internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. 
Internado há três meses com problemas cardiorrespiratórios, Chico respirava nos últimos dias somente com a ajuda de aparelhos. O humorista passou por uma sessão de hemodiálise na última quarta-feira (21) e estava sendo medicado para controlar sua pressão arterial.
A última internação de Chico aconteceu no dia 22 de dezembro, por conta de um sangramento. Apesar do problema ter sido controlado, o ator apresentou uma infecção pulmonar, e após ser submetido a uma laparotomia exploradora, teve um segmento de seu intestino delgado retirado. Desde então, o artista passou por diversas complicações.
O início de uma luta quase incessante do humorista ocorreu em maio de 2009, aos 78 anos, quando foi diagnosticado com uma séria doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), chamada enfisema pulmonar, adquirido após décadas de fumo compulsivo.  
Francisco Anysio Paula Filho faria 81 anos no dia 12 de abril.
65 anos de carreira.
Chico Anysio interpretou cerca de 200 personagens na televisão, e estima-se que seja o comediante a ter interpretado mais papéis no País. Dentre os mais conhecidos estão o Professor Raimundo, o galã Alberto Roberto, a fofoqueira Salomé, o vampiro Bento Carneiro e muitos outros.
Chico começou sua vida como humorista profissional no rádio, paralelamente à sua atividade de radialista. Sua maneira peculiar de imitar vozes foi descoberto na Rádio Guanabara, em 1949. Depois de passar por diversas emissoras, se estabeleceu na Rede Globo em 1969.
O cearense passou 38 anos fazendo sucesso entre crianças e adultos com o quadro "Escolinha do Professor Raimundo" no ar, e nesse período o Professor lançou alunos memoráveis, como Zilda Cardoso, Mussum, Tom Cavalcante, Mauro Gonçalves (o Zacarias), Heloísa Perrisé, Ingrid Guimarães, Claudinha Rodrigues e Pedro Bismark.
Fonte:

Mulheres eram vitimas do cangaço

Por: Guilherme Machado
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 Na guerra das volantes e cangaceiros, não escapava niguém. Velhos, jovens, crianças, mulheres, todos eram vítimas do bruto sistema, das volantes e dos cangaceiros.
 
Mulheres que foram estupradas por cangaceiros ou volantes
Sub grupo de cangaceiros liderado por Lampião
Força volante formada por civis e militares.
Eles faziam do assassinato um ritual macabro. O longo punhal, de até 80 centímetros de comprimento, era enfiado com um golpe certeiro na base da clavícula – a popular “saboneteira” – da vítima. A lâmina pontiaguda cortava a carne, seccionava artérias, perfurava o pulmão, trespassava o coração e, ao ser retirada,  produzia um esguicho espetaculoso de sangue. Era um policial ou um delator a menos na caatinga – e um morto a mais na contabilidade do cangaço. Quando não matavam, faziam questão de ferir, de mutilar, de deixar cicatrizes visíveis, para que as marcas da violência servissem de exemplo. Desenhavam a faca feridas profundas em forma de cruz na testa de homens,  desfiguravam o rosto de mulheres com ferro quente de marcar o gado. Os Cangaceiros  Entravam em vilas e fazendas de desafetos  estrupandos    moças  e senhoras  casadas,   vendo-se  as vítimas que aparecem acima.  As  três  mulheres Certamente  são sergipanas,  de uma só família e foram seviciadas por cangaceiros do bando de Lampião.  Do Outro Lado Vinha,  a Força Volante Formadas Por Militares  Bárbaros   e  Civis Sem Nenhum Escrúpulos. Estes Também,   Barbarizavam: Queimavam, Espancavam,  Estrupavam,  Prendiam ,  Tudo em Nome da Lei e Ordem Inexistente.
      
 Extraído do blog: Portal do Cangaço de Serrinha, Bahia, do pesquisador Guilherme Machado.

Boatos dizem que Chico Anysio morreu; informação não procede

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Boatos no início da tarde desta sexta (23) assustaram fãs de Chico Anysio.
Através do Twitter, amigos e artistas chegaram a noticiar a morte do humorista, lamentando o fato. “Acabei de receber uma péssima noticia… to chorando muito se isso for verdade. a morte do meu maior idolo!!!!”, escreveu o comediante Paulinho Serra, do “Comédia MTV”.
Em poucos minutos, o nome de Chico Anysio foi parar nos Trending Topics, como um dos assuntos mais comentados no microblog.
O portal NaTelinha entrou em contato com a assessoria de imprensa do Hospital Samaritano, onde Chico está internado, que desmentiu a informação e disse ser um boato falso. Um novo boletim médico deve ser divulgado por volta de 13h.
Ontem, Chico Anysio passou por uma drenagem torácica para retirada de um “grande hematoma pleural”, ou acúmulo de líquido, segundo a assessoria de imprensa do Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro.
O comediante segue internado em estado crítico, sedado e respirando com a ajuda de aparelhos.
Luta
Chico Anysio foi internado no dia 30 de novembro de 2011 após sentir ardência ao urinar e apresentar febre alta. Os doutores constataram uma infecção urinária, ocasionada por fungos.
Após ser tratado com antibióticos via venosa, Chico Anysio recebeu alta no dia 21 de dezembro e havia comemorado no Twitter: “Olá, amigos! Voltei pra casa hoje depois de mais uma temporada no hospital. Estou feliz porque vou passar o Natal em casa e ansioso para voltar a trabalhar”.
Porém, no dia seguinte, ele voltou a ser internado, desta vez com hemorragia digestiva e pneumonia.
Já entre o final de 2010 e o início de 2011, Chico Anysio passou quatro meses internado. No dia 2 de dezembro de 2010, ele deu entrada no hospital com quadro de falta de ar.
Após ser avaliado, foi diagnosticada a obstrução da artéria coronariana, levando o paciente a ser submetido a uma angioplastia. Durante o período em que estava internado, Anysio ainda foi diagnosticado com pneumonia, que foi curada no final de janeiro.
Em abril do ano passado, pouco tempo depois de receber alta, ele voltou à TV com um quadro no “Zorra Total”.

27 de setembro de 1928, no “A Tarde”

Por: Rubens Antonio
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Coronel João Borges de Sá
A RAPOSA DAS CAATINGAS
Lampeão engana os seus perseguidores, fornecendo–lhes falsa pista
AS ASTUCIAS DO BANDOLEIRO
Isso mesmo. è a tactica delle para enganar. O coronel João Borges é um sertanejo de punhos solidos. O seu aspecto physico, a firmeza com que fala, embora a voz tenha fricções suaves, não enganam ao bom observador. se o bandoleiro lhe cae na unha pode estar certo do fim do seu romance de aventuras... Elle é uma testemunha preciosa das actividades do jagunço em territorio bahiano, senão de vista de visinhança, recolhendo depoimento de muitas pessoas que viram d eperto, embora temerosos da sua fama sanguinolenta. E é disso justamente que vamos tratar. O coronel João Borges de Sá, de Uauá, amigo da ordem e das autoridades, trouxe–lhes na sua viagem até a capital informações novas sobre Lampeão.
Entre tantas noiicias infundadas ou mesmo maldosas que correm mundo, apoiando–se num fundo de verdade remoto ou precario, esse depoimento tem o valor de pôr as coisas nos seus devidos logares. Já agora é o reporter quem se incumbe de fazer o homem falar:
– Esteve ou não esteve o homem em Barro vermelho?
– Esteve, sim senhor. Mas não o Barro Vermelho de Juazeiro, mas o de curaçá, distante da estação terminal da Estrada de Ferro, cerca de 20 leguas.
– E, dahi
para onde foi?
– Tocou para o Pica Pau, de automovel, pela estrada de rodagem. Ahi pernoitou. Caminhou a pé, no outro dia, para o “Esfomeado”, onde tomou as montadas para si e para os seus.
– Quantos ao todo?
– seis com elle. Foram para a Fazenda Abobora, dahi a 14 legoas, botando distancia entre o seu grupo e as forças da policia distribuidas em Chorrochó, Patamuté e Varzea da Ema. sei que no dia 14 elle ganhou a caatinga e desappareceu. Nos dias 15 e 16 não se soube noticias, mas no dia 17 reappareceu na fazenda Mary, do dr. Raymundo Gonçalves, nos confins de Joazeiro, depois de ter desandado 8 leguas.
– P’ra diante e para traz...
– Isso mesmo. é a tactica delle para enganar a força...
– Ma sporque não os prendem, se são tão poucos?
– Isso não é assim tão facil, moço! Ha muitos annos que elle anda abaixo e acima pelo interior de quatro ou cinco estados e nunca lhe rpenderam. Parece extraordinario, mas só quem conhece o sertão, a caatinga, é que pode calcular como isso é facil para um homem como Lampeão, quando não se quer brigar... Aquillo é uma rapoza velha. segue por um caminho com a sua gente e vae perguntando onde fica tal ponto assim, assim; recebe as informações e vae andando; depois que já espalhou bem qual é o seu destino, cheg num logar de pedra, onde os cavallos não deixam rastro e embrenha–se pela caatinga. Quem é que pode prender um homem deste? Toma café montado, para ganhar tempo; dorme vestido, com o animal arreiado junto e assim pode vencer grandes distancias, exigindo do que o perseguem grandes fadigas e poucos exitos.
– Que veiu elle fazer na Bahia?
– Descançar.
– ?
– Sim, senhor. trouxe poucos homens da sua maior confiança. Elle já disse “Venho corrido dos “macacos” de Pernambuco. agora a policia bahiana não me deixa viver, vou embora tambem”.
verdade é que as forças da Bahia, sob o commando do capitão Hercilio, têm feito muito. Obrigam Lampeão a não parar, a andar nesse corro corre, para não ser preso...
– E os pernambucanos teem feito horrores por ahi...
– Alguns soldados de Pernambuco andaram dando surras e commetendo desordens. mas não são todos.
O commandante da força é o tenente Arlindo Rocha, pessoa muito direita e não tem culpa no que houve.
É que os soldados pernambucanos estão espalhados em pequenos grupos commandados por inferiores; alguns delles é que tem feito esses desmandos.
E depois de uma pausa:
– Não creio que se pegue o homem... Mas se elle para, a policia bahiana que o acompanha como uma sobra, agarra elle bem agarrado.

Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço:
Rubens Antonio, do blog Cangaço na Bahia

PAIXÃO CANGACEIRA...

Por: Guilherme Machado
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 PESQUISADORES DO NORDESTE: BAHIA, PERNAMBUCO, SERGIPE, ALAGOAS, E OUTROS ESTADOS NORDESTINOS, ATENTOS A TUDO QUE SE FAZ REFERÊNCIAS AO CANGAÇO. DO CABELEIRA A VIRGULINO. DE BIILY THE KID A JESSE JAMES DE HOBBIN HOOD A SANCHO PANÇA DE SABATA A SANDINO DE AFONSO CAPONE A CHE GUEVARA... BANDIDOS OU HERÓIS???
JANDILSON BIN LADEN FERRAZ   PIO LOCUTOR     CEL.OSVALDO PIMENTEL     GUILHERME MACHADO    JOÃO DE SOUZA LIMA.  NAÇÃO CANGACEIRA...  DO CABELEIRA A VIGULINO, DE BILLY THE KID A JESSE JAMES DE HOBIN HOOD A SANCHO PANÇA DE SABATA A SANDINO DE CHE GUEVARA A  AFONSO CAPONE, ESTES PERSONAGENS FORAM HERÓIS OU BANDIDOS?...  ANTIGA ESTAÇÃO DA LESTE BRASILEIRA EM SERRINHA BAHIA 28 DE NOVEMBO DE 2007.

Extraído do blog:
Portal do Cangaço de Serrinha - Bahia, do pesquisador do cangaço Guilherme Machado.

Lampião: O dragão da maldade

Por: Lira Neto
Um guerreiro visionário, destemido e inteligente. Ninguém nega as virtudes de Lampião. Agora pesquisadores questionam o verdadeiro papel histórico de Virgulino Ferreira
Eles faziam do assassinato um ritual macabro. O longo punhal, de até 80 centímetros de comprimento, era enfiado com um golpe certeiro na base da clavícula – a popular “saboneteira” – da vítima. A lâmina pontiaguda cortava a carne, seccionava artérias, perfurava o pulmão, trespassava o coração e, ao ser retirada, produzia um esguicho espetaculoso de sangue. Era um policial ou um delator a menos na caatinga – e um morto a mais na contabilidade do cangaço. Quando não matavam, faziam questão de ferir, de mutilar, de deixar cicatrizes visíveis, para que as marcas da violência servissem de exemplo. Desenhavam a faca feridas profundas em forma de cruz na testa de homens, desfiguravam o rosto de mulheres com ferro quente de marcar o gado.
Exatos 70 anos após a morte do principal líder do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, a aura de heroísmo que durante algum tempo tentou-se atribuir aos cangaceiros cede terreno para uma interpretação menos idealizada do fenômeno. Uma série de livros, teses e dissertações acadêmicas lançados nos últimos anos defende que não faz sentido cultuar o mito de um Lampião idealista, um revolucionário primitivo, insurgente contra a opressão do latifúndio e a injustiça do sertão nordestino. Virgulino não seria um justiceiro romântico, um Robin Hood da caatinga, mas um criminoso cruel e sanguinário, aliado de coronéis e grandes proprietários de terra. Historiadores, antropólogos e cientistas sociais contemporâneos chegam à conclusão nada confortável para a memória do cangaço: no Brasil rural da primeira metade do século 20, a ação de bandos como o de Lampião desempenhou um papel equivalente ao dos traficantes de drogas que hoje seqüestram, matam e corrompem nas grandes metrópoles do país.
Cangaceiros e traficantes
Foram os cangaceiros que introduziram o seqüestro em larga escala no Brasil. Faziam reféns em troca de dinheiro para financiar novos crimes. Caso não recebessem o resgate, torturavam e matavam as vítimas, a tiro ou punhaladas. A extorsão era outra fonte de renda. Mandavam cartas, nas quais exigiam quantias astronômicas para não invadir cidades, atear fogo em casas e derramar sangue inocente. Ofereciam salvo-condutos, com os quais garantiam proteção a quem lhes desse abrigo e cobertura, os chamados coiteiros. Sempre foram implacáveis com quem atravessava seu caminho: estupravam, castravam, aterrorizavam. Corrompiam oficiais militares e autoridades civis, de quem recebiam armas e munição. Um arsenal bélico sempre mais moderno e com maior poder de fogo que aquele utilizado pelas tropas que os combatiam.
“A violência é mais perversa e explícita onde está o maior contingente de população pobre e excluída. Antes o banditismo se dava no campo; hoje o crime organizado é mais evidente na periferia dos centros urbanos”, afirma a antropóloga Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e autora do livro A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão. A professora aponta semelhanças entre os métodos dos cangaceiros e dos traficantes: “A maioria dos moradores das favelas de hoje não é composta por marginais. No sertão, os cangaceiros também eram minoria. Mas, nos dois casos, a população honesta e trabalhadora se vê submetida ao regime de terror imposto pelos bandidos, que ditam as regras e vivem à custa do medo coletivo”.
Além do medo, os cangaceiros exerciam fascínio entre os sertanejos. Entrar para o cangaço representava, para um jovem da caatinga, ascensão social. Significava o ingresso em uma comunidade de homens que se gabavam de sua audácia e coragem, indivíduos que trocavam a modorra da vida camponesa por um cotidiano repleto de aventuras e perigos. Era uma via de acesso ao dinheiro rápido e sujo de sangue, conquistado a ferro e a fogo. “São evidentes as correlações de procedimentos entre cangaceiros de ontem e traficantes de hoje. A rigor, são velhos professores e modernos discípulos”, afirma o pesquisador do tema Melquíades Pinto Paiva, autor de Ecologia do Cangaço e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Homem e lenda
Virgulino Ferreira da Silva reinou na caatinga entre 1920 e 1938. A origem do cangaço, porém, perde-se no tempo. Muito antes dele, desde o século 18, já existiam bandos armados agindo no sertão, particularmente na área onde vingou o ciclo do gado no Nordeste, território onde campeava a violência, a lei dos coronéis, a miséria e a seca. A palavra cangaço, segundo a maioria dos autores, derivou de “canga”, peça de madeira colocada sobre o pescoço dos bois de carga. Assim como o gado, os bandoleiros carregavam os pertences nos ombros.
Um dos precursores do cangaço foi o lendário José Gomes, o endiabrado Cabeleira, que aterrorizou as terras pernambucanas por volta de 1775. Outro que marcou época foi o potiguar Jesuíno Alves de Melo Calado, o Jesuíno Brilhante (1844-1879), famoso por distribuir entre os pobres os alimentos que saqueava dos comboios do governo. Mas o primeiro a merecer o título de Rei do Cangaço, pela ousadia de suas ações, foi o pernambucano Antônio Silvino (1875-1944), o Rifle de Ouro. Entre suas façanhas, arrancou os trilhos, perseguiu engenheiros e seqüestrou funcionários da Great Western, empresa inglesa que construía ferrovias no interior da Paraíba.
Lampião sempre afirmou que entrou na vida de bandido para vingar o assassinato do pai. José Ferreira, condutor de animais de carga e pequeno fazendeiro em Serra Talhada (PE), foi morto em 1920 pelo sargento de polícia José Lucena, após uma série de hostilidades entre a família Ferreira e o vizinho José Saturnino. No sertão daquele tempo, a vingança e a honra ofendida caminhavam lado a lado. Fazer justiça com as próprias mãos era considerado legítimo e a ausência de vingança era entendida como sintoma de frouxidão moral. “Na minha terra,/ o cangaceiro é leal e valente:/ jura que vai matar e mata”, diz o poema “Terra Bárbara”, do cearense Jáder de Carvalho (1901-1985).
No mesmo ano de 1920, Virgulino Ferreira entrou para o grupo de outro cangaceiro célebre, Sebastião Pereira e Silva, o Sinhô Pereira – segundo alguns autores, quem o apelidou de Lampião. Como tudo na biografia do pernambucano, é controverso o motivo do codinome. Há quem diga que o batismo se deveu ao fato de ele manejar o rifle com tanta rapidez e destreza que os tiros sucessivos iluminavam a noite. O olho direito, cego por decorrência de um glaucoma, agravado por um acidente com um espinho da caatinga, não lhe prejudicou a pontaria. Outros acreditam na versão atribuída a Sinhô Pereira, segundo a qual Virgulino teria usado o clarão de um disparo para encontrar um cigarro que um colega havia deixado cair no chão.
O cangaço não tinha um líder de destaque desde 1914, quando Antônio Silvino foi preso após um combate com a polícia. Só a partir de 1922, após assumir o bando de Sinhô Pereira, Virgulino se tornaria o líder máximo dos cangaceiros. Exímio estrategista, Lampião distinguiu-se pela valentia nas pelejas com a polícia, como em 1927, em Riacho de Sangue, durante um embate com os homens liderados pelo major cearense Moisés Figueiredo. Os 50 homens de Lampião foram cercados por 400 policiais. O tiroteio corria solto e a vitória da polícia era iminente. Lampião ordenou o cessar-fogo e o silêncio sepulcral de seu bando. A polícia caiu na armadilha. Avançou e, ao chegar perto, foi recebida com fogo cerrado. Surpreendidos, os soldados bateram em retirada.
A capacidade de despistar os perseguidores lhe valeu a fama de possuir poderes sobrenaturais e, após escapar de inúmeras emboscadas, de ter o corpo fechado. No mesmo mês da tocaia de Riacho de Sangue, Lampião e seu bando caíram em nova emboscada. Um traidor ofereceu-lhes um jantar envenenado, numa casa cercada por policiais. Quando os primeiros cangaceiros começaram a passar mal, Virgulino se deu conta da tramóia e tentou fugir, mas viu-se acuado por um incêndio proposital na mata. O que era para ser uma arapuca terminou por salvar a pele dos cangaceiros: desapareceram na fumaça, como por encanto.
Mas o maior trunfo de Lampião foi o de cultivar uma grande rede de coiteiros. Isso garantiu a longevidade de sua carreira e a extensão de seu domínio. A atuação de seu bando estendeu-se por Alagoas, Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Lampião chegou a comandar um exército nômade de mais de 100 homens, quase sempre distribuídos em subgrupos, o que dava mobilidade e dificultava a ação da polícia. Em 1926, em tom de desafio e zombaria, chegou a enviar uma carta ao governador de Pernambuco, Júlio de Melo, propondo a divisão do estado em duas partes. Júlio de Melo que se contentasse com uma. Lampião, autoproclamado “Governador do Sertão”, mandaria na outra.
Há divergências – e discussões apaixonadas – em torno da figura histórica de Virgulino. Ele comandava sessões de estupro coletivo ou, ao contrário, punia indivíduos do bando que violentavam mulheres? Castrava inimigos, como faziam outros tantos envolvidos no cangaço? Há controvérsias. “Lampião não era um demônio nem um herói. Era um cangaceiro. Muitas das crueldades imputadas a ele foram praticadas por indivíduos de outros bandos. Entrevistei vários ex-cangaceiros e nenhum me confirmou histórias a respeito de estupros e castrações executadas pessoalmente por Lampião”, diz o pesquisador Amaury Corrêa de Araújo, autor de sete livros sobre o cangaço.
As narrativas de velhos cangaceiros contrapõem-se à versão publicada pelos jornais da época, que geralmente tinham a polícia como principal fonte. Com tantas histórias e estórias a cercar a figura de Lampião, torna-se difícil separar o homem da lenda. “Acho que está justamente aí, nessa multiplicidade de olhares e versões, a grande força do personagem que ele foi. É isso que nos ajuda inclusive a entender sua dimensão como mito”, explica a historiadora francesa Élise Grunspan-Jasmin, autora de Lampião: Senhor do Sertão (Edusp).
“Lampião VP”
Um livro recentemente lançado na França promete aumentar a temperatura dessa discussão. Assinado pelo escritor Jack de Witte, Lampião VP, ainda sem editora no Brasil, compara a trajetória do Rei do Cangaço com a do traficante carioca Marcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP, protagonista do livro-reportagem Abusado, best-seller do jornalista Caco Barcelos. “O que produz a violência das favelas? A miséria, a injustiça social, a polícia e os políticos corruptos. As mesmas causas produzem os mesmos efeitos”, diz De Witte. O historiador e professor titular da Unicamp Jayme Pinsky adverte: “É um tanto simplista comparar cangaceiros e traficantes. Corre-se o risco de cometer o pecado historiográfico do anacronismo”. Leia-se: analisar um momento histórico com base em conceitos e idéias de outro.
Já foi moeda corrente entre os especialistas interpretar o “Rei do Cangaço” como um “bandido social”, expressão criada pelo historiador inglês Eric Hobsbawm para definir os fora-da-lei que surgiam nas sociedades agrárias em transição para o capitalismo. Em Bandidos (Forense Universitário), de 1975, Hobsbawn cita Lampião, Robin Hood e Jesse James como exemplos de nobres salteadores, vingadores ousados, defensores dos oprimidos.
A imagem revolucionária começou a se desenhar em 1935, quando a Aliança Nacional Libertadora citou Virgulino como um de seus inspiradores políticos. A tese foi reforçada em 1963 com o lançamento de um clássico sobre o tema, Cangaceiros e Fanáticos, no qual o autor, Rui Facó, justifica a violência física do cangaço como uma resposta à violência social. Na mesma época, o deputado federal Francisco Julião, representante das Ligas Camponesas e militante político pela reforma agrária, declarava que Lampião era “o primeiro homem do Nordeste a batalhar contra o latifúndio e a arbitrariedade”.
“Lampião não era um revolucionário. Sua vontade não era agir sobre o mundo para lhe impor mais justiça, mas usar o mundo em seu proveito”, afirma a também a historiadora Grunspan-Jasmin, fazendo coro a um dos maiores especialistas do cangaço da atualidade, Frederico Pernambucano de Mello. Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e autor de Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste Brasileiro, Mello diz que o cangaceiro e o coronel não eram rivais. Os coronéis ofereciam armas e proteção aos cangaceiros, que, em troca, forneciam serviço de milícia. Dois dos maiores coiteiros de Lampião foram homens poderosos: o coronel baiano Petronilo de Alcântara Reis e o capitão do Exército Eronildes de Carvalho, que viria a ser governador de Alagoas. “Aprecio de preferência as classes conservadoras: agricultores, fazendeiros, comerciantes”, disse Virgulino em uma entrevista de 1926.
Marqueteiro da caatinga
A idéia de que Lampião fosse um vingador também é contestada por Mello. Ele argumenta que, em quase 20 anos de cangaço, Lampião nunca teria se esforçado para se vingar de Lucena e Saturnino, o policial e o antigo vizinho responsáveis pelo assassinato de seu pai. De acordo com um dos homens de Virgulino, Miguel Feitosa, o Medalha, Saturnino chegara a mandar um uniforme e um corte de tecido com o objetivo de selar a paz entre eles. Um portador teria agradecido por Lampião. O mesmo Medalha dizia que o ex-soldado Pedro Barbosa da Cruz propôs matar Lucena por dinheiro. “Deixe disso, essas são questões velhas”, teria respondido Lampião. Segundo o autor de Guerreiros do Sol, os cangaceiros usavam o discurso de vinganças pessoais e gestos de caridade como “escudos éticos” para os atos de banditismo.
Apesar da vida árdua, quem entrava no cangaço dificilmente conseguia (ou queria) sair dele. Havia um notório orgulho de pertencer aos bandos, revelado também na indumentária dos cangaceiros. O excesso de adereços, os enfeites nos chapéus, os bordados coloridos foram típicos dos momentos finais do cangaço. Lampião era um homem bem preocupado com sua imagem pública, o que colaborou para que permanecesse na memória nacional. O Rei do Cangaço também era o rei do marketing pessoal. Assim como adorava aparecer em jornais e revistas, deixando-se inclusive fotografar e até filmar, fazia de seu traje de guerreiro uma ostensiva e vaidosa marca registrada. “Nisso, talvez apenas o cavaleiro medieval europeu ou o samurai oriental possa rivalizar com o nosso capitão do cangaço”, escreveu Pernambucano de Mello.
A antropóloga Luitgarde Barros enxerga aí um outro ponto em comum com a bandidagem atual: “Os traficantes também gostam de ostentar sua condição de bandidos e possuem um código visual característico, composto por capuzes e tatuagens de caveiras espalhadas pelo corpo”. A violência policial é outro aspecto que aproxima o universo de Lampião do mundo do tráfico. Como ocorre hoje nas favelas dominadas pelo crime organizado, a truculência dos bandoleiros sertanejos só encontrava equivalência na brutalidade das volantes – as forças policiais cujos soldados eram apelidados pelos cangaceiros de “macacos”. Nos tempos áureos do cangaço, não havia grandes diferenças entre a ação de bandidos e soldados. Não raro, eles se trajavam do mesmo modo – o que chegava a provocar confusões – e uns se bandeavam para o lado dos outros. Cangaceiros como Clementino José Furtado, o Quelé, abandonaram o grupo e foram cerrar fileiras em meio às volantes. O bandido Mormaço fez o movimento contrário. Havia sido corneteiro da polícia antes de aderir a Lampião.
Como é comum à história da maioria dos criminosos, uma morte trágica e violenta marcou o fim dos dias de Virgulino. Traído por um de seus coiteiros de confiança, Pedro de Cândida, que foi torturado pela polícia para denunciar o paradeiro do bando, Lampião acabou surpreendido em seu esconderijo na Grota do Angico, Sergipe, em 28 de julho de 1938. Depois de uma batalha de apenas 15 minutos contra as tropas do tenente José Bezerra, 11 cangaceiros tombaram no campo de batalha. Todos eles tiveram os corpos degolados pela polícia, inclusive Lampião e Maria Bonita. Durante mais de 30 anos, as cabeças dos dois permaneceram insepultas. Em 1969, elas ainda estavam no museu Nina Rodrigues, na Bahia, quando foram finalmente enterradas, a pedido de familiares do casal mais mitológico – e temido – do cangaço.

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