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sábado, 6 de abril de 2013

Carlos André


Carlos André deu grande contribuição à música nordestina, produzindo cinco trabalhos do rei do baião, Luiz Gonzaga e criando o inesquecível Trio Mossoró, que breve estará de volta, com grande lançamento.

"Se eu morasse aqui pertinho nêga, todo dia eu, vinha te ver..." 

Versos do grande sucesso na voz do cantor Carlos André. Oséas Lopes já produziu 5 importantes trabalhos, da carreira de Luiz Gonzaga, incluindo o Danado de Bom, que representou a volta por cima do rei do baião e o reconhecimento, do AUTÊNTICO FORRÓ NORDESTINO no mundo inteiro. Sendo também, um dos criadores, do inesquecível TRIO MOSSORÓ, que deverá voltar em breve. Aguardem CARLOS ANDRÉ, na RODA DE PÉ DE SERRA, com JORGE SILVA e convidados.

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Trio Mossoró - Rio Grande do Norte

Por: Túlio Ratto


Para que todos conheçam um pouquinho mais da história de Oséas, João e Hermelinda, reproduzo aqui uma entrevista dada à Revista Papangu em junho de 2009. Com vocês, o Trio Mossoró!

Início de uma tarde “quente que só”, de um sábado no Sêbado, do destemido Marcos Almeida, em Mossoró, tive o prazer de encontrar os três filhos, de uma prole de 16, do comerciante Messias Lopes de Macedo e da senhora Joana Almeida Lopes: Oséas Lopes, Hermelinda e João Batista.

A história desses jovens forrozeiros começou na década de 1950, quando Oséas Lopes deixou para trás um bom salário na rádio Tapuyo de Mossoró, onde trabalhava, e partiu em busca do seu sonho no Rio de Janeiro. Um sonho que, para ser realizado, contou com muita perseverança, além da ajuda financeira do pai.

Depois de ralar muito na Cidade Maravilhosa, com os seus projetos muito bem encaminhados, Oséas convidou os irmãos João Batista e Hermelinda para ingressarem na carreira artística efetivando assim o trio forrozeiro que, além de muito talentoso, levaria o nome da cidade de Mossoró aos quatro cantos do País.

Em 1962, lançaram o primeiro disco intitulado “Rua do Namoro”. Pronto. Abriam-se as cortinas para conquistas importantíssimas no cenário musical brasileiro, como o troféu Elterpe, em 1965, pela música “Carcará”, do segundo disco do Trio, “Quem foi vaqueiro”. Esse prêmio era o de maior importância da Música Popular Brasileira à época. Dois anos depois, “Carcará”, de autoria de João do Valle, seria regravado por Maria Bethânia.

João Mossoró e Hermelinda concordam, além do próprio Oséas, que o grande culpado pela separação do Trio, em 1972, foi Carlos André.

E quem é Carlos André? Oséas Lopes assumiu o nome artístico de “Carlos André” no mesmo ano da separação e atingiu o ápice do sucesso nacional em 1974 vendendo um milhão de discos com o sucesso “Se meu amor não chegar”.

Atualmente, Hermelinda vive entre Natal e João Pessoa, e diz que lá faz o que o peixe faz: nada; João Mossoró é representante comercial e continua residindo no Rio de Janeiro.

Depois de trinta e cinco anos, para a alegria dos mossoroenses, eles realizaram um show em nossa cidade e fizeram o anúncio do retorno do Trio até o final do ano com um novo trabalho e que incluirá grandes nomes da MPB.

E para a alegria dos frequentadores do Sêbado, quando de nosso bate-papo, a tarde esquentou ainda mais com o Trio Mossoró fazendo um inesquecível show, relembrando seus grandes sucessos. Saí de lá me sentindo um felizardo pela oportunidade de ver aquele trio de rouxinóis do nosso legítimo forró cantar.

Revista Papangu — Como despertou o lado musical de vocês?

Carlos André — Pode dizer o que quiser aí?

Revista Papangu — Claro!

Carlos André — Canindé Alves, que era locutor da rádio Tapuyo, me ouvindo cantar, me convidou para uma participação na rádio e a partir desse dia não teve mais como parar.

Hermelinda — Era uma família de músicos. A nossa mãe não cantava fora de casa, mas adorava cantar.

Carlos André — O nosso irmão “Cocota” cantava muito também. 

Cocota

Daí criou-se uma espécie de escolinha. Já fazia um relativo sucesso no rádio. Tudo incentivado por nossa mãe. Nessa época, ela “mandou” logo os meninos aprenderem algum instrumento. Naquele momento existiam duas rádios, a Difusora que era controlada e comandada por Dr. Francisco Duarte, e a Tapuyo, de Vingt Rosado.  

Dr. Francisco Duarte

Genildo Miranda e Paulo Gutemberg que era o diretor e superintendente da rádio Difusora, respectivamente, pediram a Dr. Chico Duarte que era muito amigo, além de compadre do meu pai, para que assinássemos contrato com a Difusora. 

Vingt Rosado

Falei com Vingt e ele ligou pra João Newton — superintendente da Tapuyo, mandando dobrar o meu salário. À época, me ofereceram um dinheiro muito bom e acabei ficando na Tapuyo por mais algum tempo.

João Mossoró — O Oséas vivia com sua sanfona fazendo cantorias lá em casa. Aquilo acabou influenciando, contagiando a todos nós.

Revista Papangu — A família de músicos foi muito importante e muito ouvida por vocês. E, naquele momento, quem mais vocês ouviam?

João Mossoró — Luiz Gonzaga e Marinês.

Hermelinda — Acho que eles foram os criadores de tudo que ainda está aí.

Carlos André — Olha, até hoje, acredito que tudo é a força da mente, né, bicho? Quando eu morava aqui eu tinha dois grandes amigos, o Maurino, do Horto Florestal, e o Pedrinho. A gente ficava em cima dos muros criando projetos. O Maurino dizia que seria jogador de futebol. O Pedrinho sonhava em seguir carreira na Aeronáutica. E eu ficava com um “olho” de carnaúba fazendo uma espécie de sanfona. Se vocês pegarem um olho daqueles, verão que parece um fole. Eu dizia que queria cantar. Era o meu sonho. Maurino terminou sendo jogador do América de Natal; Pedrinho morreu sargento da Aeronáutica, em Recife.

Revista Papangu — Então, você, Oséas, dos três amigos, era o que queria ganhar dinheiro?

Carlos André — (Risos) É. Talvez…

Revista Papangu — Carlos André, você começou a cantar primeiro. Mas quando o Trio começou a tocar como ofício?

Carlos André — Como disse, eu já estava bem encaminhado no rádio. Nossa mãe em um aniversário resolveu me fazer uma homenagem. A partir daí, todos já pegaram um instrumento e começaram a tocar e cantar juntos.

Hermelinda — O João e o Oséas já estavam no ramo, tocando em Mossoró. Eu nem pensava em ingressar nessa carreira. Porém, foi nesse bendito aniversário do Oséas que tudo se encaminhou. João e nosso irmão Cocota, grande seresteiro aqui em Mossoró, em três dias me ensinaram a tocar triângulo. Minha mãe ainda comprou um LP de Marinês e eu fui aprendendo a cantar e tocar aquelas músicas todas

Marinês

Revista Papangu — Qual a razão de sair de Mossoró para outro Estado?

Carlos André — Primeiro eu fui para Fortaleza. Passei um ano lá; fiz sucesso trabalhando com “Xerôso”, aquele que trabalhou com o Chico Anysio. O do jumentinho, lembra? Fizemos muito sucesso cantando na Cidade da Criança. Depois fui pra Recife. Lá trabalhei com Orlando Souza, autor de várias novelas escritas para a rádio Jornal. Voltei a Mossoró e falei para Souza Luz, da rádio Tapuyo, que iria para o Rio de Janeiro. Souza perguntou se eu estava maluco. Ora, eu ganhava um ótimo salário aqui.  Mas, vamos colocar os jumentinhos lá na frente: e se eu não tivesse ido, como estaríamos hoje? Temos uma infinidade de talentos aqui, como dizem na gíria “rodando a bolsinha” e sem apoio de nada. Se eu não tivesse ido estaria na mesma. Em 1959, eu fui sozinho para o Rio e depois comecei a fazer vários programas por lá. Apresentei-me na Rádio Nacional, no programa do Trio Irakitan. Rádio Tupi e a coisa começou a andar. Aí chamei os outros para o Rio. Partimos para a realização de um sonho, sim, mas com um diferencial, como o nosso pai tinha uma boa condição financeira, ele mandava dinheiro todos os meses para a nossa despesa. A gente estava indo muito bem.

Hermelinda — Quando chegamos ao Rio, eu ia fazer 14 anos e o João tinha 12. Formamos o grupo “Oséas Lopes e seus cangaceiros”. No nosso primeiro disco, o diretor da Copacabana Disco, Nazareno Brito, disse que o nome do grupo era muito forte. Aí Oséas inventou o Trio Mossoró. O povo da gravadora, depois de alguns probleminhas, chegou dizendo que só tinha dinheiro para cobrir os gastos de uma zabumba, sanfona e triângulo. Foi aí que Seu Messias Lopes autorizou Oséas a colocar tudo que fosse necessário dentro do estúdio.

Revista Papangu — Foram 12 LPs, além de seis compactos. Atualmente como é lançar um disco novo no mercado? Antes tinha todos aqueles programas para fazer, percorrer rádios e tal…

Carlos André — Era muito, muito mais fácil. A mídia naquele tempo, a gente saía com um disco embaixo do braço e todo mundo queria tocar.

Hermelinda — Era fácil. Qualquer um que cantasse recebia uma grande divulgação. Hoje, tudo é pago. Até pra cantar na televisão você tem que pagar. 

João Mossoró — Quando você tinha uma música boa, o sucesso vinha sozinho. Também recebíamos cachê pra cantar nesses programas de TV. Atualmente a historinha é outra.

Hermelinda — Lembro que no nosso primeiro disco, “Rua do Namoro”, depois de seis meses, a gravadora nos chamou para gravar o segundo. Veio, então, o disco “Quem foi vaqueiro”, considerado pela crítica como o melhor disco de música regional. É bom que se diga que naquele tempo quem escolhia era a Academia de Letras, jornalistas, críticos musicais. No recebimento do prêmio, ao entrar no Teatro Municipal, o que víamos? Feras! Maria Bethânia, Elis Regina, Jair Rodrigues… A elite da Música Popular Brasileira.

Revista Papangu — No ano de 1972 vocês se separaram. Por quê?

Hermelinda — A culpa foi de Oséas.

João Mossoró — Ele inventou de quebrar uma mesa… (risos). Oséas Lopes era também diretor de gravadora, o sucesso foi grande e aí se danou tudo.

Carlos André — A culpa foi de Carlos André mesmo. Com aquela invenção de “quebrar a mesa”, em 1974. Só que foi um sucesso tão grande que não tive como retroceder.

Revista Papangu — Vocês acham que o “Trio Mossoró” influenciou quem fazia forró por aqui?

Hermelinda — Acho que sim. Um desses é Marcus Lucenna, que mora no Rio. Ele próprio sempre fala sobre isso. Mas Carlos André conhece mais. Eu só venho aqui uma vez por ano, nas festas juninas. Faço o meu show e vou embora.

João Mossoró — Eu é que não posso falar. Volto à minha cidade depois de trinta e cinco anos. Era louco pra vir a Mossoró. Meu outro ofício me impede. Sou representante comercial. O importante é que agora estou realizando esse desejo.

Revista Papangu — Abrindo um parêntese nessa pergunta, o que você faz em Natal, Hermelinda?

Hermelinda — Eu faço o que o peixe faz: nada.

Revista Papangu — Sendo assim, Carlos André, você como o mais presente do Trio na Terra de Santa Luzia, quem destacaria no nosso cenário musical?

Carlos André — Quem conhece Mossoró sabe que aqui é um celeiro de grandes artistas. Não dá nem pra elencar tantos talentos. Temos muitos. Mas é aquela coisa, sem incentivos o negócio não anda, bicho!

Revista Papangu — Enfim, a Prefeitura de Mossoró conseguiu reunir o Trio para um show.

Carlos André —Realmente, foi muito bonito. Mas o Trio Mossoró não foi contratado para um show. A contratação foi individual.

Hermelinda — Eu sempre venho. Todos os anos estou aqui.

João Mossoró — No final do número de um desses três shows que fizemos foi que achamos que seria interessante nos reunir e, mesmo sem ensaio, fizemos uns quatro ou cinco números. Tudo de improviso. Pois não contrataram o Trio, contrataram os artistas.

Revista Papangu —Como vocês analisam a questão da tecnologia? Vocês não têm um site oficial, por exemplo.

Carlos André — Isso aí, essa pirataria toda, em termos de divulgação é ótimo. Não atrapalha de forma alguma. Isso em nível de artista. Agora, as gravadoras passam por maus bocados.

João Mossoró — É. Mas já estamos vendo as pessoas, os fãs, pagarem uma taxa por músicas baixadas na internet. Isso é muito interessante, também, para as gravadoras.

Hermelinda — O que devemos acrescentar aí é que muita gente toma conhecimento de novos artistas exatamente através da internet.

Revista Papangu — Estão com algum projeto em andamento?

Hermelinda — Se Deus quiser, até o final do ano estarei fazendo um novo disco.

João Mossoró — Também lanço outro CD. Mesmo como representante de Equipamento de Proteção Individual -EPI, ainda estou na música, gente!

Carlos André — Também, queria dizer que até o final do ano estaremos lançando um projeto, através do apoio do amigo Crispiniano Neto e da Fundação José Augusto, que será muito interessante. Um disco com vários convidados, ícones da música nacional.

Revista Papangu —Vocês poderiam adiantar algum nome?

Carlos André — Ratto, o problema é a liberação desses artistas pelas gravadoras. São cinco: Nana Caymmi – que vai idealizar a coisa —; Maria Bethânia, Chico Buarque, Gilberto Gil e Fagner — que apesar de não ser da época do Trio Mossoró, gravou uma canção minha, por isso faço questão que ele cante “Orós” comigo.

João Mossoró — Espera-se que o lançamento seja em dezembro durante os festejos da nossa padroeira Santa Luzia.

Revista Papangu — Alguma dica aos leitores da Papangu que pretendem seguir a carreira musical?

Carlos André — Rapaz, aqui tem muita gente boa. E como já disse, a falta de apoio arrebenta qualquer sonho.

Hermelinda — No Sul a gente vê os poderes apoiarem muito os artistas locais. Com leis de incentivo, com patrocínios e produções musicais. Perseverança é o mais importante para quem está começando.

http://anacadengue.com.br/?p=613

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HISTORIADOR ACHA PEGADAS DE GATO EM REGISTRO DE 1445

Publicado em 06/04/2013 por Rostand Medeiros
Um antigo hábito dos felinos – Emir O. Filipovic/Reprodução

BORRÕES DO FELINO ESTÃO EM DOCUMENTO MEDIEVAL PERTENCENTE A ARQUIVO DA CROÁCIA

Para os donos de gatos a cena é muito familiar: Você está sentado, feliz por ter finalmente concluído algum trabalho feito em seu computador, daí, sem avisar, vem o gatinho da casa e começa a passear tranquilamente pelo teclado e seu trabalho acaba indo para o beleléu!

Mas a prática felina é muito, muito antiga!

Através do medievalista Emir O. Filipovic surge uma real evidência de que os gatos vêm realizando esta prática a mais seis séculos. O pesquisador descobriu que um gato da idade média passou com as patas cheias de tinta sobre o manuscrito pertencente ao arquivo público de Dubrovnik, na atual Croácia. As marcas ficaram eternizadas em uma página do volume 13 do documento chamado “Lettere e commissioni di Levante”.

Palacio Sponza – Dubrovnik – Croácia – onde fica o arquivo.

O material é um registro de cartas de instruções que o antigo governo feudal de Dubrovnik remetia para seus comerciantes e enviados em todo o sudeste da Europa (Bósnia, Sérvia, Croácia, etc). De acordo com o pesquisador Filipovic, este material seria uma espécie de Registro Federal da época. Já as pegadas foram feitas em um documento datado de 11 de março de 1445. O que não quer dizer que ele tenha passado por ali exatamente naquele dia.

Mais do que apenas um lembrete bobo que os gatos nunca mudaram ao longo dos séculos, as pegadas no pergaminho a cintilar através do tempo serve para descrever um pouco da realidade dos animais de estimação da época.


Material realizado a partir de texto do jornalista Carlos Eduardo Entini, jornal O Estado de São Paulo. 

Fonte
  
http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,historiador-acha-pegadas-de-gato-em-registro-de-1445-,8911,0.htm

Extraído do blog Tok de História administrado pelo historiógrafo e pesquisador do cangaço: Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/04/06/historiador-acha-pegadas-de-gato-em-registro-de-1445/




As audácias de um Celerado Parte 1

Por: Manoel Neto
Humberto de Campos

Ao leitor que passe os olhos em “As Audácias De Um Celerado”, última das três crônicas produzidas por Humberto de Campos, nos primórdios dos anos 30 do século passado, tendo como assunto o cangaço e publicadas em “Notas de um Diarista”, volume 09, das “Obras Escolhidas” do autor, será fácil constatar que a planejada expedição de Carlos Chevalier, oficial do Exército, o qual pretendia com armas e equipamentos sofisticados, inclusive aviões, invadir os sertões nordestinos em busca de Lampião, causara forte impressão no articulista. Se em linhas anteriores Campos conjecturara sobre as possibilidades de sucesso do empreendimento, agora é o malogro da empreitada que ocupa sua pena. Curiosamente, apesar de conservado inédito e somente publicado post mortem do escritor, no ano de 1954, em dois tomos, o “Diário Secreto” de Humberto que muita celeuma provocou quando veio a público traz uma referência, por sinal, desabonadora sobre o então tenente Chevalier, destacando que o comentário foi registrado no dia 07 de novembro de 1930, por conseguinte, pelo menos um ano antes do mesmo imaginar sua incursão militar na persiga de Virgolino e seu bando. Vejamos:

Outro julgamento da Revolução: foi preso a bordo de um navio estrangeiro, no momento em que este atracava, e levado para a Casa de Detenção, o ilustre homem de ciência, professor Carlos Chagas, Diretor do Instituto de Manguinhos, que acaba de realizar conferências na Alemanha, na França e na Itália, a convite do governo desses países. Dado o alarma pela imprensa, o delegado que fez a captura, o Tenente Chevalier (grifo nosso), declarou, ingenuamente: – Eu não sabia. Eu supus que Carlos Chagas era o ex- delegado Francisco Chagas, acusado de homicídio na pessoa do negociante Niemeyer... (CAMPOS, Diário Secreto, 1954, p. 103).

Carlos Chagas e o "eu não sabia..."

Adversário político da Revolução de 1930, cujo advento significou a cassação do seu mandato de Deputado Federal, o ex-parlamentar aproveita para tirar sua “casquinha” no novo regime, por conta da gafe protagonizada pelo Delegado revolucionário, detendo por inaceitável desinformação o ilustre brasileiro Carlos Chagas. Personagem de inegável notoriedade naquele ato da cena brasileira, o agora Capitão Chevalier ao imiscuir-se em assunto momentoso, colocou-se novamente na mira do cronista ao pretender capturar cangaceiros utilizando-se de métodos e meios convencionais como se fora a um combate clássico, em terreno familiar. Se já punha em dúvida o sucesso da missão quando ela ainda se afigurava como viável, apesar dos exageros, agora certo do seu fracasso, o cronista comenta: 

“Quando há meses o Capitão Carlos Chevalier iniciou uma série de entrevistas à imprensa noticiando a sua partida para o Nordeste a fim de capturar o celebrado celebérrimo bandido Lampião, eu tive ocasião de escrever aqui mesmo uma crônica duvidando do êxito da expedição. Acreditava que o jovem oficial partisse; acreditava que marchasse para o sertão com os seus canhões, com os seus aviões, com os seus tanques e as suas metralhadoras. Mas duvidava que conseguisse o seu objetivo aprisionando o desabusado bandoleiro. Passam-se os dias, as semanas, os meses. E nem Lampião foi capturado; nem as metralhadoras repinicaram nas caatingas; nem os aviões estrondaram no céu virgem; nem a coluna se pôs em movimento; nem, sequer, o Capitão Chevalier partiu do Rio de Janeiro” (CAMPOS, Notas De Um Diarista, 1983:37)

Lampião que me aguarde...

Aponta a causa fundamental do fracasso ainda no nascedouro do pretensioso plano, desta vez, porém, isentando de responsabilidade o seu idealizador: “Eu estou certo, entretanto, que tudo isso independeu do simpático oficial revolucionário. Não lhe faltavam, evidentemente, para tal empresa, nem disposição, nem temeridade. Mas faltou ao governo dinheiro para organizar e pôr em movimento um aparelho tão dispendioso. Feito os cálculos no Ministério da Guerra, verificou-se, ao que parece, que para mobilizar uma coluna militar com tamanho aparato teria o Tesouro de despender quantia igual mais ou menos à que consumiu na guerra contra o Paraguai” (CAMPOS, ob. cit., p. 38).

Para o professor Jorge Mattar Vilela não teria sido tão somente a escassez de recursos do Governo Federal, o que não se constituía e nem se constitui exatamente em novidade, o motivo da desmontagem ainda no embrião do pretensioso arranjo militar do Capitão Chevalier, conforme indica: “[...] No entanto, a missão foi sendo sucessivamente adiada e, provavelmente por falta de verbas e bom senso de alguns (como o major Juarez Távora), decidiu-se que os Estados combateriam Lampião com seus próprios recursos” (Cf. VILELLA. Operação anti-cangaço: As táticas e estratégias de combate ao banditismo de Virgulino Ferreira, Lampião. In Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, 1999, n. 28, p. 112)

Não podemos desconsiderar outros fatores, os quais, certamente, terão influenciado esta e outras decisões do Governo Federal, particularmente no Nordeste, reduto histórico das oligarquias rurais. Vejamos o que observa o jornal “O Globo”, edição de 24 de abril de 1931, portanto, pós-advento da Revolução de 1930: “[...] Todos aquelles que estudaram o problema concluem que os cangaceiros do nordeste vivem sob o patrocínio dos grandes proprietários que, por intermédio deles, servem a política. O caso de Lampião é typico. Até o governo federal no tempo de Bernardes precisou dos seus serviços”.

Getúlio...

Ignorar os interesses que associavam poderosos chefes políticos ao cangaço seria tapar o sol com a peneira. A complexa rede de apoio logístico estruturada por Virgolino Ferreira e copiada em menor escala por seus subgrupos não prescindia e não poderia mesmo prescindir da cooperação das classes dominantes do sertão nordestino, assim como, utilizando-se da coação e do terror incluiu em sua malha pequenos e médios proprietários, agregados e muitos outros grupos e indivíduos.Sobejamente divulgado é o fato de o bandoleiro Zé Baiano emprestar dinheiro a juros para comerciantes em Aracaju. Como explicar igualmente que armas originárias das forças policiais e das forças armadas tenham sido encontradas em poder de cangaceiros? Armados e fardados em 1926, no Juazeiro do Ceará, Lampião e seus acompanhantes foram momentaneamente reconhecidos como representantes do Estado, vindo desta época o uso de fardamentos entre os bandos e a patente de “capitão” do chefe maior do cangaço. Esses são fatos que evidenciam o entrelaçamento e a troca de “favores” que permeavam a subsistência e a sobrevida do cangaceirismo.

Se o Governo Bernardes vigorou no seu quatriênio sob a égide do Estado de Sítio, pressionado por sucessivas convulsões militares, na Presidência subsequente exercida pelo paulista Washington Luís deu-se o agravamento da crise econômica, principalmente em decorrência daCrack da Bolsa de Nova York, a que se seguiu uma quebradeira universal, com funestas repercussões para a economia do Brasil e levando de roldão a lavoura cafeeira em face da queda dramática das exportações do produto.

 Arthur Bernardes

Arguto observador e atento à inquietação social vigente no período, o então Presidente da Câmara dos Deputados, Antonio Carlos Andrada, temeroso de uma radicalização do movimento popular em efervescência, já alertava as elites políticas quando lhes ensinou: "Façamos a revolução pelo voto antes que o povo a faça pelas armas". Ou seja, vão-se os dedos e fiquem os anéis. A reorganização político-administrativa da região, na qual despontava como principal condutor o Sr. Juarez Távora, alcunhado Vice-Rei do Norte, passava pela destituição de antigas lideranças, nomeação de Interventores estaduais e outras medidas que objetivavam fazer cumprir o programa do novo governo, programa este de caráter nitidamente reformista, porquanto, não se propunha a tocar em problemas estruturais da sociedade brasileira.

É nesta conjuntura delicada que o cangaço se profissionaliza e ganha espaço, situação em que à força das armas, Lampião e seus múltiplos acompanhantes, habilmente subdivididos, bem informados e municiados, transgridem a Lei e enfrentam a repressão com astúcia e inegável retaguarda política.

Percebendo que o momento se apresenta favorável aos cangaceiros, por conta do conjunto de fatores acima apresentados, Humberto de Campos repassa informação colhida em jornais: “O insucesso do plano anunciado no Rio, foi, porém, acender o olho que resta ao famigerado salteador nordestino, acirrando-lhe a índole sanguinária. Esporeando seus cavalos árdegos e os seus instintos selvagens, desenvolveu ele a própria atividade, matando, roubando, incendiando, estuprando. A desistência silenciosa do Capitão Chevalier foi, no seu entendimento de primitivo, estrondosa vitória sua. E quando chega a uma Estação Telegráfica dos altos sertões da Bahia, de Pernambuco ou de Alagoas, o seu primeiro cuidado consiste na transmissão deste telegrama irônico para a sede dos distritos, nas capitais: Lampião continua esperando o Capitão Chevalier” (CAMPOS, ibid. pp.38,39).


Por certo que o aborto da Expedição Chevalier seivou a vaidade e intrepidez do Capitão Virgolino. Sentiu-se lisonjeado, mormente, porque despertara a atenção de um colega do Exército, sediado na longínqua Capital da República, o que significava na sua avaliação de homem inteligente e não primitivo, como quer Humberto de Campos, uma vitória, E o era de fato. Mais um entre dezenas de planejamentos oficiais e particulares, fadara-se ao fracasso. Assim como no caso da seca, muito se elocubrava e pouco se produzia de efetivo e eficiente para enfrentar as estiagens periódicas e o banditismo intermitente.

Quanto ao uso dos meios de comunicação disponíveis tanto para debochar de autoridades, como para extorquir benefícios e fazer ameaças, é fato exaustivamente narrado nos registros documentais e na bibliografia sobre o cangaço esse comportamento principalmente de Lampião, a que se que seguiam ações como o aprisionamento e, em alguns casos, o assassinato de funcionários, nunca deixando de executar como medida acautelatória o corte das linhas de transmissão, evitando dessa maneira a troca de informações entre os prepostos policiais e os gestores civis dos municípios. Visavam igualmente às obras ferroviárias e rodoviárias. Dois registros ilustram nossa afirmação. O primeiro diz respeito à iniciativa de funcionários dos Correios, documentando uma ocorrência transcorrida em suas jurisdições: “[...] No processo de número 3.350, de março de 1927, o agente dos Correios de Jatobá alertava à polícia, via telégrafo, para o pânico causado por Lampião "que ameaçava cometer depredação a esta cidade". Em outro caso, ao comentar o roubo de 346$500, o administrador da localidade de Villa Bella, Benvindo Loreto, assegurava que a região estava infestada por aquele bando sinistro no caso, o de Lampião “

Professor Manoel Neto

Maria Christina da Matta Machado nos descreve outro momento que explicita o posicionamento adotado pelo sempre que possível por Lampião, diante do que se lhe encantava por representar o moderno, entretanto, comprometedor para segurança dos grupos:.“[...] tomando conhecimento da construção de uma rodagem, que estava sendo protegida pela polícia, resolve juntar-se ao grupo de Antônio de Engrácia e planeja o assalto. Nas obras estavam todos trabalhando tranquilamente, sem receio algum, porque eles sabiam que Lampião não atacava, onde existissem garantias. Um certo dia, entretanto, quando ninguém esperava, eis que surge Lampião e seus caibras, aos gritos. [...] Poucos segundos depois, ouviam-se tiros por todos os lados. Trabalhadores e soldados misturados  correram espavoridos se precipitando na mais desordenada fuga. Lampião assaltou a rodagem, pegou todo material  que estava sendo usado, além dos fuzis e as munições. O que não pode levar consigo, colocou num caminhão e tocou fogo” (MATTA MACHADO, pp. 147-148).

Continua...

Manoel Neto
Centro de Estudos Euclydes da Cunha – CEEC
UNEB - Bahia

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Mané Neto, Marins e Maxado !


Caro Severo e amigos;
está comigo neste momento, ao meu lado, o ilustríssimo poeta e cangaceiro
Franklin Maxado, que me fazendo de positivo e coiteiro, manda lhe avisar que estará conosco em setembro no Cariri Cangaço 2013,
seguindo na minha companhia e de
Raimundo Marins.

Avise aos companheiros e alerte a macacada que não estamos para brincadeira!

Manoel Neto
Franklin Maxado
Raimundo Marins

BAHIA-BA


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