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sábado, 6 de janeiro de 2018

REGISTRE A PATENTE

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de janeiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.816

      Estão completamente defasadas as formas de governar dos prefeitos brasileiros, em maioria. A ambição desmedida (vejam os jornais) perpetua o reinado dos coronéis que se preocupam apenas em abastecer os seus próprios paióis. Não fazem absolutamente nada pelo futuro dos seus municípios e, quando muito, calça uma rua, um beco e logo corre a colocar o nome da rua de um parente. Muitos não querem mais educar os filhos para as profissões diversas do mercado, mas apenas para o dinheiro fácil que é a política. E na falta de filho, coloca a filha, na falta de filhos e filhas, coloca a empregada, a rapariga, a peste, contanto que a minação do dinheiro público mine no seu desgraçado bolso. Ainda bem que alguns se salvam e transformam o seu município em grande competidor do porvir.

FOTO: (OPERA MUNDI).

A eterna ambição de cada qual deixa o município em situação caótica na Saúde, na Educação, na limpeza urbana, na falta de planejamento. Ruas e mais ruas que mais parecem latrinas com esgotos a céu aberto. O mato toma conta do calçamento que não presta nem para cavalo. Não se encontra uma lixeira nas ruas, faltam placas de sinalização, poda de árvores e pinturas, novos lugares de escoamento do trânsito e tantas outras coisas que desanima qualquer filho da terra. Quando se diz que o povo não sabe votar é apenas meia verdade. O rico honesto não quer ser candidato. O pobre honesto não pode se candidatar porque bandidos não deixam. O mais ou menos chega lá e se corrompe, vai carregar o andor do padroeiro, naturalmente pensando que o santo compactua com sua desgraçada atitude.
Quando o eleitor olha para um lado e para o outro, não encontra candidato do seu agrado e se ver garroteado para votar em um dos viciados que ele mesmo conhece muito bem. E esse ciclo do mal vai se perpetuando até não se sabe quando, pois se acusa, se prende e se solta no outro dia. E depois de tal tornozeleira que o diabo inventou, só fica na prisão o ladrão de bodega, o assaltante de beco, o larápio de galinhas. Mesmo que viesse uma nova ditadura militar, seria para cometer os mesmos erros, muito embora espanasse ratazanas para todos os lugares. Mas quando voltassem à condição civil, novos ratos entrariam na competição pelo queijo fácil do erário público, pelos séculos e séculos sem fim.
Quem tiver como salvar o Brasil dos políticos ladrões, registre a patente.


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VIDA E MORTE VIRGULINA

*Rangel Alves da Costa

Eu me chamo Virgulino, não tenho outro nome de pia, tendo por pai um José e por mãe uma Maria. Poderia ser chamado de Virgulino de Maria, mas outro apelidado me foi dado em distante freguesia.
Um filho chorando um pai, pois morto em triste dia, quando a arma do poder tirou o que dele existia, jogando à própria sorte o que da família existia, fazendo surgir o ódio e toda vingança que havia.
Mas o que mais afligia era ser acusado de crime que nem de longe eu cometia. Dizer que minha família roubava a honra toda anuvia, cria no homem um ódio que nunca se atrofia, é querer criar bandido naquele de calmaria.
Quando a fama se fez grande, acusado em demasia, então o jeito foi passar a ser aquilo que eu não queria, então agi pelo erro e fiz o que não queria: fazer o que não tinha feito pra provar a valentia.
Coisa triste era a fome de vingança que eu sentia, mas não tinha outro jeito a dar naquilo que eu pressentia, ou dava o troco no troco ou escolhia a covardia, como não nasci pra temer então escolhi a ousadia, em dar um troco maior naquilo que me feria.
Quando o sangue jorrou nas terras onde eu vivia, o homem se fez em galope no filho de José e Maria. Uma chama acendeu, mas juro que não queria, e quando labareda comeu eu já estava em rebeldia, lutando contra o algoz desde o amanhecer do dia.
Dói demais relembrar uma família em correria, saindo de canto a outro, sem ter sossego e alegria, e só se mantendo viva pelo revide que existia. Se bala viesse de lá, a bala daqui zunia, se tocaiado algum fosse, outra emboscada fazia.
Quando já sem pai e sem mãe, o mundo foi moradia. Ao lado de irmãos seguia nos rastros da valentia, levava comigo a certeza do que o mundo oferecia: lutar contra a injustiça e sua esfomeada sangria, ser um guerreiro do mato, um Lampião que na guerra alumia.
Na chama o Lampião, só assim me conhecia, deixado de lado o Virgulino e o filho de Maria. Foi nos carrascais desse mundo, na vida em descortesia, que empunhei arma e punhal pra viver em rebeldia, caçando e sendo caçado, no prazer e na agonia.


Eram muitos Lampiões que surgiam a cada dia. Na sina do sertanejo a dor que transparecia, maltratado e oprimido, um escravo de sesmaria, nas mãos do senhor coronel a desdita lhe doía, levando peso da canga e açoitado em grosseria.
Uma gente tão sofrida que a sorte lhe consumia, sem vez nem voz protetora, era água de bacia, derramada pelo chute do poder e sua demagogia. Capanga caçando irmão, no sertão a mesma pia, como se violar a pobreza causasse maior alegria.
O povo desprotegido, a proteção mais queria, mas como encontrar alguém que lhe servisse de guia? Sinhô Pereira, Antônio Silvino ou Lampião, era o sertão que queria, ou alguém lhe defendia ou nada mais restaria.
E de repente Lampião já era o rei do sertão, o que muito enobrecia. Mas um viver de pesar que no prazer se fingia, todo adornado no ouro pra esconder o que a alma carcomia, sem descanso ao relento no peito a nostalgia. A punhalada da sina, na vida toda sangria.
Então no amor fui buscar o alento que queria. Depois de minha mãe Maria, eis que mais uma Maria. Essa toda bonita, flor no cabelo e laço de fita, e dizendo ninguém acredita, mas foi o prazer que tive em meio à vida maldita.
Por vinte anos vivi acendendo um Lampião, tratado com fidalguia, na fama e na honraria. Fui Capitão, do Estado a cortesia, e para fazer aquilo que eu dizia e não fazia. Não deseja fazer o que o poder queria, quando do outro lado o mesmo poder perseguia.
Foi de conchavo e alinhavo, a trama que eu tecia. Do coronel a igreja, tudo à minha serventia. Mandava um bilhete assinado e logo o que eu queria, bastava me aproximar e toda porta se abria. Se um fogo despontasse, com fogo eu respondia.
Mas um dia o pavio do destino de vez me apagaria. Não foi na luta de homem, mas sim na maior covardia. Emboscaram todo o bando e o meu fim se fazia. Se levanto o mosquetão nada daquilo acontecia.
E foi o fim de Virgulino e também de sua Maria. Mas o homem que se foi na terra permanecia, não conseguiu ao sertão trazer a sua alforria, mas ensinou a lutar contra o mal que lhe oprimia, e continua a ensinar a não aceitar desvalia.

Escritor
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DESENTERRANDO A HISTÓRIA.


Em pesquisa realizada com detector de metais na zona rural de Frutuoso Gomes, encontrei essa medalha lançada em 1958 para comemorar o título de campeão da copa do mundo conquistado pelo Brasil naquele ano. 


Infelizmente a peça foi partida ao meio, mas espero ter a sorte de encontrar a outra metade em novas pesquisas no mesmo local. 


Percebe-se na medalha, uma relação com o nome do técnico e dos jogadores da seleção brasileira de 1958.

https://www.facebook.com/rivanildo.alexandrino

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06 DE JANEIRO DE 1902, DR. ILDEFONSO AUGUSTO DE LACERDA LEITE FOI TRAGICAMENTE ASSASSINADO EM PRINCESA ISABEL/PB.

Por Cristina Couto

06 de janeiro de 1902, Dr. Ildefonso Augusto de Lacerda Leite foi tragicamente assassinado em Princesa Isabel/PB. 


Há exatos 116 anos, um jovem médico foi eliminado por defender seus ideais. No Nono Mandamento os detalhes desse sórdido crime será contado em detalhes.

Princesa Paraíba


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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SOBRE LAMPIÃO, PUNHAIS, SANGRAMENTO, BEIJOS E PURPURINA.


Em 1982 a Rede Globo exibiu uma minissérie chamada “Lampião e Maria Bonita” embora fosse uma obra baseada em fatos reais e referências a personagens conhecidos era uma obra ficcional. O que chamava a atenção eram o esmero do figurino, beirando a perfeição, a produção competente e detalhista e a pesquisa bem feita, escrita por Aguinaldo Silva e Doc Comparado e a direção de Luis Antonio Piá e Paulo Afonso Grisolli, além é claro as brilhantes atuações do saudoso Nelson Xavier, Tânia Alves Roberto Bonfim, Regina Dourado e José Dumont, marcaram época. 


Trinta e cinco anos depois a mesma emissora faz uma minissérie que tem como pano de fundo o Cangaço, tentei assistir, mas algumas coisas me chamaram atenção negativamente, ora não sou Antônio Amaury, Frederico Pernambucano, grandes e renomados pesquisadores, além é claro da professora Noádia Costa com suas pesquisas e incentivo a mostrar o Cangaço s/ meias verdades, apenas a procura da essência pura e simples do fenômeno e claro com a experiência e admiração a Charles Garrido, pesquisador, documentarista e autoridade no tema a quem tenho uma relação de aluno/ professor e privo de sua amizade. Bem, chega de puxar o saco, e vamos lá: Em uma cena desta minissérie atual, o Cangaceiro chefe após prender alguns desafetos “sangra” alguns, o “ interessante" é que ele faz isto com um punhal de 30 cm! Pois bem, ele posiciona o punhal na parte anterior do ombro e o faz penetrar, o coitado numa situação desta sofrerá uma dor lancinante mas não morrerá “sangrado” esta região do corpo humano além da omoplata tem inúmeros e resistentes músculos e jamais alcançaria o coração ou outro órgão vital. Pois tal ato perverso só teria efeito com o punhal entre 50 a 80 centímetros (Lampião especialmente) o punhal era colocado do lado esquerdo da pessoa, no "pé" do pescoço, entre a clavícula e o músculo trapézio, (a chamada “saboneteira) e era introduzido. 

Este artifício perverso rasgava órgãos vitais e ao ser retirado esguichava um forte jato de sangue, causando um efeito terrível. Isto meus amigos era o “Sangrar” cruel, doloroso e causava na vítima uma morte horrível. (no mínimo faltou uma consultoria, se tivessem me ligado tirava de letra) Outro tópico esdrúxulo seria o homossexualismo tratado como "destaque" não que não houvesse,mas a forçação de barra ao colocar dois homens beijando-se beira ao ridículo. Senão vejamos por outra ótica: A História do Cangaço é tão rica e cheia de paralelos entre inúmeros integrantes que mesmo uma obra ficcional teria nas mãos de um bom roteirista uma gama quase inesgotável de tramas s/ precisar recorrer ao apelo fácil e oportunista deste pretenso “ politicamente correto” que desculpem a expressão, é um chute nos testículos! e lógico desta inclusão agressiva da liberação sexual, bi, tri, e outras denominações, pena ver um tema tão rico ser relegado a um plano inferior, bom, é rezar p/ que um dia uma Netflix da vida faça jus a História e nos brinde com uma semelhante a de 82, ficcional até, mas um show de figurinos, interpretações honestas, e sobretudo respeito. Desculpe-me se cometi alguma gafe pois escrevi de supetão apenas pesquisei os créditos da minissérie, o resto foi no informal.

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O DIA EM QUE A ESPADA DO ESPÍRITO SE ENCONTROU COM A ESPINGARDA DE LAMPIÃO. O ESPÍRITO SANTO, COMO SEMPRE, FOI VENCEDOR!


Você já deve ter lido o Best Seller "Heróis da Fé", ou talvez os comentários bíblicos Espada Cortante 1 e 2, publicados pela CPAD e da autoria do missionário pentecostal Orlando Boyer. De fato são ótimos e enriquecedores livros! Mas o que talvez você não saiba é que enquanto aquele missionário norte-americano esteve evangelizando o sertão nordestino, ele teve um encontro com o valentão cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, que tocava o terror por aqui. O seguinte relato foi extraído de 150 Estudos e mensagens de Orlando Boyer, CPAD:

A vida de Boyer, tal como a do apóstolo Paulo, correu perigo inúmeras vezes, tando, até, de pagar um resgate de 236$000 (duzentos e trinta e seis mil réis) para que Lampião, o rei do cangaço, que então implantava o terror nas caatingas do Nordeste, libertasse Virgílio Schimidt e sua esposa, missionários que trabalhavam com ele. Lampião achou que a quantia oferecida por Boyer era pequena, exigia cinco contos de reis, mais Boyer falou do amor de Cristo ao cangaceiro, que não lhe fez mal algum, libertou os missionários e os deixou seguir em paz, restituindo-lhes os 236$000 e mais 109$000 (cento e nove mil réis) do próprio bolso para ajudar nas despesas (MP 1090, 2ª quinzena de abril de 1978, página 5). Teria a semente do Evangelho germinado em alguns daqueles corações empedernidos? Cremos que sim, a Palavra de Deus não é pregada em vão (Is 55.11). Com certeza o Senhor honrou o trabalho e o sacrifício do seu servo, que com desapego à própria vida enfrentou com denodo os ataques de Satanás, de homens e feras nos sertões do Nordeste.

O dia em que a Espada do Espírito se encontrou com a espingarda de Lampião. O Espírito Santo, como sempre, foi vencedor!

#TeologiaArminianaePentecostal

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EXPOSIÇÃO "NO RASTRO DO CANGAÇO"

José Carlos Carrascosa dos Santos

Até o dia 19 de Janeiro, o Memorial Casa Libaneza - Espaço Cultural de Cravinhos, que fica localizado na Rua XV de Novembro, 259, recebe a exposição "No Rastro do Cangaço".

Trata-se de uma parceria com o Sesi Ribeirão Preto, e através das fotos é possível saber um pouco mais da história de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) na cultura do Nordeste.

A exposição é gratuita e está aberta para visitação de segunda-feira a sexta-feira das 8h às 11h e das 13h às 17h.


Compareçam!


https://www.facebook.com/prefeitoboi/photos/a.517420585006582.1073741829.516581578423816/1554189567996340/?type=3&theater

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CARTA DE LAMPIÃO O CANGAÇO NA LITERATURA #112

https://www.youtube.com/watch?v=kUTC5YdmFYM

Publicado em 25 de dez de 2017

Inscreva-se no canal do Pedro (180 inscritos até agora, a meta é chegar a 1000) https://www.youtube.com/channel/UCTLC... Sabiam que Lampião escrevia cartas? Pois é, e neste programa estaremos mostrando algo inédito.
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LAMPIÃO NÃO MORREU: O LEGADO CULTURAL DO CANGAÇO

Por Carlos Braz

No próximo dia 28 de julho completam-se 80 anos da morte do afamado cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, juntamente com sua companheira Maria Bonita e nove “cabras” do bando. O cenário do sinistro acontecimento foi uma grota no interior da Fazenda Angicos, localizada à época, no município sergipano de Poço Redondo.

Decorridos tantos anos, a história do cangaço como fenômeno social do nordeste brasileiro tornou-se objeto de estudo de cientistas sociais de diversos ramos. E sobre o capitão Virgulino, em particular, muito ainda há de se ouvir falar. Muitos mistérios ainda existem para serem decifrados, mistérios esses que desafiam as pesquisas de centenas de historiadores e das instituições voltadas para esse tema.

Lendas e fatos reais se misturam ao sabor dos interesses pessoais, eternizando a figura do “general do sertão”, ensejando debates apaixonados que adicionam novas obras à já extensa bibliografia a respeito do assunto.

Evidentemente, ao se falar desse flagelo regional, a primeira imagem que vem à mente é a violência extrema daqueles tempos; o banho de sangue proporcionado pelos facínoras, os estupros, sequestros e assassinatos perpetrados em um ambiente inóspito onde só sobreviviam os que conheciam muito bem o sertão catingueiro.

Tempo dos coronéis, dos coiteiros e das volantes, que não hesitavam em torturar até a morte aqueles que porventura não fornecessem informações sobre o paradeiro dos meliantes. A terra seca, o gado magro, o sol causticante, a fome e o sofrimento sertanejo para sobreviver foram a moldura perfeita para o drama da vida real que se desenrolou nas paragens nordestinas.

Contudo, o conflito social conhecido como cangaço não começa com Lampião. Os embates agrários, os valentões que não levavam desaforo para casa, os capangas à serviço dos poderosos formaram os primeiros bandos de desordeiros.

Desde meados de 1871 já corria pelos sertões as histórias sobre Jesuíno Brilhante. Considerado o precursor do cangaço, assombrava as regiões da Paraíba e Rio Grande do Norte, assaltando os ricos para abastecer os pobres, segundo relatos, durante a grande seca que devastou todos os estados da região.

Outro chefe de bando afamado foi o Sinhô Pereira, cuja valentia e arruaças com os destacamentos policiais fizeram história, espalhada de boca em boca, em terras pernambucanas. Com o passar dos anos e o desejo de levar uma vida pacata, longe das correrias e tiroteios, o celerado se afasta da vida bandida e toma destino ignorado.

É nesse momento, em data incerta que gira em torno de 1918, que surge a figura lendária do rei do cangaço. Corrido da polícia após uma rixa com seu vizinho, o proprietário de terras, Zé Saturnino, substitui Sinhô Pereira como líder e supera seus predecessores em ferocidade e astúcia.

Foram aproximadamente 20 anos de selvagerias pelas veredas do sertão, combatendo quase sempre em condições adversas. Como estratégia, armou uma rede de colaboradores, os coiteiros, que forneciam ao bando informações sobre os deslocamentos das volantes, alimentação, munição e lugar seguro para recuperação dos ferimentos em combate.

Também inovou em técnicas de guerrilhas na caatinga, percorrendo longas distancias a pé, ou na friagem da noite, enquanto seus perseguidores descansavam. Criou um modo de usar o fuzil em posição lateral, o que diminua as possibilidades de serem atingidos por projéteis inimigos.

A partir de Virgulino, o contexto social do Nordeste chama a atenção do Brasil e elimina-lo torna-se uma questão de honra para o Estado brasileiro, o que ocorre naquela madrugada fria e sanguinolenta de Angicos.

Ali morre o homem e nasce o mito, que atravessa os tempos cantado em prosa e verso, nos repentes dos violeiros e nas sextilhas dos cordéis. E nos rastros das cantorias vem os bonecos de barro vendidos nas feiras, os chapéus de couro enfeitados com estrelas, as alparcatas de couro cru capazes de enfrentar o rigor das caatingas, e um sem número de produtos que constroem o legado cultural da saga cangaceira.

A história do cangaço passa a ser explorada comercialmente e a sua estética torna-se objeto de estudo de disciplinas acadêmicas. Ao mesmo tempo, a partir de relatos orais e obras referendadas por pesquisas comprometidas com a verdade, lançou-se um novo olhar sobre a figura do bandido desalmado que matava pelo prazer de matar ou por vingança: percebeu-se o ser humano existente atrás do marginal.

Muitos entraram na vida do crime para não morrerem assassinados por desafetos poderosos, protegidos pela justiça dos homens. Quando tinham algum tempo livre para amenidades, dançavam, cantavam, tinham saudades dos parentes, e cultivavam uma vaidade explícita nas roupas enfeitadas com bordados e moedas. O companheirismo e lealdade era fundamental para a sobrevivência de todos.

A religiosidade, marca indelével do povo nordestino, também se fazia presente no cotidiano daqueles homens embrutecidos pela vida, em uma mistura entre o sagrado e o profano. Crucifixos e patuás para fechar o corpo ocupavam o mesmo espaço nos embornais. O respeito aos templos católicos e ao padrinho Padre Cícero Romão Batista, era lei que não podia ser desrespeitada, sob pena de morte, e quando podiam, rezavam uma Ave-Maria às 6 horas da noite.

A imaginação do povo alimentou as lendas, aumentando ou diminuindo um pouco de tudo. O xaxado foi intitulado como trilha sonora da maratona entre xique-xiques e mandacarus, a “muié rendera”, os embornais coloridos, as cartucheiras cruzadas no peito e o punhal afiado tornaram-se símbolos daqueles tempos de miséria e injustiças.

Na contemporaneidade, a chamada estética do cangaço em suas variadas vertentes, alimenta um segmento comercial diversificado que emprega e beneficia milhares de pessoas de todo o Brasil, gerando renda e desenvolvimento social, não só no Nordeste brasileiro.

Hoje essa verdadeira indústria cria pontos turísticos temáticos em cidades que conviveram de algum modo com o flagelo do cangaço. Piranhas-AL, de onde partiu a volante com destino a Angicos, possui dezenas de pousadas e um museu, e Canindé do São Francisco-SE, conta com uma boa estrutura gastronômica e de transporte fluvial, são bons exemplos disso.

O cangaço e sua estética expandiu-se pelo mundo através das artes visuais, do cinema e da televisão, movimentando fortunas com patrocínios e exibição em países da Europa, América e Ásia. Está presente na obra brilhante de Glauber Rocha, Dias Gomes, Ariano Suassuna, dos sergipanos Jenner Augusto e Orlando Vieira, entre tantos outros.

Muitos artistas foram imortalizados através de atuações magistrais, à exemplo de Nelson Xavier e Tania Alves que encarnaram brilhantemente o capitão e sua Maria em seriado de TV, e Marco Nanini, no magnífico Auto da Compadecida.

Nas feiras nordestinas, uma infinidade de objetos em cerâmica e madeira, representando cenas e imagens de Lampião e Maria Bonita são vendidos diariamente, bem como bolsas com alças floridas, no formato de embornais, camisetas, bonés, punhais, espingardas de madeira e o indefectível chapéu de couro em forma de meia lua com as estrelas de prata em detalhe.

Já os violeiros e cordelistas continuam a entoar e escrever sobre as façanhas lampiônicas, surpreendendo os ouvintes e leitores com suas imaginações férteis, que mesclam fatos verídicos com outros, improváveis, mas que encantam a todos e lhes garante bom rendimento.

Enfim, grupos teatrais e musicais, quadrilhas juninas, escultores, historiadores, curiosos, escritores reconhecidos e outros, que não passam de embusteiros e falsificadores da história, muitos abordam o cangaço como fonte de inspiração, e são recompensados por isso.

A maior tragédia social que assolou as terras nordestinas ainda frequenta a memória social do povo, e o seu legado cultural mostra-se perene, o que garante ao seu principal protagonista, o Capitão Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, sobreviver através das artes visuais, da literatura e do cancioneiro popular.

Carlos Braz é sergipano, natural de Aracaju. É Bacharel em Museologia, formado pela UFS, e acadêmico de Licenciatura em História também na UFS. É membro da Associação Sergipana de Imprensa (ASI).


https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

Adquirido no acervo do pesquisador José João Sousa

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A EDUCAÇÃO PELA PEDRA MEMÓRIAS DA INFÂNCIA DE CELSO FURTADO, NO SERTÃO, ENTRE OS PERIGOS DO CANGAÇO, DA POLÍTICA E DA NATUREZA

Por Roberto Pompeu de Toledo

Para o menino Celso Furtado a vida era uma sucessão de perigos. O perigo dos cangaceiros que vez por outra invadiam Pombal, sua cidade natal, no sertão da Paraíba, por exemplo. "Lá vêm os cangaceiros", avisavam, e todo mundo saía correndo. Os cangaceiros avançavam pelas ruas em cavalgadas que espalhavam poeira e terror. Uns queriam bancar os bem-educados e sentavam-se no bar, pediam café, respeitavam as senhoras.

Outros agiam como brutamontes. Ameaçavam, atiravam, agrediam, intimidavam, barbarizavam. Numa dessas ocasiões o pai de Celso agarrou-o e levou-o a um esconderijo, onde ficaram até os cangaceiros irem embora. "Tantas vezes vi pessoas mortas na rua", lembraria ele, muitos e muitos anos depois. Convocado para o serviço militar no período da II Guerra, Celso integrou-se à Força Expedicionária Brasileira, na Itália – mas dizia que viu mais mortos na Paraíba, na infância, do que nas frentes de batalha.

Havia a violência política, em acréscimo à dos fazendeiros. Todo mundo estava envolvido na "política", mas não se pense que essa "política" tenha a ver com o debate dos problemas do município, do estado ou das grandes questões nacionais. A "política" se traduzia em escaramuças entre famílias rivais. Eram particularmente agudas em épocas eleitorais, e podiam degenerar em pequenas guerras civis.

Num dia de 1930 alguém chegou correndo à casa de Celso: "Mataram João Pessoa!". Não era um dia qualquer para o menino. Era o dia em que completava 10 anos, 26 de julho. Quem trazia a notícia era um empregado. Eram sempre os empregados que traziam as notícias. E não podia haver notícia mais terrível – Pessoa, o popular governador (ou presidente, como se dizia então) da Paraíba, fora emboscado por um inimigo numa confeitaria do Recife. Entre as pessoas simples do estado, João Pessoa gozava de mística que tangenciava o sobrenatural. Celso ouvia da empregada da casa histórias como a de que o governador se disfarçava de pessoa comum e saía "para fazer o bem" nos bairros pobres. Era a mesma legenda que acompanhava os "reis bons" da Idade Média. À noite, a empregada o levou a uma procissão encabeçada por um andor onde ia o retrato de João Pessoa, venerado como santo.


 Celso Furtado, (Pombal, 26 / 07 /1920 — Rio de Janeiro, 20/ 11 / 2004)


Seguiu-se um período em que os adversários políticos do líder assassinado, em cada cidade paraibana, eram atacados como se cada um deles fosse o assassino. Agrediam-nos nas ruas, incendiavam-lhes as casas, feriam, matavam. Na manhã seguinte, ao sair de casa, a primeira coisa com que Celso deparou foi o cadáver de um homem estendido na rua. Ali perto ficava a usina de propriedade de um notório adversário de João Pessoa. Um alvo fácil para os vingadores do governador, portanto, tanto assim que soldados do Exército foram destacados para protegê-lo. A família Furtado, pelo sim, pelo não, achou prudente afastar-se do bairro. Refugiou-se na casa da avó de Celso, até o ambiente se acalmar.

Quando não vinha dos homens, o perigo vinha da natureza. Celso tinha 4 anos na época da grande cheia de 1924. As águas, em fúria, invadiram sua casa, destruindo-lhe a parte da frente. A casa só não veio abaixo por milagre. Vários de seus compartimentos ficaram inutilizados, inclusive a cozinha. Tiveram de trazer o fogão para a sala, por causa disso. Temerária decisão. Celso, numa hora em que brincava sozinho na sala, jogou uma bola para cima e ela foi cair bem no caldeirão que ardia no fogo. O caldeirão tombou nas costas do menino. "Ah, sofri muito", recordaria. Uma marca da queimadura ficou-lhe nas costas pelo resto da vida.

E havia os perigos do fanatismo religioso. Celso Furtado cresceu num tempo em que a Guerra de Canudos ainda estava fresca na memória dos povos do sertão. Um tio-avô seu participou da guerra, do lado das forças que combatiam os beatos de Antônio Conselheiro. Muitas histórias do período se contavam na família. Depois veio o padre Cícero, ainda vivo quando Celso despertava para o mundo. Para o menino, João Pessoa e padre Cícero eram figuras da mesma extração. Pertenciam ambos ao mesmo universo popular e místico.

Celso Furtado, que morreu no sábado, dia 20, tinha um olhar triste. Ele foi ministro, embaixador, conselheiro de presidentes, membro da Academia Brasileira de Letras. Notabilizou-se como professor nos melhores centros universitários do mundo, escreveu livros e artigos traduzidos em múltiplos idiomas. Conheceu os grandes deste mundo. Era reconhecido como um dos mais destacados intelectuais brasileiros. No entanto, o olhar triste denunciava a eterna presença, lá no fundo, do menino assustado entre os cangaceiros, a violência política e a fúria da natureza. Era um nordestino educado pela pedra, para usar a expressão de outro filho da região, o poeta João Cabral de Melo Neto.

Nota: As recordações de infância aqui alinhadas foram relatadas por Celso Furtado ao autor destas linhas em duas longas séries de entrevistas, uma em 1993, outra em 1999.

Publicado originalmente na coluna Ensaio da Revista Veja, Edição 1882 . 1° de dezembro de 2004.

Link para a matéria: Revista Veja
Foto: Portal da imprensa

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