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quinta-feira, 28 de abril de 2016

CARIRI CANGAÇO 2016 - FLORESTA

Por Marcos de Carmelita

Cariri Cangaço Floresta 2016 (Floresta e Nazaré) e os Segredos do livro - As Cruzes do Cangaço - Os fatos e personagens de Floresta. 
Lançamento: 26 de maio na abertura do evento, às 19: 30 hs, na Câmara Municipal de Floresta.

Espero um dia poder levarmos os pesquisadores e turistas nesse local. Serra do Arapuá, residência de Ubaldo Pereira Nunes, o primeiro "Moita Braba", um dos mais perigosos cangaceiros do bando de Lampião.

Adelmo Moita filho do cangaceiro Moita Brava

Moita Braba aliou-se a Horácio Grande e esteve presente na Chacina dos Gilos na Tapera. Vinte dias após estava com Lampião e sem Horácio no tiroteio da fazenda Tigre, onde Lampião foi baleado gravemente. 

Arlindo Moita filho do cangaceiro Moita Brava

Em seguida participou da matança đos seis soldados de Manoel Neto e Zé Saturnino (seu primeiro inimigo) no fogo da Favela. Moita Braba faleceu na década de 50, seus filhos, netos e bisnetos ainda residem nesse local.

Serra do Arapuá

A Serra do Arapuá pertencia à cidade de Floresta e hoje faz parte de Carnaubeira da Penha, antigo distrito de nossa cidade. Os mais velhos filhos de Carnaubeira, têm na sua carteira de identidade a naturalidade de Floresta. 

Ester Moita filha do cangaceiro Moita Brava

Somos um só povo e a Serra do Arapuá é um dos locais mais belos dessa região, tendo sido a natureza muito generosa com o lugar. Com altas serras, clima agradável, fontes naturais e uma paisagem deslumbrante. 

Aldeia dos índios Pankara - http://www.assisramalho.com.br/2014/04/petrolandia-aldeia-pankararu-do.html

Aldeia dos índios Pankara com seu belo e criativo artesanato. Pés de cajueiro, pinheiras, castanha assada, e muito mais. 

Cariri Cangaço Floresta com a presença de filhos de cangaceiros, volantes e vítimas de Lampião e seus cabras, além de grandes e renomados pesquisadores e escritores.

Simplesmente imperdível !

Fonte: facebook

Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1685650591696273&set=a.1416729091921759.1073741825.100007540442582&type=3&theater
http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2015/11/familia-do-cangaceiro-moita-brava.html

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FOTO MEMORÁVEL!

Por José Bezerra Lima Irmão
Tive a honra de fazer parte de um profícuo evento cultural em Dores, próspera cidade da entrada do sertão sergipano, a convite do meu amigo, professor JOÃO EVERTON DA CRUZ, titular da Secretaria Municipal de Juventude, Cultura, Turismo e Eventos, e do não menos amigo JOÃO MARCELO, Prefeito Municipal. Nesse evento festivo, com danças folclóricas, encenações e cantorias, que faz parte do projeto “Dores é Cultura”, aproveitei a oportunidade para fazer mais um lançamento do meu “Lampião – a Raposa das Caatingas”. Tive o prazer de rever o historiador João Paulo, Presidente da Academia Dorense de Letras, e a querida amiga Salete Nascimento, pioneira em Sergipe da Literatura de Cordel. Parabéns, João Everton! Parabéns, prefeito João Marcelo!

Foto memorável, tirada num encontro de escritores ocorrido em Missão Velha (Ceará), promovido pelo grupo Cariri Cangaço. 

A senhora que aparece à esquerda é sobrinha-neta do legendário coronel Antônio Joaquim de Santana, o conhecido coronel Santana, da fazenda Serra do Mato, na Chapada do Araripe, famoso coiteiro de Lampião, pai do então Juiz de Direito de Juazeiro, Dr. Juvêncio Joaquim de Santana, que foi Secretário de Justiça do Ceará. 

No centro, encontra-se minha querida amiga Neli Conceição, filha do casal de cangaceiros Moreno e Durvalina. A senhora à direita é dona Orlandina, filha do não menos famoso Isaías Arruada, que foi chefe político de Missão Velha e Aurora (Ceará), outro coiteiro de Lampião, com quem se desentendeu depois e tentou envenená-lo. Peço desculpas à sobrinha-neta do coronel Santana e ao cidadão na outra extremidade da foto, filho de dona Orlandina, por não declinar os seus nomes, pois infelizmente perdi as anotações que fiz naquela oportunidade. 

Se Manoel Severo Barbosa ou outro companheiro do Cariri Cangaço souber os nomes dessas ilustres figuras, por favor me informem. Ah, sim... Nessa foto estou segurando o meu livro "Lampião - a Raposa das Caatingas", que acabava de autografar para a sobrinha-neta do coronel Santana. Um abraço a todas essas pessoas. Espero revê-las.

Foto 2015

Em recente viagem divulgando o meu livro em Pernambuco e Alagoas, tive o prazer de encontrar essa grande figura humana, o Silva Júnior, misto de jornalista, poeta, empresário e "arquiteto" - ele mesmo projetou, desenvolveu e decorou o prédio de sua pousada em Canindé, onde me hospedei como um lorde. E olhe que eu não estava só: estava com "Lampião - a Raposa das Caatingas".

Foto 2015

Fiquei impressionado! Ao ser entrevistado na Rádio Excelsior sobre o meu livro “Lampião – a Raposa das Caatingas”, no programa “Alô Juventude”, que como o nome indica tem por alvo os jovens, sucederam-se telefonemas de toda parte, comentando e fazendo perguntas sobre Lampião, sobre Antônio Conselheiro e sobre o Padre Cícero, personagens que simbolizam a história do Nordeste, a terra do mandacaru, do xiquexique, da macambira – a terra do espinho. Mais que um livro sobre a história do cangaço, “Lampião – a Raposa das Caatingas” termina sendo um esboço da história do Nordeste. Agradeço o apoio do jornalista Renê Vilela na divulgação do meu trabalho. Um abraço ao Pablo Reis. Divulgar um livro é mais difícil do que escrevê-lo.

Foto 2015

Amigos pesquisadores do tema cangaço: sempre que passarem por Poço Redondo, não deixem de visitar o MEMORIAL ALCINO ALVES COSTA. Alcino – o Vaqueiro da História – foi o maior pesquisador dos assuntos do cangaço em Sergipe. O Memorial é mantido com zelo e carinho por seu filho Rangel Alves da Costa. Estive lá recentemente em companhia de Oleone Coelho Fontes e fiquei emocionado ao ver como é reverenciada a figura de Alcino, com a exposição de fotografias, suas obras (inclusive os originais manuscritos ou datilografados) e objetos de uso, até suas inseparáveis sandálias, que ele usava até nos comícios: Alcino foi prefeito de Poço Redondo três vezes.

Foto 2015

Esta foto registra o momento em que assinei o termo de posse como Membro Correspondente da Academia Gloriense de Letras (AGL), em sessão solene realizada no dia 12 de dezembro de 2015. Este fato é de grande importância simbólica para mim, pois foi em Glória, antiga Boca da Mata, que vivi a minha infância. Escolhi como patrona minha professora do curso primário, Cleodice Tavares Lima.

Foto 2015

A Livraria Escariz é o Templo do Livro. Nesta última quinta-feira, na Escariz, durante o lançamento do livro "Joaquim Bento, o Poeta", de Souza Lima - da esquerda para a direita: Martha Hora, Cris Souza, João Lover, Souza Lima, eu (José Bezerra) e Domingos Pascoal. Martha tem na mão seu livro de poesias e crônicas "Desvendando Sombras e Sonhos". Souza Lima exibe o meu "Lampião - a Raposa das Caatingas". Cris, eu e Pascoal mostramos o livro que estava sendo lançado na ocasião, "Joaquim Bento, o Poeta", que conta a saga desse grande poeta paraibano, na visão de seu filho, meu querido amigo Sousa Lima. Viva a Escariz, o Templo do Livro! Viva a Literatura Sergipana!

Foto 2015

Não tenho culpa, mas esse Lampião anda muito exibido... Anda agora para cima e para baixo com o Deputado LUCIANO BISPO, digno Presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe, filho ilustre de Itabaiana, que honra a sua terra. Esta foto foi tirada na Bienal de Itabaiana, a festa do livro. Um abraço, deputado. Espero que arranje tempo para ler o meu modesto trabalho, "Lampião - a Raposa das Caatingas". E viva Itabaiana Grande!

Foto 2015

Flagrante histórico – para mim, evidentemente: a foto registra o momento em que passei às mãos do mestre Antônio Amaury Corrêa de Araújo o meu “Lampião – a Raposa das Caatingas”, por ocasião do “CARIRI CANGAÇO” em Piranhas, em julho de 2015. Antônio Amaury é o mais abnegado pesquisador do cangaço da atualidade. É impossível escrever sobre Lampião sem citar o mestre Amaury, pesquisador incansável, que dedicou a vida ao estudo da saga cangaceira.

 Foto: 2015

Foto 2015

Fonte: facebook
Página: José Bezerra Lima Irmão
Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=536278843180280&set=a.399221386886027.1073741828.100003945080040&type=3&theater

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VESTÍGIOS DE UM CINEMA


Há 85 anos, Adhemar Albuquerque filmava o primeiro curta metragem do cinema cearense. O filme Temporada Maranhense de Foot-Ball no Ceará, que estreou em outubro de 1924, no Cinema Moderno, foi escolhido pela Associação Cearense de Cinema e Vídeo como marco do início da produção cinematográfica do Estado.
Firmino Holanda

Podemos afirmar que a produção cinematográfica do Ceará iniciou-se em 1924, com um curta-metragem dirigido por Adhemar Bezerra Albuquerque. Mas lembremos que antes dessa realização ocorreram poucas outras, como nos dão conta os esparsos registros da imprensa de Fortaleza. Tais películas foram rodadas por anônimos cinegrafistas da década anterior. Poderiam ser trabalhos de diretores visitantes, vindos de cidades mais desenvolvidas nessa prática. Talvez fossem eles “cavadores”, tão comuns naqueles tempos pioneiros, notadamente no sudeste do Brasil – ou seja, seriam profissionais que se aventuravam “cavando” algum financiamento junto às elites, de centros urbanos ou do interior, para manterem suas atividades.

O pesquisador Ary Bezerra Leite registra dois daqueles filmes cearenses predecessores da citada investida cinematográfica de Adhemar Albuquerque. “No dia 1° de abril de 1910, o Cinema Rio Branco exibia o documentário A Procissão dos Passos, com destaque na publicidade para o fato de ser este o 1° filme rodado no Ceará. Além dessa informação, não temos nenhum outro esclarecimento. Desconhecemos quem o teria feito, se algum conterrâneo ou algum cineasta visitante que aqui tenha aportado. Um segundo filme produzido em nossa terra, igualmente sem créditos de seus realizadores, foi “Ceará Jornal”, exibido no Riche, no dia 26 de fevereiro de 1919”.

Um outro título, entre as mais antigas referências a filmes potencialmente cearenses, é o media-metragem “O Ceará no Centenário da Independência“ (1922). Poderia ser esta uma produção local, mas nada nos dá tanta certeza. Talvez o nosso mais remoto filme, que fisicamente resistiu ao tempo, seja aquele conhecido pelo título Fortaleza de 1920. Também de autor anônimo, foi resgatado por Paulo Salles, que o incluiu num documentário seu sobre a capital cearense da década de 1970. Naquela velha fita se faz um passeio pela paisagem urbana, por seus pontos mais progressistas e turísticos (Passeio Público, Praça do Ferreira, comércio central etc). Trata-se de um retrato de nossa belle époque. Temos uma sucessão de travellings suaves, provavelmente colhidos por câmera posicionada dentro de um bonde. Curiosamente, nesse filme, sobre uma cidade litorânea, o mar se faz ausente. Quanto ao ano assinalado no título, é mais prudente nele reconhecer uma alusão geral à década e não precisamente àquele ano de 1920.

Mas, voltando ao tema inicial, para esse ano de 2009, a Associação Cearense de Cinema e Vídeo (ACCV) instituiu uma data comemorativa alusiva ao surgimento do cinema em nosso Estado. Ficou assim estabelecido que a exibição daquele filme realizado por Adhemar Albuquerque seria esse marco. O título desse curta-metragem, que não se preservou, era “Temporada Maranhense de Foot-Ball no Ceará”. Estreando no dia 15 de outubro de 1924, no Cinema Moderno, sala no centro de Fortaleza, tratava-se de um documentário sobre as partidas entre os times Ceará, América, Guarany e Maranhenses, ocorridas na cidade.

Adhemar Albuquerque (1892-1975), que em 1934 registraria sua empresa Aba Film (de cinema e fotografia), é reconhecido como pioneiro das realizações cinematográficas no Ceará. Aqueles remotos e imprecisos registros jornalísticos das primeiras imagens filmadas no Estado não revelam a existência de produtoras do ramo instaladas em seu território. Daí, a celebração dos 85 anos de produção cinematográfica cearense não ocorre unicamente em função do registro de um primeiro filme aqui realizado. Está valendo também o propósito empresarial e a continuidade de sua investida nesse setor. Adhemar Albuquerque, um funcionário da agência do Bank of London, em Fortaleza, desde 1924 fazia filmes. Eram curtos registros documentais, rodados conforme as solicitações do pequeno mercado local. Seu maior cliente, a partir dos anos 1930, seria a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), instituição para a qual sua empresa documentava suas atividades de açudagem, irrigação etc.

Um dos filhos de Adhemar, o futuramente renomado fotógrafo retratista e publicitário Chico Albuquerque, tornou-se seu operador de câmera mais constante. Antônio, outro filho de Adhemar, também era fotógrafo e se recorda dessa pioneira empresa do pai, que pelo visto tinha um caráter bem familiar. “A primeira câmera que ele comprou foi uma Debrie, fabricada na França. Depois ele comprou uma Bell & Howell. Eu era garoto naquele tempo e ajudava ele a processar os filmes . Copiava e fazia editagem dos filmes, também em casa. Os filmes eram mudos. Depois fez alguns filmes que foram sonorizados com descrição, narração”.

A Aba Film captava momentos da vida de Fortaleza ainda muito provinciana (as visitas do ator Raul Roulien ou dos Presidentes da República Getúlio Vargas e Washington Luís; os bailes e desfiles cívicos) e também aspectos de cidades do interior do Estado. No último caso, destacam-se imagens de Juazeiro do Norte e de Padre Cícero Romão. Mas, na história de empresa, que em cinema atuou até o início dos anos 1940, o grande momento, com polêmica repercussão nacional, foi o da produção das únicas imagens de "Lampião" junto a seu bando de cangaceiros.

Em 1925, Adhemar Albuquerque lançou o curta “O Juazeiro do Padre Cícero e Aspectos do Ceará”. Nessa década, Padre Cícero e sua cidade foram vistos em alguns pequenos documentários. É provável que um desses filmes tenha sido o da Comissão Rondon, infelizmente perdido, intitulado “Inspeção no Nordeste” (ou “Inspeção das Obras Contra as Secas”), de 1922. Em 1925, foi lançado “O Nordeste Brasileiro”, produzido pela IFOCS, onde Padre Cícero é visto em cena. Como a Aba Film fez registros para tal órgão federal, não seria improvável ser esta uma realização sua.

Nas cenas preservadas e mais famosas do taumaturgo de Juazeiro do Norte, ele é visto inaugurando sua própria estátua numa praça daquele município. O fato se deu a 11 de janeiro de 1925. Seu parceiro político, o deputado federal Floro Bartolomeu, arquitetou a homenagem. No momento, crescia em Juazeiro a oposição dos “filhos da terra” contra os adventícios que cercavam o padre (e prefeito) daquela cidade. Vindo da Bahia, o médico Floro, eleito deputado sob as asas desse líder religioso, seria um desses forasteiros indesejados por certos grupos locais. Portanto, exaltar a figura de Padre Cícero, com discursos, desfile de cadetes da Escola de Aprendizes de Marinheiros de Fortaleza, banda de música etc., fazia parte da estratégia daquele deputado. E isso merecia ser visto em película, na tela grande.

Em setembro de 1925, quando se acirrava a oposição municipal, os correligionários do Partido Conservador, ao qual pertenciam Floro e o Padre Cícero, armaram a visita do Presidente Estadual, dr. Moreira da Rocha, a Juazeiro do Norte. Foi a apoteose, contando com todo o secretariado do governo, deputados aliados etc. Entre jornalistas e fotógrafos, distinguia-se também um cinegrafista. Seu trabalho resultou num documentário produzido pela Aba Film, mais tarde exibido sob o título O Juazeiro do Padre Cícero e Aspectos do Ceará. Suas cenas posteriormente foram reunidas a outras, em nova montagem, onde se via a citada inauguração da estátua, compondo-se um documentário sonorizado feito após a morte do chefe religioso,ocorrida em 1934. No filme exalta-se o progresso da cidade. Essa compilação, Padre Cícero, o Patriarca de Juazeiro, foi assinada por Alexandre Wulfes, cineasta de outro estado, que adquirira material fílmico produzido pela empresa de Adhemar Albuquerque.

Outros títulos produzidos por Adhemar em 1926 demonstram uma temática variada: “A Festa no Iracema”, sobre um baile em elegante clube de Fortaleza; “A Parada Militar de 7 de Setembro”; “A Indústria do Sal no Ceará”; e “A Visita do Dr.Washington Luís ao Ceará”. Em 1928, duas reportagens curtas da Aba Film apontam sua relação aproximada com o poder oficial do Estado, na época governado por José Carlos de Matos Peixoto: O Banquete Oferecido pela Colônia Cearense, no Rio, ao Dr.Matos Peixoto e A Visita de S. Excia. Dr. Matos Peixoto ao cais do Porto, no Rio.

Por outro lado, quando já registrada comercialmente, a empresa Aba Film também produziu o atípico documentário de Benjamim Abrahão, ex secretário de Padre Cícero, sobre o bando cangaceiro de Virgulino Ferreira, o famigerado Lampião. Considerado esse filme um atentado “contra os foros da nacionalidade”, seu copião seria apreendido pelo Departamento Nacional de Propaganda, em abril de 1937. Eram tempos inapropriados para a circulação de imagens desfavoráveis à ordem pública idealizada pelo poder central. Presidindo o País desde a chamada Revolução de 1930, logo Getúlio Vargas daria o golpe instituindo a ditadura do Estado Novo, em novembro do mesmo ano.

Quando Vargas revisitou Fortaleza (1940), a Aba Film novamente o filmou, dessa vez, em cores (embora Antônio Albuquerque nos garantisse que eles não trabalhassem com filme colorido...). A película, de 35mm, traz intertítulos com a marca dessa empresa. Na fita, vemos o ditador chegando de avião, sendo recebido por alunas da Escola Normal, desfilando em carro aberto para a multidão ordeira; ao lado do interventor estadual Menezes Pimentel; visitando o departamento de piscicultura do Dnocs; em solenidade cívica no Parque da Liberdade (Cidade da Criança), centro de Fortaleza; num banquete a black-tie, no Ideal Clube; etc.

Insistimos na descrição dessas cenas para que se perceba fundamentalmente o que vem a ser um registro do tipo ritual do poder , termo cunhado pelo estudioso Paulo Emílio Sales Gomes. Trata-se, portanto, de um registro mudo, mas eloquente ideologicamente, a partir de suas imagens. O povo, no seu devido lugar, é a massa compondo o pano-de-fundo para as autoridades que lhe impõem a sua ordem. No mais, predominam os salamaleques que caracterizam o “Poder & Cia.” A produção brasileira documental, no início do século XX, era um desfile infindável de governantes, embaixadores, nobres, bispos, militares, industriais. Para confirmar essa regra, a Aba Film preparou sua exceção, que foi o citado registro de Benjamim Abrahão sobre o cangaço nordestino. Quanto ao cinema de ficção, outra exceção nesse panorama documental da empresa, foi a sua participação na produção carioca “Jangada”. Dirigido por Raul Roulien, esse longa-metragem foi rodado em Fortaleza nos idos de 1947. Dois anos depois, prestes a ser concluído, esse trabalho se perdeu num incêndio no Rio de Janeiro.

Firmino Holanda é professor e pesquisador de cinema da Universidade Federal do Ceará. O texto acima escrito por Firmino baseia-se em matérias escritas suas registradas em jornais, revistas e em livro (“Ceará de Corpo e Alma”, 2002). Sobre a produção cinematográfica cearense, o autor escreveu um livro ainda inédito. A citação de Antônio Albuquerque é retirada de “Cinema Cearense: Alguma História” (1989), documentário dirigido por Firmino Holanda. A citação de Ary Bezerra Leite provém de seu “Fortaleza e a Era do Cinema, Volume I “(1995), sobre as salas de exibição da cidade, livro que contém ainda informações extras a respeito de Adhemar Albuquerque.

http://accv-ce.blogspot.com.br/2010/10/15-de-outubro-dia-do-audiovisual.html

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A ABA FILM E A HISTÓRIA DO CINEMA CEARENSE

Ademar Bezerra de Albuquerque

Um fascinante capítulo da história do cinema documental brasileiro foi escrita no Ceará e a esse respeito, até hoje, ainda há muito o que se descobrir. Estou me referindo à ABA FILM, empresa especializada no ramo da fotografia e do cinema, idealizada pelo fotógrafo Ademar Bezerra de Albuquerque (1892-1975).

www.fortalezanobre.com.br

A ABA FILM foi criada em 1934. Ademar Bezerra de Albuquerque era bancário, trabalhava do London Bank, e com apenas 18 anos montou seu próprio laboratório fotográfico em Fortaleza. Seu interesse se voltou para o registro do cotidiano e da cultura do Ceará. Em 1925 Ademar Albuquerque fez o primeiro filme sobre Padre Cícero: O Juazeiro do Padre Cícero.

O documentário contém imagens da cidade de Juazeiro do Norte, a devoção ao Padre Cícero, a feira, o movimento das ruas. Registra também imagens de Missão Velha, Crato e Barbalha. O filme foi lançado no Cinema Moderno em Fortaleza no dia 8 de dezembro. Nesse curta metragem é possível ver Padre Cícero caminhando nas ruas de Juazeiro do Norte e tendo ao seu lado personalidades políticas e atrás de si uma pequena multidão.

A produção do filme foi registrada em dois artigos do Jornal do Comércio. Durante as filmagens em Juazeiro do Norte, Ademar Bezerra de Albuquerque foi apresentado ao imigrante libanês Benjamin Abraão Botto, secretário particular do Padre Cícero. Neste encontro Ademar Albuquerque não só emprestou farto material fotográfico, como introduziu Benjamin nas artes da fotografia e do cinema.

Em 1926, na ocasião em que Lampião visitou a cidade de Juazeiro do Norte, Benjamin Abraão tentou, sem sucesso, filmar o cangaceiro e seu grupo. No entanto, seguiu à procura de Lampião até fazer o único registro em filme numa localidade chamada Bom Nome.

Realizado em 1936, o filme Lampião foi censurado pelo Estado Novo que se preocupou com a transformação do filme numa apologia ao cangaço. Benjamin Abraão foi morto em 1938, num crime até hoje não esclarecido. Nos anos 50, o material de Benjamin Abraão foi recuperado pela Fundação Getúlio Vargas que o incorporou a seu acervo.

Dica de leitura: Firmino Hollanda, Benjamin Abrahão, edições Demócrito Rocha, Fortaleza, 2000.



http://palavracultura.blogspot.com.br/2009/04/aba-film-e-historia-do-cinema-cearense.html

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LAMPIÃO: AS VIDAS, AS MORTES, AS INCERTEZAS

Por Rangel Alves da Costa*

Além da alcunha de rei do cangaço e da patente de Capitão, em Lampião caberiam muitos outros codinomes: o indecifrável, o insepulto, o misterioso, o eterno desconhecido. Sobre o guerreiro e líder maior das caatingas ainda recaem verdadeiras teorias conspiratórias: suas tantas vidas, suas tantas mortes, suas sombras que permanecem debaixo do sol e da lua. Certamente não há personagem cuja história seja mais instigante do que a desse que ora é herói e ora é bandido, e vice-versa.


O homem, o cidadão sertanejo Virgulino Ferreira da Silva, filho de José Ferreira da Silva e Maria Lopes de Oliveira, já morreu, não há dúvida. Nascido talvez em 1897 ou 1898, portanto há cento e dezoito ou cento e dezenove anos, já não teria forças físicas e orgânicas para continuar vivendo, principalmente pela sua exaustão em muitos momentos. Sua morte é, assim, o único fato tido como incontroverso, pois os demais estão quase todos envoltos em polêmicas e contradições.

José Ferreira da Silva e dona Maria Lopes pais de Lampião

O exato ano de nascimento é apenas um dos tantos debates que envolvem sua história. Seu Registro Civil consta o ano de 1897, mas sua Certidão de Batismo (Batistério) consta o ano de 1898. Atualmente, se aceita a data constante do Batistério como a correta. Não obstante isso, muitos são os escritos dando conta de outras datas, indo mesmo além do ano de 1900. E não por invenção do escritor, mas porque colheu como veracidade a informação repassada. 

Problema de igual monta se relaciona ao dia de seu nascimento. Seu Batistério sinaliza o 04 de junho de 1898 como aquele em que Dona Maria Lopes deu a luz. No entanto, no seu Registro Civil consta o dia 07 de julho de 1987, documento este que fez com que muitos passassem a ter essa data como a correta. Mas é mera questão lógica. Ora, o menino Virgulino no poderia ter sido batizado um ano antes do seu nascimento.

Mas ainda não se chegou a verdadeiro consenso sobre as datas envolvendo o nascimento de Virgulino. No livro “Lampião, senhor do sertão: vidas e mortes de um cangaceiro” (EdUSP, 2006), a escritora Élise Grunspan-Jasmin procura sintetizar o emaranhado dessa questão, e cita:

“Nos limites de uma história familiar, em que as referências variam segundo os relatos porque dotados de uma dimensão simbólica, é difícil atribuir a Lampião pontos de referência temporais precisos: como estabelecer um começo, um fim? Quando uma personagem toma essa dimensão histórica, fixar a data de seu nascimento ou a data de sua morte de maneira precisa equivale a identificá-la com o comum dos mortais. No caso de nosso herói, os registros de estado civil e de batismo (há vários), os versos da literatura de cordel e os testemunhos orais indicam as mais diversas datas de nascimento, seja em 1893, em 7 de julho de 1897, em 12 de fevereiro de 1898, em 4 de março de 1898, em 4 de junho de 1898, em 4 de julho de 1898, em 7 de julho de 1897, em 1898, em março de 1900, em 12 de fevereiro de 1900, em meados de 1900, em 15 de junho de 1900, em 1905...” (2006, pp. 43-44). 

O ano de 1893 é citado pelo Diário de Pernambuco de 12/12/1936 (“Lampeão tem 42 anos e ainda está forte, levando uma vida tão acidentada”). O dia 7 julho de 1897 é citado por Aglae Lima de Oliveira no livro Lampião: Cangaço e Nordeste. O dia 12 de fevereiro de 1898 é citado por Felipe de Castro (Derrocada do Cangaço no Nordeste, 1976, p. 88). O dia 4 de março de 1898 é citado no Diário de Pernambuco de 20/3/1928. O dia 4 de junho de 1898 é citado por Estácio de Lima (O Mundo Estranho dos Cangaceiros: Ensaio Bio-sociológico, 1965, p. 142). O dia 4 de julho de 1898 é citado por Frederico Bezerra Maciel. Para Antônio Amaury e Vera Ferreira, Lampião só poderia ter nascido em 1898 (O Espinho do Quipá: Lampião, a História, 1997, p. 27). O dia 12 de fevereiro de 1900 é citado por Ranulfo Prata (Lampeão, 1934, p. 24) e Leonardo Mota (No Tempo de Lampião, 1967, p. 16). E muitos outros autores citam datas diferentes para o nascimento de Lampião. Mas qual a verdadeira?

Ainda segundo Grunspan-Jasmin, “Existem divergências quanto ao local exato de nascimento de Virgulino, seria ora em Triunfo, ora em Mata Grande, ora na Fazenda Ingazeira, no município de Vila Bela, ora no sítio Matinhas, próximo de Vila Bela, ora no sítio Passagem das Pedras, na região do Riacho do Navio, distrito de Carquejo, em Pernambuco, ora no sítio Serra Vermelha” (2006, p. 46). Mesmo com as controvérsias, ponto pacífico é que Virgulino nasceu no sertão pernambucano, na região de Pajeú, berço de nascimento de tantos outros vultos da saga cangaceira nordestina.

Mas os questionamentos não acabam aí. Para embaralhar ainda mais o emaranhado deixado pelo Capitão, muito ainda se debate sobre o porquê e como surgiu o apelido Lampião, como se deu o ferimento que lhe afetou o olho direito, e a maior de todas as questões: como morreu Lampião? A maioria comunga ter sido na Gruta do Angico, naquele fatídico alvorecer de julho de 38. Alguns conspiradores afirmam a morte por envenenamento, citando até cada passo da trama. E há até quem afirme que o Capitão nem lá estava durante o episódio. E mais recentemente uma história sem pé nem cabeça insinuando que o rei cangaceiro passara toda sua velhice nas Minas Gerais. Por falar em loucura, não se pode se esquecer daquele que jurou ter o Capitão simplesmente sumido no ar ante a chegada da volante, e desaparecido como uma bruma silenciosa.

Por fim, foi herói ou bandido, justiceiro ou frio e cruel matador? Neste aspecto, é a História a dona da razão. Tudo o que o homem disser será por exercício de conveniência ou de paixão. Mas o Tempo, pela voz da História, já disse: Sinta na pele a sua dor para saber se ele estava brincando de sofrer.

Poeta e cronista

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LAMPIÃO ERA UM MESTIÇO QUE NÃO GOSTAVA DE NEGROS

Material do acervo do pesquisador Raul Meneleu Mascarenhas

A tomada de posição particular dos sertanejos ante a hipótese da mestiçagem negra de Lampião deve-se a um processo ideológico do qual ele parece ter participado. Muitas narrativas biográficas evocam o horror manifestado por Lampião à simples menção de uma origem africana.  

Conta-se que ele tinha a pele mais escura que seus irmãos, o que as fotografias, entretanto, não deixam transparecer. Curiosamente, o discurso aqui é mais prolixo que a imagem; ele diz, denuncia ou mostra o que Lampião gostaria de esconder quando se mostra por meio das fotografias tal como deseja ser visto, isto é, como um branco.

 
O cangaceiro Sabino da velha guarda de Lampião

Vale lembrar que Sabino, um dos lugar-tenentes mais próximos de Lampião, era negro e que, no momento da entrada triunfal de seu chefe acompanhado de suas tropas em Juazeiro, em 1926, ele se recusou terminantemente a deixar-se fotografar. 

O cangaceiro Zé Baiano era negro

Pode-se interpretar essa recusa como a consciência aguda do perigo que representa a divulgação de um rosto quando se sabe procurado por todas as forças policiais do país, mas pode-se ver aí também uma reticência ante a possibilidade de se deixar ver, como se a fotografia e a valorização que a ela se liga só pudesse ser privilégio dos brancos. 

Poderíamos conceber o apelido "Lampião" que Virgulino Ferreira recebeu ao entrar para o cangaço como o contraponto à cor negra de sua pele, que poderia sugerir mestiçagem e, por consequência, certa bastardia. Lampião significa luz, clarão, fogo que sai da arma: o que ilumina, que guia e nunca passa despercebido. Numa discussão que Lampião teria tido em 1921, na região de Vila Bela, com Optato Gueiros, oficial de uma Força Volante, ele teria afirmado: 

— Entretanto, continua Lampião, eu não nasci para esta vida de cangaceiro. Falo com franqueza, se não houvesse nego na policia prá manobrar com a gente, eu ainda iria ser soldado. 

— Compadre Virgulino, atalha Sebastião, tu não és preto? 

— Não, diz Antônio Ferreira, ele não é preto, é moreno cor de canela. 

— Sai-te Antônio, observou Lampião, tira lá essa "cor de canela" que eu não sou mulher. 

— É mesmo, acode Sebastião, esse negócio de "cor de canela" não é prá homem; ele é moreno lusco-fusco.

Notei (Optato Gueiros) que ao findar esta narrativa, transpareciam no semblante do bandido visíveis sinais de tolerância e mal estar. O olho direito, defeituoso por um estrabismo esquisito, conservava-se aberto quando estava de bom humor; agora fechava-se, dando-lhe um aspecto de ferocidade repugnante, bruscamente, dirigiu-se a Sebastião e disse:

— Esta na hora compadre. O suor já esfriou demais, estou com frio; vamos andá para esquentá. 

Depois a dona da casa pergunta qual, dentre os cangaceiros, se chama Lampião. Seu irmão, dirigindo o cano de seu fuzil para o rosto de Lampião, respondeu: 

— Oi ele aqui, mas não alumia, é danado de escuro. 

Poder-se-ia discorrer ao infinito sobre essa passagem. Lampião recusa categoricamente ser considerado um negro. Ter um caráter feminino (cor de canela) traz, é claro, prejuízo à sua virilidade, mas ser equiparado aos negros equivale a ser rebaixado, humilhado social e humanamente. 

Ele acusa os negros de impedirem sua reinserção na sociedade a que pertence e nega-se a ser subalterno de indivíduos a quem considera inferiores. 

Percebe-se também, nessa passagem, o quanto a definição da cor da pele de Lampião suscita problemas para os que o cercam e o quanto cada termo empregado tem seu valor metafórico duplicado. 

A negrura da pele parece responder fatalmente a negrura da alma, condenando o negro ao inferno sem alternativa possível: ele é "danado de escuro", dirá o irmão de Lampião de maneira bastante ambígua. 

Aliás, Lampião detestava os negros e os associava ao diabo: "Negro não é gente", teria ele dito; "é a imagem do cão". (Comentário de Volta Seca)

Lampião ao aparecer em Queimada, BA, em 1929, vendo que as pessoas ao redor dele eram negras, teria gritado: Terra de desgraça, toda a justiça é negra..., e teria ordenado que lhe servissem um copo de água! Outra passagem da história de Lampião mostra como ele associa o negro ao diabólico, opinião compartilhada por pessoas próximas e por todo o sertão: depois do massacre de Queimada, onde matou, sem motivo.

A maioria dos cangaceiros do bando de Lampião era de mestiços com miscigenação genética negra. Acreditamos que Lampião não tinha essa carga racista que se pretende e que uma vez ou outra poderia ter dito algo que inflamasse esse raciocínio.

Suas ideias sobre raça eram convencionais, pois o nordestino sertanejo se orgulha de sua relativa brancura. Ele se fosse por exemplo um fazendeiro, teria que lidar com negros assim como lidava com negros em seu bando. Por isso, desse orgulho de relativa brancura, demonstrava um certo desprezo pela raça em geral, mas isso não o afetava de sobremaneira. 

Optato Gueiros, Lampião: Memórias de um Ex Comandante de Volantes, 1952, pp. 25-26. 14 Ver, a esse respeito, Billy Jaynes Chandler, Lampião, o Rei dos Cangaceiros, 1981, p. 239. IS Frederico Pernambucano de Mello, op. rit., 1993. pp. 92-93.


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POESIA DO SERTÃO

Por Severo Ricardo Grandson

Um dia me perguntou
Um grande amigo de infância
Pra quê escrever cordel?
- Raimundo com ignorância -
Pra quê gastar o seu tempo
Todo o seu conhecimento
Com algo sem importância.

E nesse mesmo momento
Me veio um ódio profundo,
Subiu mais sangue à cabeça
Tudo escureceu ao fundo.
Me deu logo sem pensar
Vontade de acertar
Um murro grande em Raimundo.

Mas logo que eu fiz pantin
Pra fazer a tal desgraça,
Raimundo me segurou
E me disse achando graça:
"Eu estava era brincando,
Vá logo se acalmando,
Deixe de tanta arruaça!"

"Eu brinquei pois sei o quanto
tu gostas de escrever
pra ver sua reação,
consultar seu parecer
de quem não da importância
à humilde jactância
do Cordel em seu saber."

Disse à Raimundo ofegante,
Quase me recuperando
Do susto que recebi.
A ele eu disse versando:
"Nunca mais ouse brincar,
com poesia popular,
como tu estais brincando."

A minha filosofia
Permite reflexão
Mas quando se inicia
Uma curta discussão
Esqueço ser diplomata,
Num instante sou primata
Parto logo pra agressão.


Disse Raimundo: "Me perdoe
com clemência e piedade.
Pela continuação
desta nossa amizade,
não devia ter brincado
com o Cordel e o esnobado
mesmo sem veracidade."

"Entendo eu que o cordel,
faço seu meu linguajar
é grande repercutor
da cultura popular.
E é um lamento ter sido
por tanto tempo esquecido
na vala do ignorar."

Eu disse: "Raimundo, eu sei
que a arte é singular
mas o cordel detém
em todo o seu linguajar
uma herança cultural
inserida no plural
do folclore elementar."

É através do cordel
Que se diz o que se passa
Na vida, em poesia
Tudo que o destino traça
Todo tipo de injustiça
De maldade e de cobiça
Que no mundo se disfarça

Retrata de modo simples
Toda a rica importância
Do sertanejo ao doutor
Sem vestígios de distância
Relatando os seus esforços
Misturando os paradoxos
Humildade e jactância.

O cordel também exalta
Histórias interessantes,
Seja fato ou ficção
Em um recitar constante.
Seja um cordel de amor,
De um pavão voador
Ou um cangaceiro brilhante.

Raimundo disse: "É pena
que muita gente não dê
o valor tão merecido
ao cordel que não se vê
nos livros, sites e listas
nem esteja nas revistas
que o Brasil costuma ler".

Por ser pouco incentivado
Pelos nossos governantes,
O cordel é para os jovens
Um tanto quanto distante
Porém o esquecimento
Lhe dá o merecimento
De vencer perseverante

E mesmo assim o cordelista
Mártir da ignorância,
Não se intimida a viver
Marginal, sem importância.
Aos olhos da criatura
Que não enxerga a cultura
À um palmo de distância.

Foi o poeta Apolônio
Pelo estado censurado
Por defender em seus versos
O pobre assalariado
Sobre a falta de dinheiro
Do cidadão brasileiro
À depor foi intimado.

Na cidade de Assaré
Um grande poeta prenderam
Por cantar sobre os descasos
Que lá se assucederam.
A prisão de Patativa
Foi só uma tentativa
De o calar de forma vã.

O cordel é grande vítima
De um preconceito profundo,
Onde cada bom cordel
É chamado de vagabundo,
Literatura de Cego.
É por isso que não sossego
Meu caro amigo Raimundo.

Só vou sossegar no dia
Em que todo cidadão
Fomente a poesia
Com toda a sua atenção
Reconhecendo o lamento
Dê o reconhecimento
À Poesia do Sertão

O Sertão que nos permite
Ser tão humilde de um jeito
Que toda palavra e rima
É tirada dentro do peito
Do caboclo nordestino
Puramente genuíno
Merecedor de respeito.

É por isso que o cordel
Se sobressai à cultura
Sendo arte singular
Em toda a literatura
Brasileira e mundial
Nordeste em especial
Mostrando toda a bravura.

Foi trazido pro Brasil
Nos tempos das Caravelas
Herança dos jesuítas
Que recitavam a capela
Pros povos que escutavam
E sempre se admiravam
Com aquelas histórias belas.

No nosso nordeste a seca
Castigou nosso sertão
Mossoró também se armou
Castigando Lampião
Porém a ignorância
Castiga sem tolerância
O cordel em sua ação.

Raimundo disse me olhando:
É sério o que eu vou falar
Vai ser a última vez que
Que com isso vou brincar
O cordel é coisa séria
Mesmo com toda miséria
A qual se costumam tratar.

Dá um ódio grande mesmo
Ver o cordel ser tratado
Com tanta pouca importância.
É de ficar transtornado
Agora eu lhe dou razão
Pela sua reação
Quando ficou irritado.

"Pois assim como o você,
agindo em linha direta
o Cordel da um grande murro
na cara do anti-poeta
fazendo da poesia
uma grande anestesia
no juízo do pateta.


Poeta Popular Potiguar, natural de Olho D´água do Borges.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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