Por Severo Ricardo
Grandson
Um dia me
perguntou
Um grande
amigo de infância
Pra quê
escrever cordel?
- Raimundo com
ignorância -
Pra quê gastar
o seu tempo
Todo o seu
conhecimento
Com algo sem
importância.
E nesse mesmo
momento
Me veio um
ódio profundo,
Subiu mais
sangue à cabeça
Tudo escureceu
ao fundo.
Me deu logo
sem pensar
Vontade de
acertar
Um murro
grande em Raimundo.
Mas logo que
eu fiz pantin
Pra fazer a
tal desgraça,
Raimundo me
segurou
E me disse
achando graça:
"Eu
estava era brincando,
Vá logo se
acalmando,
Deixe de tanta
arruaça!"
"Eu
brinquei pois sei o quanto
tu gostas de
escrever
pra ver sua
reação,
consultar seu
parecer
de quem não da
importância
à humilde
jactância
do Cordel em
seu saber."
Disse à
Raimundo ofegante,
Quase me
recuperando
Do susto que
recebi.
A ele eu disse
versando:
"Nunca
mais ouse brincar,
com poesia
popular,
como tu estais
brincando."
A minha
filosofia
Permite reflexão
Mas quando se
inicia
Uma curta
discussão
Esqueço ser
diplomata,
Num instante
sou primata
Parto logo pra
agressão.
Disse
Raimundo: "Me perdoe
com clemência
e piedade.
Pela
continuação
desta nossa
amizade,
não devia ter
brincado
com o Cordel e
o esnobado
mesmo sem
veracidade."
"Entendo
eu que o cordel,
faço seu meu
linguajar
é grande
repercutor
da cultura
popular.
E é um lamento
ter sido
por tanto
tempo esquecido
na vala do
ignorar."
Eu disse:
"Raimundo, eu sei
que a arte é
singular
mas o cordel
detém
em todo o seu
linguajar
uma herança
cultural
inserida no
plural
do folclore
elementar."
É através do
cordel
Que se diz o
que se passa
Na vida, em
poesia
Tudo que o
destino traça
Todo tipo de
injustiça
De maldade e
de cobiça
Que no mundo
se disfarça
Retrata de
modo simples
Toda a rica
importância
Do sertanejo
ao doutor
Sem vestígios
de distância
Relatando os
seus esforços
Misturando os
paradoxos
Humildade e
jactância.
O cordel
também exalta
Histórias
interessantes,
Seja fato ou
ficção
Em um recitar
constante.
Seja um cordel
de amor,
De um pavão
voador
Ou um
cangaceiro brilhante.
Raimundo
disse: "É pena
que muita
gente não dê
o valor tão
merecido
ao cordel que
não se vê
nos livros,
sites e listas
nem esteja nas
revistas
que o Brasil
costuma ler".
Por ser pouco
incentivado
Pelos nossos
governantes,
O cordel é
para os jovens
Um tanto
quanto distante
Porém o
esquecimento
Lhe dá o
merecimento
De vencer
perseverante
E mesmo assim
o cordelista
Mártir da
ignorância,
Não se
intimida a viver
Marginal, sem
importância.
Aos olhos da
criatura
Que não
enxerga a cultura
À um palmo de
distância.
Foi o poeta
Apolônio
Pelo estado
censurado
Por defender
em seus versos
O pobre
assalariado
Sobre a falta
de dinheiro
Do cidadão
brasileiro
À depor foi
intimado.
Na cidade de
Assaré
Um grande
poeta prenderam
Por cantar
sobre os descasos
Que lá se
assucederam.
A prisão de
Patativa
Foi só uma
tentativa
De o calar de
forma vã.
O cordel é
grande vítima
De um
preconceito profundo,
Onde cada bom
cordel
É chamado de
vagabundo,
Literatura de
Cego.
É por isso que
não sossego
Meu caro amigo
Raimundo.
Só vou
sossegar no dia
Em que todo
cidadão
Fomente a
poesia
Com toda a sua
atenção
Reconhecendo o
lamento
Dê o
reconhecimento
À Poesia do
Sertão
O Sertão que
nos permite
Ser tão
humilde de um jeito
Que toda
palavra e rima
É tirada
dentro do peito
Do caboclo
nordestino
Puramente
genuíno
Merecedor de
respeito.
É por isso que
o cordel
Se sobressai à
cultura
Sendo arte
singular
Em toda a
literatura
Brasileira e
mundial
Nordeste em
especial
Mostrando toda
a bravura.
Foi trazido
pro Brasil
Nos tempos das
Caravelas
Herança dos
jesuítas
Que recitavam
a capela
Pros povos que
escutavam
E sempre se
admiravam
Com aquelas
histórias belas.
No nosso
nordeste a seca
Castigou nosso
sertão
Mossoró também
se armou
Castigando
Lampião
Porém a
ignorância
Castiga sem
tolerância
O cordel em
sua ação.
Raimundo disse
me olhando:
É sério o que
eu vou falar
Vai ser a
última vez que
Que com isso
vou brincar
O cordel é
coisa séria
Mesmo com toda
miséria
A qual se
costumam tratar.
Dá um ódio
grande mesmo
Ver o cordel
ser tratado
Com tanta
pouca importância.
É de ficar
transtornado
Agora eu lhe
dou razão
Pela sua
reação
Quando ficou
irritado.
"Pois
assim como o você,
agindo em
linha direta
o Cordel da um
grande murro
na cara do
anti-poeta
fazendo da poesia
uma grande
anestesia
no juízo do
pateta.
Poeta Popular
Potiguar, natural de Olho D´água do Borges.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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